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ARBITRAGEM - NATUREZA VINCULANTE DA CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA ARBITRAL EM BRANCO OU VAZIA COMENTÁRIOS À AP 0015713-69 2008 8 26 0152

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NATUREZA VINCULANTE DA CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA ARBITRAL "EM
BRANCO" OU "VAZIA" COMENTÁRIOS À AP 0015713-69.2008.8.26.0152
Revista de Arbitragem e Mediação | vol. 34/2012 | p. 395 - 406 | Jul - Set / 2012
DTR\2012\450615
Giovanna Mazetto Gallo
Mestre em Direito pela PUC-SP e Advogada.
Área do Direito: Arbitragem
Resumo: A Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo
proferiu decisão negando provimento à apelação interposta por convenente de cláusula
compromissória arbitral "em branco" que sustentava a nulidade de decisão de primeira
instância que julgou extinto o processo, sem apreciação de mérito, em virtude da existência
da referida cláusula. Como ressaltado pela Câmara, a cláusula compromissória arbitral "em
branco" ou "vazia" ostenta caráter vinculante e de observância obrigatória, o que
impossibilita a substituição da arbitragem pelo procedimento judicial para a solução do
litígio, não configurando afronta ao princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário.
Palavras-chave: Cláusula compromissória arbitral "em branco" ou "vazia" - Natureza
vinculante - Princípio da autonomia da vontade - Não configuração de afronta ao princípio
da inafastabilidade do Poder Judiciário.
Abstract: The Business Law Specialized Chamber of the Court of Appeals of the State of São
Paulo overruled an appeal filed by the signatory of an "empty" (blank) arbitration clause.
The appeal sustained the nullity of the holding of the first instance court that dismissed the
case without merits review, in view of the existence of such arbitration clause. As provided
in the decision delivered by the Specialized Chamber, the "empty" arbitration clause has a
binding nature and must be mandatorily observed, which demands the submission of the
controversy to arbitration. The decision also highlighted that the submission to arbitration
does not represent a violation of the principle of non-obviation of the State jurisdiction.
Keywords: "Empty" (blank) arbitration clause - Binding nature - Principle of freedom of
choice - No violation of the principle of non-obviation of the State jurisdiction.
Sumário:
A) NOTA INTRODUTÓRIA - B) ACÓRDÃO - C) COMENTÁRIO
A) NOTA INTRODUTÓRIA
Comentamos abaixo a decisão tomada pela Câmara Reservada de Direito Empresarial do
TJSP, nos autos da Ap 0015713-69.2008.8.26.0152, proferida em setembro de 2011.
A Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP, pautada nos fundamentos do Relator
da lide, Des. José Reynaldo Peixoto de Souza, negou provimento ao recurso de apelação
interposto, assinalando a validade e a natureza vinculante de cláusula compromissória de
arbitragem, ainda que esta não indique a câmara e a composição dos árbitros competentes.
O decisum afastou, de tal modo, eventual violação do art. 5.º, XXXV, da CF/1988
(LGL\1988\3),1 ressaltando o reconhecimento, pelo STF, da constitucionalidade da cláusula
compromissória de arbitragem, julgando extinto o processo sem apreciação do mérito, em
conformidade com o art. 267, VII, do CPC (LGL\1973\5).2
Eis o conteúdo da decisão, ora em análise:
NATUREZA VINCULANTE DA CLÁUSULA
COMPROMISSÓRIA ARBITRAL "EM BRANCO" OU "VAZIA"
Comentários à Ap 0015713-69.2008.8.26.0152
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B) ACÓRDÃO
TJSP – Ap 0015713-69.2008.8.26.0152 – Câmara Reservada de Direito Empresarial – j.
27.09.2011 – v.u. – rel. Des. José Reynaldo – Área do Direito: Arbitragem.
ARBITRAGEM – Cláusula compromissória – Obrigatoriedade da solução do litígio pela via
arbitral – Admissibilidade – Renúncia das partes ao direito de dirimir as questões e
controvérsias contratuais, perante o Poder Judiciário, que se evidencia – Omissão dos
contraentes em indicar a câmara arbitralou a composição de árbitros com competência para
a solução de eventual litígio – Irrelevância – Estipulação que pode ocorrer em documento
apartado ao contrato ou ainda conforme prevê o § 4.º do art. 7.º da Lei 9.307/1996 – Regra
incluída na avença que possui natureza vinculante e obrigatória.
Voto: 10960.
Ap 0015713-69.2008.8.26.0152.
Comarca: Cotia.
Apelante: Moacir Luna.
Apelados: João Fernandes Machado e Clésio Aparecido de Melo.
Ementa: Contrato – Organização de sociedade em nome coletivo – Cláusula compromissória
de arbitragem – Renúncia, pelos contratantes, ao direito de dirimir as questões e
controvérsias decorrentes do contrato perante o Poder Judiciário – Pacto de natureza
vinculante e de observância obrigatória – Impossibilidade de substituição da arbitragem pelo
procedimento judicial para a solução do litígio – Inexistência de afronta ao art. 5.º, XXXV,
da CF (LGL\1988\3) – Constitucionalidade da referida cláusula reconhecida pelo C. Supremo
Tribunal Federal – Extinção do processo sem apreciação do mérito mantida – Apelação
desprovida.
ACÓRDÃO – Vistos, relatados e discutidos estes autos do Ap 0015713-69.2008.8.26.0152,
da Comarca de Cotia, em que é apelante Moacir Luna sendo apelados João Fernandes
Machado e Clésio Aparecido de Melo.
ACORDAM, em Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP, proferir a seguinte
decisão: “Negaram provimento ao recurso, v.u.”, de conformidade com o voto do Relator,
que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores Romeu Ricupero
(Presidente sem voto), Ricardo Negrão e Ênio Zuliani.
São Paulo, 27 de setembro de 2011 – JOSÉ REYNALDO, relator.
RELATÓRIO – Ao relatório da r. sentença de f., proferida nos autos de ação de cobrança
fundada em contrato para organização de sociedade em nome coletivo, acrescenta-se que
em razão da existência de cláusula compromissória, o processo foi julgado extinto, sem
apreciação de mérito, com fulcro no art. 267, VII, do CPC (LGL\1973\5). Sucumbente, o
autor foi condenado a arcar com as custas, despesas processuais e honorários dos patronos
dos réus, fixados em R$ 3.000,00 (três mil reais) para cada um, considerando o trabalho
realizado (art. 20, § 4.º, do referido Codex).
Apela o demandante, sustentando a nulidade do decisum, ante a impossibilidade de impedir
que a solução de conflitos seja apreciada pelo Poder Judiciário, a acarretar a inobservância
do disposto no art. 5.º, XXXV, da CF/1988 (LGL\1988\3), o qual prequestiona. Esclarece
NATUREZA VINCULANTE DA CLÁUSULA
COMPROMISSÓRIA ARBITRAL "EM BRANCO" OU "VAZIA"
Comentários à Ap 0015713-69.2008.8.26.0152
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que embora haja previsão de eleição do juízo arbitral para dirimir os conflitos advindos do
presente contrato (cláusula 8.ª), existe omissão, pois não foram indicadas a eventual
câmara competente e a composição dos árbitros competentes para solucionar as
controvérsias. Acrescenta tratar-se a estipulação do juízo arbitral de foro de eleição, que é
uma faculdade, podendo, portanto, haver renúncia da parte interessada. Anota que a
extinção do processo na fase em que se encontra gera enormes prejuízos às partes e fere
os princípios da celeridade e economia processual. No tocante ao mérito, afirma que ficou
impossibilitado de comprovar os fatos alegados na inicial, em razão da extinção do feito.
Requer a anulação do julgado, determinando-se o retorno dos autos à Vara de origem para
regular instrução do feito e prolação de nova sentença.
Recurso preparado, recebido em seus regulares efeitos e respondido pelos réus.
É o relatório.
A insurgência posta nas razões do recurso não merece prosperar.
De acordo com a cláusula 8.º do contrato, foi pactuado que para dirimir qualquer questão
oriunda deste contrato fica estabelecido o juízo arbitral, nomeado na forma da lei (f.).
Havendo previsão da cláusula compromissária, definida pelo art. 4.º da Lei 9.307, de
23.09.1996, as questões referentes ao contrato em tela deverão ser resolvidas mediante
arbitragem.
Não socorre ao apelante a alegação de omissão da referida cláusula, por não ter indicado a
eventual câmara competente e a composição dos árbitros competentes.
Isto porque tal estipulação pode ocorrer em documento apartado ao contrato, não devendo,
necessariamente, estar nele inserida, conforme previsto no § 1.º do art. 4º da Lei
9.307/1996.
E o§ 4.º do art. 7.º do referido diploma legal ainda prevê que se a cláusula compromissária
nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a
respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do litígio.
Ressalta-se que a jurisprudência deste E. Tribunal de Justiça privilegia o instituto da
arbitragem, consoante julgados a seguir colacionados:
“Rescisão contratual. Requeridas que pedem a extinção do feito, invocando cláusula onde se
instituiu o Juízo arbitral para a solução dos litígios entre as partes contratantes. Decisão que
indeferiu a pretensão. Insurgência das rés. Acolhimento. Incompetência da Justiça comum
para conhecer da causa cláusula compromissária, livremente pactuada, que deve
prevalecer. Impossibilidade de se substituir a arbitragem pelo procedimento judicial para
solução do conflito. Agravo provido” (AgIn 0055694-08.2010.8.26.0000, 10.ª Câm. de
Direito Privado, j. 09.11.2010, rel. Des. Testa Marchi).
“Ação de cobrança – Compromisso de compra e venda de imóvel – Rescisão contratual
diante do não pagamento das prestações mensais – Pedido de restituição das parcelas
pagas – Cláusula compromissória – A existência de cláusula compromissária ou
compromisso arbitral, desde que alegada pela parte contrária, impede a utilização do juízo
comum para processamento e julgamento do feito – Extinção da ação – Sentença mantida –
Recurso desprovido” (Ap 0106288-51.2009.8.26.0100, 8.ª Câm. de Direito Privado, j.
27.10.2010, rel. Des. Theodureto Camargo).
“Imissão de posse c/c rescisão contratual – Ação julgada extinta, nos termos do inc. VII, do
art. 267, do CPC (LGL\1973\5) – Alegação que a cláusula compromissária era opcional –
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COMPROMISSÓRIA ARBITRAL "EM BRANCO" OU "VAZIA"
Comentários à Ap 0015713-69.2008.8.26.0152
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Inocorrência – Forma de instituição da arbitragem devidamente convencionada pela partes
– Circunstância impeditiva ao conhecimento da ação perante o Poder Judiciário – Verba
honorária que deve ser arbitrada por equidade – Ausente a condenação a ensejar a fixação
nos termos do § 4.º do art. 20 do CPC (LGL\1973\5) – Sentença reformada nesse particular
– Recurso parcialmente provido” (Ap 9169594-78.2008.8.26.0000, 6.ª Câm. de Direito
Privado, j. 04.03.2010, rel. Des. Percival Nogueira).
“Rescisão contratual – Cláusula compromissória – Partes que instituem que as controvérsias
decorrentes do contrato seriam dirimidas por arbitragem – Falta de interesse processual –
Impedimento de acesso ao Judiciário – Inteligência da Lei 9.307/96 (arbitragem) e art. 267,
VI, do CPC (LGL\1973\5) – Obrigação de seguir a via escolhida – Decisão mantida” (Ap
0100639-51.2008.8.26.0000, 19.ª Câm. de Direito Privado, j. 27.04.2009, rel. Des.
Sebastião Junqueira).
“Agravo de Instrumento. Juízo Arbitral. Cláusula compromissória. Avença livremente
celebrada entre os demandantes. Questões atreladas à venda de bem imóvel e dissolução
de sociedade que se encontram contempladas pela Cláusula Compromissória (‘Qualquer
disputa, controvérsia ou demanda, de qualquer tipo ou natureza, independentemente de ser
baseada em contrato, responsabilidade civil, lei ou regulamentos ou qualquer outra razão, e
que seja resultante ou relacionado de qualquer forma a este Acordo, à relação das partes,
suas obrigações ou as operações realizadas nos termos deste Acordo, incluindo sem
limitação quaisquer disputas quanto à existência, validade, interpretação, negociação,
cumprimento, inadimplemento, violação, rescisão ou exequibilidade do mesmo, serão
resolvidas por arbitragem, que será final e vinculativa, sendo intenção das partes que a
presente constitua um amplo compromisso arbitral englobando todas as possíveis disputas
das partes relativas ao projeto que é objeto deste Acordo.’) e que deverão ser dirimidas
perante o Juízo Arbitral. Afastamento da jurisdição estatal. Arguida a celebração de
compromisso arbitral em momento processual oportuno, nos termos da lei. Decreto de
extinção do processo, sem resolução do mérito (Art. 267, VII, CPC (LGL\1973\5)). Recurso
provido” (AgIn 9070241-65.2008.8.26.0000, 5.ª Câm. de Direito Privado, j. 18.02.2009,
rel. Des. Roberto Mac Cracken).
“Cominatória cumulada com indenização – Processo extinto, sem resolução do mérito –
Existência de cláusula compromissória no contrato celebrado entre as partes – Aplicação
imediata – A existência de cláusula compromissária ou compromisso arbitral desde que
alegada pela parte contrária, impede a utilização do juízo comum para processamento e
julgamento do feito, conduzindo, assim, à extinção do processo sem julgamento do mérito –
Precedentes jurisprudenciais – Apelo desprovido” (Ap 9058389-15.2006.8.26.0000, 1.ª
Câm. de Direito Privado, j. 09.09.2008, rel. Des. Guimarães e Souza).
“Juízo arbitral – Cláusula Compromissória – Firmada a cláusula compromissória, nenhuma
das partes, nem a associação de uma das partes, isoladamente, poderá, de forma eficaz,
substituir a arbitragem pelo procedimento judicial, visando a solucionar o conflito, por ser
certo que a cláusula compromisso, necessariamente escrita, ainda que em forma de pacto
adjeto, não admite que a parte dela se esquive – Recurso improvido” (Ap 7127102-2, 14.ª
Câm. de Direito Privado, j. 19.09.2007, rel. Des. Virgilio de Oliveira Júnior).
Inexiste qualquer afronta à Constituição Federal (LGL\1988\3), notadamente seu art. 5.º,
XXXV, e conforme entendimento do C. STF, a Lei de Arbitragem é constitucional (RTJ
190/908, SE 5.206, Pleno, quatro votos vencidos).
Por oportuno, merece transcrição trecho de julgado proferido pela 6.ª Câm. de Direito
Privado desta Corte, nos autos da Ap 9250993-32.2008.8.26.0000, j. 30.06.2011, de
relatoria do E. Des. Paulo Alcides:
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“Nesse contexto, houve evidente mitigação do princípio contido no art. 5.º, XXXV da CF
(LGL\1988\3): ‘A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito’, porém, isto foi considerado constitucional pelo STF.
O Douto e Ilustre Prof. Cláudio Lembo, A pessoa – Seus direitos, São Paulo, Manole, 2007,
p. 208-209, sobre o tema, de forma clara e objetiva, discorreu que:
‘O amplo e ilimitado acesso à Justiça mereceu mitigação com a vigência da Lei Marco Maciel,
que instituiu o juízo arbitral (Lei 9.307/1996). Por esse diploma legal, quando
convencionado expressamente, as partes, tratando-se de bens disponíveis, podem renunciar
a acesso ao Judiciário para solução de conflitos advindos da aplicação de contratos. O tema
mereceu longa análise do STF, que, ao final, julgou constitucional a cláusula compromissória
que confere efeitos de decisão judiciária à sentença arbitral e a torne irrecorrível, quando
assim expressamente convencionado em instrumento que tem por objeto unicamente bens
disponíveis.’
(…)
Portanto, pela cláusula compromissária, como no caso em apreço, os contratantes, dispondo
o ajuste de direitos disponíveis, renunciam ao direito de dirimir as questões e controvérsias
decorrentes do contrato perante o Poder Judiciário, elegendo juízo arbitral para a solução de
todos os litígios decorrentes da avença.
Na verdade, a cláusula compromissária, traduz-se em pacto de natureza vinculante, de
observância obrigatória aos contratantes, e, sendo eleita tal via, as partes, salvo as
exceções próprias, que, in casu, não se fazem presentes, não podem mais recorrer ao Poder
Judiciário.”
Por estes motivos, nega-se provimento ao recurso.
JOSÉ REYNALDO, relator.
C) COMENTÁRIO
1. A CONSTITUCIONALIDADE DAS CLÁUSULAS COMPROMISSÓRIAS NO DIREITO
BRASILEIRO
A Lei 9.307/1996 (“Lei de Arbitragem”) reformulou por completo a arbitragem no direito
brasileiro, simplificando e dando maior efetividade ao instituto. Com a sua entrada em vigor,
pouco a pouco as partes em contratos comerciais passaram a aderir à arbitragem como
método para solucionar eventuais conflitos e divergências, logrando relativo sucesso.3
A viradado milênio foi marcada pela franca evolução do instituto na ordem jurídica
brasileira, tendo a doutrina vislumbrado os benefícios que a adoção da arbitragem trouxera
ao direito brasileiro.4
Algumas disposições da Lei de Arbitragem, no entanto, tiveram a sua constitucionalidade
questionada no STF, pelo Min. Sepúlveda Pertence, que suscitou suposta
inconstitucionalidade inerente aos seus arts. 6.º, parágrafo único, 7.º e 41.5
Em linhas gerais, o Ministro, Relator do AgRg na Sentença Estrangeira 5.206-7, insurgiu-se
contra a imposição, pela lei, da arbitragem contra a vontade de ambas as partes,
ressaltando o caráter consensual que deve prevalecer no instituto da arbitragem. Assim,
não poderia o legislador exigir a adoção da arbitragem diante da ausência de convenção
válida nesse sentido, o que pode abranger tanto a cláusula compromissória quanto o
compromisso arbitral.
NATUREZA VINCULANTE DA CLÁUSULA
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Por maioria de votos, contudo, o plenário do STF declarou a constitucionalidade dos
dispositivos da Lei de Arbitragem, considerando que a manifestação de vontade da parte na
cláusula compromissória, quando da celebração do contrato, e a permissão legal dada ao
juiz para que substitua a vontade da outra parte em firmar o compromisso não ofendem o
princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário, constante do art. 5.º, XXXV, da CF/1988
(LGL\1988\3).6
O julgado tornou-se um marco para a difusão da arbitragem como meio de solução de
conflitos no direito brasileiro, tendo impulsionado a celebração de convenções arbitrais,
sendo, ainda, relevantíssimo parâmetro na condução da matéria pela jurisprudência.
2. A CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA E O COMPROMISSO ARBITRAL
Dispõe o art. 3.º da Lei de Arbitragem que: “As partes interessadas podem submeter a
solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral”. De fato, caracteriza-se a
convenção de arbitragem como fruto e expressão da autonomia da vontade dos
contratantes, ostentando natureza vinculante, de observância obrigatória, e constituindo
gênero que comporta duas espécies: a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.7
Sobre o tema, a lição de Alexandre Câmara é precisa:
“A Lei de Arbitragem brasileira rompeu com um velho preconceito existente no direito
brasileiro ao equiparar a cláusula compromissória ao compromisso arbitral, sendo ambos
capazes de ter como efeito a instauração da arbitragem. Abandona-se, assim, a ideia de que
o descumprimento da cláusula compromissória só seria capaz de gerar o direito à percepção
de uma indenização por perdas e danos. A Lei de Arbitragem cria a figura genérica da
convenção de arbitragem, ato jurídico privado cujo efeito é a instauração da arbitragem. Há
duas espécies de convenção de arbitragem: a cláusula compromissória e o compromisso
arbitral. A primeira é necessariamente prévia ao litígio, enquanto o segundo surge após o
nascimento da lide.”8
A cláusula compromissória, segundo o caput do art. 4.º da Lei de Arbitragem, consiste na
“[c]onvenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato”. Nas palavras de
Caio Mário, a cláusula compromissória se resume ao “pacto preliminar, pelo qual se
estabelece que, na eventualidade futura de uma divergência, os interessados deverão
recorrer ao juízo arbitral”.9
Convém novamente lembrar, nesse ponto, a importância do julgamento pelo STF que
culminou na decisão pela constitucionalidade dos dispositivos da Lei de Arbitragem. Mais do
que atestar a conformidade de seus dispositivos com o texto constitucional, o STF teve
papel fundamental no desenvolvimento, consolidação e esclarecimento dos conceitos que
envolvem o instituto da arbitragem. A respeito da cláusula compromissória, por exemplo, o
Min. Nelson Jobim, ao proferir voto-vista, teve o ensejo de esmiuçar a classificação das
cláusulas compromissórias, analisando o seu objeto, processamento e as regras de
instituição.
Quanto às regras de instituição, o Min. Nelson Jobim observou três tipos de cláusula
compromissória: (a) aquelas com remissão às regras de órgão ou entidade; (b) aquelas
com pacto sobre a instituição; e (c) as cláusulas compromissórias “em branco” ou “vazias”.
Os dois primeiros tipos de cláusula estão refletidos no art. 5.º da Lei de Arbitragem:
“Art. 5.º Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão
NATUREZA VINCULANTE DA CLÁUSULA
COMPROMISSÓRIA ARBITRAL "EM BRANCO" OU "VAZIA"
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arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de
acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou
em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.”
Na primeira hipótese prevista, as partes, a seu critério, reportam-se, na redação da cláusula
compromissória, às regras praticadas por órgão ou entidade especializada. Conforme o
trecho final do dispositivo, por sua vez, as partes convencionam, da forma que melhor lhe
convier, dentro dos limites legais, à instituição da arbitragem.
As chamadas cláusulas “em branco”, a seu tempo, são aquelas previstas pelo art. 6.º,
segundo o qual: “Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a
parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via
postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento,
convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral”.
Como se observa, mesmo nas hipóteses em que a cláusula não indica as regras de
determinado órgão ou entidade, nem define a disciplina da questão, mas tão somente prevê
a adoção da arbitragem como meio para dirimir eventuais conflitos, a Lei de Arbitragem
prevê o caminho a ser seguido pelas partes.
Nesse caso, deverá a parte interessada na instauração da arbitragem notificar a outra parte,
evidentemente após a ocorrência do conflito, convocando-a para firmar o compromisso
arbitral que definirá o procedimento a ser seguido. O compromisso arbitral, compete
lembrar, é “o acordo celebrado após o surgimento do litígio, pelo qual as partes decidem ou
confirmam a sua intenção de se submeter à arbitragem”.10
A Lei concede, inclusive, caso a outra parte não compareça ou se recuse a firmar o
compromisso, à parte interessada a faculdade de propor judicialmente a citação da outra
parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso arbitral, devendo o juiz
designar audiência especial para este fim. Cumpre ressaltar que essa ação, que terá como
objeto a execução específica da cláusula compromissória “vazia”, com a satisfação das
obrigações nela avençadas, deverá ser proposta perante o órgão do Poder Judiciário a que,
originariamente, caberia julgar tal litígio. Esse procedimento está previsto no art. 7.º da Lei
de Arbitragem.11
Em suma, se, já na cláusula compromissória, restarem definidas pelas partes as regras para
a instauração da arbitragem (inclusive para a nomeação dos árbitros), seja de forma direta
ou por meio da referência às regras de determinada instituição, a assinatura do
compromisso arbitral não é necessária. No entanto, havendo as partes convencionado uma
“cláusula vazia”, que não contém todos os elementos necessários para a constituição do
tribunal arbitral, será necessária a celebração de um compromisso arbitral para que se
possa submeter a disputa à arbitragem.12
3. A DECISÃO DA CÂMARA RESERVADA DE DIREITO EMPRESARIAL DO TJSP
O caso ora em comento, julgado pela Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP,
constitui exemplo da força vinculante do ajuste por intermédio do qual as partes
convencionam a adoção da arbitragem como meio para dirimir eventuais conflitos.
Na ocasião, restou devidamente consignado pelo Relatordo feito, Exmo. Sr. Des. José
Reynaldo, que a ausência de indicação da câmara arbitral competente, ou a composição dos
árbitros, não pode constituir óbice à instauração do tribunal arbitral.
Com efeito, a existência das chamadas cláusulas compromissórias “em branco” não
enfraquece a sua natureza vinculante, que permanece inalterada. Não obstante, a própria
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Lei de Arbitragem previu essa espécie de cláusula compromissória e estabeleceu o
procedimento a ser seguido pelas partes nessa hipótese.
Pelo exposto, não poderia uma das partes que avençou a cláusula compromissória de
arbitragem se valer da ausência de elementos definidores para afastar a adoção da
arbitragem.
A cláusula compromissória convencionada “em branco” é expressão da autonomia da
vontade das partes, da mesma maneira que a cláusula compromissória “cheia”, razão pela
qual a Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP assegurou a natureza vinculante
do pacto arbitral, mantendo a decisão de primeira instância que, em consonância com o art.
267, VII, do CPC (LGL\1973\5), declarou a extinção do processo sem apreciação do mérito.
1 Constituição Federal (LGL\1988\3): “Art. 5.º (…) XXXV – a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; (…)”.
2 CPC (LGL\1973\5): “Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
(…)
VII – pela convenção de arbitragem;”
3 WALD, Arnoldo. O Supremo Tribunal Federal e a constitucionalidade da cláusula
compromissória. Digesto econômico. ano LVII. n. 408. p. 15. São Paulo, maio-jun. 2001.
4 MARTINS, Pedro Batista. O Poder Judiciário e a arbitragem. Quatro anos da Lei n.
9.307/1996. RDB 9/315 (DTR\2000\618). São Paulo: Ed. RT, jul.-set. 2000.
5 Lei de Arbitragem: “Art. 6.º Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a
arbitragem, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à
arbitragem, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante
comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o
compromisso arbitral.
Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se a
firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda de que trata o art.
7.º desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, tocaria o
julgamento da causa”.
“Art. 7.º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da
arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer
em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal
fim.”
“Art. 41. Os arts. 267, inciso VII; 301, inciso IX; e 584, inciso III, do Código de Processo
Civil (LGL\1973\5) passam a ter a seguinte redação:
‘Art. 267. (…)
VII – pela convenção de arbitragem;’
‘Art. 301. (…)
IX – convenção de arbitragem;’
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‘Art. 584. (…)
III – a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de conciliação;’.”
6 STF, AgRg na SE 5.206, Pleno, j. 12.12.2001, rel. Min. Sepúlveda Pertence.
7 BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem comercial e internacional. São Paulo: Lex Magister,
2011. p. 93.
8 CÂMARA, Alexandre Freitas. Arbitragem – Lei n. 9.307/1996. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2005. p. 25, apud WALD, Arnoldo; BORJA, Ana Gerdau de. Cláusula compromissória
“cheia” e aceitação tácita da cláusula arbitral: caso Itiquira vs. Inepar. Comentários aos EI
428.067-1/10 do TJPR. RArb 32/358-359. São Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 2012.
9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
vol. II, p. 191.
10 DOLINGER, Jacob; TIBURCIO, Carmen. Direito internacional privado – Arbitragem
comercial internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 23.
11 Lei de Arbitragem: “Art. 7.º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência
quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra
parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz
audiência especial para tal fim.
§ 1.º O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o
documento que contiver a cláusula compromissória.
§ 2.º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca
do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum
acordo, do compromisso arbitral.
§ 3.º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após
ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de 10 (dez) dias,
respeitadas as disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10
e 21, § 2.º, desta Lei.
§ 4.º Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao
juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do
litígio.
§ 5.º A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do
compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.
§ 6.º Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a
respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.
§ 7.º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.”
12 O STJ já consolidou este entendimento. Aplicando essa regra, vide: STJ, Corte Especial,
SEC 1.210/GB, j. 20.06.2007, rel. Min. Fernando Gonçalves. O STJ também já ressaltou, em
mais de uma oportunidade, a eficácia imediata da cláusula compromissória, dispensando,
com arrimo no princípio da boa-fé, a celebração do compromisso arbitral. Vide: STJ: 3.ª
Seção, REsp 712.566/RJ, j. 18.08.2005, rel. Min. Nancy Andrighi; Corte Especial, SEC 349,
j. 21.03.2007, rel. Min. Eliana Calmon.
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Sobre o tema, confira-se: WALD, Arnoldo; BORJA, Ana Gerdau de. Op. cit., p. 364-367.
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