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Uberizaçao e Trabalho Autonomo_Georgenor de Sousa Franco Filho

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LEGISLAÇÃO DO TRABALHO 
Publicação Mensal de Legislação, Doutrina e Jurisprudência 
Diretor Responsável 
ARMANDO CASIMIRO COSTA (1937-2014) 
ARMANDO CASIMIRO COSTA FILHO (2014-2018) 
Diretor Financeiro 
MANOEL CASIMIRO COSTA 
Fundador 
Conselho Editorial 
IVES GANDRA MARTINS FILHO (Pn,idente) 
MARIA CRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI 
NELSON MANNRICH 
SÔNIA MASCARO NASCIMENTO 
MELCHÍADES RODRIGUES MARTINS 
VASCO DE ANDRADE Conselheiros Eméritos 
Benfejtor AMAURI MASCARO NASCIMENTO (1989-2014) 
JOSE CASIMIRO COSTA IRANY FERRARI (1990-2012) 
I ANO 83 • Nº 10 • OUTUBRO DE 2019 • SP • BRASIL • ISSN 1516-91541 
-LEI N. 13.874, DE 20.9.2019- DOU 20.9.2019, ED. EXTRA 20.9.2019 
ÇÃO DE LIBERDADE ECONÓMICA 
-REFORMAS PARA O BEM COMUM 
- lves Gandra Martins Filho 
- UBERIZAÇÃO E TRABALHO AUTÓNOMO 
- Georgenor de Sousa Franco Filho 
-A TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM E A (DES)PROTEÇÃO 
-José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva 
-ELA, A JUSTIÇA DO TRABALHO EM XEQUE 
- Benizete Ramos de Medeiros 
-PARA ALÉM DO EMPREGO: OS CAMINHOS DE UMA VERDADEIRA REFORMA DO DIREI-
TO DO TRABALHO 
- Alain Supiot 
- DESCONSTITUIÇÃO DA COISA JULGADA TRABALHISTA INCONSTITUCIONAL PELA 
VIA DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO: O CASO DA TERCEIRIZAÇÃO 
-Leonardo Tibo Barbosa Lima 
-DANOS MORAIS COLETIVOS- A QUESTÃO DA TARIFAÇÃO EM SEDE DE AÇÓES COLE-
TIVAS LABORAIS- AS TRAGÉDIAS AMBIENTA15-LABORAIS 
-Marcelo Freire Sampaio Costa 
-DA FRAUDE NA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA ATRAVÉS DO CONTRATO DE ESTÁGIO 
- Rocco Antonio Rangel R. Nelson, Walkyria de O. Rocha Teixeira e Isabel C. A. de S. Rosso Nelson 
REPOSITÓRIO DE jURISPRUDÊNCIA ------
A Revista LTr, com tiragem superior a 3.000 exemplares e circulação em todo o 
Território Nacional, é Repositório autorizado de jurisprudência para indicação de 
julgados, registrado no Supremo Tribunal Federal sob n. 09/85, e no Tribunal Superior 
do Trabalho sob n. 02/94. Os acórdãos publicados neste número correspondem, na 
íntegra, às cópias obtidas nas Secretarias dos respectivos Tribunais. 
Revista LTr. 83·10/1162 
1. Definindo o aplicativo Uber 
Urna espécie diferenciada de motorista de trans-
porte privado individual merece especial atenção 
justo porque é muito questionada a sua condição de 
autônomo ou de subordinado. Trata-se daquele que 
trabalha utilizando um aplicativo (E-hailing) dis-
ponível para celulares que conecta motorista a pas-
sageiros, oferecendo um serviço semelhante ao táxi 
tradicional. 
O mais famoso aplicativ~ foi criado pela empresa 
Uber, uma multinacional nO[te-americana, fundada 
como UberCab, em 2009, por'C;arrett Camp e Travis 
Kalanick, que presta serviços eletrônicos, e que che-
gou ao Brasil em 2014, tendo registrado, em 2018 um 
crescimento de corridas de 45% em relação a 2017(1l. 
Após, outros surgiram (Lyft, Cabify, Easy, WillGo) 
com as mesmas características. 
Existem cinco espécies de Uber, destacando-se o 
UberX, que é seu principal serviço, disponível para 
carros mais simples, e o Uber Black, para carros de 
luxo de cores prata ou preto com tarifas elevadas. Os 
demais cuidam de transporte de animais, bagagens e 
bicicletas. 
A questão principal, além da disputa entre os mo-
toristas de táxi regular e os de· transporte Uber, é acer-
ca da existência ou não de relação de emprego entre o 
motorista e a empresa Uber, que administra o aplica-
tivo, e que pode ser alegado existir entre os dois um 
contrato de parceria. Nesse particular, inicialmente o 
que teríamos é um contrato no qual a operadora da 
plataforma (a Uber) funciona como intermediadora, 
sob demanda, dos serviços de transporte privado 
individual. 
Parece ser difícil o controle regular das atividades 
dos motoristas Uber, porque teriam, em tese, total 
(''") Palestra proferida no Seminário da AMATRA-8, em Belém 
(PA), em 6.9.2019. 
(**) Georgenor de Sousa Franco Filho é Desembargador do 
Trabalho de carreira do TRT da 8" Região, Doutor em Direito 
lntemacional pela Faculdade de Direito da Universidade de 
São Paulo, Doutor Honoris Causa e Professor Titular de Direito 
Intemadonal e do Trabalho da Universidade da Amazônia, 
Presidente Honorário da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, 
Membro de Número da Academia Iberoamericana de Derecho del 
Trabajo y de la Seguridad Social e Membro da Academia Paraense de 
Letras, da Academia Brasileira de Seguridade Social, da Asociación 
Iberoamericana de Derecho dei Trabajo y de la Seguridad Social e da 
Academia Paraense de Letras Jurídicas. 
(1) Cf. <https://gl.globo.com/economia/tecnologia/notida/ 
2019/02/15/uber-recebe-us-50-bi-em-corridas-em-2018-mas-lucro-
ainda-nao-aparece.ghtmb. Acesso em: 4 set. 2019. 
Vol. 83, n!! 10, Outubro de 2019 
UBERIZAÇÃO E TRABALHO 
AUTÔNOMO(•> 
Georgenor de Sousa Franco Filho (**) 
liberdade de escolher quando e onde se conectariam ao 
aplicativo para atender possíveis passageiros, usariam 
seus próprios veículos e receberiam a maior parte do 
valor da corrida realizada. Importaria, então, em ine-
xistência de subordinação como conhecida tradicio-
nalmente. Estamos diante do word an-demami, quando 
o trabalhador atua quando é chamado. Acrescente-se, 
ainda, que iniciam as plataformas Uber e seus similares 
a adotar algoribno para dar segurança a motoristas e 
usuários, substituindo a tecnologia de machine leaming 
para identificar riscos. 
No entanto, o preço da corrida não é fixado pelo 
motorista, que precisa estar devidamente cadastrado; 
o pagamento é efetuado por meio de cartão de crédi-
to à empresa Uber que repassa a parte do motorista, 
mas o pagamento também pode ocorrer em moeda 
corrente diretamente a este, que transferirá à Uber o 
percentual correspondente. Em outros termos, o fa-
turamento (isto é, o valor da corrida) é rateado entre 
empresa e motorista, aproximando, nesse aspecto, de 
um contrato de parceria. O trabalhador, por sua vez, 
deve possuir Um veículo de razoável luxo e sempre 
estar vestido com roupa social completa (preferen:. 
cialmente, temo e gravata). 
Embora não cumpram horário, é recomendado 
que o aplicativo seja mantido no modo online, e, ao 
não proceder dessa forma, pode ser penalizado. Im-
pende observar que isto pode demonstrar o afasta-
mento de uma das características do contrato regular 
de trabalho: a não-eventualidade, pelo fato de que o 
motorista por, sponte sua, colocar-se offline e apenas 
poderá ser avisado de que poderá ter bloqueado seu 
acesso. 
Afora isso, os motoristas passam por avaliação 
dos próprios passageiros-usuários, que, através de 
notas e eventuais gratificações in pecúnitz, pontuam a 
favor ou contrariamente ao motorista que, mal ava-
liado, pode ser descredenciado. 
Considerando os argumentos aduzidos pela pró-
pria empresa Uber e as características que se verifica 
na realidade do trabalho desenvolvido, será possível 
reconhecer vínculo empregatício entre a empresa 
Uber e os motoristas que usam seu aplicativo? 
Precisamos considerar o surgimento de novas for-
mas de trabalho, muitas, como esta, decorrentes das 
novas tecnologias que mudaram a vida das pessoas. 
Trata-se de uma inovação disruptiva que leva a so-
ciedade a uma readaptação e a reavaliação de seus 
costumes tradicionais. 
Vol. 83, n210, Outubro de 2019 
Tendo em vista os traços caracterizadores da re-
lação de emprego, parece que na relação Uber versus 
motorista o que existe não é um contrato de parceria, 
mas aparentemente um vínculo empregatício bem 
delineado. Pelo menos, esta é a impressão preliminar 
do fenômeno da uberização. No entanto, essa ideia 
inicial acaba ganhando novos contornos e outras con-
siderações precisam ser feitas. 
Com efeito, temos a subordinação representada 
pela submissão dos motoristas às regras da Uber; 
a não eventualidade poderia ser identificada pelo 
cumprimento de jornada mínima de trabalho sem o 
que o motorista perde o acesso ao uso do aplicativo; 
a pessoalidade, pela impossibilidade de transferir os 
trabalhos a outro motorista, sem cadastramento pré-
vio; e a remuneração decorrente çia transferência de 
parte do pagamentoefehlado pelo cliente, em cartão 
de crédito, à Uber para o motorista, mas o pagamento 
também pode ser diretamente ao motorista. Aparen-
temente estariam passíveis de identificação os tradi-
cionais requisitos da relação de trabalho subordinado. 
Esta é uma realidade nova no mundo do trabalho 
que exige cautela e detido exame de prova quando 
for submetido ao exame do juiz. A partir daí, talvez o 
entendimento possa vir a se alterar. 
2. Tratamento legal em temas similares 
A atividade do motorista Uber, da mesma forma 
como de outros aplicativos (Cabify, WillGo, Easy 
etc.), possui algum controle do Estado, com a sanção 
da Lei n. 13.640, de 26.32018, que, ao alterar a Lei n. 
12.587, de 3.1.2012, passou a regulamentar o trans-
porte remunerado privado individual de passageiros. 
Com efeito, o inciso X do art. 4' da Lei n. 12.587/2012 
define transporte remunerado privado individual de 
passageiros, como sendo o serviço remunerado de trans-
porte de passageiros, não aberto ao público, para a realização 
de viagens individualizadas ou compartilhadas solicitadas 
exclusivamente por usuários previamente cadastrados em 
aplicativos ou outras plataformas de comunicação em rede. 
Não cuida a lei alterada de questões trabalhistas 
envolvendo motorista Uber ou similar e o aplicativo. 
Trata da regularização da atividade, reconhecendo a 
legalidade, e apenas a relação deste com o ente públi-
co, que cabe a concessão da autorização, Município 
ou Distrito Federal, como explicitado no art. 11-A da 
Lei n. 12.587/2012: 
"Art. 11-A. Compete exclusivamente aos Municípios e 
ao Distrito Federal regulamentar e fiscalizar o serviço de 
transporte remunerado privado individual de passageiros 
previsto no inciso X do art. 4º desta Lei no âmbito dos seus 
territórios. 
Parágrafo único. Na regulamentação e fiscalização do 
serviço de transporte privado individual de passageiros, 
os Municipios e o Distrito Federal deverão observar as se-
guintes diretrizes, tendo em vista a eficíêncía, a eficácia, a 
segurança e a efetividade na prestação do serviço: 
I - efetiva cobrança dos tributos municipais devidos 
pela prestação da serviço; 
II - exigência de contratação de seguro de Acidentes 
Pessoais a Passageiras (APP) e da Segura Obrigatório de 
Revista LTr. 83~10/1163 
Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de 
Vias Terrestres (DPVAT); 
III - exigência de inscrição do motorista como contri-
buinte individual do Instituto Nacional do Seguro Social 
(INSS), nas termos da alínea h da incisa V da art. 11 da Lei 
n. 8.213, de 24 de julho de 1991." 
Adiante, o art. 11-B da mesma lei apresenta as con-
dições para o motorista de aplicativo poder desenvol-
ver sua atividade, a saber: 
"Art. 11-B. O serviço de transporte remunerado priva-
do individual de passageiros previsto no inciso X do art. 4º 
desta Lei, nos Municípios que optarem pela sua regulamen-
tação, somente será autorizado ao motorista que cumprir as 
seguintes condições: 
I- possuir Carteira Nacional de Habilitação na cate-
goria B ou superior que contenha a informação de que exer-
ce atividade remunerada; 
li - conduzir veículo que atenda aos requisitos de 
idade máxima e às características exigidas pela autorida-
de de trânsito e pelo poder público municipal e do Distrito 
Federal; 
III- emitir e manter o Certificado de Registro e Licen-
ciamento de Veículo (CRLV); 
IV - apresentar certidão negativa de antecedentes 
criminais. 
Parágrafo único. A exploração dos serviços remunera-
dos de transporte privado individual de passageiros sem o 
cumprimento dos requisitos previstos nesta Lei e na regula-
mentação do poder público municipal e do Distrito Federal 
caracterizará transporte ilegal de passageiros." 
Preenchidos esses requisitos e essas condições, a 
atividade estará regularizada, o aplicativo poderá ser 
utilizado nas cidades brasileiras. Quanto à relação 
jurídica entre o trabalhador motorista e o aplicati-
vo, e o evenhlal reconhecimento de uma relação de 
emprego, a matéria ficará à conta da prova nas ações 
que eventualmente tramitarem na Justiça do Traba-
lho e ao bom senso e discernimento dos magistrados 
trabalhistas. 
De aduzir, ainda, que tramita o Projeto de Lei n. 
7.376/2017, que pretende cuidar do uso de aplicativos 
em rede de comunicação no transporte de passagei-
ros por meio de mototáxis, o que, de todas as formas, 
sinaliza mais um avanço nesse tipo de relação. 
Saber se os motoristas uberizados passaram à 
condição de empregados do aplicativo Uber Ou são 
apenas seus usuários é uma questão bastante tormen-
tosa, como já ternos destacado, e as posições conti-
nuam extremamente divergentes. 
Urna coisa já é certa: o motorista de aplicativo in-
dependente, o motorista Uber ou similar, está incluí-
do como microempreendedor individual, o MEl, nos 
termos da Resolução n. 148, de 2.8.2019, do Comitê 
Gestor do Simples Nacional. 
3. Jurisprudência e direito estrangeiro e jurispru-
dência brasileira 
Nos Estados Unidos, a Justiça americana está 
demonstrando tendência a reconhecer a relação de 
Revista LTr. 83-10/1164 
emprego<2>, e um projeto de lei no Estado da Califór-
nia pretende transformar em empregados os motoris-
tas da Uber e da Lift, atualmente contratados como 
independentes(3>. 
No Reino Unido, o Emplayment Appeals Tribunal 
(Tribunal de Recursos de Trabalho), situado em Lon-
dres, reconheceu, em 2017, dois motoristas da empre-
sa Uber como empregados, garantindo-lhes certos 
direitos trabalhistas (Appeal n. UKEAT /0056/17 I 
DA - Uber BV vs. Aslam (2017)''', e, foi retirada a 
licença para o aplicativo operar devido a "falta deres-
ponsabilidade corporativa". Em Portugal, a Lei n. 45, 
de agosto de 2018, cuida de um regime jurídico para 
a atividade de transporte individual e remunerado de 
passageiros em veículo descaracterizado, através de 
plataforma eletrônica, prevendo, inclusive, controle 
de jornada. Na Dinamarca, a Uber decidiu encerrar 
suas operações após a aprovação de regras mais rígi-
das, e ações judiciais têm sido ajuizadas contra ele na 
Espanha, Itália, Grécia e França{5). 
O Tribunal de Justiça da União Europeia, em acór-
dão de 20.12.2017, apreciand,o questão prejudicial en-
volvendo a Asociación Profesi~I Elite Taxi, Barcelona 
(Espanha), e a Uber Systems SJ]ain, ligada à Uber Tech-
nologies Inc., entendeu que a Uber não é apenas uma 
empresa de tecnologia, mas sim desenvolve uma ati-
vidade indissociavelmente vinculada a um serviço de 
transporte urbano não coletivo, não se tratando de um 
serviço de conexão digital (6>. 
No Brasil, desde sempre, existiram notícias de 
ações em vias de ajuizamento na Justiça do Traba-
lhd7J. V árias foram ajuizadas e julgadas. 
Nesse rol, no TRT da 3' Região, o RO 0010806-
62.2017.5.03.0011 admitiu a existência de vinculo em-
pregatício. Em síntese, entendeu que o motorista não 
exerce as atividades por sua iniciativa e conveniência, 
não se auto-organiza, nem deixa de se submeter ao 
(2) Cf. <http:l /gl.globo.com/economia/noticia/2016/08/juiz~ 
dos-eua-rejeita-tentativa-de-acordo-do-uber-com-motoristas.html>. 
Acesso em: 31 out. 2016. 
(3) Cf. https:/ /www.nytimes.coml2019/081291technology/ 
uber-lyft-ballot-initiative.html. Acesso em: 4 set. 2019. 
(4) Disponível em: <https:l lassets.publishing.service.gov.uk/ 
media/ 5a046b06e5274a0ee5a 1f171 IUber_B.V._and_Others_ v_ 
Mr_Y_Aslam_and_Others_UKEAT_0056_17 _DA.pdf>. Acesso em: 
18 ago. 2019. 
(5) Disporúvel em: https:l ltecnoblog.net/230495/uber-servico-
taxi-comissao-europeial. Acesso em: 17 ago. 2019. 
(6) A ementa do acórdão registra: Reenvio prejudicial - Artigo 
56, TFUE -Artigo 58, n. 1, TFUE- Serviços no dominio dns transpurtes 
- Diretiva 2006/123/CE - Serviços no mercado interno - Diretiva 
2000/31/CE- Diretiva 98/34/CE- Seroiços da sociedade da informação-
Serviço de intennediaçiio que pennite, através de uma aplimção para telefones 
inteligentes, estabelecer a ligação, mediante remuneração, entre motoristas 
não profissiomlis que utilizam o seu próprio veiculo e pessoasque pretendam 
efetuar deslocações urbaruls - Exigência de uma autorização. Disponível 
em: <http: I I cwia.europa.eu/juris/ document/ document.jsf?text=& 
docid= 198047 &pagelndex=O&dodang=pt&mod.e=lst&dir=&occ=first 
&part=1&cid=3218839>. Acesso em: 18 ago. 2019. 
(7) Cf. <http:l /www.em.com.brlapp/notic:ialeconomial 
2016 I 09 I 19 I internas_ economia,805379 I ex -motorista-do-uber-em-
bh·vai-a-justica-pedir-direitos-trabalhistas.shtml>. Acesso em: 31 
out. 2016. 
Vol. 83, ne 10, Outubro de 2019 
controle da empregadora. Trata-se de típico contrato 
de adesão com expressa previsão de que o motorista é 
obrigado a aceitar os termos e condições nele estipu-
lados. No que refere a subordinação, destacou que o 
motorista somente toma ciência do destino escolhido 
pelo usuário, quando o recebe em seu veículo e dá o 
comando de início da corrida. Destacou a Corte ainda 
a ausência de liberdade na estipulação do valor do 
trabalho prestado pelo próprio motorista de aplica-
tivo o afasta, completamente, da condição de autô-
nomo, e o fato de a avaliação do motorista realizada 
pelo cliente da corrida busca assegurar um padrão de 
qualidade dos serviços no interesse da empresa Uber, 
além de o motorista arcar com as despesas do veículo, 
representando, na realidade, talvez a face mais per-
versa das condições impostas pela empresa para o 
trabalho via aplicativo Uber. f8> 
O mesmo Terceiro Regional apresenta decisão 
diversa: 
"Motorista cadastrado no aplicativo Uber. Ausência de 
relação de emprego. A finalidade do aplicativo desen-
volvido e utilizado pela reclamada é conectar quem 
necessita da condução com quem fornece o transpor-
te, sem os pressupostos dos arts. 2º e 3º da CLT, em 
especial a pessoalidade e a subordinação jurídica, o 
que impede o reconhecimento da relação de emprego 
(R0-0010795-02.2017.5.03.0183, Relator: Convocado 
Danilo Siqueira de C. Faria, Quinta Turma)." 
Em sentido contrário, o TRT da 2ª Região, julgan-
do o RO 1001574-25.2016.5.02.0026, não reconheceu 
vínculo, e o aresto está assim ementado: 
"O sistema Uber, na verdade, vem a ser uma plata-
forma tecnológica, de modo a facilitar o contato entre 
o proprietário do veículo cadastrado e o cliente. Mal 
comparando com as cooperativas de táxi, a diferença 
é que os motoristas da empresa Uber têm a comodi-
dade de não precisarem aguardar os passageiros nos 
pontos de encontro nas ruas, podendo aguardar os 
chamados em casa, ou em qualquer outro local, facili-
tando a prestação do serviço para ambas as partes. Os 
meios tecnológicos servem para aprimorar e facilitar 
o modo de vida das pessoas. E, atuando o motorista 
em nome da empresa, e sendo ela também responsá-
vel por eventuais irregularidades que possam ser co-
metidas pelo condutor, cabe a ela estabelecer as regras 
de procedimento na execução dos serviços, o que não 
se confunde com o poder diretivo do empregador. A 
partir do momento em que o motorista se cadastra 
na plataforma da Uber, adere .a diversas cláusulas a 
fim de que a prestação dos serviços também seja uni-
forme e com qualidade. Os princípios constitucionais 
da livre-iniciativa e da livre concorrência (art. 1º, N 
c/c art. 170, III, da CF) garantem o desenvolvimen-
to econômico-produtivo livre, desde que pautado na 
(8) Disponível em: <https:l lpje-consulta.trt3.jus.br/consulta 
p roce ss u a 1/ detalh e 4 processo 1001 0806622017 5030011 >. 
Acesso em: 17 ago. 2019. Igualmente reconhecendo relação de 
emprego os processos 1000123-89.2017.5.02.0038, da 211 Região, e 
0011359.34.2016.5.D3.0112, da 311 Regia.o. 
Vol. 83, nº 10, Outubro de 2019 
função social da propriedade (art. 5º, XXIII c/ c art. 
170, III, CF)."'" 
Temos, então, que está plenamente caracterizado 
o dissenso jurisprudencial entre tribunais de segundo 
grau em nosso país, ensejando, e aguardando, a mani-
festação do Tnbunal Superior do Trabalho para indicar 
um norte a ser seguido, e, mais, pela via extraordiná-
ria, a apreciação do Excelso Pretória que, como palavra 
final, poderá apontar a direção que devem seguir os 
julgadores das instâncias inferiores. 
Note-se que, em 28 de agosto deste ano, o Superior 
Tribunal de Justiça (ST)) decidiu, no CC 164.544-MG, 
que é da competência da Justiça Federal, e não da Jus-
tiça do Trabalho, o exame de pedido de indenização 
em razão de cancelamento unilateral e suspensão do 
uso de aplicativo por motorista Uber, ao entendimen-
to de que se trata de contrato de natureza civil<10l. 
Passemos a fazer necessárias considerações sobre 
esse julgado. De início, haver uma equivocada in-
terpretação do inciso IX do art. 114 da Constituição, 
quando trata de outras controvérsias decorrentes da re-
lação de trabalho. Ademais, não pretendeu o autor da 
ação questionar matéria trabalhista, mas sim- e ai o 
acórdão está corretíssimo- obter o cumprimento do 
contrato que, a seu ver, estaria violado para retornar 
ao uso do aplicativo. 
Ora, devemos considerar alguns aspectos que 
chamam a atenção. O motorista de aplicativo pode 
ser um MEl, como tal não obsta que possa ser asse-
melhado a um pequeno empreiteiro (celebrado um 
contrato com o aplicativo para fazer transporte de 
passageiros). 
Sendo um pequeno empreiteiro, a competência para 
apreciação de demanda questionando até mesmo o 
contrato celebrado deveria ser da Justiça do Trabalho, 
a teor do art. 652, III, da CLT. É certo que não se trata 
de operário ou artífice na acepção mais tradicional das 
palavras, mas ninguém pode negar que esse motoris-
ta, como artífice, executa sua arte (dirigir) conforme as 
tarefas que lhe são atribuídas, e, como operário, deve-
mos admitir que se trata de todo aquele que trabalha, 
subordinada ou autonomamente. 
Devemos ressaltar, ainda, que o tema submetido 
à decisão do STJ versava apenas sobre competência. 
Esse deveria ter sido o limite da decisão: afirmar quem 
seria competente para apreciar a demanda. Acredita-
mos que a Corte Superior avançou sobre matéria que 
não lhe cabia apreciar naquele momento, mesmo por-
que, mesmo sem qualquer contraditório, ao afastar a 
possibilidade de existência até mesmo de relação de 
trabalho adentrou no mérito da ação, suprimindo ins-
tâncias que poderiam rever esse assunto. 
(9) Disponível em: <https:l lconsulta.pje.trtsp.jus.brlconsulta 
processual I pages I consultas I DetalhaProcesso .seam ?p _num_ 
pje=1214602&p__grau__pje=1&p_seq=1001574&p_vara=26&dt_autua 
cao=30%2F08%2F2016&cid=6654>. Acesso em: 17 ago. 2019. 
(10) Trata-se do CC 164.544-MG, de 28.82019. Rei.: Min. Moura 
Ribeiro (Disponível em: <https:l lww2.stj.jus.brlprocessolpesquis 
al?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&tenno=201900799 
520&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea>. Acesso 
em: 3 ago. 2019.) 
Revista LTr. 83-10/1165 
Assim, com a devida verua, entendemos que, 
quanto à decisão do ST), (1) o contrato celebrado 
entre o motorista de aplicativo e a plataforma cuida 
de relação de trabalho, e deveria ser apreciado pela 
justiça do Trabalho (art. 114, IX, da Constituição); (2) 
a condição de MEl atribuída pela legislação brasilei-
ra assemelha o motorista de aplicativo ao pequeno 
empreiteiro; (3) as questões relativas ao contrato de 
empreitada dessa natureza devem, também por esse 
fundamento, ser da competência da Justiça do Traba-
lho; (4) tudo leva a conduzir que o ajuste entre ambos 
é a consagração de um trabalho de natureza autôno-
ma, sem a subordinação habitual que encontramos no 
Direito do Trabalho tradicionaL 
De aduzir que, conquanto possa se tratar de uma 
nova modalidade de interação econômica, surgindo 
a sharing economy (economia compartilhada), quan-
do os motoristas, executores da atividade, atuam como 
empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com 
a empresa proprietária da plataforma, esse fato, relevan-
te sem dúvida, não afasta a existência de relação de 
trabalho entre ambos, sendo de consumo a relação 
entre o passageiro e o motorista de aplicativo, que, 
inclusive, por este é avaliado, sujeitando às sanções 
contratuais. 
4.Visão prospectiva 
O que se pode esperar da jurisprudência brasileira 
em termos de reconhecer ao não relação de emprego 
entre o motorista e o aplicativo (seja Uber, seja outro 
similar)? 
As expectativas conduzem ao reconhecimento do 
vínculo laboral subordinado, mesmo com a recente 
decisão do STJ que mencionamos acima, pelo menos 
nos próximos anos, porém é imperioso considerar o 
disposto no art. 442-B da CLT, introduzido pela Lei n. 
13.467/2017, dispondo: 
"Art. 442-B. A contratação do autônomo, cum-
pridas por este todas as formalidades legais, com ou 
sem exclusividade, de forma contínua ou não, afasta 
a qualidade de empregado prevista no art. 3º desta 
Consolidação." 
De acordo com esse dispositivo, apesar das deci-
sões no sentido de existir a liame empregatício, tudo 
leva a considerar que os motoristas de aplicativo se-
rão considerados autônomos, e, assim, terão afastada 
a condição de empregados. Corrobora que não deve-
mos esquecer que o motorista poderá utilizar, simul-
taneamente, outros aplicativos e, em sendo chamado, 
atender o pedido que lhe for mais conveniente. 
Com efeito, com a modernização flagrante das 
relações de trabalho, a precarização do emprego, e a 
busca por melhores condições de vida, poderá ense-
jar a existência do chamado Crowdsourcing ou Crowd-
work, caracteristicamente trabalho autônomo, aliado 
ao word-on-demand, fruto dessa GIG Economy que do-
mina o mundo e o dominará ainda mais futuramente. 
O próprio controle que existe atualmente, represen-
tado sobretudo pela avaliação feita pelo cliente, nada 
mais é do que a aplicação de complíance nesse tipo de 
Revista LTr. 83-10/1166 
relação, o que, por si só, não deve levar a fechar ques-
tão sobre a existência de vínculo empregatício. 
Afinal, não devemos esquecer que caminhamos 
para o carro autônomo e a tendência das cidades é a 
adoção de mecanismos extremamente fáceis e coleti-
vos de mobilidade urbana. 
I 
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Vol. 83, ne 10, Outubro de 2019 
Em resumo, a uberização não é reversível, certa-
mente será aperfeiçoada dia a dia, e, em vistas das 
mudanças interpretativas do conceito de subordi-
nação, afastará, futuramente, a relação de emprego, 
admitindo a existência de trabalho autônomo, no 
modelo sharing economy, que importa em economia 
compartilhada. 
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