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13 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Unidade I Nesta unidade você entrará em contato com os objetivos e o ambiente da administração financeira em um contexto empresarial, em que serão apresentadas as tarefas básicas da função financeira bem como os objetivos do administrador financeiro num contexto de administração estratégica. Entretanto,o tratamento não será somente intraorganização: deve-se também levar em consideração o ambiente externo operacional do administrador financeiro proporcionado pela existência do mercado financeiro. Seu uso é de grande valia ao administrador financeiro por permitir possibilidade para a administração estratégica de recursos à disposição da empresa. Para tanto, a unidade apresenta características dos diversos mercados que compõem o mercado de capitais, quais sejam, o mercado cambial, o monetário, o de crédito e o de capitais, onde o papel das bolsas de valores é o preponderante. Esperamos que aproveite a leitura. Vamos a ela. 1 OBJETIVO E AMBIENTE DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Qual o real objetivo da administração financeira, já parou para pensar? Você administra suas finanças? É tarefa fácil? A nós parece que não, assim como de uma empresa também não é. Por vezes, o que fazer quando há sobras de recursos? Onde aplicar, de que forma aplicar, por qual prazo e com qual objetivo são algumas das questões que as pessoas sempre estão inclinadas a responder, ainda mais quando a opção não é pela aplicação financeira dos recursos excedentes e sim por seu uso como consumo. E no caso inverso, quando há falta de recursos? Como financiar os gastos excedentes também é uma preocupação. Envolva as questões anteriores no âmbito de uma empresa e verá que o problema será maior ainda. Portanto, o papel das finanças e do administrador financeiro é o que passaremos a tratar. 1.1 Papel de finanças e do administrador financeiro O fluxo de fundos em uma empresa industrial envolve operações de uma empresa industrial, mas, de maneira idêntica, outros empreendimentos, no âmbito comercial ou de prestação de serviços, também apresentam uma dinâmica semelhante ao de uma empresa industrial, no que se refere às entradas e saídas de recursos financeiros, que é o que visa demonstrar este fluxo. Analisemo-lo, passo a passo. A constituição de qualquer empresa, de qualquer empreendimento, portanto, requere um aporte de capital ou a tomada de empréstimos e financiamentos. Esses recursos constituirão as disponibilidades financeiras do empreendimento, utilizadas para saldar os compromissos com os fornecedores tanto de matérias-primas, materiais auxiliares e outros insumos utilizados no processo produtivo, a exemplo de equipamentos, instrumentos, utensílios, edificações e outros Ativos permanentes indispensáveis à operacionalização do negócio. E também para saldar compromissos financeiros com os prestadores de serviço, aí incluída a mão de obra direta – relacionada aos que se dedicam diretamente à operação do 13 14 Unidade I empreendimento, como os operadores de máquinas industriais – e a execução de serviços especializados por terceiros – manutenção industrial, por exemplo. Com base nesses fatores de produção – máquinas industriais, matérias-primas, mão de obra direta, tecnologia de produto e de processo e, sobretudo, capacidade empresarial para aglutinar todos estes fatores – surgem os produtos que serão, finalmente, adquiridos pelos indivíduos para suprir determinadas necessidades. Durante o processo de produção e comercialização ocorrem despesas operacionais – aquelas decorrentes do suprimento de energia elétrica, pagamento de aluguel, mão de obra indireta e outras –, despesas financeiras – decorrentes de antecipações de valores a receber mediante desconto de duplicatas, por exemplo, ou decorrentes de empréstimos e financiamentos – e receitas financeiras – resultado da aplicação de recursos financeiros disponíveis no mercado de capitais, por exemplo. Essas despesas operacionais e despesas financeiras serão cobertas pelo lucro advindo das operações – resultado da diferença entre a receita proveniente das vendas e custos relacionados diretamente com a obtenção do produto ou mercadoria vendida ou prestação do serviço ao cliente. Essas vendas, quando realizadas à vista, irão ampliar imediatamente as disponibilidades financeiras da organização. Se realizadas a prazo, constituirão um bem ou direito a ser posteriormente recebido, como as duplicatas a receber. Por último, mas não menos importante, existirão ainda os impostos incidentes sobre o lucro da atividade, o pagamento de dividendos aos acionistas ou cotistas do empreendimento e, o que sobrar, será incluído em contas de reservas e lucros retidos do empreendimento. Observação Observe que administrar recursos financeiros requer habilidade para gerenciar limites. Nem sempre uma empresa consegue obter recursos na quantidade desejada, da mesma forma que não consegue gastar menos recursos conforme planejamento. Qualquer que seja o tipo de empreendimento, é fato que as atividades empresariais requerem recursos financeiros para a sua operação. E dessa operação resultam recursos financeiros que constituirão os lucros do negócio. As atividades empresariais envolvem funções relacionadas entre si, tais como produção, vendas, administração, contabilidade, finanças e outras. A gestão dos recursos financeiros movimentados por todas as áreas da empresa é parte essencial da função financeira. Por um lado, a função financeira responde pela obtenção dos recursos necessários ao desenvolvimento das atividades da organização. Por outro lado, deve participar ativamente da formulação de uma estratégia, sua implementação e controle, no que se referir à otimização do uso desses fundos. Lembrete Lembra-se dos exemplos oferecidos na introdução deste texto? Das preocupações da empresa de calçados? É disto que estamos tratando, agora de forma mais aprofundada. 14 15 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA A eficiente gestão financeira contribuirá para o bom desenvolvimento de todas as atividades pertinentes a qualquer organização. Para tanto, há a necessidade de se conhecer as tarefas básicas da função financeira. 1.2 Tarefas básicas da função financeira: funções e objetivos Ainda com base no fluxo de fundos de uma empresa industrial hipotética, de que forma são desenvolvidas as tarefas básicas da função financeira? As “válvulas” que estão dispostas entre um e outro “reservatório” de fontes e de usos dos recursos financeiros são, de fato, as oportunidades de atuação do gestor financeiro. A ele compete, diretamente, regular o fluxo de entrada e saída de recursos que, ao final, serão canalizados para o Patrimônio Líquido da empresa, sob a forma de capital, reservas e lucros retidos. E é do conhecimento das peculiaridades de cada uma dessas fontes e dessas possibilidades de utilização dos recursos financeiros que surge a indispensável qualificação do gestor financeiro. Na busca de soluções que visam a um adequado levantamento de recursos, o profissional da área de finanças deve explorar todas as fontes de recursos que são colocadas à disposição de uma empresa. Essas fontes e usos estão relacionados diretamente com o próprio empreendimento, mas também com o mercado financeiro e com o de fatores de produção e de bens e serviços finais onde a empresa atua. A figura 1 apresenta a ação do administrador financeiro. Ativo circulante Ativo permanente Passivo circulante Risco/retorno Fatores econômicos Valor da ação Exigível a LP Patrimônio Líquido Ativo Passivo e Patrimônio Líquido Mercado Empresa Figura 1 – Âmbito de ação do administrador financeiro O administrador financeiro age sobre o Ativo Circulante do negócio, dimensionando adequadamente os investimentos que serão realizados na sua operação, financiando clientes, investindo em estoques e nas demais rubricas que configuram os bens e direitos num horizonte de 360 dias contados da data do balanço. Também dimensiona, da forma mais adequada possível, osfinanciamentos tomados que serão utilizados nos investimentos no Ativo Operacional do empreendimento e que irão consubstanciar o Passivo Circulante. 15 16 Unidade I Lembrete Lembre-se de que os estoques que estão lançados no Ativo Circulante representam tanto o estoque de matérias-primas e materiais auxiliares, como o estoque de produtos acabados. A atuação do administrador financeiro, quanto às condições de pagamento das compras e uma apropriada administração das rubricas que compõem o Contas a pagar, é de fundamental importância para a configuração de um adequado ciclo financeiro do negócio, coerentemente com as reais possibilidades que o mercado e o próprio negócio oferecem. Para tanto, as compras tanto de matéria-prima como de materiais auxiliares devem estar em consonância com as condições de pagamento dessas compras que a empresa pode gerenciar. Devem estar consubstanciadas com as condições de entradas de recursos na empresa de forma que tenha condições de efetuar os pagamentos nos prazos estabelecidos. Muitas vezes, condições mercadológicas, preço baixo, por exemplo, faz com que determinada empresa efetue compras de matéria-prima além do necessário para aquele momento. Trata-se de uma questão de escolha entre as opções que lhe são oferecidas: aproveitar uma queda de preços de matéria-prima e reforçar estoque na crença de possibilidade de diminuição do custo dos produtos, o que impacta saídas de caixa para retorno de produção futura, ou simplesmente não “cair na tentação” das oportunidades ditas mercadológicas, focalizando as ações na racionalidade. Observação Observe que ciclo financeiro é o resultado da composição dos prazos médios de recebimento das vendas, de renovação dos estoques e de pagamento das compras. Saiba mais É possível perceber que o gestor financeiro deve ter amplo conhecimento das demonstrações contábeis, desde sua estruturação até a interpretação para acertada tomada de decisão. Sobre o assunto, é sempre válida a consulta à obra: MARION, J. C. Contabilidade Básica. 10. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2009. Nesta obra, você poderá relembrar alguns conceitos pertinentes à contabilidade, notadamente aqueles que remetem ao Balanço Patrimonial e suas rubricas. Fica a dica. 16 17 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Ainda com relação às principais rubricas do Balanço Patrimonial constantes da figura 1, o administrador financeiro também atua sobre a composição do Ativo Permanente do negócio, interagindo com as demais funções no sentido de estabelecimento das melhores condições possíveis para a alocação dos recursos de terceiros resultantes de empréstimos e financiamentos, além dos recursos próprios, contrapartida da aquisição dos indispensáveis, bens que configuram o imobilizado do empreendimento. E também na evolução que se verifica na atividade, pelos investimentos que darão origem à ampliação do próprio negócio, explorando as oportunidades que se oferecerem para tal. Lembrete Lembre-se de que o Ativo Permanente é composto de bens da empresa de difícil conversão em caixa no curto prazo. Não apresenta liquidez imediata e pode impactar negativamente os resultados financeiros. Saindo do âmbito interno da empresa, o administrador financeiro coloca um olho atento nas condições oferecidas pelo mercado quanto ao risco e retorno das diversas possibilidades de aplicação financeira de recursos disponíveis. Nesta condição, municia-se adequadamente de informações sobre todos os fatores de ordem econômica que possam interferir direta ou indiretamente na condução das atividades, quer sejam elas derivadas do mercado de atuação como de forças econômicas, sociais, legais e tecnológicas provenientes do macroambiente de atuação da organização. No caso de empresas de capital aberto, sua atuação se concentra, por vezes, em atividades que possam interferir diretamente na avaliação do valor da ação do empreendimento no mercado, zelando por uma valorização crescente do valor de mercado, coerentemente com o valor patrimonial e com as possibilidades de retorno do investimento em níveis compatíveis com a taxa de atratividade do mercado específico de atuação. Tem-se, portanto, em uma síntese, que o papel do administrador financeiro é exercido tanto sobre os recursos próprios – aqueles que configuram o Patrimônio Líquido do negócio, como capital integralizado, reservas e lucros retidos – como recursos de terceiros – aqueles que compreendem as contas do Passivo Circulante e do Exigível de Longo Prazo. São recursos permanentes quando provenientes de recursos próprios ou de dívidas de longo prazo, e constituem recursos temporários quando se referirem a compromissos e dívidas em curto prazo. Podem, ainda, serem recursos onerosos – que implicam pagamento de despesas financeiras daí decorrentes –, ou recursos não onerosos – quando não constituírem recursos que irão exigir o pagamento de algum tipo de ônus financeiro para a sua obtenção. Do lado da alocação de recursos, ou seja, destinação e uso dos recursos financeiros obtidos, quaisquer que sejam as fontes de recursos, cabe ao administrador financeiro uma análise visando compatibilizar prazos e custos desta tomada de recursos com a potencial geração dos lucros do negócio, que irão suportar tais custos em volume e em determinado momento. Assim, o financiamento de um torno mecânico, por exemplo, deverá considerar as reais possibilidades de geração de receita com o produto advindo da operação deste item que irá compor o Ativo imobilizado do empreendimento, na época e 17 18 Unidade I no volume de lucro compatível com os desembolsos financeiros por conta de um financiamento daí originado para a aquisição do bem. Entretanto, a atuação do administrador financeiro não se faz unicamente pela obtenção e alocação de recursos financeiros destinados à aquisição de bens que irão compor o Ativo Permanente da empresa. Também se observa uma acentuada atuação do administrador financeiro no desenvolvimento das operações da organização. Nesse conteúdo operacional da função financeira, os recursos podem ser alocados tanto em Ativos fixos como em Ativos Circulantes, ou seja, nas disponibilidades, composição da carteira de contas a receber de clientes e administração dos estoques de matérias-primas, materiais auxiliares e produtos acabados. Por vezes, a atuação do administrador financeiro é de fundamental importância para a constituição de outros Ativos, tais como participação societária em outras empresas e determinadas aplicações financeiras. No processo de administração das fontes de recursos e sua destinação, desponta um aspecto de extrema importância para o sucesso da administração financeira: a relação entre liquidez e rentabilidade. Sobre o assunto, Cheng e Mendes (1989) exploram que: Gestão financeira pode ser definida como a gestão dos fluxos monetários derivados da atividade operacional da empresa, em termos de suas respectivas ocorrências no tempo. Ela objetiva encontrar o equilíbrio entre a “rentabilidade” (maximização dos retornos dos proprietários da empresa) e a “liquidez” (que se refere à capacidade de a empresa honrar seus compromissos nos prazos contratados). Isto é, está implícita na necessidade da gestão financeira a busca do equilíbrio entre gerar lucros e manter caixa. Observação Acabamos de apresentar duas grandes funções da área financeira: manter caixa positivo e gerar lucros para a empresa. A liquidez, traduzida pela capacidade da organização em liquidar seus compromissos financeiros de curto prazo, tem a ver com o correto dimensionamento dos prazos médios a que nos referimos anteriormente. Entre a aquisição da matéria-prima e dos componentes necessários para a fabricação do produto até a efetivação da venda propriamente dita, existem custos e despesas que deverão ser suportados pela empresa. A definição dos prazos de pagamento desses materiais será importante para a “saúde” financeira do empreendimento: se os prazos de pagamento não forem compatíveiscom o prazo de recebimento das vendas, poderá ocorrer um descompasso entre a entrada e a saída de recursos. Sabe-se que tais prazos médios de pagamento e de recebimento das vendas nem sempre são ditados pela própria empresa. Na maioria das vezes, essas condições são estabelecidas “no mercado”, quando todos os principais agentes econômicos envolvidos ficam dispersos em torno de uma média de dias, sob dependência do custo financeiro nas operações de refinanciamento existentes neste mercado. 18 19 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Por isso, compete ao gestor financeiro a conciliação dos interesses envolvidos na área de produção e de vendas, por exemplo, funções em que se processam paradoxos: para a área de produção interessa dispor de um elevado estoque de matéria-prima, componentes e partes e peças indispensáveis à elaboração do produto final. Desta maneira, se poderá cumprir, com a máxima segurança, o cronograma de produção que for destinado. Isso requer uma disponibilidade de área, entendido como espaço físico, com todos os custos e despesas ali envolvidos, tais como aluguel ou amortização de investimento ou empréstimo para a aquisição do imóvel; despesas com a administração do estoque, com zeladoria, com vigilância e segurança etc.; além de disponibilidade de capital de giro que, muitas vezes, não são facilmente suportados pela geração da receita e dos lucros. Por seu turno, a área de vendas certamente se sentiria mais capacitada a cumprir suas metas de vendas se lhe fossem disponibilizados produtos para pronta entrega a preços inferiores aos praticados pelo mercado e com condições de pagamento a perder de vista. Assim, diante tal paradoxo, cabe ao gestor financeiro a decisão de a qual interesse atender, visto que os dois lados representam importâncias relativas e, por vezes, no mesmo momento. Daí, então, a necessidade do fluxo de caixa compatibilizar as saídas e as entradas de recursos financeiros. Saiba mais Cheng e Mendes (1989) ressaltam que o administrador financeiro não pode ser o único responsável pela eficiente administração do fluxo de caixa, uma vez que este representa o fluxo de entradas e saídas das operações que foram geradas por toda a empresa. Neste aspecto, recomendamos a leitura de tal artigo, intitulado A Importância e a Responsabilidade da Gestão Financeira na Empresa (CHENG, A.; MENDES, M. M. Cadernos de Estudos. n. 1. São Paulo, out. 1989). Você perceberá que a responsabilização por boa parte da administração de caixa dependerá também das ações dos departamentos indiretamente envolvidos. A compatibilidade entre as saídas e as entradas de recursos financeiros para a operação do empreendimento é decorrência do volume de recursos que são alocados no Ativo Circulante Operacional (ACO) – duplicatas a receber, estoques e certos ajustes no Ativo Circulante – e no Passivo Circulante Operacional (PCO) – fornecedores, contas a pagar e também certos ajustes no Passivo Circulante relacionados com a operação do empreendimento. A diferença entre ACO e PCO constitui a necessidade de capital de giro (NCG) do negócio. Sabidamente, quanto menor for o capital de giro do empreendimento, mais recursos poderão ser utilizados em outras áreas do empreendimento. A maioria das empresas apresenta um ACO maior do que o PCO. Neste caso, compete ao gestor financeiro a obtenção de recursos para financiamento desses Ativos em condições adequadas ao negócio. Se, no entanto, o ACO for menor do que o PCO, sobram recursos na empresa, aos quais deverão 19 20 Unidade I ser aplicadas as melhores taxas do mercado financeiro ou mesmo deverão ser utilizados para a expansão da planta, ou seja, investimento em Ativos fixos. No tocante ao segundo aspecto desta análise sobre a eficácia da administração, devemos considerar a rentabilidade como um “grau de êxito econômico obtido pela empresa em relação ao capital nela investido” (BRAGA, 1989, p. 30). A relação entre o lucro operacional e o Ativo Operacional a que nos referimos anteriormente já indicará uma medida da eficiência na gestão dos recursos próprios e de terceiros, independentemente dos custos financeiros e de outros fatores. Por sua vez, uma relação entre o lucro líquido do negócio em determinado período de tempo associado ao volume de capital próprio médio no período será um importante indicador, para o acionista, da rentabilidade do capital investido que, cotejado com outras taxas de atratividade no mercado financeiro, indicará se o investimento realizado no empreendimento está proporcionando uma rentabilidade adequada, em termos de custo de oportunidade do investimento. Ainda nesta ligeira digressão sobre a rentabilidade, a relação entre o lucro antes das despesas financeiras e o volume total de Ativos do empreendimento proporciona outra medida da eficiência da empresa. Este retorno sobre o Ativo, como também é conhecido, comparado com o custo da dívida – relação entre a despesa financeira e o volume de empréstimos bancários existentes na organização – poderá indicar se houve uma adequada alavancagem financeira do negócio, ou seja, se terá ou não valido a pena o endividamento bancário. Como se observa, portanto, o equilíbrio entre uma adequada liquidez corrente – o volume de bens e direitos de curto prazo, comparados com as obrigações de curto prazo – e rentabilidade do empreendimento são uma permanente preocupação do administrador financeiro e um constante desafio que se interpõe na consecução dos seus objetivos. Saiba mais Sobre o assunto rentabilidade versus liquidez, indicamos a leitura do artigo Uma Proposta para a Análise Integrada da Liquidez e Rentabilidade das Empresas, de autoria dos professores Roberto Braga, Valcemiro Nossa e José Augusto Veiga da Costa Marques, encontrado na Revista de Contabilidade e Finanças, v. 15, São Paulo, jun. 2004. Neste artigo, é apresentado um novo modelo de análise das demonstrações contábeis que permite integrar as avaliações da situação financeira e da rentabilidade do capital próprio em uma única medida, denominada Indicador da Saúde Econômico-Financeira das Empresas (Isef). Estamos certos de que apreciará a leitura. 20 21 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.3 Objetivos estratégicos do administrador financeiro Com as informações reunidas até aqui, já pudemos observar que as funções do administrador financeiro de uma organização estão reunidas em algumas atividades básicas, quais sejam: • análise e planejamento de todas as informações de cunho financeiro, que possam se relacionar, direta ou indiretamente, com as operações da organização, com a expansão do negócio frente às oportunidades e mesmo com ameaças derivadas do ambiente externo, isto é, do macroambiente e, sobretudo, do ambiente setorial, no processo de administração estratégica do empreendimento; • administração da estrutura dos Ativos da empresa e de que forma tais Ativos implicam a obtenção de recursos financeiros para a sua aquisição e operacionalização, coerentemente com as possibilidades de geração de caixa desses Ativos; • administração da estrutura financeira da empresa, aí incluídos os aspectos relacionados com a composição mais adequada de financiamentos em curto, médio e longo prazos, dadas as suas implicações com a liquidez e rentabilidade do negócio, e também com a própria determinação das melhores fontes de financiamento em curto, médio e longo prazos para suprimento das necessidades de capital de giro e recursos financeiros destinados à composição do Ativo fixo da empresa. Essas funções são desempenhadas com um primordial objetivo: a maximização do Patrimônio Líquido da organização. Isto significa a ampliação da riqueza dos proprietários do empreendimento. Este é o fundamento de todos aqueles que investem seu capital em um empreendimento considerado de risco. Risco porque envolve a possibilidade de perda total ou parcial desses recursos. Assim, o risco é inerente a todos os empreendimentos e aplicações, podendo ser eficientemente avaliado, calculado,suportado ou mesmo eliminado, com base nas condições do macroambiente e ambiente setorial e, sobretudo, nas competências e habilidades desenvolvidas e aplicadas pelos gestores do empreendimento no planejamento, operacionalização, controle e condução do negócio. Saiba mais Já que tocamos no assunto risco, indicamos fortemente a leitura do livro de Peter L. Bernstein, Desafio aos Deuses: a Fascinante História do Risco (Rio de Janeiro: Campus, 1997). Em uma narrativa que se assemelha a um romance, o autor argumenta que a concepção do risco constitui uma das ideias centrais que distinguem os tempos modernos do passado mais remoto. Vela a leitura. Neste sentido, é preciso considerar, neste estágio de nossa digressão, o que significa a maximização do Patrimônio Líquido do negócio ou a ampliação da riqueza dos seus donos. Em outras palavras, quanto vale o negócio? 21 22 Unidade I Existem várias formas para a medição do valor de um empreendimento. Vão desde o valor dos Ativos, o valor da marca, o valor do Patrimônio Líquido e outros Ativos tangíveis (Ativo Permanente) e intangíveis (marcas e patentes, licenças de produção etc.). Mas, o que melhor reflete o valor de um empreendimento é a capacidade de geração de caixa deste. Ou seja, a capacidade de gerar lucros, mediante o uso de seus Ativos, o emprego de determinada tecnologia, sua competência gerencial e o seu próprio conceito junto a fornecedores, clientes e credores em geral. É sobre tais aspectos que deve se concentrar a atuação dos gestores do empreendimento, porque daí deriva o valor do negócio. Maximização da riqueza dos acionistas não significa necessariamente maximização dos lucros. Enquanto este último resulta de ações imediatas, por vezes inconstantes e esporádicas e de curto efeito no tempo, a maximização do valor das ações ou cotas dos acionistas ou proprietários é fruto de uma perspectiva de longo prazo, com investimentos que visem, além de outros aspectos, à perpetuidade do empreendimento. Também é preciso atentar para o valor do dinheiro no tempo, que implica uma análise de valor presente líquido dos retornos anuais esperados para o negócio, descontados a uma determinada taxa de atratividade para os investimentos que serão cotejados com outras aplicações financeiras. Em se tratando de uma empresa que possui ações no mercado de capitais, a valorização dessas ações também é de extrema importância para a fundamentação da maximização da riqueza do acionista, bem como os dividendos proporcionados por essa fração do capital. Neste particular aspecto, a periodicidade dos recebimentos de dividendos pode ser um interessante apelo para a atração de investidores. Dentre eles, aqueles que preferem receber dividendos de uma forma regular, independentemente das flutuações dos lucros. Desta forma, a empresa estará minimizando os efeitos negativos que possam afetar as cotações das ações. Além disso, há que se considerar a relação entre risco e retorno do investimento. Sabidamente, quanto maior o risco, maior a exigência de retorno do investimento por aqueles que irão disponibilizar os recursos. 1.4 A interação da Administração Financeira com outras áreas do conhecimento Feita esta distinção, vejamos de que maneira a função da administração financeira se relaciona com outras áreas do conhecimento. Esta relação se dá principalmente no âmbito da Economia e da Contabilidade. A Administração Financeira se vale dos conceitos compreendidos tanto na macroeconomia quanto na microeconomia. São dois ramos teóricos da mesma ciência. A microeconomia estuda o comportamento dos consumidores e, por outro lado, certos aspectos relacionados ao funcionamento das empresas, no tocante a custos e produção de bens e serviços e, também, receita e fatores produtivos. As teorias microeconômicas fornecem a base para a operação eficiente da empresa, sobre a qual se assentam os estudos e conceitos da administração em suas várias funções empresariais. Os conceitos envolvidos nas relações de oferta e demanda e as estratégias de maximização do lucro são extraídas da teoria microeconômica. Questões relativas à composição de fatores produtivos, níveis ”ótimos” de 22 23 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA vendas e estratégias de determinação de preço do produto são todas afetadas por teorias no nível microeconômico e, por isso, constituem um campo especial de atuação do administrador financeiro. A macroeconomia compreen de o estudo dos agregados – a produção ou renda nacional, o consumo, o emprego, a moeda, o nível de preços, o comércio internacional. Estes são, pois, aspectos amplos e globais da realidade econômica, abordados de forma “macroscópica”. Esta mudança de enfoque – do micro para o macro – requer boa dose de abs tração. Antes, no enfoque “microscópico”, podíamos observar de perto nossa partici pação na realidade econômica do país, ganhando e gastando, e economizando sempre que possível. Agora, ao tratarmos dos agregados, abordando aspectos como o custo de vida em contínua, imperceptível – até certo ponto – e persistente ascensão, o nível de emprego em volume inferior às ne cessidades, nos sentiremos alheios à própria evolução dos fatos, porque, aparentemen te, as coisas fogem completamente do nosso controle pessoal. Vê-se, portanto, que a dúvida se deslocará de uma visão individualizada para uma visão da econo mia como um todo, na mudança de uma abordagem microeconômica para uma abordagem macroeconômica. Ambos os ramos teóricos são importantes para o administrador financeiro, dadas as implicações sobre sua atividade e seus objetivos em geral. Observação Observe que a microeconomia trata da economia aplicada ao mundo empresarial tomado como unidade de produção, enquanto a macroeconomia observa todas as unidades de produção em conjunto. Saiba mais Para um maior aprofundamento do que vem a ser microeconomia e macroeconomia, vale a consulta ao livro de Otto Nogami e Carlos Roberto Martins Passos, intitulado Princípios de Economia (6. ed. São Paulo: Cengage, 2011). Os autores foram muito felizes na descrição, análise e aplicação de diversos conceitos da economia para o ambiente organizacional. Temos certeza de que aprenderá bastante acerca desta ciência. Em relação à Contabilidade, a Administração Financeira dela se utiliza para uma visão acurada da posição financeira da organização. O contador, utilizando certos princípios padronizados e geralmente aceitos, prepara as demonstrações financeiras com base na premissa de que as receitas devem ser reconhecidas por ocasião das vendas. Por sua vez, as despesas devem ser reconhecidas quando incorridas, isto é, na sua geração. Este método é geralmente chamado de regime de competência dos exercícios contábeis. Por este método, o valor da venda comprovado por uma nota fiscal de venda emitida hoje, que será recebido 23 24 Unidade I no mês seguinte, deve ser registrado já neste mês. Por seu turno, uma despesa comprovada por uma determinada nota fiscal de fornecimento ou prestação de serviço com data de hoje deve ser assumida hoje, independentemente de ter seu pagamento realizado, por exemplo, daqui a um mês. Para o administrador financeiro, sua tarefa consiste em proporcionar os fluxos de caixa necessários para atingir as metas da empresa. Sua preocupação se relaciona à solvência da empresa, ou seja, à capacidade da empresa de gerar receita e efetuar pagamentos por conta de custos e despesas, investimentos e outros que tais. Assim, ao invés de reconhecer receitas no ponto de vendas e despesas, quando incorridas, reconhece receitas e despesas somente com respeito a entradas e saídas de caixa. São elas que, efetivamente, importam. Observa-se, portanto, que, a partir dos registros contábeis, são elaboradas as demonstrações financeiras, que irão proporcionar ao administrador financeiro uma avaliação, o desenvolvimento de dados adicionais e posteriores decisões com base em análises subsequentes, com vistas ao equilíbrio entre as entradas e saídasde recursos e, sobretudo, com vistas à maximização do valor do empreendimento, conforme já visto. 2 O AMBIENTE OPERACIONAL DO ADMINISTRADOR FINANCEIRO E DA PRÓPRIA EMPRESA Qualquer que seja o tipo de empreendimento – empresa industrial, comercial, prestadora de serviços ou financeira –, a origem do capital – empresa privada ou empresa pública –, bem como seu tamanho – grande ou pequena –, ou sua finalidade – com ou sem fins lucrativos –, haverá um lugar para um gestor dos seus Ativos financeiros. São profissionais que se dedicam a uma série de tarefas financeiras da empresa, voltada para o planejamento financeiro, fluxo de caixa, gestão e concessão de crédito a clientes, avaliação de projetos de investimento, captação de recursos para financiamento das atividades da empresa e alocação adequada desses recursos em operações geradoras de caixa. Observação Devido à complexidade nas operações das organizações, temos visto aumentar a importância das tarefas do administrador financeiro e, como consequência, estes profissionais têm assumido posições privilegiadas no organograma das empresas. Outro fato que dá forma e substância ao ambiente operacional do administrador financeiro e da organização no conjunto das atividades empresariais é a própria globalização das atividades empresariais. A cada dia, mais e mais negócios são realizados no mundo todo, usufruindo das facilidades de uma ampla comunicação proporcionada pela internet, com um fabuloso tráfego de dados sob as mais diversas formas – imagens, texto, planilhas etc. –, proporcionando mais vendas, mais compras, mais investimentos e, sobretudo, um fluxo maior de recursos financeiros entre as diversas nações empenhadas no comércio mundial. 24 25 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Saiba mais Sobre o assunto globalização, notadamente a financeira, vale a leitura do livro O Mundo Globalizado, de Alexandre de Freitas Barbosa (São Paulo: Contexto, 2001). Nesse livro, o autor apresenta diversas características da globalização financeira, mostrando a importância das finanças empresariais em ambiente de economia aberta. Temos certeza de que gostará do assunto. Esses profissionais interagem em um complexo conjunto de instituições financeiras, dotadas de instrumentos financeiros que possibilitam a transferência de recursos dos ofertadores últimos – aqueles que se encontram em posição de superávit financeiro, isto é, que dispõem de recursos financeiros e estão dispostos a cedê-los sob a forma de empréstimo ou investimento – e os tomadores últimos – aqueles que demandam recursos financeiros, isto é, que estão em posição de déficit financeiro e, portanto, buscam esses recursos no mercado. Entre um e outro, conciliando os interesses entre os tomadores e os aplicadores, surgem os intermediários financeiros. São componentes vitais do sistema financeiro que, por intermédio de suas instituições, tem como função a captação de recursos financeiros, a distribuição e circulação de valores e títulos mobiliários e a regulação deste processo. As operações no mercado financeiro estão classificadas em quatro grandes grupos: • mercado cambial, que compreende operações à vista e em curto prazo, transformando moeda estrangeira em moeda nacional e vice-versa; • mercado monetário, compreendendo operações à vista, de curto e de curtíssimo prazo, para controle da liquidez bancária; • mercado de crédito, por meio do qual se processam operações de prazos curto, médio e aleatórios, com financiamentos de capital de giro, capital fixo, habitação, rural e consumo de bens e serviços; • mercado de valores mobiliários, com operações de prazos curto, médio, longo e indeterminado, igualmente para financiamentos de capital de giro, capital fixo, underwriting ou subscrição de ações, ações e debêntures. Saiba mais Dois livros são muito importantes para que você possa aprofundar seus conhecimentos quanto aos mercados de capitais, crédito, cambial e monetário. O primeiro deles é o livro de Eduardo Fortuna intitulado Mercado 25 26 Unidade I Financeiro: Produtos e Serviços (19. ed. São Paulo: Qualitymark, 2013). O outro é o de Alexandre Assaf Neto, cujo título é Mercado Financeiro (11. ed. São Paulo: Atlas, 2012). São duas obras consagradas no assunto e você poderá observar com maior precisão a importância dos quatro grandes grupos a que o texto anterior se refere. A regulamentação governamental desses mercados é realizada pelas autoridades monetárias, que são os órgãos normativos que regulam, controlam e exercem a fiscalização do sistema financeiro nacional e das instituições de intermediação, disciplinando todas as modalidades e operações de crédito, assim como a distribuição de valores mobiliários. Constituem as autoridades monetárias do país o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (Bacen), o Tesouro Nacional e a Comissão de Valores Monetários (CVM). As normas e a disciplina operacional são impostas ao sistema por meio de resoluções, circulares, instruções e atos declaratórios, emanados direta ou indiretamente das decisões do CMN. Ao CMN e ao BC compete um conjunto de atribuições, relacionadas à adaptação do volume de meios de pagamento – que, em sua forma mais simples, conhecida por M1, compreende os depósitos à vista, do público, nos bancos comerciais, somados ao total do papel-moeda em poder do público. Vejamos algumas das principais atribuições dos órgãos que compõem as autoridades monetárias do país: • Conselho Monetário Nacional – CMN É o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. É composto pelo Ministro da Fazenda (que é o Presidente do CMN), o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, e pelo Presidente do Banco Central. Entre suas funções destacam-se: – adaptar o volume de meios de pagamento às reais necessidades da economia; – regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos, que consiste no registro sistemático das operações comerciais e financeiras entre residentes e não residentes do país; – orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; – propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros; – zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; – coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa. 26 27 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA • Tesouro Nacional Consubstanciado na Secretaria do Tesouro Nacional (STN), consiste no caixa do governo, pois capta recursos no mercado, via emissão primária – pela primeira vez em circulação – de títulos – Letras Financeiras do Tesouro (LFT), Notas do Tesouro Nacional (NTN), Letras do Tesouro Nacional (LTN) –, para financiamento da dívida interna do governo, por intermédio do Bacen. A STN é o órgão central do Sistema de Administração Financeira Federal e do Sistema de Contabilidade Federal, responsável pela administração e controle da dívida pública federal, tanto interna como externa. • Banco Central do Brasil (Bacen) É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, criada em fins de 1964, juntamente com o Conselho Monetário Nacional. É o principal executor das orientações deste conselho e responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional, ou seja, pelo controle da inflação. Dentre seus objetivos, destacam-se: – zelar pela adequada liquidez da economia; – manter as reservas internacionais em nível adequado; – estimular a formação de poupança; – zelar pela estabilidade e promoção do aperfeiçoamento do sistema financeiro. Para o cumprimento de suas obrigações, compete ao Bacen: – a emissão de papel-moeda e moeda metálica; – executar os serviços do meio circulante; – receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias; – realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; – regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis; – efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais;– executar o controle de crédito; – exercer a fiscalização das instituições financeiras; – autorizar o funcionamento das instituições financeiras; 27 28 Unidade I – estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras; – vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais e controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país. Em 1996, instituiu-se o Comitê de Política Monetária (Copom), com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de juros básica da economia e seu viés, ou seja, a tendência de alta, baixa ou sua manutenção para um período próximo. Este Comitê é composto pelos membros da Diretoria Colegiada do BC, a saber, o Presidente, o Diretor de Política Monetária, o Diretor de Política Econômica, o Diretor de Estudos Especiais, o Diretor de Assuntos Internacionais, o Diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro, o Diretor de Fiscalização, o Diretor de Liquidação e Desestatização e o Diretor de Administração. Cabe ao Presidente o voto decisório, em caso de empate na decisão de política monetária. A taxa Selic, que se constitui no instrumento primário de política monetária, é a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos diários com prazo de um dia útil (conhecido por overnight) lastreados por títulos públicos registrados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Observação O Copom estabelece a meta para a taxa Selic, e é função da mesa de operações do mercado aberto do Bacen manter a taxa Selic diária próxima à meta. Dada a sua importância na economia, pois constitui um balizador para as taxas de juros praticadas em todo o mercado financeiro, a Selic é reconhecida como a “taxa básica de juros da economia” e “custo primário do dinheiro”. Saiba mais Você pode acessar o site do Banco Central do Brasil para obter mais informações acerca deste órgão, bem como do Conselho Monetário Nacional. O site do Banco Central oferece enorme quantidade de informações sobre o sistema de metas para inflação, economia e finanças, câmbio e capitais internacionais, sistema de pagamento brasileiro, sistema financeiro nacional, além de informações sobre intervenções, liquidações e privatizações. O endereço eletrônico é <http://www.bcb.gov.br>. Há muita coisa interessante. 28 29 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA • Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Trata-se de entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária. Foi criada para disciplinar o funcionamento do mercado de valores mobiliários e a atuação de seus protagonistas – as companhias abertas, os intermediários financeiros e os investidores. Compete à CVM: – assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa – bolsa de valores e bolsa de futuros – e de balcão; – proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e acionistas controladores de companhias ou de administradores de carteira de valores mobiliários; – evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários negociados no mercado; – assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; – estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários; – promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular dos mercados de ações e de futuros e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas. Para o cumprimento de suas funções, cabe à CVM disciplinar as seguintes matérias, dentre outras: – registro de companhias abertas; – registro de distribuições de valores mobiliários; – credenciamento de auditores independentes e administradores de carteiras de valores mobiliários; – organização, funcionamento e operações das bolsas de valores; – organização, funcionamento e operações das bolsas de mercadorias e de futuros; – negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários; – administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários; 29 30 Unidade I – suspensão ou cancelamento de registros, credenciamentos ou autorizações; – suspensão de emissão, distribuição ou negociação de determinado valor mobiliário ou decretar recesso de bolsa de valores. Saiba mais Vale uma visita ao site da Comissão de Valores Mobiliários: <http:// www.cvm.gov.br/>. Ali, você encontrará excelentes informações para seu aprendizado nesta área. Pode ser que esteja trabalhando em alguma empresa de capital aberto e seria interessante ter maior contato com o assunto. Se não estiver trabalhando em empresa de capital aberto, vale o conhecimento da mesma forma. Temos que pensar no futuro. Estendendo a compreensão destas informações, verifica-se que as instituições financeiras captadoras de depósitos à vista compreendem os bancos comerciais e múltiplos com carteira comercial, a Caixa Econômica Federal e as cooperativas de crédito. Por demais instituições financeiras entendem-se: • os bancos múltiplos sem carteira comercial; • os bancos de investimento; • os bancos de desenvolvimento; • as sociedades de crédito, financiamento e investimento; • as sociedades de crédito imobiliário; • as agências de fomento; • a Associação de Poupança e Empréstimo; • as companhias hipotecárias; • as cooperativas centrais de crédito. Os outros intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros compreendem: • as sociedades corretoras de valores mobiliários; • as sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários; 30 31 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA • as sociedades de arrendamento mercantil; • as sociedades corretoras de câmbio e; • os administradores de consórcio. Estendendo nosso reconhecimento do ambiente operacional das empresas tomadoras e aplicadoras de recursos financeiros, reproduzimos, a seguir, a conceituação expressa no site do Banco Central do Brasil1, sobre os agentes operadores do Sistema Financeiro Nacional: 2.1 Agentes operadores do Sistema Financeiro Nacional Bancos múltiplos Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações ativas, passivas e acessórias das diversas instituições financeiras, por intermédio das seguintes carteiras: comercial, de investimento e/ou de desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrendamento mercantil e de crédito, financiamento e investimento. Lembrete Essas operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às suas carteiras. A carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco público. O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comercial ou de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima. As instituições com carteira comercial podem captar depósitos à vista. Na sua denominação social deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN nº 2.099, de 1994). Bancos comerciais Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo principal proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, em curto e médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral. A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial, o qual pode também captar depósitos a prazo. Deve ser constituído sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN nº 2.099, de 1994). 1 Adaptado de textos do site do Bacen: <http://www.bcb.gov.br/?SFNCOMP>.Acesso em: 6 nov. 2013. 31 32 Unidade I Caixa Econômica Federal A Caixa Econômica Federal, criada em 1861, está regulada pelo Decreto-Lei nº 759, de 12 de agosto de 1969, como empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda. Trata-se de instituição assemelhada aos bancos comerciais, podendo captar depósitos à vista, realizar operações ativas e efetuar prestação de serviços. Uma característica distintiva da Caixa é que ela prioriza a concessão de empréstimos e financiamentos a programas e projetos nas áreas de assistência social, saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esporte. Pode operar com crédito direto ao consumidor, financiando bens de consumo duráveis, emprestar sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, tem o monopólio do empréstimo sob penhor de bens pessoais e sob consignação e tem o monopólio da venda de bilhetes de loteria federal. Além de centralizar o recolhimento e posterior aplicação de todos os recursos oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Cooperativas de créditos As cooperativas de crédito observam, além da legislação e normas do sistema financeiro, a Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a política nacional de cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas. Atuando tanto no setor rural quanto no urbano, as cooperativas de crédito podem se originar da associação de funcionários de uma mesma empresa ou grupo de empresas, de profissionais de determinado segmento, de empresários, ou mesmo adotar a livre admissão de associados em uma área determinada de atuação, sob certas condições. Observação Os eventuais lucros auferidos com suas operações – prestação de serviços e oferecimento de crédito aos cooperados – são repartidos entre os associados. As cooperativas de crédito devem adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “Cooperativa”, vedada a utilização da palavra “Banco”. Devem possuir o número mínimo de vinte cooperados e adequar sua área de ação às possibilidades de reunião, controle, operações e prestações de serviços. Estão autorizadas a realizar operações de captação por meio de depósitos à vista e a prazo somente de associados, de empréstimos, repasses e refinanciamentos de outras entidades financeiras, e de doações. Podem conceder crédito, somente a associados, por meio de desconto de títulos, empréstimos, financiamentos, e realizar aplicação de recursos no mercado financeiro (Resolução CMN nº 3.106, de 2003). Agências de fomento As agências de fomento têm como objeto social a concessão de financiamento de capital fixo e de giro associado a projetos nas unidades da Federação onde tenham sede. Devem ser constituídas sob a 32 33 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA forma de sociedade anônima de capital fechado e estar sob o controle de unidade da Federação, sendo que cada unidade só pode constituir uma agência. Tais entidades têm status de instituição financeira, mas não podem captar recursos junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta de reserva no Banco Central, contratar depósitos interfinanceiros na qualidade de depositante ou de depositária e nem ter participação societária em outras instituições financeiras. De sua denominação social deve constar a expressão “Agência de Fomento” acrescida da indicação da unidade da Federação Controladora. É vedada a sua transformação em qualquer outro tipo de instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional. As agências de fomento devem constituir e manter, permanentemente, fundo de liquidez equivalente, no mínimo, a 10% do valor de suas obrigações, a ser integralmente aplicado em títulos públicos federais (Resolução CMN nº 2.828, de 2001). Associações de poupança e empréstimo As associações de poupança e empréstimo são constituídas sob a forma de sociedade civil, sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações ativas são, basicamente, direcionadas ao mercado imobiliário e ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH). As operações passivas são constituídas de emissão de letras e cédulas hipotecárias, depósitos de cadernetas de poupança, depósitos interfinanceiros e empréstimos externos. Os depositantes dessas entidades são considerados acionistas da associação e, por isso, não recebem rendimentos, mas dividendos. Os recursos dos depositantes são, assim, classificados no Patrimônio Líquido da associação e não no Passivo exigível (Resolução CMN nº 52, de 1967). Bancos de desenvolvimento Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras controladas pelos governos estaduais, e têm como objetivo precípuo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários ao financiamento, em médio e longo prazos, de programas e projetos que visem promover o desenvolvimento econômico e social do respectivo estado. As operações passivas são depósitos a prazo, empréstimos externos, emissão ou endosso de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e de títulos de desenvolvimento econômico. As operações ativas são empréstimos e financiamentos, dirigidos prioritariamente ao setor privado. Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima, com sede na capital do estado que detiver seu controle acionário, devendo adotar, obrigatória e privativamente, em sua denominação social, a expressão “Banco de Desenvolvimento”, seguida do nome do estado em que tenha sede (Resolução CMN nº 394, de 1976). Bancos de investimento Os bancos de investimento são instituições financeiras privadas especializadas em operações de participação societária de caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros. Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima e adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “Banco de Investimento”. Não possuem contas correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. As principais operações ativas são financiamento de capital de giro e capital 33 34 Unidade I fixo, subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e repasses de empréstimos externos (Resolução CMN nº 2.624, de 1999). Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criado em 1952 como autarquia federal, foi enquadrado como uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, pela Lei nº 5.662, de 21 de junho de 1971. O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país. Suas linhas de apoio contemplam financiamentos de longo prazo e custos competitivos, para o desenvolvimento de projetos de investimentos e para a comercialização de máquinas e equipamentos novos fabricados no país, bem como para o incremento das exportações brasileiras. Contribui, também, para o fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas e desenvolvimento do mercado de capitais. A BNDESPAR, subsidiária integral, investe em empresas nacionais por meio da subscrição de ações e debêntures conversíveis. O BNDES considera ser de fundamental importância, na execução de sua política de apoio, a observância de princípios ético-ambientais e assume o compromisso com os princípios do desenvolvimento sustentável. As linhas de apoio financeiro e os programas do BNDES atendem às necessidades de investimentos das empresas de qualquer porte e setor, estabelecidas no país. A parceria com instituições financeiras, com agências estabelecidas em todo o país, permite a disseminação do crédito, possibilitando um maior acesso aos recursos do BNDES. Companhiashipotecárias As companhias hipotecárias são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade anônima, que têm por objeto social conceder financiamentos destinados à produção, reforma ou comercialização de imóveis residenciais ou comerciais aos quais não se aplicam as normas do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Suas principais operações passivas são: letras hipotecárias, debêntures, empréstimos e financiamentos no país e no exterior. Suas principais operações ativas são: financiamentos imobiliários residenciais ou comerciais, aquisição de créditos hipotecários, refinanciamentos de créditos hipotecários e repasses de recursos para financiamentos imobiliários. Tais entidades têm como operações especiais a administração de créditos hipotecários de terceiros e de fundos de investimento imobiliário (Resolução CMN nº 2.122, de 1994). Cooperativas centrais de crédito As cooperativas centrais de crédito, formadas por cooperativas singulares, organizam em maior escala as estruturas de administração e suporte de interesse comum das cooperativas singulares filiadas, exercendo sobre elas, entre outras funções, supervisão de funcionamento, capacitação de administradores, gerentes e associados, e auditoria de demonstrações financeiras (Resolução CMN nº 3.106, de 2003). 34 35 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Sociedades de créditos, financiamento e investimento As sociedades de crédito, financiamento e investimento, também conhecidas por financeiras, foram instituídas pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 309, de 30 de novembro de 1959. São instituições financeiras privadas que têm como objetivo básico a realização de financiamento para a aquisição de bens, serviços e capital de giro. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve constar a expressão “Crédito, Financiamento e Investimento”. Tais entidades captam recursos por meio de aceite e colocação de Letras de Câmbio (Resolução CMN nº 45, de 1966). Sociedades de crédito imobiliário As sociedades de crédito imobiliário são instituições financeiras criadas pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, para atuar no financiamento habitacional. Constituem operações passivas dessas instituições os depósitos de poupança, a emissão de letras e cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros. Suas operações ativas são: financiamento para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria, financiamento de capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a expressão “Crédito Imobiliário” (Resolução CMN nº 2.735, de 2000). Sociedades de crédito ao microempreendedor As sociedades de crédito ao microempreendedor, criadas pela Lei nº 10.194, de 14 de fevereiro de 2001, são entidades que têm por objeto social exclusivo a concessão de financiamentos e a prestação de garantias a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas classificadas como microempresas, com vistas a viabilizar empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial de pequeno porte. São impedidas de captar, sob qualquer forma, recursos junto ao público, ou emitir títulos e valores mobiliários destinados à colocação e oferta públicas. Devem ser constituídas sob a forma de companhia fechada ou de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a expressão “Sociedade de Crédito ao Microempreendedor”, vedada a utilização da palavra “Banco” (Resolução CMN nº 2.874, de 2001). Administradoras de consórcio As administradoras de consórcio são pessoas jurídicas prestadoras de serviços relativos à formação, organização e administração de grupos de consórcio, cujas operações estão estabelecidas na Lei nº 5.768, de 20 de dezembro de 1971. Ao Banco Central do Brasil (Bacen), por força do disposto no art. 33 da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, cabe autorizar a constituição de grupos de consórcio, a pedido de administradoras previamente constituídas sem interferência expressa da referida autarquia, mas que atendam a requisitos estabelecidos, particularmente quanto à capacidade financeira, econômica e gerencial da empresa. Também cumpre ao Bacen fiscalizar as operações da espécie e aplicar as penalidades cabíveis. Ademais, com base no art. 10 da Lei nº 5.768, o Bacen pode intervir nas empresas de consórcio e decretar sua liquidação extrajudicial. O grupo é uma sociedade de fato, constituída na 35 36 Unidade I data da realização da primeira assembleia geral ordinária por consorciados reunidos pela administradora, que coletam poupança com vistas à aquisição de bens, conjunto de bens ou serviço turístico, por meio de autofinanciamento (Circular BCB nº 2.766, de 1997). Sociedades de arrendamento mercantil As sociedades de arrendamento mercantil são constituídas sob a forma de sociedade anônima, devendo constar obrigatoriamente na sua denominação social a expressão “Arrendamento Mercantil”. As operações passivas dessas sociedades são emissão de debêntures, dívida externa, empréstimos e financiamentos de instituições financeiras. Suas operações ativas são constituídas por títulos da dívida pública, cessão de direitos creditórios e, principalmente, por operações de arrendamento mercantil de bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio do arrendatário. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 2.309, de 1996). Sociedade corretoras de câmbio As sociedades corretoras de câmbio são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “Corretora de Câmbio”. Têm por objeto social exclusivo a intermediação em operações de câmbio e a prática de operações no mercado de câmbio de taxas flutuantes. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.770, de 1990). Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários As sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. Dentre seus objetivos estão: • operar em bolsas de valores; • subscrever emissões de títulos e valores mobiliários no mercado; • comprar e vender títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros; • encarregar-se da administração de carteiras e da custódia de títulos e valores mobiliários; • exercer funções de agente fiduciário; • instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimento; • emitir certificados de depósito de ações e cédulas pignoratícias de debêntures; • intermediar operações de câmbio; • praticar operações no mercado de câmbio de taxas flutuantes; 36 37 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA • praticar operações de conta margem; • realizar operações compromissadas; • praticar operações de compra e venda de metais preciosos, no mercado físico, por conta própria e de terceiros; • operar em bolsas de mercadorias e de futuros por conta própria e de terceiros. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.655, de 1989). Os fundos de investimento, administrados por corretoras ou outros intermediários financeiros, são constituídos sob forma de condomínio e representam a reunião de recursos para a aplicação em carteira diversificada de títulos e valores mobiliários, com o objetivo de propiciar aos condôminos valorização de quotas, a um custo global mais baixo. A normatização, concessão de autorização, registro e a supervisão dos fundos de investimento são de competência da Comissão de Valores Mobiliários. Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários As sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidadelimitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários”. Algumas de suas atividades: • intermedeiam a oferta pública e distribuição de títulos e valores mobiliários no mercado; • administram e custodiam as carteiras de títulos e valores mobiliários; • instituem, organizam e administram fundos e clubes de investimento; • operam no mercado acionário, comprando, vendendo e distribuindo títulos e valores mobiliários, inclusive ouro financeiro, por conta de terceiros; • fazem a intermediação com as bolsas de valores e de mercadorias; • efetuam lançamentos públicos de ações; • operam no mercado aberto e intermedeiam operações de câmbio. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.120, de 1986). Bolsas de mercadorias e futuros As bolsas de mercadorias e futuros são associações privadas civis, sem finalidade lucrativa, com objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações realizadas em pregão ou em sistema eletrônico. Para tanto, devem desenvolver, organizar e operacionalizar um 37 38 Unidade I mercado de derivativos livre e transparente, que proporcione aos agentes econômicos a oportunidade de efetuarem operações de hedging (proteção) ante flutuações de preço de commodities agropecuárias, índices, taxas de juro, moedas e metais, bem como de todo e qualquer instrumento ou variável macroeconômica cuja incerteza de preço no futuro possa influenciar negativamente suas atividades. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários. Bolsas de valores As bolsas de valores são associações privadas civis, sem finalidade lucrativa, com objetivo de manter local adequado ao encontro de seus membros e à realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários pertencentes a pessoas jurídicas públicas e privadas, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado por seus membros e pela Comissão de Valores Mobiliários. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa (Resolução CMN nº 2.690, de 2000). Sociedades seguradoras São entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, especializadas em pactuar contrato, por meio do qual assumem a obrigação de pagar ao contratante (segurado), ou a quem este designar, uma indenização, no caso em que advenha o risco indicado e temido, recebendo, para isso, o prêmio estabelecido. Sociedades de capitalização São entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que negociam contratos (títulos de capitalização) que têm por objeto o depósito periódico de prestações pecuniárias pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido o prazo contratado, o direito de resgatar parte dos valores depositados corrigidos por uma taxa de juros estabelecida contratualmente; conferindo, ainda, quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro. Entidades abertas de previdência complementar São entidades constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. São regidas pelo Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, e pela Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001. As funções do órgão regulador e do órgão fiscalizador são exercidas pelo Ministério da Fazenda, por intermédio do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) são organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos e são acessíveis, exclusivamente, aos 38 39 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA empregados de uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, entes denominados patrocinadores ou aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. As entidades de previdência fechada devem seguir as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução nº 3.121, de 25 de setembro de 2003, no que tange à aplicação dos recursos dos planos de benefícios. Também são regidas pela Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001. No desenvolvimento deste livro-texto, serão analisadas as decisões sobre financiamento em curto prazo. Serão examinadas, portanto, as condições para uma apropriada administração das contas que configuram o Ativo Circulante – ou o Capital Circulante – das organizações e sua interação com o Passivo Circulante. Desta maneira, serão abordadas a administração do caixa, do disponível, das duplicatas a receber, dos estoques e, ao final, a constatação da necessidade de capital de giro da empresa. 3 DECISÕES DE FINANCIAMENTO EM CURTO PRAZO Nossa experiência, após centenas de demonstrações financeiras examinadas, sinaliza que as empresas entram num cenário de dificuldades financeiras basicamente por meio de duas consequências: má formação do capital social inicial ou busca de empréstimos bancários para sanar esta má formação, redundando em excesso de despesas financeiras e baixa lucratividade. Quando uma empresa inicia suas atividades, em seu Balanço Patrimonial há a entrada de dois tipos de investimentos: um deles cobre o investimento fixo devido aquisição de máquinas, equipamentos e demais itens que comporão o Ativo imobilizado. O outro compõe os saldos em caixa ou mesmo em bancos para gastos rotineiros ou emergenciais e apresentam liquidez imediata ou de curtíssimo prazo. Estoques também fazem parte desse componente, bem como contas a receber. A esta outra parte do investimento inicial, as reservas de recursos, dá-se o nome de capital de giro. Pelas palavras de Hoji (2012, p. 107), O capital de giro é conhecido também como capital circulante e corresponde aos recursos aplicados em Ativos Circulantes, que se transformam constantemente dentro do ciclo operacional. [...]. Como o próprio nome dá a entender, o capital de giro fica girando dentro da empresa e, a cada vez que sofre transformação em seu estado patrimonial, produz reflexo na contabilidade. [...]. O estudo do capital de giro é fundamental para a Administração Financeira, porque a empresa precisa recuperar todos os custos e despesas (inclusive financeiras) incorridos durante o ciclo operacional e obter o lucro desejado, por meio da venda do produto ou prestação do serviço. Mais adiante voltaremos ao assunto administração de capital de giro. Por enquanto, vamos ilustrar dois exemplos típicos de formação de capital com valores hipotéticos. 39 40 Unidade I Empresa com má formação do capital social inicial Iniciaremos com a consideração de uma empresa em que a formação de capital não é das melhores: • Empresa com má formação do capital social inicial Quadro 1 Ativo Passivo Disponível 1.000,00 Imobilizado 2.000,00 Capital social 3.000,00 Total 3.000,00 Total 3.000,00 Neste caso, os acionistas ou sócios dimensionaram sua participação em $3.000,00 no capital social. Tal dimensionamento demonstrou ser, a princípio, provavelmente insuficiente, uma vez que dos $3.000,00 um percentual de 66,6% ou $2.000,00 foram aplicados na aquisição de imobilizado, sendo certo que esta participação é altíssima e poderá levar a empresa a uma busca de empréstimos bancários, se os restantes $1.000,00 não forem suficientes para o giro da empresa. Observação Observe que mais da metade do capital social foi imobilizado, representando baixa liquidez imediata. O erro de má formação de capital inicial da empresa, em termos financeiros, poderá ser constatado ao calcularmos a necessidade de capital de giro. O capital de giro da empresa éa parte das fontes de longo prazo, representadas pelo Passivo Não Circulante não comprometidas com o financiamento das aplicações de longo prazo, e que estão no Ativo Não Circulante. De outra forma, CDG = PNC – ANC onde, CDG = capital de giro; PNC = Passivo não circulante; ANC = Ativo não circulante. 40 41 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Para o caso do exemplo hipotético, se este cálculo indicar o valor, digamos de $800, isso significa que a empresa deverá tomar um empréstimo bancário em idêntico valor. Se não for assim, não terá como financiar o giro dos estoques e das vendas a prazo. Tomando-se o mesmo exemplo, e em continuidade, a empresa toma os $800 como empréstimo bancário para satisfazer seu giro, e daí resultará o seguinte Balanço Patrimonial, também com dados hipotéticos sendo o disponível dividido em duas contas: disponível e estoques. • Empresa buscando empréstimos bancários Quadro 2 Ativo Passivo Disponível 400,00 Empréstimos bancários 800,00 Duplicatas a receber 800,00 Estoques 600,00 Imobilizado 2.000,00 Capital social 3.000,00 Total 3.800,00 Total 3.800,00 Após a tomada do empréstimo, vê-se que a composição do Balanço Patrimonial sofre alguma alteração: no lado do Passivo temos o aumento de 800,00 representados pelos empréstimos tomados e que deverão ser pagos no curto prazo, pois está no Passivo Circulante. O lado do Ativo também evoluiu em termos monetários, permanecendo o mesmo valor para o imobilizado (investimento inicial). É possível perceber que, ainda no Ativo, os 1.000,00 iniciais também lá estão, só que agora desmembrados em disponível, supostamente caixa e bancos e estoques. O acréscimo dos 800,00 está em duplicatas a receber. Lembrete Lembre-se do que foi afirmado anteriormente: o capital de giro fica girando dentro da empresa e, a cada vez que sofre transformação em seu estado patrimonial, produz reflexo na contabilidade. Com esta alternativa, a empresa inicia um ciclo de decisões que poderá ser correto e adequado, ou então, vicioso, chegando até a provocar o encerramento de suas atividades. Isto porque os acionistas cobrarão um retorno sobre o capital social de $3.000,00 e os bancos financiadores cobrarão despesas financeiras sobre o valor de $800,00. Assim, os gestores da empresa terão duas obrigações, simultaneamente: por um lado, atender aos acionistas e, por outro, atender aos bancos. Se os concorrentes não têm esta obrigação, certamente trabalharão com preços menores porque não terão as mesmas despesas financeiras, e, com isso, suas vendas serão mais estáveis e muito provavelmente com menores sacrifícios de preço e, portanto, melhores margens. 41 42 Unidade I Portanto, tratamos aqui de um das fontes de capital de giro e para Hoji (2012, p. 110), Algumas fontes são geradas pelas próprias operações, tais como duplicatas a pagar aos fornecedores, impostos a recolher, salários e encargos sociais a pagar. Outras são provenientes de atividades financeiras, como os financiamentos e empréstimos bancários. As principais fontes de financiamento são onerosas, pois geram encargos financeiros, tais como empréstimos e financiamentos bancários e parcelamento de impostos vencidos. As duplicatas a pagar aos fornecedores de materiais e serviços, se forem financiadas, embutem encargos financeiros, de uma forma ou de outra. [...]. Existem fontes de financiamento não onerosas geradas naturalmente pelas operações normais da empresa. As principais são: salários a pagar, encargos sociais a recolher, impostos a recolher e provisões para férias e 13º salários. Essas decisões são as que norteiam esta parte do livro-texto, cujo objetivo principal será o de trazer exemplos de controles que as facilitem e que permitam evitar as já conhecidas “cirandas financeiras”, que têm levado à bancarrota milhares de bons empreendimentos. 3.1 Planejamento de caixa Planejar o caixa consiste em estabelecermos, com antecedência, as decisões financeiras que serão tomadas em circunstâncias e condições previamente estabelecidas, com a propriedade de previsão dos recursos que serão utilizados para que os objetivos traçados possam ser atingidos. Lembrete Quando se fala de “caixa”, a abrangência é para todo o disponível, ou seja, para todo recurso em dinheiro que circula pelo Ativo das empresas. Na realidade, o Ativo Circulante é um “grande caixa” que, partindo do dinheiro propriamente dito, se “desmancha” por utilização em outras contas que compõem o Ativo como um todo, desde o Circulante (estoques, duplicatas a receber) ao Ativo fixo (imobilizações), retornando a ser “caixa” e assim sucessivamente. Observação Deve-se levar em consideração que nem sempre a opção pela manutenção de elevados saldos em caixa seja a melhor alternativa do gestor financeiro. A escolha deve levar em consideração as características da empresa. É notória a percepção e o objetivo dos empreendedores em geral em manter o maior volume de recursos no caixa, no saldo bancário, mas isso nem sempre é possível pela própria circulação e giro que 42 43 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA a empresa tem, e o gestor não consegue manipular de acordo com sua conveniência. Afinal, a empresa tem sua dinâmica e o caixa é, em particular, o representante desse dinamismo e dessa circulação diária de recursos. Um planejamento de caixa comporta três tipos específicos: • o planejamento estratégico de caixa, que é de longo prazo, antecipado aos fatores externos e internos à empresa, sinalizando quase sempre decisões complexas e que envolvem grande volume de recursos; • o planejamento tático de caixa, que tem um alcance mais curto em termos de prazo, envolvendo o resultado particular de alguma área, como a de marketing, por exemplo; • o planejamento operacional de caixa, que tem a finalidade de maximizar os recursos aplicados em operações de determinado período, geralmente de curto e médio prazos. Qual, então, a essência de um planejamento de caixa? Trata-se, a nosso ver, de uma ação estratégica, razão de ser de um sistema orçamentário. Todos os orçamentos são elaborados – orçamento de pessoal, orçamento de despesas, orçamento de investimentos, orçamento de vendas e custos – e culminam no orçamento do caixa, que dá o tratamento final às possibilidades financeiras objetivadas nestes orçamentos. Sobre o assunto, Hoji (2012) salienta que o gestor financeiro deve ter uma visão integrada do fluxo de caixa. Para ele, quando a área que chama de tesouraria efetua pagamentos e/ou recebimentos, pouca coisa há a fazer: os fatos geradores não estão sob seu controle. As decisões foram tomadas anteriormente. Se há um pagamento a fazer, é porque alguma despesa/compra foi gerada. Se há recebimento, houve venda. Trabalha, muitas das vezes, no presente com fatos geradores do passado. Assim, ao gestor financeiro – ou qualquer outro nome que ocupe o cargo da administração das finanças – cabe interagir preventivamente junto a áreas geradoras de recebimentos e de pagamentos. Muitas vezes as empresas adotam estratégias diante da tomada de decisão. Podemos dizer que, vez ou outra, as empresas adotam política de caixa. Política, de modo geral, é um modo de ação que norteia a direção e o sentido para um processo de tomada de decisões que podem se repetir continuamente, ou que ocorram para atingirmos um objetivo. Como exemplo de uma política financeira tem-se o caso de uma empresa que adota uma política de preços do tipo “cobrimos qualquer oferta” para crescer seu faturamento e, com isso, alcançar um acréscimo de 20% em suas vendas anuais. Visando atingir tal objetivo, a empresa autoriza a concessão de descontos de até 10% em seus preços de venda, independentemente de autorização superior, bastando que os clientes apresentem os preços anunciados pelos concorrentes. Tal política pode ser adotada quando o que interessa para a empresa, naquele momento, seja um reforço de caixa lançando mão de lucratividade. 43 44 Unidade I Vários são os motivos
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