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O teatro antigo Fernando Tremoço O teatro antigo→ manifestação religiosa Na Grécia antiga, o teatro está inserido em um conjunto de manifestações religiosas: “Os gregos honravam seus deuses de várias maneiras. Uma delas consistia em lhes consagrar oferendas – oferendas perecíveis, que podiam ir de um simples bolo ao sacrifício de dezenas de bois, ou oferendas duráveis, que variavam de uma pobre 3 estátua em terracota à construção de suntuosos templos de mármore. Uma outra era oferecer-lhes espetáculos de cantos, de músicas ou de danças. Uma terceira, enfim, era organizar concursos nos quais artistas e atletas rivalizavam em diversas provas, conforme regras previamente definidas. A organização de tais manifestações e a participação nelas como concorrente ou espectador eram consideradas como elementos essenciais do helenismo”. (MORETTI, 2001, p. 27) • No decorrer da época arcaica, as competições esportivas e artísticas tornam-se regulares e podem ser agrupadas em três categorias: Provas hípicas, provas de ginástica e provas de teatro • Esses festivais ou jogos, nos quais havia concursos esportivos (provas de hipismo e de ginástica, estas últimas abrangendo atletismo e lutas) e musicais, podiam ser pan-helênicos (abrangendo toda a Grécia) ou locais, isto é, específicos de uma cidade. Os festivais pan-helênicos eram em 4: Olímpicos; píticos; nemeus e ístmicos Concurso Provas hípicas hipódromo Provas ginásticas estádio Provas musicais músicas poemas danças cantos dramas satíricos trágicos cômicos teatro Jogos pan-helênicos ✓ Os dois primeiros ocorriam a cada quatro anos, os dois últimos, a cada dois. ✓ Os jogos olímpicos, que teriam se iniciado no ano de 776 a. C., compreendiam apenas provas esportivas (hipismo e ginásticas). ✓ Os demais, que começaram por volta do ano 580 a. C., provas esportivas e musicais. ✓ Os nossos Jogos Olímpicos modernos, que são uma renovação dos jogos olímpicos gregos, tiveram sua primeira edição em 1896. Jogos pan- helênicos Olímpicos Em Olímpia Realizados a cada 4 anos Píticos Em Delfos Nemeus Em Nemeia Realizados a cada dois anos Ístmicos Em Corinto Dionísio ✓ Os festivais dramáticos atenienses estão intimamente associados ao deus Dioniso. ✓ Ele é o deus da videira, do vinho, do delírio místico e do teatro, celebrado em animadas procissões que seriam a origem da comédia; deus de origem rural e, por isso, popular. ✓ Está associado à fertilidade, o que é corroborado pelas falofórias (procissões em que se levava um grande falo em honra ao deus) que havia, por exemplo, nas Dionísias Rurais. ✓ Ele aparece, em certas, representações, acompanhado de sátiros e mênades. Os sátiros e as mênades representam o exagero, inclusive sexual, tanto masculino como feminino, resultante da influência dionisíaca Sátiros e Mênades Os sátiros são seres míticos que estão ligados ao culto de Dioniso e que são representados como um misto de homem e cavalo ou de homem e bode, tendo orelhas e cauda longa. Nas iconografia, aparecem geralmente com o membro sexual em ereção e, por vezes, em proporção exagerada. As mênades são mulheres míticas que serviam a Dioniso. A forma grega μαινάδες está ligada ao verbo μαίνομαι (maínomai – estar possuído por um delírio divino; estar louco) e ao substantivo μανία (manía – delírio profético ou divino; loucura). É deste último que derivam as nossas palavras “mania” e“maníaco”. As mênades eram, portanto, assim chamadas por estarem tomadas de um delírio divino que as impulsionava a um comportamento exagerado e a uma agitação incontrolável, expressão de uma sexualidade cheia de furor. A ESTRUTURA FÍSICA E MATERIAL DO TEATRO O NOME TEATRO → Nosso termo “teatro” vem do grego θέατρον (théatron), que está ligado ao verbo θεάομαι (theáomai), que significa “observar”, e ao substantivo θέα (théa), que significa “observação”. Θέατρον (théatron) quer dizer “lugar de observação”, “observatório”. É exatamente o primeiro conceito que os gregos tinham de teatro: um lugar qualquer aonde se ia para observar algo. Primitivamente, o théatron não era um prédio ou uma estrutura mais elaborada. Poderia ser um lugar simples, já existente na cidade, uma praça, por exemplo, na qual o povo se reunia para assistir a um espetáculo. Há uma diferença crucial entre auditório e observatório. Auditório é o lugar aonde você vai para ouvir (do verbo latino “audio”, ouvir). Observatório é o lugar aonde você vai para observar. E o que exatamente se observava no teatro? O espetáculo, ou seja, aquilo que é objeto de observação. “Spectaculum” • A origem latina, de “spectaculum”, que está ligado ao verbo “specto”, que significa “observar”. O termo “spectaculum”, em latim, quer dizer “aquilo que você observa, que você vê” e o lugar ao qual você vai para observar é o théatron, o observatório. • Uma outra palavra muito importante para nosso dia a dia está ligado a “spectaculum”: o espelho. Em latim, “speculum” (espelho) vem do verbo “specio”, “ver”. “Specio” e “specto” estão, obviamente, ligados. Espelho, por conseguinte, é o objeto que você usa para se ver. • Tem-se ainda um adjetivo, de uso mais poético, que deriva dessa família de palavras latinas: especioso, que significa “de bela aparência” e, portanto, “belo”, ou “de aparência enganadora”, ou seja, “enganador, ilusório” Teatro é drama, poesia, ação. Ao contrário dos outros gêneros poéticos que imperava apenas o som e, portanto, a audição, no gênero dramático importa a imagem e, logo, a visão. O fato de o teatro depender da visão explica muito de seu sucesso, já que, de nossos cinco sentidos, a visão é aquele que melhor nos permite conhecer e que nos dá muito prazer. Modernamente, é possível observar um fato que ilustra bastante isso. O rádio era um meio de comunicação de massa. Com a televisão, que traz a imagem e que apela, portanto, para nossa visão, esta tornou-se o meio de comunicação de massa por excelência. E, deixando de lado o aspecto religioso e mítico que permeava e sustentava o teatro, este era, para os gregos aquilo que a TV é para nós: um meio de comunicação e de diversão em massa. Se a visão era e é algo fundamental no teatro, fica evidente que, por mais que seja interessante a leitura de uma peça teatral, a verdadeira experiência consiste em vê-la, em assistir a sua encenação. Ler uma peça de teatro é algo incompleto, mas, por vezes, é tudo o que se pode fazer. O teatro não foi feito para ser lido, foi feito para ser visto. Não há surpresa se ele é tido como um gênero literário (isto é, para ser lido), pois o mesmo ocorreu com a poesia, que em suas origens era endereçada a um auditório, era feita para ser ouvida, pois era recitada ou cantada. E a peça teatral, na verdade, era um poema que devia ser acompanhado de música, dança e imagens. Todo esse conjunto não era algo estático, pois tinha movimento, tinha ação. E os gregos usavam para esse conceito o termo δράμμα (drámma), que deu o nosso “drama”. Por isso se diz que o teatro pertence ao gênero dramático. O teatro é drama, isto é, “ação”; teatro é poesia em movimento, em ação. A ESTRUTURA FÍSICA A importância dos espetáculos teatrais era tão grande que deu origem ao teatro como prédio físico. O espetáculo teatral não era apenas divertimento, era um meio de circulação da cultura tradicional, dos mitos, e também fazia parte de um culto religioso. Era um evento coletivo, público, de todos os cidadãos. O teatro foi construído em forma de um semicírculo de frente para o palco. Para que os que estivessem atrás pudessem ver a ação, a construção subia pouco a pouco, utilizando-se de degraus que formavam uma arquibancada. No nível do chão, há um semicírculo, do qual partem os degraus que formam as arquibancadas. Esse semicírculo é a chamada orquestra, lugar que era reservado para o coro. Ao lado do semicírculo há o proscênio. Ele ficava a uma altura de cerca de três a cinco degraus do chão, estando quase que no mesmo nível da orquestra, onde o coro cantava e dançava. O proscênio era o palco.O nome vem do fato de que ele ficava diante (pro) da skené (σκηνή). Skené significa, em grego, barraca ou tenda, era uma espécie de tenda que servia de bastidores ou coxias, onde os atores trocavam de roupa e por onde entravam e saíam do palco. Estar na skené era estar fora de cena, pois o que se chama modernamente de cena era o proscênio. Assim, entrar na skené significava sair de cena e sair da skené, entrar em cena. A skené servia, também, como um meio físico de se colocar um cenário ou decoração relativa à peça A estrutura de um teatro típico da Grécia antiga O proscênio ocupa o lugar do palco (proscênio, aliás, é sinônimo, em português, de palco) e que a skené equivale à parte que está atrás das cortinas em nossos teatros, ou seja, às coxias. O teatro, théatron, onde o público ficava e de onde se via a ação corresponde às arquibancadas. Caráter religioso dos teatros. O caráter religioso dos festivais teatrais fica bem evidenciado pela presença de um altar na orquestra, como podemos ver na imagem seguinte, que retrata o teatro de Dioniso, em Atenas MÁSCARAS E FIGURINO Máscara, em grego, diz-se πρόσωπον (prósopon), composto de πρός (prós), “diante de”, e ὤψ (óps), olho. Isto é, "aquilo que está diante dos olhos (de outro)”, ou seja, o rosto, a face e, no teatro, o rosto artificial, a máscara. A palavra designaria também “pessoa”. O termo latino para máscara é “persona”, que, ao contrário do grego, não tem o sentido de rosto ou face, mas que significa também “pessoa”. Os atores usavam roupas características, o que hoje chamaríamos de figurino, e máscaras. Por vezes usavam revestimento para criar uma barriga ou nádegas maiores. Podiam ter também um pênis pendurado na cintura, com função cômica, feito normalmente de couro e geralmente avantajado. Esses elementos permitiam a caracterização e, portanto, a melhor identificação dos personagens. Era fundamental que o público, parte do qual estava muitas vezes distante do proscênio, pudesse identificar facilmente os personagens. As máscaras permitiam, também, criar efeitos semelhantes à nossa moderna maquiagem, com cores, presença ou ausência de cabelo (para simular a calvície), de barba, traços indicando velhice ou juventude etc. Podia cobrir apenas o rosto ou também o crânio e era amarrada com fios ou correias na parte posterior da cabeça. As máscaras permitiam que entrassem em cena personagens femininos. No teatro grego, os atores são sempre homens e os personagens femininos eram por eles representados. O uso de máscaras viabilizava tecnicamente a presença de “mulheres” na cena. Havia, ainda, outra função importante: a pluralidade de personagens. No teatro grego clássico, havia somente três atores para toda a peça (fora o coro, que ficava na orquestra e podia contar com cerca de uma ou duas dezenas de componentes). Os três atores faziam um revezamento nos diversos papéis que havia em cada peça. Era comum um mesmo ator fazer mais de um papel → as máscaras tornavam isso possível. AUTORES E OBRAS Nos vários séculos que abarcaram a produção teatral da Antiguidade, que evolui e muda pouco a pouco, inúmeros foram os dramaturgos e ainda mais numerosas as peças de teatro por eles compostas. No entanto, a maior parte dessa enorme produção teatral se perdeu ou chegou até nós sob a forma de fragmentos. Algumas obras, no entanto, se conservaram e imortalizaram o nome de seus autores. Na Grécia, três tragediógrafos e dois comediógrafos tiveram algumas de suas obras conservadas através dos séculos. São eles: Ésquilo, Sófocles, Eurípides (tragediógrafos), Aristófanes e Menandro (comediógrafos). Em Roma, dois comediógrafos, Plauto e Terêncio, e um tragediógrafo, Sêneca, são os mais conhecidos. • I. Ésquilo (séc. VI e V a. C. - Grécia) 1. Persas 2. Sete contra Tebas 3. Suplicantes Oresteia, uma trilogia (a única que chegou a nós) composta de: 4. Agamêmnon 5. Coéforas 6. Eumênides 7. Prometeu acorrentado • II. Sófocles (séc. V a. C. - Grécia) 1. Ájax 2. Antígona 3. Traquínias 4. Édipo rei 5. Electra 6. Filoctetes 7. Édipo em Colona • III. Eurípides (séc. V a. C. - Grécia) 1. Alceste 2. Medeia 3. Heráclidas 4. Hipólito 5. Andrômaca 6. Hécuba 7. Suplicantes 8. Electra 9. Troianas 10. Héracles furioso 11. Ifigênia em Táuris 12. Íon 13. Helena 14. Fenícias 15.Orestes 16. Bacantes 17. Ifigênia em Áulis 18. Ciclope (drama satírico) • IV. Aristófanes (séc. V e IV a. C. - Grécia) 1. Acarnenses 2. Cavaleiros 3. Nuvens 4. Vespas 5. Paz 6. Pássaros 7. Lisístrata 8. Tesmoforiantes (=mulheres que celebram o festival das Tesmofórias) 9. Rãs 10. Mulheres na assembleia 11. Pluto (= o deus da riqueza) • V. Menandro (séc. IV e III a. C. - Grécia) 1. O rabugento (única integralmente conservada) Conservadas pela metade ou quase completas: 2. O escudo 3. Arbitragem 4. A moça de Samos 5. Os siciônios 6. A moça de cabelos cortados • VI. Plauto (Roma – séc. III e II a. C.) 1. Anfitrião 2. A comédia da marmita23 3. Os Menecmenos 4. O soldado fanfarrão 5. Os cativos 6. A comédia do cestinho 7. A amarra 8. A comédia dos asnos 9. Cásina 10. Truculento 11. Impostor 12. Epídico 13. Estico 14. O homem com três moedas 15. As Báquides 16. O gorgulho 17. O comerciante 18. A comédia do fantasma 19. O pequeno cartaginês 20. O persa • VII. Terêncio (Roma – séc. II a. C.) 1. A jovem de Andros 2. O eunuco 3. A sogra 4. O punidor de si mesmo 5. Fórmio 6. Os irmãos • VIII. Sêneca (Roma – séc. I a. C.) 1. Medeia 2. Édipo 3. Agamêmnon 4. Fedro 5. Tieste 6. Hércules furioso 7. As troianas 8. As fenícias 9. Hércules no Eta Sêneca Eurípedes O que seria “Drama”? Nossa palavra “drama” vem do grego, e δράμμα (drámma) que dizer simplesmente “ação”. Se o teatro é ação, isso ocorre porque os atores, ao encenarem, imitam de modo direto o agir dos indivíduos encarnados nas personagens. Para existir efetivamente o teatro, não basta um texto, são necessários outros elementos: atores (em número de três, na forma que ficou consagrada no séc. V, em Atenas), um coro, que funciona como um contraponto aos atores e participa ativamente da ação, um figurino, com o uso de máscaras, um espaço físico (palco – proscênio – e orquestra) com um cenário específico, música e dança. Já na Antiguidade havia efeitos especiais. Para fazer, por exemplo, com que um deus aparecesse na cena, os gregos desenvolveram o uso, no teatro, da chamada μηχανή (mekhané), transcrita para o latim como “machina”e que equivalia a nosso guindaste ou grua. Era, portanto, uma grua usada para fazer com que um ator voasse em cena. No teatro, o “deus ex machina” era um recurso dramatúrgico utilizado para solucionar, no final da peça, uma situação intrincada que tinha se constituído durante a peça e que se mostrava insolúvel do ponto de vista prático. Introduzia-se, então, um elemento divino que trazia a solução para o problema. Do termo grego μηχανή (mekhané) derivam palavras portuguesas como “máquina”, “mecânico”, “mecanismo” Drama, subgênero da poesia. O gênero dramático está, portanto, muito distante de um gênero literário em sentido estrito. Ele é um subgênero da poesia e, além da música, comporta toda uma série de elementos que lhe são característicos. Uma parte importante desses elementos é ligada ao sentido da visão: atores em ação, cenário, figurino. A preeminência do aspecto visual, como vimos, rendeu ao teatro o seu nome Dentro do gênero dramático, pode-se ter alguns subgêneros. Os dois mais famosos na Antiguidade eram a tragédia e a comédia. Tragédia Tragédia, em grego, diz-se τραγῳδία, que é um termo composto de τράγος (trágos) e de ᾠδή (oidé, cognato de ἀείδω (aeído), o verbo cantar, que deu “aedo”, em português). Este último termo deu, em português, a palavra ode, que significa propriamente “canto”. A tragédia e a comédia são, portanto, cantos. Mas o que significa τράγος (trágos)? A resposta é bastante simples: τράγος (trágos) quer dizer “bode”. Tragédia seria algo como “o canto do bode”. O sentido da palavra tragédia é manifestamente obscuro. Há, entretanto, um fato a ser notado: o bodeé um animal que está associado ao deus Dioniso e a tragédia, como forma de expressão teatral, está inserida no culto a essa divindade. Algumas hipóteses foram levantadas para explicar o significado do termo tragédia: a) o “canto do bode” poderia ser o canto realizado por um coro no momento de um sacrifício religioso cuja vítima era um bode; b) o canto poderia ser executado por um coro fantasiado de bode em cerimônias ou procissões consagradas a Dioniso; c) o bode aparece mencionado, em uma inscrição do séc. III a. C. (mármore de Paros), como o prêmio do concurso teatral em Atenas desde o ano 530 a. C. (cf. DEMONT e LEBEAU, 1996, p. 27) Comédia O termo comédia, em grego, é κωμῳδία (comoidía). O segundo elemento é, obviamente, o mesmo ᾠδή (oidé) que encontramos em “tragédia”. Na primeira parte da palavra encontramos o radical κωμ- (kom-). Algumas hipóteses foram levantadas para tentar explicar o sentido dele: a) comédia viria de κῶμος (kômos), que era um cortejo ou procissão que percorria as ruas, com cantos e danças em honra a Dioniso; b) o radical vem do termo κῶμα (kôma), que significa “sono profundo” (deu origem ao termo médico “coma”), pois a comédia teria se originado do fato de grupos de camponeses irem à cidade, de madrugada, quando todos dormiam, para cantar cânticos com críticas e ofensas a figuras importantes da vida pública; c) c) o radical está ligado a κώμη (kóme), que significa “vilarejo”; os a utores de farsas, que não eram tolerados na cidade e eram impedidos de nela exercer sua arte, passaram a apresentar seus cantos nos vilarejos (κῶμαι – kômai); essa etimologia é mencionada por Aristóteles em sua Poética Recapitulando A tragédia tem sua origem ligada ao culto de Dioniso, o que mostra com clareza o caráter religioso dos festivais de teatro. A comédia também está ligada, em sua origem, ao culto de Dioniso, tendo suas raízes na vida rural (aldeias) e caracterizando-se, também, pela crítica. Podemos reforçar o caráter poético do drama. As peças teatrais são compostas em versos de metros variados. O teatro antigo é poesia, mas poesia posta em ação, transformada em algo visual. As falas são recitadas ou cantadas, dependendo do trecho. Origem O teatro teria se originado de apresentações cantadas por coros, o que faz com que ele esteja, em sua base, ligado ao gênero lírico. Em um determinado momento, introduziu-se um ator para dividir o espaço com o coro. Em grego, ἀγωνιστής (agonistés) é o termo utilizado para designar um combatente, um competidor ou um ator (pois o ator competia nos concursos realizados nos festivais). Depois, passou a participar da ação um segundo ator. Por fim, incluiu-se um terceiro, constituindo-se, assim, a forma clássica do teatro grego: três atores no proscênio dividindo a ação com o coro, que ficava na orquestra. Em grego, primeiro diz-se πρῶτος (prôtos), segundo, δεύτερος (deúteros ), terceiro, τρίτος (trítos). Assim, o primeiro ator é o προταγονιστής (protagonistés), o segundo, o δευτεραγονιστής (deuteragonistés), o terceiro, o τριταγονιστής (tritagonistés). Daqui chamamos, em português, o personagem principal de protagonista. Há também as formas deuteragonista e tritagonista. E não nos esquecemos do termo antagonista, que é o personagem (de ator – agonistés) que se opõe (ἀντί – antí: preposição que significa “em frente a” ou “em oposição a”) ao protagonista na trama teatral e, por extensão, em todo e qualquer enredo Tragédia X Comédia A tragédia tem uma temática tradicional, mítica. ). A tragédia busca seus temas em uma fonte bastante antiga. A tragédia explora sempre os grandes mitos A comédia, ao contrário, tem uma temática atual (embora possa eventualmente servir-se do mito tradicional como ponto de partida para o ridículo. A comédia explora, frequentemente, a atualidade e a novidade, inovando constantemente seu arcabouço temático. Essa diferença é ironicamente vista como uma dificuldade para o comediógrafo, que não tem a sua disposição toda uma série de temas prontos. Temática da Tragédia A tragédia grega clássica tem como fonte de seus temas os grandes mitos, salvo raras exceções, nas quais se abordam temas históricos. E isso ela tem em comum com a épica. Não há espaço para inovação temática. Os temas são tradicionais, tirados dos principais mitos da cultura helênica. A arte da tragédia não repousa sobre a inovação temática, mas sobre a diversidade de tratamentos dados ao mesmo tema. Um mesmo mito era explorado várias vezes por diferentes tragediógrafos. O mito tem um núcleo básico, central, que não muda, mas há elementos secundários que podem ser modificados e há espaço para criação de novos elementos. E é nesse campo que os tragediógrafos podiam exercer suas habilidades e sua criação- inovação. A arte do tragediógrafo, sua excelência, consistia na capacidade de dar um tratamento inovador a um mito tradicional. A inovação não reside no tema, mas na abordagem que dele se faz. Temática da Comédia A comédia tem uma temática variada. E, por vezes, ela se serve da tragédia como escada, parodiando tragédias conhecidas do público e, por assim dizer, transformando-as em algo digno de riso. A comédia pode servir-se de mitos tradicionais, mas de um modo bem diverso daquele utilizado regularmente na tragédia. Os tragediógrafos exploram o mito em sua profundidade e contradição, um comediógrafo vai parodiá-lo para retirar-lhe o caráter sério e trágico e transformá-lo em algo cômico e ridículo. A comédia, por vezes, colocava os próprios deuses em situações ridículas e, para nossa sensibilidade, humilhantes, mas, para os gregos, não havia nisso nenhuma impiedade, ao contrário, isso se fazia no âmbito de um festival religioso Comédia Política X Comédia de Costumes. A comédia tem, via de regra, uma temática atual. Existe uma dupla possibilidade: comédia política ou comédia de costumes. A chamada comédia antiga, da qual Aristófanes (séc. V a. C.) é o representante cujas obras melhor conhecemos, aborda, geralmente, a situação política lato sensu. Aristófanes explora questões políticas, econômicas, sociais e culturais de seu tempo, apresentando uma visão bastante crítica em relação aos problemas enfrentados pelos atenienses e às soluções apresentadas pelos políticos e homens influentes. Um tema muito explorado nas comédias aristofânicas é a guerra do Peloponeso, que contrapôs Atenas (cidade de Aristófanes) e Esparta e trouxe resultados nefandos para a primeira. As desgraças trazidas pelo conflito modificam substancialmente a vida dos atenienses, principalmente dos que vivem na região rural. O comediógrafo manifesta constantemente seu desejo de uma paz duradora, que traga consigo prosperidade. Portanto, o binômio guerra-paz é recorrente nas comédias aristofânicas. Atual é também a temática da chamada comédia nova, cujo representante melhor conhecido por nós é Menandro (séc. IV e III a. C.). Se a comédia antiga aborda assuntos do âmbito social, a comédia nova, ao contrário, concentra-se em temas privados, na comédia de costumes, partindo frequentemente do âmbito da vida familiar. Menandro explora as relações familiares (pais e filhos, irmãos etc.) ou de vizinhança. Ele exprime, em uma certa medida, a atualidade dessas relações, conforme elas eram vivenciadas em sua época e lugar. Mas elas, por sua própria natureza, apresentam também um certo caráter universal e atemporal. O relacionamento entre pais e filhos, entre familiares e entre vizinhos é algo que se vê basicamente em todas as culturas através do tempo e do espaço. É, portanto, uma temática muito mais acessível do que a social, que pressupõe um conhecimento de detalhes específicos relativos à história, à política e à cultura de um determinado tempo e lugar
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