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DOCÊNCIA EM SAÚDE ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842e Ensino de história nas séries iniciais / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 86p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-094-3 1. História – Estudo e ensino. 2. História – Ensino fundamental. I. Portal Educação. II. Título. CDD 372.89 2 SUMÁRIO 1 ENSINO DE HISTÓRIA PARA SÉRIES INICIAIS ...................................................................... 3 1.1 História enquanto disciplina .................................................................................................... 3 1.2 A história pessoal e social e a construção da identidade do educando ............................ 12 1.3 Trabalhando com genealogia nas séries iniciais .................................................................. 14 2 CONCEPÇÕES DO TEMPO E TEMPORALIDADE HISTÓRICA ............................................. 23 2.1 Linha do tempo ........................................................................................................................ 33 2.2 Tempo na nossa vida............................................................................................................... 33 2.3 Entendendo as diferentes representações do tempo: tempo cronológico e histórico ..... 36 3 REFLETINDO SOBRE A HISTÓRIA LOCAL E O COTIDIANO ............................................... 42 4 MEMÓRIA E HISTÓRIA ............................................................................................................ 61 4.1 Trabalhando as mudanças e Permanências ......................................................................... 64 4.2 Monumento histórico, bustos, estátuas o que eles representam? ..................................... 66 5 ENTENDENDO COMO SE CONSTITUI O PATRIMÔNIO HISTÓRICO/CULTURAL DA CIDADE ............................................................................................................................................... 70 5.1 Observação no “centro histórico” ......................................................................................... 71 5.2 Lugares de Memória ................................................................................................................ 72 6 ORIGEM DO MUSEU ................................................................................................................ 74 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 81 3 1 ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS 1.1 História enquanto disciplina A História enquanto disciplina escolar surgiu no Brasil a partir do século XIX, abarcou parte do período imperial e o início da República, inspirada no modelo francês, pautava- se na formação cultural das elites, privilegiando feitos e heróis nacionais, os conteúdos abordavam as práticas cotidianas como: ritos cívicos, festas, desfiles e eventos de culto aos símbolos da Pátria. As transformações econômicas e culturais pelas quais o Brasil passou influenciaram diretamente a educação e consequentemente o ensino de História, movimentos como da Escola Nova influenciou o ensino da história fazendo surgir outras possibilidades metodológicas, dentre elas a preocupação em despertar hábitos de investigação, crítica e raciocínio lógico, pretendiam preparar o aluno para uma vida ativa e atuante por meio dirigido, ou seja, o aluno recebia um caderno com questões e respostas em que consultava a resposta correta para cada questão e testava seus conhecimentos adquiridos em pesquisas e experiências, dessa forma ele seria agente do seu conhecimento (NEMI & MARTINS, 1996). Mas a história continuou sendo ministrada de forma pouco reflexiva, as mudanças metodológicas e didáticas não trouxeram muitos avanços, as festividades cívicas, memorização de datas, nomes das personalidades históricas e a seleção de conteúdos ainda predominaram. Há uma supervalorização do fato: a história se resume naquilo que se pode perceber e observar, não sendo permitidas abstrações. Como a filosofia positivista procurava valorizar o homem como indivíduo, não há uma preocupação historiográfica com o coletivo, com as massas populares, e sim com os heróis e 4 homens que produzem os fatos. Os historiadores positivistas seguiam as sequências cronológicas dos fatos, tendo o homem como sujeito de transformação e nunca objeto. Essa História Tradicional identificada como historiografia positivista, trabalha com o conceito de que a história é o fato, e que só se constrói história a partir de documentos, se esse não existir, não há história, pois não há comprovação de fatos, portanto, na história positivista o documento é o objeto principal de análise. Para os historiadores tradicionais ou positivistas, os métodos utilizados pelas ciências naturais deveriam ser os mesmos aplicados às ciências humanas. Dessa maneira, creem que a história pode ter uma interpretação científica dos fatos, sendo “verdadeira” e isenta de abstrações. A pesquisa nos documentos oficiais é realizada apenas no âmbito da descrição já que eles não podem ser discutidos e analisados. Com isso a história é contada a partir de uma estrutura política, privilegiando os governos e os governantes. A sociedade assim como a natureza é regida por leis naturais e invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, e que caminha para um estágio final de progresso, sem que haja retrocessos e atrasos durante a evolução dessa sociedade. Essa visão da história fez com que historiadores repensassem essa metodologia surgindo assim, novas tendências historiográficas preocupadas com os processos de transformação da sociedade, entre essas tendências podemos destacar a teoria marxista. Na teoria marxista, a história é explicada por meio dos fatos materiais, essencialmente econômicos em que chama de infraestrutura a estrutura material da sociedade, sua base econômica consiste nas formas pelas quais os homens produzem os bens necessários à sua vida e de superestrutura à estrutura política e a estrutura ideológica. Sendo assim, a infraestrutura determina a superestrutura. Na infraestrutura podemos conhecer a divisão do trabalho de uma sociedade e a forma como ele é distribuído, já na superestrutura a sociedade divide o poder político entre seus 5 Dessa forma, o historiador marxista trabalha na investigação do processo histórico concreto, e intervém de modo prático sobre eles. A estrutura econômica é privilegiada com a produção material determinando as demais esferas da vida social. Marx dizia que a história é construída ideologicamente para o benefício econômico das classes abastadas,contrariando Comte que dizia que a História era pautada nos fatos documentais. Na historiografia marxista as condições econômicas são as responsáveis pela regulamentação e determinação do curso da história. Um historiador marxista enfatiza a economia na construção da história. Outra corrente historiográfica que surgiu foi a Escola dos “Annales” considerada uma inovação da historiografia, a atenção voltava-se para a história de longa duração, a vida política, a economia, a organização social, o cotidiano, eram fontes de pesquisa, essa proposta trouxe a história para mais perto da geografia, antropologia, sociologia, psicologia, filosofia, sendo possível com esses novos instrumentos de pesquisa, chegar a uma resposta ou várias respostas sobre o objeto ao que se pesquisa e na maioria das vezes chegando a inúmeros questionamentos, coisa que antes não existia. Essa nova visão destacou a importância de estudar o cotidiano das pessoas ao longo dos tempos, representando uma ruptura com a história positivista e com a análise reducionista do marxismo. Para os Annales, diferente da interpretação marxista, a economia não desempenha um papel determinante no conjunto dos funcionamentos sociais. Sendo estas as principais críticas de Bloch e de Febvre à percepção marxista. Os Annales defendem que a tarefa das ciências humanas é explicar o social complexificando-o e não simplificando por meio de abstrações. 6 Como vimos à narrativa dos grandes acontecimentos durante muito tempo dominou a produção historiográfica, as primeiras mudanças significativas ocorreram a partir de 1930 trazendo discussões políticas que influenciaram diretamente o ensino público e consequentemente a disciplina de História, promovendo um fomento para a renovação da historiografia, tanto marxista, quanto da chamada escola dos Annales. As propostas curriculares foram colocadas em debate, surgiram discussões de caráter psicológico e pedagógico sobre o papel do sujeito que aprende e as novas formas de se compreender o ensino. Buscava-se, nesse momento, o trabalho com a História temática, tendo- se a História Local como um recurso pedagógico fundamental. Na segunda metade da década de 1990, o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação, produziu e divulgou os Parâmetros Curriculares Nacionais nos quais estão indicados os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas para o ensino na Escola Fundamental, nas diferentes áreas de conhecimento. O ensino da história, portanto é um processo em contínua transformação e adaptação à realidade dos alunos e da sociedade como um todo. Neste processo, é indispensável que o professor acompanhe as transformações e procure continuamente se adaptar as novas demandas do ensino. Quanto aos objetivos do ensino de História, nessa última década, além da preocupação com a cidadania, existe também o objetivo de contribuir para a construção de identidade, não só nacional, mas global. Os PCNs trabalham na perspectiva de a História adequar-se ao novo movimento sociocultural, preocupando-se com significado da cidadania, compartilhando a ideia de que a história moderna da cidadania se constituiu pela ampliação dos direitos a serem garantidos (civis, políticos, sociais e culturais). O homem como ser social e histórico se constitui e se desenvolve enquanto sujeito e ao agir sobre a realidade apropria-se dos elementos naturais transformando e criando novos conhecimentos. 7 Os sujeitos construtores da história são pessoas que fazem parte da sociedade, pessoas comuns ou de vida pública, são sujeitos que de uma forma ou de outra deixam suas marcas no cotidiano de seu país e também na história da humanidade. E são essas relações sociais de transformação e produção que o trabalho, cultura e o desenvolvimento científico vão se mostrando como pontos chaves para a compreensão do mundo em que vivemos, pois todo esse processo é dinâmico e nós estamos inseridos como sujeitos e cidadãos. Devemos então, repensar o ensino de história não como um conhecimento pronto e acabado pautado na história baseada, somente em fatos, mas como ciência que tem importância social para compreender a igualdade, alteridade e as transformações pelas quais a sociedade passa. Portanto, podemos dizer que o processo histórico é contínuo, as transformações acontecem e são decorrentes das ações dos próprios homens, sendo assim, o passado só terá sentido quando interrogado e só será compreendido se os conceitos trabalhados forem claros. O grande desafio é adequar “o nosso olhar as exigências do mundo real”, desenvolvendo uma prática do ensino de história rica em conteúdo socialmente responsável. Portanto, o objetivo central da história deixa de ser o estudo do passado para ser o estudo da relação entre o presente e o passado, nas suas relações de continuidades e mudanças. O que precisamos entender que o passado não é apenas a sua data, a distância cronológica que separa um evento do outro. O passado torna-se passado quando estabelece com ele relações de mudanças. O passado histórico não é dotado de reversibilidade e nem podemos ter acesso direto a ele, a realidade que vivemos nem sempre contêm elementos do passado que nos deem a percepção da continuidade e rupturas necessárias a compreensão da nossa própria historicidade e da historicidade das sociedades da qual fazemos parte. Um exemplo são “os lugares”, com o passar do tempo são reocupados e somente teremos informações de como era aquele lugar, ou qual função ele tinha anteriormente se realizarmos levantamentos da cultura material ou vestígios dessa cultura para podermos detectar as transformações ocorridas no passado. Portanto, esses levantamentos estão pautados em 8 pesquisas que retratam o passado com seriedade, ou seja, baseando-se nos fatos históricos e utilizando-se de documentos que comprovem a veracidade dos fatos, para que não aconteça “interpretações equivocadas”. Sem o respeito a pesquisa, a História vira ficção e interpretar não pode ser confundido com “inventar”, isso vale tanto para os fatos quanto para os processos históricos. O professor deve, portanto, propiciar ferramentas para a construção de “uma nova visão” da disciplina de história, libertando-se de conceitos estereotipados, muitas vezes preconceituosos, abrir-se para novas maneiras de olhar e entender o mundo. A aprendizagem é social, não ocorre isoladamente, ela é construída simultaneamente com o desenvolvimento do ser humano, funda-se num processo contínuo que se modifica em função das situações e das ações exercidas pelos sujeitos no seu contexto histórico-social. Dessa forma, a disciplina de História além de permitir a compreensão da realidade, levanta possibilidades de mudanças a serem realizadas pelo homem com o objetivo de ampliar suas experiências coletivas. Os alunos chegam à aula de História carregando concepções, noções, ideias, conceitos, preconceitos e informações cujo aprendizado não foi realizado pelo professor ou pela escola, mas que teve origem na experiência pessoal, no convívio com os mais velhos e seus conhecimentos, no contato diário com seu grupo de amigos, sendo assim, conceitos sobre o tempo, identidade, são aprendidos antes mesmo de o aluno ingressar no ensino formal. As histórias individuais são parte das histórias coletivas, os fatos históricos não se explicam por si só, eles se tornam compreensíveis quando colocados em relação a outros fatos dentro de um conjunto maior. O aluno passará a compreender que não são as grandes personalidades que produzem a História e sim é esta que produz as grandes personalidades. É o fato histórico que produz aspessoas para conduzir o destino do país. O conhecimento histórico deverá propiciar desafios reflexões para que a sociedade seja entendida, permitindo o estabelecimento de uma sequência temporal e cronológica a partir da qual o tempo histórico pode ser construído. 9 É importante que a História não seja para o educando uma verdade acabada ou uma série de datas e fatos que se deve aprender pela memorização. Essa análise é fundamental para que o aluno perceba que não há verdades absolutas, mas diferentes sujeitos em que o homem é ao mesmo tempo produto e produtor da história. Os conteúdos curriculares não devem ser vistos como fim, como podemos constatar, o saber é produzido em consonância com a realidade histórica na qual se insere, consequentemente esta relação com o conhecimento histórico precisa ser explicitada e sistematizada para que os professores e educandos tenham uma abordagem crítica, ou seja, estejam atentos para as transformações e inúmeras formas de ensinar e aprender História. O conhecimento é construído a partir da internalização dos conceitos aprendidos culturalmente por intermédio da interação com o outro. Nesse sentido a escola deverá propiciar situações de aprendizagem em que os educandos troquem experiências e em seguida com o auxílio do professor sistematizem essas trocas. Para que isso aconteça o professor deverá realizar uma organização didática adequada, formulando hipóteses; classificando fontes históricas; aprender a analisar as fontes; analisando a credibilidade das fontes; e, por último, a aprendizagem da causalidade e a iniciação na explicação histórica. A história vive hoje uma “revolução documental” podemos utilizar uma infinidade de documentos na sala de aula. O acesso às fontes históricas deve contemplar textos históricos, imagens, filmes, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais, fotografias, visitas a museus, monumentos, maquetes, etc. As questões relacionadas à cultura também devem ser abordadas como elemento importante no processo do desenvolvimento do ser humano para a compreensão das relações pessoais. Para Vygotsky (1993), é a cultura que fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação das informações, conceitos e significações. 10 É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais para o plano individual interno - relações intrapessoais. Dessa forma a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem. O estudo sobre o modo de vida, organização social de uma sociedade uma cultura diferente da do aluno é uma situação de aprendizagem bastante significativa, pois, poderá estabelecer relações de tempo e espaço, adquirir informações históricas e culturais desenvolvendo o pensamento reflexivo. Outro elemento que pode ser utilizado são os relatos, trazer para a sala a história social, estimulando o aluno a pensar na gama de acontecimentos históricos e suas relações com a transformação do tempo e do espaço. A valorização da linguagem como fonte de estudos, por intermédio de entrevistas os educandos perceberão que utilizando o diálogo podem coletar dados para entender a sociedade em que vivem, ampliando assim, o conceito de tempo e espaço. O professor poderá promover debates, apresentação de música, interpretação, desenho, cartazes, uma infinidade de atividades de acordo com a idade dos seus alunos, estes são os primeiros passos para a organização das ideias que permeiam a produção de textos históricos. A sistematização das informações por meio da produção de texto individual ou coletivo é quase sempre o caminho percorrido, explorando a possibilidade para que o aluno registre o que aprendeu com significado. Nas últimas décadas a prática docente cotidiana teve mudanças significativas, mas “o velho e bom livro didático ainda é a muleta de muitos professores”, o saber ainda está fundamentado no conteúdo, na memorização e na história factual. A escola muitas vezes trata os alunos como máquinas que guardam e arquivam uma grande quantidade de informação e o conhecimento intelectual e humano é o que menos importa, pois o foco central é a expansão da 11 quantidade de informação, transformando em um abismo as questões epistemológicas e metodológicas. O professor pode ainda trabalhar com brincadeiras antigas e músicas sugerir um museu na sala de aula onde cada aluno levará um objeto antigo, com a ajuda da professora fará uma ficha de identificação (a quem pertence, de que é feito, quando foi produzido, anotar o máximo de informação possível). Por intermédio dos documentos como a certidão de nascimento, carteira de vacinação o educando consegue informações da sua própria história, dessa forma o educando entenderá que é sujeito da história e que faz parte da história de um grupo social. Nesse sentido, podemos identificar a memória como uma seletiva reconstrução do passado, baseada nas ações, nos códigos simbólicos que permeiam o mundo a nossa volta, enfatizamos que a memória é seletiva, pois só nos lembramos daquilo que é importante, quando há significado no presente, organizando e analisando os acontecimentos que se quer preservar. O tempo é mais do que uma ferramenta da vida cotidiana é o instrumento que destaca as mudanças e permanências. Ao invés de utilizarmos somente as datas é interessante apresentarmos também a produção cultural das sociedades que estão estudando, demonstrando que a linha do tempo é uma representação dos conflitos das transformações espaciais e culturais de uma dada sociedade. A cronologia é um conjunto de referências que sem dúvida deve ser trabalhada na sala de aula, não como processo de memorização, mas deve ser enriquecida, flexibilizada, estabelecendo sequências para que o aluno desenvolva a compreensão das representações que dão significação ao passado e as diferentes sociedades. A construção da noção de tempo pelos educandos deve ser gradual e contínua, ao trabalharmos a linha do tempo com os educandos é 12 preciso que fique claro que ela é responsável pelas transformações que o homem realiza no seu espaço sociocultural, pois se apresenta de forma diferente nas mais variadas culturas. A diversidade de enfoques metodológicos que foram sendo construídos especialmente nas últimas décadas nos faz pensar que não existe uma metodologia única para a pesquisa e para a prática pedagógica do ensino de História. O grande desafio é mostrar que é possível desenvolver uma prática de ensino de História rica em conteúdo, priorizando na sala de aula conceitos que são imprescindíveis para que o aluno tenha uma formação histórica que o auxilie em sua vivência como cidadão. 1.2 A história pessoal e social e a construção da identidade do educando A identidade é construída socialmente, os acontecimentos da vida de uma pessoa produzem sobre ela uma imagem de si mesma, que se constrói a partir das relações que ela estabelece com os outros: pais, família, parentes e amigos. Partir das questões de identidade para estudar a história torna-se significativo, pois nos permitem compreender com maior clareza as interseções entre o individual e o social. O trabalho com identidade envolve a construçãode noções de continuidade e de permanência, é fundamental a percepção para que o educando consiga identificar que o eu, o 13 nós e o outro são distintos, para que possa compreender no tempo passado, como as pessoas trabalhavam, vestiam-se e se relacionavam. Ao mesmo tempo, é importante a compreensão de que o “outro” é, simultaneamente, o “antepassado”, aquele que legou uma história possibilitando aumentar o conhecimento do educando sobre si mesmo, à medida que conhecem outras formas de viver, as diferentes histórias vividas pelas diversas culturas, de tempos e espaços diferentes. Conhecer o “outro” significa comparar situações e estabelecer relações e, nesse processo comparativo e relacional, o conhecimento do educando sobre si mesmo, sobre seu grupo, sobre sua região e seu país aumenta. As informações históricas locais expressam, assim, a intencionalidade de fornecer aos alunos a formação de um repertório intelectual e cultural, para que possam estabelecer identidades e diferenças com outros indivíduos e com grupos sociais presentes na realidade vivida - no âmbito familiar, no convívio da escola, nas atividades de lazer, nas relações econômicas, políticas, artísticas, religiosas, sociais e culturais. E, simultaneamente, permitir a introdução dos alunos na compreensão das diversas formas de relações sociais é a perspectiva de que as histórias individuais se integram e fazem parte do que se denomina História nacional e de outros lugares. Dessa forma, os conteúdos propostos para as séries iniciais estão constituídos, a partir da história do cotidiano do educando (o seu tempo e o seu espaço), integrada a um contexto mais amplo, que inclui os contextos históricos, parte do tempo presente no qual existem materialidades e mentalidades que denunciam a presença de outros tempos, outros modos de vida sobreviventes do passado, outros costumes e outras modalidades de organização social. Focando sempre na ideia de que conhecer as muitas histórias, de outros tempos, relacionadas ao espaço em que vivem, e de outros espaços, possibilita aos educandos compreenderem a si mesmos e a vida coletiva de que fazem parte. 14 O ser humano é uma construção simbólica que organiza um sistema compreensivo a partir da ideia de pertencimento. Ao mesmo tempo, produz uma “coesão social” e permite o reconhecimento do indivíduo diante do grupo, e em consequência disso estabelece a diferença em relação ao outro. É a vida social, portanto, que proporciona o quadro das trocas afetivas que, desde o começo da vida do educando vão construindo sua identidade por intermédio de estruturas culturais e dos mecanismos que toda sociedade cria para codificar e controlar o cotidiano da vida dos seus membros. Ou seja, há uma transferência do "todo social" para cada ser do grupo, desde o começo da vida do indivíduo no grupo, caracterizando uma identidade que é dele como uma pessoa, mas que é também a do grupo por meio dele. 1.3 Trabalhando com genealogia nas séries iniciais A genealogia é uma estratégia que contribui para a aquisição de uma identidade pessoal pelos alunos e a compreensão de uma realidade histórica que se apresenta mais próxima e concreta, por meio desta estratégia os alunos adquirem e desenvolvem conceitos que direta ou indiretamente podemos associar a noções temporais como: gerações; descendência; ascendência. A construção de genealogias pelos alunos, nos diferentes níveis de ensino, contribuirá para promover a identidade pessoal de cada aluno e a compreensão da realidade histórica que permitirá desenvolver valores culturais e afetivos, que são muitas vezes esquecidos pela sociedade atual (sobretudo na família) contribuindo para a construção da identidade. Identidade essa, que se constrói a partir do conhecimento e da forma como os grupos sociais viveram e se organizaram no passado, e como se estruturaram para fazer face aos problemas do presente. (Proença, 1994). O trabalho com genealogia não está pautado somente na descendência, mas na forma como o educando vai lidar com as fontes, identificando suas origens, buscando sua identidade regional ou social esquecida. 15 A genealogia é também uma sucessão de nomes próprios que classificam cada indivíduo numa linha de descendência. Os estudos genealógicos contribuem para a criação na escola de uma metodologia ativa, capaz de fazer os alunos reviverem o passado da sua família de forma gratificante e motivadora. Proporcionar aos educandos uma forma de estudar a história contemporânea, as grandes mudanças tecnológicas, científicas, econômicas e sociais que ocorreram nos últimos cem anos. O estudo da história da família na escola estimula um trabalho de investigação rico e significativo partindo das vivências e interesses dos educandos, do seu presente familiar para o seu passado. A História da Família fornece um tipo de investigação que começa com a vida do educando e os seus interesses, nesse contato com a informação sobre o passado anterior vai instigando ainda mais a curiosidade, não porque estão estudando a vida de um rei ou rainha, mas porque estão estudando a sua história. Além dos educandos entrarem em contato com a sua história de vida ele também vai desenvolver noções de temporalidade, como a compreensão do tempo histórico. Ao sugerir aos educandos que realizem a confecção da árvore genealógica o professor deverá tomar cuidado com preconceitos ou com modelos de família existente atualmente, poderão surgir problemas com os educandos que moram com a tia, avó, etc. Procurar tratar essas questões de forma natural para que não ocorra constrangimento para o educando. Partimos do estudo da história da família e avançamos para a história local e depois a história nacional, demonstrando que o educando está inserido nesse contexto. Ao abordar o passado familiar, o educando deverá reconhecer e localizar datas e fatos, em linhas de tempo estabelecendo relações de parentesco devendo construir árvores genealógicas até à 3ª geração. 16 Podemos construir uma árvore genealógica bem simples, normalmente as árvores genealógicas aparecem com as gerações mais afastadas em cima e as pessoas que vivem na atualidade em baixo. A árvore induz, no entanto que esta deveria ser ao contrário, isto é, a raiz e tronco, à parte de baixo, seria o início da genealogia, e partir-se-ia para cima, dos ramos mais grossos para os mais finos, os mais numerosos, as pessoas da atualidade, portanto mais ramos em princípio. A Genealogia é parte integrante da História Social, seu objetivo é o estudo da origem da família, é interessante que os educandos ao confeccionar a sua árvore, além de indicar o nome dos seus familiares incluam outros elementos: como a data de nascimento e morte (nos casos em que já faleceram) e respectivos locais, a profissão, o número de filhos, outras informações interessantes como brincadeiras, programas de TV, podem ainda utilizar fotografias, objetos, enfim uma infinidade de informações sobre a sua família. De acordo com Solé (2005), o professor deve explorar várias árvores genealógicas desde os simples esquemas até as genealogias de reis, linhagens de famílias importantes, para que os educandos possam verificar a importância que a genealogia teve ao longo do tempo, em vários períodos, em diferentes sociedades e contextos. Pode sugerir algumas sugestões para que os educandos realizem os registros dos dados como, por exemplo: símbolos e cores para: nascimento, casamento, óbito, também podem realizar a linha do tempo da família. Na sala de aula o professor pode extrapolarpedindo para que os educandos utilizem a imaginação e descrevam como seria a vida de uma família pré-histórica, ou então, de uma família de indígenas, aproveitar para abordar tema como preconceito racial entre outros. 17 Sugestão de Atividades Conhecendo os colegas Comece com a apresentação dos alunos: 1- Peça aos alunos que façam um desenho e escrevam seu nome, para se identificarem como autores. 2- Recolha os desenhos, dobre-os e coloque-os dentro de uma caixa para misturá-los. 3- Passe a caixa aos alunos para que peguem um dos desenhos, sem escolher. 4- Em pé, diante dos colegas, a criança deverá apresentar para a turma o desenho. O autor do desenho deve se identificar e dizer seu nome, cidade onde nasceu e o que mais gosta de fazer. 5- Quando os alunos terminarem de se apresentar deverão colar os desenhos no caderno. 6- Em uma conversa informal com os educandos questione: O que é ser criança? Como são as crianças do lugar onde você mora? Trabalhando com o nome/sobrenome Explicar que existem várias formas de escolher o nome dos filhos, por exemplo, homenagear um santo ou pessoa famosa. O significado do nome nem sempre é conhecido ou levado em consideração pelos pais, diga aos educandos que essa informação é uma curiosidade. Além do nome, nós recebemos um sobrenome, que geralmente é formado pelo sobrenome mãe e do pai. Escreva no quadro para que os educandos visualizem Nome: Mariana Pereira Lima 18 Pai: Mauro Gonçalves Lima Mãe: Ana Souza Pereira Lima Pergunte as crianças de quem eles receberam esse sobrenome Pai Mãe Há pessoas que gostam do seu nome, outras não. E você o que acha do seu nome? Em casa, procure saber a história do seu nome, pergunte: a- Quem escolheu o seu nome? b- Qual o significado do seu nome? c- Alguém na família possui nome igual ao seu? Quem? Observação da própria identidade Objetivos do aprendizado Ajudar os alunos a refletirem sobre sua identidade. Compreender que todos pertencem a grupos diferentes. Recursos Um espaço amplo e livre. Atividade 19 1. Peça aos alunos para formarem um grande círculo e explique que eles devem se agrupar de acordo com certas características que têm em comum. 2. Quando uma das categorias abaixo for chamada, os alunos devem andar pela sala repetindo a característica que se aplica a eles. Quando encontrarem alguém repetindo a mesma coisa, devem juntar-se e continuar andando pela sala, repetindo a característica até que todos os grupos estejam formados. 3. Repita a atividade para outras categorias e incentive os alunos a criarem suas próprias categorias. No final, forme um grande grupo. 4. Para tornar a atividade mais interessante, você pode introduzir o uso de diferentes vozes – sussurrando quantas pessoas existem na sua família; cantando o nome da sua comida favorita; gritando a cor do seu sapato; fazendo o barulho do seu bicho preferido, etc! Algumas características possíveis: Programa de TV favorito Matéria preferida Mês do seu aniversário Cor ou estilo do sapato Tarefas que faz em casa Comida favorita Estação do ano favorita Número de pessoas na família Esporte favorito Animal favorito Discussão em classe Discuta sobre o que foi aprendido nesta atividade. 20 Os grupos sempre foram compostos das mesmas pessoas? Os alunos formaram grupos com pessoas com as quais pensavam não ter nada em comum? Como se sentiriam fazendo parte de um grupo? Como poderiam ter se sentido caso ficassem fora de um grupo? É sempre possível adivinhar as características das pessoas apenas olhando para elas? Exploração da identidade Objetivos do aprendizado Explorar a ideia de identidade Recursos Uma folha de papel e uma caneta para cada aluno. Peça aos alunos para pensarem sobre todas as coisas que constituem a sua identidade e fazerem uma lista das mesmas numa folha de papel. Eles devem começar com seu nome e então pensar sobre a sua família, amigos, interesses, gostos e aversões, e personalidade. Peça para compartilharem a lista com um amigo. Discuta com a classe sobre as diferentes categorias que constituem as identidades dos alunos. Os alunos deverão preencher a folha individualmente, utilizando as informações sobre sua identidade que listaram anteriormente. Distribua perfis de crianças do Brasil, Cuba e Peru. Em duplas, peça aos alunos para completarem uma segunda folha que deve ser dividida com seu par, selecionando informações do perfil que receberam. 21 Discussão em classe Discuta as identidades das pessoas. Quais são algumas das diferenças e semelhanças entre as crianças da América Latina? Que tipos de coisas todas as crianças têm em comum? Os alunos ficaram surpresos com o que descobriram? O que eles gostariam de perguntar as crianças desses países? 22 E ste so u eu Escreva três outras coisas que fazem parte da sua identidade. Estas poderiam ser: Algo sobre sua família ou seus amigos Seus interesses As coisas que você gosta ou não gosta Sua personalidade 1....................................................... ......................................................... ..............2......................................... ......................................................... ......................................................... ...................................3.................... ......................................................... ................................................. ......................................................... ......................................................... ......................................................... ......................................................... ......................................................... ... Nome............................................ Sobrenome.................................... Endereço............................................ ......................................................... .......................................... Data de nascimento....................... Lugar onde nasceu......................... Nacionalidade..................................... ... 23 2 CONCEPÇÕES DO TEMPO E TEMPORALIDADE HISTÓRICA O tempo é um dos conceitos mais complexos de entendimento, para os estudiosos que se dedicaram a entendê-lo, a concepção de tempo na história varia de acordo com a sociedade que o “lê”. Ou seja, a história é profundamente marcada pela mudança tanto no campo da realidade natural e física, como nas criações culturais humanas. Dependendo do ponto de vista de quem o concebe, o tempo pode abarcar concepções múltiplas. De acordo com Reis (1994), temos o tempo na perspectiva da física e da filosofia. O tempo da física refere-se aos movimentos naturais, cosmológicos e o da filosofia é o tempo das mudanças vividas pela consciência. Ao tempo físico associam-se características como: medida, quantidade, abstração e reversibilidade e o tempo vivido concreto e a reflexão marcam o tempo da consciência. Na mediação entre o tempo físico e o tempo da consciência, situa-se o tempo coletivo, das sociedades, ou seja, o tempo histórico que cria artifícios capazes de promoverpontes de ligação entre o tempo físico e o tempo da consciência: o calendário, a genealogia e os vestígios arqueológicos (Dutra, 2003) Para cada cultura, há uma noção de tempo, a ideia de tempo deve ser analisada numa perspectiva histórica, como resultante de múltiplas experiências de mundo, dessa forma não se pode falar em apenas um conceito de tempo, mas de concepções de tempo. Para Ricoeur, o tempo histórico refere-se à vida humana e o calendário é indispensável, o tempo do calendário ultrapassa o físico e o vivido para se tornar original, é um 24 evento capaz de conferir a ordem dos acontecimentos e mudar o curso da história. Outro conceito é o de geração, trata-se de vida compartilhada. O tempo histórico representa permanência de gerações e sequência de gerações. A terceira conexão são os vestígios, os arquivos, pois as gerações deixam sinais, marcas, que são buscadas pelo historiador. Koselleck, aborda o tempo histórico como algo entre o campo da experiência e o tempo da espera: a experiência é o passado atual, cujos eventos foram integrados e podem ser rememorados por uma elaboração racional e por comportamentos inconscientes, e a espera é o futuro atualizado no presente. Na perspectiva dos Annales, o tempo histórico é estrutural influenciada pelas Ciências Sociais vai incorporando novos objetos de análise e amplia o campo de pesquisa do saber histórico. Promove ainda uma mudança no campo das técnicas e dos métodos. Se antes a documentação era relativa ao evento e ao seu produtor, agora ela é relativa ao campo econômico-social: ela se torna massiva, serial e revela também o duradouro, a permanência, as estruturas sociais e é justamente esse conceito de "longa duração" que permitiu maior consistência ao terceiro tempo do historiador (Dutra, 2003). Os documentos se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à sua vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas crenças, as diversas formas de vida. Dessa forma podemos situar três tendências quanto ao modo de relacionar o presente e o passado: a positivista, a historicista e a escola dos Annales. Na abordagem positivista, o tempo histórico confunde-se com o tempo do calendário; as sociedades e os eventos são lineares, confundindo-se com o passado das sociedades humanas, esse passado guarda pouca relação com o presente e quase nenhuma com o futuro, já abordagem historicista, o tempo histórico é percebido como tempo social, ou seja, os eventos são percebidos em simultaneidade interna à sociedade, é um tempo marcado pela irreversibilidade, direcionado, heterogêneo, descontínuo, múltiplo e reflexivo (Reis, 1994). 25 A nova história privilegia a documentação massiva e involuntária em relação aos documentos voluntários e oficiais. Nesse sentido, os documentos são arqueológicos, pictográficos, iconográficos, fotográficos, cinematográficos, numéricos, orais, enfim, de todo tipo. O tempo histórico é uma representação do presente sobre um tempo passado, ou seja, o tempo histórico é sempre produto do homem presente, fazendo com que o passado, e/ou o futuro, sejam entidades instáveis na construção do conhecimento. Assim, as experiências passadas não estão cristalizadas, estabelecidas em um tempo vivido, não permanentemente. Estarão sempre sujeitas a uma nova leitura, uma nova interpretação e, fundamentalmente, uma reconstrução. As noções de tempo introduzidas nas séries iniciais devem ser trabalhadas com a ideia de ordenação que consiste em estabelecer a sequência de acontecimentos, vivenciados, o que implica uma identificação do que ocorre antes e do que ocorreu depois. Essa noção está se formando, por exemplo, quando o educando relata um acontecimento identificando o que aconteceu antes e o que aconteceu depois, quando coloca em certa ordenação os quadros de uma história, quando colocam em sequência os acontecimentos de sua vida. Na construção do conceito tempo é necessário estabelecer uma relação entre o tempo cronológico, o tempo social (vivido) e o tempo histórico. Conhecer o conceito tempo demarcado em sequência linear, dia, meses e anos é fundamental para que o conceito seja apreendido. Dessa forma, um dos objetivos da História é estudar o passado, buscando as explicações para entender o tempo histórico presente. Sendo assim, o homem tem consciência que é um ser histórico, temporal e finito. Quando interrogamos: O quê? 26 Quando? Por quê? Como? Para quê? Onde? Sobre o período histórico daquele homem (ou sociedade), vamos entendendo melhor o passado e o seu presente. E a partir dessas observações e conclusões, podemos direcionar, planejando melhor o futuro. Alguns especialistas em História apontam que o Tempo é um elemento central na História, e que um dos principais problemas que o professor ao ministrar a disciplina de História enfrenta é a compreensão do conceito de tempo pelos educandos. Boa parte dos estudos contemporâneos a respeito do desenvolvimento da educação histórica parte do pressuposto de que este conceito é abrangente e ambíguo, necessitando de uma atenção maior voltada para o pensamento dos educandos, inter-relacionando com outros conceitos tais como: explicação, compreensão e empatia em História, interpretação da evidência, mudança e objetividade (Barca, 2000). A História tradicional trabalha com a ideia de tempo na sua suposta linearidade. A ideia da uniformidade do tempo dominou largamente a história na sequência temporal dos acontecimentos, ainda hoje encontramos essa abordagem principalmente em livros didáticos de História. Cada sociedade tem um tempo diferenciado mesmo vivendo um tempo simultâneo ao das sociedades tecnológicas. São esses elementos que fornecem as ferramentas para que a História seja constantemente reescrita. Isso, porque cada época, cada sociedade histórica tem uma preocupação e questionamentos que diferem de suas antecessoras. A história das sociedades é feita por homens que vivem em um espaço e em um determinado tempo histórico, portanto, quando estudamos História, vamos adquirindo consciência da existência de elementos transformadores e de dinâmicas dentro das sociedades. Vamos entendendo as transformações e as mudanças tanto no sentido individual quanto no coletivo. Esse recurso de utilizarmos a linha do tempo é apenas um exemplo didático para melhor compreensão do próprio processo histórico, o que precisa ficar claro que a História não é estática, e que aquelas datas são apenas referências. As diversas concepções de tempo são produtos culturais que serão compreendidas, ao longo de uma variedade de estudos e acesso a conhecimentos pelos alunos durante sua escolaridade. 27 Vários estudiosos ao longo dos anos estudaram as diversas formas de conceber o tempo, para a História esse conhecimento pode ser entendido como a construção pessoal e social, considerando que está associado à memória e esta às identidades sociais dos homens, nas diferentes trajetórias, sofrendo variações nas diferentes épocas e culturas. Elias (1998), afirma que o tempo, muito especialmente o do relógio, é uma das sínteses mais poderosas que os seres humanos alcançaram por intermédio da relação de aproximação e de distanciamento com os vários níveis da experiência, o físico, o biológico e o individual. O tempo sempre foi, pelo menos na história da sociologia e da antropologia, algo considerado como avassalador relativamente à experiência concreta dos indivíduos ao longo da sua história de vida e ao longo da macro-história. O tempo não é natural e sim uma instituição social que resulta de um longo processode aprendizagem. Esse aprendizado é histórico, uma vez que o indivíduo só pode construir algo a partir de um patrimônio de saber já adquirido. Ao mesmo tempo, essa aprendizagem é individual, pois mesmo o educando, para que possa desempenhar seu papel de adulto, desenvolve um sistema de autodisciplina conforme essa instituição social que é o tempo: nas sociedades industrializadas o tempo exerce de fora para dentro, sob a forma de relógios, calendários e outras tabelas de horários, uma coerção que suscita o desenvolvimento da autodisciplina no indivíduo. A transformação da coerção exercida de fora para dentro pela instituição social do tempo num sistema de autodisciplina que abarque toda a existência do indivíduo, explicitamente, a maneira como o processo civilizador contribui para formar os hábitos sociais, que são partes integrantes de qualquer estrutura da personalidade. 28 Nesse sentido Elias (1998), procura delimitar a noção de tempo por intermédio das particularidades de cada sociedade no curso da história, e confrontando as diversas características históricas e culturais no que se refere à relação dos homens com o tempo. A análise histórica realizada por Elias é importante, pois a instituição tempo foi passando por diversos processos como, por exemplo, no que se refere ao monopólio dessa determinação que, no início cabia aos sacerdotes, passando a ser dividida entre estes e as autoridades leigas, para finalmente passar a ser monopólio do Estado. A autodisciplina em matéria de tempo, a exemplo de outras capacidades sociais, só se desenvolveu muito lentamente ao longo dos séculos e só atingiu sua forma atual ligando-se ao surgimento de exigências sociais específicas. Dessa forma, o que muda é a perspectiva de utilização da dimensão temporal na construção do conhecimento. No final do século XX, os historiadores, expandem a noção de temporalidade, e o tempo deixa de ser um elemento fixo explicativo da causalidade, da sequência temporal, cronológica, linear e teológica, para se transformar em uma concepção não linear, não teológica, fragmentada e podendo ocorrer em velocidades diferentes, segundo os fenômenos estudados. Sendo assim, a compreensão da dimensão histórica da realidade pode ser entendida a partir de uma adequada relação dialética entre passado e presente, o que poderá ser considerado como uma das finalidades do ensino de História da atualidade. Por se tratar de um conceito abstrato, a representação do tempo aparece em ordem cronológica como sendo o tempo histórico. Nesse sentido, parece necessário buscar a compreensão de que as relações temporais são de níveis múltiplos e de grande complexidade. Para Elias, (1988) 29 o tempo pode ser considerado um símbolo conceitual de uma síntese em vias de constituição, isto é, de uma operação complexa de relacionamento de diferentes processos evolutivos. O que significa dizer que a aprendizagem do tempo é algo que se reveste de uma profunda dimensão cultural e, por conseguinte, variável historicamente e que está ligado às formas como se compreende, se explica, se interpreta e se seleciona em História. E ainda, a ideia de temporalidade segundo regras culturais e historicamente apresentadas, é algo que não se explica, por si só, a construção da ideia de tempo no indivíduo, implica uma construção cognitiva subjetiva (Miranda, 2003). A compreensão do tempo histórico constitui uma síntese da compreensão histórica do educando, que depende não só do seu desenvolvimento cognitivo, mas da qualidade do que vai ser apreendido. Nessas perspectivas, o tempo histórico, é a construção de sujeitos históricos em um dado momento da História, considerando a permanência, a simultaneidade e a mudança. Assim, o tempo pode ser entendido como uma dimensão cultural existentes em tempos não necessariamente sequenciais em termos cronológicos. Piaget e a noção de tempo Em seus estudos Piaget trouxe importantes contribuições para o entendimento do processo de aquisição do tempo enquanto um conjunto de operações que permitem coordenar os movimentos dotados de velocidade, tanto dos objetos externos quanto dos estados internos aos sujeitos. Em seus trabalhos sobre a noção de tempo, Piaget realizou estudos sobre a sucessão dos acontecimentos percebidos e sobre a ideia de simultaneidade. O método empregado nos dois estudos foi muito semelhante e consistiu em dois carrinhos que se deslocavam de um ponto a outro no espaço. Os carrinhos podiam partir do mesmo ponto ou de pontos diferentes, ter a mesma velocidade ou velocidades diferentes e ainda andar durante o mesmo tempo, ou em tempos diferentes. 30 Piaget perguntava às crianças: qual carrinho tinha andado mais tempo, ou qual tinha maior velocidade, ou ainda qual tinha percorrido a maior distância. Ele descobriu que as crianças que se encontravam no período pré-operacional não conseguiam coordenar as sucessões temporais e espaciais e também não julgavam que os movimentos eram simultâneos. Em geral, confundiam os conceitos de tempo, distância e velocidade, não distinguindo muito bem um conceito do outro. Ao fazerem julgamentos sobre tempo, por exemplo, afirmavam que a duração era sempre proporcional ao caminho percorrido. Dessa forma, concluiu que o conceito de tempo somente é adquirido quando a criança já tem a noção de velocidade sob uma forma operatória, isto é, como uma relação entre o espaço percorrido e essa dimensão (tempo), comum às diferentes velocidades. Considerou ainda que os conceitos de tempo, distância e velocidade são construtos, não estão presentes a priori na mente da criança, mas requerem uma construção. Inicialmente (estágio I), a criança pré-operacional julga somente levando em consideração o ponto de parada. No estágio II, a criança começa a considerar outros fatores, como o ponto de partida. É o período em que inicia a descentração, mas ainda intuitivamente. Finalmente, no estágio III, a criança obtém o pleno domínio desses conceitos. Piaget trabalha com a hipótese da existência de um tempo operatório que pode ser quantitativo ou métrico e consiste em relações de sucessão e duração, predominando as noções de duração e sucessão baseadas na percepção. Ele aponta conhecimentos que possibilitam a compreensão do educando na organização de procedimentos metodológicos para o trabalho com 31 História nas séries iniciais em que a noção de tempo e espaço é construída, juntamente com a noção de espaço, uma vez que ambas as noções são aspectos essenciais da lógica dos objetos e constitui um todo indissociável. Segundo Piaget (1946) o tempo é a coordenação dos movimentos: quer se trate dos deslocamentos físicos ou movimentos no espaço, quer se trate destes movimentos internos que são as ações simplesmente esboçadas, antecipadas ou reconstituídas pela memória, mas cujo desfecho e objetivo final são também espaciais. E o espaço é um instantâneo tomado sobre o curso do tempo e o tempo é o espaço em movimento, os dois constituem o conjunto das relações de implicação e ordem que caracterizam os objetos e os seus deslocamentos. De acordo com Piaget, a compreensão da noção de tempo é essencial para a compreensão da História que supõe a noção de tempo, sob o duplo aspecto da avaliação da duração e da seriação dos acontecimentos (Dutra, 2003). Ao analisar a resposta das crianças, no que se refere à noção de passado, afirma que mesmo frente a realidades mais concretas ou mais conhecidas, o passado parece concebido em função do presente e não inverso, ou seja, as crianças veem o passado com os olhos do presente: na verdade o passado é para a criançaapenas um decalque do presente, mas com uma espécie de aparência antiquada. Nesse sentido, o passado é um vasto reservatório em que se encontram reunidos todos os embriões das máquinas ou dos instrumentos contemporâneos. (Piaget, apud Dutra, 2003). No que se referem à relatividade dos conhecimentos históricos as crianças vão deixando de ter uma análise egocêntrica para desenvolver um pensamento descentrado, admitindo a relatividade do conhecimento histórico. O estudo do conceito de tempo histórico, então, significa um meio para atingir outros fins, uma vez que permite a estruturação dos conteúdos de história, orientada por uma visão de totalidade. O processo de construção do referido conceito contribui para a transformação do sistema cognitivo, permitindo adquirir novos conhecimentos, organizar os dados de outra forma, transformar inclusive os conhecimentos anteriores. A estruturação dos conteúdos da história nas séries iniciais do ensino fundamental, segundo o conceito epistêmico de tempo histórico, é fundamental para o processo de assimilação dos conhecimentos, possibilitando definir estratégias de aprendizagem específicas para o desenvolvimento, em crianças, de uma orientação teórica na perspectiva da história. 32 De acordo com Fermiano (2004), se utilizarmos a teoria de Piaget para trabalharmos a construção dos três níveis de tempo histórico: tempo de curta duração (acontecimento, fato histórico), tempo médio ou média duração (situação econômica, social, política, cultural em determinada época), tempo de longa duração (estrutura: tipo de sistema ou formação social, econômica, política e cultural), de acordo com sua compreensão, sua vivência acontecerá um entendimento da disciplina de História de forma prazerosa. O educando procura encontrar explicações para o passado elaborando-as a partir da sua vivência no mundo que a cerca. A pesquisa de Oliveira (2000) observa que o educando tem dificuldade no período operatório concreto, de analisar situações que envolvam duas variáveis ao mesmo tempo: idade e ordem dos nascimentos, assim como, “não relaciona ideia de sucessão no tempo”, isto porque a ideia de tempo histórico é uma construção causal e não meramente cronológica. De acordo com Oliveira (2000), ao analisarmos as características de pensamento das crianças em relação ao passado observamos que ela não interpreta a história como uma série de acontecimentos sem nenhuma ligação, procura estabelecer relações para que os acontecimentos, fatos, sejam relacionados com um todo que ocorre simultaneamente e que há implicações em conjunto. O ensino de História tem mostrado uma exigência cada vez maior neste sentido, pois as representações que os educandos fazem a respeito do mundo que a cerca, deve ser o ponto de partida para o trabalho, mas, para isto é preciso ouvir as ideias dos educandos, não precisa concordar, a princípio apenas ouvir. Utilizando das palavras de Fermiano, alfabetizar o olhar a respeito das imagens, as impressões, a oralidade, são novos pressupostos para o ensino 33 de História que muito têm a ver com a teoria piagetiana porque pressupõem a ação do indivíduo em interação com o meio como princípio da aprendizagem. 2.1 Linha do tempo Antes de trabalhar a linha do tempo para que os educandos possam exercitar a ideia de sequência temporal, destacando os conceitos de antes e depois seriam interessantes à utilização de imagens iconográficas, objetos do passado e do presente, dialogar com os educandos e explicar que em algumas sociedades contemporâneas alguns objetos antigos ainda são utilizados. É importante que o professor não generalize os conceitos de antigo/moderno, sugerir que tragam de casa fotografias ou imagens de algo que seja antigo e outro moderno e juntamente com os educandos vá organizando cronologicamente. Cuidado com as datações muito grandes com 2º e 3º anos, evitar a utilização com numeração 1995, 2000, 2005, etc. Ao invés disso, utilize marcos como: entrada na escola, antes do nascimento do bairro, depois do nascimento do bairro, antes do nascimento de Londrina, depois do nascimento de Londrina, etc. 2.2 Tempo na nossa vida É interessante que o professor trabalhe em sala com registros da rotina dos educandos tanto doméstica quanto escolar, para que os educandos construam uma visão de conjunto da organização do tempo no dia-a-dia e percebam possíveis mudanças entre um ano escolar e outro. É importante que, as informações levantadas sejam compartilhadas, discutidas e avaliadas pela classe. Ao trabalhar com a linha do tempo é necessário que sejam realizados questionamentos do tipo: aumentou a linha do tempo de um ano para o outro? Quantos anos? Por quê? 34 Trabalhar com uma diversidade de linha do tempo, um exemplo é a carteira de vacina para que possam perceber as mudanças e permanências. Faça a linha do tempo das vacinas. 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano ______________________________________________________________ Preencha o quadro com o nome das doenças que já teve: Vacina 0 Nasc. 2 meses 4 meses 6 meses 15 meses 15-18 meses 5-6 anos 10-13 anos >=20 anos Tuberculose BCG Hepatite B VHB 1ª dose VHB 2ª dose VHB 3ª dose VHB 3 doses (a) Poliomielite VAP 1ª dose VAP 2ª dose VAP 3ª dose VAP Reforço Haemophilus Hib 1ª dose Hib 2ª dose HIB 3ª dose Hib Reforço Dift. Tét. Per. DTP 1ª dose DTP 2ª dose DTP 3ª dose DTP 1º Reforço DTP 2º Reforço Tétano, Difteria Td 3º 35 Reforço Tétano 10/10 anos (d) Saram. Parotid. Rubéola VASPR 1ª dose VASPR 2ª dose (b) VASPR 2ª dose (c) Obs: Trabalhar esse conteúdo juntamente com a disciplina de Ciências Outra sugestão é o trabalho com o calendário Vocês sabem quantos meses tem um ano? E quais são os nomes dos meses? Em que ordem eles aparecem no calendário? Quantos dias têm cada mês? Que acontecimentos marcaram cada mês? Solicitar aos alunos que levem para a classe diversos calendários presentes em “folhinhas”, agendas, etc. Inicialmente, proponha apenas uma observação dos diversos tipos de calendários. Para aprofundar o registro da vivência do tempo, proponha a montagem de um calendário para registrar a vivência coletiva, por meio destes passos: Pegar uma folha grande de papel pardo, dividir em doze partes iguais, colocar o nome de cada mês na parte superior, respeitando a ordem. A cada mês, os alunos registram com colagens, desenhos ou escritos: os aniversariantes da classe, fatos vividos pela classe naquele mês; saída, atividades interessantes, o que aprenderam etc., comemorações do mês. 36 Sugerir que levem para a sala de aula, calendários antigos. Escolha um mês, dia e ano e peça para que verifiquem em que dia da semana o mês escolhido começou e em que dia terminou, se houve semelhanças e/ou diferenças. 2.3 Entendendo as diferentes representações do tempo: tempo cronológico, e histórico Introduzir variados registros da passagem do tempo e os acontecimentos presentes no dia-a-dia dos alunos para que os conceitos de tempo de longa duração como: séculos, décadas, etc., sejam apreendidos e relacionados,com noção de fatos históricos, é muito importante fazer a relação do fato histórico com a vida do aluno, explicar que da mesma forma que elencamos fatos importantes na nossa vida à sociedade em um determinado momento também registra fatos que são relevantes para aquele momento, sendo assim, podemos justificar as datas oficiais, que temos tanta dificuldade em trabalhar. Trabalhar linha do tempo no 4º ano fazendo a relação com a história da cidade faça questionamentos como: Quando você nasceu, a (cidade que o aluno nasceu) já tinha nascido? Por quê? Represente matematicamente utilizando o material dourado1 quantos anos tem sua cidade? 1 O Material Dourado Montessori destina-se a atividades que auxiliam o ensino e a aprendizagem do sistema de numeração decimal-posicional e dos métodos para efetuar as operações fundamentais. Este material baseia-se nas regras do sistema de numeração, inclusive para o trabalho com múltiplos, sendo confeccionado em madeira, é composto por: cubos, placas, barras e cubinhos. O cubo é formado por dez placas, a placa por dez barras e a barra por dez cubinhos. É de grande importância na numeração, e facilita a aprendizagem dos algoritmos da adição, da subtração, da multiplicação e da divisão. O Material Dourado desperta no aluno a concentração, o interesse, além de desenvolver sua inteligência e imaginação criadora, pois a criança está sempre predisposta ao jogo. Além disso, permite o estabelecimento de relações de graduação e de proporções, e finalmente, ajuda a contar e a calcular. 37 Exemplo: faça sete barrinhas iguais a essa para representar os 72 anos de uma cidade Registre em décadas na linha do tempo a idade de sua cidade. Não se esqueça de trabalhar os intervalos de um ano para o outro, de uma década para a outra e assim sucessivamente. |------------|--------------|-------------|-------------|------------|-------------|----------| 10 20 30 40 50 60 70 Com os 5º anos faça a relação da cidade, estado e o Brasil. Quem nasceu antes, o Brasil ou (estado que mora). Por quê? Quem nasceu antes, o (estado) ou (cidade)? Por quê? Quando o (estado) nasceu quantos anos o Brasil tinha? Represente matematicamente utilizando o material dourado a idade do seu estado em séculos na linha do tempo. Questione com quantos anos o seu estado tinha quando você nasceu e o Brasil? Pesquise em livros, jornais e revistas o que estava acontecendo em outros países quando você nasceu? Traga pelo menos três acontecimentos. Se julgar necessário, proponha um trabalho oral referente às atividades realizadas no dia de hoje pelos alunos. O que fizeram, hoje, antes de vir à escola? O que estão fazendo na escola? O que pretendem fazer depois que saírem da escola? 38 Tempo Cronológico Associar as variações e os ritmos a unidades temporais como o dia, noite, estações, utilizar o conceito de semana e de referências sociais ou culturais (batizados, casamentos, espetáculos desportivos e teatro). Identificar alguns aspectos simples do relógio como medidor do tempo. Utilizar o conceito de ano a partir de referências socioculturais (festas, aniversários, férias). Utilizar o número e as unidades temporais: minutos, hora, semana, mês, estação e ano. Utilizar autonomamente a leitura do relógio e do calendário, coordenar hierarquicamente as distintas unidades de tempo, utilizar o conceito de "antes de 1500," como ponto de referência a partir do qual se contam os anos. (não esqueça que essa datação é convenção para explicar a ocupação indígena antes de 1500, ou seja, antes da chegada dos europeus), aplicar o conceito de geração enquanto medida de tempo, utilizar o conceito de século como unidade de medida de tempo histórico, elaborar cronologias sobre a história da própria pessoa ou da família. Tempo Histórico (categorias temporais) Identificar convenções temporais cotidianas (agora, neste momento, hoje, ontem, 39 anteontem, amanhã, mais tarde, antigo, novo, passado, presente, há muito tempo...), ordenar corretamente uma sucessão de imagens sobre fatos ou ações da vida cotidiana, do princípio para o fim e do fim para o princípio, identificar pelo menos duas ações ou fenômenos que ocorram ao mesmo tempo ("quando o avô era pequeno não havia televisão"), identificar por meio de imagens as ações do cotidiano que duram mais e as que duram menos, situar um conjunto de acontecimentos simples de natureza pessoal, familiar e local em uma sequência cronológica, identificarem algumas mudanças entre a época atual e a época de quando os seus pais ou avós eram crianças, identificar sucessões, simultaneidades, mudanças e continuidades simples a partir de um conto situado no passado com referências históricas reais. Elaborar árvores genealógicas simples, construir uma barra cronológica simples, utilizando símbolos convencionais para registrar as atividades desenvolvidas ao longo do dia, da semana ou, ainda, sobre a sua própria vida ou sobre a vida de personagens, em uma sequência cronológica correta. Construir uma barra cronológica simples com desenhos tendo por base os acontecimentos descritos num relato. Associar uma iconografia variada a uma determinada época histórica, seriar corretamente um conjunto de imagens ou de objetos simples segundo a sua antiguidade e ordem cronológica, identificar aspectos de mudança a partir da observação ou da “evolução” de determinados objetos ou artefatos ao longo do tempo, ordenar, de modo intuitivo, imagens referentes a diversos períodos históricos, identificar a simultaneidade de objetos ou materiais de diversas procedências espaciais e temporais, analisar objetos, jogos, costumes, expressões (orais) ações que revelem uma continuidade ou curtas mudanças ao longo do tempo, demonstrar que se tem consciência de uma série de mudanças em um reduzido espaço de tempo (identificar semelhanças e diferenças entre duas gerações), ordenar corretamente as diferentes fases de construção de um determinado produto (pão, tecido...). Elaborar uma barra cronológica sobre a vida de uma personagem e as suas atividades, confeccionar uma barra cronológica que reflita a história da localidade nos últimos anos, confeccionar numa barra cronológica da história da sua família mediante a elaboração de árvores genealógicas complexas, correlacionar, numa barra cronológica, personagens da sua família com instrumentos, materiais diversos, paisagens da sua época. Para abordar o tempo, mais especificamente a noção de duração, sucessão e simultaneidade, a temática referente ao município é bastante adequada: os povos que se 40 instalaram em diferentes momentos históricos, porque se instalaram, como viviam, de onde vieram, suas atividades econômicas em diferentes períodos, a confrontação dessas informações com a história de outros municípios, a caracterização de períodos específicos, em que as experiências individuais possam também ser inseridas nessa história coletiva. Estabelecer a relação entre a história individual e coletiva, em que os educandos poderão pesquisar e localizar tempos e lugares de proveniência de antepassados de suas famílias. Organizar linhas de tempo com acontecimentos significativos em nível municipal, com a história de familiares: pais, avós, bisavós, tataravós e tios. Esse é um trabalho de pesquisa que os educandos poderão utilizar as mais variadas fontes como: jornais, livros, depoimentos, documentos familiares, fotos, etc., e requer dos educandos uma compreensão de tempohistórico, que, processualmente, vai sendo construído, desde que haja intencionalidade para tal, colocada a partir da leitura das hipóteses dos alunos sobre o que consideram antigo, velho, passado recente, passado remoto, período histórico e das situações didáticas que possibilitem aos educandos a interação com o que já se convencionou a respeito do tempo ao longo da história, como anos, décadas, séculos, milênios e períodos. Utilizar das produções literárias para trabalhar com as representações, organizações e referências temporais, como o livro de Silvya Orthof, João Feijão, em que o ciclo da vida do feijão vai sendo mostrado em uma sucessão de momentos. O contato com histórias em que personagens usam outras referências temporais faz pensar sobre a construção histórica da nossa forma de viver, organizar, sentir, medir o tempo. Outra produção literária interessante para trabalhar a noção de tempo é o livro Lolo Barnabé é uma excelente história para explorar as questões como mudanças e permanências, como viviam os primeiros homens e mulheres, relatando alguns aspectos sobre a pré-história e a atualidade. Concluindo, o trabalho a ser realizado pelo professor sobre temporalidade histórica não deverá pautar-se somente na linha do tempo como a única atividade a ser desenvolvida em sala de aula. As atividades deverão ser implementadas para a construção destas noções de temporalidade, para que os educandos percebam que tipos de representação podem fazer do tempo, principalmente a partir do tempo vivido, para que isso seja possível o professor deverá criar um ambiente favorável que permita essa aprendizagem, isso significa trabalhar em sala de aula com medidas de tempo da nossa cultura, de outras culturas, tipos diferentes de 41 instrumentos que servem para medir o tempo, bem como medidas de tempo estabelecidas pelos próprios educandos, palavras e expressões que são marcadores temporais na fala e na escrita. Fazer uso como já citamos do calendário, construir com os educandos: relógios, ampulhetas, linhas de tempo, cronogramas, registro de aniversários, tabela de jogos, etc. 42 3 REFLETINDO SOBRE A HISTÓRIA LOCAL E O COTIDIANO Contextualizando a disciplina podemos observar que nos anos 60 e 70 acreditava- se que ensinar noções políticas (data e fatos) e fornecer todas as respostas eram suficientes para que a aprendizagem da disciplina de História acontecesse. Os fatos históricos eram memorizados e as avaliações recheadas de feitos heroicos, hoje sabemos que a aprendizagem não acontece dessa forma, e uma das maiores dificuldades é romper com essa história datada arraigada nas nossas escolas, instigar um “outro olhar para a disciplina”, sempre vem com um toque de insegurança, pois as datas e as informações dos fatos estão muito presentes e o livro didático ainda é a única fonte de pesquisa. Sendo assim, o professor deverá buscar outras fontes e repensar sua prática, pois aquela história datada pautada nos fatos e feitos heroicos não dá conta de responder as questões atuais. Trabalhar com datas e fatos vai além da memorização ou da informação, quando falamos em informação estamos nos referindo a dados, como se fosse um arquivo em que podemos consultar. Os alunos são tratados como “máquinas” que guardam e arquivam uma grande quantidade de informação. Todos nós sabemos que os alunos precisam de “ tempo” para que a construção do conhecimento aconteça e tenha significado. O grande desafio é adequar “o nosso olhar as exigências do mundo real”, desenvolvendo uma prática do ensino de história rica em conteúdo socialmente responsável. Portanto, o objetivo central da história deixa de ser o estudo do passado para ser o estudo da relação entre o presente e o passado, nas suas relações de continuidades e mudanças. 43 O que precisamos entender que o passado não é apenas a sua data, a distância cronológica que separa um evento do outro. O passado torna-se passado quando estabelece com ele relações de mudanças. O passado histórico não é dotado de reversibiblidade e nem podemos ter acesso direto a ele, a realidade que vivemos nem sempre contêm elementos do passado que nos deem a percepção da continuidade e rupturas necessárias a compreensão da nossa própria historicidade e da historicidade das sociedades da qual fazemos parte. Um exemplo são “os lugares”, com o passar do tempo são reocupados e somente teremos informações de como era aquele lugar, ou qual função ele tinha anteriormente se realizarmos levantamentos da cultura material ou vestígios dessa cultura para podermos detectar as transformações ocorridas no passado. Portanto, esses levantamentos estão pautados em pesquisas que retratam o passado com seriedade, ou seja, baseando-se nos fatos históricos e utilizando-se de documentos que comprovem a veracidade dos fatos, para que não aconteça “interpretações equivocadas”. Sem o respeito a pesquisa, a História vira ficção e interpretar não pode ser confundido com “inventar”, isso vale tanto para os fatos quanto para os processos históricos. Não existe uma “receita”, “uma verdadeira história”, em História não existe verdades absolutas, o conhecimento histórico é a compreensão dos processos e dos sujeitos históricos, o desvendamento das relações que se estabelecem entre os grupos humanos em diferentes tempos e espaços, pois a construção da história se dá de várias maneiras, as abordagens e visões de mundo são múltiplas e a função do pesquisador/historiador é exatamente questionar e analisar as lacunas e as omissões de elementos que num dado momento da história não foram registrados pela história oficial. Devemos no entanto, propiciar ferramentas para que a disciplina de história não seja um conhecimento pronto e acabado, portanto, o professor deve utilizar as mais variadas fontes históricas como: textos, filmes, cultura material, iconografia, trabalho de campo (visitas a museus e/ou centros históricos), mapas, maquetes, etc. Para Bittencourt (2004), a história do “lugar” como objeto de estudo ganha 44 contornos temporais e espaciais. Não se trata, portanto, de conteúdos escolares da história local, de entendê-los apenas na história do presente ou de determinado passado, mas de procurar identificar a dinâmica do lugar, as transformações do espaço, e articular esse processo às relações externas, a outros lugares. Perceber que a História é construída não só pelos grandes nomes e acontecimentos, mas principalmente por pessoas comuns e pelos hábitos do dia-a-dia. Os elementos do cotidiano nos ajudam a compreender a dinâmica, as crenças e o legado dos diferentes grupos humanos. Temos acesso a esses elementos por intermédio de livros, quadros, fotografias, roupas de outras épocas, receitas de comida, etc. É por meio dessas fontes que podemos identificar uma gama de informações para entendermos o cotidiano em que estamos inseridos. A chamada História do Cotidiano, corrente nascida na França na década de 1960 e que é cada vez mais valorizada, é uma proposta simples: enxergar a realidade sob a perspectiva das pessoas comuns e das práticas, hábitos e rituais que caracterizam o dia-a-dia delas, tirando o foco dos grandes nomes e acontecimentos políticos e econômicos, voltando-o para a riqueza que está próxima de todos, impregnada pela aparente banalidade do cotidiano. Investigar, por exemplo, como os cidadãos viviam, namoravam, noivavam e casavam, se divertiam, eram educados, nasciam e morriam. A grande vantagem dessa abordagem é que ela envolve muito mais os alunos, principalmente
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