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UnisulVirtual Palhoça, 2018 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Universidade Sul de Santa Catarina Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Mauri Luiz Heerdt Vice-Reitor Lester Marcantonio Camargo Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Inovação Hércules Nunes de Araújo Pró-Reitor de Administração e Operações Heitor Wensing Júnior Assessor de Marketing, Comunicação e Relacionamento Fabiano Ceretta Diretor do Campus Universitário de Tubarão Rafael Ávila Faraco Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Zacaria Alexandre Nassar Diretora do Campus Universitário UnisulVirtual Ana Paula Reusing Pacheco Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Ana Paula Reusing Pacheco Gerente de Administração e Serviços Acadêmicos Renato André Luz Gerente de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação Moacir Heerdt Gerente de Relacionamento e Mercado Guilherme Araujo Silva Gerente da Rede de Polos José Gabriel da Silva Livro Didático Professor conteudista Antonio Carlos Vieira de Campos Designer instrucional Marina Cabeda Egger Moellwald (1ª edição revista e ampliada) Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Noemia Souza Mesquita Pedro Teixeira Revisão Ortográfica Diane Dal Mago ISBN 978-85-7817-226-8 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul C21 Campos, Antonio Carlos Vieira de Conhecimento geral das aeronaves (asas fixas): livro didático/Antonio Carlos Vieira de Campos; design instrucional Marina Cabeda Egger Moellwald. – 1. ed. rev. e ampl. – Palhoça : UnisulVirtual, 2018. 294 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-226-8 1. Asas - Estrutura. 2. Aviões - Estrutura. 3. Instrumentos aeronáuticos. I. Moellwald, Marina Cabeda Egger . II. Título. CDD (21. ed.) 629.13432 Copyright © UnisulVirtual 2018 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2018 1ª edição revista e ampliada Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Antonio Carlos Vieira de Campos Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Estrutura e tipos de aeronaves | 9 Capítulo 2 Sistemas de aeronaves | 65 Capítulo 3 Instrumentos de voo e automação | 125 Capítulo 4 Manuais e outros documentos da aeronave | 183 Capítulo 5 Inspeção e manutenção | 207 Capítulo 6 Aeronave comercial típica | 235 Considerações Finais | 279 Referências | 281 Sobre o Professor Conteudista | 291 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação | 292 Introdução Caros alunos, A aviação é uma atividade fascinante. Parte deste fascínio é fruto da intensa relação do binômio homem-máquina. Quem já entrou em uma aeronave, como passageiro ou tripulante e sentiu a liberdade de se deslocar pelos ares sem restrições, já foi envolvido pelo desejo de fazer parte desta história. Você que está iniciando seus estudos nas ciências do voo, vai encontrar nesta Unidade de Aprendizagem não só os conhecimentos básicos essenciais, mas também será apresentado a um amplo espectro de conhecimentos que serão necessários à medida que progredir em sua formação. A aviação reúne um sem número de atividades das mais diversas áreas e é um grande exemplo de desenvolvimento da capacidade humana. A era do conhecimento está aí e afetou significativamente as carreiras profissionais de, praticamente, todas as áreas, inclusive na aviação. Para os pilotos de hoje, por exemplo, a competência básica de saber lidar com os controles de voo, decolar, voar e pousar um determinado tipo ou modelo de aeronave é apenas uma das habilidades necessárias para compor o verdadeiro aviador. Um piloto reconhecido como de excelência profissional é aquele que estuda cada detalhe de si mesmo e da máquina, as capacidades e limitações e consegue desenvolver uma tentativa real de vínculo homem-máquina, em uma única unidade funcional. Para ter sucesso, essa relação deve ser baseada no conhecimento, compreensão e confiança. Assim, tenha sempre em mente que para ser um profissional de sucesso você deverá buscar, continuamente, o conhecimento e a compreensão das ferramentas e atividades envolvidas na sua área de atuação. O aprendizado de aeronaves complexas, seus sistemas, as características de voo, procedimentos e técnicas pode ser um empreendimento difícil, mesmo para os mais profissionais e motivados aviadores, mas aqui analisaremos que, felizmente, há uma abordagem sistemática à aprendizagem e à compreensão dos sistemas de qualquer aeronave, isso facilitará o seu aprendizado sobre o que precisará saber e aprender em relação a cada aeronave que lhe for entregue. Este livro reúne uma infinidade de informações colhidas de diversas fontes nacionais e estrangeiras como listadas nas Referências localizada nas páginas finais. Mesmo assim, gostaria de enfatizar que a maior referência utilizada no desenvolvimento deste conteúdo foi baseada na coleção de manuais da agência reguladora americana (Federal Aviation Administration (FAA), principalmente no Pilot´s Handbook of Aernautical Knowledge (FAA, 2016), que considero um dos mais completos sobre o conhecimento geral aeronáutico. Aproveito, também, para agradecer ao colega Adilio Marcuzzo Jr. Que, gentilmente, auxiliou-me no desenvolvimento deste material, ao me orientar e ceder os conteúdos de seus artigos – que podem ser acessados sem restrições pela Internet - sobre a área de manutenção de aeronaves. Bom voo! Prof. Antonio Carlos Vieira de Campos 9 Habilidades Seções de estudo Capítulo 1 Estrutura e tipos de aeronaves Seção 1: Pequena história da evolução das aeronaves Seção 2: Classificação, definições e principais componentes do avião Seção 3: Os princípios fundamentais da aerodinâmica Seção 4: A teoria de voo e a análise de desempenho Reconhecer os diferentes componentes de uma aeronave de asas fixas e descrever, em linhas gerais, o respectivo funcionamento; Aplicar os subsídios teóricos para a operação da aeronave com segurança e eficiência; Conceituar, classificar e identificar a estrutura básica das aeronaves, e compreender o funcionamento dos controles de voo; Entender e saber aplicar os conceitos básicos da teoria de voo na operação das aeronaves. 10 Capítulo 1 Seção 1 Pequena história da evolução das aeronaves A história da aviação é muito mais complexa e fascinante do que a geralmente é encontrada nos livros didáticos. Nesta seção, será contada um pouco dessa história, mostrando fatos interessantes e até pouco conhecidos. A evolução técnica das aeronaves será nossa linha de referência neste estudo, isso para que possamos contextualizar e entender a construção e o funcionamento dos aviões modernos. Ao contrário do que é geralmente ensinado, Alberto Santos Dumont não “inventou” o avião. Apesar da significativa contribuição do inventor brasileiro e do mérito de ter sido o primeiro a fazer um voo controlado e motorizado na Europa, o avião é, na verdade, o resultado de um desenvolvimento que se estendeu por séculos e que começou muito antes dele. Desde os tempos pré-históricos, os seres humanos têm invejado o voo dos pássaros e desejavam imitá-los. A identidade do primeiro “homem-pássaro”, que se instalou com asas e pulou de um penhasco em um esforço para voar, é perdida no tempo, mas cada tentativa infrutífera forneceu àqueles que desejavam voar perguntas que necessitavam de respostas. Filósofos, cientistas e inventores ofereceram soluções, mas ninguém conseguiu incorporar as asas ao corpo humano e voar como um pássaro. Durante o Século XV, Leonardo da Vinci elaborou esboços de propostas de máquinas voadoras, fruto, sobretudo, da observação do voo das aves. Foram os primeiros estudos relativamente técnicos sobre as possibilidades do voo por seres humanos. Da Vinci corretamente concluiu que era o movimento da asa em relação ao ar que produzia a reação resultante necessária para voar. No entanto, suas especulações foramfalhas porque ele se ateve à ideia das asas móveis como a dos pássaros, para impulsionar o homem ao voo. Mesmo assim, durante esse período, conseguimos respostas importantes. Aristóteles concebeu a noção de que o ar tem peso e a lei de Arquimedes de corpos flutuantes formou um princípio básico dos veículos mais leves que o ar. Homens como Galileu, Roger Bacon e Pascal provaram que o ar é um gás, é compressível, e sua densidade diminui com a altitude. Mas foi Isaac Newton quem definiu, pela Física, os movimentos dos corpos em função das forças aplicadas nele. Conhecidas como as três leis de Newton, elas definem: 1. o princípio da inércia; 2. o princípio fundamental da dinâmica; e 3. o princípio da ação e reação. 11 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) O mais pesado do que o ar No início de novembro de 1782, Joseph Michel e Jacques Etienne Montgolfier fabricaram um balão esférico, de seda, com cerca de 1 metro de diâmetro, o qual subiu a cerca de 30 metros de altura, antes de esfriar e cair. Em 1783, o primeiro balão de ar quente tripulado voou por 23 minutos. A partir desse evento, e durante certo tempo, o balão serviu apenas como curiosidade e diversão, principalmente porque, após decolar, o aparelho ficava à mercê dos ventos e raramente ia para onde o seu dono desejava. A questão já não era mais subir, mas controlar a direção e a velocidade do voo. (BELLIS, 2017). Mesmo com a realidade do voo na forma de um deslocamento controlado pelo ar, pelos balões dirigíveis que surgiram no final do século XIX, ela não satisfez aqueles entusiastas que ainda preferiam trabalhar na velha ideia de Leonardo da Vinci: voar com asas, como os pássaros. A solução para isso estava num brinquedo bastante familiar no Oriente, por mais de 2000 anos, mas que só foi introduzido no Ocidente no século 13: a pipa. Sir George Cayley, um inglês nascido 10 anos antes do voo de balão dos Mongolfier, acreditava que o estudo das pipas desvendaria os segredos do voo. Ele passou seus 84 anos tentando desenvolver um veículo mais pesado do que o ar, suportado por asas em forma de pipa. (GIBBS-SMITH,1962). Cayley foi o primeiro a teorizar os princípios do voo 1. Contrariamente aos seus contemporâneos, Cayley dispensou o “batimento de asas” como fundamento para alçar voo, concentrando-se na necessidade de se possuir: • uma superfície aerodinâmica geradora de sustentação (asa); e • uma fonte de força impulsora (motor). Baseado nesses princípios, em 1799 ele desenhou seu primeiro modelo de aeroplano, que não construiu dada a inexistência de motores àquela época. Assim, Cayley se concentrou nos planadores. Em 1853, pouco antes de morrer, construiu o mais bem-sucedido de seus planadores, tendo convencido seu cocheiro a pilotá-lo. Na verdade, o homem foi mais um passageiro do que um piloto, mas é considerado como a primeira pessoa a voar em um aparelho mais pesado do que o ar. 1 Tais como a força de sustentação, peso e arrasto aerodinâmico, conceitos válidos até hoje. 12 Capítulo 1 O sucesso de Cayley estimulou outros pesquisadores, entre os quais o alemão Otto Lilienthal. Concentrando-se igualmente nos planadores, Lilienthal desenvolveu várias configurações diferentes. Na maioria delas, o piloto voava pendurado debaixo do aparelho, tal como em uma asa-delta, atualmente. Essa configuração ajudava a resolver um dos grandes problemas dos aparelhos da época: a estabilidade. O aeroplano Embora constem experimentos em praticamente todo o mundo, buscando a realização prática do voo aeródino motorizado, os mais importantes foram creditados aos irmãos americanos Orville e Wilbur Wright e ao brasileiro radicado na França, Alberto Santos Dumont. Como vimos até agora, o problema do voo do mais pesado do que o ar já estava praticamente solucionado no final do Século XIX, faltando apenas um motor adequado para transformá-lo num avião de verdade. O sonho de um voo autônomo motorizado estava próximo. A invenção do motor à gasolina e o início da produção de automóveis pela Daimler-Benz, em 1886, utilizando este tipo de motor, fez com que as atenções de muitos dos pioneiros se voltassem para ele. Na época, a principal vantagem do motor à gasolina sobre os motores a vapor era a relação peso-potência. Um dos primeiros a compreender as vantagens do motor à gasolina na aviação foi Santos Dumont, que passou a utilizar motores de motocicleta e de automóveis nos seus dirigíveis. O passo seguinte foi partir para a construção de um aeroplano. Para isso, Santos Dumont baseou-se no desenho de pipas-caixa, conhecidas como “pipas de Hargrave” 2 e construiu uma asa constituída basicamente de seis pipas-caixa, sendo três de cada lado. Como fuselagem (corpo do avião), aproveitou a quilha do seu dirigível N°14 (daí o nome “14-bis”) e instalou um motor de 8 cilindros e 50HP. Uma estrutura adicional prolongava a fuselagem até a pipa-caixa dianteira, que atuava como leme de direção e de profundidade (controle de altitude). Em 23 de outubro de 1906, Alberto Santos Dumont tornou o sonho realidade. Ao decolar abordo do 14 bis, impulsionado por um motor à gasolina, ele voou naquele dia e repetiu a façanha menos de um mês depois, diante de uma multidão que compareceu ao Campo de Bagatelle, em Paris. Esses dois voos foram as primeiras demonstrações públicas de um aparelho mais pesado do que o ar, levantando voo por seus próprios meios, sem a necessidade de uma rampa de lançamento. 2 Devido ao seu inventor, o australiano Lawrence Hargrave. 13 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Seção 2 Classificação, definições e principais componentes de um avião Para início de conversa, você saberia definir o que é uma aeronave? Antes que possamos classificá-las, necessitamos conceituar esta máquina. De acordo com o dicionário Priberam (2013), aeronave nada mais é do que um “Nome genérica dos aparelhos por meio dos quais se navega no ar”. Mas de modo geral, elas são definidas como “todo aparelho capaz de se sustentar e navegar no ar”. (HOMA, 2010). A definição mais completa, no entanto, é a encontrada no Código Brasileiro de Aeronáutica, editado pela Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986, em seu artigo 106: “Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas”. (BRASIL, 1986). Sendo assim, podemos entender que tanto um balão como um helicóptero ou tanto um autogiro como um dirigível são aeronaves que atendem essa definição, o mesmo valendo para um planador, para um paraquedas motorizado ou para um avião. O avião e o planador, por exemplo, são aeródinos de asa fixa. Ao se deslocarem na atmosfera, suas asas desviam o fluxo de ar de modo a criar uma reação aerodinâmica para cima, denominada sustentação. Já o helicóptero ou o autogiro são aeródinos de asa rotativa. As pás do rotor, ao girar, criam sustentação da mesma forma como as asas do avião. Outra forma de classificação das aeronaves foi categorizá-las 3. Essa classificação é normalmente utilizada para a emissão das licenças de pilotagem. Assim sendo, um piloto da categoria “avião” não está habilitado para operar um “helicóptero”. Para cada categoria há necessidade de uma licença específica. As aeronaves também são classificadas quanto ao seu uso 4. Consideram-se militares as integrantes das Forças Armadas, inclusive as requisitadas na forma da lei, para missões militares. 3 Assim, surgiram as categorias: avião, helicóptero, balão e planador. 4 Civil ou militar e público ou privado. 14 Capítulo 1 As aeronaves civis são subdivididas e compreendem: • aeronaves públicas; • aeronaves privadas. As aeronaves públicas são as destinadas ao serviço do Poder Público, ou seja, pelo legislativo, pelo executivo ou pelo judiciário dos três níveis, municipal, estadual ou federal; todas as demais são aeronaves privadas. Assim sendo, uma aeronave a serviço da PolíciaFederal, por exemplo, é uma aeronave civil pública. Para diferenciá-las quanto ao porte, as aeronaves foram classificadas quanto ao seu peso 5. Os aviões também são classificados quanto à posição das asas. Elas podem ser fixadas em 4 posições em relação à fuselagem: 1. na sua parte inferior (asa baixa); 2. na altura média (média); 3. na sua parte superior (alta); ou 4. acima dela (parasol). A seguir, uma imagem representativa dessa classificação: Figura 1.1 – Classificação quanto às Asas Fonte: Talay, 1975, p. 18. 5 Podendo ser: ultraleves, leves, médias ou pesadas. 15 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) O número de asas também pode variar. Os aviões com um único conjunto de asas são chamados de monoplanos, enquanto aqueles com dois ou mais conjuntos são chamados de biplanos, triplanos, e assim por diante. O mesmo ocorre com relação ao número de motores, existindo, então, os monomotores, os bimotores, os multimotores etc. Existem várias outras classificações e categorias constantes dos Regulamentos Brasileiros de Aviação Civil (RBAC) e de outros documentos oficiais que foram criadas para atender diversas finalidades como, por exemplo, a certificação de produtos aeronáuticos (RBAC 23) onde são citadas as categorias: normal, utilidade, acrobática e de transporte. O avião Agora, falando apenas dos aeródinos de asa fixa, ou seja, dos aviões, embora sejam projetados para uma variedade de propósitos, a maioria deles tem a estrutura semelhante e os mesmos componentes principais. As características gerais são, em grande parte, determinadas não só pelos objetivos do projeto original, mas também pelos requisitos de homologação aeronáutica (que são comuns a todos os fabricantes), o que as fazem apresentar as mesmas partes estruturais básicas e características operacionais semelhantes, independentemente de ser um monomotor ou um grande jato comercial. Segundo Rodrigues (2014), um avião é definido como uma aeronave de asa fixa mais pesada do que o ar, movida por propulsão mecânica, que é mantido em condição de voo devido à reação dinâmica do ar que escoa através de suas asas. Os principais componentes A maioria dos aviões é composta pelo corpo ou fuselagem como estrutura principal, onde há espaço para pessoas ou coisas. Na fuselagem, existem as conexões estruturais onde são instaladas as asas, a empenagem, o trem de pouso, o conjunto motopropulsor e, finalmente, são incorporados os diversos outros subconjuntos complementares, chamados de sistemas 6. 6 Como, por exemplo, o sistema de combustível, elétrico, hidráulico etc. 16 Capítulo 1 Figura 1.2 - Os principais componentes de um avião Fonte: FAA, 2016, p 3-4. Assim como outras máquinas sofrem esforços estruturais com o seu trabalho ou movimento, todos os componentes estruturais do avião são submetidos e devem resistir a diversos esforços 7 durante a sua operação, que se referem ao próprio voo. Assim como o automóvel sofre uma torção ao passar em uma valeta ou um buraco, o avião poderá sofrer os esforços citados em voo. Um avião normalmente estará sofrendo esforços estruturais e seu corpo deverá resistir a eles para se manter integro durante o voo. Portanto, os materiais utilizados na construção das estruturas aeronáuticas devem ser leves e resistentes. Os mais utilizados são as ligas de alumínio, mas também existem aviões feitos com tubos de aço soldado. Os materiais mais modernos são fibra de vidro, fibra de carbono e tecido de Kevlar®, dos quais falaremos mais adiante. A construção das fuselagens A construção das fuselagens das aeronaves evoluiu da treliça de madeira revestida com tela para a estrutura semi-monocoque em caverna, feita de materiais compostos atualmente, passando pela estrutura tubular com mecanismos estruturais e pela estrutura monocoque em caverna. 7 Os principais tipos de esforços são: a tração, a compressão, a flexão, o cisalhamento e a torção. 17 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) A fuselagem, basicamente, pode ser construída de três formas diferentes: 1. treliçada; 2. monocoque; ou 3. semi-monocoque. A seguir, uma imagem representativa dessas construções: Figura 1.3 – Tipos de estruturas de fuselagem Fonte: Rodrigues, 2014, p. 14. Vejamos, mais detalhadamente, cada uma destas estruturas, iniciando pela estrutura treliçada tubular. A estrutura em forma de treliça para a fuselagem é utilizada em algumas aeronaves de projetos mais antigos. A resistência e a rigidez desse tipo de estrutura são obtidas através da junção das barras em uma série de modelos triangulares. A principal desvantagem da estrutura treliçada tubular é a dificuldade em se obter um formato mais aerodinâmico e eficiente. Nesse processo de construção, longos pedaços de tubos de aço postos no sentido longitudinal 8 são soldados entre si, com tubos menores para formar um quadro bem resistente. Suportes verticais e horizontais são soldados às longarinas para dar à estrutura uma forma quadrada ou retangular. Suportes adicionais, como cabos de aço esticados em diversos pontos, são necessários para suportar os esforços estruturais de tração. Outras longarinas, divisórias e suportes podem ser necessários para dar melhor forma à fuselagem ou para adequar à cabine. No início, essa estrutura tubular era aparente, mas com o avanço da tecnologia, os projetistas de aeronaves viram que ao usar um revestimento na parte estrutural conseguia-se diminuir o arrasto e melhorar o desempenho. Esse revestimento era originalmente feito com tela de tecido, que acabou sendo substituído por metais leves, como o alumínio. 8 Chamados de longarinas. 18 Capítulo 1 Figura 1.4 - Estrutura treliçada tubular sem o revestimento Fonte: Carvalho, 2007. Seguimos à estrutura monocoque. Com o tempo, os projetistas das fuselagens observaram que, em alguns casos, essa “pele” exterior da estrutura treliçada poderia suportar a maior parte ou a totalidade das cargas estruturais. A maioria das aeronaves modernas usa essa forma de construção, conhecida como construção monocoque ou semi- monocoque, em que o revestimento externo é parte estrutural da fuselagem. A construção monocoque usa o revestimento como peça principal para suportar quase todas as cargas estruturais. Esse revestimento é geralmente feito de chapa metálica, sendo que a mais comum utiliza as ligas de alumínio. O formato aerodinâmico é obtido pelas cavernas que podem suportar parte do esforço. Apesar de forte, a construção monocoque não é muito tolerante à deformação da superfície, como acontece com uma lata de bebida de alumínio, por exemplo, que pode suportar forças consideráveis nas extremidades da lata, mas se o seu lado é ligeiramente amassado, enquanto suporta uma carga, ela se deformará por completo facilmente. Para minimizar este aspecto, os primeiros aviões feitos neste processo de fabricação utilizavam chapas onduladas ou corrugadas, como as telhas metálicas de hoje, para aumentar sua resistência a deformações laterais. Como a maioria dos esforços de torção e flexão é suportado pelo revestimento estrutural e não por uma estrutura convencional, a necessidade de reforço interno foi eliminada ou reduzida, economizando peso e maximizando o espaço. 19 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Por fim, algumas considerações sobre a estrutura semi-monocoque. A construção semi-monocoque usa uma infraestrutura em que o revestimento do avião é aplicado. Esse tipo de construção é o mais utilizado, nos dias atuais. Essa infraestrutura, que suporta o revestimento, consiste de anteparos, reforçadores, longarinas e nervuras de vários tamanhos que, aplicados na parte interna do revestimento, dão maior resistência ao conjunto, pois dividem com o revestimento a resistência aos esforços aplicados à fuselagem, sem a necessidade de uma estrutura maior, mantendo as vantagens da construção monocoque. Figura 1.5 – Fuselagem semi-monocoque Fonte: Nascidos, 2016. A parte principal da fuselagemtambém inclui pontos de fixação das asas e um anteparo contrafogo. Em aviões monomotores, o conjunto motopropulsor composto de motor e hélice é geralmente colocado na parte dianteira da fuselagem, sendo separado da cabine de pilotagem por um anteparo, geralmente feito de material resistente ao calor, como o aço inoxidável, colocado entre a parte traseira do motor e a cabine para proteger o piloto e os passageiros de um incêndio acidental do motor. A construção em materiais compósitos Um novo processo de construção em desenvolvimento é a utilização dos compósitos em parte da estrutura ou até mesmo aeronaves feitas inteiramente de materiais compostos. Compósito é um termo amplo e pode significar materiais como fibra de vidro, fibra de carbono, tecido de Kevlar® e misturas de todos eles. 20 Capítulo 1 Vamos entender melhor como isso funciona e quais são suas vantagens e desvantagens, conforme alguns acontecimentos históricos registrados no Pilot’s Handbook of Aeronautical Knowledge (FAA, 2016): • A utilização de compósitos na construção de aviões é datada da II Guerra Mundial, quando a fibra de vidro foi usada nas fuselagens do B-29. • No final dos anos 1950, os fabricantes europeus de planador de alto desempenho já usavam a fibra de vidro como material para as estruturas primárias. • Em 1965, o FAA certificou uma aeronave de fibra de vidro pela primeira vez na categoria normal: um planador suíço chamado HBV Diamant. • Quatro anos mais tarde, um avião monomotor para quatro lugares, feito por esse método de construção, também foi certificado na categoria normal. • Em 2005, mais de 35% dos novos aviões fabricados nos Estados Unidos foram construídos com materiais compostos. A construção com materiais compostos oferece duas vantagens: 1. revestimento de design extremamente suave e aerodinâmico; e 2. a capacidade de facilmente criar soluções para complexas estruturas curvas ou aerodinâmicas. A seguir, uma ilustração de uma aeronave em material compósito: Figura 1.6 - Aeronave em material compósito Foto: Cirrus, 2016. 21 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Os materiais compósitos são reforçados com fibra pelo sistema de matriz. A matriz é a “cola” usada para manter as fibras unidas e, quando curada, dá a ela a sua forma, mas são as fibras que suportam a maior parte da carga estrutural. Há muitos tipos diferentes de fibras e de sistemas matriciais. No avião, o mais comum é a matriz de resina epóxi 9. Em comparação com outras opções, tais como resina de poliéster, o epóxi é mais forte e tem boas propriedades de alta temperatura. Há muitos tipos diferentes de epóxi disponíveis, com uma vasta gama de propriedades estruturais, tempos de cura, temperaturas e custos. De acordo com o Pilot’s Handbook of Aeronautical Knowledge (FAA, 2016), as fibras mais comuns de reforço, usadas na construção de aeronaves, são: • a fibra de vidro; e • a fibra de carbono. A fibra de vidro tem boa resistência à tração e compressão, boa resistência de impacto e é fácil de trabalhar. É relativamente barata e facilmente encontrada. Sua principal desvantagem é que ela é relativamente pesada, e dificilmente se consegue fazer uma estrutura de fibra de vidro mais leve do que uma estrutura de alumínio, num projeto equivalente. A fibra de carbono é, geralmente, mais forte e mais resistente à tração e compressão do que a fibra de vidro, além de ter maior capacidade de flexão. Também é consideravelmente mais leve do que a fibra de vidro. No entanto, ela é relativamente pobre em resistência ao impacto. As fibras são frágeis e tendem a quebrar-se sob forte impacto. Isso pode ser aprimorado com a utilização de um “robusto” sistema de resina epóxi, tal como o usado nos estabilizadores horizontal e vertical do Boeing 787. Apesar de ser mais cara do que fibra de vidro, seu preço tem caído, devido às inovações impulsionadas pelos vários programas de desenvolvimento de aeronaves que utilizam este material. Quando muito bem projetada, uma estrutura de fibra de carbono pode ser significativamente mais leve do que uma estrutura de alumínio equivalente, reduzindo em até 30% seu peso. Quais são as vantagens dos compósitos? 9 Uma resina epóxi ou poliepóxido é um plástico termofixo que se endurece quando se mistura com um agente catalisador. Atualmente, as resinas epóxis são utilizadas por uma infinidade de aplicações, inclusive na fabricação dos materiais compósitos. 22 Capítulo 1 A construção de aeronaves com material compósito oferece diversas vantagens sobre o metal, madeira ou tecido, sendo seu peso a mais citada. Mas a vantagem do baixo peso nem sempre é automática. A construção de uma estrutura de aeronave em compósitos não é garantia de que será mais leve. Isso vai depender da estrutura projetada, bem como do tipo de composto a ser utilizado. A vantagem mais importante é que o uso de compósitos permite a fabricação de estruturas de formas suaves e curvas aerodinâmicas, o que resulta em significativa diminuição do arrasto. Essa foi a principal razão para que projetistas de planador mudassem de metal e madeira para compósitos em 1960. Nos aviões, a utilização de compósitos reduziu o arrasto como, por exemplo, na linha de aeronaves Cirrus e Columbia, levando à sua alta performance, apesar de seu trem de pouso ser fixo. Compósitos também ajudaram a mascarar a identificação de radar das aeronaves militares de concepções “stealth” ou invisível, como o B-2 e F-22. A terceira vantagem dos compósitos é a não sujeição à corrosão. A Boeing projetou e está fabricando o 787, com sua fuselagem toda em material composto, para obter um maior diferencial de pressão de cabine e maior umidade relativa do ar na cabine dos aviões, de modo a oferecer melhor conforto aos passageiros. Os engenheiros não estão mais preocupados com a corrosão provocada pela condensação da umidade sobre as áreas escondidas dos revestimentos da fuselagem. Isso deve contribuir para a redução dos custos de manutenção a longo prazo. Outra vantagem dos compostos é o seu bom desempenho em um ambiente de flexão, como nas lâminas de rotor de helicóptero. Compósitos não sofrem de fadiga nem desenvolvem microrrachaduras, como o metal. Por isso, as pás do rotor, produzidas com compósitos, podem ter uma vida consideravelmente mais longa do que as lâminas de metal. E as desvantagens dos compósitos? A construção em compósitos vem com seu próprio conjunto de desvantagens; a mais importante das quais é a falta de prova visual de dano. Compósitos respondem ao impacto de modo diferente de outros materiais estruturais e, frequentemente, não se encontra nenhum sinal óbvio de dano. Por exemplo, se um carro, ao manobrar, encostar em uma fuselagem de alumínio, pode provocar uma mossa ou deformação no local. Se não houver nenhuma deformação visível, então, não houve nenhum dano. Nas estruturas metálicas, se a fuselagem é prejudicada, o dano é visível e os reparos a serem feitos são facilmente determinados. 23 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Em uma estrutura em compósito, um impacto de baixa energia, tal como uma colisão ou uma queda de ferramenta, pode não deixar qualquer sinal visível do impacto sobre a superfície, mas debaixo do local do impacto pode haver delaminações 10 extensas, espalhando-se em uma área em forma de cone, a partir do local do impacto. Os danos no outro lado da estrutura podem ser significativamente importantes, sem ser visíveis. Nesses casos, por menor que seja o impacto sofrido pela estrutura, é melhor chamar um inspetor familiarizado com materiais compósitos para examiná-la e determinar o dano subjacente. Um impacto energético médio resulta em locais de esmagamento da superfície, que deve ser visível a olho nu, mas também, nesse caso, a área danificada é muito maior do que a área de dano visível. Quanto a um impacto de alta energia, como uma colisão com pássaros ou granizo durante o voo, o resultado será umaestrutura bastante danificada. O potencial dano por calor para a resina é outra desvantagem do uso de compósitos. Apesar do limite de temperatura depender do sistema da resina empregada, os epóxis começam a enfraquecer acima de 66°C. A pintura branca em compósitos é frequentemente usada para minimizar esse problema. Por exemplo, a parte inferior de uma asa, que é pintada de preto em um pátio de asfalto num dia quente e ensolarado, pode atingir até 100°C. Na mesma condição, a mesma estrutura pintada de branco raramente excederá os 60°C. Por isso, os aviões de material composto têm recomendações específicas sobre as cores permitidas da pintura. Além disso, decapantes químicos são muito prejudiciais para materiais compósitos, e não devem ser usados sobre eles. Se houver necessidade de remoção de tinta, ela só deverá ser feita por meio de métodos mecânicos. Muitas peças caras de material composto foram arruinadas pelo uso de decapantes e, pior ainda, tais danos geralmente não são passíveis de reparação. Alguns operadores são preocupados com derramamento de combustível, óleo, fluido hidráulico ou outros líquidos sobre superfícies compostas. Esse, de modo geral, não é um problema para os compósitos modernos, usando resina epóxi. Normalmente, se o vazamento não ataca a pintura, ele não vai afetar o compósito subjacente. A proteção às descargas elétricas é uma consideração importante no projeto do avião. 10 Refere-se a situações em que há separação de estruturas que habitualmente ficam unidas. No caso dos compósitos, refere-se à separação das camadas de fibras entre si ou de fibras da matriz. 24 Capítulo 1 Quando um avião é atingido por um raio, uma quantidade muito grande de energia é entregue à estrutura. Tanto num pequeno avião da aviação geral como em um de grande porte, o princípio básico de proteção contra descargas atmosféricas é o mesmo. Para o tamanho de qualquer aeronave, a energia da descarga deve ser espalhada por uma grande área, para diminuir a quantidade de ampères por centímetro quadrado a um nível inofensivo. Se um raio atinge um avião de alumínio, a energia elétrica, naturalmente, é conduzida facilmente por meio da estrutura metálica. O revestimento exterior da aeronave é o caminho de menor resistência. Em uma aeronave de compósitos, a fibra de vidro é um excelente isolante elétrico, enquanto a fibra de carbono conduz eletricidade, mas não tão facilmente como o alumínio. Portanto, uma condutividade elétrica adicional precisa ser adicionada à camada externa do revestimento. Isso é feito tipicamente com malhas finas do metal ligado à superfície do revestimento. Alumínio e malha de cobre são os dois tipos mais comuns, com o alumínio usado em fibra de vidro e cobre em fibra de carbono. Nas últimas décadas, desde a Segunda Guerra Mundial, os compósitos têm ganho um papel importante no projeto da estrutura da aeronave. Sua flexibilidade de design e resistência à corrosão, bem como as relações de alta resistência- peso possível, sem dúvida, continuarão a contribuir para a criação de projetos de aeronaves mais inovadoras no futuro. Do pequeno Cirrus SR-20 aos gigantes Boeing 787 e Airbus A380, fica evidente que o uso dos compósitos tem encontrado um lugar na construção de aeronaves, e estão aqui para ficar. A construção das asas As asas são aerofólios conectados a cada lado da fuselagem e são as principais superfícies de sustentação que mantêm o avião em voo. Existem inúmeros projetos de asas, tamanhos e formas usadas pelos vários fabricantes. Cada um cumpre um determinado objetivo em relação ao desempenho esperado para aquele determinado avião. Quanto à sua geometria, as asas podem possuir uma grande diversidade de formas, que variam de acordo com os requisitos do projeto. Os formatos mais comuns são: • retangular; • trapezoidal; e • elíptica. 25 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) A asa retangular é uma asa de baixa eficiência aerodinâmica, ou seja, a relação entre a força de sustentação e a força de arrasto (L/D) é menor quando comparada a uma asa trapezoidal ou elíptica. Isto ocorre devido ao arrasto de ponta de asa 11, que, no caso da asa retangular, é maior do que em uma asa trapezoidal ou elíptica. A vantagem da asa retangular é a sua maior facilidade de construção e um menor custo de fabricação quando comparada as outras. A asa trapezoidal é uma asa de ótima eficiência aerodinâmica, pois, com a redução gradativa da corda entre a raiz e a ponta da asa, consegue-se uma significativa redução do arrasto induzido. Nesse tipo de asa, o processo construtivo torna-se um pouco mais complexo, uma vez que a corda de cada nervura possui uma dimensão diferente. A asa elíptica representa a asa ideal, pois é a que proporciona a máxima eficiência aerodinâmica, porém é de difícil fabricação e mais cara, quando comparada às outras formas apresentadas. Figura 1.7 – Classificação das asas Fonte: Wikipedia, 2017. A estrutura das asas é classificada quanto à sua fixação. Para os aviões de asa baixa e alguns de asa alta, que suportam toda a carga aerodinâmica sem a necessidade de suportes externos, esses conjuntos são chamamos de asa cantilever 12. O mesmo conceito foi usado para dar nome às asas presas apenas em um ponto da fuselagem. 11 Também conhecido por arrasto induzido. 12 Cantilever significa uma viga, trave ou qualquer estrutura semelhante que se projeta para fora, sustentada apenas em uma das extremidades, podendo servir como suporte de marquises, telhados ou varandas. 26 Capítulo 1 Quando há um suporte externo na asa alta dos aviões, geralmente instalado acerca de meio caminho do comprimento da asa, que transmite as cargas de voo para a estrutura da fuselagem principal, a asa passa a ser denominada semicantilever. Figura 1.8 - Asa cantilever e semicantilever Fonte: Homa, 2010, p. 6. As principais partes estruturais da asa são: • as longarinas; • as nervuras; e • os reforçadores. As longarinas são os principais elementos estruturais da asa, mas são as nervuras que dão o formato aerodinâmico à asa e transmitem os esforços aerodinâmicos do revestimento para a longarina. Esses conjuntos são reforçados por treliças, vigas, tubos ou outros dispositivos, incluindo o revestimento. 27 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Figura 1.9 - Nomenclatura da asa Fonte: Formação RSB-AEROPORTO, [200?]. Nas asas de construção com revestimento não estrutural, como as telas, existem, ainda, os montantes 13, para suportar os esforços de compressão e os tirantes ou cabos de aço esticados em diagonal, para suportar os esforços de tração. Na maioria dos aviões modernos, os tanques de combustível são parte integrante da estrutura da asa, ou consistem em recipientes flexíveis montados dentro da asa. A parte lateral da asa, que é fixada à fuselagem, é chamada de raiz da asa, sendo que no outro extremo, há a ponta da asa. A parte lateral dianteira, que é a primeira a deslocar o fluxo de ar, é chamada de bordo de ataque, enquanto, no seu oposto, na parte traseira, está o bordo de fuga. A parte superior da asa é chamada de extradorso e a inferior, intradorso. Nas asas ainda existem os elementos móveis, geralmente localizados no bordo de fuga, tendo como função controlar o voo do avião, esses são chamados de superfícies de controle, como os ailerons e flapes, que estudaremos mais adiante. Figura 1.10 - Nomenclatura do perfil e da asa Fonte: Rodrigues, 2014, p. 16. 13 Reforços ou suportes estruturais aplicados às nervuras entre a longarina principal e a traseira. 28 Capítulo 1 A empenagem A empenagem é o conjunto de superfícies destinadas a estabilizar o voo. Esse conjunto geralmente compreende duas partes que compõem toda a cauda da aeronave, consistindo em superfícies fixas e móveis: 1. uma vertical; e 2. outra horizontal. Essas superfícies se opõem à tendência de guinada que provoca o deslocamento do nariz do avião para a direita ou esquerda (superfícievertical) e de variação da arfagem (pitch), ou seja, variação da atitude do nariz de subir ou descer (superfície horizontal). Figura 1.11 - A empenagem Fonte: Homa, 2010, p. 6. A superfície horizontal é composta pelo estabilizador horizontal, que é fixo, e pelo profundor, que é móvel. O profundor, que é conectado à parte posterior do estabilizador horizontal, é utilizado para mover o nariz do avião para cima e para baixo durante o voo. Há empenagens em que a superfície horizontal é inteiriça e toda móvel, sem a divisão estabilizador/profundor. A superfície vertical é composta pelo estabilizador vertical, fixo, e pelo leme de direção, móvel, que está ligado à parte traseira do estabilizador vertical. Durante o voo, ele é usado para mover o nariz para a esquerda ou para a direita. O dimensionamento correto da empenagem é algo de muita importância, a fim de se garantir estabilidade e controlabilidade à aeronave. 29 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) As superfícies de controle ou de comando As partes móveis das asas e da empenagem são chamadas de superfícies de controle, pela óbvia função de controlar o voo do avião. Elas são divididas em: • superfícies primárias, ou principais; e • superfícies secundárias. Um avião possui três superfícies de controle primárias: 1. os ailerons; 2. o profundor; e 3. o leme de direção. Os ailerons são estruturas móveis localizadas no bordo de fuga e nas extremidades das asas. Os ailerons de cada asa se movem em direções opostas, ou seja, quando o aileron de uma asa se levanta, o da asa oposta se abaixa, para criar forças aerodinâmicas que causam a inclinação ou rolagem do avião. O profundor é uma estrutura móvel localizada no estabilizador horizontal da empenagem e atua com a finalidade de executar os movimentos de levantar ou baixar o nariz da aeronave, ou seja, o movimento de arfagem em relação ao eixo lateral. O leme de direção está localizado na superfície vertical da empenagem, mais especificamente acoplado ao estabilizador vertical. Sua função principal é permitir, através de sua deflexão, que a aeronave execute o movimento de guinada ao redor do eixo vertical. Nas superfícies de controle primárias existem os compensadores (trim tabs), que são pequenas partes móveis do bordo de fuga dos ailerons, leme e profundor e podem ser controladas pelo piloto, a fim de reduzir as pressões nos controles e, portanto, o esforço necessário no manche para manter o voo da aeronave. 30 Capítulo 1 Existem ainda, em algumas asas, principalmente nos aviões maiores e mais rápidos, superfícies secundárias: • flaps; • slats; e • spoilers. Os flaps e slats fazem parte da asa e são denominados dispositivos hipersustentadores. Essas superfícies ficam “carenadas” durante a maior parte do voo, mas durante as decolagens, aproximações e pousos, elas são estendidas de modo a aumentar a área das asas e, portanto, permitir que elas produzam maior sustentação. Assim, é possível levantar voo ou pousar com velocidades bem menores do que aquelas exigidas pela asa “limpa”. Figura 1.12 - Flaps e Slats Fonte: Lito, 2009. Os spoilers, ou freios aerodinâmicos, têm como principal função impedir que a velocidade do avião aumente excessivamente durante uma descida, mas também são usados para aumentar a razão de descida ou conseguir uma desaceleração mais rápida. São, geralmente, parte da asa de aviões de alta velocidade e também podem auxiliar a operação dos ailerons, como veremos na próxima seção. 31 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Existe, ainda, na estrutura de um avião um significativo número de itens secundários, como, por exemplo, portas, carenagens, janelas e tampas de inspeção de remoção rápida, tanques auxiliares de combustível, componentes aerodinâmicos 14. Projeto, Certificação e Aeronavegabilidade A ANAC certifica alguns tipos de produtos de aviação como: aeronaves, motores de aeronaves e hélices. Cada um destes produtos foi concebido para atender a um conjunto de normas de aeronavegabilidade constantes nos regulamentos federais publicados pela ANAC. Normas de aeronavegabilidade diferentes aplicam-se às diferentes categorias de produtos da aviação, conforme segue: • Aviões categoria Normal, Utilitário, Acrobático e Transporte Regional - RBAC 23 • Aviões categoria Transporte - RBAC 25 • Aeronaves de asas rotativas categoria Normal - RBAC 27 • Aeronaves de asas rotativas categoria Transporte - RBAC 29 • Balões Livres Tripulados - RBAC 31 • Motores de aeronaves - RBAC 33 • Hélices - RBAC 35 A garantia da aeronavegabilidade exigida foi desenvolvida para assegurar que os produtos voltados para a aviação sejam projetados, produzidos e operados dentro de padrões seguros. 14 Como os winglets, que são elementos para reduzir o arrasto induzido, como se tivéssemos “dobrado” a ponta das asas para cima. 32 Capítulo 1 Seção 3 Os princípios fundamentais da aerodinâmica Para controlar uma aeronave, o piloto deve compreender os princípios envolvidos e aprender a neutralizar essas forças naturais. Assim, o entendimento do funcionamento dos principais componentes e subcomponentes de uma aeronave, depende da compreensão dos conceitos básicos de física e aerodinâmica. Nesta seção, discutiremos, de forma simplificada, a aerodinâmica do voo e como o peso, o design, os fatores de carga, as leis da física e a força da gravidade afetam uma aeronave durante as manobras de voo. Fundamentos da aerodinâmica De acordo com Rodrigues (2014, p. 25), “A aerodinâmica é o estudo do movimento de fluidos gasosos, relativo às suas propriedades e características, e às forças que exercem em corpos sólidos neles imersos.”. De uma forma geral, a aerodinâmica, como ciência específica, só passou a ganhar importância industrial com o surgimento dos aviões e dos automóveis, pois estes precisavam se locomover, tendo o menor atrito possível com o ar, pois assim seriam mais rápidos e gastariam menos combustível. O estudo de perfis aerodinâmicos, ou aerofólios, provocou um grande salto no estudo da aerodinâmica. No início, o desenvolvimento da aerodinâmica esteve intimamente ligado ao desenvolvimento da hidrodinâmica que apresentava problemas similares, e com algumas facilidades experimentais, uma vez que já havia tanques de água circulante na época, embora não houvesse túneis de vento. O estudo dos fenômenos que envolvem a aerodinâmica é de fundamental importância para o projeto global da aeronave, pois muitos aspectos estudados para se definir a melhor configuração aerodinâmica da aeronave serão amplamente utilizados para uma melhor análise de desempenho e estabilidade da aeronave, bem como para o cálculo estrutural da mesma, uma vez que existem muitas soluções entre um bom projeto aerodinâmico e um excelente projeto total da aeronave. Do ponto de vista operacional, um piloto deve entender de que maneira a tração, o arrasto, a sustentação e o peso agem sobre a aeronave a fim de mantê-la em voo. Ao entender a aerodinâmica do voo, um piloto saberá como o projeto (design), o peso, os fatores de carga e a gravidade afetam um avião durante as manobras de voo, do stall ao voo de alta velocidade, e aprende como controlar o equilíbrio entre essas forças. 33 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Para obter informações específicas relativas à aeronave que está sendo voada como velocidades limitantes, os fatores de carga e outros dados importantes, consulte sempre o seu manual da aeronave (AFM / POH). Atmosfera A atmosfera é um envelope de ar que envolve a Terra e repousa sobre sua superfície. É tanto uma parte da Terra como os mares ou o solo, mas o ar difere do solo e da água por ser uma mistura de gases. Ela tem massa, peso e forma indefinida. (FAA, 2016). A atmosfera é composta por: • 78% de nitrogênio; • 21% de oxigênio; e • 1% de outros gases, como argônio ou hélio. Alguns desses elementos são mais pesados do que outros. Os elementos mais pesados,como o oxigênio, assentam à superfície da Terra, enquanto os elementos mais leves são elevados a regiões de maior altitude. A maior parte do oxigênio da atmosfera está contida abaixo de 35.000 pés de altitude. O ar é um fluido, e como tal, toma a forma de seus recipientes. Os fluidos geralmente apresentam pouca ou nenhuma resistência à deformação, mesmo quando submetido a pequena tensão ou força. Chamamos essa leve resistência de viscosidade. O ar, como qualquer fluido, também tem a capacidade de escoar e expandir para preencher o volume do seu recipiente. Compreender as propriedades de escoamento do ar como um fluido é essencial para entender os princípios do voo. Viscosidade é a propriedade física que caracteriza a resistência de um fluido ao escoamento. Em outras palavras, é a propriedade associada à resistência que um fluido oferece à deformação causada por seu deslocamento ou por um corpo que tende a se deslocar em seu meio. Fluidos de alta viscosidade são “grossos” e resistem ao escoamento, já os fluidos de baixa viscosidade são “finos” e fluem facilmente. O ar tem uma baixa viscosidade. Usando dois líquidos como exemplo, quantidades semelhantes de óleo e água vazando por dutos idênticos fluirão em diferentes velocidades, devido à sua diferente viscosidade. A água parece fluir livremente, enquanto o óleo flui muito mais lentamente. 34 Capítulo 1 Todos os fluidos são viscosos e têm uma resistência ao escoar. Portanto, como o ar é um fluido e tem propriedades de viscosidade, também apresenta uma resistência ao escoamento em torno de qualquer objeto. Outro fator existente no escoamento de um fluido ao redor de um objeto é chamado: • fricção; ou • atrito. A fricção é a resistência que uma superfície ou objeto apresenta quando se desloca sobre outro. Atrito existe entre quaisquer materiais que contatam ou friccionam entre si. Usando o mesmo exemplo anterior, se fluidos idênticos forem derramados em dutos semelhantes, fluem da mesma maneira e na mesma velocidade. Mas, se a superfície de um duto for mais áspera do que a do outro, o fluxo entre os dutos, mesmo para fluidos idênticos, será significativamente diferente. A superfície de uma asa, como qualquer outra superfície, apresenta alguma rugosidade ao nível microscópico. A rugosidade da superfície causa atrito e resistência, retardando a velocidade do fluxo de ar sobre a asa 15. As moléculas de ar que passam sobre a superfície da asa aderem ou se prendem à superfície por causa da fricção. As moléculas próximas à superfície da asa resistem ao movimento e apresentam velocidade relativa próxima de zero, devido à rugosidade da superfície que impede o movimento delas. Vejamos uma imagem dessa rugosidade: Figura 1.13 – Rugosidade da asa Fonte: FAA, 2016, p. 4-2. 15 Essa camada de moléculas que aderem à superfície da asa é referida como a camada limite. 35 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) A Física da força de sustentação Há vários obstáculos a superar para se alçar voo em uma máquina que é mais pesada do que o ar e, provavelmente, o obstáculo mais desafiador a ser superado é a força da gravidade. Uma asa que se move através do ar gera a chamada força de sustentação e permite que um avião voe. A geração de sustentação baseia-se em alguns princípios importantes, como: • as leis fundamentais da dinâmica de Newton (Primeira, Segunda e Terceira); e • o princípio de pressão diferencial de Bernoulli. A formulação de sustentação tem sido historicamente uma adaptação ao longo dos últimos séculos de leis físicas básicas. Estas leis, embora aparentemente aplicáveis a todos os aspectos da sustentação, não explicam como a sustentação é obtida em aerofólios simétricos, por exemplo, os quais produzem significativa sustentação. As leis fundamentais da Física, que governam as forças que atuam sobre um avião em voo, foram adotadas a partir de teorias postuladas e desenvolvidas antes que qualquer ser humano conseguisse voar com sucesso um avião. Vamos conhecer ou retomar o conhecimento a respeito da Primeira Lei de Newton, sobre o princípio da inércia. Quando estamos dentro de um carro, e este contorna uma curva, nosso corpo tende a permanecer com a mesma velocidade vetorial a que estava submetido antes da curva, isto dá a impressão de estar sendo “jogado” para o lado contrário à curva. Isso porque a velocidade vetorial é tangente à trajetória. Quando estamos em um carro em movimento e este freia repentinamente, nos sentimos como se fôssemos atirados para frente, pois nosso corpo tende a continuar em movimento. Estes e vários outros efeitos semelhantes são explicados pelo princípio da inércia, cujo enunciado é: “Um corpo em repouso tende a permanecer em repouso, e um corpo em movimento tende a permanecer em movimento.”. (FAA, 2016, p. 4-5). Então, conclui-se que um corpo só altera seu estado de inércia, se alguém, ou alguma coisa aplicar nele uma força resultante diferente de zero. Uma aeronave em repouso na rampa permanecerá em repouso, a menos que uma força forte o suficiente para superar sua inércia seja aplicada a ela. Uma vez que ela se move, sua inércia a manterá em movimento, sujeita às várias outras forças que atuam sobre ela. Essas forças podem aumentar seu movimento, retardá-lo ou mudar sua direção. 36 Capítulo 1 A Segunda Lei de Newton aborda o princípio fundamental da dinâmica. Vejamos do que se trata. Quando aplicamos uma mesma força em dois corpos de massas diferentes, observamos que elas não produzem aceleração igual. Conforme a Segunda Lei de Newton, a força é sempre diretamente proporcional ao produto da aceleração de um corpo pela sua massa, ou seja, para uma massa constante, a força é igual à massa vezes a aceleração. (FAA, 2016). Quando aplicada uma força constante em um corpo, o resultado será uma aceleração inversamente proporcional à massa do corpo. Exemplo prático disso é visto em uma mesma aeronave que irá acelerar ou desacelerar mais rapidamente se estiver mais leve para uma mesma força de tração e arrasto, já levando em conta os fatores envolvidos da Primeira Lei de Newton. A Terceira Lei de Newton trata do princípio da ação e reação, ou seja, quando uma pessoa empurra um objeto com uma força F, podemos dizer que esta é uma força de ação, mas sempre que isso ocorre, há uma resistência, ou seja, há outra força de igual tamanho e direção, mas de sentido contrário à força de ação, chamada força de reação. Este é o princípio da ação e reação, cujo enunciado segue: “As forças atuam sempre em pares; para toda ação, existe uma reação de mesmo valor, mesma direção e sentido oposto.”. (FAA, 2016, p. 4-6). Em um avião, a hélice se move e empurra o ar para trás, consequentemente, o ar empurra a hélice (e assim o Avião) na direção oposta: para frente. Em um avião a jato, o motor empurra uma explosão de gases quentes para trás e a força de uma reação, igual e oposta contra o motor, forçará o avião para frente. Meio século depois de Newton ter formulado suas leis, Daniel Bernoulli, um matemático suíço, explicou como a pressão de um fluido em movimento (líquido ou gás) varia com a sua velocidade. De acordo com o Princípio de Bernoulli, quando a velocidade de um fluido em movimento aumenta, a pressão dentro do fluido diminui (FAA, 2016). Este princípio explica o que acontece com o ar que passa pela parte superior da curvatura da asa do avião. Uma aplicação prática do Princípio de Bernoulli é o tubo de Venturi, que tem a mesma seção na entrada e saída, mas apresenta, em sua parte intermediária, um estrangulamento, reduzindo sua seção. A massa de ar que entra no tubo deve ser exatamente igual à massa que sai do tubo, assim quando a massa de ar passa pelo estrangulamento há um aumento da velocidade do ar para permitir que a mesma quantidade de ar passe no mesmo tempo que em outras partes do tubo. Quando o ar acelera, a pressão diminui. Após passar pelo estrangulamento, o fluxo de ar desacelera e a pressão aumenta,retornando aos valores originais da entrada no tubo. 37 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) A seguinte imagem fornece uma representação visual desse movimento: Figura 1.14 – Variação da pressão e velocidade do ar num tubo de Venturi Fonte: FAA, 2016, p. 4-6. Baseando-se na teoria de que o ar seguirá as leis aqui citadas, podemos começar a entender como e por que uma asa de avião desenvolve sustentação. Seção 4 A teoria de voo e a análise de desempenho Nesta seção, serão apresentados os principais fundamentos para o controle do voo e uma completa análise dos parâmetros de desempenho de uma aeronave em regime de voo, conforme muitas características importantes. Os movimentos e o sistema de coordenadas usados na indústria aeronáutica De forma a se entender todos os referenciais de movimento e direção de uma aeronave, é necessário estabelecer um sistema de coordenadas cartesianas tridimensional que serve de base para a avaliação dos movimentos da aeronave no espaço. Existem três linhas imaginárias que passam pelo centro de gravidade (CG) da aeronave em ângulos de 90 ° entre si. Essas linhas são os eixos em torno dos quais o avião gira. Sempre que uma aeronave muda sua atitude de voo ou de posição durante o voo, ela está se movimentando ou girando em torno de um ou mais dos seus três eixos. 38 Capítulo 1 Figura 1.15 – Os eixos de movimento Fonte: FAA, 2016, p. 5-12. O eixo que vai do nariz à cauda é o longitudinal, o eixo que passa de ponta a ponta das asas é o lateral, e a linha vertical que passa pela aeronave é o eixo vertical. O movimento de aeronaves sobre seu eixo longitudinal se assemelha ao balanço lateral de um navio. Na verdade, os nomes usados para descrever os movimentos em torno dos eixos de uma aeronave foram originalmente termos náuticos. (FAA, 2016). Eles foram adaptados para a terminologia aeronáutica da seguinte maneira: • em torno do eixo longitudinal ou de rolagem (roll) o avião gira lateralmente, abaixando uma asa e levantando a outra; • em torno do eixo lateral ou de arfagem (pitch), o avião gira em um plano vertical, levantando ou abaixando o nariz como o movimento de uma cadeira de balanço; • ao redor do eixo vertical ou de guinada (yaw), o avião gira num plano horizontal, movimentando o nariz para a direita ou para a esquerda. O acionamento dos controles da aeronave altera a posição das superfícies de controle de voo, de modo a fazer com que ela se movimente em torno de um ou mais desses eixos, permitindo o controle do avião durante o voo. A pilotagem O piloto controla as forças de voo, a direção e as atitudes da aeronave por meio dos comandos de voo, ou seja, do manche e dos pedais. Para ter o controle, ele atuará nas superfícies de controle de voo e, por consequência, terá o controle dos movimentos do avião, a fim de conseguir executar a manobra necessária para manter o voo. 39 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Assim, o manche controla dois movimentos: 1. o de rolagem; e 2. o de arfagem. O acionamento dos ailerons provoca o movimento de rolagem (roll), inclinando o avião para a direita ou para a esquerda. Figura 1.16 – Ação dos ailerons na rolagem Fonte: Rodrigues, 2014, p. 20. Quando um comando é aplicado para a direita, por exemplo, o aileron localizado na asa direita é defletido para cima e o aileron da asa esquerda é defletido para baixo, fazendo com que a aeronave execute uma manobra de rolamento para a direita. Isto ocorre devido ao aileron que é defletido para baixo provocar um aumento de arqueamento do perfil e, consequentemente, mais sustentação é gerada. No aileron que é defletido para cima, ocorre uma redução do arqueamento do perfil da asa e uma redução da sustentação gerada e, dessa forma, o desequilíbrio das forças em cada asa faz com que a aeronave execute o movimento de rolamento ao redor do eixo longitudinal. Do mesmo modo, um comando aplicado para a esquerda inverte a deflexão dos ailerons e o rolamento se dá para a esquerda. Vejamos isso na seguinte imagem: Figura 1.17 – Movimento de rolagem Fonte: Rodrigues, 2014, p. 20. 40 Capítulo 1 O movimento longitudinal do manche, ou seja, o movimento para frente ou para trás, aciona o profundor que controla o movimento de arfagem. Vejamos isso na seguinte imagem: Figura 1.18 – Ação do profundor no movimento de arfagem Fonte: Rodrigues, 2014, p. 20. O acionamento do profundor altera o pitch, que é a posição do nariz do avião em relação à linha do horizonte. O profundor atua com a finalidade de executar os movimentos de levantar (cabrar) ou baixar (picar) o nariz da aeronave (movimento de arfagem em relação ao eixo lateral). Quando um comando é aplicado para levantar o nariz, o bordo de fuga do profundor se deflete para cima e, devido ao aumento da força de sustentação para baixo, cria-se um momento ao redor do centro de gravidade da aeronave no sentido de levantar o nariz. Quando o comando aplicado é no sentido de baixar o nariz, o bordo de fuga do profundor se deflete para baixo e o momento gerado ao redor do centro de gravidade provoca o movimento de baixar o nariz, conforme a seguinte imagem: Figura 1.19 – Movimento de arfagem Fonte: Rodrigues, 2014, p. 21. 41 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Os pedais servem para guinar o avião. Ao acionar os pedais, o piloto faz a atuação do leme de direção, que provoca o movimento de guinada do avião, alterando sua proa para a direita ou para a esquerda, da mesma forma que com o leme de um barco. Figura 1.20 – Ação do leme no movimento de guinada Fonte: Rodrigues, 2014, p. 21. O acionamento do leme gera a guinada que é a posição do nariz do avião em relação ao seu eixo vertical. Quando um comando é aplicado para a direita, por exemplo, o leme se deflete para a direita e, devido ao acréscimo da força de sustentação na superfície vertical da empenagem, o nariz se desloca no mesmo sentido do comando aplicado, ou seja, para a direita. No caso de um comando à esquerda, o nariz da aeronave se desloca para a esquerda. Figura 1.21 – Movimento de guinada Fonte: Rodrigues, 2014, p. 21. 42 Capítulo 1 Princípios do voo: as forças atuantes nas aeronaves em voo Sobre todas as aeronaves em voo atuam, basicamente, quatro forças, sendo uma delas a força gravitacional que determina o peso e as outras provenientes do deslocamento dessa aeronave no ar (FAA, 2016): 1. tração/empuxo; 2. sustentação; 3. peso; e 4. arrasto. Vejamos como se aplicam: Figura 1.22 – As quatro forças Fonte: FAA, 2016, p. 3-3. A tração ou empuxo é a força produzida pelo conjunto motopropulsor que resultará em um movimento para frente, se nada oferecer resistência a ela. Portanto, ela se opõe ou supera a força de arrasto. Como regra geral, diz-se que ela age paralelamente ao eixo longitudinal da aeronave. O arrasto é uma força de resistência com resultante para trás, retardando ou até impedindo o movimento para frente, provocado pela força de tração, e é causada pela ruptura do fluxo de ar provocada pela fuselagem, asa, empenagem e da aeronave como um todo. O arrasto se opõe à tração e age para trás, paralelamente ao vento relativo. O peso é o resultado combinado do peso do próprio avião somado aos pesos de todos os itens e pessoas a bordo. O peso “puxa” o avião para baixo por causa da força da gravidade. Ele se opõe à sustentação e atua verticalmente para baixo, por meio do centro de gravidade (CG) do avião. A sustentação é uma força produzida pelo efeito aerodinâmico do ar durante seu deslocamento pela asa, agindo perpendicularmente ao deslocamento da aeronave que empurra a asa para cima e, nos voos nivelados, se opõe à força para baixo exercida pelo peso. 43 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) É essencial entender como funcionam essas forças e saber como controlá-las, com o uso de energia (propulsão/velocidade) e com os controles de voo, para se manter em voo. Em voo estabilizado, a soma dessas forçasopostas é sempre igual a zero. Não pode haver forças desequilibradas em voo, conforme a Terceira Lei de Newton, que afirma que para toda ação, existe uma reação de mesmo valor, mesma direção e sentido contrário. Isso é válido para qualquer condição estabilizada de voo, seja ela nivelada, subindo ou descendo. Isso não significa que as quatro forças são iguais, mas que os componentes de forças opostas são iguais e, portanto, cancelam os efeitos entre si. A explicação usual de que o peso é igual à sustentação e a tração é igual ao arrasto, embora verdadeira, pode ser enganosa. Ela só é válida para a condição de voo reto e nivelado de velocidade constante. Para todas as demais condições de voo estabilizado: • A soma de todos os componentes ascendentes das forças (não apenas a sustentação) é igual à soma de todas as componentes de forças descendentes (não apenas o peso). • A soma de todos os componentes de forças para frente (não apenas a tração) é igual à soma de todas as componentes de forças para trás (não apenas o arrasto). Este refinamento da conhecida afirmação “peso é igual à sustentação e tração é igual ao arrasto” explica outras condições como, por exemplo, em regime de voo em subida, no qual uma porção da tração está dirigida para cima e age como sustentação, enquanto uma porção do peso, nessa mesma condição de voo, é dirigida para trás, oposta à direção de voo, agindo como arrasto. Nas descidas em planeio, uma porção do vetor de peso é direcionada para frente e, portanto, atua como tração. Em outras palavras, sempre que a trajetória de voo da aeronave não for horizontal, os vetores das forças de sustentação, peso, tração e arrasto devem ser divididos em duas componentes. (FAA, 2016). 44 Capítulo 1 Figura 1.23 – Vetores de força numa subida estabilizada Fonte: FAA, 2016, p. 5-2. Vamos retomar os conceitos de tração, arrasto, peso e sustentação, com maior profundidade. Tração Para um avião se movimentar, a tração a ser exercida deve ser maior do que o arrasto. O avião continuará a se mover e ganhar velocidade até que a tração e o arrasto se tornem iguais. Se, em voo nivelado, a potência do motor for reduzida, a tração torna-se menor, e o avião desacelera. Enquanto a tração for menor do que o arrasto, o avião continuará a desacelerar até que sua velocidade atinja um valor insuficiente para sustentá-lo no ar. Da mesma forma, se a potência do motor for aumentada, a tração se torna maior do que o arrasto, aumentando a velocidade. Enquanto a tração continuar a ser maior do que o arrasto, o avião continuará a acelerar. Quando o arrasto atingir um valor igual à força de tração, a aeronave voará a uma velocidade constante. (FAA, 2016). Arrasto Arrasto é a força que resiste ao movimento de uma aeronave no ar. Existem dois tipos básicos: 1. Arrasto parasita 2. Arrasto induzido 45 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) O primeiro é chamado de parasita, porque não traz qualquer benefício ao voo, enquanto que o segundo, o arrasto induzido, é o resultado da criação de sustentação pelo aerofólio. O arrasto parasita é composto de todas as forças que trabalham para retardar o movimento de uma aeronave. Como o termo parasita implica, é todo arrasto que não está associado com a produção de sustentação. (FAA, 2016). Existem três tipos de arrasto parasita, quais sejam: • arrasto de forma; • arrasto de interferência; e • arrasto pelo atrito ou fricção. O arrasto de forma é a porção do arrasto parasita gerada pelo desenho do corpo da aeronave e seus componentes e o fluxo de ar ao seu redor. Exemplos incluem as carcaças do motor, as antenas e a forma aerodinâmica dos componentes. O melhor meio de reduzir esse tipo de arrasto é eliminar excessos ou simplificar componentes externos e projetar formas mais aerodinâmicas no desenvolvimento da aeronave. O arrasto de interferência vem da interseção de fluxos de ar que criam correntes conflitantes, turbulência ou bloqueio do fluxo de ar. Por exemplo, na raiz da asa, onde ocorre a interseção da asa e da fuselagem, há um arrasto de interferência significativo. O ar que flui ao redor da fuselagem colide com o ar que flui sobre a asa, fundindo-se em uma nova corrente de ar diferente das correntes originais. A maior resistência à interferência é observada quando duas superfícies se encontram em ângulos perpendiculares. Carenagens são usadas para reduzir essa tendência. 46 Capítulo 1 Figura 1.24 – Raiz da asa: arrasto de interferência Fonte: FAA, 2016, p. 5-6. O arrasto por atrito é a resistência aerodinâmica pelo contato do ar em movimento com a superfície de uma aeronave. Uma vez que a camada limite do ar adere à asa pelo atrito e a viscosidade provoca uma resistência adicional ao fluxo de ar, quando estas duas forças atuam em conjunto para resistir ao fluxo de ar ao redor da aeronave ou sobre uma asa, a resistência apresentada é chamada de arrasto por atrito. O arrasto induzido, segundo tipo básico de arrasto, surge da ineficiência do sistema de produção de sustentação. Como nenhum sistema mecânico pode ser 100% eficiente, há sempre uma perda, independentemente da natureza do sistema. Em voo nivelado, as propriedades aerodinâmicas de uma asa produzem a sustentação necessária, mas isso só pode ser obtido à custa de uma certa penalidade. O nome dado a esta penalidade é arrasto induzido. O arrasto induzido é inerente à produção de sustentação por um aerofólio e, consequentemente, está sempre presente onde houver sustentação. (FAA, 2016). Figura 1.25 – Vórtices Fonte: FAA, 2016, p. 5-7. 47 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Um aerofólio produz a força de sustentação fazendo uso da energia da corrente de ar. Sempre que um aerofólio estiver produzindo sustentação, a pressão na superfície inferior do mesmo será maior do que na superfície superior, de acordo com o Princípio de Bernoulli. Como resultado, o ar tende a fluir da área de alta pressão abaixo da asa para a área de baixa pressão na superfície superior. Na vizinhança das pontas das asas, há uma tendência de equalização desse diferencial de pressão, resultando num fluxo lateral para fora, a partir do lado de baixo para a superfície superior. Este fluxo lateral transmite uma velocidade de rotação para o ar nas pontas das asas, criando vórtices que aparecem atrás do perfil aerodinâmico. Quando a aeronave é vista da cauda, estes vórtices circulam no sentido anti- horário sobre a ponta direita e no sentido horário, em torno da ponta esquerda. À medida que o ar (e os vórtices) rolam na parte de trás da sua asa, pode-se ver que eles induzem um fluxo ascendente de ar no lado de fora da ponta da asa e um fluxo descendente (downwash) atrás do bordo de fuga da asa. O fluxo descendente do vórtice (downwash) aponta o vento relativo para baixo; assim, quanto maior o fluxo descendente, mais seu vento relativo será desviado para baixo. (FAA, 2016). Isso é importante, pois a sustentação é sempre perpendicular ao vento relativo. Então, se houver menor fluxo descendente, seu vetor de sustentação será mais vertical, oposto à gravidade. Com maior fluxo descendente, seu vetor de sustentação aponta mais para trás, causando arrasto induzido. Além disso, parte da energia que se transformaria em sustentação é usada para as suas asas criarem vórtices, e essa energia cria arrasto. 48 Capítulo 1 Podemos visualizar esses processos pela seguinte imagem: Figura 1.26 – Arrasto induzido versus sustentação Fonte: FAA, 2016, p. 5-8. Os fabricantes desenvolveram métodos diferentes para minimizar os efeitos dos vórtices. Winglets podem ser adicionadas à ponta de um aerofólio para reduzir este fluxo, atuando como uma barreira para impedir que o vórtice se forme. Eles podem ser instalados na parte superior, inferior ou em ambas do aerofólio. Outro método para prevenir esse fluxo indesejado é afinar a ponta do aerofólio, reduzindo o diferencial de pressão e suavizando o fluxode ar ao redor da ponta da asa. Peso A gravidade é a força que tende a atrair todos os corpos para o centro da terra. O peso é o resultado da ação da gravidade exercida sobre um corpo, cujo valor é dado pelo produto da massa do corpo vezes a magnitude da aceleração da gravidade. (FAA, 2016). É interessante notar que o peso total da aeronave não é um valor fixo que se mantém constante durante o voo. O peso total diminui no mesmo valor do peso do combustível consumido. Como há essa variação de peso durante o voo e a correspondente mudança de posição do peso desse combustível, assim como de outros objetos e pessoas dentro da aeronave, o centro de gravidade (CG) da aeronave também tem seu ponto alterado. 49 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) O centro de gravidade (CG) pode ser considerado como um ponto em que todo o peso da aeronave é concentrado. Se a aeronave fosse suportada em seu exato CG, equilibraria em qualquer atitude. Note-se que o CG é extremamente importante numa aeronave, pois a sua posição tem grande influência sobre a estabilidade. A localização permissível do CG é determinada pelo projeto de cada aeronave em particular. Os projetistas determinam até que ponto o centro de pressão (CP) irá viajar, ou seja, irá mudar de posição em relação ao CG. É importante entender que o peso de uma aeronave está concentrado no centro de gravidade (CG) e as forças aerodinâmicas de sustentação ocorrem no centro de pressão (CP). Quando o CG está à frente do CP, há uma tendência natural dos aviões de baixar o nariz. Se o CP estiver à frente do CG, será criado uma tendência de elevação do nariz da aeronave. Portanto, os projetistas necessitam estabelecer os limites traseiro e dianteiro dessa variação para a velocidade correspondente, a fim de manter o equilíbrio do voo. O peso tem uma relação direta com a sustentação e esta relação é importante na compreensão da aerodinâmica do voo. Em voo nivelado estabilizado, quando a força de sustentação é igual à força do peso, a aeronave está em um estado de equilíbrio e não acelera para cima nem para baixo. Se a sustentação for menor do que o peso, a velocidade vertical diminuirá e a aeronave descerá. Quando a sustentação é maior do que o peso, a velocidade vertical aumenta e a aeronave subirá. Sustentação Quando uma asa se desloca através do ar, o escoamento do fluxo de ar se divide em uma parcela direcionada para a parte superior da asa e em outra, para a parte inferior. Figura 1.27 – Escoamento do ar sobre uma asa Fonte: Rodrigues, 2014, p. 28. 50 Capítulo 1 Se existir um ângulo positivo entre a asa e a direção do escoamento, o ar é forçado a mudar de direção. Assim, a parcela de escoamento na parte inferior da asa é forçada para baixo e em reação a essa mudança de direção do escoamento do ar, a asa é forçada para cima, ou seja, a asa aplica uma força para baixo no ar e o ar aplica na asa uma força de mesma magnitude no sentido contrário, de empurrar a asa para cima. Essa criação da força de sustentação pode ser explicada pela Terceira Lei de Newton, ou seja, para qualquer força de ação aplicada existe uma reação de mesma intensidade, direção e sentido oposto. O ângulo pelo qual o escoamento é defletido por uma superfície geradora de sustentação é chamado de ângulo de ataque induzido (downwash angle). A criação da força de sustentação também pode ser explicada através da circulação do escoamento do fluxo de ar ao redor do aerofólio. Para se entender essa definição, deve-se compreender o princípio de Bernoulli. À medida que a asa se move através da atmosfera, o fluxo de ar que passa sobre a superfície superior curvada da asa apresenta velocidade maior 16, logo, a pressão estática na superfície superior é menor do que na superfície inferior, o que acaba por criar um diferencial de pressão entre essas partes, gerando uma força de sustentação de baixo para cima. Figura 1.28 – Força de sustentação Fonte: Braz Júnior, 2006. Se toda a sustentação exigida fosse obtida meramente da deflexão do ar pela superfície inferior da asa, uma aeronave só precisaria de uma asa plana, como uma pipa. No entanto, o equilíbrio da sustentação necessária para suportar a aeronave provém do fluxo de ar acima da asa. Não é fácil atribuir valores específicos à percentagem de sustentação gerada pela superfície superior de uma asa versus a que é gerada pela superfície inferior. Estes não são valores constantes. Eles variam, não só de acordo com as condições de voo, mas também conforme os aerofólios e projetos de asa. 16 As partículas percorrem uma distância maior no mesmo intervalo de tempo quando comparadas à superfície inferior da asa. 51 Conhecimento Geral das Aeronaves (Asas Fixas) Aerofólios Observando um perfil de aerofólio típico, como a seção transversal de uma asa, pode-se ver várias características óbvias do projeto. Figura 1.29 – Perfil de aerofólio típico Fonte: FAA, 2016, p. 4-7. Nota-se que há uma diferença nas curvaturas das superfícies superior e inferior do aerofólio. A curvatura da superfície superior é mais pronunciada do que a da superfície inferior, que é geralmente um tanto plana. As duas extremidades do aerofólio também diferem em aparência. A extremidade arredondada, que está virada para frente em voo é chamada de bordo de ataque. A outra extremidade, o bordo de fuga, é estreita e afilada. Uma linha de referência, usada para dividir o aerofólio é a linha de corda, uma linha reta desenhada entre as extremidades dos bordos de ataque e de fuga. A distância entre os pontos das superfícies superior e inferior da asa para a linha de corda denotam a magnitude da curvatura superior e inferior em qualquer ponto. Outra linha de referência desenhada entre as extremidades é a corda média aerodinâmica e representa a curvatura média do aerofólio. A distância entre os pontos das superfícies superior e inferior da asa para a linha média aerodinâmica são equidistantes. O coeficiente de sustentação (CL) é a relação entre a pressão de sustentação e a pressão dinâmica, sendo função do formato do aerofólio da asa e do ângulo de ataque. Cada ângulo de ataque produz um coeficiente particular de sustentação, uma vez que o ângulo de ataque é o fator controlador da distribuição de pressão em um aerofólio. De uma forma simplificada, é a capacidade que tem um determinado perfil de gerar sustentação. O centro de pressão (CP) de um aerofólio é o ponto onde age a resultante das forças aerodinâmicas e o momento de arfagem é nulo. 52 Capítulo 1 Em um aerofólio de perfil assimétrico, o centro de pressão muda de posição conforme variação do ângulo de ataque. Quando o ângulo de ataque é aumentado, o CP move-se para frente; e quando é diminuído, o CP move-se para trás. Como a posição do centro de gravidade é fixa em um determinado ponto, fica evidente que um aumento do ângulo de ataque leva o centro de pressão para uma posição à frente do centro de gravidade, fazendo com que um momento desestabilizante seja gerado ao redor do centro de gravidade, afastando a aeronave de sua posição de equilíbrio. Do mesmo modo, uma redução do ângulo de ataque faz com que o centro de pressão se desloque para trás do centro de gravidade e, novamente, um momento desestabilizante é gerado ao redor do centro de gravidade afastando a aeronave de sua posição de equilíbrio. Figura 1.30 – Passeio do centro de pressão (CP) Fonte: Rodrigues, 2014, p. 40. Nota-se, então, que uma asa, por si só, é uma superfície instável e que não proporciona uma condição balanceada de voo. Portanto, como forma de garantir a estabilidade longitudinal de uma aeronave, o profundor é um elemento indispensável, pois é justamente essa superfície sustentadora que produzirá um momento efetivo ao redor do centro de gravidade, de forma a restaurar sua condição de equilíbrio, após qualquer alteração ocorrida na atitude de voo. O balanceamento de uma aeronave em voo depende, consequentemente, da posição relativa
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