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Julia Paris Malaco – UCT14 SP5 - HLA O complexo principal de histocompatibilidade (CPHH) é também conhecido como HLA, codificado no braço curto do cromossoma 6. O HLA é dividido em três classes: classe I, II e III. As classes I e II são expressas na superfície das células e a classe III compreende diversos fatores solúveis (principalmente proteínas do sistema de complemento). Sistema HLA Os genes de histocompatibilidade são assim chamados porque, quando descobertos, eram os principais elementos (genes principais) relacionados com a rápida rejeição de tecidos transplantados entre animais de experimentação, particularmente entre camundongos, sendo em conjunto denominados Major Histocompatibility Complex (MHC). Assim, o MHC representa o conjunto de genes responsável por codificar as moléculas de histocompatibilidade em uma determinada espécie, sendo chamado no ser humano de sistema HLA (Human Leukocyte Antigen). O sistema HLA no ser humano está localizado no braço curto do cromossomo 6, e, didaticamente, esses genes podem ser reunidos em 3 grupos, denominados genes de classe I, II e III. Os genes de classe I codificam as moléculas clássicas de histocompatibilidade HLA-A, B e C, Os de classe II as moléculas clássicas HLA-DR, DQ e DP. Os genes de classe III, embora estejam incluídos dentro do MHC, não codificam moléculas de histocompatibilidade, e sim outras moléculas, algumas delas fazendo parte do sistema imune outras não. Alguns genes apresentam uma mesma sequência de ácidos nucléicos em todos os membros de uma população, sendo chamados não polimórficos (exemplo: b2- microglobulina), e cada variante de um gene polimórfico é denominada de alelo. Uma vez que os genes de histocompatibilidade são codominantes, tanto os genes de origem materna como os paternos serão expressos. Assim, para os genes HLA de classe I, até 6 moléculas podem ser expressas nas superfícies celulares, ou seja, 2 (duas) HLA-A, 2 (duas) HLA-B e 2 (duas) HLA-C, totalizando 3 moléculas de origem materna e 3 de origem paterna. Pelo fato desses genes estarem muito próximos uns dos outros, são herdados em bloco. O conjunto de genes oriundos do cromossomo materno ou paterno é designado de haplótipo. As moléculas e os genes do MHC As moléculas de classe I estão constitutivamente expressas nas superfícies de todas as células nucleadas, sendo compostas por 2 cadeias diferentes (heterodímeros). A cadeia pesada a, polimórfica, é codificada pelos loci HLA-A, -B, ou -C do MHC, situados no cromossomo 6, e a cadeia leve, a b2- microglobulina, não polimórfica, é codificada por gene situado fora do MHC, no cromossomo 15. Julia Paris Malaco – UCT14 A cadeia pesada a contém 3 domínios: a1, a2 e a3, sendo que o grande polimorfismo dessas moléculas ocorre nos domínios a1 e a2. As moléculas HLA de classe II estão presentes constitutivamente apenas nas superfícies de alguns tipos celulares como macrófagos, linfócitos B e células dendríticas, coletivamente denominadas de células apresentadoras de antígenos. Essas moléculas também são heterodímeros formados por uma cadeia a e uma b, ambas codificadas por genes situados no MHC, ou seja, no cromossomo 6, contendo 2 domínios a1/a2 e b1/b2. O sulco de ligação ao peptídeo da molécula de classe I é formado pela interação dos segmentos a1 e a2, ao passo que o da molécula de classe II, pela interação dos segmentos a1 e b1. Os resíduos de aminoácidos polimórficos que caracterizam as diversas moléculas de histocompatibilidade estão localizados nessas fendas de ligação com o peptídeo. Por causa da grande variabilidade de aminoácidos nessa região, moléculas HLA diferentes se ligam e apresentam peptídeos diferentes, sendo reconhecidos por receptores de linfócitos T também diferentes. Uma vez que cada indivíduo possui um número limitado de moléculas HLA nas superfícies de suas células, é correto supor que uma mesma molécula possa acomodar e apresentar vários tipos de peptídeos. Assim, as moléculas HLA apresentam uma ampla capacidade de se ligar a peptídeos; no entanto, a especificidade fina de reconhecimento do antígeno ocorre às custas do receptor do linfócito T. As moléculas de histocompatibilidade, para serem estáveis nas superfícies celulares, devem sempre estar ligadas aos peptídeos e, usualmente, não discriminam os peptídeos estranhos (derivados de agentes patogênicos) daqueles que são do próprio indivíduo, quem faz o reconhecimento do que é próprio ou não, é o linfócito T. Resposta alogênica As próprias moléculas que compõem o sistema HLA são extremamente imunogênicas. A resposta dos linfócitos T a uma molécula do HLA, estranha ao organismo, leva à ativação de 1- 10% do repertório de linfócitos T do organismo. Esse mecanismo de reconhecimento é a base da rejeição de um tecido/órgão proveniente de outro organismo e distinto do receptor. As moléculas do HLA são fortemente imunogênicas por dois motivos distintos. As de classe I e II são altamente polimórficas. Graças a esse polimorfismo genético é que diferentes indivíduos não aparentados possuem padrões distintos de expressão do HLA e a inserção de tecido de um indivíduo em outro pode ser identificada como estranha. O outro motivo da extrema imunogenicidade das moléculas do HLA diz respeito à sua capacidade em ativar os linfócitos T por duas vias. Uma delas diretamente pelo reconhecimento de uma molécula HLA estranha na superfície de um tecido transplantado ou num leucócito proveniente de uma transfusão; a outra pela eventual fagocitose de uma célula estranha ao organismo e que tenha um fragmento da molécula de HLA exibido por uma célula apresentadora de antígeno aos linfócitos T via HLA-classe II. Hoje, para reduzir a ativação dos linfócitos T em caso de transplante de órgão, buscase a compatibilidade entre a expressão HLA do tecido do doador e do receptor. Antígenos secundários de histocompatibilidade Alguns dos pacientes submetidos a transplante de medula óssea em que o doador é um familiar HLA- idêntico podem, mesmo com esta compatibilidade, apresentar reações imunológicas entre o tecido transplantado e o receptor. É a chamada reação do enxerto contra hospedeiro, já que em um paciente transplantada de medula óssea a célula imunologicamente ativa é a transplantada. O estudo dessa situação específica culminou com a descoberta dos chamados antígenos secundários (ou menores) de histocompatibilidade. Eles são peptídeos derivados de genes polimórficos e apresentados Julia Paris Malaco – UCT14 ao sistema imune pelas moléculas de HLA de classes I e II. Em um paciente transplantado, esses peptídeos provenientes do receptor são reconhecidos pelos linfócitos T do doador. Embora a frequência dos linfócitos T específicos contra os antígenos secundários de histocompatibilidade seja menor que os linfócitos que reconhecem moléculas não próprias, sua expressão é suficiente para desencadear, em vários casos, a reação do enxerto contra hospedeiro. Um grupo de antígenos secundários identificado é derivado de proteínas codificadas por genes presentes no cromossoma Y. Num transplante em que o receptor é do sexo masculino e a doadora do sexo feminino, peptídeos derivados do cromossoma Y podem ser reconhecidos como estranhos pelos linfócitos da doadora. Isto explica o aumento da frequência da doença do enxerto contra hospedeiro com essa combinação de doador-receptor. Um outro grupo de antígenos secundários é expresso especificamente em células hematopoiéticas. A presença desses antígenosem células residuais de leucemia, por exemplo, remanescente após o transplante de medula óssea, pode desencadear uma resposta imunológica mediada pelos linfócitos T e produzir o chamado efeito enxerto contra leucemia, benéfico na erradicação da doença neoplásica. Métodos de detecção do polimorfismo dos antígenos e dos alelos de histocompatibilidade Sorológicos: utilizam soros específicos para identificação dos antígenos presentes nas membranas dos linfócitos Moleculares: SSP - Utilizando primers específicos para a amplificação seletiva do DNA correspondente a alelos ou grupos de alelos seguida de eletroforese em gel de agarose SSO - Utilizando primers para a amplificação de segmentos de DNA equivalentes aos alelos HLA, seguida de hibridização com sondas deoligonucleotídeosde sequências específicas O método clássico de avaliação do polimorfismo das moléculas (antígenos) de histocompatibilidade é o de citotoxicidade celular mediada por anticorpo e dependente do complemento, também chamado método sorológico. Esse método é baseado na reação de um anticorpo anti-HLA (geralmente obtido de indivíduos politransfundidos ou multíparas, ou ainda, anticorpo monoclonal obtido de hibridoma) com a molécula HLA presente na superfície celular. Após ocorrer a reação antígeno-anticorpo, a incubação com o complemento promove a lise celular, dando uma reação positiva. Posto que as moléculas HLA de classe I estão expressas constitutivamente nas células nucleadas, e que as células linfomononucleares são de fácil recuperação à partir do sangue periférico, os antígenos HLA-A, B e C são tipificados utilizando-se os linfócitos totais ou os linfócitos T. Uma vez que os linfócitos T possuem poucas moléculas HLA de classe II nas suas superfícies, os linfócitos B são utilizados para tipificar os antígenos HLA-DR e DQ. Os antígenos HLA-DP não são tipificados por esse método devido à falta de anti-soros específicos. A nomenclatura dos antígenos HLA definidos por sorologia utiliza a designação do locus gênico (HLA-A, B, C, DR ou DQ), seguida pela identificação numérica do antígeno (HLA-A1, A2 etc; HLA-B7, B8, B27, B51...; HLA-DR1, DR3, DR4.... e HLA-DQ2, DQ4...). A nomenclatura do locus HLA-C incorpora a letra w (HLA-Cw1, Cw2 etc) para diferenciá-la da nomenclatura dos fatores do complemento (C1, C2, C3 etc). Dois métodos têm sido bastante utilizados para tipificação dos alelos HLA de classe I ou II, utilizando iniciadores (primers) ou sondas (probes) de oligonucleotídeos com sequências conhecidas, sendo denominados sequence specific primers (SSP) ou sequence specific oligonucleotide probes (SSOP). No método SSP são realizadas várias reações de amplificação, cada uma contendo um par de iniciadores capaz de detectar um grupo de alelos ou um alelo. Os produtos de amplificação são Julia Paris Malaco – UCT14 submetidos a uma eletroforese em gel de agarose, contendo brometo de etídeo, uma substância fluorescente capaz de se intercalar no DNA, tornando fluorescente os produtos de amplificação quando o gel é submetido à luz ultravioleta. As bandas com cerca de 150-220 pares de bases correspondem aos produtos de amplificação específicos dos genes HLA, enquanto que as bandas com cerca de 800 pares de bases correspondem aos produtos de amplificação interna, isto é, servem para o controle de que a amplificação realmente ocorreu. No método SSOP, utiliza-se um par de iniciadores construídos para amplificar uma região genérica de um gene (por exemplo HLA-DR). Em seguida, o DNA amplificado é hibridado com sondas de oligonucleotídeos capazes de reconhecer os diversos grupos de alelos do gene. Nesse método, o DNA amplificado é desnaturado e fixado em membranas de náilon. As sondas marcadas, com material radioativo ou substância fluorescente, são hibridadas aos DNA fixados nas membranas quando incubadas em temperaturas adequadas Nomenclatura atual dos alelos de histocompatibilidade HLA e transfusão Os antígenos HLA de classe I estão expressos em grande quantidade nos leucócitos e plaquetas. Cada transfusão na qual exista a presença de plaquetas e/ou leucócitos carrega o risco de aloimunização para o paciente. Os pacientes imunocompetentes que recebam transfusões de plaquetas, hemácias ou de sangue total podem vir a desenvolver anticorpos contra os antígenos HLA a que eles tenham sido expostos. Esse risco pode ser minimizado pela lavagem ou filtragem do concentrado de hemácias, plaquetas ou de sangue total com filtros de leucodepleção, em que é reduzida de maneira importante a quantidade de leucócitos presentes, diminuindo-se o risco da aloimunização. Já nos pacientes politransfundidos, como nos portadores de leucemia, por exemplo, os anticorpos anti-HLA podem ocasionar dois problemas: Esses pacientes podem se tornar refratários a transfusões de plaquetas, pois as mesmas são rapidamente destruídas pelos anticorpos. Reações transfusionais não-hemolíticas podem ocorrer em resposta à presença dos antígenos HLA. Doadores familiares, especialmente aqueles irmãos HLA idênticos, podem doar plaquetas que não serão destruídas. É possível realizar provas de compatibilidade chamadas crossmatch para confirmar se ele é HLA compatível com o mesmo ou se o indivíduo não possui o antígeno HLA presente no receptor. Outra alternativa é a unlização de um banco de potenciais doadores de plaquetas que tenham tido o seu HLA identificado. Para esse banco funcionar a contento, é necessário elevado número de voluntários para ter-se uma chance razoável de localizar um doador adequado. HLA e os transplantes São utilizadas técnicas avançadas de biotecnologia para se saber a identidade genética de doadores e receptores, a compatibilidade imunológica entre estes e a presença de anticorposrelacionados a rejeição de órgãos transplantados. Para atingir esse objetivo, são realizados três testes principais Tipagem HLA Prova Cruzada Avaliação de Reatividade Contra Painel de Classe I e II (PRA) PRA (Painel deReatividade deAnticorpos) PRA é um exame laboratorial, utilizado para detectar anticorpos dirigidos contra proteínas HLA, nos soros de pacientes à esperade transplantes de órgãos É determinado testando-se periodicamente o soro do paciente contra um grande painel de moléculas HLA diferentes, e indica o grau de sensibilização do receptor em relação a possíveis doadores Extremamente importante, o conhecimento do PRA de um paciente candidato a um transplante de órgão pode revelar se o paciente tem alto risco de rejeição, necessitando de imunossupressão específica, e mesmo se tem anticorpos específicos contra as moléculas HLA de seu doador. O valor de PRA pode ser alterado como resultado de transfusões de sangue, infecções virais, um transplante prévio e/ou gravidez. Julia Paris Malaco – UCT14 Transplante renal A tipagem HLA foi aplicada no transplante renal quase imediatameme depois que os primeiros antígenos HLA foram determinados. A importância de se reduzir o grau de incompatibilidade dos antígenos entre o paciente e o rim doador ficou aparente com os primeirosresultados mostrando melhora significativa na sobrevida de enxertos provenientes de irmãos HLA-idênticos, comparados aos obtidos quando existia apenas compatibilidade de um haplótipo ou quando o rim provinha de um doador não aparentado. Porém, mesmo quando ocorre compatibilidade HLA, outras condições devem ser atendidas - Existe a necessidade de compatibilidade ABO e também de uma reação de crossmatch negativa, ou seja, não pode ocorrer a existência de anticorpos anti-HLA no receptor, sob risco de ocorrera chamada rejeição hiperaguda. Compatibilidade ABO Desempate para receber o trasnplante o Tempo de espera na lista o P.R.A - painel de reatividade antileucocitária o Diabetes o Idade do receptor Transplante de fígado No transplante de fígado, o HLA não tem papel tão destacado como no transplante renal, sendo mais importante a compatibilidade ABO e o tamanho do órgão. No entanto, segue sendo importante a não existência de anticorpos anti- HLA (crossmatch negativo). Transplantes realizados em pacientes com crossmatch positivos têm taxa de sucesso significarivameme mais baixa. Transplante de células-tronco hematopoiéticas Consiste na infusão intravenosa de células progenitoras hematopoiéticas com o objetivo de restabelecer a função medular. Existem dois tipos: Autólogo: medula óssea do próprio indivíduo Alogênico: medula óssea de outro indivíduo É preciso que haja total compatibilidade entre doador e receptor para que a medula óssea não seja rejeitada A compatibilidade do HLA entre doador e receptor é essencial para a realização do transplante de célulastronco hematopoiéticas. A realização de um transplante compatível reduz de maneira importante o risco de rejeição da medula transplantada, mas também do aparecimento de uma complicação muito mais frequente, a doença do enxerto contra hospedeiro, conhecida pelas abreviaturas DECH ou GVHD (graft versus host disease). Nesta última, a reação de linfócitos imunocompetentes presentes no enxerto transplantado "atacam" tecidos do recepcor reconhecidos como estranho. Uma parte dos transplantes de célula-tronco hematopoiética utiliza um doador aparentado (geralmente um irmão ou irmã) HLA-idêntico. Nessa situação, muitas vezes é suficiente a utilização de tipagem HLA de classe I por sorologia ou por métodos de baixa resolução e a confirmação com tipagem de classe II de alta resolução. Na ausência de um doador familiar que seja totalmente compatível, a utilização de um familiar que apresente apenas um antígeno HLA de diferença também pode ser viável, dependendo da situação. O que é ser HLA compatível? É ser HLA idêntico, situação que ocorre entre gêmeos monozigóticos ou entre irmãos que herdam os mesmos haplótipos Existe hoje no mundo uma série de registros de doadores voluntários de medula óssea, o que tem viabilizado a realização de transplantes para uma série de pacientes sem doador familiar. Para os transplantes ditos não-aparentados, a exigência mínima de compatibilidade é que sejam totalmente semelhantes para os HLA-A e - B (classe 1) em baixa resolução e sejam compatíveis em HLA-DR de alta resolução. HLA e doenças A Doença Celíaca (DC) é uma doença autoimune, caracterizada por intolerância à gliadina, proteína do glúten das sementes de vários cereais, como trigo, centeio, cevada, aveia Fatores: Predisposição genética, ingestão de glúten e alteração inflamatória da mucosa intestinalCerca de 90% dos pacientes caucasoides apresentam o gene HLADQ2, e os 10% restantes apresentam HLADQ8.