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Questionário para debate TOLERÂNCIA RELIGIOSA

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Questionário para debate
Como surge a intolerância religiosa no Brasil e qual é o panorama das religiões no país de hoje?
Perseguições na Idade Média e Moderna. começou com a implantação da religião católica pelos portugueses. Ao longo de toda história do País verificamos casos de intolerância de católicos contra as crenças indígenas, africanas e, mais tarde, contra as denominações cristãs protestantes.
Por que as pessoas que praticam religiões de matriz africana são as que mais sofrem preconceito no Brasil?
Para ele, esses ataques são resultado do racismo estrutural do Brasil. "A intolerância ocorre devido ao fato de que as religiões são comandadas por negros, pessoas que passam por outras situações de discriminação. Mas a nossa religião é a que mais acolhe, sejam negros, brancos, LGBTs, heterossexuais, seja lá quem for.
Casos de intolerância religiosa têm ganhado as páginas do noticiário com bastante frequência. A sociedade está regredindo ou essas pessoas já existiam, só não tinham onde se pronunciar?
A história nos mostra que disseminar o ódio é muito mais fácil que pregar o respeito. A sociedade brasileira – apesar de muita gente ainda acreditar que as religiões vivem em paz e que não há conflitos de natureza étnico-racial por aqui – é um solo fértil para a proliferação do fundamentalismo. As nossas bancadas evangélicas no Congresso, estados e municípios é a prova disso.
Qual a importância do diálogo entre as religiões? É possível que as religiões se apropriem de um censo comum?
como acreditar que a Igreja Católica (que é a instituição que ainda mais tem poder neste país) seja uma parceira neste diálogo, se o seu maior interesse é a manutenção do Ensino
Há instrumentos de inclusão no Brasil que podem estimular mudanças sociais estruturantes a respeito da liberdade de credo – e também de não credo, no caso dos ateus? Se sim, pode citá-los?
não. Com o modelo de educação que vige no Brasil, não conseguiremos avançar. Ainda mais com o aparelhamento estatal dos fundamentalistas cristãos, nas últimas duas décadas. Por outro lado, se a sua pergunta se refere aos aparelhos de Estado relativos à Igualdade Racial, a resposta também é não. Até porque, segundo a minha pesquisa, esses espaços estão em uma luta inglória sobre quem é e quem não é negro – porque o que se considera (com muita propriedade, é verdade!) é o racismo de marca vigente no Brasil. Ainda não conseguimos chegar a discutir o racismo de origem porque a violência de Estado mira (e mata!) as pessoas de pele preta, de Norte a Sul. Enquanto esta não for uma questão resolvida, pelo menos enfrentada, creio que ficará difícil falarmos sobre as outras formas de racismo.
Não podemos mais falar de intolerância religiosa, mas de violência”
20 DE JULHO DE 2015
É possível estabelecer um diálogo verdadeiro entre as religiões, que respeite de fato as escolhas e crenças das diferentes culturas? Para a mestre em antropologia pela Universidade Federal Fluminense, Rosiane Rodrigues, a resposta é não. “Quando a gente fala em diálogo pressupõe igualdade de condições políticas, e é exatamente por esta igualdade não existir – e pelos credos majoritários não abrirem mão de seus privilégios – que este diálogo interreligioso soa tão ‘fake’”.
Em entrevista à Rede Mobilizadores sobre intolerância religiosa – que para Rosiane é muito mais que intolerância, “é violência” – a também jornalista e pesquisadora explica que é preciso avançar no modelo de educação vigente no Brasil e exigir a implementação nas escolas das leis que tornam obrigatório o ensino da História da África, do negro, afro-brasileiros e indígenas. A partir desses passos, a sociedade brasileira pode começar a corrigir seus equívocos e avançar para o fim do preconceito às pessoas que praticam religiões de matriz africana e indígenas.
Confira na entrevista.
 
Rede Mobilizadores – Como surge a intolerância religiosa no Brasil e qual é o panorama das religiões no país de hoje?
R.: Esta pergunta não é simples. Ela tem uma vertente histórica. E penso que existem dois momentos fundamentais para isso:
1) Se pensarmos no Brasil colônia, com a chegada dos portugueses, podemos dizer que a “intolerância religiosa” é algo fundante da nossa sociedade. Catequizar e civilizar os ‘primitivos’ (ou aqueles que não eram cristãos) era a missão dos europeus por aqui. Esta tradição não mudou muito depois da República. Devemos também considerar o papel de protagonismo da Igreja Católica nos vários momentos da vida nacional. Mesmo com a separação da Igreja dos poderes do Estado, vários privilégios foram mantidos. A meu ver, este seria o primeiro momento do que hoje chamamos de intolerância religiosa;
2) A entrada das igrejas neopentecostais, na década de 1970, com a implantação da modelo midiático-empresarial da Igreja Universal do Reino de Deus tem dado o tom contemporâneo ao debate.
Bom, se pensarmos no panorama das religiões no Brasil de hoje, não podemos mais falar de intolerância religiosa, mas, sim, de violência.  A busca pela hegemonia político-eleitoral dos neopentecostais – que é uma categoria muito diferente do ‘ser evangélico’ – tem desenhado um mapa de ataques a religiosos de várias denominações em todo país, com ênfase aos afro-religiosos.
Rede Mobilizadores – Por que as pessoas que praticam religiões de matriz africana são as que mais sofrem preconceito no Brasil?
R.: Pela própria constituição histórica do Brasil. Quando os neopentecostais adotaram como estratégia o discurso demonizador e beligerante do tempo da Inquisição católica, em pleno século XX, a população achou – e tem muita gente que ainda acha! – normal. As religiões tradicionais afro-indígenas (Candomblé, Batuque, Jurema, Xango, Tambor de Minas, Tereco…) sempre foram demonizadas e perseguidas, fosse pela Igreja Católica, no tempo da Colônia, fosse pelo Estado, até muito recentemente. Isso tudo aliado ao racismo, que também é um dado que constitui todas as nossas relações. “Macumba é coisa de preto”, “Chuta que é macumba”… a gente foi impregnado por isso. Aprendemos a não respeitar o que é diferente – porque culturalmente aprendemos que os cultos afro-brasileiros e indígenas não poderiam nem ser considerados como religião. Recentemente um juiz federal apelou para este argumento para tentar arquivar uma ação na justiça. A intolerância (eu prefiro o termo violência, porque estamos falando de uma representação) às religiões afro-brasileiras é algo que está incorporado em nossas relações sociais.
Rede Mobilizadores – Casos de intolerância religiosa têm ganhado as páginas do noticiário com bastante frequência. A sociedade está regredindo ou essas pessoas já existiam, só não tinham onde se pronunciar?
R.: A história nos mostra que disseminar o ódio é muito mais fácil que pregar o respeito. Os grupos neonazistas estão aí até hoje, apesar do Holocausto. A onda fundamentalista é um dado mundial. O Estado Islâmico, o Boko Haran… são expressões que nos parecem distantes, mas que na verdade, estão muito próximas. A sociedade brasileira – apesar de muita gente ainda acreditar que as religiões vivem em paz e que não há conflitos de natureza étnico-racial por aqui – é um solo fértil para a proliferação do fundamentalismo. As nossas bancadas evangélicas no Congresso, estados e municípios é a prova disso.
Rede Mobilizadores- Qual a importância do diálogo entre as religiões? É possível que as religiões se apropriem de um censo comum?
R.: Pode parecer estranho o que vou dizer, mas o fato é que não acredito nesses diálogos. É uma posição pessoal e divergente, diga-se de passagem. Mas, veja, como acreditar que a Igreja Católica (que é a instituição que ainda mais tem poder neste país) seja uma parceira neste diálogo, se o seu maior interesse é a manutenção do Ensino Religioso nas escolas?
Principalmente quando sabemos que os neopentecostais se apropriam desta disciplina para perseguir e discriminar crianças de outras denominações? Como acreditar em uma parceria com igrejas que defendem respeito às tradições afro-brasileiras e indígenas, se elas não vão à públicodefender – e exigir! – a implementação das Leis 10639/03 e 11645/08 (que tornam obrigatórios o ensino da História da África, do negro, afro-brasileiros e indígenas, nas escolas)? Não me refiro a pessoas. Existem muitos evangélicos e católicos que lutam por isso. Falo das representações institucionais. O quadro piora quando constatamos que, do ponto de vista político, as religiões afro-brasileiras e afro-indígenas são as mais vulneráveis e ainda estão em condição de subalternidade.
Quando vimos as imagens veiculadas na imprensa – com padres, judeus, ciganos, indígenas, sacerdotes afro-brasileiros e muçulmanos de mãos dadas – pensamos: isso vai dar certo! O problema é que os interesses políticos e econômicos e a disputa do mercado religioso emperram o que deveriam ser ações efetivas. Há um projeto de hegemonia política em andamento no Brasil, no qual vários setores estão envolvidos e interessados. Nesses diálogos, de bom, são as fotos. Mas, o debate e as ações não se concretizam. No dia em que as religiões se apropriarem de um discurso comum – que respeite as diferenças e isento de interesses econômicos – é possível que haja um resquício de paz entre nós.
– Rede Mobilizadores – Há instrumentos de inclusão no Brasil que podem estimular mudanças sociais estruturantes a respeito da liberdade de credo – e também de não credo, no caso dos ateus? Se sim, pode citá-los?
R.: Imagino que você esteja se referindo às escolas. E a minha resposta vai, novamente, contra a da maioria: não. Com o modelo de educação que vige no Brasil, não conseguiremos avançar. Ainda mais com o aparelhamento estatal dos fundamentalistas cristãos, nas últimas duas décadas. Por outro lado, se a sua pergunta se refere aos aparelhos de Estado relativos à Igualdade Racial, a resposta também é não. Até porque, segundo a minha pesquisa, esses espaços estão em uma luta inglória sobre quem é e quem não é negro – porque o que se considera (com muita propriedade, é verdade!) é o racismo de marca vigente no Brasil. Ainda não conseguimos chegar a discutir o racismo de origem porque a violência de Estado mira (e mata!) as pessoas de pele preta, de Norte a Sul. Enquanto esta não for uma questão resolvida, pelo menos enfrentada, creio que ficará difícil falarmos sobre as outras formas de racismo.
Rede Mobilizadores – Como é tratada a tolerância religiosa no ambiente escolar? Qual a importância da educação neste contexto?
R.: Pois é. Como tolerância. Que se tolera, mas se quer mudar. Tolerância é exatamente isso: você convive, mas não respeita. Sabe que existe, mas gostaria que acabasse. É assim. Se estivéssemos falando de uma educação que liberta, que desaprisiona e faz as pessoas crescerem e se respeitarem, que propusesse a reflexão como centralidade, penso que seria a via mais eficaz para a mudança da sociedade. Não seria uma mudança rápida, brusca. Mas, em duas ou três gerações, é possível que conseguíssemos algum resultado.
Rede Mobilizadores – Pode adiantar alguma conclusão do livro que irá lançar sobre a intolerância religiosa?
R.: Sim, será lançado em agosto. Na segunda quinzena. O livro “Quem foi que falou em igualdade?” (Editora Autografia) é a minha dissertação de mestrado em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense, defendida no ano passado. Trata da minha inquietação sobre como os militantes do Movimento Negro carioca lidam com as demandas por garantia de direitos dos afro-religiosos. Minha pesquisa vai na seguinte direção: os neopentecostais têm propagado um discurso de ódio às religiões afro-brasileiras, do mesmo modo que se arvoram em dizer que são as religiões ‘mais negras’ do país. Como estratégia de disputa do mercado religioso, eles escolheram plantar suas igrejas em locais pobres (favelas e bairros periféricos) e arregimentaram uma grande quantidade de fiéis pretos e pardos. Este contingente de negros tem servido para desqualificar os seguidores das religiões afro-brasileiras e abafar as suas demandas nos aparelhos de Estado. É em meio a essas controvérsias (cor/ pertencimento religioso/ política) que eu construí a pesquisa.

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