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OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS DIÉRESE: significa divisão, separação, toda manobra cirúrgica que separe tecidos, órgãos ou regiões anatômicas e que resulte em -tomia, -ectomia, exérese ou biópsia. TIPOS DE DIÉRESE: A separação dos tecidos não é realizada de forma aleatória. É necessário um bom conhecimento anatômico para escolher o melhor caminho até a área doente. O caminho mais curto pode não ser o ideal, pois pode ser até mais lesivo a outras estruturas que precisam ser obrigatoriamente preservadas. Determinadas artérias e veias não podem ser lesadas impunemente. • Incisão: manobra básica de corte ou secção realizada com bisturi. Está reservada para o corte do chamado tecido mole, ou seja, de pele, tela subcutânea, aponeuroses, músculos das paredes abdominal e torácica, órgãos parenquimatosos (baço, fígado, pâncreas, adrenal, rim, pulmão), órgãos tubulares (trato digestório, vias urinárias, trato circulatório). • Secção: pode ser realizada por bisturi (em suas múltiplas modalidades), tesoura ou serra. Exemplos: secção do istmo da glândula tireoide na realização de uma traqueostomia; • Serração: a secção de tecido ósseo, na grande maioria das vezes, só é possível com o uso de serras ou fios denteados, em razão da natureza mineral do osso. A perfuração do osso com brocas para a fixação de parafusos ou fios metálicos não deixa de ser também uma manobra de diérese. • Divulsão: separar à força, esgarçar, romper, rasgar. Em cirurgia, está reservada para a separação romba de tecidos, ou seja, sem secção ou corte. Grosseiramente, em algumas situações de difícil acesso aos instrumentais de diérese, taticamente a divulsão pode ser realizada com os dedos do cirurgião (com o indicador e o polegar em pinça) • Punção: os cateteres endovasculares (Jelco, Abocath, Intracath, Butterfly) são exemplos de instrumentos que permitem a punção não só de vasos, mas também de outras cavidades. • Dilatação: uso de instrumentos metálicos, plásticos ou balões infláveis em orifícios ou trajetos naturais estenosados ou trajetos fistulosos com a finalidade de aumentar o calibre do orifício/trajeto e facilitar a drenagem ou injeção de líquidos. • Curetagem: uso de instrumental com aspecto similar a uma colher com as bordas afiadas e cortantes e que, por movimentos de raspagem, coletam material para exame ou retirada terapêutica da lesão. São exemplos a curetagem uterina para diagnóstico de doenças endometriais, remoção de aborto retido, remoção de restos placentários, curetagem de tecido ósseo nas neoplasias osteoblásticas. • A diérese pode ser auxiliada por técnicas de dissecção mediante emprego de pinças de dissecção, gaze montada em pinças e manobras digitais, com o objetivo de poupar estruturas nobres como nervos e vasos. Deve haver secções de tecidos com bordas regulares e simétricas, o que facilitará o processo da síntese. Incisões oblíquas ou compostas (em duas direções ou mais) levam à desvitalização dos tecidos, prejudicando a cicatrização e favorecendo a infecção. O afastamento dos tecidos dissecados deverá ser firme, porém delicado, de modo a não prejudicar a irrigação e a inervação. A incisão na pele e nos outros planos anatômicos deve ser feita em movimento único, retilíneo, constante e deixando as bordas da ferida operatória de modo regular, sem “dentes”. A incisão nos planos subsequentes deve ter a mesma extensão da ferida na pele e tecido subcutâneo, evitando a formação de um túnel em funil. Os planos anatômicos devem ser preferencialmente afastados e divulsionados. A secção deve ser parcimoniosa e cortar o estritamente necessário para o acesso cirúrgico adequado. Vasos de maior calibre devem ser identificados de antemão, ocluídos com pinças hemostáticas e, em seguida, seccionados e ligados ou cauterizados. A secção de aponeuroses musculares deve ser retilínea e com bordas regulares, o que facilitará a síntese e posterior cicatrização dos tecidos. HEMOSTASIA: É o termo médico usado para conceituar as manobras ou processos envolvidos na coibição de sangramento normalmente provocado pela diérese ou trauma. A diérese é acompanhada da inevitável secção de vasos e consequente extravasamento de sangue. O controle da hemostasia começa no pré-operatório, pela avaliação da capacidade do indivíduo de coibir a hemorragia naturalmente. A determinação do tempo de sangramento e tempo de coagulação são exames de rotina em qualquer tratamento cirúrgico. Devem ser identificados comportamentos hematológicas congênitas (p. ex., hemofilia) ou adquiridas pelo uso de diversos tipos de medicação para tratamento de comorbidades e, a partir disso, traçadas estratégias de suspensão prévia e temporária delas. Atos operatórios de risco devem ser precedidos de tipagem e reserva de sangue para eventual transfusão pré, intra ou pós-operatória. A hemostasia operatória pode ser temporária, em que as manobras de impedimento da corrente sanguínea duram um tempo determinado, o qual, dependendo da natureza dos tecidos, será breve ou longo. Por sua vez, a hemostasia definitiva implica interromper a corrente sanguínea de modo permanente. MEDIDAS PARA HEMOSTASIA TEMPORÁRIA • Garroteamento: interrompida para um segmento corporal pela compressão do feixe vascular na raiz do membro com a aplicação de garrote ou faixas elásticas (Esmarch). • Oclusão endovascular: aplicação de cateter provido de um balão inflável que fará a oclusão da luz vascular acima do local da intervenção. Está reservada principalmente para intervenções sobre artérias em que o pinçamento externo está contraindicado ou o acesso é difícil ou impossível. • Hipotensão arterial controlada: uso de drogas anestésicas que promovam uma hipotensão arterial controlada pode ser considerado uma manobra de hemostasia, já que seu objetivo é diminuir a perda sanguínea. • Hipotermia: aplicação restrita, além de proteger os tecidos da hipóxia, diminui a perda sanguínea decorrente da vasoconstrição. MEDIDAS PARA HEMOSTASIA DEFINITIVA: A hemostasia definitiva implica a obstrução definitiva da luz do vaso. Isso significa que o território irrigado por ele deve ter circulação colateral que supra sua ausência definitiva. • Ligadura: dissecado, isolado e pinçado a montante e a jusante com duas pinças hemostáticas, seccionado no intervalo entre elas, e posteriormente amarram-se os cotos com fio cirúrgico apropriado. Quando não houver a possibilidade de identificação prévia, os vasos devem ser pinçados imediatamente após a identificação do local do sangramento e ligados definitivamente. • Grampeamento: clipes metálicos de titânio ou aço cirúrgico para a ligadura definitiva em vez da amarradura com fios. O procedimento é mais rápido, embora mais custoso, e aplicável em vasos que possam ser identificados e grampeados antes da secção. • Eletrocoagulação: passagem de uma corrente elétrica na ponta do eletrodo libere energia térmica que coagula as proteínas teciduais e, com isso, faça a obstrução da luz do vaso. • Fotocoagulação: liberação de energia térmica provocada pela aplicação de raio laser. • Obturação: procedimentos ortopédicos. A hemostasia é conseguida pela aplicação de cera de abelha ou de resinas que polimerizam em curto espaço de tempo, tamponando os vasos de encontro aos orifícios do tecido ósseo esponjoso. • Compressão: Manobras de tática operatória para uso em casos excepcionais em que se aplica o pinçamento do vaso entre o indicador e o polegar para coibir a hemorragia abundante no território a jusante. Uma manobra típica é a de Pringle (pinçamento do pedículo vascular hepático), para diminuir o sangramento resultante de um trauma sobre o parênquima hepático. • Tamponamento: hemorragias capilares ou venosas de superfície cruenta podem ser de difícil controle. A compressão dessa superfície com gaze ou compressa durante alguns minutos (tempo de coagulação) é um recurso que pode resolver a situação ou permitir uma posterior abordagem com o leito sangrante mais seco. SÍNTESE: reunião,fusão e composição. Entende-se por síntese cirúrgica o conjunto de métodos usados para a coaptação (aproximação) das bordas de uma ferida traumática ou cirúrgica, com o objetivo de reconstituir a continuidade do tecido lesado, facilitando a cicatrização e a posterior restituição da função. Sutura: aplicada a tecidos moles e que tem como característica fundamental a utilização de fios cirúrgicos que perfuram o tecido e nele se apoiam para manter aproximadas as bordas de uma ferida. Rafia: similar à sutura e engloba o sentido de união de reparação. É frequentemente usada para indicar o fechamento de uma cavidade, como laparorrafia, toracorrafia, cervicorrafia e colporrafia. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA SÍNTESE CIRÚRGICA A sutura é um tempo operatório básico que está incluído no processo geral da cirurgia, e seu resultado satisfatório depende das condições adequadas dos tempos operatórios anteriores (antissepsia, assepsia, diérese e hemostasia) e posteriores (curativos, repouso, mobilização adequada do paciente e em tempo hábil). Bordas de feridas regulares, dissecação por planos, manobras delicadas, afastamentos sem tensão excessiva, ligadura de vasos sem englobar grande massa tecidual ao redor, são princípios que facilitarão a síntese dos tecidos. Highlight As bordas da ferida devem ser aproximadas e mantidas sem tensão na linha de sutura. Deixando a aproximação muito frouxa, o processo cicatricial será mais longo para poder preencher o espaço entre as bordas, sem contar com a possibilidade de extravasamento de líquidos ou gases em se tratando de órgãos tubulares, resultando em fístulas e/ou abscessos. Por outro lado, uma aproximação com tensão excessiva acarretará isquemia tecidual com retardo de cicatrização e, eventualmente, necrose e deiscência da sutura. A aproximação entre tecidos diferentes implica linhas de tensão na linha de sutura e dificuldades de integração entre tecidos diferentes, influenciando diretamente o resultado do ato operatório como um todo. É necessário evitar que na aproximação dos diferentes planos sejam deixados “espaços mortos” (cavidades reais ou virtuais) entre eles, uma vez que poderá ocorrer acúmulo de secreções ou abscessos. Na realização de uma sutura, são utilizados os seguintes instrumentos cirúrgicos: agulhas (retas e curvas), porta-agulhas (Hegar, Mayo, Mathieu) e pinças de preensão (anatômicas e dente de rato). As agulhas podem apresentar o fio já encastoado (“montado”). São as agulhas ditas agulhas atraumáticas, são recomendadas para suturas de vísceras ocas, tendões, nervos e pele. As agulhas curvas possuem raio de curvatura variável, e o tamanho da agulha a ser utilizado é determinado pelo espaço proporcionado pelo campo operatório e pela espessura do tecido a ser transfixado. As agulhas retas são usadas com a mão, sem o uso de porta-agulhas, mas sofrem a limitação de espaço. As pinças anatômicas permitem uma preensão menos traumatizante, porém sem muita firmeza, ao passo que a pinça dente de rato permite uma apreensão firme, embora traumatizante. CONDIÇÕES DE UMA BOA SÍNTESE: 1. Assepsia e antissepsia local 2. Bordas nítidas 3. Hemostasia 4. Afrontamento anatômico 5. Tração moderada 6. Material adequado 7. Boa técnica MÉTODOS ALTERNATIVOS DE SÍNTESE: Sutura mecânica: utilização dos grampeadores; Fitas adesivas: utilização de fitas adesivas é um método simples para aproximação das feridas superficiais sem tensão. Adesivo Tópico: adesivo tecidual é um método eficiente para o reparo de feridas pequenas, principalmente em crianças. A aplicação é rápida, acompanha-se de desconforto mínimo, não demanda retirada de pontos e produz bons resultados estéticos.
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