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Planejamento Tributário 1 P ó s- G ra d u aç ão a D is tâ n ci a Aula: Planejamento Tributário Professor: Sérgio Igor Lattanzi Planejamento Tributário 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 4 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO 4 O lícito e o ilícito 4 O Lícito e o Legal 4 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E SONEGAÇÃO 4 Legitimidade do planejamento tributário 5 Distinção Entre Planejamento Tributário E Fraude 5 O elemento temporal 5 A Defi nição de Fraude Na Lei 4.502/64 5 ELISÃO E EVASÃO FISCAL (CONCEITO) 5 Conceitos 5 Elisão Fiscal: Exemplo 6 Simulação: Exemplo 6 SIMULAÇÃO, FRAUDE E CONLUIO: CONCEITO LEGAL 7 PRESUNÇÕES E FICÇÕES TRIBUTÁRIAS 7 Presunção Legal Relativa: Exemplo 8 Ficção Legal: Exemplo 8 INTERPRETAÇÃO ECONÔMICA: NOÇÕES GERAIS 9 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL. 10 DIREITO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL 10 A diferenciação didática entre Direito Tributário Internacional e Direito Internacional Tributário. 10 Planejamento tributário internacional 11 TRATADOS INTERNACIONAIS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA E ORDEM INTERNA APLICÁVEL AO DIREITO TRIBUTÁRIO 12 As normas de fonte interna e externa 12 Tratados Internacionais 12 A Convenção Modelo da OCDE relativa a IR e Capital 12 As Convenções celebradas pelo Brasil 13 O procedimento de celebração dos tratados 14 O lugar das convenções internacionais na hierarquia das fontes. 15 A superioridade hierárquica dos tratados em relação à lei em face da Constituição de 1988. 15 Apreciação direta dos tratados pelos Tribunais 16 Os tratados internacionais e os tributos Estaduais e Municipais 17 TRANSFER PRICING – PREÇO DE TRANSFERÊNCIA 17 O TAX HAVENS 18 Os regimes de práticas fi scais preferenciais (Preferencial tax system) 18 Comparação da carga fi scal como critério de determinação dos países com regime tributário vantajoso 19 Planejamento Tributário 3 Quais são os critérios adotados pelo Brasil na Identifi cação dos Países com tributação favorecia? 20 Quais os modos de utilização dos países com tributação favorecida? 21 TREATY SHOPPING; RULE SHOPPING E CASOS TRIANGULARES 21 Treaty Shopping 21 Rule Shopping 22 Casos Triangulares 22 TRANSFERÊNCIA DE SEDE PARA O EXTERIOR 22 Transferência da sede e nacionalização de pessoa jurídica 23 SUBCAPITALIZAÇÃO DAS EMPRESAS E O REGIME DE JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO 24 TRANSFERÊNCIA INTERNACIONAL DE ATIVOS E O TRATAMENTO SOBRE O CAPITAL ESTRANGEIRO NO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO 26 Investimentos fi nanceiros 28 Investimento tecnológico 29 Investimentos Estrangeiros 31 Regime dos Pagamentos Internacionais 31 CONCLUSÕES 32 BIBLIOGRAFIA 32 Planejamento Tributário 4 INTRODUÇÃO A presente apostila tem como objetivo demonstrar o pensamento de autores de tomo nacional e estrangeiros sobre o tema planejamento tributário, compilando várias de suas ideias sobre o tema proposto. Cumpre observar que o trabalho trata do planejamento tributário interno e externo, portanto, como tentaremos demonstrar, em ambos os casos, deve-se estar atento às legislações das nações envolvidas, bem como atentarmo-nos à legislação estrangeira dos órgãos de controle do comércio internacional. Alerta-se que o presente é mero indicador dos conceitos formulados pelos autores pesquisados, sendo obrigatória a leitura das obras bibliográfi cas apontadas e citadas no curso do presente. Fica terminantemente proibida a reprodução deste, nos termos da lei, sendo certo que qualquer transcrição deverá vir acompanhada da indicação de sua fonte. Nosso objetivo é tentar oferecer uma noção sobre o planejamento tributário sob seus diversos aspectos, introduzindo o leitor no universo do tema proposto provocando os seus instintos para a pesquisa e o aprofundamento do estudo do direito. Cumpre recordar que o direito, como objeto cultural, é totalmente vertido em linguagem. Assim, quanto maior o domínio da linguagem, maior será o domínio do direito. Boa sorte e bom estudo. Prof. Sérgio Igor Lattanzi PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO O lícito e o ilícito Para Almir Malkowski1 o lícito e o ilícito são qualifi cações jurídicas de condutas. Qualifi cações especifi camente jurídicas, porque decorrentes da incidência de normas jurídicas. Por isto, é grave equívoco identifi car tais categorias mediante critérios outros, que não parâmetros normativos. Toda a conduta é jurídica, vale dizer, tem signifi cação para o direito. “Não há conduta ajurídica, isto é, sem referibilidade ao Direito. Sempre referenciadas ao Direito, as condutas, todas elas, ou são lícitas ou ilícitas. Ocorre que as normas não regulam todas as condutas. Aquelas não reguladas, então, situam-se, em princípio, no âmbito do lícito. Prevalece o princípio da liberdade, a dizer que tudo o que não é proibido, é permitido. Em sendo assim, lícito é o comportamento que o sistema normativo prescreve, ou não proíbe, enquanto ilícito é o comportamento que o sistema normativo proíbe. Nem sempre, porém, é assim, pois em algumas áreas do direito prevalece o princípio da legalidade. Nessas áreas, então, o não previsto é ilícito. Lícito, portanto, é apenas o legal. O Lícito e o Legal O mesmo autor ao tratar do lícito e do legal esclarece que “para alguns doutrinadores, o campo da licitude é distinto do campo da legalidade. Lícito é apenas o não previsto, não regulado pela lei. Legal é o expressamente determinado. Ou expressamente facultado, ou permitido pela lei. A legalidade é qualidade do que é prescrito pela lei. Sua expressão própria é a lei, que a caracteriza e a defi ne. Só merece esse qualifi cativo a conduta que se enquadra nas previsões da lei. O legal está na lei2. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E SONEGAÇÃO A palavra evasão tributária signifi ca fuga ao dever de pagar tributos, abrangendo tanto as condutas praticadas pelo contribuinte de forma lícita ou ilícita em face de sua abrangência. O não pagar tributo sem afronta à legislação, é comumente designado pela doutrina como: elisão tributária , economia de impostos, Planejamento Tributário e engenharia tributária. 1. Almir Malkowski – Planejamento Tributário – Ed. De Direito – 2000 –pg 2. opus cit. pg. 28 Planejamento Tributário 5 Legitimidade do planejamento tributário Sabemos que o tributo é devido quando ocorrer no universo dos fenômenos à hipótese defi nida em lei como necessária e sufi ciente ao seu nascimento, vertida, evidentemente, em linguagem jurídica apropriada. É certo que a inocorrência desse fato pode situar-se no campo da licitude, ao cidadão é assegurada a liberdade de se comportar de modo a evitar aquela ocorrência. Resumindo, o contribuinte tem o direito de arrumar os seus negócios, sua fortuna, seu modo de vida, de maneira a pagar os impostos menos elevados ou a não pagar imposto algum, contanto que não viole nenhuma regra legal. Distinção Entre Planejamento Tributário E Fraude O elemento temporal Para autores de cabedal (Carlos Vaz, Candido Henrique de Campos, Ricardo Mariz de Oliveira, Gilberto de Ulhôa Canto e etc.) o planejamento tributário distingue-se da fraude fi scal por ser anterior ao fato gerador do tributo. Reside no aspecto temporal a sua distinção. Não se justifi ca tomar uma atitude destinada a evitar a concretização do nascimento da obrigação tributária, após o nascimento da mesma. Observe que, esta regra só é valida quando o contribuinte age sem ferir a lei, conforme bem demonstra Gilberto Ulhôa3: “... se o contribuinte age ou se omite antes da ocorrência do fato gerador segundo defi nido em lei aplicável, e sempre no pressuposto que o seu procedimentoseja objetiva e formalmente lícito, por não contrariar a lei, haverá elisão, enquanto que existirá evasão se o ato ou a omissão é posterior a ocorrência do fato gerador.” Cumpre ressaltar que as exceções existem, também, após a ocorrência do fato gerador. Podemos dar como exemplo, a possibilidade retroativa de enquadramento de uma empresa COMUM no sistema simplifi cado de arrecadação (SIMPLES), desde que a mesma preencha os requisitos para tal enquadramento. A Defi nição de Fraude Na Lei 4.502/64 “art. 72. Fraude é toda a ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modifi car as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a diferir o seu pagamento”. Ao prescrever o artigo 72 que a fraude se caracteriza quando o contribuinte tenta impedir, ou retardar o fato gerador, evidentemente, prescreve que estas formas deverão estar acompanhadas de algum artifício antijurídico. ELISÃO E EVASÃO FISCAL (CONCEITO) Conceitos Elisão fi scal é uma não-incidência tributária legalmente admitida (ou tributação reduzida). Evasão fi scal, por sua vez, é forma de ilicitude para evadir-se ou fugir da tributação. Diva Malerbi4 ensina que as formas de redução da carga tributária são: a) Abstenção de incidência pura e simples; b) Elisão em sentido estrito ou via jurídica lícita menos onerosa; c) Evasão em sentido estrito ou via jurídica, ilícita menos onerosa d) Simulação ou ocultação do fato imponível por meio de forma aparente de legitimidade; e e) Fraude ou ocultação pura e simples de fato imponível ocorrido. 3. Gilberto Ulhôa Canto. Elisão e Evasão, in Caderno de Pesquisas tributárias n. 13, São Paulo: Resenha Tributária, 1988, pg. 41 4. Diva Prestes Marcondes Malerbi – Elisão Tributária – RT – São Paulo – 1984, v. 7 Planejamento Tributário 6 Para a mesma autora a Elisão tributária refere-se a um certo tipo de situações criadas pelo contexto do direito tributário positivo que, por não estar compreendido dentro do catálogo legal das situações tributárias existentes, pertence, assim, àquela área de proteção jurídica do particular (relacionada com sua liberdade negocial e , precipuamente, com a sua propriedade), constitucionalmente assegurada, na qual o estado tributante não pode ingressar. Distinção O que distingue a elisão da fraude fi scal é que , neste último caso, trata-se de um descumprimento ilícito de obrigação já validamente surgida com a ocorrência do fato gerador, ao passo que na elisão impede-se o surgimento da obrigação tributária evitando a ocorrência do fato gerador. Elisão Evasão Simulação Negócio jurídico indireto Sonegação Conluio Fraude, e Desconsideração da personalidade jurídica. Nesta última temos como fundamento o abuso do direito. Por ela desconsidera-se a pessoa jurídica, para o fi m de atribuir o cumprimento da obrigação à pessoa física do administrador (sócio, diretor, titular), tendo em vista que o ato ou o negócio realizado favorece não a pessoa jurídica (o que seria correto), mas a pessoa física do administrador (que acaba fi cando com o patrimônio ou a renda). Em caso de abuso de personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio da fi nalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o Juiz determinar que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios de pessoa jurídica (Cód. Civil, Lei 10.406/02, art. 50). Cumpre obtemperar que, existem situações fáticas que podem acolher mais de uma fi gura ou que elas venham a se confundir. Elisão Fiscal: Exemplo A título de exemplo, entre tantos outros que podem ser extraídos da legislação tributária, selecionamos um, que diz respeito ao IPI/ICMS/ISS. Observamos, porém, que tanto a situação jurídica quanto as alíquotas que mencionamos estão sujeitas a alterações – pelo que, nos casos concretos, deve ser vista a legislação vigente no momento da ocorrência do fato gerador. Consideremos A como o fabricante, e B como o comprador e benefi ciário do serviço. Consideremos, ainda, que o valor do bem é de R$ 8.000,00 e o serviço de instalação /montagem de R$ 5.000,00. Assim, B adquiri de A um equipamento com a obrigatoriedade de A instalá- lo no estabelecimento de B. No caso, tendo em vista que a venda, instalação e montagem são feitas pela mesma pessoa (A), sobre tais operações incidem IPI e ICMS, numa base de cálculo de R$ 13.000,00. Considerando a alíquota de 10% de IPI e 18% de ICMS, resulta o valor de R$ 3.640,00 de impostos devidos. Pois bem: Se A que pratica constantemente tais operações, abrir (constituir) uma outra empresa (C), para fi ns específi co de prestar os serviços de instalação e montagem, confi guram-se duas operações e não mais só uma, a saber: sobre a operação de venda de A para B apuram-se R$ 2.240,00 de IPI/ICMS (28% sobre R$ 8.000,00); e sobre a instalação e montagem R$ 250,00 de ISS (5% de alíquota sobre R$ 5.000,00), resultando um montante de R$ 2.490,00, contra R$ 3.640,00, com uma economia de impostos de R$ 1.150,00 (Resp 103.282-DF- STJ). Tal procedimento não confi gura “abuso de forma” até porque B poderia adquirir o equipamento de A, e a instalação/manutenção de D, E ou F, obtendo a mesma economia de impostos. E, sabedor dessa possibilidade que a legislação oferece, pode negociar com várias empresas para obter o melhor preço em igual qualidade. Simulação: Exemplo A, acometido por doença grave, para evitar dispêndio com o inventário, vendeu (fi cticiamente) um imóvel a B (que aceitou fi gurar como comprador). Com o falecimento Planejamento Tributário 7 de A, B transferiu o imóvel a C (viúva de A), por escritura pública, sem que B recolhesse o IR sobre o ganho de Capital (digamos de 25%). Autuado, B alegou que na compra do imóvel de A e na venda do mesmo para B funcionou apenas fi gurativamente como comprador e vendedor, respectivamente, para ajudar a família a não ter despesas com o inventário. Tais razões não foram acolhidas pela 2ª Câmara do Conselho de Contribuintes, com fundamento no art. 118 do CTN (desconsiderahção de atos, e seus efeitos, praticados pelo contribuinte), além de reconhecer fé pública da escritura (art. 134 do CC) e por representar o ganho de capital fato gerador do IR (Lei 7.713/88, art. 3º, § 3º). SIMULAÇÃO, FRAUDE E CONLUIO: CONCEITO LEGAL A lei nº 4.502/64, relativa ao IPI, identifi ca os institutos da sonegação, fraude e conluio nos seguintes termos: Art. 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência , a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modifi car as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do tributo devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento. Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. PRESUNÇÕES E FICÇÕES TRIBUTÁRIAS São duas as espécies de presunção, a saber: a) A presumpitio hominis – a que o juiz extrai por si mesmo, dos elementos da demanda; e b) A presumpitio iuris – que é estabelecida pela lei, e que pode ser: b1) iuris tantum – quando admite prova em contrário; e b2) iuri et iuri – quando é absoluta, não admitindo prova em contrário. Tais conceitos chegaram aos nossos dias, sendocerto que o Ministro Moreira Alves, considera a fraude à execução referida no art. 185 do CTN, hipótese rara de presunção iuri et iuri no direito tributário. Yonne Dolácio5 diz que a presunção legal absoluta é incompatível para criar ou aumentar tributo, trazendo a seu favor o pensamento de Moschetti, para quem uma presunção absoluta, ainda que abstratamente racional e conforme ao “normal”, não tem força para atender ao requisito da efetividade que é próprio do conceito de capacidade contributiva. O interesse público, na certeza das relações tributárias, não pode ser tutelado até o ponto de negar a prova em contrário ao fi sco ou ao contribuinte. Ficção é a mentira legal, ao contrário da presunção que não é mentira, mas uma probabilidade. Por ela não se pode considerar ocorrido o aspecto material do fato gerador, pois ou se estará exigindo tributo sem fato gerador, ou haverá instituição de tributo fora da competência outorgada pela constituição. Indícios são fatos conhecidos, comprovados, que se prestam como ponto de partida para as presunções relativas. De regra, então, as presunções são relativas, pelo que admitem prova em contrário. Entretanto, o problema que se coloca é de quem é o ônus da prova. 5. A tipicidade no direito tributário brasileiro, Editora Saraiva, 1980 Planejamento Tributário 8 Quando se trata de mero indício, a prova deverá ser feita por quem o alega. Em suma, as fi cções são estabelecidas pela lei e não admitem prova em contrário, por serem consideradas como verdades defi nitivas (ISS, porém, não signifi ca que não se possam contestar). As presunções legais podem ser absolutas (iuri et iuri) ou relativas (iuri tantum); e temos, ainda, as presunções comuns ou de fato (hominis), que não provêm da lei, mas da convicção do intérprete, e confundem-se com o indício veemente. Quanto aos indícios, são sinais exteriores que por si só nada representam, mas de acordo com sua intensidade, podem conduzir aos mesmos efeitos da presunção relativa. Nessa hipótese, será considerado indício veemente (porque acompanhado de prova documental, pericial, testemunhal), gerando o efeito de inverter o ônus da prova. Presunção Legal Relativa: Exemplo Presunção é ilação que se tira de um fato conhecido para provar a existência de outro desconhecido, tal como ocorre nas seguintes situações: 1ª) presume-se distribuição disfarçada de lucros no negócio quando a pessoa jurídica paga à pessoa física (ligada) aluguéis, royalties ou por assistência técnica em montante que excede notoriamente o valor de mercado (Decreto-Lei n. 1.509/77, art. 60, VI). Nota: Pessoa ligada é a pessoa do sócio, administrador ou titular de pessoa jurídica, ou o cônjuge e seus parentes, inclusive afi ns, até terceiro grau; 2ª) a autoridade tributária arbitrará o lucro da pessoa jurídica, que servirá de base de cálculo do IR, à alíquota de 25%, quando (Lei 8.541/92, art. 21): a) o contribuinte obrigado à tributação com base no lucro real não mantiver escrituração na forma das leis comerciais e fi scais, ou deixar de elaborar as demonstrações fi nanceiras exigidas pela legislação fi scal; b) a escrituração mantida pelo contribuinte contiver vícios, erros ou defi ciências que a tornem imprestáveis para determinar o lucro real ou, ainda, revelar evidentes indícios de fraude. No primeiro exemplo, o fato conhecido é o pagamento que a PJ fez à PF, para chegar-se ao fato desconhecido, ou seja, à distribuição disfarçada de lucros. No segundo exemplo, o fato conhecido é a ausência de escrituração, ou, existindo, contiver erros ou defi ciências, para chegar-se ao fato desconhecido, ou seja, a omissão de receita tributável. Curioso observar, nessa hipótese de mero indício, que, em verdade, não cabe ao agente fi scalizador lavrar, de imediato, auto de infração, sendo aconselhável aprofundar- se no exame, para colher elementos convincentes. Do contrário, lavrando auto de infração, criará sérios problemas não só ao sujeito passivo – que terá despesas advindas da defesa que deverá apresentar, por mais simples que seja o caso – como para a própria Administração Pública. E poderá até ser o caso desta ser responsabilizada, tendo de suportar tais despesas, por culpa de seu agente fi scal – com ação de regresso, se houver abuso por parte deste último. Entretanto, se for caso de indício veemente, forte, documentado, aí o agente fi scal lavrará auto de infração, deslocando a prova para o sujeito passivo autuado, que deverá defender-se impugnando o lançamento, podendo para tanto alegar matéria de fato e/ou direito, em vista do princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa. Ficção Legal: Exemplo O Regulamento do IPI, aprovado pelo Decreto 2.637/98, estabelece no art. 33 que se considera ocorrido o fato gerador: “VI – no 4º dia da data da emissão da respectiva nota fi scal, quanto aos produtos que até o dia anterior não tiverem deixado o estabelecimento do contribuinte (L. 4.502/64, arts. 2º e 5º, inciso I, alínea d, e DL 1.133/70, art. 1º).” Planejamento Tributário 9 É hipótese de fi cção prevista em lei, porque considera ocorrido o fato gerador que na realidade não ocorreu. Alguns entendem que essa disposição é ilegal, por contrariar o CTN (art.46, II c/c art. 51, II), tendo em vista que caberia à lei complementar defi nir os fatos geradores dos impostos (art. 146, III, a, da CF). E os referidos artigos do CTN, que tem a qualidade de lei complementar, estabelece que o fato gerador do IPI é a saída do produto do estabelecimento industrial. O mesmo RIPI apresenta hipóteses de fi cção que são consideradas legais, ao estabelecer, no art. 9º, entre outros, que se equiparam a estabelecimento industrial: “I – os estabelecimentos importadores de produtos de procedência estrangeira, que derem saídas a esses produtos (Lei 4.502/64, art. 4º, I).” INTERPRETAÇÃO ECONÔMICA: NOÇÕES GERAIS Ruy Barbosa Nogueira6 destaca, como aspecto importante , dentro da interpretação teleológica, a consideração econômica, especialmente no campo dos impostos, tendo-se em vista que esses instrumentos de captação de riqueza, que incidem quase sempre sobre fatos econômicos por meio de categorias jurídicas, podem estar sendo distorcidos ou mal utilizados com pretensões de reduzir ou elidir tributações legítimas. Assim, a consideração econômica poderá, em certos casos, demonstrar a fi nalidade autêntica de dispositivos e impedir abusos. Após dizer que, por outro lado, a consideração econômica é também útil para demonstrar o uso legítimo de estruturações que permitem a chamada economia de imposto, isto é, a faculdade que tem o contribuinte, dentro da ordem jurídica, de estruturar legitimamente suas atividades, assevera: “A consideração econômica, dentro da interpretação teleológica, deve ser correlacionada com o princípio da uniformidade da tributação, segundo a qual fatos iguais devem, em princípio, ser igualmente tributados. A consideração econômica dentro da teoria da interpretação do direito não signifi ca uma intromissão livre da ciência da econômica dentro do direito. Esta tem de ser e somente pode ser uma interpretação de conteúdo econômico e válido quando juridicizada ou admitida pelas disposições isoladas ou correlacionadas do direito. Constitui um erro distinguir-se consideração econômica e jurídica, pois a consideração econômica só é vinculante até onde tenha sido admitida pelas normas jurídicas; do contrário, constituiria um elemento de insegurança, em vez de instrumento de normatividade do direito.” RUBENS GOMES DE SOUSA7 , assim leciona: “Em resumo, a chamada interpretação econômica não é um sistema que se oponha a interpretação jurídica. Ela é uma metodologia útil, precisamente como recurso auxiliar, para se recompor a interpretação jurídica nos casos em que esta seja falseada - conscientementeou não – por um desajustamento entre o instrumento jurídico e o objetivo, necessariamente extra ou metajurídico da norma a aplicar. É a conclusão muito bem exposta por Perez de Ayala em seu livro sobre as fi cções legais no direito tributário, quando mostra a utilidade delas na construção de um elenco de tipifi cações normativas, a quem possam ser conduzidas as formas atípicas, distorcidas ou, no grau máximo, fraudulentas, que possam ocorrer na prática. Assim entendida, a interpretação econômica tem de enquadrar-se – de subsumir-se – no sistema jurídico, o que vale dizer que ela, de per si, não existe; o que existe é uma metodologia aplicativa orientada (como necessariamente o são todas as que não sejam meramente apriorísticas) por um critério fi nalístico: variará a fi nalidade buscada em função do ramo do direito de que se trate. No caso, essa fi nalidade será econômica porque econômico é o conteúdo do direito tributário, como o de todos os direito obrigacionais; mas poderá ser política (direito constitucional); sociológica (direito penal, direito de família); judiciária (direito processual); funcional (direito administrativo) e assim por diante. 6. Ruy Barbosa Nogueira, Da interpretação e da aplicação das leis tributárias, São Paulo, Bushatsky, 2a. Ed. 1974, p. 65, 66 e 71 7. Rubens Gomes de Sousa, Compêndio de legislação tributária, SP, Resenha Tributária, 1975, p. 60. Planejamento Tributário 10 AMILCAR DE ARAÚJO FALCÃO8 diz que o método da interpretação econômica é perfeitamente adequado ao princípio da legalidade em matéria de fato gerador, e que: “Em direito tributário, autoriza-se o intérprete, quando o contribuinte comete um abuso de forma jurídica, a desenvolver considerações econômicas para a interpretação da lei tributária e o enquadramento do caso concreto em face do comando resultante não só da literalidade do texto, mas também do seu espírito da mens ou ratio legis”. Entretanto, a interpretação econômica, nos dias atuais, não se coaduna com o direito tributário brasileiro, em face do princípio da tipicidade, corolário do princípio da reserva legal. Vejamos as disposições do Artigo 116, com as alterações da lei Complementar 104/2001: ART. 116... § ÚNICO – A AUTORIDADE ADMINISTRATIVA PODERÁ DESCONSIDERAR ATOS OU NEGÓCIOS JURÍDICOS PRATICADOS COM A FINALIDADE DE DISSIMULAR A OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR DO TRIBUTO OU A NATUREZA DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA ORBIGAÇÃO TRIBUTÁRIA, OBSERVADOS OS PROCEDIMENTOS A SEREM ESTABELECIDOS EM LEI ORDINÁRIA. INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL. Como vimos de ver, o planejamento tributário ou engenharia tributária nada mais é do que a redução da carga tributária proposta pelo contribuinte, seja ele pessoa física ou jurídica, dentro dos limites legais, sendo certo que sua aplicação ou utilização longe de ser uma possibilidade é um dever que, através da redução da carga tributária de forma legal, deve baratear a oferta de seus bens e serviços tornando-se mais competitivo não só no mercado interno, como, em um país que procura se destacar no mercado global, no mercado internacional. Daqui em diante, nosso estudo terá como foco o mercado internacional e o planejamento tributário com vistas a tais mercados, devendo o leitor fi car atento, pois a necessidade de conhecimento de legislação de outras Nações tornará nossa tarefa mais árdua. DIREITO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL A diferenciação didática entre Direito Tributário Internacional e Direito Internacional Tributário. Apesar de pregarmos a univocidade do direito, por questões didáticas, insistimos em distingui-los com o único objetivo de facilitar a compreensão dos institutos. Cumpre ressaltar que devemos entender como componentes do Direito Tributário Internacional toda a legislação interna que venha prescrever comportamentos de contribuintes que realizam transações negociais internacionais, sendo certo que ao nos referirmos ao Direito Internacional Tributário, estaremos nos referindo ao conjunto de normas internacionais que regulam as relações fi scais entre as diferentes Nações. Insistimos, como faz Heleno Torres, que tal diferenciação só se justifi ca por questões eminentemente didáticas: “No plano da ciência do direito, estes setores não são ramos independentes entre si. Não podem reclamar qualquer autonomia, porque nao possuem um subsistema de normas organizado estruturalmente com função e princípios próprios, para servir-lhes de objeto de estudo. Antes, são extremamente dependentes, de método e objeto, do direito tributário (interno); ou do direito internacional, no caso do Direito Internacional Tributário. Trata-se, sim, de setores de estudo, de agrupamentos de normas ratione materiae, ante as diferenciações de “fontes formais” e “critérios de validade” entre as mesmas, para fi ns de tratamento dos rendimentos transnacionais. Esta distinção deve ser feita apenas para situar os estudos a serem desenvolvidos dentro do 8. Amilcar de Araujo Falcão, Introdução ao direito tributário, RJ, 1976, p. 43, 68 e 78. Planejamento Tributário 11 ambiente sistêmico do Direito Tributario, como se fez com tantos outros, como é o caso9. Planejamento tributário internacional Como já salientamos em parágrafos anteriores, o planejamento tributário internacional, como ocorre com o planejamento tributário interno é forma de otimização da substancial carga tributária imposta, no caso específi co, aos contribuintes que realizam seus negócios no e com o mercado internacional. Como salienta Heleno Torres o planejamento tributário internacional é “um procedimento a serviço da decisão privada em investimentos transacionais”10. Observamos que a maior difi culdade no planejamento tributário internacional está na harmonização das legislações dispares que se entrecruzam nas negociações entre países e blocos comerciais (UEE, MERCOSUL, NAFTA) distintos. Nesse diapasão, Alberto Xavier11 ao classifi car as formas de Elisão fi scal o faz distinguindo-a em Elisão Subjetiva, que leva em consideração o domicílio das pessoas naturais e das pessoas jurídicas, bem como a sua nacionalidade e, de outro lado, em Elisão Objetiva que leva em consideração a fonte de produção da renda, sua distribuição entre vários países ou a concentração do patrimônio em determinado território fi scal mais favorável. Levando-se em consideração as formas de planejamento pretendidas, Heleno Torres apresenta número signifi cativo de situações que podem e devem ser consideradas, a saber: • seleção do país de destino do investimento e dos países intermediarios; • análise da legislacão dos distintos países envolvidos; • a própria estrutura do sistema tributario nacional de cada país (aplicação do princípio da territorialidade ou da universalidade, progressividade de alíquotas, tributos incidentes, tributos adi¬cionais ou especiais sobre investimentos internacionais etc.); • eleição da forma jurídica que deverá assumir o investimento; • os criterios de residência adotados nos países envolvidos; • deveres instrumentais ou formais (obrigações acessórias); • especies de retenções na fonte (dividendos, royalties, juros etc.); • regras sobre as transferências de ativos para o exterior, ou no exterior; • presença de medidas unilaterais para evitar a dupla tributação (isencões, créditos de impostos, deduções, tax deferral, tax sparing, tax reduction, investment credit etc.) pelo estado de residência; • existência de convenção para evitar a dupla tributação interna¬cional e o respectivo regime jurídico que ela contempla; • normas de controle sobre treaty shopping; • regras para o controle de transfer price; • regras para o controle de thin-capitalization; regime jurídico-tributário aplicável as opções de constituir urna fi lial (ou qualqueroutra forma de estabelecimento permanente) ou subsidiária (controlada ou coligada); • modelos para estruturação do grupo empresarial, analisando as formas societárias mais adequadas.12 Como já alertamos, ao nos depararmos com as possibilidades apontadas pelo professor, não podemos nos esquecer da complexidade e do cruzamento de legislações que deverão ser analisadas evitando, o contribuinte, desgarrar-se da legalidade. São vários os instrumentos de planejamento e a fertilidade do pensamento humano só faz com que tais possibilidades aumentem. Heleno Torres classifi ca os elementos planejados em Fisiológicos e Patológicos, sendo que o primeiro ocorre quando compatíveis os procedimentos com a disciplina dos ordenamentos envolvidos; e o segundo quando 9. Heleno Torres, Pluritributação Internacional sobre as Rendas de Empresas, Ed. RT, Ed. 1997, pg. 57 10. Heleno Torres, Direito Tributário Internacional, Ed. RT, 2001, pg. 51 11. Alberto Xavier, Dir. Trib. Internacional do Brasil, Ed. Forense, 2010, pg. 277 e 283 12. opus cit. Heleno, pg. 54 Planejamento Tributário 12 a busca dos objetivos transcendem os controles dos ordenamentos, em síntese, desrespeitando-os no todo ou em parte. Demonstra o autor13 as mais importantes formas organizativas de planejamento tributário internacional, a saber: • uso de países com tributação favorecida - os paraísos fi scais (tax havens); • transferências de preços entre empresas vinculadas (transfer price); • uso de acordos internacionais (treaty shopping ou rule shopping); • transferencias de sede social ou administrativa para o exterior; • reorganizações societárias internacionais (fusões, cisões, incorporações); • subcapitalização de empresas (thin-capitalization); • transferências de ativos para o exterior ou no exterior. TRATADOS INTERNACIONAIS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA E ORDEM INTERNA APLICÁVEL AO DIREITO TRIBUTÁRIO As normas de fonte interna e externa Como tratamos em parágrafos anteriores, toda a legislação interna voltada a solução de confl itos e a normatização das relações tributárias com o mercado internacional, seja do contribuinte nacional com o mercado internacional ou o contribuinte estrangeiro que resolve aplicar e negociar com o mercado interno é considerada matéria, apenas para efeitos didáticos, de direito tributário internacional, sendo certo que as normas de produção externa em que ocupam lugar preponderante os tratados contra dupla tributação, segundo as palavras de Alberto Xavier, são normas de direito internacional tributário. Assim, todas as fontes legais, desde a Constituição, suas emendas-constitucionais, leis complementares, ordinárias, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções do Senado Federal, são normas de direito tributário internacional quando normatizam situações que envolvam o mercado internacional e a carga tributária sobre tais operações. Por outro lado, não são menos válidas, as legislações estrangeiras que normatizam situações similares, desde que não fi ra a soberania dos Estados envolvidos. Em matéria de legislação internacional, como mencionou Alberto Xavier, devemos dar destaque aos tratados e convenções internacionais, desde que ratifi cado pelos países que aderiram às suas diretrizes14. Tratados Internacionais Tratados e convenções internacionais são certamente as fontes mais importantes do direito internacional, não sendo diferente com o direito internacional tributário, referidos tratados e convenções, quando chancelados pelo Poder Legislativo de cada país signatário dos mesmos faz com que referida norma faça parte integrante da legislação destes países, obrigando-o internamente e frente a comunidade internacional. Os tratados e as convenções internacionais são chancelados pelo Poder Legislativo no Brasil através dos decretos-legislativos, instrumento introdutor de norma adequado para dar validade as convenções e aos tratados em território nacional. Em face da importância da matéria tributária, surgiram tratados de conteúdo eminentemente tributário, objetivando a eliminação ou redução da dupla tributação, da evasão fi scal (forma ilegal de redução da carga tributária) e da colaboração administrativa entre os Estados estrangeiros. A Convenção Modelo da OCDE relativa a IR e Capital Segundo Alberto Xavier, o Brasil ao celebrar suas convenções ou tratados, segue como linha mestra o modelo de Convenção da OCDE, objetivando evitar-se a dupla tributação, vejamos a origem da noticiada Convenção nas palavras do autor: “Esta tem sua origem nos trabalhos desenvolvidos pelo Comitê Fiscal da Organização Européia de Cooperação Econômica (OECE), encarregado de apresentar um projeto de convenção destinado a eliminar as duplas tributações sobre o rendimento e o patrimônio. Este mandato foi 13. opus cit. Heleno, pg. 56 14. opus cit. Alberto Xavier, pg. 67 Planejamento Tributário 13 confi rmado quando da criação em 1961, da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que substituiu a primeira. Em 1963, foi fi nalmente divulgado o Projeto de Convenção (draft Convention) e respectivos comentários interpretativos, ambos revistos em 1977 e objeto de “”recomendação”” pelo Conselho daquela Organização (de 11 de abril de 1977) (Model Convention). O trabalho entretanto desenvolvido pelo Comitê Fiscal conduziu à publicação, em 1992, de um novo Modelo de Convenção e respectivos comentários (Model Tax Convention), o qual – ao contrário das versões anteriores – pretende ter um caráter evolutivo, sujeito a revisões periódicas em 1994, 1995, 1997, 2000, 2003 e 2005, a versão atualizada do Modelo data de junho de 2008.”15 As Convenções celebradas pelo Brasil O Brasil, após anos de políticas equivocadas de protecionismo, passou paulatinamente a ser signatário de número signifi cativo de convenções e tratados internacionais, conforme podemos observar: 1) África do Sul (Decreto Legislativo n° 301/06; Decreto n° 5.922/06; Por-tarian0 433/06); 2) Argentina (Decreto Legislativo n° 74/81; Decreto n° 87.976/82; Portaria n° 22/ 83; Ato Declaratório n° 6/90); 3) Áustria (Decreto Legislativo n° 95/75; Decreto n° 78.107/76; Portaria n° 470/76); 4) Bélgica (Decreto Legislativo n° 76/72; Decreto n° 72.542/73; Portarias nOs 271/74 e 71/76); Decreto n° 6.332/07; Portaria n° 140/08); 5) Canadá (Decreto Legislativo n° 28/85; Decreto n° 92.318/86; Portarias n°s 199/86 e 55/88); 6) Chile (Decreto Legislativo n° 331/03; Decreto n° 4.852/03; Portaria n° 285/03); 7) China (Decreto Legislativo n° 85/92; Decreto n° 762/93); 8) Coréia (Decreto Legislativo n° 205/91 e Decreto n° 354/91; ADI n° 3/06); 9) Dinamarca (Decreto Legislativo n° 90/74; Decreto n° 75.106/74; Portarias nos 68/75 e 70/76); 10) Equador (Decreto Legislativo n° 4/86; Decreto n° 95.717/88); 11) Espanha (Decreto Legislativo n° 62/75; Decreto n° 76.975/76; Portaria n° 45/76); 12) Filipinas (Decreto n° 241/91; Decreto Legislativo n° 198/91); 13) Finlândia (Decreto n° 2.465/98; Ato Declaratório n° 12/98; Decreto Legislativo n° 35/97); 14) França (Decreto Legislativo n° 87/71; Decreto n° 70.506/72; Portarias nos 287/72 e 20/76; Parecer Normativo n° 55/76); 15) Hungria (Decreto Legislativo n° 13/90; Decreto n° 53/91); 16) índia (Decreto Legislativo n° 214/91; Decreto n° 510/92); 17) Israel (Decreto Legislativo n° 931/05; Decreto n° 5.576/05; Portaria n° 1/06); 18) Itália (Decreto Legislativo n° 77/79; Decreto n° 85.985/81; Portarias nos 203/81 e 226/84); 19) Japão (Decretos Legislativos n°s 43/67 e 69/76; Decretos nos 61.899/67 e 81.194/78; Portaria n° 92/78; Parecer Normativo n° 38/70 e 662/71; Parecer Normativo COSIT n° 3/95; Ato Declaratório n° 2/80); 20) Luxemburgo (Decreto Legislativo n° 78/79; Decreto n° 85.051/80; Portarias nos 413/80 e 510/85); 21) México (Decreto Legislativo n° 58/06;Decreto n° 6.000/06; Portaria n° 38/07; ADI n°s 1/07 e 22/08); 22) Noruega (Decreto Legislativo n° 50/81; Decreto n° 86.710/81; Portarias nos 25/82 e 227/84; Decreto Legislativo n° 4/96 (Protocolo Suplementar); Decreto n0 2.132/97); 23) Peru (Decreto Legislativo n° 500/09; Decreto n° 7.020/09); 24) Portugal (Decreto Legislativo n° 188/01; Decreto n° 4.012/01; Portaria n° 28/02); 25) Reino Unido dos Países Baixos (Decreto Legislativo n° 60/90; Decreto n° 355/91); 26) República Tcheca (Decreto Legislativo n° 11/90; Decreto n° 43/91); 27) República Eslovaca (Decreto Legislativo n° 11/90 e Decreto n° 43/91); 28) Suécia (Decreto Legislativo n° 93/75; Decreto n° 77.053/76; Portarias nos 44/76 e 5/79; Parecer Normativo 15. opus cit. Alberto Xavier, p. 71 Planejamento Tributário 14 n° 37/74; Ato Declaratório n° 28/78; Troca de Notas MRE - DO 03/01/86; Decreto Legislativo n° 57/97); 29) Ucrânia (Decreto Legislativo n° 66/06; Decreto n° 5.779/06; Portaria n° 198/06).16 O procedimento de celebração dos tratados Como já salientamos em momento oportuno, as convenções e os tratados internacionais, só tem validade se referendado pelo Congresso Nacional, especifi camente através de Decreto-legislativo (art. 84, inciso VIII, CF) sendo certo que comporta três fases distintas, a saber: a) preparação ou negociação; b) constitutiva ou celebração e c) integrativa de efi cácia ou promulgação. Alberto Xavier descreve cada uma destas fases de forma cristalina e exemplar, senão vejamos: “O procedimento de celebração dos tratados comporta três fases: a fase preparatória ou das negociações, a fase constitutiva ou da celebração e a fase integrativa de efi cácia, ou da promulgação. A fase preparatória ou das negociações inicia-se com a intervenção de agentes do Poder Executivo e termina com a autenticação, ou seja, o ato pelo qual as partes declaram concluído o processo de formulação do acordo e que tem como objetivo prático fi xar o texto que será submetido à ratifi cação. A autenticação pode revestir a modalidade de rubrica (parafatum, inititüling) ou de assinatura ad referendum, por agentes munidos de Cartas de Plenos Poderes. A assinatura do tratado não cria, por si, o vínculo convencional18. O consentimento que se expressa pela assinatura reporta-se apenas à “redação do projeto convencional, e é apenas prenunciativo da expressão da vontade de “assumir o vínculo”, refl etindo a mera intenção do Governo de prosseguir no procedimento de celebração do tratado, notadamente de submetê-lo a referendo e a ratifi cação. A fase constitutiva ou da decretação inicia-se com o referendo do Congresso Nacional, o qual tem por objeto o texto autenticado e por conteúdo autorizar o Presidente da República a ratifi car o tratado. O referendo limita-se à alternativa da permissão ou rejeição da ratifi cação, não sendo admissível qualquer interferência no conteúdo do tratado. O referendo do Congresso Nacional reveste, assim, a natureza de uma autorização para ratifi cação. A reiterada prática constitucional brasileira revela que a forma adotada para o referendo é o decreto legislativo. Por seu turno, a ratifi cação é o ato unilateral pelo qual o Presidente da República, devidamente autorizado pelo Congresso Nacional, confi rma um tratado e declara que este deverá produzir os seus devidos efeitos. Constitui, pois “o ato unilateral com que o sujeito de direito internacional, signatário de um tratado, exprime defi nitivamente, no plano internacional, sua vontade de obrigar-se”. Caracterizado pela liberdade que o Poder Executivo tem quanto à opção de praticá-lo ou não, o ato de ratifi cação deve ser expresso e tem caráter formal, tomando a forma externa de instrumento de ratifi cação, assinado pelo Presidente da República e referendado pelo Ministro das Relações Exteriores. A troca, dos instrumentos de ratifi cação fi xa o momento da entrada em vigor do tratado na ordem jurídica internacional, pois é precisamente nesse momento que se consuma o consensus. A terceira e última fase do procedimento de celebração dos tratados é a fase integrativa da efi cácia, que abrange a promulgação e a publicação. A Promulgação, por decreto do Presidente da República, é o ato jurídico de natureza meramente interna, pelo qual o Governo torna pública a existência de um tratado por ele celebrado e constata o preenchimento das formalidades exigidas para a sua conclusão. A promulgação está sujeita a publicação no Diário Ofi cial, produzindo efeitos ex tunc com relação às datas previstas no tratado para a vigência deste (Parecer Normativo CST n° 3/79). Note-se, por fi m, que, em matéria tributária, só o tratado é forma adequada de vinculação externa do Estado brasileiro. Os meros acordos, acordos executivos ou de forma simplifi cada (“agreements in simplifi ed form”), não sujeitos a ratifi cação do Presidente da República, só poderão atuar, quando muito, em matéria subtraída ao princípio da legalidade, ou seja, em matéria estritamente regulamentar”.17 O lugar das convenções internacionais 16. opus cit. Alberto Xavier, pg. 72 e 73 17. opus cit. Alberto Xavier, pg. 75 e 76 Planejamento Tributário 15 na hierarquia das fontes. Problema de solução indigesta é aquele que se contrapões entre os Tratados e Convenções Internacionais com a legislação interna de cada país, no nosso caso específi co, no Brasil. Apesar da doutrina tradicional apontar as fontes chamadas de formais primárias como sendo a Constituição, emendas à Constituição, as Leis Complementares, Leis Ordinárias, Medidas Provisórias, Decretos-legislativos e Resoluções do Senado Federal, a questão que mais incomoda é a de que ao ser signatário de um determinado Tratado Internacional que venha entrar em confl ito com normas internas, qual ato normativo deverá prevalecer. Para podermos entender tal situação, precisamos tentar encontrar o lugar das convenções internacionais na hierarquia das leis retro descritas. Sobre o assunto hierarquia das convenções podemos observar que são duas as teorias que prevalecem sobre o assunto. Alberto Xavier (p. 81) nomina-as de teoria monista e teoria dualista de transformação. A última (teoria dualista da transformação) prega que o direito internacional público convencional, depois de transformado, assumiria o grau hierárquico do respectivo ato interno que operasse tal transformação, muito embora, seja possível conceber em tese sistemas que, apesar de exigirem uma transformação prévia e individualizada, atribuam maior força hierárquica à norma internacional transformada”. Tal teoria se justifi ca uma vez que o país que adere a uma convenção ou tratado internacional integralmente, não poderia internamente realizar modifi cações ou alterações que viessem a desfi gurá-lo. Por outro lado, ao dar preferência ao tratado internacional, corre-se o risco de não podermos observar ou aplicar determinadas regras Constitucionais que possam confl itar com o tratado celebrado. Por outro lado, a teoria monista da transformação aceita a vigência do direito internacional convencional com superioridade hierárquica, uma vez que está situação se imporia de forma lógica. Referida teoria se justifi ca uma vez que se o país aderir ao tratado geral, não s justifi caria a sua modifi cação na ordem normativa interna. Em síntese, ou se aceitam os termos do tratado e adere-se as suas regras ou não. Já a jurisprudência pátria, após a Constituição vigente, em verdadeiro retrocesso aos posicionamentos anteriormente adotado por nossas Cortes Superiores, veio entender que uma lei interna posterior tem o condão de revogar um tratado anteriormente assinado, como ocorreu, aliás, com a Lei Uniforme dos Títulos de Crédito) que foi seguidamente modifi cada por várias leis ordinárias internas. Não precisamos nos alongar que tal posicionamentotraz insegurança jurídica, especialmente para aquelas empresas estrangeiras que pensam em investir no mercado brasileiro. Cumpre ressaltar, como fez Alberto Xavier, que a decisão prolatada por nossa Corte Suprema foi baseada em doutrina antiga e ultrapassada, devendo ter maior atenção do Judiciário nestes tempos atuais, em face da globalização das relações comerciais internacionais. A superioridade hierárquica dos tratados em relação à lei em face da Constituição de 1988. Levando-se em consideração que não podemos de forma unilateral alterar tratados e convenções internacionais, sob pena de não sermos reconhecidos como signatários pela comunidade internacional, é que autores de tomo apontam, pelo menos, sete argumentos que impõem a prevalência dos tratados internacionais em face da lei interna perante a Constituição de 1988, conforme se posiciona Alberto Xavier: “São sete os argumentos fundamentais em que assenta a nossa tese da superioridade hierárquica dos tratados em face da lei interna perante a Constituição de 1988: (i) a Constituição Federal consagrou expressamente o sistema monista em matéria de direitos e garantias (art. 5o, § 2o), o que signifi ca que os tratados valem na ordem interna “como tal” e não como leis internas em que se tivessem “transformado”, pelo que apenas são suscetíveis de revogação ou denúncia pelos mecanismos próprios do direito dos tratados, pelo que são dotadas da “resistência passiva” que é da essência da superioridade hierárquica; (ii) os tratados internacionais em geral, tal como os tratados sobre direitos humanos que não se enquadrem nos requisitos do § 3o do art. 5o da Constituição, têm caráter supralegislativo, mas infraconstitucional; (iii) os Tribunais aplicam os tratados como tal e não como lei interna em que se tivessem “transformado”; (iv) a celebração dos tratados é ato da competência conjunta do Chefe do Poder Executivo e do Congresso Nacional (art. 84, VIII, e art. 49, I), não sendo, portanto Planejamento Tributário 16 admissível a sua revogação, total, parcial ou denúncia por ato exclusivo do Poder Legislativo; v) o art. 98 do Código Tributário Nacional - que é lei complementar que se impõe ao legislador ordinário - é expresso ao estabelecer a superioridade hierárquica dos tratados tributários, sendo inadmissível restringir essa superioridade apenas a algumas espécies ou modalidades, não distinguidas por lei; (vi) nem o decreto legislativo, que formaliza o referendo do Congresso Nacional, nem o decreto do Presidente da República, que formaliza a promulgação, têm o alcance de transformar o tratado em lei interna. (vii) a inexistência de uma cláusula geral de recepção automática e a consequente necessidade de um procedimento de transposição condicionador da efi cácia dos tratados na ordem interna não é incompatível com a visão monista e seus corolários enumerados nas alíneas anteriores.18 Como podemos observar, ao ser signatário de um determinado ou convênio ou tratado internacional o país deve adequar suas leis aos mesmos e não utilizar da legislação interna para tentar descaracterizá-lo. Assim, não se pode suscitar a Constituição ou outros direitos e garantias do país signatário com o condão de desfi gurá- lo. Repetimos, ou se é signatário ou não dos tratados e convenções internacionais. Apreciação direta dos tratados pelos Tribunais Nos termos dos artigos 105, III de nossa Constituição, compete ao Poder Judiciário, através dos juízes federais, julgar as causas em que se envolvam os tratados e as convenções internacionais. Já em sua alínea b), estipula que compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em grau de recurso especial, quando desrespeitados os tratados ou lhes for negado vigência. Finalmente, no artigo 102, III, alínea b) de nossa Constituição, determina competir ao Supremo Tribunal Federal julgar, em grau de recurso extraordinário, as decisões que declararem a inconstitucionalidade do tratado. Conforme nos esclarece Alberto Xavier19 decorre que os tratados são fonte imediata de direito e obrigações para os seus destinatários, podendo ser invocados, como tal, perante os tribunais tão logo efi cazes em face da ordem interna e que, consequentemente, à interpretação dos seus preceitos são aplicáveis as regras de hermenêutica que vigoram quanto aos tratados e não as que respeitam à legislação interna de cada Estado contratante.” Cumpre acentuar que os tratados e as convenções internacionais tem sua supremacia hierárquica reconhecida, inclusive, pelo Código Tributário Nacional, pois ao lermos o seu artigo 98, podemos construir tal assertiva. “os tratados e as convenções internacionais revogam ou modifi cam a legislação tributária interna e serão observados pelo que lhes sobrevenha”. De clareza meridiana o enunciado ao prescrever a superioridade hierárquica dos tratados e convenções internacionais, inclusive, por ter sido recepcionado o Código Tributário Nacional como lei complementar. Vem se baseando a jurisprudência do STJ na distinção entre tratados normativos e tratados-contratos, restringindo, assim, as disposições do artigo 98 do CTN, entendendo que o CTN só se aplicaria aos chamados tratados-contratos. Tais decisões se sustentam na ausência expressa de nossa Constituição Federal em asseverar a superioridade hierárquica dos tratados, pois o artigo 98 do CTN, segundo Alberto Xavier20 estaria invadindo ilegitimamente matéria de competência Constitucional exclusiva, conduzindo a uma iníqua restrição à competência primeira do Poder Legislativo”. Em face de tal posicionamento, pode-se observar que nossa Corte (STJ) ao entender que o tratado converte-se em lei interna, equipara-os à lei ordinária, submetendo-as às regras gerais para a solução dos confl itos aparentes de normas. Neste mesmo sentindo, vem se posicionando as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Em relação a celeuma, as críticas contundentes de Alberto Xavier vem a calhar como luva, pois o autor demonstra que não há transformação do tratado internacional em lei interna com o referendo do Congresso Nacional e com a promulgação por parte do Chefe de Estado, pois como esclarece o autor “o procedimento de formação do tratado no Direito Constitucional brasileiro e, em particular, a fase de celebração revelam que se trata de um processo 18. opus cit. Alberto Xavier, pg. 84 e 85 19. opus cit. Alberto Xavier, pg. 89 20. opus cit. Alberto Xavier, pg. 92 Planejamento Tributário 17 simultaneamente internacional e interno (art. 21, I, 84, VIII, e art. 49, I, da Constituição Federal). Os tratados internacionais e os tributos Estaduais e Municipais Questão interessante é a que em face de nosso Estado federativo, os tratados internacionais aos quais o país adere, poderiam vincular os tributos Estaduais e Municipais? Para podermos responder tal questionamento, devemos observar que o Chefe do Executivo Federal (Presidente da República) bem como o Congresso Nacional, exercem duas funções distintas. Uma revela-se quanto aos interesses intrínsecos da União, quando o Legislativo Federal com a sanção do Presidente da República aprovam e promulgam leis de interesse da União, que chamamos de leis federais. De outro turno, temos que as mesmas pessoas aprovam e promulgam leis que vinculam não só os interesses da União e suas autarquias, mas leis que refl etem e vinculam todas as pessoas jurídicas de direito público interno (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios). Quando o Congresso Nacional e o Presidente da República promulgam tais normas, estas são chamadas de leis Nacionais. Partindo desse ponto de referência é que Alberto Xavier defende que os tratados internacionais assinados pelo Brasil, vinculam, sim, os demais entes federativos, pois estaria legiferando não sobre matéria de interesse meramentefederal, mas, especifi camente, matéria de interesse Nacional21. TRANSFER PRICING – PREÇO DE TRANSFERÊNCIA Para Paulo de Barros Carvalho22, preço de transferência é “a forma encontrada para, verifi cando-se ter sido efetuada a transação entre partes vinculadas, mediante fi xação de preço diverso do de mercado, substituir o preço maculado pela infl uência das partes por aquele, independente de vínculo, impedindo, com isso, a distribuição disfarçada de lucros e, assim, permitindo aferir-se o real montante da renda auferida, sujeita à tributação, em consonância com o princípio do “”arm’s length””. O preço arm’s length, segundo Gustavo Brigadão e Bruno Lyra23 , é o valor que teria sido convencionado entre partes não relacionadas, em operações similares, sujeitas a condições semelhantes. Devemos esclarecer que não havia legislação específi ca sobre a matéria preço de transferência, entretanto, com o advento da Lei 9.430/96, pela primeira vez, surgiu a regulamentação sobre o tema. Ao analisarmos o art. 23 da lei 9.430/96, podemos verifi car quais são as pessoas consideradas, pela legislação, como vinculadas à pessoa jurídica domiciliada no Brasil, aplicando-se, portanto, as regras do preço de transferência. Devemos observar que ao se aplicar valores dispares dos reais adotados no mercado internacional, como bem salientou Paulo de Barros, temos que na remessa de produtos de coligadas no exterior para mercado nacional, utilizando-se preços subfaturados, poderá em face da sonegação fi scal, tornar o produto mais acessível no mercado importador, caracterizando, destarte, verdadeira concorrência desleal. No Brasil, a apuração do preço de transferência acabou sendo realizada de maneira singular (vide artigo 18, da Lei 9.430/96, com as alterações das leis 9.959/00; 10.451/02 e 11.116/05), pois as regras adotadas pela legislação pátria não se baseiam em nenhum dos princípios que norteiam as chamadas arm’s length , podendo, inclusive, confl itar com as normas da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Já nas exportações, os métodos do preço de transferência estão relacionados no artigo 19 da Lei 9.430/96. Apesar das prescrições da metodologia a ser adotada tanto nas importações quanto nas exportações, o artigo 20 da lei 9.430/96, outorga poderes ao Ministro da Fazenda para majorar ou reduzir os percentuais prescritos nos artigos 18 e 19, diante de circunstâncias especiais. Ressalta-se que ao outorgar tal poder ao Ministro da Fazenda só o faz em circunstâncias especiais, não lhe dando qualquer tipo de discricionariedade ou mesmo arbitrariedade para 21. opus cit. Alberto Xavier, pg. 108/110 22. Paulo de Barros Carvalho, Preço de Transferência no Direito Tributário Brasileiro, in tributação, justiça e liberdade Ed. Juruá, 2005, p. 548 23. Gustavo Brigadão e Bruno Lyra - Dir. Trib. Intern. Vol. IV.- Quatier Latin – 2007 – p. 434 Planejamento Tributário 18 realizar eventuais alterações. Neste sentido, temos o posicionamento preciso de Ricardo Mariz de Oliveira24: “Ainda, a respeito dos atos ministeriais que devem alterar as margens porcentuais previstas na lei, há necessariamente que se afi rmar serem eles mandatórios todas as vezes em que se verifi ca a existência de circunstâncias especiais, uma vez que a obrigação tributária está sempre, e indubitavelmente, submetida ao preceito da estrita legalidade. Em virtude desse princípio constitucional o Ministro da Fazenda não tem poderes discricionários para dar ou não dar, conceder ou não conceder. O que ocorre é que, sendo impossível, para a lei prever e reger nas minudências todos os aspectos que podem formar hipótese legal de circunstâncias especiais, limita-se ela a dar um comando genérico cometendo à autoridade a incumbência de verifi car os fatos concretos, para que recebam uma disciplina específi ca e distinta da regra geral prevista na lei. Contudo, havendo tais circunstâncias especiais, o limite de ação dessa autoridade resume-se a constatar ou não a existência de fatores constitutivos das mesmas e a ajustar porcentagens legais em correspondência com tais circunstâncias”. O TAX HAVENS Ao tratarmos do tema direito tributário internacional, especifi camente sobre planejamento tributário internacional, surge como tema central países que concedem incentivos para que as empresas depositem seus ativos fi nanceiros em troca de uma tributação ínfi ma. Referidos países são comumente chamados de paraísos fi scais. Há na doutrina pátria defensores e detratores de tais regimes tributários privilegiados sendo certo que os primeiros entendem ser um direito subjetivo do contribuinte escolher a forma menos onerosa de tributação, protegendo o contribuinte de regimes fi scais opressivos de determinados países e como sendo indispensável ao fl uxo internacional de capitais. Já a segunda corrente, entende que tal subjetivismo encontra limites em enunciados constitucionais, como por exemplo, da Supremacia do Interesse Público sobre o do Particular, da Isonomia, da Capacidade Contributiva, dentre outros, devendo tais escolhas serem vetadas ou oneradas. Segundo bem esclarece Heleno Torres “se existe o planejamento tributário, como atividade por excelência dos contribuintes, predispostos a uma organização de negócios com a menor repercussão fi scal, tal plano somente é possível de ser elaborado, em muitos dos casos, porque existem as “opções fi scais”, concedidas bene gratia pelos Estados. Esses catálogos de opções encontram-se em todos os países, numa espécie de planejamento tributário público às avessas, montados não para obter, mas para favorecer a economia dos próprios tributos que cobra, com o fi m de atrair os melhores investimentos e as empresas mais rentáveis, para concentrar a maior quantidade de riqueza possível nos limites de suas fronteiras...O autor do planejamento tributário, portanto, não fará mais do que selecionar a melhor opção, interna ou externa, confrontando as legislações em vigor, para identifi car a que melhor atende aos seus interesses25. Por outro lado, torna-se imperiosa a tarefa de identifi cação dos países que adotam a concorrência fi scal prejudicial, pois só assim poderá o Estado prejudicado tomar providências em relação às partes envolvidas (contribuinte e Estado com tributação favorecida). Sem esta identifi cação, torna-se impossível quaisquer ações para amenizar tais prejuízos. Os regimes de práticas fi scais preferenciais (Preferencial tax system) Cumpre esclarecer que os métodos de práticas fi scais que venham benefi ciar os contribuintes reduzindo-lhes a carga tributária é uma prática utilizada pela maioria dos países. Segundo assevera Heleno Torres “as concessões que os países tem feito para atrair atividades produtivas, de comércio, serviços ou investimentos passivos são as mais variadas, sendo as formas de incentivos fi scais, isenções totais ou parciais (redução da base de cálculo, concessão de crédito presumido etc.) e os incentivos 24. Ricardo Mariz de Oliveira, Preço de Transferência, in Tributos e Preço de Transferência – Dialética – pg. 300 25. opus cit. Heleno Torres, pg. 68 Planejamento Tributário 19 fi nanceiros vinculados à arrecadação de tributos como empréstimos, em condições vantajosas, as modalidades mais representativas. Paralelamente, seguem-se as demarcações geográfi cas, favorecidas, como zonas francas, territórios aduaneiros favorecidos, as amortizações especiais, ajudas para o início das atividades, zonas de investimentos privilegiadas, incentivos às micro e pequenas empresas, reinvestimento de ganho de capital, créditos de imposto em favor de reinvestimentos, prática de rulings, entre outros. Nenhum pais prescinde desses instrumentos, mas o problema não está no uso, mas no excesso de recursos a esses meios, atécair no abuso e na nocividade26. Como explicou o autor, os métodos utilizados para atrair o capital são inúmeros, entretanto, quando tais métodos são utilizados de forma indiscriminada, objetivando, na realidade, apenas, a absorção do capital produzido em outros países, está caracterizada a forma mais nociva de práticas fi scais prejudiciais. Na realidade, tais países não oferecem tais benefícios objetivando o fomento de seu comércio, indústria ou serviços, o real objetivo é pura e simplesmente fazer ingressar o capital e lucro das empresas para que com eles, em detrimento dos países de origem da produção, possam obter lucros sem grandes esforços e, em última instância, acobertando eventuais desvios de recursos dos contribuintes dos países produtores. Lembra Heleno Torres que as Nações que se utilizam de tais práticas não se limitam as pequenos países ou economias, alertando ser um preconceito tal pensamento. “A decisão de um Estado em passar a adotar uma legislação tributária mais benéfi ca não é algo exclusivo de países pequenos, como muitos supõem. Esse é um preconceito assaz incipiente que já de início deve ser afastado. Nada impede que países reconhecidamente dotados de uma tributação elevada passem a ter tributação mitigada, combinando legislação interna com normas de tratados para evitar a dupla tributação, e dando lugar à criação do pior tipo de concorrência fi scal prejudicial, ao conceder benefícios genérico ou específi cos, i.e., para certo tipo de negócio jurídico, estrutura societária ou forma jurídica, pelas maiores difi culdades de controle que apresentam27”. Faz-se necessário diferençar os paraísos fi scais (tributação favorecida) dos societários favorecidos (paraísos societários), dos regimes bancários e fi nanceiros favorecidos (paraísos bancários) e do regime penal favorecido (paraíso penal) – Os critérios para que possamos identifi car os chamados paraísos fi scais são: 1. Revele total ausência de imposto ou que o sistema seja dotado de impostos nominais ou muito reduzidos, tanto para residentes quanto para não-residentes; 2. Tenha impostos normais para os fatos jurídicos tributários constituídos internamente para residentes e impostos com alíquotas substancialmente reduzidas para investimentos ou rendimentos de fontes externas, ou não- residentes; 3. Estabeleça privilégios ou incentivos fi scais especiais para certas categorias de pessoas, rendas ou operações. Comparação da carga fi scal como critério de determinação dos países com regime tributário vantajoso Vários países com o objetivo de preservar os negócios realizados por seus contribuinte, criaram uma lista negra dos chamados países com regime tributário vantajoso, sendo certo que se inseridos na black list os países de origem onde se produz o capital, poderá tomar medidas econômicas que venha retirar eventual vantagem obtida. Interessante observar que os países se utilizam em variados níveis da comparação da carga tributária adotada por eles em relação aos chamados paraísos fi scais, por exemplo, na Inglaterra considera-se um país de tributação vantajosa, portanto, inserido na lista negra do fi sco inglês, quando o imposto estrangeiro for inferior à metade do imposto devido na Inglaterra. Já na França, uma sociedade estrangeira será considerada em país com tributação favorecida, quando a tributação for inferior a 2/3 da tributação aplicável internamente. Na Itália, por sua vez, caracteriza-se o país estrangeiro com tributação favorecida aquele que submeter a sociedade a uma tributação inferior à metade do que a cobrada internamente28. Como podemos observar, os critério variam de acordo com o país, adotando cada Nação, aquele que melhor se 26. opus cit. Heleno Torres, pg. 73/74 27. opus cit. P. 75 e 81 28. opus cit. Heleno Torres - Pg. 91 Planejamento Tributário 20 encaixa aos seus interesses. Cumpre ressaltar, mais uma vez que, integrante da Black list , poderá o país que se sentir prejudicado aplicar a norma antielisiva que entender cabível. A questão que perdura é: Será que referida lista negra é taxativa? Para alguns autores a lista seria taxativa. Entretanto, se assim entendermos, deveremos acatar a ideia de que as operações realizadas com países que não se encontram em tal lista não poderão sofrer qualquer sanção ou aplicação de normas antielisivas. Entendo, particularmente, que este deveria ser o critério, pois se países que não constarem da lista iniciarem qualquer processo objetivando ingressar no universo de países com tributação favorecida, os mesmos poderão ser acrescentados à lista, não deixando o contribuinte que se utiliza legitimamente dos benefícios em total insegurança jurídica. Entretanto, Heleno Torres critica a taxatividade da black list por três razões: 1ª. Porque sempre será possível a utilização intermediária de um território qualquer entre o “país com tributação favorecida” e o país da lista; 2ª. Por falta de revisão e atualização frequente da lista, gerando tratamentos desiguais para sujeitos que se encontre em condições semelhantes; e 3ª. Porque ela não esgota todas as possibilidades de espécies de países com tributação favorecida, fi cando de fora regimes de práticas fi scais preferenciais (preferencial tax system). Quais são os critérios adotados pelo Brasil na Identifi cação dos Países com tributação favorecia? Como já salientamos, a fi gura dos países com tributação favorecida, foi instituída na legislação brasileira através da Lei 9.430/96, posteriormente, com a edição da Lei 9.979/99, determinou-se que os rendimentos auferidos através de operações em que o benefi ciário seja residente ou domiciliado em países que desonere de tributação totalmente as rendas ou às tribute em percentual inferior a 20%, estarão sujeitos à alíquota de imposto de renda na fonte no percentual de 25%. Tal preceito aplica-se com exceção: 1. remessas para pagamento de arrendamento mercantil; 2. de juros sobre empréstimos superiores a 15 anos; 3. de países que mantém tratado de não-bitributação; 4. de juros ou comissões para colocação de títulos brasileiros no exterior com prazo médio de amortização de 96 meses; 5. de juros de desconto, no exterior, de cambiais de exportação e as comissões de banqueiros inerentes a essas cambiais; 6. de juros e comissões relativos a créditos obtidos no exterior e destinados ao fi nanciamento de exportações do Brasil. De outro lado, a Lei 9.950/00 , instituiu que as remessas efetivadas para os chamados paraísos fi scais, serão objeto de imposto de renda na fonte em percentuais que variam de 0% a 25%. O regime jurídico pátrio adotado para a identifi cação dos chamados paraísos fi scais, são aqueles inicialmente tratados no artigo 24 da lei 9.430/96, ou seja: “Art. 24. As disposições relativas a preços, custos e taxas de juros, constantes dos artigos 18 a 22, aplicam-se, também, às operações efetuadas por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, com qualquer pessoa física ou jurídica, ainda que não vinculada, residente ou domiciliada em país que não tribute a renda ou que a tributação seja inferior a 20% (vinte por cento). Como vimos de ver, a Lei 9.340/96 levou em consideração além de critérios objetivos, os aspectos subjetivos para se identifi car os chamados paraísos fi scais. Como esclarece Heleno Torres “...Com isso, passa a alcançar não somente os países que não tributem a renda ou que tributem com alíquota máxima inferior a 20% mas também os que mantenham uma alíquota efetiva acima desse patamar, abrigando, porém, formas societárias ou de investimentos que, pela natureza jurídica do ente, recebam um tratamento fi scal privilegiado e sejam tributadas com alíquotas inferiores a 20%”29 29. opus cit. 97 Planejamento Tributário 21 É lícito ou ilícito a utilização de países comtributação favorecida para reduzir a carga tributária? Como afi rma Victor Uckmar,30 citado por Heleno Torres “ em princípio, a utilização de jurisdição de regime favorecido deve considerar-se como uma eleição perfeitamente legítima e como uma possibilidade de ação de que dispõe o contribuinte, desde que tais operações sejam substancialmente factíveis. Na realidade não devemos confundir o planejamento fi scal, utilizando-se das formas menos onerosas para a continuidade das relações negociais, com o ilícito fi scal, ou seja, a realização de atos eivados de ilegalidade, objetivando, exclusivamente, com dolo, evadir-se das responsabilidades tributárias, sejam elas principais ou acessórias. Quais os modos de utilização dos países com tributação favorecida? As possibilidades de utilização dos países com tributação favorecida podem ocorrer através da proteção de bens (Trust), patrimônio ou investimentos, acumulação de rendimentos, por instalação de holdings, e demais formas de sociedades-base, ou transferência de haveres, por sociedades-condutoras. TREATY SHOPPING; RULE SHOPPING E CASOS TRIANGULARES Treaty Shopping Cumpre observar que para se realizar um planejamento tributário internacional não basta, apenas, optar pela escolha do país que venha onerar da menor forma possível o contribuinte que pretende ver reduzida a sua carga tributária. Além da escolha do País com vantagens tributárias internas, devem-se observar os tratados realizados entre tais países, especifi camente em relação aos países que mantém tratados de não bitributação com o Brasil. Assim, ao se realizar tais escolhas, deve- se verifi car a lista dos países que possuem tais tratados para que a decisão a ser tomada seja a mais correta. O processo para que se faça a analise de qual o melhor país para o planejamento tributário internacional é chamado de Treaty shopping. Por outro lado, quando utilizado o estudos das convenções de forma indevida, distorcida ou uso abusivo, é nominado pela doutrina de rule shopping. Para Heleno Torres31 “as convenções internacionais em matéria tributária, que são adotadas para evitar, reduzir ou eliminar a dupla tributação sobre rendimentos entre os Estados signatários..., podem sofrer distorções nos respectivos atos de aplicação, com o uso indevido de suas disposições.” O uso indevido dos tratados internacionais pode ser analisado sob duas óticas diferentes, a saber: 1) quando se trate de benefi ciário não residente e 2) quando se trate de benefi ciário residente. No primeiro caso, temos situações que apesar de não residente, o benefi ciário faz o planejamento como se residente fosse, benefi ciando-se de regalias e vantagens outorgadas apenas aos residentes, sendo certo que em condições de normalidade não seria possível usufruir de tais benefícios. No segundo caso estaríamos frente à situação do benefi ciário que, apesar de residente, passam a se benefi ciar dos tratados adotando suas defi nições e qualifi cações para se benefi ciar de uma tributação menos onerosa, só que utilizando-se de atos viciados pela fraude, simulação ou manipulação, caracterizam-se formas inadmissíveis de planejamento, subsumindo-se ao que denominamos linhas atrás de rule shopping. Heleno Torres nos dá um exemplo próprio de Treaty Shopping a saber “Assim, podemos entender como elementos caracterizadores dos Treaty Shopping : a) busca planejada da melhor convenção, visando a um resultado sob o aspecto fi scal mais vantajoso; b) a pessoa que planeja não pode ser residente de nenhum dos países signatários da convenção escolhida; c) participação de pessoa qualifi cável como residente no país signatário do acordo selecionado, distinto do país da fonte dos rendimentos; e d) afastamento do regime aplicável pelo país da fonte do rendimento, mediante o uso do privilégio garantido pelo tratado escolhido”32. 30. opus cit. P. 98 31. opus cit. 323 32. opus cit. pg. 327 Planejamento Tributário 22 Rule Shopping O rule shopping nada mais é do que uma forma indevida de uso das convenções internacionais, pois neste caso, o planejamento tributário objetiva revogar as classifi cações aplicáveis aos rendimentos ou defi nições previstas nas convenções, adotando, sempre, a qualifi cação que lhe propicie um regime tributário mais vantajoso. Finalmente, em relação ao rule shopping, podemos identifi car os chamados casos triangulares. Casos Triangulares Segundo Heleno Torres, casos triangulares ‘consiste nas situações nas quais se apresenta a pretensão tributária de três ou mais Estados, em relação a uma mesma hipótese de incidência que envolve somente dois sujeitos, sendo um deles dotado de um estabelecimento permanente (desprovido de personalidade jurídica própria em relação à matriz) situado em um terceiro pais. Nesse caso, a triangulação se verifi ca porque a matriz (situada no país A) controla, por meio do estabelecimento permanente (situado em um pais B), um terceiro sujeito (alocado em um pais C). Continua o autor Sendo mais claro: em diversos países vigoram regras especiais para a tributação de dividendos distribuídos entre as sociedades, cuja aplicação é pacífi ca. Ocorre que, muitas vezes, as participações (em sociedades) fazem parte do ativo de estabelecimentos permanentes situados em terceiros países, em relação ao país matriz destes, o que gera graves problemas sobre o regime tributário adequado para o tratamento das remessas de lucros e distribuição de dividendos. As razões para o uso de estabelecimento permanente na gestão de participação em sociedades situadas em terceiros países, deslocadas da sede da própria empresa, são as mais variadas, mas dentre outras apresentam-se razões de: . necessidades decorrentes de obrigações legais ou regulamentares que imponham a estabelecimentos bancários e fi nanceiros, bem como às companhias de seguros, a conservação em depósito, nos países onde exercem as suas atividades, de uma determinada importância em valores (ações) como garantia das operações; . oportunidade, quanto as participações em causa diz respeito a sociedades que mantêm relações comerciais com estabelecimento permanente; . comodidade, como forma de descentralização de gestão. O problema surge , em face de uma dada convenção, quando um estabelecimento permanente (residente em um Estado contratante – B) de uma empresa (residente no outro Estado contratante – A) recebe dividendos, juros ou royalties provenientes de um terceiro Estado (de empresa na qual o estabelecimento permanente participa – C). Nesse caso, coloca-se a necessidade de saber se o Estado onde está situado o estabelecimento permanente (B) poderá imputar o imposto não recuperável do terceiro Estado (C).33 Ao analisarmos as palavras do professor, podemos identifi car como operações triangulares como sendo o estudo para se obter vantagens tributárias quando da utilização de três ou mais Estados estiverem envolvidos em determinada negociação, em especial as envolvendo remessa de lucros. Nesta situação deve-se observar a legislação interna dos Estados envolvidos e se os mesmos são signatários das convenções que admitem a absorção destes capitais sem que haja a temida pluritributação. TRANSFERÊNCIA DE SEDE PARA O EXTERIOR Quando nos referimos à transferência da sede de uma empresa para o exterior, podemos pensar em mudança de nacionalidade de uma empresa ou apenas a mudança de seu domicílio ou residência. Evidentemente, quando se estuda a mudança de domicílio ou nacionalidade, objetiva- se, em regra, obter a maior vantagem tributária possível, assim sendo, são vários os fatores que podem contribuir para tal decisão, a saber: 1. objetiva apenas mudar de jurisdição; 33. opus cit. pg. 342/345 Planejamento Tributário 23 2. objetiva reestruturar suas atividades ampliando- as visando o mercado mundial,
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