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2017 Metodologia de ensino de atividades aquáticas Prof.ª Giandra Anceski Bataglion Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof.ª Giandra Anceski Bataglion Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 613.707 B328m Bataglion, Giandra Anceski Metodologia de ensino de atividades aquáticas / Giandra Anceski Bataglion. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 226 p. : il ISBN 978-85-515-0126-9 1. Educação Física – Estudo e Ensino. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III apresentação Prezado acadêmico! Este livro de estudos foi desenvolvido pela professora Giandra Anceski Bataglion, que possui graduação no curso de Licenciatura em Educação Física e mestrado em Educação Física, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Didaticamente este livro é organizado em três unidades, que atendem à ementa da disciplina. A ementa preconiza que sejam abordados conteúdos teórico-práticos da natação, apresentando procedimentos para o ensino, o planejamento, a organização e a execução de programas para a familiarização ao meio líquido, o aperfeiçoamento, o treinamento e a melhoria do desempenho. Ao término dos estudos, espera-se que o acadêmico tenha desenvolvido conhecimentos acerca do processo de ensino-aprendizagem da natação e compreenda a mecânica dos diferentes tipos de nado, bem como as regras da natação de competição, estando aptos a utilizar estes conhecimentos na atuação profissional. Para tanto, na Unidade 1, você aprenderá aspectos históricos e fundamentos básicos da natação como a propriedade da água, respiração, flutuação e mergulhos. Além disso, a unidade abordará a familiarização à natação, apresentando elementos da adaptação ao meio líquido e das atividades aquáticas recreativas. Na Unidade 2, o enfoque será na aprendizagem dos nados crawl e costas, contemplando os princípios da pernada, da braçada, da respiração, da coordenação e das saídas e viradas do nado costas, além de aspectos históricos de ambos os nados. Por fim, a Unidade 3 trata do histórico e de princípios técnicos dos nados peito e borboleta. Ademais, a unidade expõe as regras competitivas da natação. Bons estudos! Prof.ª Giandra IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 - METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS ...................1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À NATAÇÃO .....................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA NATAÇÃO .............................................................5 2.1 A NATAÇÃO NO BRASIL ...........................................................................................................6 2.1.1 O Brasil nas Olimpíadas ......................................................................................................8 3 BENEFÍCIOS DA NATAÇÃO ..........................................................................................................12 4 ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO ...............................................................................................17 4.1 CARACTERÍSTICAS DO CONTATO COM O MEIO LÍQUIDO ............................................18 4.2 ASPECTOS FÍSICOS E FISIOLÓGICOS .....................................................................................18 4.3 ASPECTOS SOCIAIS E PSICOLÓGICOS ...................................................................................19 4.4 ASPECTOS TÉCNICOS ................................................................................................................19 4.5 ASPECTOS PEDAGÓGICOS .......................................................................................................20 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................23 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................25 TÓPICO 2 - FUNDAMENTOS BÁSICOS DA NATAÇÃO: PROPRIEDADES DA ÁGUA, RESPIRAÇÃO, FLUTUAÇÃO E MERGULHO .........................................................29 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................29 2 PROPRIEDADES DA ÁGUA ...........................................................................................................29 2.1 HIDRODINÂMICA .......................................................................................................................29 2.1.1 Viscosidade ............................................................................................................................30 2.1.2 Propulsão ...............................................................................................................................30 2.1.3 Temperatura ..........................................................................................................................31 2.2 HIDROSTÁTICA ..........................................................................................................................31 2.2.1 Densidade relativa ...............................................................................................................32 2.2.2 Pressão hidrostática ..............................................................................................................33 3 FLUTUAÇÃO .......................................................................................................................................33 3.1 CENTRO DE GRAVIDADE E A FLUTUAÇÃO ........................................................................34 3.2 O EQUILÍBRIO NA FLUTUAÇÃO .............................................................................................34 3.3 ASPECTOS PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DA FLUTUAÇÃO .....................................35 4 RESPIRAÇÃO......................................................................................................................................36 5 MERGULHOS .....................................................................................................................................39RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................43 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................45 TÓPICO 3 - NATAÇÃO RECREATIVA .............................................................................................49 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................49 2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E DO COMPONENTE LÚDICO PARA A NATAÇÃO RECREATIVA ..............................................................................51 3 ATIVIDADES LÚDICAS/RECREATIVAS EM AMBIENTE AQUÁTICO ..............................54 4 NATAÇÃO RECREATIVA A PARTIR DO MÉTODO HALLIWICK .......................................64 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................66 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................67 suMário VIII UNIDADE 2 - METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS ...................71 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO AOS NADOS CRAWL E COSTAS ................................................73 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................73 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO NADO CRAWL .....................................................75 3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO NADO COSTAS ...................................................77 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................78 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................79 TÓPICO 2 - NADO CRAWL ................................................................................................................83 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................83 2 POSICIONAMENTO DO CORPO .................................................................................................84 2.1 O ALINHAMENTO HORIZONTAL .........................................................................................84 2.2 ALINHAMENTO LATERAL .......................................................................................................86 2 PERNADA ............................................................................................................................................87 2.1 FASE DESCENDENTE ..................................................................................................................89 2.2 FASE ASCENDENTE ....................................................................................................................89 3 BRAÇADA ...........................................................................................................................................89 3.1 FASE AÉREA ..................................................................................................................................90 3.1.1 Saída da mão .........................................................................................................................90 3.1.2 Recuperação ...........................................................................................................................90 3.1.3 Entrada da mão na água ......................................................................................................91 3.2 FASE AQUÁTICA ..........................................................................................................................92 3.2.1 Extensão .................................................................................................................................92 3.2.1.1 Posição inicial ............................................................................................................92 3.2.1.2 Posição final ...............................................................................................................92 3.2.2 Agarre .....................................................................................................................................92 3.2.2.1 Postura inicial ............................................................................................................92 3.2.2.2 Postura final ...............................................................................................................93 3.2.3 TRAÇÃO ................................................................................................................................93 3.2.3.1 Posição Inicial ............................................................................................................93 3.2.3.2 Posição final ...............................................................................................................94 3.2.4 Empurre .................................................................................................................................94 3.2.4.1 Fase inicial ..................................................................................................................95 3.2.4.2 Fase final .....................................................................................................................95 4 RESPIRAÇÃO......................................................................................................................................95 4.1 INSPIRAÇÃO .................................................................................................................................96 4.2 EXPIRAÇÃO ...................................................................................................................................96 5 COORDENAÇÃO ...............................................................................................................................97 5.1 COORDENAÇÃO ENTRE OS BRAÇOS ....................................................................................97 5.1.1 Coordenação de alcance ou distância por braçada ..........................................................97 5.1.2 Coordenação de superposição ............................................................................................98 5.2 COORDENAÇÃO ENTRE BRAÇOS E RESPIRAÇÃO ............................................................98 5.3 COORDENAÇÃO ENTRE OS BRAÇOS E PERNAS ...............................................................99 5.4 COORDENAÇÃO ENTRE OS BRAÇOS E O TRONCO..........................................................99 6 SAÍDAS E VIRADAS .........................................................................................................................100 6.1 SAÍDA DE AGARRE ....................................................................................................................100 6.2 SAÍDA DE TRACK OU DE ATLETISMO ...................................................................................102 6.3 SAÍDA DE COMPETIÇÃO ...........................................................................................................104 6.4 VIRADA OLÍMPICA DO CRAWL ...............................................................................................108 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................113 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115 IX TÓPICO 3 - NADO COSTAS ..............................................................................................................1191 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 POSICIONAMENTO DO CORPO .................................................................................................119 3 PERNADA ............................................................................................................................................120 4 BRAÇADA ...........................................................................................................................................120 4.1 ENTRADA ......................................................................................................................................120 4.2 APOIO OU PRIMEIRA VARREDURA PARA BAIXO .............................................................121 4.3 TRAÇÃO OU PRIMEIRA VARREDURA PARA CIMA...........................................................122 4.4 FINALIZAÇÃO OU SEGUNDA VARREDURA PARA BAIXO .............................................124 4.5 SEGUNDA VARREDURA PARA CIMA ....................................................................................125 4.6 RECUPERAÇÃO ............................................................................................................................127 5 RESPIRAÇÃO......................................................................................................................................127 6 COORDENAÇÃO ...............................................................................................................................127 6.1 A COORDENAÇÃO NOS MOVIMENTOS DE BRAÇOS PERNAS NO NADO COSTAS .....................................................................................................128 6.2 A COORDENAÇÃO NOS MOVIMENTOS DOS BRAÇOS NO NADO COSTAS ..............128 6.3 A COORDENAÇÃO NOS MOVIMENTOS DAS PERNAS NO NADO COSTAS ...............129 7 SAÍDAS E VIRADAS .........................................................................................................................129 7.1 A SAÍDA DO NADO COSTAS ....................................................................................................129 7.2 VIRADA DO NADO COSTAS .....................................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................137 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138 UNIDADE 3 - METODOLOGIA DO ENSINO DA NATAÇÃO ..................................................143 TÓPICO 1 - NADO PEITO ..................................................................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145 2 PERNADA DO NADO PEITO .........................................................................................................146 2.1 FASE DE VARREDURA PARA FORA ........................................................................................146 2.2 FASE DE VARREDURA PARA DENTRO ..................................................................................147 2.3 FASE DE SUSTENTAÇÃO E DESLIZAMENTO.......................................................................148 2.4 FASE DE RECUPERAÇÃO ..........................................................................................................148 3 BRAÇADA DO NADO PEITO ........................................................................................................149 3.1 FASE DE APOIO DA BRAÇADA OU VARREDURA PARA FORA ......................................149 3.2 TRAÇÃO OU VARREDURA PARA DENTRO ........................................................................151 3.3 RECUPERAÇÃO ...........................................................................................................................151 4 RESPIRAÇÃO NO NADO PEITO ..................................................................................................151 5 COORDENAÇÃO NO NADO PEITO ...........................................................................................152 5.1 COORDENAÇÃO BRAÇOS/PERNAS ......................................................................................152 6 ESTILOS DE NADO PEITO .............................................................................................................152 6.1 ESTILO PLANO OU CONVENCIONAL ...................................................................................153 6.2 ESTILO ONDULANTE, GOLFINHO OU EUROPEU .............................................................153 7 SAÍDA DO NADO PEITO ................................................................................................................153 8 VIRADA DO NADO PEITO ............................................................................................................155 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................157 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................158 TÓPICO 2 - NADO BORBOLETA ......................................................................................................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163 2 POSICIONAMENTO DO CORPO NO NADO BORBOLETA .................................................163 3 PERNADA NO NADO BORBOLETA ............................................................................................165 4 BRAÇADA NO NADO BORBOLETA ............................................................................................166 X 4.1 ENTRADA ......................................................................................................................................166 4.2 FASE APOIO OU VARREDURA PARA FORA .........................................................................166 4.3 FASE DE TRAÇÃO OU VARREDURA PARA DENTRO ........................................................167 4.4 FASE DE FINALIZAÇÃO OU VARREDURA PARA CIMA ...................................................168 4.5 FASE DE RECUPERAÇÃO ..........................................................................................................169 5 RESPIRAÇÃO NO NADO BORBOLETA ......................................................................................170 6 COORDENAÇÃO NO NADO BORBOLETA ...............................................................................170 6.1 COORDENAÇÃO BRAÇOS/PERNAS NO NADO BORBOLETA .........................................170 7 SAÍDA NO NADO BORBOLETA ...................................................................................................171 7.1 APROXIMAÇÃO ...........................................................................................................................172 7.2 TOQUE/ROTAÇÃO/IMPULSO E DESLIZAMENTO ..............................................................172 7.3 MOVIMENTOS INICIAIS DO NADO ......................................................................................172 8 VIRADA NO NADO BORBOLETA................................................................................................172 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................175 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................176 TÓPICO 3 - REGRAS COMPETITIVAS ...........................................................................................1811 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 AS REGRAS PARA COMPETIÇÕES DE NATAÇÃO .................................................................181 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................218 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................223 1 UNIDADE 1 METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo dessa unidade você será capaz de: • conhecer a história da natação; • conhecer a história da natação no Brasil; • conhecer a história do Brasil nas Olimpíadas; • diferenciar os termos natação e nadar; • identificar os benefícios da natação para os seres humanos; • compreender aspectos da adaptação ao meio líquido; • entender as propriedades da água; • aprender os fundamentos da flutuação, da respiração e dos mergulhos; • estudar a natação recreativa; • compreender a importância do brincar e do lúdico para a natação recreativa; • conhecer atividades lúdicas/recreativas para o ambiente aquático; • estudar a natação recreativa a partir do método Halliwick. Essa unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À NATAÇÃO TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS BÁSICOS DA NATAÇÃO: PROPRIEDADES DA ÁGUA, RESPIRAÇÃO, FLUTUAÇÃO E MERGULHOS TÓPICO 3 – NATAÇÃO RECREATIVA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 1 INTRODUÇÃO A prática de atividades físicas regulares tem sido enfatizada como um componente indispensável para a manutenção de um estilo de vida ativo e saudável, pois resultam em benefícios biopsicossociais aos que as praticam (NAHAS, 2006). Neste sentido, a natação é considerada por muitos autores como um dos exercícios mais completos, quer pelos seus efeitos terapêuticos, quer pelos benefícios utilitários ou pela ludicidade que o meio aquático proporciona. Todos são unânimes em afirmar que a água é um excelente meio auxiliar para o desenvolvimento global do ser humano. Através da natação, o indivíduo poderá melhorar o desenvolvimento total do corpo, incluindo a coordenação motora, a força muscular, a resistência dos sistemas cardiovascular e respiratório, bem como o seu nível geral de atitude. Neste sentido, a natação, ou as atividades aquáticas, são objeto de estudo em muitas vertentes, por exemplo, a educativa, a terapêutica, a desportiva e a recreativa. Devido a este fato, existe uma diversidade muito ampla de definições e metodologias descritas sobre o assunto em questão. Reis (1983 apud DAMASCENO, 1992, p. 22) define a natação como "a técnica de deslocar-se na água, por intermédio da coordenação metódica de certos movimentos", e nadar "como se deslocar na água a seu nível ou através da força e adaptações naturais do próprio nadador". Para Andries Junior (2008, p. 30), “entendemos que o nadar se refere a formas variadas e diversificadas de manifestação do sujeito na água; essas manifestações têm aspectos culturais e mudam de um lugar para outro, não têm intenção de resultados esportivos. Já a natação carrega um caráter esportivo, busca através de movimentos técnicos e preestabelecidos, resultados e vitória”. Para Araújo Júnior (1993), nadar e natação também significam ação, exercício, arte, autopropulsão e autossustentação, mas deve-se acrescentar a isso o respeito pela individualidade, espontaneidade, criatividade e liberdade, fazendo com que a natação solicite exercícios tanto no aspecto físico quanto no intelectual, o que torna o processo de aprendizagem uma única unidade. Alguns autores preferem adotar a definição da natação mais voltada para o esporte de alto rendimento, o qual está sempre atrás de um melhor desempenho e tempos cada vez menores. Assim, para Damasceno (1992, p. 19), “a natação é um desporto estruturado e regulamentado que busca obter registros de tempo cada vez mais inferiores através de um treinamento metódico, individualizado e UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 4 específico, supondo-se para o mesmo fim, pelo menos, o domínio apropriado das técnicas, conhecimento de ritmo, além de urna boa preparação física”. Bonacelli (2004, p. 82) diz que "a natação competitiva busca, preferivelmente, o rendimento na luta contra o cronômetro, no excesso de treinamento, visando uma adaptação superior na padronização dos movimentos". Em relação à metodologia de ensino da natação, a diversidade entre os autores continua. De acordo com Damasceno (1992), o primeiro manual de aprendizagem da natação foi escrito por Nikolaus Wynmann em 1538. Depois disso, surgiram muitos outros trabalhos, produzindo uma grande diversidade sobre o assunto. Hoje em dia, muitos autores defendem a ideia de que o processo de aprendizagem da natação deve ser iniciado com a adaptação dos alunos ao meio líquido, para depois serem ensinados os nados propriamente ditos. Nesta direção, Andries Junior (2008) entende que o homem, como os animais, tem as suas habilidades naturais dentro das atividades físicas, sendo-lhe, de um modo geral, relativamente fácil correr, saltar, trepar e arremessar. Para o nadar essa facilidade não acontece, pois isso é uma habilidade adquirida, sendo preciso que se passe por um processo de adaptação e aprendizagem. Conforme Damasceno (1992), as adaptações na terra são bem diferentes das adaptações na água e, por isso, o homem deve passar por um novo processo de adaptação das estruturas de base para aprender a nadar. De acordo com Andries Júnior (2008), as fases que se deve dominar antes de iniciar a aprendizagem dos nados são: os primeiros contatos com a água, a respiração, a flutuação, a propulsão e a entrada na água. Após estas fases é que serão introduzidos os nados propriamente ditos. Todavia, “nadar” não é apenas o nadar indo e vindo, numa piscina artificial e regulamentada, tal qual é ensinado e treinado nas escolas e nos clubes em geral. A natação é muito mais que nadar rapidamente em linha reta, é a múltipla, pura e simples relação com a água e com o próprio corpo. De acordo com Burkhardt e Escobar (1985), deve-se compreender a natação como contribuição no processo de educação integral dos indivíduos. Além disso, os autores salientam que o movimento humano sistematizado em exercícios terapêuticos, definidos como movimento do corpo ou das partes do corpo para aliviar sintomas ou melhorar as funções, é prática secular em diversas civilizações para corrigir problemas variados, como postura, respiração e equilíbrio mental. Para Catteau e Garoff, (1990, p. 61), “saber nadar é ter resolvido, quantitativamente, em qualquer eventualidade, o triplo problema que se coloca permanente: melhor equilíbrio, melhor respiração e melhor propulsão, no elemento líquido". E continua: "Praticar a natação é ter gosto e a possibilidade, ou ainda a obrigação de expressar-se no elemento líquido, dentro de uma certa periodicidade, tomando consciência das próprias limitações e capacidade de progresso, propondo-se um ou mais objetivos e escolhendo a maneira de executá-los". TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 5 Todos os exercícios físicos podem ser considerados uma necessidade aos seres humanos, porém a natação é considerada uma abrangente atividade física e formativa, pois possibilita a superação do medo e da insegurança, funcionando como agente modificador de comportamento. Isto porque a natação trabalha, sobremaneira,com as emoções. Uma das emoções evidentes é o medo. A pedagogia tradicional da natação considera que um estado emocional particular, o medo, acompanha necessariamente o primeiro ou os primeiros contatos do aprendiz de natação com a água. Se existe uma área na qual a ênfase tenha sido sempre colocada às emoções, é certamente a da natação (MAZARINI, 1992). Por ser uma atividade altamente recreativa, quer seja pelo seu aspecto lúdico que tanto bem-estar proporciona aos seus participantes, permitindo obter a inteira cooperação de alunos, habitualmente, com muitos medos e tensão, a natação tem sido um elemento fundamental no desenvolvimento social dos indivíduos, especialmente das crianças e jovens. Todavia, a natação não é só uma excelente forma de exercícios e recreação, mas, também, um meio de sobrevivência. É essencial, quando se ensina a natação, ganhar a confiança do aluno e permitir- lhe muitas oportunidades para que ele esteja cômodo e relaxado na água. Com as instruções adequadas e com a prática, o indivíduo pode aprender a utilizar a natação com prazer através de sua vida. Há oportunidades ilimitadas para que os indivíduos participem da natação por meio de competições ou somente por entretenimento e recreação. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA NATAÇÃO A natação é um dos esportes mais antigos praticados pelo homem. Historicamente, pode-se inferir que a natação era praticada desde a Pré-História e por absoluta necessidade utilitária. O homem buscava seu alimento nos rios e nos mares, em momentos de perigo, buscava refugiar-se transpondo cursos d'água ou talvez permanecendo nele, e é bem possível também que tenha se utilizado da influência saudável e higiênica que ela traz, e a usasse para se banhar (PÁVEL; FERNANDES FILHO, 2004). Pressupõe-se, a partir desta informação, que os homens primitivos estavam sempre próximos aos rios e que, em algum momento, pescando, caçando ou com finalidades locomotivas, eles entravam na água e se deslocavam dentro dela. Pode-se falar, assim, da existência de um nado primitivo, como mostra um desenho encontrado em uma gruta do deserto da Líbia, de aproximadamente 9000 anos, representando a arte de nadar (ANDRIES JÚNIOR, 2008). Povos como os sumérios, os babilônicos e os assírios, que tinham como base econômica a agricultura, davam preferência para a vida próxima aos rios, onde tinham terra mais fértil. Sendo assim, pode-se dizer que estes povos deram continuidade ao processo de nadar, como comprova uma pintura mural etrusca do século IV a.C., que mostra uma pessoa mergulhando de uma encosta para a água. Ainda há dados na arqueologia que demonstram que na Índia, há 5000 anos UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 6 a.C., já existiam piscinas aquecidas (ANDRIES JÚNIOR, 2008). De acordo com o autor, por volta de 3200 a.C., se desenvolveu a civilização egípcia às margens do rio Nilo, que era usado como meio de transporte. Há registros deste povo em hieróglifos, mostrando uma pessoa nadando em movimentos alternados de braços e pernas, sugerindo o nado crawl. No período clássico surge a civilização grega, considerada como sendo o berço da civilização ocidental, entre os mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo, possuindo um litoral navegável e excelentes portos naturais. Com o grande número de guerras e possuindo tantos mares e rios como obstáculos naturais para invadir novos territórios, a natação era utilizada na Grécia e em Roma como parte do treinamento dos soldados do império (ANDRIES JÚNIOR, 2008). O autor ainda completa: "Platão acreditava que quem não sabia nadar não era educado. Em Roma, a natação era vista como símbolo de distinção social; era ensinada às crianças". Durante muitos anos, na Idade Média, a natação deixou de ser praticada, pois se acreditava que o que realmente importavam eram as coisas do espírito. A valorização do corpo somente retoma suas forças durante o Renascimento, tendo como fator de disseminação dessa ideia o aspecto educativo do movimento (ANDRIES JÚNIOR, 2008). Enquanto exercícios terapêuticos na água, as atividades em meio líquido encontram-se mencionadas em obras tão antigas como a de Aureliano, da Roma Antiga no final do século V, na qual o autor recomenda a natação no mar ou em nascentes quentes, e a do médico Jacques Delpcch (1777-1838), que escreveu sobre a correlação postural com aparelhos e enfatizou o valor da natação para a coluna vertebral, a saber: quando o corpo flutua na posição horizontal, o peso deixa de estar colocado sobre a coluna vertebral. A densidade e a temperatura da água são mais convenientes que as do ar. Com ação, semelhante a remo, dos braços, há uma verdadeira, embora ligeira, tração sobre a coluna vertebral ao longo do seu eixo (BURKHARDT; ESCOBAR, 1985). A natação se organizou na Inglaterra em 1837, quando foi realizada a primeira competição pela Sociedade Britânica de Natação, tendo como único estilo: o peito. Nas Olimpíadas, a natação teve papel de destaque junto ao atletismo e, em 1896, em Atenas, foram disputadas provas de nado crawl e peito. Em 1904, o nado costas foi incluído, e o borboleta surgiu em 1940, como uma evolução do nado peito (ANDRIES JUNIOR, 2008). 2.1 A NATAÇÃO NO BRASIL De acordo com Krug e Magri (2012), há indícios de que, há muitos anos, os índios que habitavam determinadas regiões do Brasil utilizavam a natação, apresentando-se como ótimos nadadores e canoeiros. Em 1557, quando Mem TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 7 de Sá desembarcou no Brasil, foi atacado por índios da retaguarda e, ao tentar contra-atacá-los, os mesmos fugiram para o mar valendo-se do nado. Ocorreu, então, um combate sobre as águas. Os índios de Felipe Camarão caçavam os seus adversários a nado, o que favorecia as suas lutas no meio aquático. Podemos perceber que os nossos primeiros habitantes se valiam dos recursos naturais existentes para sobreviver, utilizando-se daquilo que lhes era disponível, ou seja, da caça e pesca para alimentação; das cavernas e vegetação para abrigo; dos rios para não só matar a sede como, também, para a natação. Pela utilidade que esta prática representava, passou a fazer parte da própria vida, sendo incorporada aos costumes tribais da época (ARAÚJO JÚNIOR, 1993). Partindo-se dessa visão histórica da natação, pode-se perceber que a filosofia que nos orienta tem muito a ver com uma prática que, antes de ser utilitária, é saudável e possibilita, certamente, a uma grande massa de comunidade, momentos de recreação e lazer com a utilização do meio líquido (ARAÚJO JÚNIOR, 1993). Há uma lenda que envolve a história da natação no Brasil, se trata da lenda de Moema, a saber: “Diogo Álvares Correa naufragou ao norte da Baía de Todos- os-Santos, e foi capturado pelos indígenas. Sobreviveu porque estes o acharam muito magro. Enquanto os índios o deixavam engordar, chegou certo dia um barril à praia. Diogo encontrou nele uma espingarda e matou um pássaro. Com este feito, os índios chamaram-no de Caramuru (Homem do Fogo). Tratado com distinção, casou-se com Paraguassu, filha do cacique. Entretanto, uma das índias da aldeia, Moema, havia se apaixonado por ele. Mais tarde, Caramuru foi para a Europa com a esposa, mas, muitas índias, que por ele haviam se apaixonado, seguiram a embarcação a nado. Moema foi uma delas e o seguiu até morrer” (KRUG; MAGRI, 2012, p. 65). Em termos oficiais, há registros da inserção da natação no Brasil a partir de 31 de julho de 1897. Nesta data, os clubes Botafogo, Gragoatá, Icaraí e Flamengo fundaram a União de Regatas Fluminense, no Rio de Janeiro. Posteriormente, sua nomenclatura foi alterada para Conselho Superior de Regatas e Federação Brasileira das Sociedades do Remo. No ano seguinte ao da sua fundação, em 1898, o Clube de Natação e Regatas promoveu o primeiro campeonato brasileiro, na distância aproximadade 1.500 metros, entre a fortaleza de Villegaignon e a praia de Santa Luzia. Esta prova foi repetida até 1912. Em 1913, na Enseada de Botafogo, a Federação Brasileira de Sociedade de Remo promoveu a primeira competição; Abraão Saliture foi o campeão nos 1.500 metros de nado livre. Também foram realizadas as provas de 100 metros para estreantes, 600 metros para sêniores e 200 metros para juniores (KRUG; MAGRI, 2012). Em 1915 foi inserida a prova de 600 metros no Campeonato Carioca de Natação e a partir de 1916, a Confederação Brasileira de Desportos começou a patrocinar o Campeonato Brasileiro de Natação. Em 1920 foi realizada a primeira competição com seis provas olímpicas, na qual os cariocas foram os campeões. Em 1919, foi inaugurada a primeira piscina de competições no Brasil, sendo esta a do Fluminense, no Rio de Janeiro. Em 1923, surgiram, em São Paulo, a UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 8 Associação Atlética de São Paulo e o Clube Atlético Paulistano. Antes disso, os cariocas nadavam na enseada de Botafogo e os paulistas no rio Tietê (KRUG; MAGRI, 2012). Desde 1908, quando Abraão Saliture venceu as provas de 100 e de 500 metros em Montevidéu, o Brasil ocupou lugar de destaque na natação da América do Sul, mantendo esta posição por muitos anos. Em 1919, os brasileiros venceram quatro provas no primeiro Campeonato Sul-americano, realizado no Rio de Janeiro. Em 1929, esta competição foi oficialmente regularizada, ocorrendo em 1941 em Viña del Mar, em 1950, em Montevidéu, e em 1952 em Lima, nas quais o Brasil empatou seus resultados com a Argentina. Em 1954, a competição aconteceu em São Paulo e em 1960 em Cáli, em ambas, o Brasil foi campeão na categoria masculino. Em 1935, 1941 e 1946, a competição foi realizada no Rio de Janeiro, em 1947 em Buenos Aires, em 1954 em São Paulo e em 1958 e 1960 em Cáli. Nestas sete disputas, o Brasil foi campeão na categoria feminino. Faz-se importante ressaltar que Maria Lenk (1915-2007) foi a primeira mulher sul-americana a participar de uma olimpíada, sendo grande incentivadora da modalidade de natação e precursora do nado borboleta e do nado sincronizado no Brasil (KRUG; MAGRI, 2012). Hoje, a natação é um dos esportes mais praticados no Brasil, tendo, aproximadamente, 65 mil atletas federados. No país, a modalidade era controlada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), porém, em 1977 a confederação foi desfeita. No dia 21 de outubro deste mesmo ano foi criada a Confederação Brasileira de Natação (CBN), que ficou até 1988, ano em que foi fundada a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) (MASSAUD, 2004). UNI A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) responde pelos quatro esportes olímpicos: a natação, o polo aquático, o nado sincronizado e os saltos ornamentais. Além disso, responde pela natação em águas abertas, as chamadas “travessias”. A CBDA é uma entidade que abrange 27 federações, 1.171 clubes filiados e 640 eventos anuais (MASSAUD, 2004). 2.1.1 O Brasil nas Olimpíadas O Brasil começou a participar das provas de natação, nas Olimpíadas, a partir de 1920, na Antuérpia. Nestas Olimpíadas, a delegação brasileira foi composta por 21 atletas, adquirindo destaque na prova de tiro. Em 1924, as Olimpíadas foram realizadas em Paris e o Brasil possuía uma delegação composta por 11 pessoas, porém, estas competiam nas provas apenas nos momentos de TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 9 folga da Exposição Universal. Em 1928, nas Olimpíadas de Amsterdam, o Brasil não participou em decorrência da crise financeira do país (KRUG; MAGRI, 2012). Em 1932, nas Olimpíadas de Los Angeles, o Brasil ficou em sétimo lugar, no revezamento 4x100 metros, com a equipe composta pelos atletas Isaac Novaes, Manuel Vilar, Benevenuto Nunes e Manuel Silva. Nesta edição das Olimpíadas, Maria Lenk, brasileira, foi a primeira mulher sul-americana a participar de uma olimpíada. Participaram da delegação 58 nadadores, dos quais, 45 viajaram até Los Angeles em um navio mercante e 13 viajaram por conta própria. Na composição da equipe estavam atletas como Havelange, Foisselle, Lenk, Novaes e De Paula (KRUG; MAGRI, 2012). Em 1936, em Berlim, Piedade Coutinho ficou em quinto lugar na prova dos 400 metros livre; Willy Otto Jordan conquistou o sexto lugar nos 200 metros nado peito e a equipe de revezamento 4x200 metros masculino, composta por Sérgio Rodrigues, Willy Otto Jordan, Aram Boghossian e Rolf Kestner, ficou em oitavo lugar. A equipe de revezamento 4x100 metros nado livre feminino, composta por Piedade Coutinho, Talita Rodrigues, Maria Angélica Leão da Costa e Eleonora Schimidt, ficou com o sexto lugar (KRUG; MAGRI, 2012). Destaca-se que, em 1939, na preparação para as Olimpíadas, Maria Lenk bateu o recorde mundial nas provas de 400 metros e 200 metros nado peito. Contudo, a Olimpíada não aconteceu devido à Segunda Guerra Mundial. A próxima edição das Olimpíadas aconteceu em 1948, na cidade de Londres, na Inglaterra. Neste ano, o Brasil contou com uma delegação composta por 73 atletas. Piedade Coutinho conquistou a vitória nos 200 metros nado peito, 12 anos após a sua primeira participação nas Olimpíadas de 1936. Em 1952, as Olimpíadas ocorrem em Helsinque, na Finlândia, e o Brasil participou com uma delegação de 112 atletas. Um destes, Tetsuo Okamoto, mais conhecido como “Peixe Voador”, se destacou pela conquista do terceiro lugar nos 1.500 metros nado livre. Sobre a Olimpíada de 1956, que foi realizada em Melbourne, na Austrália, não há registro das informações sobre os resultados da delegação brasileira (49 atletas que participaram dos jogos) (KRUG; MAGRI, 2012). Em 1960, na Olimpíada de Roma, na Itália, Manuel dos Santos conquistou o terceiro lugar nos 100 metros livres após uma chegada polêmica devido à batida de mãos de forma simultânea com outro nadador, o qual ficou com o segundo lugar. Como o Brasil não tinha tradição de bons resultados na natação, era previsto que, em vista do ocorrido, o nadador brasileiro ficaria com o terceiro lugar. Em 1961, Manuel dos Santos bateu recorde mundial dos 100 metros livres. Contudo, este recorde foi considerado irregular por muitas pessoas devido à alta concentração de sal na água, superior ao limite permitido nas piscinas. Neste mesmo ano, o atleta foi campeão em Tóquio, no Japão, superando os maiores velocistas do mundo. Em seguida, em Osaka, Manuel dos Santos percorreu 100 metros em 55 segundos, o melhor tempo já alcançado em competições até aquela época. Em 20 de setembro do mesmo ano, no Clube Regatas Guanabara, no Rio de Janeiro, o atleta nadou 100 metros em 53,6 segundos, marcando um novo recorde UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 10 mundial. Este tempo permaneceu como recorde mundial até 1964, quando o francês Alain Gottvales percorreu 100 metros em 52,9 segundos (KRUG; MAGRI, 2012). Em 1964, os Jogos Olímpicos aconteceram em Tóquio, no Japão. O Brasil participou com uma delegação composta por 69 integrantes, contudo, não apresentou resultados expressivos. Em 1968, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, no México, o Brasil contou com uma delegação de 82 integrantes, obtendo o quarto lugar na prova de 100 metros nado peito. Em 1972, nas Olimpíadas de Munique, na Alemanha, o Brasil participou com 12 atletas da natação, entre eles, destacam-se José Sylvio Fiolo, de 22 anos, Cristina Bassani, de 13 anos, e Rui Aquino, de 19 anos. Fiolo almejava, após os Jogos Olímpicos, cursar Educação Física e nadar nos Estados Unidos, porém, ao retornar da Olimpíada, estava com idade avançada em relação aos adversários. Fiolo conquistou o sexto lugar nos 100 metros nado peito e o quinto lugar no revezamento 4x100 metros medley (KRUG; MAGRI, 2012). Na Olimpíada de 1976, que ocorreu em Montreal, no Canadá, o Brasilconquistou o quarto lugar nos 400 e nos 1.500 metros livres com o nadador Djan Madruga. Em 1980, os Jogos Olímpicos foram realizados em Moscou, na União Soviética, onde os nadadores brasileiros Cyro Delgado, Marcus Matioli, Jorge Fernandes e Djan Madruga conquistaram a medalha de bronze na prova de 4x100 metros livre. Em 1984, na Olimpíada realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, Ricardo Prado conquistou o segundo lugar nos 400 metros medley e o quarto lugar nos 200 metros costas. Em 1988, em Seul, na Coreia, o Brasil participou, porém, não conquistou vitórias expressivas (KRUG; MAGRI, 2012). Em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, na Espanha, Gustavo Borges conquistou a medalha de prata nos 100 metros nado livre. Em 1996, em Atlanta, o mesmo atleta de natação conquistou a medalha de bronze para o Brasil nos 100 metros livre e a medalha de prata nos 200 metros livre. Nesta mesma Olimpíada, o atleta Fernando Scherer obteve a medalha de bronze para o Brasil nos 50 metros livre (KRUG; MAGRI, 2012). No ano 2000, nos Jogos Olímpicos de Sydney, na Austrália, o atleta Gustavo Borges, do Brasil, conquistou a medalha de bronze no revezamento 4x100 metros livre, tornando-se um dos maiores esportistas da história do país, pois foi o primeiro brasileiro a conquistar quatro medalhas olímpicas. Entretanto, Gustavo Borges ficou de fora da final da prova dos 100 metros livre, que era a sua especialidade. Nesta mesma Olimpíada, Fernando Scherer, também atleta de natação brasileiro, teve uma contusão no tornozelo durante o seu treinamento, conquistando apenas a medalha de bronze no revezamento 4x100 metros livre em companhia de Edvaldo Valério, Carlo Jaime e Gustavo Borges. Nos 50 metros livre, Fernando Scherer não se classificou para a semifinal. O atleta também disputou o revezamento 4x100 metros medley, não conseguindo vaga para a semifinal (KRUG; MAGRI, 2012). TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 11 Ainda nas Olimpíadas de 2000, em Sydney, Rogério Romero, aos 31 anos, disputou a sua quarta olimpíada, chegando à final e conquistando o sétimo lugar. Apontado como a maior revelação da natação brasileira, Alexandre Massura não conseguiu repetir, em Sydney, o bom resultado que havia tido no Pan-Americano de Winnipeg. Nas duas provas de que participou, 100 metros costas, sua especialidade, e revezamento 4x100 medley, não conseguiu chegar à prova final. Leonardo Costa, por sua vez, no Pan-Americano de 1999, ganhou o ouro, garantindo a sua vaga na Olimpíada de 2000, nos 200 metros costas. O atleta fez o tempo de 1min59s33, em Winnipeg, batendo o americano Aaron Peirson, que era o atual líder do ranking. Em Sydney, o norte-americano deu o troco e o brasileiro não chegou à final nas duas provas que disputou, 200 metros costas e revezamento 4x200 metros nado livre. Luiz Lima ficou em sexto lugar nas eliminatórias dos 400 metros livre e em 18o nas eliminatórias dos 1.500 metros livre. Edvaldo Valério, revelação do Troféu José Finkel, aparece como a esperança brasileira para as próximas Olimpíadas. Seu bom desempenho assegurou a medalha de bronze no revezamento 4x100 metros livres. Nas outras provas de que participou, 50 metros livre e revezamento 4x200 metros nado livre, não se saiu muito bem e foi eliminado na fase classificatória. Fabíola Molina, a única representante feminina da natação brasileira nas Olimpíadas de Sydney, foi eliminada na fase classificatória dos 100 metros borboleta e dos 100 metros costas. Carlos Jaime fez uma boa prova no revezamento 4x100 metros livre e conquistou a medalha de bronze para o Brasil. Eduardo Fischer nadou o estilo peito no revezamento 4x100 metros medley, além dos 100 metros peito, mas não conseguiu passar da fase classificatória em ambas. Rodrigo Rocha Castro competiu na equipe de revezamento 4x200 metros, contudo, também não conseguiu passar das eliminatórias. Além disso, o atleta participou dos 200 metros costas, sendo eliminado na semifinal (KRUG; MAGRI, 2012). Nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, na Grécia, foram a mulheres que se destacaram na delegação brasileira de natação. Com as três finais que alcançaram, elas superaram o desempenho masculino pela primeira vez desde os jogos de Berlim, em 1938. Os destaques foram Joanna Maranhão, que chegou à final dos 400 metros medley, e Flávia Delaroli, que chegou à final dos 50 metros livres. Elas superaram uma lacuna de 56 anos sem mulheres brasileiras em finais olímpicas. Outro resultado positivo foi o da equipe de revezamento 4x200 metros livre, onde conquistaram o sétimo lugar. Nesta edição das Olimpíadas, a participação masculina do Brasil não teve o sucesso das outras edições. Os destaques foram Thiago Pereira e Gabriel Mangabeira, únicos finalistas masculinos. Foi a primeira vez, desde as Olimpíadas de Seul, em 1988, que a natação não trouxe medalhas para o Brasil e, por isso, o resultado não pode ser considerado satisfatório (KRUG; MAGRI, 2012). Em 2008, em Pequim, na China, a delegação brasileira foi composta por 27 nadadores. No feminino, o destaque foi para o número de participantes, 12, entre elas, quatro atletas de maratona aquática. No masculino, a primeira medalha de ouro em Olimpíadas foi conquistada por César Cielo na prova dos 50 metros nado livre, a mais rápida disputada em competições de natação. O mesmo atleta conquistou para o Brasil a medalha de bronze nos 100 metros nado UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 12 livre (KRUG; MAGRI, 2012). Nas Olimpíadas de 2012, em Londres, na Inglaterra, César Cielo trouxe para o Brasil a medalha de bronze conquistada na prova dos 50 metros livre. Na mesma Olimpíada, o atleta Thiago Pereira conquistou, para o país, a medalha de prata na prova de 400 metros medley. Na última edição das Olimpíadas, realizada no Rio de Janeiro, a conquista do Brasil, na natação, foi na maratona dos 10 km feminino, na qual a atleta Poliana Okimoto conquistou a medalha de bronze. 3 BENEFÍCIOS DA NATAÇÃO Apesar da literatura conter diversas definições para a natação e métodos bem diversificados para seu ensino, todos os autores concordam em um ponto: este é um esporte excelente devido ao seu caráter formativo e totalizador. Qualquer corpo no meio aquático esforça-se para superar as perturbações causadas pela água, o que caracteriza uma de suas vantagens em relação aos outros esportes (DAMASCENO, 1992). Para Araújo Júnior (1993), a natação é considerada uma das atividades físicas mais completas que existe na atualidade e, através dela, se obtém benefícios que auxiliam o praticante a ter uma vida mais saudável, buscando a otimização e o desenvolvimento das capacidades físicas, flexibilidade, força, resistência muscular, e da capacidade cardiorrespiratória. Além disso, dependendo da forma como for praticada, a natação pode vir a ser uma atividade de integração das pessoas que a praticam, muito mais voltada ao aspecto socializador, usada com prazer, onde e quando o ser descobre e aprimora a sua personalidade (ARAÚJO JÚNIOR, 1993). Nesse sentido, Carvalho et al. (2008) também apresentam algumas finalidades da natação, são elas: obtenção das habilidades básicas fundamentais, conhecimentos sobre a segurança no ambiente aquático e boa conduta social. Para Catteau e Garoff (1990), saber nadar é ter resolvido, qualitativa e quantitativamente, em qualquer eventualidade, o triplo problema que se coloca permanente: melhor equilíbrio, melhor respiração e melhor propulsão, no elemento líquido". E continua: "Praticar a natação é ter gosto e a possibilidade, ou ainda a obrigação de expressar-se no elemento líquido, dentro de uma certa periodicidade, tomando consciência das próprias limitações e capacidade de progresso, propondo- se um ou mais objetivos e escolhendo a maneira de executá-los. Para Araújo Júnior (1993), nadar e natação também significamação, exercício, arte, autopropulsão e autossustentação, mas deve-se acrescentar a isso o respeito pela individualidade, espontaneidade, criatividade e liberdade, fazendo com que a natação solicite exercícios tanto no aspecto físico quanto no intelectual, o que torna o processo de aprendizagem uma única unidade. O trabalho com programas de natação e atividades aquáticas proporciona ao indivíduo envolver-se mais plenamente, melhorando tanto a sua participação e interação social, como também o desenvolvimento da linguagem TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 13 e do autoconceito. Neste sentido, a natação, como uma modalidade desportiva considerada de grande utilidade por proporcionar benefícios orgânicos e sociais, se bem desenvolvida, segundo o ponto de vista de Pável (1992), provoca uma grande procura por um número expressivo de pessoas. As aulas de natação oferecem um novo ambiente social, vivência de situações que são importantes na formação do indivíduo, como ganhar e perder, circunstâncias de aprendizagem diversificadas, como aulas individuais e em grupo, uma gama de informações que passam pelas regras básicas do esporte à prática da modalidade como um todo, pela aquisição de novos hábitos e gestos motores, pelas trocas interpessoais e muitos outros fatores motivacionais. No esporte aquático, o indivíduo se vê confrontado com um meio multidimensional, no qual ele pode explorar, descobrir e realizar possibilidades ainda desconhecidas. As atividades destinadas a desenvolver a noção espacial, a percepção do corpo como objeto e a noção do próprio corpo podem ser perfeitamente integradas na exploração dentro da água (ADAMS et al., 1985), A atividade na água, ou o movimento de nadar, significa um momento de liberdade e independência, momento este em que consegue movimentar-se livremente. O movimento livre lhe propicia a possibilidade de experimentar suas potencialidades, de vivenciar suas limitações, isto é, conhecer a si próprio, confrontar-se consigo mesmo, quebrar as barreiras com o seu “eu” próprio. A partir do momento em que a pessoa descobre suas potencialidades, descobrindo sua capacidade de se movimentar na água, sem auxílio, inicia seu prazer em desfrutar a água, aumentando sua autoestima, sua autoconfiança e sua independência (GRASSELI; PAULA, 2002). O fato de poder ser independente na água, de atingir as habilidades que podem ser impossíveis ou difíceis no solo, só pode ter efeitos psicológicos favoráveis e duradouros, que elevam a confiança e a autoestima, e isso pode ser transferido para a vida em terra (CAMPION, 2000). A água apresenta propriedades físicas que facilitam para o indivíduo sua locomoção sem grande esforço, pois sua propriedade de sustentação (empuxo) e eliminação quase que total da força da gravidade podem, segundo Campion (2000), aliviar o estresse sobre as articulações que sustentam o peso do corpo, auxiliando no equilíbrio estático e dinâmico, propiciando, dessa forma, maior facilidade de execução de movimentos que, em terra, seriam muito difíceis de serem executados. Segundo Mazarini (1992), os exercícios no meio líquido oferecem aos participantes a oportunidade de executarem livremente os mais diferentes movimentos, graças à flutuação do corpo. Essa movimentação poderá ser beneficiada ainda mais, se a temperatura da água for mantida em torno de 28 a 34 graus centígrados. A água aquecida proporciona um aumento da circulação sanguínea e da sensibilidade neurossensorial, que, juntamente com a diminuição dos efeitos da gravidade, são responsáveis pela melhora do tônus muscular postural. Nesse caso, favorecem uma adequada mobilidade articular e uma melhora da elasticidade muscular. Segundo Catteau e Garoff (1990), uma das propriedades do tecido muscular é a de reagir a certo número de estimulações, e o meio aquático proporciona UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 14 diversos estímulos com características mecânicas, térmicas, químicas, acústicas, ópticas, de influxo nervoso, levados aos músculos pelos nervos motores. Tsutsumi et al. (2004) afirmam que com o desenvolvimento da musculatura, há juntamente a melhora da postura corporal. De acordo com Adams et al. (1985), o calor da água favorece o relaxamento dos músculos e anima o indivíduo a continuar explorando a movimentação dentro da água. Este relaxamento melhora o tônus postural e resulta em movimentos mais eficientes. O aumento da capacidade para o relaxamento, combinado com a diminuição da ação da gravidade, melhora a mobilidade e aumenta o potencial motor nos indivíduos. A força de empuxo é uma propriedade física da água, assim descrita pelo princípio de Arquimedes: "Um corpo imerso parcial ou completamente dentro de um líquido em repouso, recebe um impulso de baixo para cima, igual ao peso do volume do líquido deslocado". O autor ressalta que esta propriedade contribui de diversas maneiras para favorecer os movimentos dos indivíduos, pois a diminuição da gravidade reduz a resistência aos movimentos do corpo, além disso, a amplitude dos movimentos do nadador aumenta dentro da água, em consequência do princípio de Arquimedes. Para Duffield (1985), quando na água ficamos em posição vertical, a pressão sofrida pelas articulações é mínima. A redução do peso nas articulações vai facilitar o principal aspecto da aplicabilidade de natação na correção das deformidades posturais (MAZARINI, 1992). Para Carmona (2001), a sensação da água envolvendo todo nosso corpo pode ter efeitos táteis cinestésicos e proprioceptivos incríveis, auxiliando na construção de nossa imagem corporal. Lopes e Pereira (2004) afirmam que a prática da natação pode ocasionar redução não só de pequenos distúrbios neuromotores, como também facilitar a aquisição do conhecimento de novas habilidades. A estimulação das potencialidades motoras e cognitivas dos indivíduos no meio aquático favorece seu autoconhecimento, sua conscientização corporal, o que facilita também o aprendizado de novas habilidades, partindo-se do conhecimento por ele iniciado. Para Reis (1987), gera-se melhoria da coordenação de movimentos a partir de sensações e percepções decorrentes da prática da natação. Velasco (1994) diz que o meio aquático é um meio rico para esse tipo de vivência e propício para que a pessoa organize as informações e sensações recebidas em seu cérebro, transferindo- as para o movimento realizado na água, enriquecendo suas experiências motoras. Vale destacar que os aspectos motivacionais e as propriedades terapêuticas da água estimulam o desenvolvimento da aprendizagem cognitiva e o poder de concentração, pois o aprendiz busca compreender o movimento do seu próprio corpo explorando as várias formas de se movimentar, adaptando suas limitações às propriedades da água (LÉPORE et al., 1999). Campion (2000) chama atenção para os benefícios no sistema de regulação térmica, salientando que quando o corpo está exposto a um estímulo frio, por exemplo, em água de temperatura fria, estes vasos se contraem, evitando que seja TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 15 liberado calor interno; ao contrário, se o estímulo de calor é maior que a temperatura interna, há uma vasodilatação para que o calor seja liberado e a temperatura se mantenha em equilíbrio. Com as mudanças constantes de temperatura interna da água, este mecanismo é constantemente acionado, fazendo com que o organismo adquira uma maior resistência contra mudanças bruscas de temperatura externa, proporcionando ao indivíduo, também, maior resistência contra as doenças provocadas pelas intempéries do meio. "As atividades em meio aquático constantes da natação trarão ainda modificações sensíveis na capacidade pulmonar do indivíduo, provocando assim efeitos estimulantes sobre o coração e a circulação dos praticantes" (BELLENZANI; MAZARINI, 1986, p. 18).De acordo com Maglischo (1986), ocorre aumento da capacidade de funcionamento do sistema cardiopulmonar, gerando maior aporte sanguíneo para o corpo e, consequentemente, maior trabalho fisiológico. Campion (2000) explica que a natação proporciona grandes benefícios ao sistema circulatório e coração, pois a pressão e a resistência exercidas pela água sobre o corpo, juntamente com esforço exigido na execução dos movimentos, agem diretamente sobre o sistema, uma vez que provocam o aumento do metabolismo, promovendo o fortalecimento da musculatura cardíaca, o aumento do volume do coração e uma consequente melhoria no sistema circulatório; já no sistema respiratório provocará o fortalecimento dos músculos respiratórios, aumento do volume máximo respiratório e consequente melhoria, também, na elasticidade da caixa torácica. As atividades desenvolvidas com a água na altura do peito provocam o aumento da pressão hidrostática durante a respiração nas paredes peitorais e abdominais, havendo, assim, uma resistência na respiração, aumentando a capacidade respiratória, assim como também exercícios respiratórios imersos na água (MASSAUD, 2004). O autor destaca os baixos riscos de lesão e a sensação de bem-estar devido às substâncias químicas liberadas após a prática da natação. Damasceno (1992, p. 24) listou, resumidamente, os principais benefícios da natação para os seres humanos: • Musculatura e aparelho locomotor: • Melhor capilarização da musculatura; • Aumento da secção transversal; • Desenvolvimento geral da musculatura, levando a uma melhor postura. • Coração e circulação: • Aumento do volume do coração; • Hipertrofia; • Menor frequência cardíaca; • Maior transporte de oxigênio; • Menor esforço cardíaco; • Maior elasticidade dos vasos sanguíneos. • Sistema respiratório: UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 16 • Maior absorção de 02 máxima (maior volume nos pulmões); • Maior difusão de 02; • Mais hemoglobina; • Maior irrigação sanguínea da musculatura envolvida; • Auxilia no combate às doenças do aparelho respiratório. • Metabolismo: • Mobilização de muita energia para execução dos movimentos; • Sistema nervoso: • Desenvolve o Sistema Nervoso de forma global. Faz-se pertinente destacar que a natação proporciona, aos seus praticantes, um desenvolvimento global e equilibrado, não ocorrendo em cada parte deste separadamente. Para Damasceno (1992, p. 32), a natação promove: • Percepção e controle do próprio corpo; • Equilíbrio postural; • Lateralidade bem definida; • Independência dos segmentos em relação ao tronco e uns em relação aos outros; • Controle e equilíbrio das contrações ou inibições estreitamente associadas ao esquema corporal e ao controle da respiração. Dentre a grande diversidade de benefícios que a natação pode trazer ao indivíduo, damos destaque para a estruturação do esquema corporal. Para Damasceno (1992, p. 30), o esquema corporal é a "experiência do corpo com a maneira com que este se põe no meio ambiente". Portanto, o autor diz que para que um indivíduo se adapte ao meio, ele primeiro deve conhecer e dominar o seu próprio corpo. Já para Bonacelli (2004, p. 96), o esquema corporal se define como a "representação que a pessoa tem do próprio corpo, num certo espaço, num certo tempo". É a relação com o mundo e consigo mesmo na generalidade (BONACELLI, 2004). Segundo Catteau e Garoff (1990), o esquema corporal que reflete o equilíbrio entre as funções psicomotoras e sua maturidade (depende de um conjunto funcional organizado através da relação mútua organismo-meio) é o núcleo central da personalidade, motivo pelo qual a metodologia do ensino esportivo deve permitir ao aluno a exploração e manejo do meio com atividades motoras que contribuam para a estruturação desta imagem corporal. A construção dos esquemas específicos no meio aquático depende dos aspectos psicomotores que dizem respeito ao conhecimento do próprio corpo, do mundo exterior e de alguns fatores de execução, como força, resistência, flexibilidade e velocidade. Assim, a natação permite ao indivíduo a exploração e manejo do meio, através de atividades motoras, que contribuem para a estruturação do seu esquema corporal. Ela ajuda cada um a ter noção perceptiva do espaço à sua volta, pois exige a execução de movimentos em diferentes posições (DAMASCENO, 1992). TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 17 De acordo com Bonacelli (2004), é muito importante o conhecimento do próprio corpo quando se está no meio líquido, pois quando realizamos um movimento fora da água, podemos ver este movimento, mas quando estamos na água, ao nadar, isto é praticamente impossível. Então, a necessidade de conhecer o próprio corpo é bem maior. Vale lembrar, também, que na natação se exige que o aluno redobre sua atenção a todo o momento para estabilizar sua postura dentro da água e desenvolver os exercícios. Isso permite que sua capacidade mental seja ampliada, favorecendo a aquisição de novas posturas e desenvolvimento global de seu corpo (LOPES; PEREIRA, 2004). Lopes e Pereira (2004, p. 205) afirmam que a prática da natação pode ocasionar redução não só de pequenos distúrbios neuromotores, como também facilitar a aquisição do conhecimento de novas habilidades. A estimulação das potencialidades motoras e cognitivas dos indivíduos no meio aquático favorece seu autoconhecimento, sua conscientização corporal, o que facilita também o aprendizado de novas habilidades, partindo-se do conhecimento por ele iniciado. Araújo Júnior (1993, p. 33) ainda diz: "além disso, o aspecto segurança faz com que o 'nadador' se sinta à vontade dentro do meio líquido, propiciando o desenvolvimento da autoconfiança para enfrentar algum tipo de dificuldade que eventualmente possa encontrar". Assim, a natação pode ser considerada como um esporte completo que possibilita o desenvolvimento total dos indivíduos que a praticam. Ela pode ser praticada por qualquer pessoa, independentemente do sexo, da idade e da condição física ou mental. 4 ADAPTAÇÃO AO MEIO LÍQUIDO Não sendo o ambiente próprio do ser humano, qualquer atividade dentro da água exige uma série de condutas adaptativas à sua especificidade, representada pelos problemas de equilíbrio, respiração e propulsão. A superação destes problemas permite a aquisição da habilidade de "nadar", ou seja, manter-se sobre a água e ir por ela sem tocar no fundo. Esta habilidade, portanto, comprova a completa ambientação do indivíduo no meio aquático, mas também coloca em evidência que a habilidade de nadar pode ser executada sem preencher os requisitos dos nados esportivos. Assim, o processo de ambientação se organiza em níveis que conduzem a execução de um nado de características utilitárias (BURKHARDT; ESCOBAR, 1985). Segundo Catteau e Garoff (1990), a boa adaptação ao meio líquido é o resultado de um número considerável de dias e horas em que o grupo ou o indivíduo passa na água, não sendo uma adaptação espontânea e instantânea. Segundo os autores, para o primitivo, da mesma forma que para o principiante, aprender a nadar representa uma sucessão de problemas que se apresentam a ele em ordem definida e imutável, porque estão ligados, de início, ao equilíbrio vertical do bípede e à necessidade de sobreviver à experiência. "Devemos a George Herbert observações notáveis pela exatidão e precisão feitas ao longo de suas UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 18 peregrinações sobre o comportamento do homem primitivo que tinha de resolver um problema de aprendizagem da natação. Essas observações constituem uma preciosa contribuição ao estudo do comportamento psicológico do não nadador a ponto de servir de base à orientação de toda a pedagogia moderna" (CATTEAU; GAROFF, 1990, p. 32). 4.1 CARACTERÍSTICAS DO CONTATO COM O MEIO LÍQUIDO O contato como meio líquido gera inúmeros benefícios ao ser humano, dos quais se pode destacar a remoção das impurezas da pele, a desobstrução dos poros, facilitando a transpiração e a eliminação de toxinas. Ademais, os exercícios no meio líquido reduzem o peso corporal entre oito e doze kg devido à ação da gravidade, desta forma, a natação é uma excelente atividade física para as pessoas que possuem excesso de peso, problemas articular ou ligamentar, uma vez que diminui o impacto nos tornozelos, nos joelhos e na articulação coxofemoral (KRUG; MAGRI, 2012). A prática da natação exige o aumento do ritmo respiratório do nadador, assim, faz com que o sistema respiratório passe a reagir às mudanças em um curto período de tempo, promovendo a melhora da eficiência e da capacidade respiratória. Assim, a natação reeduca movimentos e educa o ritmo da respiração. Além disso, aumenta a potência do coração, auxilia na recuperação de membros lesionados, de entorses, atrofias, fraturas, bem como no tratamento de asma. Além disso, a prática desta modalidade esportiva ajuda no desenvolvimento das musculaturas dos ombros, do dorso, das pernas e da caixa torácica devido à utilização de forças em diferentes direções, com o uso de diferentes grupos musculares nos variados tipos de nados. Ainda, pode-se destacar a reeducação dos movimentos de membros atingidos pela poliomielite. Por fim, trata-se de um componente educativo e de segurança para as pessoas (KRUG; MAGRI, 2012). Entretanto, para que estes benefícios sejam desfrutados pelos praticantes, alguns pré-requisitos devem ser considerados, a saber: condições de temperatura, claridade, tratamento químico e profundidade. Estas condições são fundamentais para que o aprendiz se sinta e tenha um aprendizado seguro, de acordo com as suas necessidades. Ademais, os aspectos físico-fisiológicos, sociais, psicológicos e técnicos devem ser contemplados. 4.2 ASPECTOS FÍSICOS E FISIOLÓGICOS A condição orgânica, dos músculos, do coração, dos pulmões e dos órgãos em geral necessitam de avaliação prévia ao início da prática da natação. Quanto maior for a dedicação do sujeito à prática esportiva, seja nas aulas, em treinamentos, ou em competições, quando altas demandas energéticas são solicitadas, a TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À NATAÇÃO 19 resistência, a flexibilidade, a flutuabilidade e a eficiência mecânica serão cada vez mais acompanhadas, avaliadas e estimuladas (KRUG; MAGRI, 2012). No início da aprendizagem, o aspecto que mais facilita ou dificulta é a flutuabilidade do corpo do indivíduo na água. Isto possui relação direta com a posição dos segmentos corporais, com a composição corporal (densidade) e com a inter-relação das forças de impulsão hidrostática (empuxo) e de gravidade, as quais permitirão que o corpo flutue mais ou menos paralelo à linha da superfície da água. Os corpos que flutuam bem na água são considerados de flutuabilidade positiva, ao passo que os corpos que não flutuam bem na água são considerados de flutuabilidade negativa. Neste sentido, há indícios de que haja diferenças entre os sexos, sendo que as mulheres parecem apresentar melhor flutuabilidade em função do seu biótipo e do percentual de gordura, enquanto os homens apresentam melhor desempenho em termos de força e potência (KRUG; MAGRI, 2012). As autoras acrescentam que a posição do corpo mais paralela à linha da superfície da água contribuirá para um melhor resultado em termos de propulsão, isto é, mais rápido será o deslocamento do corpo na água, pois quanto menor for a intensidade da resistência hidrodinâmica oposta à direção de deslocamento do sujeito, maior será a velocidade de nado, conforme a intensidade da força aplicada. 4.3 ASPECTOS SOCIAIS E PSICOLÓGICOS Não é comum que os seres humanos apresentem aversão à água, a menos que isto seja provocado por uma experiência negativa, porém, para “nadar”, é necessário que o indivíduo tenha uma motivação, uma vez que o aprendizado da natação depende muito do fator motivacional, o qual pode ser desencadeado pela expectativa de sucesso ou pelo medo do fracasso. Para isto, metas atingíveis devem ser estabelecidas e os objetivos devem estar de acordo com a idade, com as possibilidades e com as potencialidades do aprendiz. Isto definirá a maturidade e a prontidão para o envolvimento nos distintos níveis, o que, atrelado à atenção do indivíduo, poderá resultar em muitos avanços. Para tanto, o trabalho do professor é imprescindível desde o início da aprendizagem, pois é ele quem planejará os procedimentos didático-metodológicos, conforme o perfil do aluno, organizando a progressão das etapas de ensino e lidando com a ansiedade e com o medo do aprendiz no meio líquido. Por sua vez, o interesse do indivíduo que está aprendendo pelos ensinamentos disponibilizados pelo professor é de suma importância para que haja uma aprendizagem de sucesso (KRUG; MAGRI, 2012). 4.4 ASPECTOS TÉCNICOS Os fatores técnicos são de fundamental importância para favorecer a aprendizagem da natação, visto que ela depende muito do conhecimento do professor, da sua experiência, além do seu empenho e da adequação dos objetivos UNIDADE 1 | METODOLOGIA DO ENSINO DE ATIVIDADES AQUÁTICAS 20 em função das etapas e dos respectivos conteúdos de aprendizagem. Para o ensino da natação, a literatura apresenta a possibilidade da utilização de diferentes métodos de ensino, são eles: global, parcial ou partes progressivas. Cada um deles parece ser mais indicado para o ensinamento de determinadas técnicas ou nados. Para tanto, o professor deverá ter absoluto domínio da área, dos métodos e das técnicas a serem utilizadas, bem como controle das condições de aprendizagem, ou seja, do local, das condições de prática, da frequência semanal e da duração das aulas, da temperatura da água, do número de aprendizes ou de sujeitos em treinamento, das condições e do nível de cada um deles, da assiduidade, da responsabilidade e do interesse dos mesmos. Estes são alguns dos aspectos que estão envolvidos no ensino ou no treinamento da natação (KRUG; MAGRI, 2012). Faz-se pertinente destacar que as experiências iniciais devem ser ricas, contemplando diferentes gestos propulsivos, visando favorecer a aprendizagem por meio de diversificadas possibilidades, de retenção e de transferências positivas. Esta variedade de oportunidades é importante no início de qualquer aprendizagem. Para a escolha do primeiro estilo da natação a ser ensinado, deve- se observar as potencialidades do aprendiz, assim será mais perceptível a sua evolução na aprendizagem do nado (KRUG; MAGRI, 2012). 4.5 ASPECTOS PEDAGÓGICOS Ensinar a nadar é fácil, mas nadar não o é. Por isso, o aprendiz deve ser iniciado gradativamente, seja qual for a sua idade ou sexo. O ensino deve ser lento, gradual em intensidade, complexidade e, principalmente, do conhecido para o desconhecido. Motive mesmo no último minuto da sua aula, pois é importante que o aluno tenha a vontade de voltar. Além disso, sempre garanta a segurança do seu aluno (FARIAS, 1988). Para o autor, é essencial que alguns cuidados sejam tomados durante a realização das atividades para o ensino da natação, quais sejam: • Sempre apresente e coloque os exercícios de maneira clara, despertando, assim, a atenção, o interesse e a vontade de realizá-los; • Sempre que possível, demonstre ou facilite a compreensão do movimento com explicações claras; • Nunca coloque movimentos difíceis no início das aulas, ou aqueles para os quais os alunos não estão preparados; • Procure iniciar as atividades com exercícios gradativos; • Dose sempre as repetições mais ou menos pela maioria; • Nunca coloque os alunos diretamente de frente para o Sol; • Se o local possuir ducha, oriente os alunos para que passem por ela antes de entrarem na piscina; • Corrija os erros com muito cuidado,
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