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AULA 5 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Profª Lorena Lucena Furtado 02 CONVERSA INICIAL Olá aluno! É importante entender como as empresas se organizam a fim de realizar a captação de recursos para atingir os seus objetivos estratégicos, executando projetos relavantes ao crescimento dos negócios. Logo, para esta aula serão apresentados alguns conceitos fundamentais sobre como a gestão administrativa deve estar atuando junto às decisões de financiamento, sendo que estas estão diretamente relacionadas as suas decisões sobre investimentos. Para isso, serão colocadas primeiramente algumas formas teóricas e práticas que ajudam a administração na escolha da sua estrutura de capital, que nada mais é do que a identificação dos atores que trarão os recursos a fim de dar continuidade ao negócio e fazer com que seus projetos de investimento sejam realizados. Posteriormente, serão identificadas as formas de alavancagem, que podem ser tanto atreladas diretamente ao uso de recursos de terceiros quanto atreladas à atividade normal da empresa. São fatores que tem o seu lado positivo desde que o gestor tenha em mãos um planejamento financeiro adequado para a sua atividade. Após tais características, esta aula será encerrada com quais são as formas presentes de financiamento tanto em um curto prazo quanto em um longo prazo. Ou seja, o destaque está na administração de caixa, de obrigações com terceiros, com o patrimônio dos sócios, entre outros títulos que podem ser emitidos de acordo com a natureza da empresa. CONTEXTUALIZANDO Sabe-se que é constante a tomada de decisões dentro das entidades, sejam relacionadas às questões operacionais ou financeiras. De modo geral, essas decisões são realizadas tendo como base uma prospecção do cenário econômico e político do país, além daquelas relacionadas ao setor de atuação da entidade. Mas quais análises podem ser realizadas em termos de fontes de financiamento para as empresas? Dessa forma, para esta aula serão realizadas as seguintes perguntas: como é realizada a escolha de estrutura de propriedade? A empresa sempre terá ao seu alcance recursos de caixa? Porque escolher a dívida como fonte de 03 financiamento? Quais alavancagens estão presentes na gestão das entidades? Como a alavancagem pode influenciar as decisões de financiamento da empresa? Nessa linha, espera-se contribuir com o conhecimento adequado sobre a gestão de recursos tanto de curto prazo quanto de longo prazo. TEMA 1 – ANÁLISE DA ESTRUTURA DE CAPITAL Para o gestor financeiro, entender sobre a estrutura de propriedade importa, uma vez que este saberá a quem deverá as obrigações sobre informações a respeito do negócio, bem como saberá as questões relativas à política de distribuição de dividendos, política de financiamentos e de investimentos. A estrutura de capital nada mais é do que a forma como a empresa é financiada. Ou seja, com capital advindo do patrimônio líquido diretamente relacionado aos sócios ou reintegrações de lucros do período, ou com capital advindo de terceiros sendo aqueles diretamente relacionados a empréstimos bancários, leasing, debêntures, entre outros títulos. A diferença principal entre estes dois componentes está no fato de que a estrutura de capital relacionada ao patrimônio líquido dá aos sócios e acionistas majoritários o direito sobre a administração da empresa. Já a forma de estrutura de capital relacionada a terceiros não dá ao proprietário do título o direito sobre a propriedade da entidade limitando a este apenas o direito a receber partes do fluxo de caixa da entidade uma vez que estarão presentes taxas ou valores a serem pagos estabelecidos em contratos prévios. 1.1 Qual a melhor escolha? Para saber qual a estrutura de capital mais adequada, algumas observações podem ser realizadas. Mas não há um modelo padrão que qualquer empresa possa empregar em seu negócio e que identifique se naquele determinado momento deverá haver a escolha de um em detrimento do outro. A princípio, é importante que a entidade identifique no seu ambiente questões relacionadas ao seu planejamento estratégico, se a entidade pode assumir obrigações quanto a garantias contratuais aos seus credores ou investidores. Além de identificar qual a sua projeção de fluxo de caixa, uma vez que esta característica tende a apresentar ao gestor se com os resultados financeiros advindos das atividades operacionais a empresa é capaz de se 04 financiar em um longo prazo, ou se em determinado momento será melhor estar com recursos vindos de terceiros uma vez que são de mais fácil acesso. Existem algumas abordagens na teoria sobre finanças que podem ajudar o gestor a entender melhor sobre como a escolha da estrutura de capital impacta na imagem da entidade: Teoria Convencional e a Teoria advinda de Modigliani e Muller. Para a Teoria Convencional, aumentando o nível de endividamento com terceiros, os custos de capital próprio e de terceiros irão aumentar colocando a empresa em risco de ter maiores dívidas em detrimento dos seus retornos, podendo causar o que se chama de insolvência. A definição de tal teoria coloca que o custo do capital total da empresa (CMPC) irá permanecer constante até um determinado ponto de endividamento, crescendo a partir de então. Nessa teoria é identificado que o valor da empresa é impactado pela forma como a sua estrutura de capital é definida. Logo, é defendido que exista um ponto de equilíbrio entre capital próprio e de terceiros. Porém, a entidade deve levar em consideração que em uma economia inflacionária as taxas de juros e a economia do país podem oscilar dificultando a previsão para aquele ponto de equilíbrio definido em determinado momento (Assaf Neto, 2014). Já a Teoria de Modigliani e Muller coloca que a gestão da empresa não será afetada pela forma como esta é financiada. Ou seja, o que importa para o investidor é apenas o seu fluxo futuro positivo de caixa. Logo, o valor da entidade independe do financiamento por capital próprio ou capital de terceiros (Modigliani e Miller, 1958). Porém, para os autores, a defesa de tal teoria está concentrada em um ambiente onde não existem custos contratuais, não há presença de tributos e todas as informações estão disponíveis para que o gestor tome a sua decisão. 1.2 Custo e vantagens para a escolha da estrutura de capital É importante que o gestor tenha presente para a escolha da estrutura de capital alguns custos que podem ser incorridos, pois são informações relevantes e que estão diretamente ligadas aos fluxos de caixa, receitas e despesas gerados pelos negócios. Se a entidade escolhe estar sendo financiada por capital próprio, ou seja, capital advindo dos sócios, é importante ter como destaque que os riscos 05 assumidos, caso existam oscilações ou perdas no negócio, serão apenas destes. Caso a empresa opte por abrir capital, colocar ações no mercado acionário, ali estarão custos associados principalmente à elaboração de relatórios com informações necessárias à análise dos investidores. Esses custos de informações são necessários uma vez que reportam ao mercado a saúde financeira dos negócios para que o acionista decida se irá comprar ou vender as ações da entidade, fazendo com que exista o que se chama de liquidez de tais títulos (Assaf Neto, 2014). A vantagem em ter uma política priorizando capital do patrimônio líquido é que, no caso de existir futuras sazonalidades e imprevistos, a empresa poderá contrair dívidas com mais tranquilidade. Caso a empresa opte em reter recursos de terceiros, os custos incorridos serão principalmente relacionadosa cláusulas contratuais. Para empréstimos com bancos, o comum está em fixação de taxas de juros que estabelecem para a empresa um passivo financeiro, também conhecido como passivo oneroso. Da mesma forma, a emissão de debêntures que são títulos para pagamento de dívidas ou financiamento de empréstimos, e o leasing associado à obtenção de bens para a execução das atividades operacionais da entidade, acarretam para a empresa uma despesa relacionada a pagamentos monetários enquanto perdurar o contrato. Neste caso, a vantagem para obter capital de terceiros está no fato de que disciplina os gestores para trabalhar a fim de garantir o pagamento das obrigações de acordo com o estabelecido nos contratos. TEMA 2 – ALAVANCAGEM FINANCEIRA De modo geral, o gestor financeiro deve trabalhar com a melhor estrutura que possa maximizar a riqueza dos acionistas. Para isso, conta com a escolha da estrutura de capital. Por exemplo, a empresa pode se ver diante de um contexto em que a prospecção em termos de crescimento de vendas futuras seja alta, e ter de decidir se naquele momento é melhor ser financiada por um empréstimo bancário com taxas que irão comprometer o seu fluxo futuro de caixa, ou se é melhor permanecer com recursos próprios esperando que no futuro exista a entrada de recursos no caixa devido à alta nas vendas e, dessa forma, o projeto de investimento venha a ser realizado no futuro. 06 Nos termos empregados pela gestão financeira, existe a figura da alavancagem financeira sendo esta a capacidade da entidade trabalhar diretamente com recursos de terceiros de forma a trazer um melhor desempenho com tais recursos no valor atribuído para os investidores. Para Morante e Jorge (2012) o cálculo da alavancagem financeira pode ser realizado através do uso de dados contábeis, sendo a fórmula como a que segue: 𝐺𝐴𝐹 = 𝑅𝑂𝐸 𝑅𝑂𝐴 Onde: 𝐺𝐴𝐹 = grau de alavancagem financeira; 𝑅𝑂𝐸 = relação entre o lucro líquido; 𝑅𝑂𝐴 = retorno sobre o ativo. O cálculo do lucro líquido é realizado utilizando o lucro líquido de um período sobre o patrimônio líquido de determinado período: 𝑅𝑂𝐸 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 Pode-se dizer que essa é uma medida de rentabilidade sem ter como base dados qualitativos e que são importantes como a questão do capital de giro da entidade que é um indicativo de fluxo de caixa e de valores disponíveis para a continuidade dos negócios. Já no retorno sobre o ativo, a fórmula deve conter o lucro antes das despesas financeiras sobre o ativo total de um determinado período: 𝑅𝑂𝐴 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Considera-se como uma medida de riqueza para capital próprio e para capital de terceiro, sem levar em consideração questões qualitativas como o passivo oneroso da entidade. Utilizando a métrica GAF, teremos os seguintes resultados: GAF maior que 1 (um) – existe um valor que denota que o capital de terceiros contribuiu para a geração de valor para o investidor. GAF menor que 1(um) – indica prejuízo com o uso de capital de terceiros sem obter retorno para com o investidor. 07 GAF igual a 1 (um) – o uso de capital de terceiros não resultou nem em retornos positivos ou negativos para o acionista. Nesta forma de analisar o grau de alavancagem financeira estão abordados dados qualitativos que podem não estar apresentando de maneira completa se a empresa está utilizando em excesso ou não valores de terceiros. A principal questão a ser analisada na prática será no sentido de identificar se tomando um maior número de capital de terceiros a empresa venha a conseguir auferir melhores retornos. Ou se é melhor permanecer apenas com recursos internos, sejam relativos à caixa ou recursos advindos dos sócios, no qual podem trazer retornos favoráveis invalidando a escolha por capital de terceiros. 2.1 Influência do imposto de renda Quando se analisa a questão da contração de dívidas e as suas vantagens quanto a questões tributárias, o gestor leva em consideração o fato de que as despesas financeiras com dívidas reduzem o valor a ser pago com o imposto de renda. Isso se deve ao fato de que na apuração do resultado do exercício, primeiro será calculado o lucro operacional, ou seja, o lucro advindo puramente do ativo da entidade sem interferência de recursos de terceiros; e posteriormente será calculado o lucro líquido após a dedução do imposto de renda. Focando na questão das despesas financeiras, veja um exemplo. Quadro 1 – Despesas financeiras Vendas 120.000.00 (-) Custos dos produtos vendidos 30.000,00 = Lucro bruto 90.000,00 (-) Despesas com vendas 10.000,00 (-) Despesas administrativas 20.000,00 = Lucro operacional 60.000,00 (-) Despesas financeiras 15.000,00 = Lucro antes de IR e Contribuição Social 45.000,00 (-) provisão para IR 15.300,00 = Lucro Líquido 29.700,00 Quando analisada a questão da tributação, caso a empresa não estivesse com despesas operacionais, haveria um total de provisão de IR de 20.400,00 (34% x 60.000,00). No entanto, a despesa financeira fez com que houvesse um abatimento menor de 5.100,00 (34% x 15.000). 08 Com a presença do retorno financeiro, a empresa tende a alterar o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) que vem a ser o retorno dos acionistas. Apesar de diminuir este, haverá menos despesas que irão impactar o fluxo de caixa da entidade. 2.2 Passivos de funcionamento Outro ponto importante a ser analisado para decisões sobre financiamento com capital de terceiros vem a ser aqueles valores pagos referente a passivos necessários à execução das atividades operacionais da entidade. As empresas tendem a ter algumas obrigações que não lhe darão retornos monetários, e sim dispêndios ao longo das suas atividades. Ou seja, valores que se não houver atraso em seu pagamento não implicarão em encargos financeiros para a empresa. É o caso de salários a pagar, fornecedores de mercadorias, impostos e recolher, entre outros. Por não haver encargo esses passivos devem ser excluídos do cálculo relativo à análise de despesas financeiras. Por este motivo, Assaf Neto e Lima (2017) colocam o ROI (retorno sobre o investimento) como uma forma de analisar a alavancagem financeira excluindo- se do ativo total todos os passivos de funcionamento que não são onerosos: 𝑅𝑂𝐼 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑒 𝐹𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 Com esta fórmula, o gestor identifica a rentabilidade trazida com o uso de capital próprio ou capital de terceiros. TEMA 3 – ALAVANCAGEM OPERACIONAL A entidade precisa estar atenta às questões relacionadas à atividade operacional, uma vez que esta influencia nos retornos relativos à atividade a fim de elaboração de um produto ou prestação de serviço. Logo, existe a análise do grau de alavancagem operacional, o qual identifica como que a alteração em determinado volume de produção pode estar impactando no resultado operacional da entidade. Se, por exemplo, a venda em determinado período crescer 20%, como isto estará refletido no lucro operacional. Para o cálculo deste item Assaf Neto e Lima (2017) inferem a seguinte fórmula: 09 𝐺𝐴𝑂 = 𝑃𝑜𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑃𝑜𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑛𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 Deve-se lembrar que os custos fixos não sofrem variação com o aumento do volume de produção. Logo, para aquelas entidades que dependem mais das despesas fixas haverá maiores chances de ocorrer a alavancagemoperacional. Porém, a empresa terá maiores riscos uma vez que haverá maior variação dos seus resultados operacionais. Por este motivo, é necessário que a empresa saiba qual o seu ponto de equilíbrio para que tenha o controle de quanto poderá produzir sem que isto impacte de maneira drástica nos seus resultados operacionais. A seguir será discriminado um exemplo em que serão comparados dois tipos de empresa: a empresa X com despesas fixas elevadas e a empresa Y com despesas fixas pequenas: Quadro 2 – Comparativo entre empresas X e Y Empresa X Empresa Y Receita com vendas 70.000,00 70.000,00 (-)Despesas variáveis 10.000,00 40.000,00 (-) Despesas fixas 40.000,00 10.000,00 = Resultado operacional 20.000,00 20.000,00 Suponha que haverá um aumento de 20% nas receitas de vendas. Logo, o quadro ficará da seguinte forma: Quadro 3 – Comparativo entre empresas X e Y Empresa X Empresa Y Receita com vendas 84.000,00 84.000,00 (-)Despesas variáveis 12.000,00 48.000,00 (-) Despesas fixas 40.000,00 10.000,00 = Resultado operacional 32.000,00 26.000,00 Comparando o resultado da empresa X nos dois quadros, tem-se uma variação de 160% ( 32.000,00 𝑥 100 20.000,00 ). Já na empresa Y, a variação foi de 130% ( 26.000,00 𝑥 100 20.000,00 ). Ou seja, em condições onde há um custo fixo maior, a tendência é que existam maiores variações nos resultados quando do aumento do volume de vendas. Dessa forma, faz-se necessário calcular o ponto de equilíbrio. 010 Observa-se com o exemplo que empresas passam a ser mais alavancadas quando os seus custos e despesas fixas são elevados. Logo, apesar do risco pertinente, essas empresas de certa forma podem incorrer em maiores lucros quando comparadas com aquelas com baixos custos fixos. Porém, correm maiores riscos de ter prejuízos quando diminui as suas vendas em determinado período. Porém, outro ponto importante a ser avaliado é a margem de contribuição do produto. Logo, observando o exemplo abaixo notamos que: Quadro 4 – Comparativo entre empresas X e Y Empresa X Empresa Y Receita com vendas (um) 70,00 70,00 (-)Despesas variáveis 10,00 40,00 = Margem de contribuição 60,00 30,00 (-) Despesas fixas 40,00 10,00 = Resultado operacional 20,00 20,00 O Quadro 4 destaca que as empresas com menores custos variáveis terão uma maior margem de contribuição do seu produto. Caso a empresa incorra em um aumento de 10% dos seus custos e despesas variáveis e permaneça com os mesmos custos fixos: Quadro 5 – Comparativo entre empresas X e Y Empresa X Empresa Y Receita com vendas (um) 70,00 70,00 (-)Despesas variáveis 11,00 44,00 = Margem de contribuição 59,00 26,00 (-) Despesas fixas 40,00 10,00 = Resultado operacional 19,00 16,00 O que ocorrerá é que o lucro da empresa que tem uma menor margem de contribuição unitária será afetado mais drasticamente com mudanças ocorridas em seus custos variáveis (Assaf Neto e Lima, 2017). Logo, a empresa também deve estar ciente de que os custos e despesas variáveis são fatores que podem impactar os seus resultados. Se o aumento na Empresa Y em relação às despesas variáveis fossem na ordem de 50%, a sua margem de contribuição seria 10,00, o que acarretaria um resultado operacional nulo. Já na Empresa X, 50% de 011 aumento nas despesas variáveis resultariam em uma margem de contribuição de 55,00 e um resultado operacional unitário na ordem de 15,00. TEMA 4 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO DE CURTO PRAZO As decisões envolvendo financiamentos de curto prazo estão atreladas basicamente à fonte advinda do caixa da entidade ou dos valores a disposição para a continuidade dos negócios. Porém, caso a empresa inicialmente tenha uma má formação do capital social integralizado, a entidade pode ter dificuldades em ter um capital circulante líquido comprometendo, dessa forma, suas operações e fazendo com que outras fontes de recursos sejam necessárias para o seu financiamento como, por exemplo, captação de empréstimos bancários (Morante e Jorge, 2012). Nessa linha, primeiro é necessário que a empresa realize um planejamento do seu caixa, caso, principalmente, ela venha a optar por se financiar com recursos advindos prioritariamente das suas atividades. Ou seja, estabeleça como será a sua política de decisões relacionadas aos valores disponíveis que são os recursos monetários que irão circular para a consecução da atividade fim da empresa. Para isso, a empresa deve realizar previsões detalhadas de impostos a pagar, vendas a realizar, despesas a pagar, entre outros itens que podem estar atrelados à entrada e saída de caixa durante o andamento das atividades da empresa. 4.1 Capital Circulante Líquido Uma das análises que podem ser realizadas para identificar de maneira objetiva o comportamento do caixa da entidade vem a ser o que se denomina de capital circulante líquido. Esta forma de análise apresenta dados extraídos diretamente do Balanço Patrimonial identificando os recursos considerados como ativo circulantes e as obrigações denominadas de passivos circulantes. Com essas duas fontes de informações presentes em tais balanços, a entidade consegue analisar em um curto prazo se existe uma relação positiva para a entidade dos recursos disponíveis para a liquidação das suas obrigações a um curto prazo. A forma de cálculo usual é a que segue: 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 − 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑐𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 012 Um CCL positivo indica que a empresa terá como pagar as suas obrigações e ainda permanecerá com recursos em caixa. Já um CCL negativo indica que a empresa não poderá arcar com as obrigações naquelas datas de cálculo do CCL. Por exemplo, suponha que a empresa tenha um ativo circulante de 10.000,00 e um passivo circulante de 8.000,00. Logo, haverá uma folga de 2.000,00 (𝐶𝐶𝐿 = 10.000 − 8.000 = 2.000) no caixa. Agora, se os valores fossem invertidos com um ativo circulante totalizando 8.000,00 e um passivo circulante totalizando 10.000,00. Nesse caso, haveria uma falta no caixa de -2.000,00 (𝐶𝐶𝐿 = 8.000 − 10.000 = −2.000). É uma forma simples de identificar em uma data específica como está o caixa da entidade. Porém, é necessário que existam informações complementares relacionadas aos períodos para execução das duplicatas a receber, pagamento a realizar, principalmente, para que a empresa se certifique de que prazos foram estabelecidos para a entrada e saída de caixa. Logo, para que o CCL se encontre com um saldo positivo, a empresa deve estabelecer o seu ciclo operacional e o seu ciclo de caixa de forma que trabalhem em conjunto para que não exista um prazo para recebimentos descombinado com o prazo de pagamento dos fornecedores e demais obrigações. Outros aspectos que devem ser levados em consideração quanto à política adotada para o capital circulante. Eles se referem ao fato de que a entidade pode em determinado período optar por imobilizar o recurso disponível em caixa. Ou seja, a empresa poderá integrar no seu ativo imobilizado um novo bem fazendo com que o seu CCL venha a diminuir. Logo, o gestor deve estar atento à questão de se é melhor realizar tal prática ou se não seria mais vantajoso colocar recursos de terceiros em longo prazo a fim de não impactar no CCL naquele momento. Um CCL positivo traz vantagens consideráveis para as operações da entidade. Mas pode ser o caso de que se na entidade existir um excesso de CCL, talvez em determinado momento o mais indicado será colocar este valor a mais em algum investimento que dê um certo retorno para a empresa. Por estes motivosexpostos e outros que permeiam as entidades nas decisões de financiamento de curto prazo, é que se faz necessário um planejamento do caixa. 013 4.2 Administração de fatores de caixa De forma geral, existem outros fatores a serem geridos para a boa qualidade do caixa da entidade. De acordo com Morante e Jorge (2012), a empresa deve administrar o capital de giro, o disponível da entidade, as questões de duplicatas a receber e os estoques de produtos. Além de identificar a necessidade real de capital de giro em determinado momento. Para o capital de giro, a entidade deve estar atenta a fatores como quais recursos estão presentes girando pelas atividades operacionais e se concretizando em valores monetários. Neste tópico, devem ser relacionadas também as questões relativas ao ciclo operacional e financeiro. Para a gestão do disponível Morante e Jorge (2012, p.42) identificam como sendo aqueles “[...] ativos cuja característica seja a sua transformação em dinheiro ou liquidez imediata, de forma natural e sem interferências de terceiros”. Logo, estão integradas as contas de caixa, banco, aplicações financeiras de curto prazo, entre outras que podem ser convertidas de maneira imediata em recursos monetários. Para a gestão das duplicatas a receber, o gestor deve estar atento a sua política de crédito junto aos clientes. A empresa deve encontrar um ponto onde sejam estabelecidos prazos oportunos tanto para a empresa quanto para o cliente. Para isso, é importante que tenham informações acerca do mercado, do cenário em que a empresa se encontra, das condições da empresa em relação aos riscos relacionados ao capital de giro, entre outras pertinentes à adoção de uma política de crédito. Quanto ao estoque de produtos, devemos lembrar que esta é uma conta que integra o ativo da empresa. Logo, deve-se adotar uma política de estoque na qual exista uma definição de quando deverão ser realizadas as compras para que não venha a existir um excesso de estoque ou uma falta deste. TEMA 5 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO Existem algumas opções para a capitalização da empresa relacionada à decisão de financiamento de longo prazo. Longo prazo, no sentido de que os recursos alocados e dispendidos, assim como os seus retornos, serão sentidos em um período maior que aqueles de curto prazo. Ou a empresa se financia com 014 capital próprio ou realiza a reinversão de lucros, ou a empresa realiza financiamentos junto a terceiros. Uma das formas encontradas para a obtenção de recursos com capital próprio vem ser através da abertura de capital, onde a entidade coloca ações no mercado acionário e obtém como retorno valores para dar andamento aos seus investimentos. Para a captação de recursos de terceiros, as empresas têm algumas opções ao seu dispor: emissão de debêntures, leasing financeiro e operacional, empréstimos bancários, entre outros títulos que revertem para a empresa valores para a execução dos seus projetos de investimento. 5.1 Financiamento por capital próprio Para a decisão por financiamento com capital próprio, as empresas podem ter as seguintes opções: capital dos sócios, cotas, ações ou reinversão de lucros. O capital dos sócios são aquelas integralizações que ocorrem no início das atividades indicado no estatuto da empresa. Se for uma empresa limitada, o registro de tal integralização será como cota. Caso seja uma empresa de sociedade anônima (capital aberto ou fechado), o registro da integralização será denominada como ação. A sociedade anônima pode ser tanto de capital fechado quanto de capital aberto, sendo que a última terá as suas ações negociadas no mercado acionário. Damodaram (2007) destaca que este tipo de capital confere ao proprietário direito sobre a gestão da empresa e suas decisões, além de poder ter os seus retornos através de dividendos e outras entradas que poderão ser conseguidos durante a atividade do negócio. Quanto à reinversão de lucros, as empresas podem optar em colocar determinada parte dos lucros auferidos em um período na reserva de lucros a fim de realizar a sua utilização em períodos posteriores em projetos de investimento ou em outras atividades destacadas no estatuto da empresa. Essa também passa a ser uma fonte de financiamento para as empresas. De forma geral, optar apenas por este tipo de financiamento requer que, em geral, as empresas tenham um bom fluxo de caixa, o que dependerá da atividade do negócio. Além do mais, caso a empresa não tenha o seu capital aberto, o risco das operações e das atividades financeiras da empresa será totalmente atribuído aos sócios. 015 5.2 Financiamento por dívida A diferença primordial no financiamento por dívida, quando comparado com a fonte de financiamento por patrimônio líquido, está no fato de que no primeiro o credor não tem direito a decisões administrativas da entidade e nem a dividendos. O direito aqui está relacionado aos fluxos futuros de caixa, uma vez que haverá taxas e encargos com a obtenção dos recursos de terceiros. Além do fato de quando da contração de dívidas, os valores referentes ao imposto de renda sofrerão redução, uma vez que as despesas financeiras para este tipo de transação entrarão no computo da base de provisionamento de tal tributo junto a Demonstração do Resultado do Exercício. Essa taxa é cobrada uma vez que a empresa, ao estar inserir recursos na empresa, requer como contrapartida recursos financeiros, uma vez que estará assumindo riscos de, por exemplo, a empresa passar por um período de sazonalidade e não cumprir com as suas obrigações. Para Padoveze (2016, p. 267), “são consideradas fontes de recursos de terceiros as obrigações emitidas pela empresa ou os empréstimos e financiamentos contraídos que tenham remuneração financeira, com juros ou prêmios”. De forma geral, podemos definir as dívidas como abaixo: Empréstimo bancário – são valores contraídos no qual a sua contratação deixa pré-determinada uma taxa a ser paga periodicamente. Geralmente a sua vantagem está no fato de ter maior facilidade de contratação Debêntures – são títulos colocados a fim de obter valores para o pagamento de dívidas ou para o financiamento de investimentos. Conferem ao debenturista um prêmio ou juros, sendo que podem dar o direito de conversão em ações ou não. Leasing - este tipo de financiamento está atrelado geralmente à obtenção de bens imóveis, pagando para o contratante um valor pelo aluguel deste. O operacional tem por característica que, ao final do período contratado, o bem será devolvido para o contratante. Já o financeiro dá o direito de que ao final do contrato o bem ficará com o contratado tendo o dispêndio de um valor residual. Bônus – títulos de dívida no qual conferem ao proprietário o direito em receber uma renda fixa. Geralmente este tipo de transação está presente junto a empresas estrangeiras. 016 Foram colocadas algumas características de como a empresa pode captar recursos para fins de financiamento em longo prazo. Mas, deve-se colocar a importância de estabelecer uma política de financiamento da empresa para que esta saiba o momento de ser capitalizada com recursos de terceiros, os fluxos de caixa futuros que serão impactados com tais escolhas, a melhor forma de capitalização, entre outros itens atrelados ao cenário econômico, político e do setor de atuação. FINALIZANDO Nesta aula o aluno pode verificar que a escolha da estrutura de capital da empresa não é uma tarefa fácil, uma vez que demanda a projeção de fluxos de caixa, questões relacionadas à gestão tributária, as perspectivasdo setor e da economia. Logo, para facilitar a sua escolha o planejamento financeiro torna-se necessário. Além deste planejamento, o gestor deve entender como os custos fixos e variáveis podem comprometer os resultados futuros de fluxos de caixa da empresa, uma vez que devem ser trabalhadas as melhores formas de prazos de pagamento e recebimento, além da margem de contribuição do que está ali sendo produzido. Para isso, existe a figura do grau de alavancagem que possibilita que tal atividade seja melhor executada. Por fim, existem formas específicas de se financiar. Seja através de patrimônio líquido advindos dos sócios, ações colocadas no mercado, empréstimos bancários, debêntures, entre outros. Todos têm custos associados no qual podem comprometer tanto o fluxo de caixa, quanto o patrimônio líquido da entidade. 017 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2014. ASSAF NETO, A; LIMA, F. G. Fundamento de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. Administração financeira: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016 DAMODARAM, A. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. Dados eletrônicos. Porto Alegre: Bookman, 2007. HOJI, M. Administração Financeira Na Prática. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2014. MORANTE, A. S.; JORGE, F. T. Administração Financeira. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2012. PADOVEZE, C. L. Administração financeira. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2016.
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