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Parasitologia Aula 1: Relação parasito-hospedeiro Apresentação Nesta aula, estudaremos a relação entre os parasitos e os hospedeiros e o conceito de parasitismo e doença. Veremos também importância do sistema imunológico e do estado nutricional do hospedeiro, a necessidade dos estudos epidemiológicos nas doenças parasitárias e conceitos como ciclos biológicos dos parasitos. Além disso, analisaremos parasitos facultativos e obrigatórios, parasitos monóxenos e heteróxenos, hospedeiro de�nitivo e intermediário, vetor e tipos de ciclos biológicos. Por �m, compreenderemos a patologia, o tratamento e a pro�laxia para cada doença parasitária. Objetivo Reconhecer a importância do estudo de parasitologia; Descrever a classi�cação dos parasitos; Identi�car as formas de transmissão dos parasitas. Introdução à parasitologia A parasitologia é uma ciência que estuda as relações entre o hospedeiro (aquele que abriga) e os parasitos. Os parasitos são aqueles que dependem do hospedeiro para viver, causando-lhe injúrias e prejuízos que podem afetar seu desempenho orgânico, físico e mental e até levar à morte. Podem viver no interior ou exterior do seu hospedeiro e podem, ou não, ter mais de um hospedeiro para completar o seu ciclo de vida. Qual a importância de estudar parasitologia? Clique no botão acima. Qual a importância de estudar parasitologia? As doenças parasitárias evoluíram com os humanos e continuam em constante evolução. Podem impactar a vida de uma comunidade inteira, assim como a malária fez na África, mudando o per�l sanguíneo da população que precisava sobreviver às recorrentes infecções. Atualmente, o estudo da parasitologia vem ganhando destaque, principalmente devido ao movimento de globalização, pois doenças que antes não ocorriam em determinada região passaram a fazer vítimas. Dessa maneira, novas fronteiras epidemiológicas estão se abrindo e o estudo da parasitologia humana se faz cada vez mais necessário para o diagnóstico e tratamento adequado dessas parasitoses. Mesmo os países desenvolvidos que apresentam grande avanço tecnológico, alto padrão educacional, boa nutrição e boas condições sanitárias, estão sujeitos a doenças parasitárias. E é claro que países onde a população tem condições precárias de higienização e de nutrição estão mais propensos à contaminação por parasitoses. Em geral, esses países encontram-se em zonas tropicais, que possuem elementos ambientais, como a temperatura, que ajudam na propagação de muitas parasitoses. Exemplo A Doença de Chagas é um bom exemplo, pois, por 9.000 anos, �cou restrita às populações da América do Sul, mas hoje ganhou regiões como o norte dos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Formas de transmissão dos parasitas O parasita é capaz de se reproduzir disseminando seus ovos, e estes costumam infectar outros hospedeiros, dos quais eles retirarão seus meios de sobrevivência por meio do parasitismo. Veja as formas como são transmitidos: Entre os seres humanos, através do contato pessoal ou do uso de objetos pessoais e pelas mãos sem a devida higienização; Por meio da água e alimentos contaminados com ovos ou cistos; Pela poeira; Pelo solo e água contaminados por larvas. Classi�cação dos parasitas A parasitologia abrange o estudo de parasitos de importância médica e veterinária que são classi�cados em grandes grupos. Os principais são: PROTOZOÁRIOS HELMINTOS ARTRÓPODES Exemplos de protozoário (Giardia lamblia), helminto (Enterobius Vermicularis) e artrópodes (Piolho) | Fonte: shutterstock Classi�cação das relações Independentemente do hospedeiro a ser contaminado, o parasito tem como objetivo sobreviver, se multiplicar e se propagar para outros hospedeiros, garantindo a manutenção da sua própria espécie. Portanto, um parasito ideal é aquele que está em constante evolução com o seu hospedeiro, que não causa danos letais ou provoque doenças severas, evitando, assim, colocar a vida do hospedeiro em risco, já que isso levaria à extinção do próprio parasito, que não teria tempo hábil para se multiplicar e se expandir. Podemos classi�car as relações entre os seres vivos inicialmente em dois grupos: Relações harmônicas ou positivas Ocorrem entre organismos de espécies diferentes. São elas: 1 Mutualismo Íntima associação, benefício mútuo e associação de protozoários e bactérias no rúmen dos bovinos. 2 Comensalismo Uma das espécies obtém vantagens sem prejudicar a outra (hospedeiro), como, por exemplo, Entamoeba coli no intestino grosso do homem. 3 Simbiose Associação entre seres vivos, na qual há troca de vantagens em tal nível que esses seres são incapazes de viver isoladamente. 1 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Relações desarmônicas ou negativas Clique nos botões para ver as informações. http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0139/aula1.html Trata-se de uma relação desarmônica em que exemplares da mesma espécie (competição intraespecí�ca) ou de espécies diferentes (competição interespecí�ca) lutam pelo mesmo alimento ou abrigo. A competição é um importante fator de regulação do nível ou número populacional de certas espécies, como, por exemplo, moscas Calliphoridae e Sarcophagidae. Competição Quando um animal mais ativo ou mais forte se alimenta de outro menor ou mais fraco da mesma espécie ou da mesma família. É uma associação desarmônica que quase sempre ocorre devido à superpopulação e à de�ciência alimentar no criadouro. Canibalismo Quando uma espécie se alimenta de outra espécie, de forma que a sobrevivência de uma dependa da morte da outra (cadeia alimentar). Predatismo Trata-se da relação ecológica desenvolvida entre indivíduos de espécies diferentes em que se observa uma associação íntima e duradoura, uma dependência metabólica de grau variável, em que o hospedeiro é espoliado pelo parasito, fornecendo alimento e abrigo para este. É o caso, da Entamoeba histolytica, no intestino grosso humano. Parasitismo Critérios de classi�cação Os parasitas podem ser classi�cados segundo vários critérios: Clique nos botões para ver as informações. Monóxenos ou monogenéticos Realizam os seus ciclos evolutivos em um único hospedeiro. Exemplos: Ascaris lumbricoides (lombriga) e Enterobius vermicularis (oxiúrio). Heteróxenos ou digenéticos Só completam os seus ciclos evolutivos passando pelo menos em dois hospedeiros. Exemplos: Schistossoma sp e o Trypanosoma cruzi. Quanto ao número de hospedeiros Ectoparasitas Localiza-se nas partes externas dos hospedeiros. Exemplos: sanguessuga, piolho, pulga etc. Endoparasitas Localizam-se nas partes internas dos hospedeiros. Exemplos: tênia (solitária), lombriga, esquistossomo etc. Quanto à localização nos hospedeiros Unicelulares Possuem uma única célula que apresenta o núcleo organizado, ou seja, está separado do citoplasma pela membrana nuclear. São, portanto, organismos eucariontes. Exemplos: protozoários. Pluricelulares Organismos formados por conjuntos de células semelhantes e interdependentes que desempenham uma ou mais funções. São, portanto, também, organismos eucariontes. Exemplos: helmintos. Quanto ao número de células Características biológicas Veja as principais características biológicas dos parasitos: 1 Capacidade reprodutiva Produção de grandes quantidades de ovos, cistos ou outras formas infectantes. 2 Tipos de reprodução Reprodução mais fácil ou mais segura: hermafroditismo, partenogênese, esquizogonia, entre outros. 3 Tropismos Para facilitar a propagação, reprodução ou sobrevivência. Modalidades de parasitismo O parasitismo pode ser: Acidental Normalmente tem vida livre. Exemplo: Larvas de moscas. Facultativo Pode haver vida livre. Exemplo: Strongyloides stercoralis. Obrigatório Para completar seu ciclo, necessita ser parasita. Exemplo: Toxoplasma gondii. Habitat É o ecossistema, local ou órgão, onde determinada espécie ou população vive. Nesses locais, essesanimais têm abrigo e alimento. O Giardia lamblia tem por hábitat o intestino delgado humano. | Fonte: shutterstock Principais tipos de habitat dos parasitos Aparelho digestório principalmente luz e órgãos anexos; Sistema vascular sanguíneo, temporário ou permanente; Sistema linfático; Pele; Aparelho respiratório; Aparelho geniturinário; Diferentes tecidos - Sistema Fagocítico Mononuclear (SFM). 2 Tipos de hospedeiros http://estacio.webaula.com.br/cursos/go0139/aula1.html Clique nos botões para ver as informações. Hospedeiros intermediários Alberga formas imaturas ou assexuadas do parasito. Exemplo: Homem para o Plasmodium. Hospedeiros de�nitivos Alberga formas mais maduras, desenvolvidas ou sexuadas do parasito. Exemplo: Anopheles para o Plasmodium. Formas do parasito que o hospedeiro alberga Reservatório Garante a sobrevivência do parasito na natureza. Exemplo: roedores para o T. cruzi. Transmissão Vetores mecânicos Participa ativamente na transferência do parasito de um reservatório para outro. Exemplo: Moscas, baratas para cisto de protozoários. Vetores biológicos Participam ativamente na evolução do ciclo de vida do parasito. Exemplo: Triatomíneo para o T. cruzi. Função do hospedeiro Relação parasito-hospedeiro Existem diversos tipos de interação entre os parasitos e seus hospedeiros. Mas, com frequência, provocam uma resposta do sistema imunológico com diferentes resultados, como 1 Destruição do próprio parasito e cura da infecção; 2 Limitação da população parasitária, levando ao equilíbrio da relação; 3 Hipersensibilidade ou in�amação, podem levar à necrose do tecido em torno. Nem sempre a presença de um parasito em um hospedeiro indica que está havendo ação patogênica do mesmo. Em geral, os distúrbios que ocorrem são de pequena monta, pois há uma tendência de haver um equilíbrio entre a ação do parasito e a capacidade de resistência do hospedeiro. Dessa forma, vê-se que a ação patogênica dos parasitos é muito variável, podendo ser dos seguintes tipos: Ações Patogênicas Clique no botão acima. Ações Patogênicas Ação espoliativa Parasito absorve nutriente ou sangue do hospedeiro, podendo, inclusive, deixar pontos hemorrágicos na mucosa após a sucção. Exemplo: Ancilostomíase. Ação tóxica Algumas espécies são capazes de produzir enzimas ou metabólicos que podem causar lesões no hospedeiro. Exemplo: Ascaridíase. Ação mecânica Algumas espécies são capazes de impedir o �uxo de alimento, bile ou absorção alimentar. Exemplo: Giardíase. Ação traumática Provocada, principalmente, por formas larvárias de helmintos, embora vermes adultos e protozoários também sejam capazes de fazê-lo. Exemplos: Migração cutânea e pulmonar pelas larvas de Ancylostomatidae; Úlceras intestinais provocadas pelos Ancylostomatidae e Trichiura; Rompimento das hemácias pelos Plasmodium. Ação irriativa Alguns parasitos têm a propriedade de sensibilizar o organismo humano, causando fenômenos alérgicos. Neste caso, a ação irritiva ocorre quando há a presença constante do parasito que, sem produzir lesões traumáticas, irrita o local parasitado. Exemplo: Ação das ventosas dos Cestoda ou dos lábios dos A. lumbricoides na mucosa intestinal. Ação enzimática Acontece quando cercárias de S. Mansoni penetram na pele para obter alimentos assimiláveis ou quando há ação da E. histolytica ou do Ancylostomatidae para lesar o epitélio intestinal. Exemplos: Como vimos na de�nição, cercárias de S. Mansoni na pele ou a E. histolytica ou Ancylostomatidae no intestino. Anóxia Falta de oxigênio ou estado de oxigenação insu�ciente dos tecidos. Qualquer parasito que consuma o O2 da hemoglobina, ou produza anemia, é capaz de provocar uma anóxia generalizada. Exemplo: Plasmodium ou infecções maciças causadas pelo Ancylostomatidae. Mecanismo de defesa do hospedeiro Há dois tipos de barreiras que protegem o hospedeiro contra os parasitas: Clique nos botões para ver as informações. Anatômicas ou �siológicas - pele, pH cutâneo; secreção mucoide; movimentos ciliares; secreção lacrimal; suco digestivo. In�amação – fagocitose; secreção de citocinas inespecí�ca; Interferon (IFN). Sistema complemento - efetuador da resposta imune especí�ca. Barreiras inespecí�cas Imunidade - resposta humoral/anticorpos; resposta celular/citocinas. Barreiras especí�cas Epidemiologia Trata-se da ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades e de seus determinantes (fatores de risco) em uma população. E quais são os objetivos dos estudos epidemiológicos na parasitologia? Explicar as causas das parasitoses; Estudar a história natural das enfermidades; Descrever o estado de saúde da população; Avaliar intervenções ou programas de saúde. Relação epidemiológica Clique no botão acima. Relação epidemiológica Vamos analisar cada um deles por meio de esquemas. 1) Determinantes físicos O clima tropical favorece o ciclo de vida dos parasitos e seus vetores. 2) Determinantes biológicos Os fatores físicos, biológicos e sociais são fatores determinantes e condicionantes da saúde individual ou coletiva. Os hábitos sociais estão diretamente relacionados às parasitoses e não ao sexo. As crianças são mais susceptíveis às doenças parasitárias, devido ao seu sistema imunológico ainda em formação. Algumas características genéticas in�uenciam no mecanismo de defesa e as condições biológicas de cada indivíduo estão diretamente relacionadas à gravidade da doença causada por parasitos. 3) Determinantes sociais O saneamento básico precário cria um ambiente propício a muitas doenças parasitárias. A educação sanitária deve ser individual e coletiva, e esta deve ser trabalhada desde a primeira infância. Pro�laxia Trata-se da parte da medicina que tem por objeto propor medidas adequadas para prevenir ou evitar doenças Neste caso, os procedimentos de pro�laxia envolvem: Combate ao parasitismo; Tratamentos do doente (sintomático e assintomático); Saneamento básico; Educação sanitária. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 1. Quais dos parasitos citados a seguir NÃO são exemplos de endoparasitas? a) Trypanosoma cruzi b) Shistossoma mansoni c) Toxoplasma gondii d) Piolho e) Ascaris lumbricoides 2. Quais dos parasitos citados a seguir tem um ciclo de vida heteróxeno? a) Enterobius vermicularis b) Strongyloides stercoralis c) Trypanosoma cruzi d) Entamoeba histolytica e) Giardia lamblia 3. Qual é a ação patogênica onde o parasito absorve nutriente ou mesmo sangue do hospedeiro? a) Ação espoliativa b) Ação irritativa c) Ação traumática d) Ação tóxica e) Anóxia 4. O Trypanosoma cruzi possui um parasitismo: a) Obrigatório b) Facultativo c) Acidental d) Mutualismo e) Comensalismo 5. Qual é a ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades e de seus determinantes (fatores de risco) na população? a) Parasitologia b) Imunologia c) Biologia d) Epidemiologia e) Microbiologia 6. De�na o que é parasitismo: Gabarito sugerido Notas incapazes1 Nesse tipo de associação, as espécies realizam funções complementares, indispensáveis a vida de cada uma. luz2 Lúmen (em latim: lūmen, abertura ou luz) é um espaço interno ou cavidade dentro de uma estrutura com formato de tubo em um corpo, como as artérias e o intestino.Referências CIMERMAN, B.; FRANCO, M. A. Atlas de Parasitologia. Artrópodes, Protozoários e Helmintos. São Paulo: Editora Atheneu, 2001. DE CARLI, G. A. Parasitologia Clínica. Seleção de Métodos e Técnicas de Laboratório para o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. São Paulo: Editora Atheneu, 2001. NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 12. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2011. REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara-Koogan, 2009. SILVA, Reinaldo José da et al. Atlas de parasitologia humana. São Paulo: Cultura Acadêmica - Universidade Estadual Paulista, 2009. Próxima aula Ciclo biológico e as formas morfológicasdo parasito; Diferentes aspectos �siopatológicos e os principais métodos parasitológicos para o diagnóstico laboratorial da parasitose; Tratamentos farmacológicos e pro�laxia para as patologias causadas por nematoides. Explore mais Para complementar os assuntos estudados nesta aula, leia o texto: Prevalência e aspectos epidemiológicos de enteroparasitoses em crianças no Brasil <https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/download/1042/877> . https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/download/1042/877
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