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Epilepsia • Cérebro funciona como uma rede elétrica, seu funcionamento depende da ativação/inibição de neurônios • A epilepsia é um distúrbio caracterizado pela predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais desta condição o Trata-se de uma doença cerebral crônica causada por etiologias variadas, que se caracterizam por ocasionar uma facilitação para ocorrência de crises convulsivas • Não é uma entidade singular, ocorrendo variação na definição dos termos que a enquadram, sendo diferente a crise convulsiva, da epilepsia e da síndrome epiléptica o Crises epiléticas ▪ Alterações da consciência ou eventos motores, sensitivos/sensoriais e autonômicos (por exemplo: suor excessivo, queda de pressão) ▪ Epilepsia pode ter crises convulsivas, mas nem toda convulsão pode ser diagnosticada como epilepsia o É preciso que tenha havido 2 ou mais crises convulsivas espontâneas (em intervalo > 24h) para se estabelecer o diagnóstico de epilepsia ❖ A crise convulsiva é um tipo especial de crise epiléptica que se caracteriza por episódio de contração muscular excessiva ou anormal, usualmente bilateral, que pode ser sustentada ou interrompida o Crise provocada → crise epiléptica decorrente de uma causa imediata identificada, como distúrbio metabólico, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas... ▪ Possui relação temporal entre o desencadeamento e a crise, sendo geralmente em um espaço de tempo de 7 dias no máximo. o Crise não provocada → quando não há uma causa conhecida para a crise, após investigação clínica, laboratorial e de imagem • Estado de mal epiléptico → crise prolongada ou múltiplas crises sem retorno completo do nível de consciência - Emergência neurológica o Crise com mais de 5 minutos de duração → prolongada • Síndrome epilética → conjunto de características incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem a ocorrer juntas EPIDEMIOLOGIA • 10% das pessoas sofrerão pelo menos 1 convulsão durante a vida → 3% diagnosticados com epilepsia • A epilepsia é o 3º principal contribuinte para o ranking mundial de doenças por distúrbios neurológicos e afeta 65 milhões de pessoas em todo o mundo o A incidência de epilepsia tende a ser mais alta em faixas etárias mais jovens e em grupos de idade mais avançada, entre 50 e 60 anos • A epilepsia pode ser letal devido aos efeitos diretos das convulsões → morte súbita inesperada em epilepsia, status epilético, afogamento, acidentes de automóvel, quedas e queimaduras o Ou devido aos efeitos indiretos das convulsões → pneumonia aspirativa, suicídio, efeitos adversos, efeitos de drogas psiquiátricas Etiologia • Pode ter como causa qualquer distúrbio na condução de impulsos nervosos no SNC o Inclui tanto causas estruturais como não estruturais, como infecção, doenças autoimunes, distúrbios hidroeletrolíticos, hormonais e causas genéticas • Alterações primárias (não relacionadas a um evento predisponente) ou secundárias (têm como origem alguma alteração basal, como trauma, doença, intoxicações, transtornos metabólicos e tumores) • Principais condições que cursam com convulsões recorrentes: ❖ ESTRUTURAL → anormalidades visíveis em estudos de neuroimagem estrutural → avalição eletroclínica associada a achados de imagem levam à inferência de que a anormalidade é a provável causa das crises • Podem ser adquiridas → AVC, trauma, infecção... o Genéticas → esclerose tuberosa, doença autossômica dominante que causa migração, proliferação e diferenciação celular → ocasiona o desenvolvimento de diversos tumores benignos ▪ Podem atingir o encéfalo causando alterações estruturais do cérebro, e outros órgãos. ❖ GENETICA → ocorrência de etiologia genética pode ser baseada no HF de doença autossômica dominante → e pode ser sugerida através de pesquisa em populações com a mesma síndrome. • Genético não é sinônimo de hereditário → paciente pode ter mutação nova que surgiu nele o Etiologia genética não exclui contribuição ambiental → vários indivíduos são mais propensos a ter crises quando expostos a privação de sono, estresse e doenças ❖ INFECCIOSA → resulta diretamente de infecção conhecida, na qual as crises são os sintomas centrais o Neurocisticercose, tuberculose, HIV, malária cerebral, panencefalite esclerosante subaguda, toxoplasmose cerebral, e infecções congênitas como pelo Zika vírus e citomegalovírus ❖ METABÓLICA → relacionada a distúrbios metabólicos bem delineados com manifestações ou alterações bioquímicas em todo o corpo como o Porfiria, uremia, aminoacidopatias ou crises por dependência de piridoxina ❖ IMUNE → pode ser conceituada quando há evidência de uma inflamação imunomediada no SNC • Sistemas moleculares governados por genes específicos controlam o fluxo iônico e a eletricidade neuronal → qualquer fator que interfira com o potencial de excitabilidade pode causar convulsões o As crises epilépticas podem ser adquiridas ou genéticas • Alterações epigenéticas, juntamente com vias moleculares associadas, contribuem para modificações no canal iônico e receptor neuronal que controla o limiar de excitabilidade o Abaixa o limiar convulsivo, contribuindo para início e progressão da epilepsia TIPOS • A localização cerebral do foco convulsivo também pode explicar a manifestação clínica da convulsão • A crise convulsiva ocorre por hiperestimulação anormal em um neurônio que, por estar ligado aos demais, os transmite a estes → conforme a transmissão é classificada em ❖ Focal → quando atividade neuronal anormal surgir em uma ou mais regiões cerebrais localizadas ou em um dos hemisférios o Simples, quando a convulsão ocorre quando a pessoa está em alerta o Complexa, quando a convulsão ocorre com alteração da consciência o Com generalização secundária, quando começa em uma área e se espalha para o outro hemisfério. ❖ Generalizado → a atividade neuronal anormal começa em uma ampla distribuição nos dois hemisférios, causando alteração de consciência o Tonico-clonicas, quando inicia com enrijecimento do paciente, seguido de queda das construções o Atônicas, quando ocorre queda abrupta do paciente ao chão o Ausência, sendo caracterizada por olhar fixo ou piscando sem síncope o Mioclônica, que refere-se aos abalos focais breves e irregulares → semelhante a um susto, sendo que normalmente o paciente não percebe. Fisiopatologia • Em crises focais, neurônios corticais/subcorticais desenvolvem surtos de potenciais de ação de alta frequência Na-dependentes, por mudança na condutância de Ca → causa a descarga de espícula no EEG • A propagação do surto de despolarização a outros neurônios é normalmente prevenida pelos mecanismos inibitórios → hiperpolarização e interneurônios inibitórios. o Quando nm grande de neurônios é comprometido com a despolarização, mais fenômenos excitatórios ocorrem → aumenta liberação de NT excitatórios por acúmulo pré-sináptico de Ca ▪ Despolarização de neurônios circundantes por aumento extracelular de K+ ▪ Maior ativação neuronal pela despolarização, induzindo a ativação dos receptores de N-metil-D-aspartato (NMDA) o Conforme a excitação aumenta e a inibição diminui, neurônios adicionais são recrutados → propagação da crise • Os mecanismos pelos quais os neurônios desenvolvem tendência a despolarização anômala são alterações nos neurotransmissores, receptores, canais iônicos, sistemas de 2os mensageiros... ❖ As crises generalizadas dependem proeminentemente de circuitos tálamo-corticais • Nas de ausência, as descargas generalizadas de complexos de espícula no EEG estão relacionadas a alterações nos ritmos oscilatórios, gerados por circuitos do tálamo e córtex o Envolvem canais de Ca tipo T, localizados no núcleo reticular do tálamo • Em crises generalizadas, osneurônios corticais exibem despolarização prolongada durante a fase tônica, seguidos de despolarização e repolarização rítmicas na fase clônica. o Ativação de receptores NMDA aumenta a entrada de Ca, levando a maior excitação neuronal • A iniciação e modulação de crises envolvem aferentes colinérgicos, noradrenérgicos, serotonérgicos e histaminérgicos do tronco cerebral e estruturas do prosencéfalo basal FATORES GENÉTICOS • Somente 15% dos pacientes têm familiares de primeiro grau que também sofre de epilepsia → 75% têm somente um parente afetado. o O risco ainda é maior em parentes de 1º grau de pctes com epilepsia do que na população geral • Os aspectos genéticos da epilepsia podem ser categorizados em três grandes grupos • Condições nas quais a epilepsia faz parte de um transtorno mendeliano → incluem cerca de 200 condições raras, que englobam doenças neurocutâneas, distúrbios neurodegenerativos o Má-formações hereditárias de desenvolvimento cortical e erros inatos de metabolismo • Epilepsias que podem ser diretamente explicadas por herança mendeliana simples → raras e responsáveis por 1% de todos os casos de epilepsia o Mais de 12 genes foram identificados em 8 síndromes epilépticas dominantes autossômicas ▪ Crises neonatais familiais benignas associadas a mutações dos canais de potássio ▪ Crises infantis-neonatais benignas associadas a mutações no canal de sódio ▪ Epilepsia generalizada com crise febril-plus, epilepsia de ausência da infância com crises febris, epilepsia mioclônica juvenil autossômica dominante... • Em alguns pacientes, a epilepsia está associada a doenças genéticas “complexas” → constitui 50% de todos os pacientes com epilepsia o Genes múltiplos, cada um com efeitos pequenos mas aditivos, agem em conjunto com fatores ambientais produzindo aumento de risco para epilepsia. Quadro Clínico • Algumas manifestações motoras que o paciente pode apresentar, são: o Automatismos → movimentos estereotipados (Ex: mastigação); o Atonia → perda do tônus muscular; o Tônica → hipertonia muscular; o Clônica → abalos rítmicos focais; o Mioclônica → abalos focais breves e irregulares (semelhante a um susto) → pcte geralmente não percebe; o Hipercinética → movimentos rápidos; o Espasmos epilépticos → ex: flexão e extensão dos braços e flexão do tronco • Manifestações não-motoras que o paciente pode apresentar: o Autonômico → palago. o Cognitivo → alteração de linguagem, sensação de dejavu, incerteza; o Emocional → ansiedade, medo extremo; o Sensitivo → parestesia, hipoestesia; o Parada comportamental → indivíduo parado com olhar vago. CRISES FOCAIS • Definidas como crises bem localizadas ou difusamente distribuídas, iniciadas em redes neurais limitadas a apenas um hemisfério cerebral, ou em estruturas subcorticais o Produzem sinais e sintomas equivalentes a função correspondente da área do córtex envolvida. o Pode evoluir para crises secundariamente generalizadas • As crises focais podem ser classificadas de acordo com a percepção • Percepção definida como o conhecimento do paciente sobre si mesmo e do ambiente durante o episódio de crise → útil para determinar o nível de consciência, para saber se ele está ou não afetado o Crise focal perceptiva → quando a consciência está intacta mesmo durante a crise, mas não está associada ao fato de o pcte ter ou não percebido a ocorrência da crise o Crise focal disperceptivia → percepção do evento está comprometida em qualquer parte da crise ▪ Em alguns a crise pode produzir amnésia epiléptica transitória com percepção preservada → nesses casos a classificação só pode ser feita com a presença de observadores • Mecanismo de Início divide a classificação da crise com sintomas de início motor e início não motor ( início sensorial por exemplo). Parcial Perceptiva • Podem resultar em fenômenos motores, sensoriais ou autônomos, dependendo da região cortical afetada, podendo originar-se também em estruturas subcorticais • Sintomas autônomos podem consistir de palidez, ruborização, sudorese, piloereção, dilatação pupilar, vômito, borborismos ou sialorreia → com consciência intacta o Sintomas psíquicos incluem distorções da memória como o déjà vu, alucinações ou ilusões • No estado pós-ictal, déficit neurológico focal como hemiparesia (paralisia de Todd) pode persistir por 30min-36h → indicando uma lesão cerebral focal subjacente Parcial Disperceptiva • Crises parciais com algum prejuízo na consciência, responsividade ou memória o Descarga convulsiva geralmente se origina no lobo temporal ou frontal medial, mas pode se originar em qualquer lugar • Episódios podem começar com uma aura → sintomas sensoriais, autonômicos ou psíquicos • Crise se manifesta com alterações da consciência o Componente motor caracterizado por automatismos → movimentos involuntários e coordenados ▪ Em 75%, eles se manifestam como movimentos orobucolinguais CRISES GENERALIZADAS • São aquelas em que as primeiras manifestações clínicas indicam o envolvimento inicial de ambos os hemisférios cerebrais e apresentam alteração do nível de consciência o São divididas em crises motoras e não motoras (ausência) • Crise Motora → a atividade motora deve ser bilateral desde o início, mas na classificação básica o tipo de atividade motora não precisa ser especificado • Crise Não Motora ou de ausência → apresentam-se com súbita parada da atividade e da percepção, com inicio e final abrupto → geralmente acompanhado de automatismos menos complexos o O grau de percepção não é utilizado como classificador para crises generalizadas, já que a maioria dessas crises estão associadas a alteração da percepção Tônico-Clônicas • Mais conhecidas pela população em geral → ataques disperceptivos caracterizados por alternância da contração e relaxamento muscular o Fase tônica → contração tônica de todos os músculos dos membros durante 10-30s, produzindo inicialmente flexão e depois extensão → em especial das costas e do pescoço o Fase clônica → relaxamento muscular, produzindo movimentos simétricos e rítmicos dos membros, que persistem por 30-60s ou mais ▪ Contrações vão ficando mais lentas até o paciente ficar apneico, comatoso e diaforético • Após o período da convulsão propriamente dito, paciente pode apresentar período de recuperação o Período pós-ictal, caracterizado por confusão e cefaleia (10-30min) → paciente dorme por horas e depois se queixa de cefaleia intensa, dor muscular... Atônicas • Estão relacionadas a um dos casos mais graves de epilepsias sintomáticas • São crises que envolvem perda global do tônus muscular o Envolvem uma súbita hiperexcitabilidade difusa do córtex cerebral que se propaga para estruturas do tronco cerebral que controlam o tônus muscular • Consiste em quedas súbitas e imediatas ao solo, sem aviso → provoca com frequência lesões corporais • Mais comuns em distúrbios do desenvolvimento, como a síndrome de Lennox-Gastaut • TONICAS → aumento súbito do tônus – paciente fica duro Ausência - Pequeno mal • Crises de ausência se caracterizam por perda de consciência breve (5-10s), sem perda do tônus postural • Pctes experimentam um lapso momentâneo de consciência, de início e término abruptos. o Como a consciência é perdida abruptamente e imediatamente recuperada, não há sintomas de aura ou sintomas pós-ictais residuais. o MC – Piscamento ocular ou leve rotação da cabeça • Começam geralmente na infância (entre 4 e 8 anos) ou início da adolescência e é o principal tipo de crise em 15-20% das crianças com epilepsia • As crises podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência o Como os sinais clínicos das crises são sutis, muitas vezes o 1º indício são “devaneios” inexplicados e piora do rendimento escolar identificada por um professor ❖ Crises de Ausênciaatípicas • Perda de consciência tem duração maior e início e fim menos abruptos • A crise acompanha-se de sinais motores mais evidentes → características focais ou de lateralização. • EEG mostra padrão lento e generalizado de ponta-onda, com frequência ≤ 2,5/s, e outras atv anormais o Costumam associar-se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro → podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. Mioclonais • Episódios breves de contrações súbitas, rápidas, semelhantes a um choque, que podem estar localizadas em alguns músculos de uma ou mais extremidades o Consciência é preservada • Epilepsia mioclônica juvenil é a causa mais comum, geralmente iniciando na adolescência COMORBIDADES ASSOCIADAS A EPILEPSIAS • A epilepsia pode desencadear uma série de comorbidades ou estar associadas a elas → principalmente problemas o de aprendizado, déficit psicossocial e problemas comportamentais. • Variam em tipos e gravidade, como por exemplo o A dificuldade de aprendizado pode ir de quadros sutis até a incapacidade intelectual o Características psiquiátricas também variam → transtornos de espectro autista, depressão e alterações psicossociais graves. • Em epilepsias mais graves, podem ser verificadas comorbidades mais complexas, que alteram partes motoras → paralisia cerebral, transtornos de movimento, alterações do sono e doenças gastrointestinais. Avaliação do Paciente • O primeiro passo é caracterizar adequadamente o evento, procurando, sempre que possível, entrevistar testemunhas do ocorrido • História clínica detalhada para 3 fatores → caracterizar a crise, identificar doenças ou condições precipitantes, diagnósticos diferenciais • Aspectos que são importantes na caracterização das crises epilépticas e podem auxiliar no diagnóstico são → amnésia retrógrada, duração da crise (> 120s) o Presença de aura (alterações de sensação, sudorese, eritema, afasia), principalmente em pctes que já apresentaram crise com aura anteriormente o Mordidas laterais na língua → força do músculo masseter contraído durante a convulsão • Liberação esfincteriana, importante na diferenciação do tipo de crise → presente principalmente nas tônico-clônicas (relaxamento esfincteriano ou contração do detrusor, levando à incontinência urinária) • Se ocorreu atividade sem proposito → automatismos (movimentos repetitivos, como mexer na roupa ou mastigar), movimentos tônico-clínicos não direcionados (rítmicos e sem agitação da cabeça) • Uso de drogas, fator desencadeante, privação de sono, medicamentos... DIAGNOSTICO • Historia, EEG, imagens e labs determinam tipo, local e origem o Definida pela ocorrência de 2 ou mais crises não provocadas em tempo > 24h • Crises únicas são causadas por uma condição aguda, devendo ser investigada → quando nenhuma causa é determinada, as crises são consideradas não provocadas • DDX → síncope, infecções do SNC, disritmia, causas psicogênicas, enxaqueca, postura descerebrada, reações distônicas à substâncias • LABS podem ser solicitados para definir a etiologia e exclusão de ddx, sendo os mais comuns: o Glicemia de rastreio infeccioso, avaliação hidroeletrolítica, perfil toxicológico, PL ❖ EEG • Exame principal feito em todos os pacientes com crises e epilepsia • Na crise, avalia função cerebral, tipo, localização e quantidade de descargas (espículas) o É importante para determinar a síndrome epilética e a escolha da medicação • Deve ser realizado em estado de vigília e em sono obrigatoriamente, pois só assim consegue a confirmação diagnóstica de epilepsia o Pode diagnosticar se as descargas elétricas consistentes com a crise forem registradas durante uma crise clínica → pode falhar se o foco da crise for pequeno demais (no mínimo 6 cm2) • O EEG inicial é normal em até 60% das pessoas com epilepsia diagnosticada → mas as anormalidades ocorrem em > 80% dos indivíduos com epilepsia focal se 3+ EEG interictais forem realizados o Nas focais mostra alentencimento focal e descargas de espículas nas áreas de anormalidades o É sempre anormal nas crises de ausência e crises convulsivas generalizadas o Em epilepsias generalizadas, as descargas epileptiformes interictais são mais comuns e mais fáceis de se registrar no EEG ❖ Magnetoencefalografia • Mede os campos magnéticos gerados pela atividade elétrica do cérebro e aproxima sua localização. • Usado em pacientes candidatos a cirurgia de epilepsia ❖ RM de crânio → mostra lesões nos pacientes que tem epilepsia por causa estrutural e deve ser realizada em todos os pacientes com crises de inicio recente o Sequências fluido-atenuadas de recuperação inversa (FLAIR), aumenta sensibilidade para detectar anormalidades • Tomografia por emissão de pósitrons (PET) e TC de emissão de fóton único (SPECT) ajudam determinar a localizar áreas a seres focadas na cirurgia. • Em casos de pacientes refratários a tratamentos medicamentosos o RM do encéfalo obrigatória para pacientes com epilepsias focais refratárias o Diário de registro de crises, medida importante para a determinação de refratariedade o Relatório médico, com descrição dos medicamentos e doses máximas previamente empregadas Manejo e Tratamento • O tratamento é focado na melhora do quadro agudo e eliminação de futuras crises convulsivas • É importante identificar e corrigir quaisquer fatores ambientais, fisiológicos ou de estilo de vida que podem diminuir o limiar de ataques e desencadear crises em pacientes com epilepsia Crises Não Provocadas → tratamento com fármacos antiepilépticos depois de uma 1ª crise reduz o risco em 33% de ter 2ª crise a curto prazo o Para tratar a primeira crise, avaliar riscos e preferência do paciente (dirige, no que trabalhar...) Crises Sintomáticas Agudas (Provocadas) → consideração terapêutica primária deve ser a identificação e o tratamento do distúrbio subjacente o Se for usado antiepilético, são descontinuados após o paciente se recuperar da doença primária Síndromes Epilépticas Com Curso Favorável → muitas desaparecem espontaneamente e o tratamento muitas vezes é desnecessário, mas pode ser feito para evitar recorrência FÁRMACOS ANTIEPILÉPTICOS • Divididos em 3 gerações o 1ª geração → brometo de potássio, fenobarbital e várias moléculas derivadas da estrutura dos barbitúricos → fenitoína, primidona, trimetadiona e etossuximida. o 2ª geração → carbamazepina, o valproato e os benzodiazepínicos o 3ª geração → progabida, gabapentina, vigabatrina, tiagabina, lamotrigina e topiramato • Para escolha do tratamento, deve-se priorizar a qualidade de vida do pcte o Utiliza fármacos que possuem efetividade, visando menor qtd possível de efeitos colaterais o Caso seja necessário, deve ser feita a associação de medicamentos, evitando os fármacos com interações complexas e mecanismos de ação diferentes. Atendimento Pré-Hospitalar do Paciente em Crise: • Avaliação das vias aéreas, padrões respiratórios e circulação • Colocar o paciente em decúbito lateral, para evitar a broncoaspiração o O paciente NÃO deve ser segurado, amarrado ou ter sua língua segurada • Caso possível, realizar a avaliação da saturação com oximetria de pulso, glicemia capilar e ECG o Caso a glicemia esteja < 60, deve ser administrado dextrose 50% IV → as células cerebrais dependem primordialmente de glicose para manter suas atividades metabólicas funcionantes • Sinais vitais do paciente devem sempre ser avaliados, podendo indicar a etiologia da convulsão • Exames laboratoriais iniciais → coleta de sangue venoso para avaliar glicemia, cálcio, eletrólitos, estudos de função hepática e renal, hemograma, taxa de hemossedimentação e toxicologia ❖ TERAPIA DE 1ª LINHA • Todo paciente admitido na emergência com convulsões deve ter tto que inclui uso de benzodiazepínico • Medicamentos anticonvulsivantes atuam pela potenciação inibitória(GABAérgica) ou pela inibição excitatória (glutamatérgica) da transmissão sináptica no cérebro → tentativa de frear a ativação síncrona • Benzodiazepínicos atuam principalmente estimulando a ação inibitória do GABA, aumentando o limiar convulsivo → usado inclusive em ambiente pré-hospitalar para controle das crises o Diazepam 5mg até no máximo 20 mg, via intravenosa o Lorazepam 2 mg até o máximo de 10 mg o Midazolam 10 mg, podendo ser intravenoso, intramuscular ou intranasal Atendimento do Paciente no Departamento de Emergência ❖ TERAPIA DE 2° LINHA • Paciente Com Convulsão Persistente no Momento do atendimento o Fenitoína 20 mg/kg IV, até 50 mg/min ▪ Anticonvulsivante que atua modulando os canais de sódio nos neurônios, bloqueando a propagação dos potenciais de ação e estabilizando as membranas neuronais o Fosfenitoína 20 PE/kg intramuscular ou intravenosa, até 150 mg/min o Ácido Valpróico 20-40 mg/kg a 3-6 mg/kg/min ▪ Atua nos canais de sódio e de cálcio, diminuindo a liberação dos neurotransmissores para a fenda sináptica e, assim, diminuindo a propagação do impulso nervoso ❖ TERAPIA DE 3° LINHA, usada caso os medicamentos acima não tenham resolvido • Realização da intubação orotraqueal e eletroencefalograma • Adm de → pentobarbital 5mg/kg IV, fenobarbital 20mg/kg IV, midazolam 0,2mg/kg IV, propofol 2mg/kg TRATAMENTO CIRÚRGICO • Ressecção ou desconexão da região cerebral que contém o foco da crise • São usados para a avaliação → EEG, RM, neuroimagem funcional – PET e SPECT → podem precisar de implante de eletrodos intracranianos para registrar e estimular o tecido cortical • Procedimentos cirúrgicos paliativos, tais como calosotomia e transecção subpial múltipla têm porcentagens de sucesso menores → usadas quando a ressecção cirúrgica não é possível. • Promissoras terapias cirúrgicas incluem radiocirurgia e vários tipos de estimulação elétrica do cérebro CONSIDERAÇÕES EM MULHERES • Alterações nos níveis hormonais durante o ciclo menstrual podem agravar as crises peri-menstruais em algumas mulheres → aco, depoprovera e acetazolamida podem reduzir as crises • Fármacos antiepiléticos que são indutores enzimáticos reduzem os níveis de estrogênio e aumentam seu metabolismo → usar doses maiores de estrogênio ou métodos alternativos de contracepção • Na gestação, ausência de crises por pelo menos 9 meses anteriores à gestação é associada a alta probabilidade de permanecer livre de crises durante a gravidez o Para evitar ma formações, evitar valproato e altas doses de antiepilético – teratogênico DESCONTINUIDADE DE MEDICAMENTOS ANTIEPILÉTICOS • 60% as crises são fáceis de controlar • Medicações podem ser reduzidas ao longo de 4 a 6 meses em pctes que ficaram livres de crises por 2 anos ou mais e com exames neurológicos normais • Crises recorrentes após suspensão de medicação ocorrem em 20% Anticonvulsivantes FENOBARBITAL • Mecanismo de ação → aumenta a afinidade do GABA com o receptor o Dose: 100 a 200 mg o Crises focais/tônico clônica generalizada (TCG) para pctes de qualquer idade • Interação medicamentosa → indutor enzimático • Efeitos adversos → ataxia, tontura, sonolência, disartria, fadiga, cefaleia, irritabilidade, vertigem, nistagmo e depressão ÁCIDO VALPROICO • Mecanismo de ação → ação gabaérgica, bloqueio do canal de cálcio tipo T e bloqueio do canal de sódio o Dose 500 a 3000 mg o Monoterapia e terapia adjunta de pacientes > 10 anos e com qualquer forma de epilepsia. ▪ Espectro de ação amplo (focais/ generalizada) • Interação medicamentosa → inibidor enzimático • Efeitos adversos → náusea, cefaleia, aumento do tempo de sangramento, trombocitopenia, tremor, alopecia, astenia, sonolência, diplopia, tontura, dispepsia, zumbido, nistagmo, vômitos e diarreia. FENITOÍNA • Bloqueador do canal de sódio • Dose 100-300 mg, única droga disponível por via endovenosa o Tratamento de crises TCG, focais complexas, ou combinação de ambas → em crianças, adolescentes e adultos o Prevenção e tratamento de crises epilépticas durante ou após procedimento neurocirúrgico o Tratamento das crises tônicas, próprias da síndrome de Lennox-Gastaut. • Efeitos adversos → ataxia, tontura, sonolência, disartria, nistagmo, atrofia cerebelar, bradicardia, bloqueio de condução (apenas com infusão rápida), hipertrofia gengival e anemia megaloblástica. CARBAMAZEPINA • Bloqueador do canal de sódio e discreta ação anticolinérgica. o Monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, com ou sem generalização secundária o Crises TCG em pacientes > 1 ano de idade o Dose 400 a 1200 mg ▪ Droga de baixo custo • Efeitos adversos → ataxia, tontura, sonolência, náuseas e vômitos OXCARBAZEPINA • Bloqueador do canal de sódio o Utilizada em gestantes o Dose 600 a 1800 mg • Efeitos adversos → tontura, ataxia, cefaleia, náuseas, nistagmo, sonolência, alteração da marcha, tremor, dor abdominal, fadiga, vertigem, anormalidades visuais LAMOTRIGINA • Bloqueador do canal de sódio o Monoterapia para crises focais com ou sem generalização em pctes > 12 anos em situações de intolerância ou refratariedade a medicamentos de primeira linha o Terapia adjuvante para crises focais em pacientes > 2 anos de idade ▪ Dose 200 a 600 mg → ao aumentar a dose, deve ser feito de 25mg em 25 mg • Se usar inibidor enzimático, de 12,5 em 12,5 mg. • Interação medicamentosa → não tem efeito no citocromo P450, mas seus níveis são influenciados • Efeitos adversos → tontura, diplopia, cefaleia, ataxia, turvação visual, rinite, sonolência, alergia e rash TOPIRAMATO • Bloqueador do canal de sódio, gabaérgico, antagonista do receptor de AMPA/Kinase o Monoterapia para crises focais ou primariamente TCGs em pctes > 10 anos com intolerância ou refratariedade a outros medicamentos de primeira linha o Terapia adjuvante para crises focais, primariamente generalizadas ou crises associadas com a síndrome de Lennox-Gastaut em pacientes > 2 anos de idade ▪ Dose 200 a 400 mg • Efeitos adversos → redução de bicarbonato sérico, tontura, fadiga, ataxia, nervosismo, parestesia, lentificação psicomotora, visão anormal, anorexia, confusão, alteração de memória e fala... o Muitos, por isso não é tão bem tolerado! LEVETIRACETAM • Ligação com proteína SV2A (vesícula sináptica) → impede que o neurotransmissor alcance a fenda sináptica, ou seja, atua na condução sináptica o Espectro de ação amplo (focais e generalizadas) o Dose 1 a 3g • Efeitos adversos → astenia, cefaleia, HAS, sonolência, fadiga, anorexia, fraqueza, tosse, depressão...
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