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Farmacologia dos Antibióticos I Marcella Ferreira Olintho Antimicrobianos São substâncias químicas com duas propriedades: inibem o crescimento das bactérias (fase log na curva de crescimento) ou destroem os microorganismos. Bactérias se dividem muito rápido pois seu tempo de vida é pequeno (perpetuação da espécie) e por ser unicelular. Ou seja, qualquer substância química que tenha a propriedade de inibir o crescimento microbiano, faz com que elas envelheçam e morram. São produzidos através de microorganismos como bactérias, fungos e outros ou sintetizados total ou parcialmente. É uma das drogas mais utilizadas na terapêutica. A maior parte desses fármacos não cria nada, apenas altera o que já existe. Exemplo: recapitação de serotonina é a criação de um evento novo. • Uso indiscriminado → resistência bacteriana → germes multirresistentes. Racionalização do uso (efetividade x toxicidade x custos). O germe cria mecanismos de defesa contra os antibióticos por questão de sobrevivência. Causas do uso indiscriminado: automedicação, indicação médica sem certeza de diagnóstico. Conceitos ✓ Antimicrobiano: descreve a substância usada para tratar infecções e inclui antibióticos, desinfetantes e antissépticos. ✓ Antissépticos: descreve um conjunto de soluções químicas de limpeza que limitam a infecção nos tecidos vivos; alguns têm de ser usados em altas concentrações para poderem destruir os agentes patogénicos. ✓ Antibiótico: refere-se a substâncias derivadas de microrganismos ou sinteticamente manufaturadas para atingir as bactérias seletivamente. Destroem ou inibem o crescimento de outros microrganismos. Antibiograma Um teste de laboratório que após a identificação do microorganismo, também traz a informação da sensibilidade dele ao antibiótico. É colocado numa placa de petri, se coloca um meio físico cheio de nutrientes para o crescimento da bactéria. É levado a estufa depois de semeado o material. O papel de filtro absorve a umidade do meio e isso dissolve o antibiótico. Caso a bactéria seja resistente ela cresce próximo ou em cima ao antibiótico. Caso a bactéria seja sensível aparece o halo de inibição ao crescimento bacteriano. Algumas infecções não têm como fazer o antibiograma como em uma que está nos seios da face, ou uma pneumonia, não tem como colher a secreção pois ela vai estar contaminada com outros microorganismos. Classificação de acordo com a estrutura química ➢ Aminiglicosídeos: amicacina, gentamicina, neomicina. ➢ Macrolídeos: eritromicina, azitromicina. ➢ Polipeptídeos: polimixina B, bacitracina. ➢ Glicopeptídeos: vancomicina, teicoplanin. ➢ Poliênicos: anfotericina, nistatina. ➢ Sulfonamidas: sulfametoxasol, dapsona. ➢ Quinolonas: Norfloxacino, ciprofloxacino. ➢ Antibióticos Beta- lactâmicos: penicilinas, cefalosporinas, carbapenicos, monobactâmicos. ➢ Tetraciclinas: doxiciclina. ➢ Derivados de nitrobenzeno: cloranfenicol. Classificação de acordo com o espectro de atividade ➢ Espectro estreito (curto): penicilina G, estreptomicina, eritromicina. ➢ Espectro amplo: tetraciclinas, cloranfenicol. Se eu consigo fazer o isolamento do microorganismo é mais interessante usar um de espectro estreito, se eu não sei qual é o microorganismo eu uso um de largo espectro. Classificação do antibiótico por efeito ➢ Bactericida: matam o microorganismo. ➢ Bacteriostático: agem inibindo o crescimento dos microorganismos (maior parte dos que existem). Classificação de acordo com a origem ➢ Natural: penicilina G, estreptomicina, eritromicina etc. ➢ Semi- sintética: ampicilina, amoxacilina etc. ➢ Sintéticas: sulfametoxazol. Por que usar corretamente? 1. eficácia terapêutica 2. preservar a microbiota humana 3. evitar indução de resistência bacteriana 4. reduzir custos Resistência Bacteriana Natural (primária) → aquela que o microorganismo já nasce. Adquirida (secundária) → por seleção (mutação) ou por indução (plasmídios e transpossomas). ▪ Plasmídios são compostos genéticos extracromossômicos que podem replicar-se e contém genes para resistência. ▪ Transpossomas são partículas de DNA que se agregam a plasmídeos ou ao próprio cromossomo da bactéria. Mecanismos gerais de resistência bacteriana 1. Redução da captação ou permeabilidade do fármaco pela bactéria. 2. Produção de enzimas que inativam o fármaco. Exemplo: beta lactamases são enzimas produzidas pelas bactérias que digerem os anéis betalactâmico dos antibióticos (esse anel é uma estrutura comum a todos os antibióticos). 3. Alterações dos locais de ligação do fármaco ou alterações de enzimas. 4. Bomba de efluxo. Ela cria uma enzima que expulsa o antibiótico de dentro da célula bacteriana. Princípios considerados na escolha dos antibióticos • Identificação do microorganismo • Determinação da sensibilidade do MO • Exposição prévia do hospedeiro ao ATB • Idade, função renal, hepática, local da infecção • Uso concomitante de outras drogas • Comprometimento do sistema imunológico • Espectro de atividade • Tipo de atividade • Sensibilidade do MO • Toxicidade relativa • Perfil PK • Vias de administração • Evidências de eficácia clínica • Custo Conceitos importantes Concentração inibitória mínima para inibir o crescimento bacteriano (CIM). Concentração mínima para eliminar 99,9% das bactérias (CBM). CBM/CIM = 1 → bactericida CBM/CIM > 1 → bacteriostático Bactérias gram + e gram – Oque muda entre elas é sua parede celular. Gram + tem uma parede espessa de peptideoglicano. Gram - tem peptídeoglicanos, lipoproteínas, lipossacarídeos e membrana externa. Isso interfere na permeabilidade dos fármacos. Mecanismo de ação ▪ Inibem síntese da parede celular (bacteriostáticos): penicilinas, cefalosporinas, cicloserina, bacitracina, vancomicina. ▪ Alteram permeabilidade da parede (bactericidas): polimixina, nistatina, anfotericina B. ▪ Afetam a síntese proteica: cloranfenicol, tetraciclina, eritromicina e clindamicina (bacteriostáticos). ▪ Alteram síntese proteica levando a morte celular (bactericidas): aminoglicosídeos. ▪ Afetam o metabolismo dos ácidos nucleicos (bactericidas): rifampicina e quinolonas. ▪ Bloqueiam enzimas essenciais do metabolismo dos folatos (bactericidas): trimetoprim e sulfonamidas. Entram na célula bacteriana (ela tem parede, membrana e estruturas como RNA, ribossomos e ác. nucleico - folato que é precursor do DNA), cada um age em um lugar (inibição do ác. fólico, inibidores da síntese da parede celular, inibidores da síntese de proteínas, inibidores da síntese dos ác nucleicos, inibidores das funções da membrana). Efeitos colaterais gerais • Flebite - maioria • Rash – hipersensibilidade (b- lactâmicos) • Febre • Eosinofilia • Leucopenia – cloranfenicol, vancomicina • Anemia hemolítica -Coombs + Plaquetopenia - clindamicina • Nefrite intersticial (imipenem e aztreonam) • Nefrotoxicidade – aminoglicosídeos, vancomicina, penicilina • Ototoxicidade - aminoglicosídeo • Aumento TGO (penicilina) • Efeitos sobre o TGI • Convulsão – penicilinas e imipenem • Hepatite – clindamicina • Colite pseudomembranosa – clindamicina • Superinfecção Toxicidade sistêmica Índice terapêutico (IT): diferença entre dose mínima e máxima (janela terapêutica). **Vancomicina é extremamente nefrotóxico, ela precisa de um ajuste de dose que depende do clearence renal, se o clearence de creatinina cai, sobe o nível de vancomicina no sangue então se diminui a dose tomada para diminuir a nefrotoxidade.** Clearence: taxa de filtração glomerular, indica se o rim está entrando em hipofunção. 1- Dependentes da idade Síndrome do bebê cinzento: cloranfenicol Kernicterus: sulfonamidas Ototoxicidade: aminoglicosídeos Deposição nos ossos e dentes em formação:tetraciclinas. Inviabiliza seu uso em crianças menores de 4 anos, pode levar a agenesia dentária. 2- Dependentes da função renal Necessidade de diminuição das doses IR leve: AMG, vancomicina, cefalosporina. Ir moderada-grave: carbenicilina, fluorquinolonas, clotrimoxanol. Fármacos a evitar: cefalotina, cefaloridina, ác. nalidíxico, nitrofurantoína, tetraciclinas (exceto doxiciclina). 3- Dependentes da função hepática Necessidade de diminuir as doses na IH: cloranfenicol, metronidazol, clindamicina, rifampicina. Fármacos a evitar: estolato de eritromicina, tetraciclinas, pefloxacina, ác. Nalidíxico. 4- Dependentes de fatores genéticos Anemia hemolítica em pacientes deficientes de G6PD: sulfonamidas, cloranfenicol, fluorquinolonas. 5- Dependentes de gravidez Todos devem ser evitados - falta de estudos, não tem como fazer estudos de medicamentos em gestantes. Riscos para o feto – surdez (AMG), ossos e dentes (tetraciclinas). Risco para a gestante – necrose gordurosa do fígado, pancreatite e lesão renal (tetraciclinas). Seguros: penicilinas, cefalosporina e eritromicina. Efetividade dos antibióticos 1- Dependentes de fatores locais Presença de pus e secreção: contém fagócitos, resíduos celulares e proteínas → podem se ligar ao fármaco ou criar condições desfavoráveis para sua ação. Presença de hematomas: ligação de fármacos à hemoglobina (penicilina, cefalosporina e tetraciclinas). Diminuição do PH no local de infecção: diminuição das atividades dos aminoglicosídeos e macrolídeos. Abcessos: comprometimento da penetração na área → necessidade de drenagem do abcesso. Presença de material necrótico e corpos estranhos. **o álcool aumenta o metabolismo, então ele pode ou não alterar a meia vida do antibiótico, não tem certeza pois não tem estudos.** Uso combinado de antibióticos Objetivo de obter um sinergismo. Sulfametoxazol + trimetoprima Carbenicilina/ticarcilina + gentamicina → P. aeruginosa. Amoxicilina + ác. Clavulânico → Ac. clavulânico (não é um antibiótico) inibe as beta lactamases (enzima que inativa o anel beta lactâmico) então, quando combinado, permite a amoxilina (que é sensível a essa enzima) agir. Reduz a gravidade ou incidência dos efeitos adversos. Prevenir o desenvolvimento de resistência. (valor nas infecções crônicas → tratamentos prolongados – TB, hanseníase, H. pylori). Ampliar o espectro de ação. (tratamento de infecções mistas → peritonite, ITU, abcessos cerebrais, infecções ginecológicas – clindamicina e metronidazol para anaeróbios). Tratamento inicial das infecções graves. Topicamente (bacitracina + neomicina). 1- Uso profilático Febre reumática (penicilina G benzatina). Tuberculose (isoniazida isoladamente ou em combinação com a rifampicina). Meningite meningocócica (rifampicina/sulfadiazina). Gonorréia/sífilis (penicilina G procaína). 2- Prevenção em risco de infecção em situações de alto risco Extração dentária, tonsilectomia, endoscopia com lesão de mucosa abrigando bactérias → bacteremia (penicilina, cefalosporina). Cateterismo ou instrumentação do TU (Cotrimoxazol ou norfloxacina). Para evitar recidivas de ITUs em pacientes com anormalidades (Cotrimoxazol ou nitrofurantoína a longo prazo). DPOC (ampicilina, tetraciclina, ciprofloxacina). Pacientes imunocomprometidos (penicilina/cefalosporina + aminoglicosídeo/fluorquinilona). Profilaxia cirúrgica (cefazolina, vancomicina). Feridas contaminadas. Duração do tratamento Normal: 7 – 10 dias → inf. moderadas 10 - 14 dias → inf. Graves Dose única: Gonorréia, ITU. 3 dias → ITU não complicada. Exceção: Osteomielite (28 dias)
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