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Atraso no desenvolvimento infantil

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Atras� n� desenvolviment� infanti�
Beatriz Fonteles
Tem-se tornado cada vez mais comuns mães de crianças preocupadas com o
desenvolvimento dos filhos. O excesso de bebês e crianças “prodígios” visto hoje, em
especial nas redes sociais, parece trazer à tona angústias que antes não eram tão evidentes. De
fato, seja porque o bebê da vizinha é mais novo e já come sozinho, seja porque a avó afirma
que a criança já devia estar andando sem apoio, quase todos os dias os pediatras recebem a
seguinte pergunta no consultório: “Doutor, será que meu filho é normal? ”.
Em verdade, essas preocupações são extremamente válidas e é imprescindível ao
médico sempre acolher a angústia da mãe e avaliar corretamente a criança para notar
possíveis alterações o mais precoce possível. Mas como definir se o desenvolvimento infantil
está dentro da margem considerada normal ou se realmente há um atraso?
1. Definição:
Primeiramente, é preciso entender que desenvolvimento, de acordo com Marcondes et
al., significa o aumento da capacidade do indivíduo em realizar funções cada vez mais
complexas. Esse desenvolvimento neuropsicomotor é, em geral, dividido entre os campos
motor, cognitivo, social e linguístico.
Para a avaliação desses quesitos, existem os chamados marcos da infância, que
demonstram a faixa etária esperada para que a criança apresente evoluções, como sentar sem
apoio, balbuciar as primeiras palavras ou andar sozinha. Ressalta-se que esses marcos não são
escalas rígidas e sim apenas parâmetros de comparação, em que, eventualmente, podem ser
vistas leves alterações em algumas crianças.
Entretanto, em casos de múltiplas variações e/ou de variações mais exageradas
deve-se reconhecer um atraso no desenvolvimento e investigar a sua causa. O chamado atraso
de desenvolvimento pode ser de caráter transitório ou duradouro e pode ocorrer devido a
fatores genéticos, pré-natais, perinatais ou pós-natais, como será visto mais adiante. Além
disso, esse termo é extremamente amplo e heterogêneo, podendo abranger diferentes graus de
atraso e manifestações comportamentais, o que requer do médico uma investigação
aprofundada e individual para cada paciente observado.
2. O que pode causar esse atraso?
São muitas as causas para um atraso no desenvolvimento. Por isso, é importante
reconhecer os principais fatores de riscos e, principalmente, diferenciar as causas genéticas
das causas não-genéticas.
2.1. Causas de origem genética: Apresentam diferentes origens e manifestações. Alguns
exemplos são síndromes características como a Síndrome de Down ou a Síndrome do X
frágil, além de doenças como a atrofia muscular espinhal (AME) e a fenilcetonúria. Muitas
dessas doenças são detectadas já no período de triagem neonatal, o que ajuda a garantir um
melhor prognóstico a essas crianças.
2.2. Causas de origem não-genética: Podem ser divididas em três períodos: o período
pré-natal, o perinatal (durante o parto) e o pós-natal.
2.2.1. No período pré-natal, são alguns fatores de risco: o tabagismo, o consumo de álcool -
mesmo em poucas quantidades -, a idade avançada da mãe e a multiparidade. Além disso, a
não-realização de acompanhamento médico no período pré-natal é uma das maiores causas
para a ocorrência de atraso no desenvolvimento em crianças.
2.2.2. No período perinatal, o parto prematuro (inferior a 37 semanas), o trabalho de parto
prolongado, a hipóxia neonatal, o baixo peso ao nascimento, a icterícia significativa e as
convulsões neonatais são os principais fatores de risco.
2.2.3. Já no período pós-natal, deve-se ficar atento a infecções no sistema nervoso central,
em especial as meningites, a traumatismos e a condições de desnutrição e desidratação.
Além disso, as condições familiares e sociais em que a criança vive e os estímulos que
ela recebe (ou não) também são fatores que podem interferir no seu desenvolvimento,
podendo, inclusive, ser a causa para o atraso.
3. Atraso no desenvolvimento x Deficiência Intelectual
É comum algumas pessoas confundirem os termos atraso no desenvolvimento e
deficiência intelectual (DI) e tratá-los como sinônimos. Na verdade, dizer que uma pessoa
apresenta deficiência intelectual significa que ela, no período de desenvolvimento (até os 18
anos), apresentou redução do funcionamento intelectual e déficits no comportamento
adaptativo, incluindo os domínios conceitual, social e prático. Ou seja, a DI abrange apenas o
funcionamento propriamente ligado ao intelecto da pessoa, enquanto o atraso no
desenvolvimento pode abranger também áreas relacionadas ao desenvolvimento motor.
Para entender melhor, é preciso saber que uma forma de diagnosticar a DI é por meio
do quociente de inteligência (QI). Pacientes com QI abaixo de 70 são ditos portadores de DI.
Entretanto, até os cinco anos, nenhuma criança pode ser diagnosticada com deficiência
intelectual, exatamente pela impossibilidade de realizar testes de QI em crianças tão
pequenas. Por isso, antes dessa idade, essas crianças são designadas apenas como portadoras
de algum atraso no desenvolvimento.
Dessa forma, se fossemos montar um diagrama matemático, o conjunto maior seria o
atraso do desenvolvimento e dentro dele estaria inserido o conjunto da deficiência intelectual.
Em termos práticos, todos os indivíduos que apresentam deficiência intelectual possuem um
atraso no desenvolvimento, todavia, nem todos que possuem um atraso no desenvolvimento,
apresentam uma deficiência intelectual.
4. Como avaliar o atraso no desenvolvimento?
Maria Montessori, médica que se dedicou especialmente à educação infantil, disse
que “Para ajudar uma criança, devemos fornecer-lhes um ambiente que lhes permita
desenvolver-se livremente”. Por isso, é primeiramente importante reiterar que o
desenvolvimento infantil, em geral, depende diretamente do estímulo que o indivíduo recebe.
De fato, ao analisar o desenvolvimento de uma criança, é importante perceber se o ambiente
em que ela está inserida fornece os estímulos necessários para a evolução de suas
potencialidades.
Além disso, uma boa anamnese deve ser realizada nesses pacientes. Recomenda-se
analisar detalhadamente antecedentes pessoais e patológicos da mãe e da criança, a fim de
perceber fatores de risco que justifiquem um possível atraso.
Ademais, o médico pediatra deve sempre, seguindo os princípios da propedêutica
pediátrica, realizar um exame físico que avalie comportamento, aquisições motoras, sistema
sensorial, interações sociais e outros aspectos, a depender da idade. Detectar possíveis
dismorfias faciais ou corporais na realização do exame físico também é importante para o
reconhecimento o mais precoce possível de possíveis patologias congênitas, como síndromes
genéticas.
Vale lembrar que, em muitas crianças, a avaliação de um atraso de desenvolvimento
requer uma análise multidisciplinar, com neurologistas, terapeutas ocupacionais e
fisioterapeutas, por exemplo, devido à complexidade das múltiplas áreas que precisam ser
avaliadas. Por isso, até mesmo os médicos mais experientes necessitam agir com cautela
nessas situações, a fim de não fornecer falsos diagnósticos, nem ser negligentes com o
paciente em questão.
5. Detectou-se um atraso no desenvolvimento, e agora?
Agir o mais rápido possível, a fim de tentar promover um melhor prognóstico quanto
ao desenvolvimento dessa criança, é o mais importante. Desse modo, se necessário, deve-se
encaminhá-la para avaliação neurológica, além de avaliações oftalmológicas e auditivas.
Além disso, terapias ocupacionais, fisioterapias e acompanhamento com fonoaudiólogos
podem ser iniciadas ainda em lactentes e geralmente são indicadas até mesmo para pacientes
com um atraso leve e transitório no desenvolvimento.
Dessa forma, cabe ao médico, baseado no princípio do aconselhamento não-diretivo,
informar aos pais sobre a importância de um acompanhamento multidisciplinar para essas
crianças, que as estimulem a progredir nos campos de desenvolvimento que estão deficitários.
Educar os familiares sobre a importância de promover um ambiente domiciliar que estimule a
criançaa desenvolver todas as suas habilidades, com liberdade e segurança, também é uma
atitude necessária do médico.
Por fim, vale lembrar que, em casos pediátricos, garantir a autonomia e a decisão final
aos pais ou aos responsáveis legais, após eles estarem bem instruídos da situação e cientes
das opções existentes, é indispensável e eticamente correto.

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