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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 5 – INTERMEDIÁRIA: TUBERCULOSE: A tuberculose (TB) é um quadro granulomatoso crônico e contagioso, causado pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que forma pontos de necrose por calcificação. Ainda que possa causar danos sistêmicos, os alvos mais frequentes são os pulmões. Nodulações calcificadas em pulmão afetado pela tuberculose As micobactérias causadoras da TB são estruturas finas, bacilares e álcool-ácido-resistentes (BAAR - reagentes à pigmentação pela Técnica de Ziehl-Nielsen, baseada na presença abundante de lipídeos complexos). Mycobacterium tuberculosis corados pela técnica de Ziehl-Nielsen Atualmente, a TB representa um quadro relevante principalmente em condições socioeconômicas vulneráveis e indivíduos imunossuprimidos, como portadores de HIV, que se torna, em algumas regiões, o fator individual mais associado ao desenvolvimento da doença. Na tuberculose, é importante diferenciar os conceitos de infecção, associada à nidação pulmonar de focos com microrganismos que podem ou não causar dano tecidual, das situações nas quais essas lesões ganham relevância significativa, chamadas por doença. Mesmo na infecção, a resposta à prova tuberculínica é normalmente positiva, com a formação de reações cutâneas palpáveis após a inoculação de PPD. Algumas doenças de base podem induzir resultados falso-negativos, como linfoma de Hodgkin, desnutrição, depressão imune e, paradoxalmente, TB ativa grave. Exemplo de medição no exame PPD A transmissão desse agente ocorre principalmente por meio do contato com gotículas respiratórias dispersas pelo ar, entre um indivíduo com infecção ativa e outro susceptível. Na maioria das pessoas, essa interação dá origem apenas a um foco autolimitado e assintomático de infecção no parênquima pulmonar. Ainda que o Mycobacterium tuberculosis hominis seja o principal responsável pela tuberculose em humanos, são observados outros agentes etiológicos, como o Mycobacterium bovis (presentes em leite contaminado, causa tuberculose Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO orofaríngea e intestinal) e o Mycobacterium avium, de grande incidência em pacientes imunodeprimidos. As bactérias presentes em tais formações podem manter-se em estado de latência, mantendo a viabilidade patogênica por décadas, período no qual não há possibilidade de transmissão. Frente a déficits imunológicos, os microrganismos podem ser reativados, dando origem a quadros comunicantes e ativos, de relevância clínica e epidemiológica. FISIOPATOLOGIA: Em indivíduos com resposta imunológica adequada e na primeira exposição à bactéria, o organismo reage a partir da formação de imunidade celular, capaz de conter o patógeno e desenvolver hipersensibilidade tecidual aos antígenos (útil para o diagnóstico), que leva à formação de cavitações e granulomas, bem como de certo grau de imunidade no hospedeiro. A perda dessa capacidade de hipersensibilidade por estar ligada a uma diminuição da resistência imune individual contra o bacilo. O mecanismo de instalação do foco primário após a inalação de gotículas se dá da seguinte forma: Inibição da fusão de vacúolos fagocíticos e lisossomos em macrófagos infectados por Mycobacterium tuberculosis; o Representa a fase precoce da TB (após 0 a 3 semanas da transmissão); o Esse processo favorece a proliferação de bactérias em macrófagos alveolares, bem como o aumento da bacteremia; o Os pacientes encontram-se assintomáticos ou oligossintomáticas; o Indivíduos com polimorfismos no gene NRAMPI podem apresentar progressão do quadro sem que haja uma resposta imune efetiva (a proteína tem papel microbicida). Mecanismo de desenvolvimento dos focos iniciais de infecção por TB Após esse período inicial, há o desenvolvimento de imunidade celular, desencadeada pela interação entre bactérias e linfócitos T CD4 presentes em linfonodos; o Há um desvio de resposta para o polo Th1 (secretor de IFN-γ), mediada pela produção de IL-12 a partir dos macrófagos, anteriormente descritos. Todo esse processo cria uma alça de feedback positivo, secretando TNF, óxido nítrico e EROS, todos ligados a reações microbicidas. o Qualquer tipo de alteração que afete a via Th1 pode dar origem a formações granulomatosas incompletas, agravando o quadro. Processo de desenvolvimento de reações de hipersensibilidade em infecções por tuberculose TUBERCULOSE PRIMÁRIA: A TB primária é uma manifestação que se desenvolve em indivíduos não expostos ao bacilo, mesmo que alguns indivíduos possam apresentar recorrência desse Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO quadro como resultado da perda de sensibilidade ao patógeno, seja pela idade avançada ou pela imunossupressão. Um marco desse tipo de apresentação da doença é o surgimento do complexo de Ghon, combinação de focos esbranquiçados de necrose caseosa nos pulmões (principalmente nas porções inferior do lobo superior, e superior do lobo inferior) com calcificações linfonodais, criadas a partir da drenagem de bactérias para a circulação linfática. Observação de elementos do complexo de Ghon em pulmão afetado pela TB (foco de necrose parenquimatosa [seta] e calcificação de linfonodos hilares) Como a maior parte dos pacientes tem a infecção controlada autonomamente nesse estágio, esse complexo sofre fibrose e, frequentemente, calcificações radiopacas (complexo de Ranke). A disseminação do bacilo pelo corpo pode ocorrer nesse estágio, a partir de processos hematogênicos e linfáticos, porém sem causar nenhuma lesão. Assim, os principais impactos decorrentes da tuberculose primária são: Desenvolvimento de resistência a novas infecções e de hipersensibilidade; Manutenção de bacilos viáveis no interior dos granulomas (risco de reativação futura); Tuberculose primária progressiva (situação que acomete principalmente indivíduos com disfunções imunológicas). o O quadro se faz ainda mais presente em pacientes com contagem de linfócitos inferior a 200/µL, nos quais há a ausência de granulomas (tuberculose não reativa). TUBERCULOSE SECUNDÁRIA: A TB secundária corresponde a uma manifestação da doença encontrada naqueles indivíduos sensibilizados previamente ao bacilo (afeta 5% deles), desenvolvendo-se, na maioria das vezes, de reativações dos focos após décadas da inoculação, mesmo que não seja impossível seu aparecimento de forma imediata. Esse acometimento pode surgir após uma nova exposição exógena, seja pela inalação de grandes volumes bacilares ou pela diminuição da efetividade da proteção causada pela TB primária. De forma distinta da TB primária, a pressão de oxigênio elevada induz a concentração de lesões nos ápices pulmonares. O comprometimento tecidual extrapola os limites do foco, com a formação de cavitações, erodindo as vias aéreas. Agora a infecção se torna epidemiologicamente importante, pois o paciente passa a ser fonte de dispersão de bacilos. Esse quadro sempre deve ser investigado e considerado no atendimento de pessoas vivendo com HIV, pois existe uma tendência generalizada de aumento do número de casos em pessoas com o vírus, Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO principalmente naqueles com menor grau de imunossupressão (nos demais há a TB primária progressiva). Nessa fase da doença, as lesões são circunscritas e firmes, de aspecto banco a amarelado, apresentando caseificação e fibrose em intensidades variáveis. Por vezes os focos iniciais forma cápsulas fibróticas, que deixam apenas cicatrizes no parênquima, dificultando a identificação do bacilo. A tuberculose pulmonar progressiva pode se instalar logoem seguida à ampliação da área lesionada, com aumento da porção caseificada e da lesão tecidual, que se reflete clinicamente na presença de hemoptise. O tratamento adequado nessa fase impede a progressão do quadro, mas não é capaz de recuperar a eventual arquitetura pulmonar perdida. Caso o bacilo reativado seja disseminado para o organismo, podem ser observados os seguintes tipos de acometimento: Doença pulmonar miliar: decorre do retorno de bacilos ao pulmão após drenagem para o sistema linfático. Há a formação de pequenos pontos amarelados de consolidação; Tuberculose laríngea, endotraqueal ou endobrônquica: pode surgir tanto da disseminação linfática quanto da fixação de material infectante a ser expectorado; Tuberculose miliar sistêmica: a formação de consolidações é semelhante à dos pulmões, porém afeta principalmente fígado, baço, medula óssea, meninges, rins e adrenais, tubas uterinas e o epidídimo; Tuberculose em órgão isolado: decorre de disseminação hematogênica, afetando meninges (meningite tuberculosa), rins (tuberculose renal), suprarrenais, tubas uterinas (salpingite) e ossos (osteomielite); Linfadenite; Tuberculose intestinal: atualmente corresponde a uma complicação da tuberculose pulmonar prolongada, resultado da deglutição de material infectante presente no escarro. A manifestação conta com a presença de infiltrados inflamatórios e ulcerações em vísceras. Manifestações da tuberculose durante a história natural da doença De forma geral, a TB secundária pode ser assintomática ou apresentar sintomas de surgimento insidioso, normalmente associados ao quadro de secreção de citocinas por macrófagos, como febre baixa (principalmente a tarde), mal-estar e perda de peso. Dentre os sintomas pulmonares, destacam-se a já citada hemoptise e a dor pleurítica (propagação da infecção pleural) A presença de escarro mucopurulento (contendo bacilos) também podem ser observadas.
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