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Luanna Borges – Med 104 PARASITOLOGIA MÉDICA – AULA 4 – TRICURÍASE ➔ É uma parasitose intestinal típica de crianças na faixa etária de 0 a 10 anos de idade a maior prevalência. ➔ Envolve um verme que habita o intestino grosso humano, como acontece no oxiúros ➔ Trichuris trichiura também é um parasita de intestino grosso. Entretanto, esse parasita tem características que o tornam mais agressivos que o oxiúros em termos de parasitismo no intestino grosso. ➔ São helmintos hematófagos, praticam hematofagia. ➔ É sobre essa helmitíase/helmintose muito prevalente no Brasil principalmente em climas tropicais e subtropicais onde há condições para que essa verminose se desenvolva em sua plenitude. ➔ Em relação aos estados brasileiros, são os que apresentam temperaturas mais altas, maior índice pluviométrico tem maior prevalência dessa verminose. CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA ➔ Filo: Nematoda – são vermes cilíndricos tem tubo digestivo completo. São monoxênicos, ou seja, o ciclo envolve um único hospedeiro, característica da maioria dos nematódeos. O Trichuris trichiura é monoxênico e o único hospedeiro dele é o ser humano. É um parasito exclusivo de seres humanos, algumas literaturas falam que pode ser de suínos, mas não é comprovado. ➔ Classe: Adenophorea ➔ Ordem: Enoplida ➔ Família: Trichuridae ➔ Espécie : Trichuris trichiura – esse nome deriva de uma característica do verme. Trichuris trichiura ➔ Distribuição cosmopolita: existe no planeta inteiro. ➔ Alta prevalência na pop. Humana, somente em regiões tropicais e subtropicais- geohelminto. Esses climas favorecem o desenvolvimento dessa verminose. O Trichuris trichiura compõe um grupo de vermes de geohelmintos. Geohelminto é um helminto que cujo ciclo envolve passagem obrigatória de ovos ou larvas pelo solo. Todo geohelminto em determinadas fases de desenvolvimento de estruturas do ciclo desse parasito envolve passagem obrigatória pelo solo. Esse solo deve ter um certo teor de umidade, sombreamento para que haja o desenvolvimento do ciclo biológico. Esse contexto é importante não só por que é ima informação que envolve contaminação do solo por estruturas parasitarias e a fonte de infecção será esse solo, mas também há outro motivo muito importante: geohelmintos NÃO realizam a AUTOINFECÇÃO DIRETA, ou seja, nenhum geohelminto é capaz de realizar sua transmissão por autoinfecção direta interna ou externa porque os ovos do Trichuris trichiura tem que passar cerca de 3 a 4 semanas no solo para que a larva infectante esteja totalmente desenvolvida dentro desses ovos. Não há a possibilidade de uma pessoa parasitada que tenha maus hábitos de higiene que vai no banheiro, não lava as mãos que ficam contaminadas com ovos e leva a mão à boca. Se a pessoa ingerir esses ovos, esses NÃO vão dar origem a vermes no intestino por que os ovos que estão saindo junto com as fezes do hospedeiro ainda não estão maduros, pois há necessidade de passagem pelo solo para que haja amadurecimento, a transformação do embrião em larva e a larva evoluir para uma larva infectante dentro desse ovo. ➔ MECANISMO DE TRANSMISSÃO: ingesta de ovos oriundos do ambiente, esses ovos larvados. A AUTOINFECÇÃO INDIRETA é possível. Nessa, os ovos contaminaram o ambiente e depois de 3-4 semanas esse individuo acidentalmente ingere esses ovos que foram eliminados com suas próprias fezes. Passou pelo solo e voltou para ele. Luanna Borges – Med 104 ➔ Gênero também conhecido como Tricocephalus por causa da característica anatômica do verme, é chamado de verme chicote. Tricocephalus significa “cabeça de pelo” porque a região anterior do corpo onde esta a boca é afilada em relação a região posterior do corpo. MORFOLOGIA: ➔ Adultos com forma semelhante a um chicote, em que a região do corpo é muito afilada e a região posterior do corpo tem um diâmetro muito maior. Lembra um chicote. A: fêmea – tem em torno de 5 cm de comp., maior que o macho, região anterior do corpo afilada e região posterior com diâmetro maior. B: macho – tem em torno 2,5 a 3cm de comp. Na região anterior do corpo está a boca. A região anterior do corpo é afilada em relação a região posterior. A região posterior do corpo do macho é enrolada, espiralada. Essa característica da cauda é importante para diferenciar macho da femea e Importância da diferença morfológica: a região anterior do corpo é afilada porque esse verme se fixa firmemente a mucosa do intestino. Essa região anterior do corpo mergulha na mucosa intestinal do intestino grosso. Se esse verme penetra com a sua região anterior do corpo, ele produz ação TRAUMÁTICA que vai potencializar o surgimento de lesões. Essas lesões se somando, ou seja, vários vermes próximos entre si, poderão potencializar a formação de ulceras na parede do intestino. Por conta da penetração da região anterior do corpo na parede do intestino, há possibilidade de sangramento, com isso, haverá sangue misturado nas fezes do individuo parasitado. Sangue nas fezes é uma característica da tricuríase, na enterobiose não ocorre sangramentos na mucosa do intestino. Na teníase eventualmente ocorre sangramento, mas não tao acentuado, por conta da coroa de ganchos que a taenia solium tem. Na tricuriase é muito frequente ter sangramento nas fezes por conta dessa adaptação do parasito ao hospedeiro de mergulhar na mucosa do intestino. Esse parasito se alimenta de sangue, são HEMATÓFAGOS. ➔ Haverá ulcerações na parede do intestino, sangramentos e hematofagia. Das ulcerações pode derivar sangramento. A hematofagia determina que o parasito espolia o hospedeiro em sangue. Mais os pontos de penetração que são pontos de sangramento podem gerar um quadro de ANEMIA que vai se instalar no individuo depois de um tempo. ➔ A coloração avermelhada no corpo do macho caracteriza a presença de sangue no trato gastrointestinal do individuo e aponta para um comportamento de hematofagia, ou seja, os vermes adultos se alimentam de sangue. OVO ➔ Outro elemento bastante característico desse verme. ➔ Ovos: Formato elíptico e apresentam poros salientes nas extremidades, são os opérculos nas extremidades, um opérculo em cada extremidade. ➔ Lembra uma bola de futebol americano. ➔ É um ovo chamado de bioperculado, em que os poros salientes correspondem a opérculos. Esses opérculos são “tampinhas” que vão se abrir para que a larva ecloda desse ovo quando ele for ingerido por um ser humano. Estando esse ovo larvado depois de passar pelo solo. ➔ Esse ovo que sai junto com as fezes humanas é um ovo embrionado, não é larvado, então vai levar um tempo para ele se desenvolver. Luanna Borges – Med 104 HABITAT ➔ Adultos: Int. grosso do homem (ceco-principalmente; poucas vezes o apêndice, no cólon ou nas últimas porções do íleo). Os adultos vivem no intestino grosso, ceco principalmente, eventualmente podem habitar o apêndice, podem estar presentes no cólon e também nas ultimas porções do íleo. ➔ PARASITO TISSULAR é aquele que se fixa ou está inteiramente presente nos tecidos do hospedeiro. No caso do Trichuris trichiura, ele mergulha a região anterior do corpo na mucosa, o que faz dele parasita tissular, que tem envolvimento íntimo, bastante próximo com os tecidos do hospedeiro. O Trichuris trichiura megula boa parte do corpo na mucosa intestinal e a parte que resta vai ficar exposta al lumen do intestino, o que permite o diagnostico em exames de imagens. ➔ Obs: quando uma taenia se fixa no intestino do hospedeiro, ela se fixa na superfície, ou seja, no epitélio intestinal, já o Trichuris trichiura vai se fixa no conjuntivo, então vai ter uma intima relação com o conjuntivo. CICLO • Monoxênico • Adultos vivem de 1 a 2 anos no intestino grosso dos humanos • Fêmeas eliminam de 3 a 20 mil ovos por dia (3 a 7 mil em média). As fezes humanas saem repletas de ovos. Dando tudo certo para esses ovos no ambiente, terá uma grande possibilidadede infecção de muitas pessoas. Obs: Não é uma doença que é transmitida com facilidade em ambientes fechados. É uma doença que demanda passagem dos ovos pelo solo então é mais veiculada com maus hábitos de higiene, ingesta de alimentos contaminados mal lavados, água contaminada. • Ovo se torna infectante no ambiente com a larva infectante, 3 a 4 semanas depois de eliminado. • Período pré-patente: 60 a 90 dias. Entre a chegada do verme (a ingestão do ovo) até o verme adulto se formar no intestino grosso, são necessários entre 60 a 90 dias. • 5 a 22% dos ovos ingeridos completam o desenvolvimento. Apenas entre 5 a 22 % dos ovos que são eliminados com as fezes humanas completam o desenvolvimento, ou seja, o embrião evolui para uma larva imatura inicialmente e, depois a larva passa a ser infectante. O percentual de ovos que realmente são infectantes para o ser humano é baixo, mas a produção diária de ovos é alta, isso faz com que o teor de contaminação seja muito alto. TRANSMISSÃO ➔ Contaminação do ambiente com material fecal humano – Alimentos e água contaminados com os ovos ➔ Disseminação dos ovos pela agua, pelo vento e por insetos como moscas, formigas e baratas (que são insetos que entram em contato com o solo, as baratas em redes de esgoto e podem arrastar os ovos para a mesa das casas, para os alimentos. As moscas tem intima relação com o bolo fecal humano, pousam ali para se alimentarem e podem veicular os ovos. As formigas fazem uma ponte entre o solo e nossa casa, andando pela cozinha, alimentos) CICLO BIOLÓGICO ➔ Machos e femeas adultos no intestino grosso copulam, os ovos são liberados junto com as fezes dos seres humanos, chegam ao ambiente. Luanna Borges – Med 104 ➔ Amadurecimento dos ovos em 3 a 4 semanas, formação da larva infectante ➔ Ser humano ingere o ovo com a larva infectante ➔ A larva eclode do ovo no intestino desgado, realiza movimento migratório pelo lumen do intestino delgado até atingir o intestino grosso, principalmente região do ceco, onde machos e femeas vão completar se desenvolvimento. Vão mergulhar as regiões anteriores do corpo na mucosa do intestino, vão se fixar e vão passar a se alimentar de sangue. ➔ Vão passar a copular e as femeas passam a eliminar ovos que vão sair misturados as fezes. ➔ Ciclo monoxênico, ou seja um hospedeiro exclusivo, ciclo simples, sem hospedeiros intermediários, sem hospedeiros paratênicos. PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA ➔ Lesões intestinais: são no epitélio e na lâmina própria. No epitélio, para que o verme possa chegar até o conjuntivo, ele vai destruir as células epiteliais e posteriormente na lamina própria e também essas lesões são relacionadas aos vasos sanguíneos, o que vai levar sangramentos, já que são vermes hematófagos e produzem AÇÃO TRAUMÁTICA de destruição de células epiteliais e lesões na lamina própria. ➔ Principais ações do parasita: AÇÃO TRAUMÁTICA (produz lesões), AÇÃO ESPOLIATIVA (o verme se alimenta de sangue) e AÇÃO INFLAMATÓRIA (a presença desses vermes na mucosa do intestino vai favorecer o processo inflamatório. Esse processo inflamatório vai gerar edema, havendo edema na parede intestinal, o lúmen do intestino, ou seja, o volume interno dele vai diminuir e isso pode levar a constipação intestinal e obstruções intestinais, não pela ação mecânica do verme, não pela presença física do verme obstruindo o intestino como a lombriga, mas sim pela inflamação do intestino o lúmen diminui de volume). Como consequência dessas ações, o individuo tem dores abdominais, cólicas ➔ Infecções intensas e crônicas: como consequência das ações desse parasito o indivíduo apresenta dores abdominais (cólica), disenteria crônica (mau funcionamento do intestino), sangramentos (sangue nas fezes). Pode haver, quando o verme atinge o reto, o prolapso retal (o reto se volta para fora do ânus), perda de apetite (porque o indivíduo vai ter dor abdominal, disenteria), pode haver vômito, anemia, subnutrição e retardo no crescimento (esse verme é um dos principais envolvidos pelo retardo no crescimento em crianças em áreas endêmicas). Infecção intestinal intensa. Alças intestinais, pontos de sangramentos/hemorrágicos e uma carga parasitaria muito alta. Nesses casos pode haver perfuração intestinal, supuração e necrose porque muitos vermes juntos produzindo lesões na parede do intestino podem levar a ruptura da alça intestinal ➔ Síndrome Disentérica Crônica: Dor abdominal, disenteria crônica, sangue e muco nas fezes ➔ Prolapso retal: Quando a verminose atinge o reto. ➔ Infecções muito intensas: Obstrução do cólon e perfuração intestinal Baqueteamento digital Luanna Borges – Med 104 DIAGNÓSTICO: ➔ Clinica: sangue e muco nas fezes, anemia e principalmente a síndrome disentérica crônica. ➔ Laboratorial: Demonstração dos ovos nas fezes (exame de fezes – 3 amostras pelo menos em semanas alternadas) EPIDEMIOLOGIA: ➔ 902 milhões de pessoas infectadas (17%) ➔ Brasil: 35-39% ➔ Intensidade da infecção varia c/ a idade ➔ No mundo, a prevalência oscila entre 30 e 80% da população geral, incidindo principalmente em crianças. ➔ No Brasil a prevalência é superior a 30%, sendo mais elevada na Amazônia e na faixa litorânea, de clima equatorial e chuvas distribuí- das pelo ano todo. ➔ Em Alagoas as taxas de parasitados, em algumas cidades pode chegar a 71% e em Sergipe a 80%. ➔ As crianças apresentam as cargas parasitárias mais altas e as sintomatologias mais pronunciadas por ter um sistema imunológico ainda em desenvolvimento. CONTROLE ➔ As únicas fontes de infecção são os humanos, por isso é ideal o diagnóstico e tratamento dos doentes. ➔ Crianças em idade pré-escolar tem a maior responsabilidade na transmissão da tricuríase. Porque na escola é ensinado hábitos de higiene básicas, o que muitas vezes não é ensinado em casa ➔ O peridomicílio é a área mais afetada, devido à poluição fecal do solo, onde as condições de saneamento e de higiene são precárias; reinfecção. Orientar a defecar longe dos rios, lagoas, e caso necessário, após defecar enterrar as fezes ➔ Os ovos dos trícuros são sensíveis à desidratação, razão pela qual é nos solos úmidos e sombreados onde permanecem mais tempo viáveis; ➔ Saneamento básico e controle de insetos como moscas, formigas e baratas se faz necessário ➔ Orientar os indivíduos contaminados a cerca da eliminação das fezes ➔ Tratamento preventivo aos familiares. TRATAMENTO ➔ Mebendazol – A dose é de 100 mg, duas vezes ao dia, durante 3 dias (600 mg no total). Também podem ser usados o albendazol e o flubendazol. ➔ Pamoato de oxantel – Nos casos leves, administrar 10 mg por quilo de peso do paciente, em dose única, por via oral. Nos demais, dar essa dose duas vezes ao dia, durante 3 dias. ➔ Há necessidade de repetição do tratamento porque os anti-helmínticos são pouco eficazes para larvas e ovos que estão migrando ainda pelo organismo do parasitado e o período pré-patente é de 60 a 90 dias. Período pré- patente= período que decorre entre a penetração do agente e o aparecimento das primeiras formas detectáveis do agente. Por isso a repetição do tratamento em 30, 60 e 90 dias.
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