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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – CAMPUS CABO FRIO Nome: Juliana Pacheco Barreto Matrícula: 20161100859 Disciplina: Direito Tributário I Professor: Carlos Eduardo Annechino Moreira Miguel Extrafiscalidade e Normas Tributárias com efeitos indutores no Sistema Tributário Nacional Iguaba Grande 2020.2 Extrafiscalidade e Normas Tributárias com efeitos indutores no Sistema Tributário Nacional • Conceito de Extrafiscalidade A doutrina estabeleceu dois conceitos quanto à instituição de um tributo, a primeira, diz que toda prestação pecuniária compulsória, em moeda, ou cujo valor nela se possa exprimir, não constitui sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada, sendo elas a fiscalidade e a extrafiscalidade. A fiscalidade tem o propósito meramente arrecadatório para acúmulo de recursos que custeiem as atividades estatais. Já na extrafiscalidade, o tributo não surge com mera função arrecadatória, mas com função precípua, com base no conceito restrito de extrafiscalidade, para modificar comportamentos e induzir condutas, podendo inibi-las com progressividade de alíquotas. O conceito de extraficalidade consiste no uso de instrumentos tributários para obtenção de finalidades não arrecadatórias, mas estimulantes, indutoras ou coibidoras de comportamento, tendo em vista outro fins, a realização de outros valores constitucionalmente consagrados. Desta maneira, a extrafiscalidade pode incidir sobre aspectos sociais, culturais e econômicos, pois relaciona-se com os deveres constitucionais do Estado em manter a ordem social, política e econômica. O fenômeno da extrafiscalidade é recorrer aos tributos com o intuito de atuar diretamente sobre os comportamentos sociais e conômicos dos contribuintes, por intermédio de normas que, ao preverem uma tributação, possuem em seu bojo uma técnica de intervenção ou conformação social por via fiscal. São os tributos extrafiscais que podem ser traduzidos em agravamentos ou benefícios fiscais dirigidos ao implemento e estímulo de certas condutas. Contudo, a função extrafiscal não se consubstancia apenas em não retirar a função arrecadatória, mas coloca-se em plano secundário, tendo como função basilar estimular ou desestimular condutas. Desta maneira, a extrafiscalidade tem um objetivo excepcional de um tributo, ultrapassando a pura captação de recursos, refletindo em diversos âmbitos da sociedade. • Fundamentos O Princípio da supremacia do Interesse Público é o principal fundamento da extrafiscalidade, inerente a qualquer sociedade ou condição de existência, pois é um dos principais fios condutores da conduta administrativa, a existência do Estado somente tem sentido se o interesse a ser por ele perseguido e protegido for o interesse público e /ou interesse da coletividade, nas palavras de Celso Antônio de Mello. Porém, este Princípio não é absoluto, devendo ser ponderado e interpretado com base nos demais princípios constitucionais e tributários, sob pena de afetar a unidade da Constituição, que fundamenta essa finalidade e a legitima, com exceção do seu art. 150, que tem rol taxativo. Para gerar efeitos, deve constar do texto legal, de modo que a Constituição Federal e o Código Tributário Nacional disponham dos casos em que se autorizam a finalidade extrafiscal do tributo e, com base nisso, entende-se que a extrafiscalidade pode ser uma alternativa viável, dentre várias possibilidades jurídicas, que nos dão esperança de uma justiça fiscal e social. • Legitimidade Constitucional da Extrafiscalidade Para que seja configurada a legitimidade constitucional da extrafiscalidade, a lei instituidora precisa basear-se em princípios justos aplicados ao caso concreto, não havendo possibilidade de existência de arbitrariedade. Desta feita, a finalidade extrafiscal é legítima e plenamente admissível, observando- se o Princípio da Razoabilidade. Com base nesse princípio, a seleção de critérios juridicamente fundamentados pode dar legitimidade à seletividade ou à progressividade de alíquotas, tornando-o compatível com a política de desenvolvimento financeiro e social. Com isso, justifica-se a desigualdade tributária individual pela persecução da igualdade social, paradigma do Estado Democrático de Direito, posto a Supremacia do Interesse Público. Visando uma política de implementação de comportamentos, podem realizar estudos e adotar alíquotas diferenciadas, desde que obedeçam a tais limites, que podem ser implementadas pela União, Estado, Municípios e Distrito Federal, observadas as competências de cada um. • Contexto Histórico Após a Revolução Francesa de 1789, que consagrou os princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, houve um certo liberalismo, posto que o Estado deixou de intervir veementemente como antes fazia, o que refletiu em um caráter puramente fiscal dos tributos, baseando-se nas “Leis Naturais”, preceituada por Luís Eduardo Schoueri. Todavia, reiteradas crises econômicas sobrevieram, sobretudo a crise de 29, bem como a Segunda Guerra Mundial, suscitou-se novamente a necessidade da Intervenção do Estado nos âmbitos econômicos e sociais, posto que a economia não se autorregulava inteiramente sozinha e precisava-se suprir as desigualdades sociais. Desta forma, culminou-se no Estado Social – Welfare State, de grande intervenção em busca da tutela do bem social. Com o endividamento Estatal e o fracasso do Estado Social, surgiu o neoliberalismo, passando o Estado a intervir regulando e normatizando as relações econômicas e sociais. Nesse contexto, promulgou-se a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, constituindo um Estado Democrático de Direito. Na época, não era necessária a extrafiscalidade, pois a doutrina considerava as “Leis Naturais”, não cabendo o Estado intervir. Com a necessidade de regulação decorrente desse modelo, surgiram os Impostos Extrafiscais, com o intuito de induzir comportamentos, regulando os âmbitos sociais e econômicos, por meio de um intervencionismo mitigado. • Normas Tributárias Indutoras de Condutas Pela necessidade de regulação econômica e social pelo Estado, utiliza-se da indução de comportamento, como um dos meios essenciais para atingir essa finalidade. No âmbito Tributário, essas normas indutoras de comportamentos, denominam-se extrafiscalidade, podendo consubstanciar-se pela positividade, por meio de benefícios, imunidades, isenções e regressividade de alíquotas, ou negativamente, desincentivando. Os incentivos ficais, portanto, como a redução de IPI, são instrumentos hábeis à indução econômica, pois trata-se de uma estratégia relativamente simples, mas que exige habilidade complexa no entendimento da economia, para que os resultados apareçam de forma efetiva. Configuram-se nas seguintes espécies tributárias: 1- Impostos: No ordenamento jurídico, o IPI, IOF, II e IE, ICMS são impostos com finalidades extrafiscais de indução, mormente, de condutas econômicas, inferindo, assim, na Balança Comercial. A CRFB/88 também prevê a utilização como tributo extrafiscal do ITR e IPTU, na busca de assegurar a função social da propriedade. Por outro lado, o ITR pode atual extrafiscalmente com vistas a sustentabilidade e preservação do meio ambiente, com base no art. 225 da CRFB/88. 2- Taxas: As taxas também podem ter efeito extrafiscal, apesar do preceito de vinculação dos tributos a atividade que ensejou sua incidência. Como exemplo, temos a TPA, que se assemelha a Green Tax Revolution, presente no ordenamento jurídico português e em diversos ordenamentos europeus. Neste passo, a tava pode cumprir a finalidade extrafiscal que ensejou sua criação, ou seja, induzir condutas, no caso da TPA e Green Tax Revolution, condutas de preservação do meio ambiente. A taxa Selic também éum exemplo de taxa com finalidade extrafiscal. 3- Contribuições: O caso mais pragmático de extrafiscalidade nas Contribuições faz-se presente na CIDE, espécie de Contribuição Social, que induz condutas para intervenção no domínio e mercado econômico. Essa intervenção, no entanto, tem caráter extraordinário, ligado a fiscalidade, posto que as despesas dessa atuação são supridas com o montante derivado da arrecadação dessa contribuição. 4- Outras medidas: Existem outras medidas de caráter extrafiscal, como o SIMPLES, criado pela lei 91317/96, que constitui um estímulo a regularização da economia informal e à criação de pequenas empresas, facilitando o crescimento delas. • Valores Tutelados pelos Tributos Extrafiscais Pode-se dizer que, ao induzir e regular comportamentos da sociedade, o imposto extrafiscal, mesmo no sentido restrito, busca tutelar certos valores de ordem constitucional, já que verificam como basilares para consecução de fins econômicos, sociais e culturais. São eles: 1- Desenvolvimento Econômico e Social: Valor presente na Constituição e necessário para consagrar outros direito de ordem fundamental, como a regulação sobre Operações Financeiras. 2- Propriedade Privada (art. 5°, caput, CRFB/88): Garantia que brasileiros e residentes têm à propriedade, devendo o Estado protegê-la, uma vez que o povo brasileiro entendeu ter a necessidade de ser tutelado, como o caráter progressivo do IPTU. 3- Livre Iniciativa e Livre Concorrência (arts. 170, 173 e 174 da CRFB/88): Baseia-se em um regime econômico nacional, onde cabe a iniciativa privada, a exploração de atividades, cabendo, apenas subsidiariamente, ao Estado a atuação em casos específicos do art. 173 da CRFB/88. Assim, o Estado atua como agente normativo e regulador da atividade econômica, como a regulação da livre concorrência por meio do imposto de importação e exportação. 4- Meio Ambiente (art. 170 da CRFB/88): Ao assegurar a todos a existência digna, destaca-se que, para isso, deve ser vislumbrado o princípio de defesa do meio ambiente, como as aplicações de tributos, que condicionem em atitudes sustentáveis, visando a preservação do meio ambiente. 5- Desenvolvimento Científico e Tecnológico (art. 218 da CRFB/88): Designa ao Estado o dever e a competência de promover e incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico, autorizando os Estados, Municípios e Distrito Federal a vincularem uma parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas, que incentivem o ensino e o desenvolvimento científico e tecnológico. 6- Apoio à Educação, Cultura e Desporto (art. 150, 205, 216 e 217 da CRFB/88): Por fim, há a tutela aos valores da Educação, da Cultura e do Desporto, como a imunidade quanto a livros, periódicos, jornais e o papel destinado a sua impressão em instituições de educação sem fins lucrativos, previsto no art. 150, VI – C, D e E. Por meio de tributos fiscais, estas condutas são condicionadas como incentivos. • Limitações ao Poder de Tributar frente à Extrafiscalidade As limitações ao poder de tributar disciplina-se através de princípios Constitucionais e tributários, junto com os casos referentes a imunidades tributárias. Todavia, o importante é visualizar as limitações frente à finalidade extrafiscal, já que possui peculiaridades em relação a finalidade fiscal: mera arrecadação. ➢ Quanto aos Princípios 1- Princípio da Legalidade (art. 150, I, CRFB/88): Independente do assunto versado, tem aplicação obrigatória, devendo ser observado pelo tributo, com a finalidade extrafiscal, do mesmo modo que qualquer outro tributo deve respeitar. 2- Princípio da Capacidade Contributiva: Cada um que arca com o imposto, conforme sua capacidade de contribuir, sendo especificado por lei as alíquotas. Quanto à extrafiscalidade, verifica-se que quanto a capacidade contributiva, que não será afrontada. No entanto, não é possível dizer o mesmo da capacidade contributiva objetiva, pois não se utiliza objetivamente esse princípio na instituição de tributos de finalidade extrafiscal. 3- Princípio da Anterioridade Nonagesimal: As normas indutoras são dispensadas na maior parte dos casos, mormente em casos de indução no ambiente econômico, geralmente em imposto, por tratar-se de tributo regulatório. 4- Princípio da Não Surpresa: É possível vislumbrar que, como pode ser dispensado nos casos da finalidade extrafiscal, não necessariamente deve ser respeitado, pois, muitas das vezes, podem haver situações econômicas que necessitem de medida momentânea, não podendo ser adiada, sob pena de ineficácia, já que as conjunturas se alteram, muitas vezes em um curto prazo. Porém, em caso de majoração, deve ser respeitado, mesmo que apenas quanto a anterioridade nonagesimal. 5- Princípio da Irretroatividade: A irretroatividade para antes do fato gerador geraria insegurança jurídica tributária, uma vez que a extrafiscalidade tem intensa ligação com eles mentos essenciais aos tributos, com base na ideia de que poderia retroagir a fatos anteriores a uma norma que aumentasse as alíquotas, posto que não o contribuinte não teria a prerrogativa de escolha entre praticar ou não a conduta. 6- Princípio do Não Confisco: Há a possibilidade de criação de tributo. Não obstante, deve-se entender que o mesmo majora o imposto a um ponto elevado, buscando a utilização com função social da terra, e não do confisco, mudando condutas. Desta feita, não há que se falar em confisco, tanto nos tributos de finalidade fiscal, como nos de extrafiscal. 7- Princípio da Isonomia: Como a finalidade extrafiscal é instituto de Direito Tributário, logo deverá seguir a premissa da igualdade disposta no art. 5° da CRFB/88. ➢ Quanto as imunidades tributárias Não conflitam com os tributos extrafiscais, posto que nada impedem que instituam esta forma limitativa. Contudo, apenas serão possíveis nos casos em que o sujeito passivo do benefício da imunidade desenvolva atividade em domínio econômico. Quanto a limitação ao poder de tributar frente a extrafiscalidade, apesar do entendimento de Schoueri, de que a CRFB/88 exige do Estado mais do que a neutralidade ínsita à fiscalidade, devendo utilizar a tributação como forma de concretizar valores, bem como do crescimento de necessidade decorrente desse instituto, para evitar abusos, deve- se respeitar o princípio da subsidiariedade do Distrito Federal, como preceitua Suzana Tavares da Silva, onde essa via só deve ser utilizada quando nenhuma outra medida regulatória se revelar eficaz e adequada. Conclusão Constata-se a importância da extrafiscalidade para o desenvolvimento Econômico e Social, por meio da instauração de tributos com essa finalidade basilar, pois percebe-se que apesar do objetivo precípuo da tributação ser a captação de recursos para possibilitar a máquina Estatal, a finalidade Extrafiscal do Tributo vem erguendo- se, tornando-se tão importante quanto a arrecadação, pois essa finalidade mostra-se de grande impacto no âmbito econômico e social por meio da indução de condutas, seja estimulando ou desestimulando-as. Assim, tutelando certos valores e tendo sua atuação legitimada, mormente em consequência do seu fundamento derivar da Supremacia do Interesse Público.
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