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A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e contagiosa, transmitida por um tipo especial de bactéria, conhecida como Bacilo de Koch, cientificamente denominada Mycobacterium tuberculosis. É uma doença grave, porém curável em praticamente 100% dos casos novos, desde que os princípios da quimioterapia sejam seguidos. Comumente, acomete os pulmões, mas pode afetar qualquer órgão ou tecido. Tipicamente, os centros dos granulomas tuberculosos são caracterizados por necrose de caseificação (degradação progressiva e irreversível feita por enzimas em tecidos lesionados). A tuberculose (TB) ainda é um sério e desafiador problema de saúde pública global. No mundo, em 2018, cerca de dez milhões de pessoas adoeceram por tuberculose e 1,5 milhão de pessoas morreram em decorrência dela, sendo a TB a principal causa de morte por um único agente infeccioso. A doença afeta desproporcionalmente pessoas do sexo masculino, adultos jovens e países de baixa renda, apontando para a associação entre a ocorrência de TB e fatores socioeconômicos. Nesse cenário, o Brasil vem desenvolvendo diversas ações que visam reduzir a morbimortalidade por TB. Dentre elas, com o objetivo de intensificar as ações de prevenção e reduzir o adoecimento por TB, destaca-se a manutenção das altas coberturas vacinais por BCG e a ampliação da vigilância e das recomendações de investigação e tratamento da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis. Investimentos na incorporação de novas tecnologias para o enfrentamento da TB no Sistema Único de Saúde (SUS) têm favorecido a obtenção da qualidade e eficácia do diagnóstico e tratamento da doença. Ainda, o país tem reforçado as recomendações voltadas à oferta de proteção social à pessoa acometida pela doença. O presente boletim apresenta os principais indicadores epidemiológicos e operacionais da TB no Brasil, estratificados por regiões, Unidades da Federação (UF) e capitais, e inclui um recorte para os casos de TB DR (TB resistente a medicamentos) e para os casos de TB em menores de dez anos, na população privada de liberdade (PPL) e em pessoas vivendo com HIV (PVHIV). As micobactérias são bactérias aeróbias estritas em forma de bastonete que não formam esporos e se diferenciam das demais por reterem fucsina básica em sua parede celular, mesmo na presença de álcool e ácido, daí a denominação de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR). As micobactérias apresentam um crescimento muito lento, levando semanas para formar colônias visíveis em meio sintético, demonstram ser fracas como Gram- positivas e não possuem cápsula. São microrganismos intracelulares que infectam e proliferam-se no interior de macrófagos. Existem mais de 200 espécies de micobactérias, inclusive muitas são saprófitas. As espécies que mais frequentemente causam doença em humanos são a Mycobacterium tuberculosis e a Mycobacterium leprae, mas o Mycobac-terium avium-intracellulare e outras micobactérias não tuberculosas podem causar doença em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida ou outro tipo de imunossupressão. A tuberculose orofaríngea e intestinal adquirida pela ingestão de leite contaminado com Mycobacterium bovis é rara em nações desenvolvidas, porém ainda é observada em países portadores de bovinos leiteiros tuberculosos e naqueles com venda de leite não pasteurizado. Outras micobactérias, em especial as do complexo Mycobacterium avium, são muito menos virulentas em relação ao M. tuberculosis e raramente causam doença em pessoas imunocompetentes. Entretanto, causam doença em 10-30% dos pacientes com AIDS. DIABETES MELLITUS Os pacientes com diabetes mellitus (DM) correm um maior risco de passar de tuberculose latente para tuberculose ativa. Um diagnóstico de DM também aumenta o risco de progressão da infecção inicial para a tuberculose ativa. A razão de chances do desenvolvimento da tuberculose é de 2,44 a 8,33 vezes maior em pacientes com DM do que naqueles sem a doença. A DM mal controlada pode levar a múltiplas complicações, incluindo o aumento da suscetibilidade à infecção. Célia Tássila O diabetes causa um aumento da suscetibilidade à tuberculose através de vários mecanismos, incluindo hiperglicemia e insulinopenia celular, que têm efeitos indiretos sobre a função de macrófagos e linfócitos. No entanto, a tuberculose pode prejudicar temporariamente a tolerância à glicose, que é um fator de risco para o desenvolvimento de DM. A hiperglicemia transitória pode ocorrer devido à inflamação induzida durante a tuberculose. Portanto, para o estabelecimento de um novo diagnóstico de DM, os níveis de glicose devem ser mensurados novamente após 4 semanas de tratamento para a tuberculose, especialmente quando o paciente parar de apresentar febre. A probabilidade de uma pessoa com tuberculose ir a óbito ou apresentar recaída é significativamente maior se a pessoa também tiver DM. TABAGISMO Portanto, o maior impacto do tabagismo em termos de problemas de saúde pública relacionados à infecção é provavelmente o aumento do risco de tuberculose. O papel que a fumaça do cigarro desempenha na patogênese da tuberculose está relacionado à disfunção ciliar, a uma resposta imune reduzida e a defeitos na resposta imune de macrófagos, com ou sem uma diminuição da contagem de CD4, aumentando a suscetibilidade à infecção por Mycobacterium tuberculosis. O macrófago alveolar se liga ao bacilo através dos receptores do complemento 1, 3 e 4. Os linfócitos ativados liberam citocinas ao recrutar macrófagos, fibroblastos e outros linfócitos. A principal citocina envolvida na formação de granulomas é TNF-α, que é liberado por macrófagos imediatamente após a exposição a antígenos de M. tuberculosis. O TNF-α ativa macrófagos e células dendríticas. Em fumantes, a nicotina, atuando através do receptor nicotínico α7, reduz a produção de TNF-α por macrófagos, prevenindo assim sua ação protetora e favorecendo o desenvolvimento da tuberculose. A secreção de IL-12 por macrófagos induz a produção de IFN-γ em células natural killers. Esse aspecto de resposta imune, conhecido como resposta Th1, visa destruir M. tuberculosis ao formar um granuloma fibroso. A fumaça do cigarro promove seletivamente a baixa produção de IL- 12 e TNF-α, impedindo a formação de granulomas, o que conteria a infecção nessa fase em indivíduos imunocompetentes; portanto, o tabagismo criaria condições que permitiriam o desenvolvimento de tuberculose ativa. A exposição passiva e ativa à fumaça do cigarro está associada a um risco aumentado de infecção por M. tuberculosis e ao desenvolvimento de tuberculose ativa Os problemas de consumo de álcool variam amplamente. O uso nocivo do álcool está classificado entre os cinco principais fatores de risco para doenças, incapacidades e morte, além de ser um fator causal em mais de 200 doenças e danos à saúde, incluindo a tuberculose, em todo o mundo. Estima-se que aproximadamente 10% de todos os casos de tuberculose são atribuíveis ao uso de álcool. IDADE Existem grandes diferenças na incidência da TB relacionadas à idade. Teoricamente, estas disparidades podem ser atribuídas a diferenças no risco de infecção e no risco de desenvolver doença após a da infecção. A tendência, normalmente observada, de aumento da incidência da doença com o avanço na idade pode ser parcialmente explicada pelo aumento cumulativo da prevalência da infecção tuberculosa. Os adolescentes e adultos jovens parecem estar especialmente propensos à progressão da infecção latente para doença clínica, semelhante às crianças com cerca de 10 anos de idade. Já as variações relacionadas com o estágio de maturidade não explicam o aumento constante da incidência de TB em adultos até aos 60 anos de idade SOCIOECONÔMICA As condições socioeconômicas da população exposta têm sido associadas à incidência da TB. Apesar destasanálises se basearem em estudos ecológicos, tendo como base de análise os censos populacionais ou os códigos postais, as diferenças encontradas têm forte associação e torna provável uma relação causal. As condições de baixo nível socioeconômico tendem a originar situações habitacionais sobrelotadas, o que, por sua vez, com a ocorrência de um caso, propicia um aumento na transmissão do bacilo, resultando numa maior prevalência da infecção tuberculosa, com o respectivo aumento da incidência da doença. A pobreza pode também reduzir o acesso aos serviços de saúde, prolongando o período de transmissibilidade e aumentando o risco de infecção entre os seus contatos. HIV A infecção pelo HIV é um dos principais fatores de risco para desenvolvimento da TB descrito nas últimas décadas. Em alguns países o número de novos casos de TB e AIDS é muito superior a outras partes do mundo. SECUNDÁRIA A USO DE MEDICAÇÕES O uso de corticóides (dose equivalente a 15mg/dia ou mais de prednisona por 1 mês), e antagonistas de fator de necrose tumoral (anti-TNF) é acompanhado por um aumento no risco de TB ativa. A administração de corticóides em pacientes com TB latente exige observação e profilaxia, dada a possibilidade de ocorrer reativação da doença. Pacientes transplantados em uso de imunossupressores têm maior risco de evoluir com TB e outras infecções por micobactérias. O efeito principal é o bloqueio a resposta imune e celular efetiva ao controle da doença. Existem outros fatores de risco como a doença renal crônica; cirurgia gástrica; uso de drogas ilícitas; estado nutricional; É transmitido por via aérea de uma pessoa “bacilífera” com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente. A transmissão é aérea e ocorre a partir da inalação de partículas sólidas ou líquidas que se encontram suspensas no ar, meio gasoso (aerossóis). Sendo assim, a transmissão pode se dar durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com a tuberculose ativa que lançam no ar partículas que contêm bacilos. Um indivíduo que tenha baciloscopia positiva (presença de bactérias da tuberculose no escarro) pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas durante um ano de convívio em uma comunidade. Vale destacar que os bacilos que se fixam em roupas, lençóis, copos, entre outros objetos, dificilmente se dispersam em aerossóis, sendo assim, não têm papel importante na transmissão da tuberculose. Tuberculose pode ocorrer em 3 estágios: Infecção primária; Infecção latente; Infecção ativa. Bacilos Mycobacterium tuberculosis causam inicialmente uma infecção primária, que raramente resulta em doença aguda. A maioria das infecções primárias (95%) é assintomática e seguida por uma fase latente (dormente). Um percentual variável de infecções latentes posteriormente é reativado, com sinais e sintomas de doença, e, em alguns casos, por uma doença ativa. Normalmente a infecção não é transmissível na fase primária e nunca é contagiosa na fase latente. De início, o Mycobacterium tuberculosis infecta o organismo e entra nos macrófagos pela fagocitose. A partir daí, ele inibe a maturação do fagossomo e a formação do fagolisossoma, permitindo sua multiplicação dentro desta célula incontroladamente, protegida da ação dos lisossomos. Logo, a infecção primária ocorre ao primeiro contato com o bacilo de Koch, havendo uma reação do sistema imunológico do indivíduo, particularmente por meio da fagocitose, como forma de controlar a infecção. No entanto, a bactéria é extremamente resistente ao fagossomo e inibe sua maturação, impedindo sua destruição e ficando em sua forma latente. Assim, durante essa infecção primária, ocorre grande disseminação do bacilo pelo corpo de forma oculta. A infecção pelo M. tuberculosis cursa em etapas, desde a infecção inicial com ataque aos macrófagos à ativação de células Th1. Essas células T tanto controlam a infecção ao hospedeiro, como também são causa do dano causado pela doença, gerando granuloma e cavitação. Há então, posterior ativação dos receptores da imunidade inata, iniciando e aumentando esse tipo de resposta ao bacilo. Uma resposta Th1 é montada após 3 semanas, e essa resposta Th1 irá produzir o IFN-gama. Este, por sua vez, através de um conjunto de processos, estimula a destruição do macrófago infectado, destruindo organelas danificadas e patógenos intracelulares – como o Mycobacterium tuberculosis. Porém, essa mesma resposta Th1 que estimula os macrófagos e destrói micobactérias, gera a formação de granuloma e necrose caseosa. Esses macrófagos incentivados pelo IFN-gama se diferenciam em “histiócitos epitelioides”, que se agregam a formam granulomas. Na maioria dos indivíduos, essa resposta acontece antes que a destruição tecidual provoque danos maiores. Em outros, a infecção progride, e a resposta contínua gera focos necróticos. Os macrófagos ativados também secretam TNF e quimiocinas, que atraem monócitos. Nesse contexto, a grande maioria dos indivíduos imunocompetentes irá passar por essa primeira infecção sem desenvolvimento da forma ativa da doença - apenas 2% a 5% destes irão desenvolver essa forma nos primeiros dois anos do contato com o bacilo. Duas a treze semanas após a infecção primária, a imunidade adaptativa específica consegue controlar a replicação bacteriana. Após a infecção primária, 95% dos indivíduos entrarão em estado de latência, que é mantida pelo sistema imunológico ativo e competente – a evidência disso ocorre na reativação da tuberculose em momentos de imunodepressão. A ativação tardia, ou reativação, pode ocorrer em condições imunossupressoras, com o desenvolvimento de comorbidades ou até mesmo sem causa aparente. Essa reativação da doença em hospedeiro com imunidade pré-existente gera resposta inflamatória intensa, com formação de granulomas caseosos e, posteriormente – caso o pulmão esteja envolvido – de cavitação pulmonar. E de fato: a forma mais predominante da doença é justamente e tuberculose pulmonar. Logo, ocorre uma resposta imune ativa, porém diminuída, concomitante à replicação do bacilo. Devido à inflamação gerada nesse processo, há apoptose intensa, depletando as células T ativas contra o patógeno. Já a forma extra-pulmonar da tuberculose pode envolver qualquer órgão. A persistência desse patógeno em áreas bem oxigenadas, como o córtex renal e corpos vertebrais, pode explicar, em parte, a reativação da tuberculose nessas localidades – já que vimos que se trata de uma bactéria aeróbia. Tais formas extra-pulmonares apresentam, geralmente, uma patogênese em comum: secreção de um foco tuberculoso contíguo em cavidade serosa, podendo esse foco ser de longa duração ou ter surgido recentemente na infecção primária. O inibidor de TNF-alfa é utilizado em algumas doenças reumatológicas e inflamatórias, como a artrite reumatóide, espondilite anquilosante e doença de Crohn. Ao bloquear a ação do TNF-alfa, que, nesses indivíduos, está sendo ativado por um mecanismo autoimune e causando lesão tecidual, também dificulta a resposta do hospedeiro contra patógenos como a tuberculose. É por isso que indivíduos que utilizam esses fármacos precisam de avaliação prévia para infecção latente por tuberculose, e estão também em risco aumentado de desenvolver a doença em caso de infecção. O receptor da manose é um tipo de lectina tipo C presente principalmente na superfície de macrófagos e células dendríticas imaturas, mas também se expressa na superfície de células da pele como os fibroblastos dérmicos humanos e queratinócitos. A TUBERCULOSE PRIMÁRIA quase sempre tem início nos pulmões. Tipicamente, os bacilos inalados implantam-se nos espaços aéreos distais da porção inferior do lobo superior ou porção superior do lobo inferior, usualmente próximo à pleura. À medida que a sensibilização se desenvolve,surge o foco de Ghon, caracterizado por uma área de consolidação inflamatória cinza-branca. Na maioria dos casos, o centro desse foco sofre necrose caseosa. Os bacilos da tuberculose, livres ou no interior de fagócitos, seguem via drenagem linfática para os linfonodos regionais que também sofrem caseificação. A combinação de lesão parenquimatosa e linfonodal é denominada complexo de Ghon. Durante as primeiras semanas há também disseminação linfática e hematógena para outras partes do corpo. O desenvolvimento de imunidade mediada por células controla a infecção em aproximadamente 95% dos casos. Portanto, o complexo de Ghon sofre fibrose progressiva, frequentemente seguida de calcificação detectável radiologicamente (complexo de Ranke) e, apesar da nidação de outros órgãos, não há desenvolvimento de lesões. As principais consequências da tuberculose primária (1) estão relacionadas com a indução de hipersensibilidade e aumento da resistência; (2) os focos de cicatrização podem portar bacilos viáveis por anos, talvez por toda a vida, e portanto constituir o ninho para a reativação posterior em condições de comprometimento da função imune do hospedeiro; e (3) incomumente, pode levar à tuberculose primária progressiva. Essa complicação ocorre em pacientes imunocomprometidos ou com diminuição inespecífica das defesas do hospedeiro, como a má nutrição em crianças e a idade em idosos. Certos grupos, como os inuítes, também são mais propensos ao desenvolvimento de tuberculose primária progressiva. A incidência de tuberculose primária progressiva é particularmente alta em pacientes HIV-positivos com grau avançado de imunossupressão (isto é, contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 200 células/mL). A imunossupressão resulta em inabilidade de montar uma reação imunológica mediada por linfócitos T CD4+ capaz de conter o foco primário; uma vez que a hipersensibilidade e a resistência são quase sempre fatores concomitantes, a ausência de reação hipersensibilidade tecidual resulta na ausência dos granulomas caseosos característicos (tuberculose não reativa). TUBERCULOSE SECUNDÁRIA (TUBERCULOSE REATIVADA) é um padrão de doença que surge em hospedeiros previamente sensibilizados. A tuberculose secundária pode surgir logo após a primária, porém, mais comumente, surge da reativação de lesões primárias dormentes muitas décadas após a infecção inicial, particularmente quando há queda na resistência do hospedeiro. Também pode surgir após a reinfecção exógena devido à queda na proteção proporcionada pela doença primária ou devido à inoculação de um grande inóculo de bacilos virulentos. Independentemente da origem do microrganismo, poucos pacientes (menos de 5%) com a doença primária desenvolvem tuberculose secundária subsequente. Classicamente, a tuberculose pulmonar secundária localiza-se no ápice de um ou ambos os lobos superiores. Porém pode estar relacionada com a alta pressão parcial de oxigênio nos ápices. O bacilo incita uma resposta tecidual rápida e marcada que tende a não se restringir ao foco. Como resultado dessa localização, os linfonodos regionais apresentam envolvimento menor nos estágios iniciais da doença quando comparada à tuberculose primária. Por outro lado, a ocorrência de cavitação na forma secundária é rápida, induzindo à erosão das vias aéreas e disseminação aerógena. Tais alterações tornam- se uma importante fonte de infecção, uma vez que agora o paciente produz esputo com bacilos. A tuberculose secundária deve sempre ser uma importante consideração em pacientes HIV-positivos e que apresentem doença pulmonar. É importante destacar que, embora exista um risco aumentado de tuberculose em todos os estágios da AIDS, as manifestações estão relacionadas com o grau de imunossupressão. TUBERCULOSE PULMONAR: depende do estágio no curso natural da doença (doença primária, pós-primária ou miliar), localização e imunidade do hospedeiro. Os sintomas clássicos de febre vespertina, tosse, sudorese noturna e emagrecimento podem ocorrer em quaisquer das apresentações. A TB pulmonar primária ocorre logo em seguida ao contato com o bacilo, sendo, portanto mais comum em crianças. Febre baixa, sudorese noturna e inapetência são sintomas muito frequentes nessa forma. Já a TB pulmonar pós-primária são mais comuns em adolescentes e jovens adultos. A tosse seca ou produtiva é a principal característica. Além disso, se a tosse é produtiva, a expectoração pode se apresentar como mucóide ou purulenta, com ou sem sangue. Pode haver febre vespertina, que geralmente não ultrapassa os 38,5ºC e não é acompanhada de calafrios. Além disso, fácies de emagrecimento ou doença crônica podem estar presentes no exame físico e, à ausculta respiratória, podemos perceber diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou mesmo um exame físico normal. A TB miliar, por sua vez, se refere a um padrão específico de acometimento pulmonar, podendo ocorrer nas formas primária e secundária, sendo mais comum em pacientes imunossuprimidos. A apresentação clínica pode ser aguda ou subaguda, e sintomas como febre, astenia, emagrecimento, sudorese noturna e tosse ocorrem em até 80% dos casos. Ao exame físico, pode aparecer hepatomegalia (30%), acometimento do SNC (30%) e alterações cutâneas eritemato-pápulo-máculo-vesiculosas, mas este último sintoma é menos comum. Nesses casos, radiografias do tórax mostram opacidades bilaterais múltiplas e pequenas, denominadas “infiltrados miliares”. TUBERCULOSE MILIAR TUBERCULOSE CAVITÁRIA TUBERCULOSE EXTRA-PULMONAR: aproximadamente 20% dos casos de tuberculose em paciente HIV-negativo são formas extra-pulmonares. Em áreas endêmicas, é mais comum ocorrer associadamente com a forma pulmonar e atinge mais crianças e jovens adultos, nos quais representa uma infecção primária progressiva. Em áreas não-endêmicas, ocorre de forma isolada mais comumente, afetando mais idosos e representando reativação da doença. Os sinais e sintomas da tuberculose extra- pulmonar dependem do foco, órgão ou sistema atingido. As principais formas diagnosticadas em nosso meio são: TUBERCULOSE PLEURAL: forma mais comum de tuberculose extra-pulmonar em indivíduos sem coinfecção pelo HIV. Cursa frequentemente com dor torácica pleurítica, astenia, perda ponderal e anorexia ocorrem em cerca de 70% dos doentes, febre com tosse seca acontecem em 60%. Em pacientes com mais tempo de evolução da doença e com derrame pleural mais volumoso, a dispnéia pode estar presente. Em relação ao exame físico, observam-se macicez à percussão e ruídos respiratórios diminuídos. Radiografias de tórax frequentemente mostram derrame pleural unilateral. Essa forma ocorre por extensão direta de um foco caseoso subpleural que libera secreção para o espaço pleural, ou mesmo por via hematogênica. Nesses pacientes, o líquido pleural tem características de exsudato, com predomínio de linfócitos e, na maior parte das vezes, pesquisa para BAAR e cultura estarão negativas. Níveis elevados de ADA (adenosina deaminase) no líquido pleural são frequentes e tem sido usado como critério de diagnóstico da TB pleural. Já a cultura para TB do escarro é positiva em 50% dos pacientes. EMPIEMA PLEURAL TUBERCULOSO: uma cavidade tuberculosa pode se romper e extravasar para o espaço pleural. Logo, teremos frequentemente líquido no espaço pleural e pneumotórax. A baciloscopia e a cultura do líquido são frequentemente positivas, ao contrário do que ocorre na tuberculose pleural. TUBERCULOSE GANGLIONAR PERIFÉRICA: É a forma mais frequente detuberculose extra-pulmonar em indivíduos coinfectados com HIV. O paciente apresenta com aumento subagudo dos linfonodos, de forma indolor e assimétrica, das cadeias cervicais anterior e posterior, bem como supraclavicular. Em coinfectados com HIV, há maior tendência a acometimento de linfonodos bilateralmente. Ao exame físico, os linfonodos estão endurecidos ou amolecidos, aderentes entre si e ao plano profundo, podendo flutuar ou fistulizar espontaneamente, inflamando a pele subjacente. TUBERCULOSE PERICÁRDICA: Sua apresentação clínica é subaguda e geralmente não está associada à tuberculose pulmonar, embora possa ocorrer simultaneamente com a forma pleural. Dor torácica, tosse seca e dispnéia são os principais sintomas dessa forma de tuberculose. Febre, emagrecimento, sudorese noturna, astenia, tontura e - por conta da disfunção das câmaras cardíacas direitas gerando congestão - edema de MMII, dor em hipocôndrio direito e aumento do volume abdominal - por disfunção das câmaras direitas secundária à disfunção. A pericardiocentese e a biópsia são métodos diagnósticos disponíveis. Se houver tamponamento, a pericardiocentese constitui também uma abordagem terapêutica. TUBERCULOSE ÓSSEA: mais comum em crianças ou indivíduos entre os 30 e 40 anos. As localizações mais acometidas são a coluna vertebral e as articulações coxofemoral e do joelho, embora outras localidades possam ser comprometidas. A TB da coluna vertebral também é chamada de mal de Pott e compõe cerca de 1% dos casos de TB, além de 50% dos casos de TB óssea. A coluna torácica baixa e lombar são as mais frequentemente acometidas. O quadro clínico é constituído de dor lombar, dor à palpação local e sudorese noturna. Mal de Pott TUBERCULOSE GASTROINTESTINAL: as manifestações clínicas mais comuns são febre, dor abdominal e sangramento gastrintestinal ou obstrução. O diagnóstico é suspeitado em áreas endêmicas para TB e HIV ou pelo achado de TB em outro local. A biópsia intraluminal dos sítios envolvidos é usada para estabelecer o diagnóstico. Por ser uma doença infecciosa, a confirmação diagnóstica se dá pela identificação do agente em material oriundo da lesão. Seguindo essa premissa, os testes de confirmação a serem escolhidos dependerão da sensibilidade, da especificidade, e da aplicabilidade do exame ao contexto ao qual doente e o cuidador de saúde estão inseridos. Os exames utilizados na investigação diagnóstica da tuberculose podem ser: bacteriológicos, bioquímicos, citológicos, radiológicos, histopatológicos, imunológicos e àqueles baseados na biologia molecular. BACTERIOLÓGICO BACILOSCOPIA DIRETA DO ESCARRO É o método prioritário, porque permite descobrir a fonte mais importante de infecção: o doente bacilífero. Executado corretamente permite detectar de 70% a 80% dos casos de Tuberculose pulmonar em uma comunidade. O método de coloração adotado no Brasil e de custo mais barato é o Ziehl-Neelsen, que, por simples e seguro, pode ser realizado por todos os laboratórios. A baciloscopia direta é indicada para todos os sintomáticos respiratórios (indivíduos com tosse e expectoração por três semanas e mais). Deverá ser dada ênfase para a realização deste exame nos pacientes que apresentem alterações pulmonares na radiografia de tórax e nos contatos de Tuberculose pulmonar bacilíferos. Também é utilizada para acompanhar, mensalmente, a evolução bacteriológica do paciente pulmonar, inicialmente positivo, durante o tratamento. Recomenda-se, para o diagnóstico, a coleta de duas amostras de escarro: uma por ocasião da primeira consulta e a segunda na manhã do dia seguinte, em jejum, ao despertar. . CULTURA DE ESCARRO OU DE OUTRAS SECREÇÕES É indicada para suspeitos de Tuberculose pulmonar e negativos ao exame direto do escarro, bem como para o diagnóstico de formas extra pulmonares (como meníngea, renal, pleural, óssea e ganglionar) e diagnóstico de Tuberculose em paciente soropositivo para o HIV/Aids. Este exame está indicado nos casos de retratamento após falência bacteriológica ao esquema de tratamento padrão – RHZ ou recidiva da doença ou reinício após abandono, com teste de sensibilidade. A cultura é também indicada nos casos de suspeita de resistência bacteriana às drogas, acompanhada do teste de sensibilidade. Nos casos de suspeita de infecção por micobactérias não-tuberculosas, notadamente nos doentes HIV positivos ou com aids, além da cultura deverá ser realizada a tipificação do bacilo BRONCOSCOPIA A broncoscopia/videobroncoscopia é um exame de diagnóstico que nos permite avaliar a traquéia, os brônquios e parte dos pulmões. A broncoscopia é feita através da introdução na boca ou no nariz de um tubo, designado broncoscópio que possui na sua extremidade uma câmara de vídeo e uma fonte de luz fria. Este instrumento permite ao médico examinar diretamente as vias respiratórias. O exame também pode ser usado com o objetivo de esclarecer dúvidas surgidas noutros exames, ou então para colheita de produtos: Aspirado brônquico, no caso de suspeita de tuberculose, pneumocistose ou outras infecções pulmonares. Lavado broncoalveolar (LBA), em que é “inundada” uma porção do pulmão com soro fisiológico e posteriormente aspirada, no caso das doenças pulmonares difusas. A broncoscopia terapêutica (usada como tratamento) está indicada quando há necessidade de se aspirar secreções espessas que condicionam atelectasias, para remoção de corpos estranhos e para redução ou remoção de tumores com crescimento endotraqueal ou endobrônquico. Uma broncoscopia com biópsia é realizada caso seja necessário para o diagnóstico, colher fragmentos de tecido (biópsia) ou secreções. O exame é realizado de igual forma, no entanto, através de instrumentos cirúrgicos acoplados ao broncoscópio são retiradas amostras de tecido. Quando se trata de gânglios ou lesões pulmonares que não produzem alteração da mucosa, o pneumologista pode usar o EBUS (endobronchial ultrasound) para poder biopsiar com segurança. HISTOPATOLÓGICO Formas pulmonares difusas e formas extra pulmonares podem requerer diagnóstico histopatológico. Nesses casos, a identificação de granuloma com necrose de caseificação é compatível com o diagnóstico de tuberculose. Se houver granuloma sem necrose, o diagnóstico deve ser bem pensado, considerando que outras patologias podem simular outras doenças granulomatosas, como sarcoidose e silicose. Em pacientes muito imunocomprometidos, a identificação do granuloma pode ser dificultada e, nesses casos, o achado de bacilos contribui fortemente para o diagnóstico. Como a certeza diagnóstica é dada pela cultura e posterior identificação da espécie, um ou dois fragmentos da biópsia devem, sempre que possível, ser armazenados e enviados para cultura. Tuberculose primária: nódulo de Ghon é o primeiro granuloma tuberculoso. Tuberculose pulmonar produtiva granulomas em processo de cura. Tuberculose no baço: mostra uma forma miliar da tuberculose. Tuberculose intestinal: Segmento de íleo, mostrando lesões tuberculosas predominantemente exsudativas na submucosa (maiores) e tubérculos isolados na serosa. Tuberculose linfonodal: exemplo de inflamação crônica granulomatosa, o linfonodo maior a partecentral de muitos granulomas sofreu necrose coagulativa, dita caseosa por seu aspecto macroscópico que lembra queijo mineiro ou ricota. A necrose caseosa é própria da tuberculose, mas não exclusiva, podendo ocorrer em outras infecções, como a blastomicose. Tuberculose renal: cavernas na camada medular, parcialmente revestidas por material necrótico de aspecto caseoso. Ultrapassados os glomérulos, condensam-se nos túbulos, principalmente na camada medular, produzindo granulomas que sofrem caseificação. O material necrótico é eliminado na urina, resultando em cavernas. Peça renal. Tuberculose óssea: Fragmento de metatarso, com osso esponjoso contendo granulomas tuberculosos circundando extensa área de necrose caseosa. EXAME RADIOLÓGICO Evolução da Tuberculose é acompanhada de anormalidades radiográficas na maioria dos casos. Por isso, a radiografia do tórax é importante auxiliar no diagnóstico, justificando-se sua utilização, quando possível, nos casos suspeitos. É sempre importante realizar o exame radiológico para um diagnóstico correto. Este exame permite a identificação de pessoas portadoras de imagens sugestivas de Tuberculose. O exame radiológico, em pacientes com baciloscopia positiva, tem como função principal a exclusão de outra doença pulmonar associada, que necessite de tratamento concomitante, além de permitir avaliação da evolução radiológica dos pacientes, sobretudo daqueles que não responderam à quimioterapia. A presença do bacilo de Koch no parênquima pulmonar promove a formação de um processo inflamatório granulomatoso, que pode se manifestar como uma opacidade (nódulo ou consolidação) chamada nódulo de Ghon ou nódulo primário no raio-x. Em adultos, isso ocorre mais nos lobos superiores. A partir disso, pode progredir para necrose caseosa e disseminação broncogênica. Cavidades, consolidações, massas, nódulos ou opacidades reticulo-nodulares podem ser as apresentações radiográficas da doença. Na tuberculose primária a radiografia do tórax pode ser normal, embora pequenos nódulos periféricos possam estar presentes e não ser visualizados. A linfonodomegalia mediastinal é a manifestação radiológica mais frequente na forma primária da tuberculose. Acomete entre 83% e 96% das crianças e sua incidência diminui entre os adultos. A atelectasia obstrutiva decorrente da compressão extrínseca por linfonodomegalias ocorre em 9% a 30% das crianças com a forma primária da doença. A pneumonia caseosa manifesta-se sob a forma de consolidações segmentares ou lobares. A tuberculose miliar é caracterizada por opacidades retículo-micronodulares difusas decorrentes da disseminação hematogênica do Mycobacterium tuberculosis pelo parênquima pulmonar. Quando o complexo primário da tuberculose evolui para cura, pode manifestar-se radiologicamente por um nódulo pulmonar ou massa, também chamados tuberculomas, associados ou não a pequenos nódulos satélites e/ou gânglios mediastinais calcificados. A presença dessas calcificações e dos nódulos satélites auxilia no diagnóstico diferencial de nódulo pulmonar solitário. A maioria dos tuberculomas é menor que 3cm, embora lesões maiores que 5cm tenham sido descritas. O derrame pleural como manifestação da tuberculose primária ocorre em 6% a 8% dos casos. Quando o derrame está presente, um foco pulmonar pode coexistir e não ser visualizado na radiografia do tórax. A presença de lesões parenquimatosas sugestivas de atividade associadas ao derrame pleural auxilia no diagnóstico. O derrame pleural, geralmente, é unilateral, com volume que varia de pequeno a moderado. Na forma pós-primária da tuberculose, as cavitações são mais frequentes nos segmentos ápico-posteriores dos lobos superiores ou superiores dos lobos inferiores e apresentam-se em 40% a 45% dos casos. No Brasil, esses achados estão presentes nas radiografias em até 100% dos casos, provavelmente relacionados ao diagnóstico tardio da doença. As cavidades apresentam-se com paredes espessas durante a sua fase ativa. Após a cura, evoluem para cicatrização, cujo aspecto residual são as estrias, calcificações e retrações do parênquima acometido. As cavidades podem também permanecer com suas paredes mais delgadas após a cura, representando a sequela ou inatividade do processo específico. Alguns autores sugerem que esses achados devem ser descritos como "radiologicamente estáveis" ao invés de "inativos", pela possibilidade de recrudescência futura de bacilos latentes. Um achado sugestivo de atividade da tuberculose é a "pneumonia cruzada", que decorre da disseminação broncogênica do Mycobacterium tuberculosis pelo parênquima pulmonar. A disseminação broncogênica da tuberculose a partir de uma cavidade ou de um gânglio fistulizado determina também infiltrados retículo- micronodulares distantes como resultado da implantação dos bacilos em outras localizações do pulmão. As manifestações radiográficas da tuberculose associada à SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) dependem do nível de imunossupressão e do tempo de doença. Assim, pacientes com função celular íntegra apresentam alterações radiográficas semelhantes às do indivíduo não infectado pelo HIV. Entre pacientes com níveis graves de imunossupressão, 10% a 20% dos co- infectados apresentam radiografias normais ou demonstram achados semelhantes aos encontrados na forma primária da tuberculose, incluindo a apresentação ganglionar e o derrame pleural. As alterações parenquimatosas podem ser focais (opacidades alveolares localizadas) ou difusas, com predomínio do padrão miliar. Cavitações, calcificações e fibrose são infrequentes no paciente com SIDA. Apresentações atípicas são comuns em pacientes idosos, diabéticos e em portadores de lúpus eritematoso sistêmico. A forma miliar é frequente e a ocorrência de cavitações diminui com o avançar da idade. Pacientes com lúpus eritematoso sistêmico apresentam alterações da imunidade celular e são usualmente expostos a altas doses de corticóides, fatores predisponentes ao desenvolvimento da tuberculose. Os achados radiológicos mais freqüentes são disseminação miliar e consolidações difusas. A ausência de cavidades nesses pacientes é atribuída à deficiência na função dos macrófagos alveolares na formação do granuloma. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA A tomografia computadorizada do tórax é um recurso utilizado na suspeita clínica de tuberculose pulmonar, especialmente nos casos em que a radiografia inicial é normal, na diferenciação com outras doenças torácicas, em pacientes com SIDA ou com febre de origem desconhecida e quando há discordância entre os achados clínicos e radiográficos. Em um estudado realizado mostra que o diagnóstico de tuberculose através da tomografia computadorizada de tórax de alta resolução foi correto em 88% dos pacientes (165/188), excluindo ou confirmando a doença pulmonar. Esse nível de acurácia foi maior que o observado pela radiografia. Outros trabalhos confirmam que a tomografia computadorizada é superior à radiografia do tórax na avaliação inicial da tuberculose. Apesar da alta acurácia da tomografia computadorizada, a avaliação inicial no diagnóstico da tuberculose deve incluir, sempre que possível, a cultura de escarro, que apresenta especificidade superior a 98%. A presença de cavidades é um importante sinal de doença ativa. A tomografia computadorizada de alta resolução demonstra pequenas cavidades em meio de consolidaçõesque não são vistas à radiografia. Cavidades com paredes espessas são observadas em até 76% dos pacientes com tuberculose pulmonar na ocasião de seu diagnóstico. Nódulos centrolobulares de distribuição segmentar, representativos da disseminação broncogênica da tuberculose, são o achado tomográfico mais freqüente na fase ativa da doença (82% a 100%). O aspecto de consolidação segmentar ou lobar é observado em 47% a 62% dos casos e pode ocorrer em associação com linfonodomegalia hilar ou mediastinal. O espessamento da parede brônquica ocorre em aproximadamente 62% dos casos e bronquiectasias são observadas em 23% dos pacientes com tuberculose pulmonar ativa. O aspecto de "árvore em fluorescência" ou espessamento bronquiolar está presente em até 57% dos casos. A distorção da arquitetura em locais onde, previamente, eram observados nódulos centrolobulares e espessamento bronquiolar, sugere que a estenose brônquica ou bronquiolar sejam responsáveis pelo mecanismo de enfisema observado após o tratamento. O aspecto em mosaico é traduzido pela coexistência de áreas de maior e de menor densidade do parênquima pulmonar, sendo estas últimas decorrentes do aprisionamento aéreo por bronquiolite constritiva cicatricial. Cavidades com paredes finas, bronquiectasias de tração e estrias são encontradas em até 21%, 86% e 77% dos pacientes tratados e considerados curados. A PROVA TUBERCULÍNICA Indicada como método auxiliar, no diagnóstico da Tuberculose, em pessoas não vacinadas com BCG. A prova tem por base a reação celular desenvolvida após a inoculação intradérmica de um derivado protéico do M. tuberculosis. O resultado positivo evidencia apenas a infecção por micobactérias, não caracterizando a presença de doença. No Brasil, a tuberculina usada é o PPD RT23, aplicada por via intradérmica, no terço médio da face anterior do antebraço esquerdo, na dose de 0,1ml, equivalente a 2UT (unidades de tuberculina). Quando conservada em temperatura entre 4ºC e 8°C, a tuberculina mantém-se ativa por seis meses. A técnica de aplicação (a mais empregada é a de Mantoux) e o material utilizado são padronizados pela Organização Mundial da Saúde e têm especificações semelhantes às usadas para a vacinação BCG. A injeção do líquido faz aparecer uma pequena área de limites precisos, pálida e de aspecto pontilhado, como casca de laranja. A leitura da prova tuberculínica é realizada de 72 a 96 horas após a aplicação, medindo-se com régua milimetrada o maior diâmetro transverso da área de endurecimento palpável. O resultado, registrado em milímetros, define a classificação e interpretação clínica: 0 a 4mm – não-reator: indivíduo não infectado pelo M. tuberculosis ou por outra micobactéria; ou infectado pelo M. tuberculosis há menos de duas semanas (em fase de viragem tuberculínica) ou, ainda e excepcionalmente, em infectados ou doentes imunodeprimidos; 5 a 9mm – reator fraco: indivíduo vacinado com BCG ou infectado pelo M. tuberculosis ou por outras micobactérias; 10mm ou mais – reator forte: indivíduo infectado pelo M. tuberculosis, que pode estar doente ou não, e indivíduos recentemente vacinados com BCG. Observações em relação à prova tuberculínica: Algumas circunstâncias podem interferir no resultado da prova tuberculínica como, por exemplo, desnutrição, aids, sarcoidose, neoplasias, doenças linfoproliferativas, tratamentos com corticosteróide e outras drogas imunodepressoras, gravidez, etc.; Todos os indivíduos infectados pelo HIV devem ser submetidos ao teste tuberculínico. Nesses casos, considera-se reator aquele que apresenta endurecimento de 5mm ou mais e não reator aquele com endurecimento entre 0 e 4mm. Para pacientes não reatores, e em uso de terapia anti-retroviral, recomenda-se fazer o teste seis meses após o início da terapia, devido à possibilidade de restauração da resposta tuberculínica; Nos indivíduos vacinados com BCG, sobretudo entre aqueles imunizados há até dois anos, a prova tuberculínica deve ser interpretada com cautela porque, em geral, apresenta reações de tamanho médio, podendo alcançar 10mm ou mais; Em áreas de elevada prevalência de infecção tuberculosa, a taxa de positividade para a prova tuberculínica pode oscilar entre 25% e 55% da população geral. Nos locais onde há incidências significativas de HIV aumenta a probabilidade de resultados falso-negativos. A prova tuberculínica deve, portanto, ser utilizada com cautela, tendo em vista suas limitações na decisão diagnóstica e sempre levando em consideração os indicadores epidemiológicos regionais. OUTROS EXAMES Bioquímico – são mais utilizados em casos de Tuberculose extra pulmonar, principalmente no derrame pleural, derrame pericárdico e meningoencefalite tuberculosa. Sorológico e de biologia molecular – são métodos diagnósticos recentes, de custo elevado e valores preditivos variáveis, muitos ainda não definitivamente testados ou aprovados. Apesar das perspectivas futuras quanto à sua utilidade no diagnóstico precoce, não são recomendados para a rotina diagnóstica de Tuberculose no Brasil, ficando seu uso restrito a alguns centros de referência e pesquisa onde podem ser utilizados para casos que demandem diagnóstico rápido. Os antibióticos utilizados no tratamento da TB interferem na maquinaria enzimática ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial à sobrevivência do bacilo. Os fármacos só atuam onde existe metabolismo, ou seja, onde a infecção está ativa, e não latente. Estes serão destruídos pelo sistema imunológico do indivíduo. O bacilo depende de oxigênio e seu metabolismo se intensifica a depender da quantidade do gás presente na região. Na cavitação pulmonar, existe abundância de oxigênio, pH neutro e substâncias nutritivas. Nessas regiões, há maior quantidade de bacilos e estes adquirem resistência mais facilmente. Por outro lado, em granulomas, o oxigênio é mais escasso e, o pH, menos favorável. Ali, o crescimento bacilar adquire um caráter mais intermitente Por fim, no interior dos macrófagos, há pouco oxigênio e o pH é acido, além de haver os mecanismos de defesa do hospedeiro. Nesses locais, a multiplicação é lenta e os bacilos são latentes. É por conta dessas populações que o tratamento da tuberculose precisa ser bem longo. Existem duas fases no tratamento da tuberculose: a fase intensiva e a fase de manutenção. A fase intensiva tem o objetivo de diminuir a população bacilar consideravelmente, incluindo os resistentes. Já a fase de manutenção visa à eliminação de bacilos latentes ou persistentes e a diminuição da chance de recidiva. Quais são os principais esquemas e quais remédios os compõem? Esquema básico: para casos novos e retratamento – sendo este a recidiva após cura ou reingresso após abandono. Válido para todas as formas de tuberculose, em coinfectados por HIV ou não – com exceção da tuberculose meningoencefálica e osteomuscular. Temos 4 fármacos principais - RIPE/ RHZE: rifampicina(R), isoniazida (I/H), pirazinamida (P/Z) e etambutol (E). No esquema básico, faremos 2 meses de RIPE/RHZE e 4 meses de RI/ RH. A atuação dos medicamentos vai depender da localidade e do ambiente onde o bacilo se encontra. Naqueles bacilos intramacrofágicos, agem os medicamentos que melhor se difundem em pH ácido e meio intracelular: rifampicina, pirazinamida e etambutol. Em lesões caseosas, rifampicina é o mais efetivo e, por fim, nas cavitações, a rifampicina, estreptomicina e isoniazida são mais efetivas devido ao pH do meio. Ecomo trataremos as tuberculoses meningoencefálica e osteomuscular? Esquema RIPE/RHZE por 2 meses (fase intensiva), seguido de esquema RI/RH por 10 meses (fase de manutenção). E se o paciente tiver mais de uma forma de acometimento: uma forma meningoencefálica ou osteoarticular e uma forma pulmonar, por exemplo? Nesse caso, seguiremos o esquema da forma meningoencefálica e osteoarticular: 2RHPE/10RH. Fatores que influenciam a efetividade do tratamento. São resistentes à maioria dos antibióticos, por crescerem mais devagar os fármacos que agem combatendo às células de crescimento rápido são relativamente ineficazes, por conta da sua parede rica em lipídios tornando-a impermeável, além disso, são capazes de ficarem latentes fazendo com que morram mais lentamente ou se tornem totalmente resistentes. É por isso que torna-se necessária a combinação de fármacos. Outra característica das micobactérias é que possuem bombas de efluxo na membrana celular, cuja ação consiste em bombear para fora do citoplasma os agentes químicos possivelmente prejudiciais.
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