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HISTÓRIA • Sumérios, egípcios e gregos acreditavam que a epilepsia era associada a forças sobrenaturais, a possessão espiritual ou demoníaca o “mestre, eu te trouxe meu filho, que está com um espírito que o impede de falar. Onde quer que o apanhe, joga-o no chão. Ele espuma pela boca, range os dentes e fica rígido...” (Marcos 9:14-29) • Hipócrates (400 a.C): o cérebro é a sede da epilepsia • Galeno (200 d.C): primeiro a classificar as diferentes formas da doença • John Hughlings Jackson (1860): primeiro a estudar os tipos de epilepsias • Eletroencefalografia (1929): estudo dos diferentes tipos de crises e epilepsias EPILEPSIA • Distúrbio cerebral caracterizado por uma predisposição permanente do cérebro em gerar crises epilépticas • Consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais • 10% da população mundial -> 1 crise convulsiva durante a vida • 50 milhões de pessoas • +2,4 milhões casos novos/ano • 80% de pessoas nos países desenvolvidos O QUE É A CRISE? • Manifestação de sinais e/ou sintomas transitórios que ocorre devido à excitação neuronal anormal, excessiva e/ou síncrona no cérebro CONCEITO • Distúrbio crônico caracterizado por crises epiléticas recorrentes, não ligadas a distúrbios sistêmicos ou neurológicos agudos • É possível observar grandes alterações no eletroencefalograma EPILEPTOGÊNESE • Sequência de eventos que convertem uma rede neuronal em uma rede hiperexcitável STATUS EPILEPT ICUS • Quando ocorrer mais de 30 minutos de atividade epiléptica contínua ou duas ou mais crises em 30 minutos, sem recuperação completa da consciência entre as crises CRISE EPILÉPT ICA • Refere-se à alteração transitória do comportamento decorrente das deflagrações rítmicas, sincrônicas e desordenadas de populações de neurônios cerebrais • Termo epilepsia refere-se a um distúrbio da função cerebral caracterizado pela ocorrência periódica e imprevisível de crises epilépticas • Parecem originar-se do córtex cerebral e não de outras estruturas do SNC • Parciais: começam em uma área localizada do córtex o Simples: associada à preservação da consciência o Complexa: associada à depressão do nível de consciência • Generalizada: envolvem amplamente os dois hemisférios desde o início da crise • O local onde é deflagrado a hiperfrequência neuronal irá determinar os sinais e sintomas da doença o Ex: uma crise envolvendo o córtex motor está associada aos abalos clônicos da parte corporal controlada por aquela região cortical CAUSAS COMUNS DAS CRISES PROVOCADAS • Anormalidades metabólicas o Hipoglicemia e hiperglicemia o Hiponatremia o Hipocalcemia • Abstinência ao álcool • Injurias neurológicas agudas o Infecções (meningite, encefalites) o Derrames (isquêmico, hemorrágico) o Traumas na cabeça • Intoxicação e abstinência por drogas ilícitas • Medicações prescritas o Teofilina o Antidepressivos tricíclicos • Febre alta em crianças CLASSIF ICAÇÃO DAS CRISES EPILÉPT ICAS • Inicialmente: crises de grande mal e crises de pequeno mal • Atualmente: sistema de classificação da Liga Internacional Contra a Epilepsia ou ILAE (1981) o Focais/parciais ▪ Simples ▪ Complexas o Generalizadas (perda de consciência/sem memória) ▪ Tônico-clônica ▪ Ausência ▪ Mioclônica ▪ Clônica ▪ Tônica ▪ Atônica o Desconhecidas ▪ Espasmos epilépticos • A distinção entre os vários tipos de crises é importante para a escolha do tratamento Anticonvulsivantes CRISES FOCAIS/PARCIAIS • Simples ou complexas • Descarga elétrica focal • Áreas localizadas e isoladas do córtex cerebral FOCAL SIMPLES • Resultado de uma descarga anormal neuronal que vai atingir outras áreas do cérebro • Os neurônios se tornam hiperativos • Não dissemina por todo o encéfalo, e não há perda de consciência • Pode haver atividade anormal de um membro ligado a área central afetada • Ocorre em qualquer idade • Local afetado ao se estender irá determinar os sintomas • Breve lapso de atenção ou crise que perdure por vários minutos • Sinais motores clônicos, sensoriais (olfato) somatossensoriais, sintomas autonômicos e psíquicos • Sensação visceral ascendente: o Epigástrica o Opressão no peito ou garganta o Palidez, sudorese • Sintomas sugerem o acometimento de estruturas límbicas e para-límbicas temporal, amígdala, hipocampo e giro-campo o Estipula a base terapêutica • Psíquicos o Desrealização -> perda da realidade o Despersonalização -> perda da identidade o Medo o Sentimento de catástrofe o Estranheza o Familiaridade -> dejavu FOCAL COMPLEXA • Difusão pouco maior que a simples • Não se generaliza • Atinge a formação reticular -> representa uma rede de neurônios dispostas no tronco cerebral/encefálico, divido em mesencéfalo, ponte e bulbo (“MPB”) • Alucinações sensoriais e distorção • Disfunção motora • Movimentos mastigatórios, diarreias, sialorreia, micção • Alteração da consciência • Automatismo manuais e orais • Perda de memória • Comportamento anormal • Particularidades o Crises autônomas ▪ Oromastigatórias ▪ Movimento repetitivos, como explorar o meio, mexer nas roupas, bater repetitivamente ▪ Tal atividade sugere ação do lobo temporal -> indica a base terapêutica o Pode evoluir para a complexa o Qualquer idade • Crises hipermotoras: o Atividade vigorosa dos movimentos amplos do braço ou pernas o Balanceio do corpo e quadril o Pode ou não ocorrer perda de consciência o Lobo frontal • Crises hipomotoras ou hipocinéticas o Parada da atividade em curso e perda de contato, de curta duração o Muito semelhante a crise de ausência, mas não deve ser confundida (EEG) GENERALIZADAS • Descarga elétrica difusa • Ambos os hemisférios simetricamente simultâneos • Alteração elétrica que acomete ampla área cerebral cortical • Dependendo do tipo pode causar ou não perda de consciência • Início local que avança com descargas elétricas nos dois hemisférios cerebrais • Pode haver ou não convulsão e geralmente há perda de consciência TÔNICO-CLÔNICA • Na antiga classificação: grande mal • Perda abrupta de consciência • Início tônico e depois clônico • Tônus: estende rigidamente as extremidades do corpo • Clônus: contração repetitivas das extremidades do corpo • Extensão da musculatura dos membros e pescoço • Supraversão dos olhos • Grito pela contração do diafragma e a expulsão do ar • Tônico 30 segundos seguido de abalos musculares clônicos e rítmicos dos 4 membros por 90 segundos • Sialorreia • Mordedura da língua • Liberação dos esfíncteres (5 a 10%) • Perda de consciência • Confusão e exaustão (queda da glicemia) • Final relaxamento muscular, recuperação gradual da consciência, tal período chamado de pós ictal pode durar minutos AUSÊNCIA • Antigamente chamada de pequeno mal • Perda breve de contato, início e término rápido • Geralmente na idade de 3 a 5 anos • Pode se repetir várias vezes por dia • Hiperpneia é típica • Duração curta, tempo em segundos • Automatismo oral e manual • Piscamento, olhar fixo e aumento ou diminuição do tônus muscular • No ECG podemos ver ondas semelhantes à do sono profundo: espícula de onda MIOCLÔNICA • Contrações musculares súbitas, breves, semelhantes a choque, bilaterais • Nem sempre simétricas • Ligada a privação do sono • Uso de álcool • Fotossensibilidade e a som • Episódios curtos de contração muscular • Contração espasmódicas dos membros • Qualquer idade TÔNICA • Perda da consciência por hipertonia global • Supraversão ocular • Pode algumas vezes ser imperceptível, só ocorre abertura ocular e supraversão • Aumento da atividade de músculos extensores -> 1 minuto CLÔNICA • Episódios curtos de contração muscular, porém a consciência fica comprometida • Contração ritmadas e pode haver manifestações autonômicasATÔNICA • Ataques de queda, perda súbita do tônus muscular • Ocorrência maior em paciente com comprometimento neurológico CLASSIF ICAÇÃO DAS CONVULSÕES • Estrutural: alterações em estruturas do cérebro • Genética: mutações (Ex: Epilepsia Neonatal Benigna Familiar- mutação AD no canal de K+) (*genético pode não ser hereditário: de novo) • Infecciosa: neurocisticercose, tuberculose, malária cerebral, toxoplasmose cerebral, viroses (Zika, CMV HIV). • Metabólica: distúrbio metabólico (Ex: porfiria, uremia, aminoacidopatias). (fenilcetonúria) • Imune: encefalites imuno-mediadas (Ex: encefalite, anti-receptor NMDA- glutamato) • Desconhecida SÍNDROME MIOCLÔNICA JUVENIL • Surge no início da adolescência • Abalo mioclônico bilateral ou abalos repetidos • Frequentes pela manhã, após o indivíduo acordar • Precipitada por privação do sono • História familiar da epilepsia • Quadro benigno, mas com remissão complete incomum • Respondem bem aos anticonvulsivantes SÍNDROME DE LENNOX -GESTAUT • Ocorre em criança • Múltiplos tipos de crises • EEG característico • Disfunção cognitiva • Pode ser causada por: o Hipóxia/isquemia perinatal o Infecção o Trauma o Desenvolvimento anormal S ÍNDROME DE WEST • Ocorre em crianças • Retardo mental • Espasmos na cabeça, do abdome e das pernas • Complicações respiratórias • Causada por: o Encefalites o Infecções o Hipóxia o Traumatismo CAUSA DAS CRISES F IS IOPATOLOGIA • A maioria do conhecimento sobre a fisiopatologia das crises é derivada de estudos em modelos animais. • Neurônios no foco da crise têm atividade característica (excitabilidade anormal). • Desequilíbrio entre: o Sinapses excitatórias e inibitórias, o Distribuição dos eletrólitos extracelulares TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DAS EPILEPSIAS (GG) • Tratamento sintomático -> inibem as convulsões • Não se dispões de profilaxia eficaz nem cura • Mecanismos de ação dos antiepilépticos enquadram-se em 3 categorias principais: 1. Fármaco diminui a permeabilidade dos canais de sódio voltagem dependente: redução das deflagrações repetitivas e persistentes dos neurônios, um efeito pela promoção do estado inativo dos canais de Na+ ativados por voltagem 2. Aumento da inibição sináptica mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA), um efeito mediado por ação pré-sináptica ou pós-sináptica 3. Inibição dos canais de Ca2+ ativado por voltagem, que são responsáveis pelas correntes de Ca2+ do tipo T (canais mais excitáveis) • Fármacos que atuam as crises tônico-clônicas e nas parciais complexas tem um mecanismo de ação sobre os canais de sódio e na transmissão gaba-érgica • Nas crises de ausência devem ser bloqueadores de canal de cálcio ANTIEPILÉT ICOS OU NEUROLÉPTICOS • Redução da atividade inibitória e ou aumento da atividade excitatória poderia desencadear uma crise epiléptica • Fármacos que atuam sobre o receptor de GABA: bloqueio da hiperexcitação • Fármacos que bloqueiam os receptores glutamatérgicos (NMDA, AMPA ou Cainato): diminuem a excitação • Alguns fármacos ampliam a inativação dos canais de sódio voltagem dependente o O que reduz a possibilidade de disparos neuronais Inativação do canal (A=portão de abertura) • Transmissão sináptica de GABA o Benzodiazepínicos e barbitúricos vão aumentar a hiperpolarização da membrana pós-sináptica o Outros fármacos vão preservar a quantidade do neurotransmissor GABA na membrana pré-sináptica Tiagabina: inibe a recaptura de GABA Vigabatrina e Valproato: inibidores enzimáticos do metabolismo de GABA • Redução da corrente pelos canais de cálcio do tipo T -> redução do nível talâmico de pontas e ondas observado nas crises de ausência Valproato e Etossuximida: bloqueio dos canais de cálcio voltagem dependente do tipo T FENITOÍNA*** (H IDANTAL, DILANTIN) • Primeira droga não-sedativa disponível • Generalizadas tônico-clônicas e parciais complexas • Bloqueia canais de Na+ voltagem dependente • Efeitos adversos: o Ataxia o Nistagmo o Hiperplasia gengival o Hirsutismo o Anemia megaloblástica o Prejuízo cognitivo o Reações de hipersensibilidade (4 tipos) CARBAMAZEPINA ** (TEGRETOL) • Estrutura química semelhante aos antidepressivos tricíclicos • TCG e parciais complexas (1ª escolha) • Ineficaz na ausência, podendo agravá-las • Bloqueia canal de sódio e receptores NMDA • Outros usos clínicos: neuralgia do trigêmeo, distúrbios bipolares e síndrome de abstinência alcoólica • Reações adversas o Sedação o Visão turva o Tontura o Ataxia o Diplopia o Anemia aplásica o Hepatite o Agranulocitose • Reações com outros fármacos: o Haloperidol o Valproato o Teofilina o Etossuximida o Clonazepam o Fenobarbital • Interações medicamentosas: podem inibir o metabolismo da carbamazepina; alteração da velocidade de biotransformação o Eritromicina o Cimetidina o Verapamil o Diltiazem FENOBARBITAL *** (GARDENAL) • Eficaz e de baixo custo • Aumenta ação GABAérgica (GABA abrindo os canais de cloreto) • Indutor enzimático (aumenta quantidade e atividade de CYP-450) • Reação adversa: sedação • TCG e parciais simples • Útil nas crises parciais complexas, mas é preferível a carbamazepina • Ineficaz em crises de ausência • Pode reduzi concentrações sanguíneas de outros medicamentos o Anticonvulsionantes o Contraceptivos orais o Betabloqueadores o Anticoagulantes • Ácido valpróico elevam seus níveis sanguíneos (risco de toxicidade) PRIMIDONA (MYSOLINE ) • Similar ao fenobarbital • Mais eficaz que este em crises parciais complexas • Efetivas nas TCG e nas parciais simples ÁCIDO VALPRÓICO ** (DEPAKENE) • Crises de ausência e mioclônicas • Pode ser usado em terapia combinada para TCG e parciais complexas • Inibição da degradação do GABA (também ação em canais de Ca2+ tipo T) • Eleva níveis de fenobarbital, primidona, fenitoína, carbamazepina, etossuximida, lamotrigina • Lesão hepática pode ser fatal ETOSSUXIMIDA (ZARONTIN) • Preferencial para ausência, embora alguns prefiram ácido valpróico • Bloqueia os canais de cálcio do tipo T voltagem dependente, localizados nos neurônios talâmicos • Distúrbios gastrointestinais • Fensuximida, metossuximida BENZODIAZEPÍNICOS *** • SE (status epileticus), crises parciais e generalizadas • Tolerância e dependência, síndrome de retirada • Diazepam (valium), lorazepam (ativan) • Clonazepam (klonopin): ausência, mioclônicas e espasmos infantis OX ICARBAZEPINA (TRILEPTAL) • Desenvolvida para evitar o metabólito tóxico da carbamazepina (epóxido) • Bloqueia canais de Na+ • Tolerada melhor que a carbamazepina e exibe menos interações farmacocinéticas LAMOTRIGINA (LAMICTAL • Crises parciais refratárias • Ausência típica, mioclônica juvenil, síndrome Lennox-Gastaut • Menor liberação de aminoácidos excitatórios • Alterada por carbamazepina, fenitoína, fenobarbital e primidona • Valproato: maior meia-vida • Efeitos colaterais o Cefaleia o Distúrbios de concentração o Tontura o Visão turva o Reações de hipersensibilidade V IGABATRINA (SABRIL) • Inibe metabolização do GABA • Pode agravar crises de ausência ou mioclônicas • Depressão e outros distúrbios psicóticos -> menos regulação de dopamina GABAPENTINA ** (NEUROTIN) • Estrutura química relacionada ao GABA, mas com mecanismo desconhecido (não se liga ao receptor) • Crises parciais refratárias (terapia adjuvante) • Tratamento da dor • Sedação e ataxia • Usada em combinação com outros fármacos FELBAMATO (FELBATOL) • Monoterapia ou terapia adjuvante em crises parciais e síndrome Lennox- Gastaut • Eleva nível de fenitoína e valproato • Diminui níveis de carbamazepina • Efeitos colaterais o Náuseas o Vômitos o Perda de peso o Ataxia o Insônia TOPIRAMATO *** (TOPAMAX)• Crises parciais TCG e síndrome Lennox-Gastaut • Vários mecanismos: melhora efeito do GABA, bloqueia canais de Na+ • Efeitos colaterais o Tontura o Distúrbios cognitivos o Perda de apetite o Perda de peso o Parestesias o Litíase renal (pedra no rim) T IAGABINA (GABITRIL ) • Adjuvante • Crises parciais e TCG • Inibe recaptação do GABA • Efeitos adversos o Tontura o Astenia o Sonolência o Náuseas o Dor abdominal o Distúrbios cognitivos RELAÇÃO ENTRE OS T IPOS DE CRISE EPILÉPT ICAS, GROFAS DE ESCOLHA E DROGAS ALTERNATIVA Tipos de crise Droga de escolha Drogas alternativas Parciais simples, complexas ou com generalizada secundária Carbamazepina, Fenitoína, Valproato Fenobarbital, Gabapentina*, Lamotrigina*, Topiramato* Generalizadas de ausência Valproato, Etossuximida Clonazepam Generalizadas tônico- clônicas Carbamazepina, Fenitoína, Valproato Fenobarbital, Lamotrigina Generalizadas mioclônicas Valproato (pode associar clonazepam) CIRURGIA • 20% dos pacientes refratários ao tratamento farmacológico • Lobectomia temporal • Remoção do hipocampo e da amígdala • Remoção exata da lesão identificada • Ressecção do corpo caloso • Hemisferectomia STATUS EPILEPT ICUS (SE) • Crise generalizadas repetidas e sem retorno da consciência • Dura mais de 30 minutos • Danos cerebrais e morte do paciente • Tratamento: o Lorazepam o Fenitoína ou Diazepam injetável o Fenobarbital o Anestesia com Midazolam ou Propofol RESUMINDO. . .
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