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Disciplina: Laboratório de casos jurídicos I Aluno: Luiz Alberto Ramos Barbosa 20191101316 Campus: Tijuca/Noite PARECER JURÍDICO Ao professor RICARDO MOTTA VAZ DE CARVALHO A RELAÇÃO ENTRE MOTORISTAS E A UBER OU A 99, SOBRE A ÓTICA DO ART. 3º DA CLT COM BASE NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA. Inicialmente devemos esclarecer sobre a divergência entre os termos “relação de trabalho” e “relação de emprego”. Quando usamos o termo Relação de trabalho, estamos a falar de um vínculo jurídico no qual uma pessoa natural executa uma obra ou um serviço para alguém e recebe um pagamento por isso. Já para se estabelecer uma relação de emprego se faz necessário a presença de alguns requisitos como pessoalidade, não eventualidade, onerosidade, sob subordinação e ser pessoa física a realizar esse serviço. Ainda existe a modalidade de Contrato de Trabalho Intermitente, presente no art. 452-A da CLT, criada pela nefasta reforma trabalhista, sendo consolidada na Lei 13.467/17, que permite uma relação de trabalho sem garantias não havendo habitualidade e não cumpre os requisitos necessários. Os requisitos que caracterizam o vínculo trabalhista estão dispostos no artigo 3º da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), ipsis litteris. “Art. 3º, CLT – Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.” No entendimento de Mauricio Godinho Delgado: A CLT aponta esses elementos em dois preceitos combinados. No caput de seu art. 3º: Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Por fim, no caput do art. 2º da mesma Consolidação: Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. Tais elementos são, portanto: trabalho não eventual, prestado intuiu personae (pessoalidade) por pessoa física, em situação de subordinação, com onerosidade. (Delgado 2016). Dito isto, a controvérsia existe em grande, como podemos observar em julgados recentes. Em uma primeira analise o STJ decidiu que compete à justiça comum julgar ações de motoristas do aplicativo Uber contra a empresa de transporte. No entanto, o entendimento viola a Emenda Constitucional 45 e aumenta a insegurança dos motoristas. Processo: AIRR - 10543-26.2020.5.15.0129 AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE - VÍNCULO DE EMPREGO ENTRE MOTORISTA E PLATAFORMAS TECNOLÓGICAS OU APLICATIVOS CAPTADORES DE CLIENTES (UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.) - IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DIANTE DA AUSÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO JURÍDICA - TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA – DESPROVIMENTO.1. Avulta a transcendência jurídica da causa (CLT, art. 896-A, § 1º, IV), na medida em que o pleito de reconhecimento do vínculo de emprego envolvendo os recentes modelos de contratação firmados entre motoristas de aplicativo e empresas provedoras de plataformas de tecnologia por eles utilizadas ainda é nova no âmbito desta Corte, demandando a interpretação da legislação trabalhista em torno da questão. (...) 6. Assim sendo, não merece reforma o acórdão regional que não reconheceu o vínculo de emprego pleiteado na presente reclamação, ao fundamento de ausência de subordinação jurídica entre o motorista e a empresa provedora do aplicativo. Agravo de instrumento desprovido Em 11/04/22, no processo RR-100353-02.2017.5.01.0066, a Terceira Turma do Tribunal Superior do Trabalho reconheceu o vínculo de emprego entre um motorista de aplicativo e a Uber do Brasil Tecnologia Ltda. A maioria do colegiado, teve o entendimento que estão presentes, no caso, os elementos que caracterizam a relação de emprego: a prestação de trabalho por pessoa humana, com pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação. Nessa reclamação trabalhista o motorista do município de Queimados RJ, alegou que atuava como motorista de aplicativo uber por 13h diárias, sendo monitorado pela plataforma digital em questão e foi desligado emotivamente. O Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ) negou o vínculo de emprego, por entender que a Uber é uma empresa de tecnologia, e não de transporte. De acordo com a decisão, o motorista tinha plena liberdade de definir os dias e os horários de trabalho e descanso e a quantidade de corridas, não recebia ordens e fazia, por conta própria, a manutenção de seu veículo. O relator do recurso de revista do motorista, ministro Mauricio Godinho Delgado, observou que a solução do caso exige o exame e a reflexão sobre as novas e complexas fórmulas de contratação da prestação laborativa, distintas do sistema tradicional, e que se desenvolvem por meio de plataformas e aplicativos digitais, softwares e produtos semelhantes, “todos cuidadosamente instituídos, preservados e geridos por sofisticadas (e, às vezes, gigantescas) empresas multinacionais e, até mesmo, nacionais”. O ministro ponderou que a lógica de seu funcionamento tem sido apreendida por grandes corporações como oportunidade para reduzir suas estruturas e o custo do trabalho. Entendeu que a discussão deve ter como ponto de partida a função civilizatória do direito do trabalho e que existe uma omissão legislativa acerca do tema pois não há legislação que regule a questão de motoristas de aplicativo. Houve o reconhecimento de vínculo trabalhista e a turma retornou os autos a 66ª Vara do trabalho RJ. Processo: RR-100353-02.2017.5.01.0066 Com essa breve pesquisa devemos lançar um olhar no sentido de entender que a relação de emprego é um gênero dentro da espécie que é a relação de trabalho. Assim, sempre que se deparar com uma situação de relação de emprego em que a prestação de serviços realizada atende aos requisitos do vínculo empregatício acima mencionados, na esperança de nova decisão legislativa que venha a proteger essa categoria de trabalhadores que devido a pandemia de SAR SCOV-2, teve um aumento significativo nos últimos tempos sem de fato estarem sobe o manto protetor da CLT estando a mercê de entendimentos divergentes por parte do judiciário. Referencias: PLANALTO, CLT. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del5452.htm TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 4ª Turma não reconhece vínculo trabalhista entre UBER e motorista- Disponível em TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 3ª turma reconhece vínculo de emprego entre motorista e UBER- Disponível encurtador.com.br/gK469. DELGADO, Mauricio Godinho, Curso de direito do trabalho / Mauricio Godinho Delgado. 15. ed. São Paulo 2016.)