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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO PAULO-SC. GAMBÁ, (Nacionalidade), (Profissão), (Estado Civil), portador da Carteira de Identidade nº, inscrito no CPF sob o nº, residente e domiciliado na Rua, nº, Bairro, Cidade, Cep, no Estado de , por seu procurador infra-assinado, com escritório profissional situado à Rua, nº, Bairro, Cidade, Cep, no Estado de, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., com fulcro no artigo 403 §3º do Código de Processo Penal, apresentar Alegações Finais pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. 1 – RESUMO DOS FATOS Gambá foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 155, parágrafo 4º, inciso III, combinado com o artigo 14, II, ambos do Código Penal Brasileiro, porque teria no dia .... de .... de ...., por volta de ... horas, de posse de instrumento conhecido por "micha", aberto o veículo de marca Renault e modelo conhecido como Clio, de propriedade de ...., avaliado em R$ .... que se encontrava estacionado na Rua .... nº ...., na comarca, e que quando o denunciado já se encontrava no interior do veículo, providenciando ligar o arranque, visando subtraí-lo, foi surpreendido pela vítima, que com auxílio de populares o prenderam em flagrante delito, sendo que não obteve êxito na subtração pretendida por circunstâncias alheias a sua vontade. 2 – PRELIMINARES 3 – DO MÉRITO 3.1 – NEGATIVA DE AUTORIA Em momento algum, durante a instrução do processo foram apresentadas provas que pudessem incriminar o Acusado, sendo as declarações da vítima o único indício da existência do delito. Em seu depoimento, Gambá negou, veementemente, qualquer participação no crime em tela, assim nos termos disposto no artigo 386 inciso III - "não constituir o fato infração penal”. Vale destacar o posicionamento jurisprudencial majoritário: "Pois às palavras do réu deve ser dado crédito, se na ausência de testemunhas outra prova existe nos autos que a contrarie." TJMT - RT 452/440. Ora, constitui um princípio elementar de direito e uma garantia constitucional a presunção de inocência, ou seja, o Acusado é inocente até que se encontre prova em contrário. Extremamente pertinentes são as palavras do brilhante doutrinador Heleno Cláudio Fragoso em sua obra Jurisprudência Criminal: "Nenhuma pena pode ser aplicada sem a mais completa certeza da falta. A pena, disciplinar ou criminal, atinge a dignidade, a honra e a estima da pessoa, ferindo-a gravemente no plano moral, além de representar a perda de bens ou interesses materiais". 3.2 – DA PRIMARIEDADE E DOS BONS ANTECEDENTES E DA APLICAÇÃO DA PENA-BASE NO MÍNIMO LEGAL Em virtude de o réu ser primário e de bons antecedentes, faz-se necessária a aplicação da pena-base no mínimo legal. Não tem sido outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, conforme se demonstra. HC 29147/SP; Relatora Ministra Laurita Vaz; Quinta Turma, DJ de 16.02.2004, p.280 “Na esteira dos precedentes que informam a jurisprudência desta Corte, fixada a pena-base no mínimo legal, porquanto reconhecidas as circunstâncias judiciais favoráveis ao réu primário e de bons antecedentes, não é cabível infligir regime prisional mais gravoso apenas com base na gravidade genérica do delito. Inteligência do art. 33,§2º e 3º, c/c art. 59, ambos do Código Penal.” Desta feita, reconhecidas as circunstâncias judiciais da primariedade e dos bons antecedentes, faz-se necessária a aplicação da pena-base no seu mínimo legal. Em se tratando de crime de furto, o art. 155 do Código Penal prevê a punição numa escala de 1 (um) a 4(quatro) anos. Na hipótese de o réu ser primário e de bons antecedentes a pena-base deve ser fixada em 1 (um) ano. 3.3 - DO REGIME ABERTO PARA O CUMPRIMENTO DA REPRIMENDA Em se tratando de crime cuja pena imposta não superará os quatro anos, deverá ser fixado o regime aberto para o cumprimento da reprimenda. Aliás, os Enunciados 718 e 719 da Súmula do Supremo Tribunal Federal são expressos: “718. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.” E ainda: “719. A imposição de regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.” É bem dizer, portanto, que a gravidade do crime, por si só, não representa fundamento idôneo para a fixação de regime de cumprimento de pena diverso do que estabelecido em lei. Sendo assim, considerando a primariedade e os bons antecedentes do acusado, não há absolutamente nada que indique que deverá ser fixado regime semiaberto ou fechado para o cumprimento da reprimenda. 3.4 - SUBSTITUIÇÃO POR RESTRITIVA DE DIREITO OU MULTA Conforme prevê o art. 44 do Código Penal é possível à substituição de penas privativas de liberdade por restritivas de direitos se o delito praticado não o for com violência ou grave ameaça à pessoa, a pena de reclusão imposta não ultrapassar o limite de quatro anos e o agente preencher os requisitos subjetivos para receber o benefício. Em restando desabrigadas as teses oras esposadas, requer, o acusado, desde já, a Substituição da Pena Privativa de Liberdade, por ventura aplicada, por uma ou mais Penas Restritivas de Direitos, já que preenche todos os requisitos exigidos pelo artigo 44 e seguintes do Código Penal. É forçoso reconhecer, como dito, que o ora Acusado atende a todos os citados requisitos exigidos; a saber: 1- Se aplicada pena privativa de liberdade, a mesma não deverá passar de 4 anos (tendo em vista a natureza do delito, as circunstâncias do mesmo, bem como a condição do acusado); 2- O acusado é primário. Nesse passo, não restam dúvidas de que o acusado, acaso condenado a pena privativa de liberdade, preenche os requisitos dispostos no artigo 44 e incisos do Código Penal, tendo DIREITO à Substituição da Pena Corporal por ventura aplicada por uma ou mais Penas Restritivas de Direito. Assim se Vossa Excelência entender melhor aplicar multa como medida. Quer ainda, respeitado o princípio da eventualidade, caso não seja aquele o entendimento de Vossa Excelência, acrescentar que não procede a qualificadora descrita na inicial com relação a chave falsa. O objeto apreendido, e que informa que se encontrava em poder do réu, trata-se do objeto vulgarmente chamado de "micha", sendo que as próprias testemunhas informaram que não sabiam do que se tratava, e foram informados pelos policiais que se tratava de chave falsa. Ora, é entendimento dominante na jurisprudência, que a "micha" não deve ser considerada para qualificar o crime. Neste sentido JUTACRIM 73/396, que a seguir colacionamos: "Chave falsa, como é referido no nº III do parágrafo 4º do artigo 155 do C. P. é chave mesmo, não se lhe equiparando o objeto cujo labor do agente conduziu ao contorno de chave. Mas a 'micha' sequer se assemelha à chave."
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