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FREUD, Sigmund. RECORDAR, REPETIR E ELABORAR: novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, [s/d.], v. XII, 1996. p.90-97 (pdf). RESENHA O autor inicia o texto dizendo não lhe parece desnecessário lembrar aos estudiosos sobre as alterações bem como as grandes consequências sofridas pela técnica psicanalítica desde a sua origem, considerando a primeira fase – catarse de Breuer – quando era percebido o momento em que o sintoma se estabelecia, buscando nesse instante reproduzir os processos mentais envolvidos no caso com o propósito de dirigir-lhes a descarga no decorrer do caminho da atividade consciente. Assim, era visado, com auxílio do 'médico' (terapeuta) recordar e ab-reagir. Depois disso, a hipnose foi deixada ou substituída por falas de associações livres do paciente, cuja tarefa era agora descobrir o que ele estava deixando de recordar mediante a resistência que deveria ser circundada pela interpretação e pelo conhecimento dos resultados dado ao paciente. Aqui o elemento da ab-reação ocupa o segundo plano fazendo evidenciar o trabalho que o paciente assume para superar sua censura das associações livres, levando em conta a fundamental conduta da psicanálise. A técnica sistemática foi então desenvolvida por Freud, nela o analista deixa a tentativa de colocar em evidência o problema específico e passa a estudar tudo o que é apresentado pelo paciente no presente momento da seção, utilizando-se da interpretação para identificar as resistências surgidas e torná-las conscientes ao paciente. Porém, obedecendo ao novo tipo de divisão de trabalho: as resistências, que são desconhecidas ao paciente, serão reveladas após vencidas por ele, permitindo-o agora relacionar as situações e vinculações esquecidas sem qualquer dificuldade. O objetivo destas técnicas diferentes, para o autor, continua o mesmo, ou seja, trata-se de "preencher lacunas na memória superando as resistências causadas pela repressão". O autor salienta que devemos ser gratos à técnica hipnótica, pois ela nos apresentou processos psíquicos singulares de análise e que vieram de forma focada ou esquemática. Segundo o autor, de forma muito simples os tratamentos hipnóticos, assumia o processo de recordar, quando o paciente se reportava numa situação anterior deixando entender que essa não se confundia com a situação atual. Nesse instante, nos parâmetros reconhecidos como normais pelo paciente, um relato dos processos mentais pertencentes a tal situação era fornecido por ele, então, ele próprio acrescentava ao relato tudo o que surgia como resultado da transformação dos processos; processos esses que na época haviam sido inconscientes, e agora tornava-se conscientes. O autor faz, então algumas considerações que, segundo ele, todo analista já vivenciou em sua prática clínica. Ele diz que o "esquecer impressões, cenas ou experiências quase sempre se reduz a interceptá-las." Ou seja, no momento em que "o paciente fala sobre coisas ‘esquecidas’, raramente deixa de acrescentar: ‘Em verdade, sempre o soube; apenas nunca pensei nisso.’" E justifica dizendo que repetidas vezes o paciente "expressa desapontamento por não lhe vierem à cabeça coisas bastantes que possa chamar de ‘esquecidas’ – em que nunca pensou desde que aconteceram." O ‘esquecer’, para o autor, torna-se ainda mais restrito quando verdadeiro valor as lembranças encobridoras são, geralmente, as que se acham presentes. Ele aponta a amnésia infantil como que contrabalançada pelas lembranças encobridoras. E diz que o analista deve saber como extrair tais lembranças pela análise. Para o autor, assim como o conteúdo manifesto de um sonho representa os pensamentos oníricos, essas lembranças representam os anos esquecidos da infância. Para Freud, em alguns casos o paciente vai expressa os fatos por meio da atuação (acting-out) ao invés de recordar o que esqueceu e foi por ele reprimido. Exemplifica isso com o caso Dora. O paciente vai repetir como atuação e não como lembrança, porém ele repete esses fatos sem saber que está repetindo. É oportuno dizer que quanto maior a resistência maior ainda será a atuação. No decorrer do tratamento o paciente também repete todos os seus sintomas. O repetir também implica evocar um fragmento da vida real no tratamento analítico, diz Freud e, por essa razão, não pode ser sempre inócuo e irrepreensível. No decorrer do tratamento outros perigos podem surgir, como novos impulsos instintuais, que não haviam aparecidos e poderão se repetir. E estando fora da transferência poderão provocar danos temporários na vida normal do paciente, ou ainda poderão ser escolhidos pelo paciente como forma de invalidar suas perspectivas de restabelecimento. Assim, o “médico” deverá estar pronto para uma constante luta com seu paciente, sabendo que deverá manter em sua esfera psíquica todos os impulsos que ele intenta conduzir para a esfera motora. Deverá ter o cuidado também de proteger o paciente pelo dano causado pela realização de um de seus impulsos. O paciente deverá ser conduzido a prometer que, durante o tratamento, não tomará quaisquer decisões que afetem a sua vida. A importância de adiar certos planos para depois de seu restabelecimento deverá ser bem pontuanda. Logo, recordar, repetir e elaborar é o que sustenta o tratamento psicanalítico. Por meio dessas etapas o paciente orientado por seu terapeuta, entrará em contato com aquilo que em sua mente estava encoberto. As construções produzidas pelo paciente em terapia ajudam no seu restabelecimento, onde a transferência e a contra-transferência será essencial para o sucesso do tratamento. Para Freud o processo de análise requer “uma prova de paciência para o analista e uma tarefa árdua para o sujeito da análise” (FREUD, 1914/1996). Logo, deve ser conduzido sem pressas e sem atropelos, respeitando o tempo e o curso do tratamento. Portanto é fundamental ao terapeuta o cuidado e o manejo para conduzir tais passos. Para Freud, por meio das repetições do paciente exibidas na transferência é que se é possível superar as resistências, e isso é concedido pela ação do terapeuta, que irá revelar ao paciente tal resistência que até então não era por ele reconhecida.
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