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NEUROLINGUÍSTICA AULA 2 Prof.ª Larissa Priscila Bredow Hilgemberg UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 1 of 16 01/03/2021 11:00 CONVERSA INICIAL Olá, querido(a) estudante! Nesta aula, temos como tema central o funcionamento do cérebro referente à linguagem, apresentando as principais áreas cerebrais responsáveis pelo desenvolvimento da linguagem. O objetivo desta aula é nos aprofundarmos quanto à relação de linguagem e cérebro. Dessa forma, seguiremos a seguinte sequência de assuntos: 1. Função cerebral da linguagem; 2. Sistemas funcionais da linguagem; 3. Ativação cerebral pela linguagem; 4. Mecanismos de representação da linguagem; 5. Compreensão dos símbolos cerebrais. Bons estudos! TEMA 1 – FUNÇÃO CEREBRAL DA LINGUAGEM Para entendermos a linguagem humana, precisamos entender o funcionamento dela no cérebro. De que forma ela é formada e organizada em nosso cérebro? De que forma cérebro e linguagem se relacionam? As funções da linguagem estão relacionadas ao tecido cerebral, assim, para compreender a relação entre elas, são investigadas as bases neurais dos tecidos. Exames como eletroencefalografia e ressonância magnética auxiliam nessas investigações, uma vez que por meio deles é possível decodificar as funções cognitivas de imagem no cérebro e analisar a anatomia da massa cinzenta e das fibras da substância branca (Luchesa, 2020). UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 2 of 16 01/03/2021 11:00 Para compreendermos o funcionamento do cérebro, precisamos saber que ele é dividido por dois hemisférios cerebrais, o direito e o esquerdo. Entre os dois, há o que denominamos corpo caloso, que é uma fissura longitudinal profunda. Cada um dos hemisférios é composto por uma massa cinzenta e uma massa branca, por vasos sanguíneos e por fluídos. Esses hemisférios são divididos por cinco lobos: frontal, parietal, temporal, occipital e insular. Os três primeiros lobos têm relação direta com a linguagem. Já os dois últimos têm relação indireta. Figura 1 – Cérebro humano Créditos: Hank Grebe/Shutterstock. Frontal: responsável pelo movimento, pensamento, planejamento, raciocínio, emoções, memória, linguagem (expressão) e personalidade; Parietal: responsável pela localização espacial, recepção e processamento sensorial e leitura; Temporal: responsável pela linguagem (compreensão), comportamento, memória, audição e habilidades matemáticas; Occipital: responsável pela visão e equilíbrio; UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 3 of 16 01/03/2021 11:00 Insular ou límbico: responsável pelas emoções e paladar. Na massa cinzenta do cérebro, encontramos o córtex cerebral (camada mais superficial do cérebro). O córtex cerebral tem 2-5 mm de espessura, e é responsável por cerca de 80% da massa total do cérebro. Estima-se que a sua área total seja de cerca de 2000 cm2. O córtex cerebral tem uma série complicada de pregas tortuosas, os giros (circunvoluções), e entre estes giros (circunvoluções) existem indentações, denominadas sulcos. (Aghoghovwia, 2020) O córtex é responsável pelo funcionamento do pensamento, do raciocínio, da memória, da atenção e da linguagem. Na região temporal e frontal inferior esquerda do córtex, ocorrem os processos sintáticos, ao passo que na região frontotemporal ocorrem os processos semânticos. Os primeiros estudos sobre a localização cerebral da linguagem datam do final do século XVIII e foram organizados pelos médicos Franz Joseph Gall, Johann Caspar Spurzheim, Pierre-Paul Broca e Jean-Marie-Pierre Flourens. Esses primeiros estudos se baseavam em teorias localizacionistas e antilocalizacionistas. Enquanto os dois primeiros pesquisadores defendiam a teoria localizacionista, ou seja, que a linguagem estava representada em uma região específica do cérebro, os dois últimos baseavam-se na teoria antilocalizacionista, ou seja, que a linguagem não era organizada por uma região específica do cérebro, mas estava representada simultaneamente por todas as regiões cerebrais (Pinheiro, 2012). No início do século XX, as teorias antilocalizacionistas estavam preferidas em detrimento às teorias localizacionistas. Porém, na metade do século, entre as décadas de 1950 e 1960, as teorias localizacionistas voltam a ser discutidas e pesquisadas. Estudos acerca dos hemisférios cerebrais são elaborados e alcança-se o conceito de especialização funcional dos hemisférios cerebrais. Esta concepção em síntese admite que não existe um hemisfério dominante e outro dominado, mas sim dois hemisférios especialistas: um dos hemisférios se encarrega de um grupo de funções, enquanto o segundo encarrega-se de outro; às vezes são estratégias funcionais que diferenciam um hemisfério do outro. (Pinheiro, 2012, p. 26) De acordo com Friederici (citado por Luchesa, 2020), a área posterior do corpo caloso tem UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 4 of 16 01/03/2021 11:00 relação direta ao processamento da linguagem quanto a informações sintáticas e prosódicas. A sintaxe relaciona-se às palavras dentro de uma frase (suas relações de concordância, de ordem e de subordinação), já a prosódia refere-se ao ritmo e à entonação da língua falada. A neurolinguística investiga essas e outras alterações cerebrais: É assim que a neurolinguística estuda atividades cognitivas realizadas durante o processamento da linguagem: avaliando alterações elétricas e hemodinâmicas no cérebro, durante a realização de pequenas tarefas cognitivas estritamente linguísticas e também as não linguísticas, mas ligadas de alguma forma ao processamento linguístico. (França, 2005, p. 24) Podemos verificar, portanto, que os processos cerebrais para ativação da linguagem são complexos e dependem de áreas específicas do cérebro, apesar de relacionarem-se com praticamente todo o córtex cerebral. TEMA 2 – SISTEMAS FUNCIONAIS DA LINGUAGEM Conforme verificamos anteriormente, a linguagem é processada pelo cérebro em uma complexa ativação. Os estudos realizados até o presente momento identificaram que a linguagem é elaborada pelo cérebro com base em três conjuntos de estruturas neuronais. O primeiro conjunto é composto nos dois hemisférios por numerosos sistemas de neurônios e relaciona-se à representação não linguística das coisas, emoções e relações. O segundo situa-se, geralmente, no hemisfério esquerdo e organiza as palavras e estas palavras em frases. O último conjunto, composto no hemisfério esquerdo, coordena os dois primeiros conjuntos, produzindo palavras com base em um conceito, e conceitos com base em palavras (Damásio, 2004). De acordo com Damásio (1992), encontramos três sistemas funcionais relacionados à linguagem: O primeiro, denominado operativo ou instrumental, é responsável pelo processamento fonológico, isto é, pela habilidade da oralidade e pela identificação das palavras, das sílabas e dos fonemas; O segundo, denominado semântico, é responsável por dar significado às palavras; O terceiro, chamado sistema de mediação, é responsável por estruturar o léxico. UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 5 of 16 01/03/2021 11:00 Para que a linguagem e a comunicação funcionem, nosso cérebro processa os três sistemas ao mesmo tempo. Ou seja, num diálogo, por exemplo, no mesmo instante em que processamos a fala do outro (que entra por nossos ouvidos e chega ao cérebro), organizamos o sentido para o que foi ouvido e produzimos uma resposta. Esse processo é explicado por Friederici (2011), que aponta que após a fase inicial de análise acústico-fonológica (ou seja, de ouvire entender o que ouvimos), dão-se três fases de regulação linguística. A primeira fase organiza as palavras, o léxico. A segunda fase calcula as relações sintáticas e semânticas, ou seja, a relação entre as palavras e as palavras e seu sentido. Dessa forma, é possível compreender a frase. A terceira fase acontece quando, apesar da segunda fase ocorrer, ainda não foi possível chegar à compreensão do contexto. Nesse caso, a terceira fase relaciona-se com o contexto ou conhecimento de mundo para dar conta da interpretação linguística. As três fases interagem com a prosódia linguística, fornecendo, por exemplo, informações sobre limite de frases relevantes para os processos sintáticos. A prosódia é um macrossistema que se constitui de três subsistemas (ordens estruturais): o sistema de organização métrica (acento rítmico), sistema de organização tonal melódica (tom, entonação) e o sistema de organização temporal (quantidade, tempo e pausas) que organizam a fala no nível lexical (morfema, palavra) e no nível pós-lexical (enunciado, discurso). (Couto, 2011, p. 63) Dessa forma, para que a linguagem seja ativada, nosso cérebro trabalha acionando diversas funções simultaneamente. A compreensão de uma palavra ou frase ouvida ocorre por meio de processos acústico-fonológicos, sintáticos e semânticos, ao passo que, para falarmos, também é necessário que os processos sintáticos e semânticos sejam ativados, além de processos fonológicos. Esses processos levam em conta tanto fatores internos quanto fatores externos e ocorrem em diferentes áreas cerebrais. De acordo com Friederici (2011), os processos fonético, semântico, sintático e prosódico no nível da sentença são processados no córtex frontal, temporal e inferior, já no hemisfério direito em interação com o hemisfério esquerdo ocorre o processamento da informação prosódica. UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 6 of 16 01/03/2021 11:00 Outras duas áreas essenciais no funcionamento da linguagem chamam-se área de Broca e área de Werneck. As duas áreas estão conectadas pelo fascículo arqueado, que é um grupo de fibras nervosas. Enquanto a área de Broca está localizada na parte inferior do lóbulo frontal do hemisfério esquerdo e é responsável por planificar o modo de falar, a área de Werneck encontra-se no lóbulo temporal do hemisfério esquerdo (mas pode também estar no hemisfério direito) e é responsável pela compreensão sonora, ou seja, por compreendermos o que ouvimos (Gallardo, 2020). É importante também conhecer os estudos levantados pelos estudiosos russos Luria e Vygotsky acerca das funcionalidades da linguagem. Para Luria, os processos mentais são sistemas complexos, que se formam com base na linguagem. A linguagem, assim, não é organizada em uma área específica, mas desenvolve-se com base em sistemas neurais por todo o cérebro. Dessa forma, ela também é um processo complexo que compreende, além da comunicação, diversos recursos, como os expressivos, os receptivos, os abstratos, os interpretativos e os motores. Além disso, a linguagem, principalmente a linguagem escrita, altera substancialmente esses processos, acarretando mudanças cognitivas (Gerken, 2008; Freitas, 2006; Bastos; Alves, 2013). A linguagem tem papel crucial na comunicação humana e nas interações. É função da linguagem o contato social (Vygotsky, 1934) e é por meio do contato e das interações sociais que aprendemos. A aprendizagem, pelo enfoque sociointeracionista, é alicerce e ferramenta para desenvolvermos o nosso conhecimento, não sendo possível separar um aspecto do outro, e um sendo ancoragem para o outro. A palavra não é apenas substituta do gesto, mas é necessidade vital para resolver situações e problemas, e ela é indispensável assim como os olhos ou as mãos. A fala auxilia, ainda, no desenvolvimento cognitivo da criança e na sua formação. A criança se percebe no mundo com base na própria fala. A linguagem permeia também as descobertas e as decisões acerca de diferentes questões (Vygotsky, 1978). O processo de construção do conhecimento supõe a integração das sensações, percepções e representações mentais. O cérebro é um sistema aberto, que está em interação constante com o meio, e que transforma suas estruturas e mecanismos de funcionamento ao longo desse processo de interação. Nessa perspectiva, é impossível pensar o cérebro como um sistema fechado, com funções pré-definidas, que não se alteram no processo de relação do homem com o mundo. (Alves; UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 7 of 16 01/03/2021 11:00 Bastos, 2013) Assim, tanto para Luria quanto para Vygotsky, a relação com o mundo vai ser essencial para a construção do conhecimento (e da linguagem). Assim, o processo de aquisição da linguagem, principalmente da escrita, é extremamente importante no desenvolvimento cognitivo da criança (Gerken, 2008). TEMA 3 – ATIVAÇÃO CEREBRAL PELA LINGUAGEM Durante os dois primeiros temas desta aula, pudemos compreender que a linguagem funciona com base em processos complexos e orquestrados de nosso cérebro. Não há, portanto, uma área específica que, sozinha, dá conta de “fazer funcionar” nossa linguagem. Mas é pela relação entre áreas e circuitos neurais que desenvolvemos a linguagem como um todo. Já verificamos também que cada lóbulo é responsável por uma parte da linguagem, e ainda temos diferença entre os hemisférios direito e esquerdo, além de haver a ativação nas áreas de Broca e Werneck. Não foi sempre possível compreender como se dá a linguagem no cérebro. Estudiosos pesquisam há muito tempo sobre o funcionamento do nosso cérebro e como ativamos nossa linguagem. Porém, é a partir da década de 1980 que a ativação cerebral pela linguagem passa a ser investigada de forma mais contundente. Os testes de potenciais relacionados a eventos (ERPs), que já existiam desde a década de 1950, começam a ser usados na década de 1980 para pesquisar a cognição da linguagem. Além disso, foram desenvolvidas técnicas não invasivas ou pouco invasivas, como a ressonância magnética funcional e a tomografia por emissão de pósitrons, para aferir a atividade cerebral por imagem (Luchesa, 2020). Com esse avanço nas pesquisas, tornou-se mais possível identificar de que forma o cérebro é ativado ao utilizarmos a audição, a fala, a escrita e a leitura. Mas como esses testes e exames auxiliam no entendimento da ativação da linguagem? De acordo com França (2015), ao monitorar o cérebro UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 8 of 16 01/03/2021 11:00 com testes com ressonância magnética funcional ou tomografia de emissão de pósitrons, vemos que as áreas cerebrais se tornam mais ou menos ativas a cada momento com base no rastreamento das variações na circulação sanguínea cerebral. As técnicas eletromagnéticas são poderosos instrumentos para monitorar a ativação elétrica relacionada a estímulos linguísticos exatamente porque oferecem grande precisão temporal: os impulsos elétricos no cérebro podem ser detectados quase instantaneamente no couro cabeludo, através do osso craniano. Enquanto o voluntário executa uma tarefa linguística — decidir, por exemplo, se a frase que ele está lendo na tela do computador é congruente —, a atividade elétrica de seu cérebro é monitorada por eletrodos fixados no couro cabeludo. Os eletrodos são ligados, pela outra extremidade, a um eletroencefalógrafo, que recebe e amplifica os fracos sinais elétricos captados. Tais sinais são sincronizados ao evento linguístico-alvo, ou seja, é possível saber exatamente quando um estímulo foi mostrado ao voluntário e que onda é resultante da reação a esseestímulo. (França, 2005, p. 23) Conforme verificamos anteriormente, todos os lobos relacionam-se com a linguagem, de maneira direta ou indireta. Assim, cada parte do cérebro será ativada para diferentes funções quanto à linguagem. Alguns exemplos são levantados por Faria (2015): Leitura silenciosa: hemisférios occipitais direito e esquerdo e córtex temporal direito; Integração semântica e fonológica: lobo temporal esquerdo e lobo frontal esquerdo; Ativação linguística: lobo temporal medial esquerdo; Repetição de palavras: conjunto de áreas que envolve o giro supratemporal esquerdo, córtex motor e pré-motor ipsis-laterais, putâmen esquerdo, uma parte dos hemisférios. Hoje, conseguimos afirmar que a linguagem é ativada pelo cérebro, mas que também proporciona elasticidade a ele. Ou seja, ela possibilita que nossa cognição (aprendizagem) se desenvolva. Porém, ainda há muito o que se pesquisar e estudar sobre o cérebro e sobre as relações entre linguagem e cérebro. TEMA 4 – MECANISMOS DE REPRESENTAÇÃO DA LINGUAGEM Quais são os mecanismos cerebrais ativados pela linguagem? Como é possível relacionar o som UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 9 of 16 01/03/2021 11:00 ao seu sentido ou a palavra escrita ao seu signo? Muitos estudos foram e são feitos a esse respeito e vamos, neste tema, entender quais são os mecanismos para representar língua e linguagem. Ao processarmos a fala ouvida, pensamos e produzimos conteúdos, e organizamos esse pensamento de forma estrutural, discursiva e contextual — tudo ao mesmo tempo. São em torno de cinco sílabas por segundo no fluxo da comunicação. Assim, para que consigamos dar conta, acessamos a representação mental das palavras. Nesse processo, ativamos a fonologia, a semântica e a morfologia das palavras, ou seja, o som, o sentido e a forma das palavras (Faria, 2005). Esse processo de ativação múltipla acontece porque a palavra-alvo sempre se relaciona a múltiplos aspectos dos conteúdos mentais. As representações do som de uma palavra (fonologia), do seu significado (semântica) e dos pedaços que a formam (morfologia) entram em jogo nesse processo. Por exemplo, ouvir a palavra banana ativa representações mentais de palavras como batata e nana, por semelhança de som com a palavra ouvida. Mas também pode ativar manga e maçã, por serem do mesmo campo semântico, e bananada e embananada, por pertencerem à família de palavras formadas a partir da mesma raiz banan. E ativa também, é claro, a representação da palavra-alvo, banana, que acaba por ganhar a competição entre todas as representações de outras palavras relacionadas. (Faria, 2005, p. 21) Os neurônios do sistema nervoso central estão ligados a todas as regiões cerebrais que processam a linguagem verbal e seu significado. Assim, a estruturação do sistema nervoso central permite que tenhamos capacidade para ler e escrever (Oliveira, 2013). Ainda com relação à escrita, a professora e pesquisa Emilia Ferreiro (1985) explica que há duas formas de identificarmos essa habilidade: como representação da linguagem ou como código de transcrição gráfica das unidades sonoras. E a forma que consideramos a escrita alterará o sentido da alfabetização das crianças. No caso da representação da linguagem, ou criação dessa representação, não há elementos ou relações predeterminadas. Ao se levar em conta essa afirmativa, também afirmamos que a aprendizagem é conceitual, ou seja, é a apropriação de um novo objeto de conhecimento. Apesar de se saber falar, mesmo a criança tendo audição e fala adequadas, ela está descobrindo uma nova forma de representar sua linguagem (Ferreiro, 1985). UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 10 of 16 01/03/2021 11:00 No segundo caso, da transcrição linguística, tanto os elementos envolvidos quanto as relações já estão predeterminados, “o novo código não faz senão encontrar uma representação diferente para os mesmos elementos e relações”. Ao aceitarmos essa alternativa como principal, estamos reduzindo a linguagem a uma série de sons, destruindo, assim, o signo linguístico. Ao conduzirmos a alfabetização sob esse ponto de vista, aceitamos que a aprendizagem de ler e escrever refere-se a apenas uma simples transcrição do sonoro para o código visual e, dessa forma, não há motivo para encontrarmos dificuldade em aprender a ler e escrever (Ferreiro, 1985). Dessa forma, ao levarmos em conta que a aquisição da leitura e escrita é uma nova forma de representação, levamos em conta também que a criança, ao aprender a ler e escrever, precisa reinventar o sistema linguístico, entendendo novos processos e regras (Ferreiro, 1985). TEMA 5 – COMPREENSÃO DOS SÍMBOLOS CEREBRAIS A linguagem é representada pelo cérebro como outro objeto. O cérebro, assim, elabora a linguagem com base em três conjuntos de estruturas neuronais, como vimos anteriormente. Vamos relembrar? O primeiro conjunto é responsável pelas interações não linguísticas — o que fazemos, percebemos, sentimos. O segundo conjunto é menor e representa nosso sistema fonético — as palavras, as combinações entre elas e as regras de ordenação dentro de uma frase. O último conjunto, mas não menos importante, coordena os dois primeiros. Ele é responsável por dar sentido às palavras e produzir um conceito com base nelas, ou produzir palavras com base em um conceito. É uma via de mão dupla — verbalizar o que pensamos e ordenar intelectualmente o que foi verbalizado (Damásio, 2004). De acordo com Deacon (citado por Nunes e Galvão, 2006), os primeiros símbolos surgiram antes do desenvolvimento da fala. As habilidades simbólicas, assim, seriam uma mudança de estratégia de comunicação e foi fundamental para a coevolução da linguagem e do cérebro. Conforme afirmam Mello, Miranda e Muszkat (2013), é no lobo occipital do cérebro que processamos os símbolos gráficos e é no parietal que processamos as questões viso-espaciais da UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 11 of 16 01/03/2021 11:00 grafia e da leitura. Ainda de acordo com as pesquisadoras, as informações processadas nos dois lobos são reconhecidas e decodificadas na área de Werneck. Qualquer dano ou afasia que se encontrem nessas áreas resultarão em dificuldade de ler ou escrever. A compreensão de como a arquitetura neural processa a ortografia, ou seja, os símbolos, ainda é limitada (Carreiras et al., 2014). Em seu estudo, o autor verificou que há áreas específicas no cérebro que respondem mais a letras do que dígitos e símbolos, sendo que algumas áreas estão mais envolvidas a dígitos e símbolos e outras mais a letras. Você sabia que nosso cérebro interpreta isto =) como um rosto feliz, assim como ele interpreta isto =( como uma pessoa triste, certo? Ou seja, os emoticons são identificados por nosso cérebro como uma expressão facial. Pesquisas realizadas no Japão e na Austrália constataram que nosso cérebro aprende que emoticons (desenhos criados com pontos e parênteses) equivalem a algumas expressões faciais humanas. Os pesquisadores identificaram que os participantes do estudo, ao lerem frases com emoticons, tiveram ativada a região cerebral que envolve a compreensão de textos, ou seja, para o cérebro, os emoticons estão entre a comunicação visual e verbal (Carrera, 2014). Assim, compreendemos que os símbolos são entendidos e interpretados de diferentes maneiras pelo nosso cérebro. NA PRÁTICA Na aula de hoje, nós vimos como uma única palavra pode nos remeter a tantas outras, e como o nosso cérebro é incrível na busca por relacionar os aspectos morfológico, semântico e sintático. Vamos, agora, perceber na prática como o cérebro fazconexões quando pensamos em uma palavra. Vamos trazer uma palavra e, com base nela, convido você a fazer um mapa mental. Antes, vamos entender o que é um mapa mental: mapa mental é um diagrama para representar ideias, tarefas e conceitos relacionados a uma palavra ou ideia. Assim, trago um exemplo simples de como elaborar um: UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 12 of 16 01/03/2021 11:00 Perceba que para a palavra água, identificamos diversas outras palavras, seja pelo seu sentido, seja pelo seu som. Essas outras palavras “puxam” outras. Nesse mapa mental, poderíamos identificar, ainda, diversas outras palavras. Agora é a sua vez! Escreva num papel em branco ou no computador a palavra amarelo. Faça os links com outras palavras. O que vem à sua cabeça? Lembre-se de que não há certo ou errado, deixe sua imaginação fluir. Ao terminar seu mapa mental, visualize tudo o que você relacionou à palavra amarelo e perceba como o seu cérebro fez conexões. Não é incrível essa nossa máquina? FINALIZANDO Nesta aula, aprendemos sobre: as funções da linguagem estão relacionadas ao tecido cerebral; anatomia básica do cérebro — hemisférios e lobos; processos cerebrais para ativação da linguagem; sistemas funcionais relacionados à linguagem; UNINTER - NEUROLINGUÍSTICA https://conteudosdigitais.uninter.com/libraries/newrota/?c=/gradNova/20... 13 of 16 01/03/2021 11:00 prosódia linguística; áreas de Broca e de Werneck; processo da linguagem de acordo com Luria e Vygotsky; como se dá a ativação cerebral pela linguagem; áreas cerebrais ativadas pela linguagem; os mecanismos cerebrais ativados pela linguagem; processos na linguagem oral e na linguagem escrita; processo escrita de acordo com Emilia Ferreiro; processamento dos símbolos em nosso cérebro; diferença no processamento de dígitos e símbolos e palavras; como emoticons são processados pelas áreas visuais e verbais do cérebro. REFERÊNCIAS AGHOGHOVWIA, B. Córtex cerebral. 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