Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO A ONDA SONORA A onda sonora é produzida por ondas de compressão e descompressão transmitida pelo ar ou outro meio fluido, como a água. O som puro é uma onda senoidal que apresenta uma frequência e amplitude constante. A frequência das ondas sonoras é dada em ciclos/seg ou hertz (Hz) e a amplitude (a intensidade do som) é dada em decibel (dB). As ondas sonoras complexas (som não puro ou um ruído) é a somatória de sons distintos com frequências e amplitudes variadas. A velocidade do som no ar é de 335 m/seg. O ouvido humano identifica frequências sonoras na faixa de 20 a 20.000 Hz; animais têm estas faixas diferentes. TIMBRE: é o que diferencia dois ou mais sons de mesma frequência, porém com características sonoras distintas (envelope sonoro). A mesma nota musical (frequência e amplitude iguais) possuem timbres diferentes em instrumentos diferentes (função do tipo e da forma de construção do instrumento). REVISÃO MORFOFUNCIONAL DO OUVIDO Em termos morfuncionais o ouvido (ou orelha, segundo alguns fisiologistas) pode ser dividido em 3 partes: a) Ouvido Externo. b) Ouvido Médio. c) Ouvido Interno. O ouvido externo é constituído pelo pavilhão auditivo (ou orelha) e um canal auditivo. A orelha serve para proteger o ouvido médio e prevenir danos ao tímpano, ela é imóvel em humanos, mas móvel em alguns animais para identificar a origem do som. O canal auditivo tem cerca de 2 cm no adulto e pode amplificar discretamente sons de 3.000 Hz. A propagação do som no ouvido externo é aérea (onda de pressão). O ouvido médio é constituído pelo tímpano, 3 pequenos ossículos interconectados (martelo, bigorna e estribo) e pela tuba auditiva. O ouvido médio transforma a energia das ondas sonoras, pela vibração do tímpano, em vibrações dos ossículos (energia mecânica). O martelo conecta-se à membrana timpânica e o estribo com a janela oval do ouvido interno; assim o movimento de vai e vem dos ossículos vibram com a mesma frequência do tímpano e está com a frequência sonora no ouvido externo. Como o tímpano apresenta uma área muito maior que a área do estribo no ouvido interno, isto permite, mecanicamente, a amplificação da força vibrante em até 15 vezes. O músculo estapédio que conecta os 3 ossículos é responsável pela conectividade entre os ossículos, ampliando as vibrações sonoras em ambientes silenciosos ou reduzindo em ambientes com sons muito alto. Há um canal denominado de tuba auditiva ou tuba de Eustáquio que conecta o ouvido médio (cheio de ar) à cavidade da boca; sua função é igualar a pressão entre o ouvido médio e externo (meio ambiente). O ouvido interno é constituído pela cóclea (ou caracol) e o nervo auditivo. Próximo à cóclea existe os canais semicirculares que estão envolvidos na detecção do equilíbrio e não da audição. A cóclea, se esticada, mede cerca de 3 cm, com duas voltas e meia, tem cerca de 20 mil células nervosas e apresenta 3 canalículos, denominados de escala ou rampa vestibular, timpânica e média. O ouvido interno serve para transformar a energia sonora (energia de compressão) em impulsos nervosos que serão transmitidos pelo nervo auditivo para o córtex para a consciência da estimulação sonora. Duas estruturas também estão presentes na cóclea, são as janelas oval e redonda, elas evitam a elevação da pressão intra-coclear. Quando o estribo pressiona a janela oval há transferência de pressão para dentro da cóclea (na rampa ou escala vestibular) e a janela redonda abaula-se para fora da cóclea. Inversamente, quando o estribo recolhe, a janela oval retorna a sua posição e a janela redonda desloca-se para dentro da cóclea, é um mecanismo de vai e vem das duas janelas em função dos deslocamentos para frente e para trás do estribo (devido as vibrações do tímpano). A separação entre as rampas (ou escalas) vestibular e média é feita pela membrana de Reissner (ou membrana vestibular), que é muito delgada; a separação entre as rampas timpânica e média é feita pela membrana basilar. Na superfície da membrana basilar (voltada para a rampa média) estão os órgãos de Corti, que contém celular nervosas ciliadas (são os receptores auditivos propriamente dito). Nos órgãos de Corti, as células nervosas ciliadas estão dispostas em duas camadas, a interna (poucas células) e a externa (mais células). Acima dos órgão de Corti encontrase a membrana tectorial (ou tectória). A membrana tectorial é presa somente na parte central e livre na outra extremidade, repousando sobre as células nervosas ciliadas. Ampliando a imagem das células nervosas ciliadas, observa-se que o tamanho dos cílios é variável (maiores nas células nervosas ciliadas internas). A perilinfa preenche as rampas vestibular e timpânica (apresenta 7 mM de K+ e 140 mM de Na+) é semelhante ao líquido cefaloespinhal. A endolinfa preenche a rampa média (apresenta 145 mM de K+ e 2 mM de Na+) é semelhante ao LIC. No final do caracol as rampas vestibular e timpânica se comunicam pelo helicotrema. A TRANSDUÇÃO SONORA NA CÓCLEA Transdução é a transformação de um tipo de energia em outro; na cóclea há a transdução da energia vibratória (mecânica) do som em energia bioelétrica (potenciais de ação), isto ocorre nas células ciliadas dos órgãos de Corti. As células ciliadas dos órgãos de Corti possuem estereocílios em sua parte apical (superior) e tocam através de uma camada de gel a membrana tectorial; na parte basal (inferior) destas células há a presença de vesículas sinápticas que podem excitar as fibras nervosas aferentes do nervo auditivo. Em tese, um som com frequência muito abaixo de 200 Hz (não audível para humanos), o deslocamento do estribo em direção à janela oval, gera uma onda de pressão que se propaga pela perilinfa da rampa (escala) vestibular em direção ao helicotrema e daí segue pela rampa timpânica até a janela redonda, abaulando-a em direção ao ouvido médio, dissipando a pressão nas rampas vestibular e timpânica. onda de pressão Nessa condição não haveria a estimulação das células ciliadas dos órgãos de Corti e nenhuma informação sonora seria detectada. No entanto, para frequências sonoras entre 200 a 8.000 Hz a onda de pressão na perilinfa não chega até o helicotrema, ela toma um ”atalho” (vibração) em um determinado ponto da cóclea. Uma frequência alta de 8.000 Hz este atalho ocorre a cerca de 3 mm distante da janela oval ou do pé do estribo; frequência de 2000 Hz a vibração ocorre a 15 mm da janela oval; frequência de 600 Hz a 27 mm e numa frequência baixa de 200 Hz ocorre a 35 mm da janela oval, junto ao helicotrema. A membrana de Reissner (entre as rampas vestibular e média) por ser muito delgada permite facilmente a passagem da onda de pressão (ao longo da cóclea) da rampa vestibular para a média (o ”atalho” da vibração) e essa onda de pressão transferida para a rampa média produz oscilações nesta estrutura incluindo a membrana basilar. A onda de pressão é transferida para a rampa timpânica e dissipada pela janela redonda. Por exemplo, uma onda sonora pura de 2.000 Hz faz este atalho próximo da metade do comprimento da cóclea. A membrana basilar, onde estão situados os órgãos de Corti, é flexível e se move para cima e para baixo em respostas às ondas de pressão geradas pelo som, Esta membrana é mais larga (0,5 mm) e flexível no ápice, próximo de helicotrema e mais estreita (0,04 mm) e rígida na base, próximo da janela oval, assim os movimentos da membrana basilar com o atalho em algum ponto da cóclea, logo dissipa a onda de pressão. A movimentação da membrana basilar para cima e para baixo promove o deslocamento da lâmina reticular para frente e para trás, fazendocom que ocorra um movimento relativo entre as células ciliadas dos órgãos de Corti e a membrana tectorial. O toque da membrana tectorial nos estereocílios, numa dada direção, promove a excitação destes receptores que excitam o nervo auditivo. lâmina reticular Um som não puro (várias frequências sonoras no mesmo instante) tem a propriedade de excitar vários locais ao longo da cóclea e o córtex auditivo conseguira separá-las e decodificar o conjunto dos sons. Lembrando que a rampa média está preenchida pela endolinfa (rica em potássio, 145 mM), o toque da membrana tectorial nas células ciliadas dos órgãos de Corti, numa determinada direção (dos cílios menores para os maiores) promove o aumento da permeabilidade aos íons potássio. Como a concentração de potássio intracelular é MENOR neste tipo de célula, o influxo de potássio (a favor de seu gradiente) torna o interior da célula ciliada positiva (despolarização). Esta despolarização na célula ciliada aumenta a permeabilidade ao íon cálcio e seu influxo promove a liberação de neurotransmissores (por exocitose) para a fenda sináptica, levando a despolarização de diferentes fibras aferentes do nervo auditivo. Células ciliadas internas: é uma fileira única de células, totalizando ao longo da cóclea cerca de 3.000 células, grande diâmetro celular e grande inervação. Células ciliadas externas: fileira com algumas células (3 a 5), totalizando cerca de 12.000 células, pequeno diâmetro e baixa inervação, porém são fundamentais para a audição, pois parece controlar a sensibilidade das células internas. A curvatura dos cílios das células ciliadas em direção ao quinocílio (o cílio maior) despolariza a célula, pela abertura de 200 a 300 canais seletivos ao potássio, mas a curvatura destes cílios em direção contrária, hiperpolariza a célula. A determinação da intensidade sonora é realizada por 3 maneiras: a) Sons mais intensos (grande amplitude da onda sonora) promovem maior vibração na membrana basilar e nas células ciliadas, produzindo uma maior descarga neural aferente (maior número de potenciais de ação). b) Maior número de células ciliadas, incluindo as da ”margem” do ponto de atalho se despolarizam. c) Sons de baixa intensidade excitam somente s células ciliadas internas, mas sons altos excitam também as células ciliadas externas. A TRANSDUÇÃO SONORA NA CÓCLEA - RESUMO 01- As ondas sonoras movem a membrana timpânica. 02- A membrana timpânica move os ossículos do ouvido médio. 03- O estribo move (para frente e para trás) a membrana da janela oval. 04- Os movimentos da janela oval movem a perilinfa na rampa vestibular. 05- A onda de pressão toma um ”atalho”, passando para a rampa média e daí para a timpânica. 06- Dissipação da pressão pelo deslocamento da janela redonda (em sentido contrário a da janela oval). 07- A vibração da membrana basilar, na rampa média, excita as células ciliadas dos órgãos de Corti ao tocarem a membrana tectorial. 08- Devido a endolinfa na rampa média (rica em potássio), ocorre aumento da permeabilidade ao K+ , aumento da permeabilidade ao Ca++ e exocitose das vesículas sinápticas. 09- Excitação das fibras nervosas aferentes (nervo auditivo) em direção ao SNC, com grande modulação ao longo das vias e núcleos específicos. 10- Chegada dos potenciais de ação no córtex auditivo (áreas 41 e 42), ipslateral e contralateral, e consciência do estímulo sonoro. CÓRTEX AUDITIVO A consciência de um som e seu significado (quando há) ocorre quando potenciais de ação chegam no córtex auditivo. As vias aferentes de nervo coclear até o córtex auditivo formam um circuito neural amplo, com muitas modulações e cruzamentos de lado (informações do ouvido esquerdo chegam em núcleos e córtex ipslateral e contralateral e vice-versa), refinando e processando a ”imagem” sonora. Vias eferentes para tronco cerebral e cerebelo permitem a movimentação da cabeça e olhos para localizar e identificar uma imagem sonora. As vias aferentes (e suas conexões) auditivas são: a) Neurônios de 1a ordem: fibras do nervo coclear que formam o nervo vestíbulo coclear (ou auditivo), VIII par, entram no bulbo nos núcleos cocleares dorsal e ventral. b) Neurônios de 2a ordem: parte das fibras dos núcleos cocleares decussam e ascendem até o núcleo olivar superior (ponte) onde pode haver cruzamento de lado. c) Neurônios de 3a ordem: do núcleo olivar superior ascendem pelo feixe lemnisco lateral até o colículo inferior no mesencéfalo. d) Neurônios de 4a ordem: as fibras aferentes seguem até o núcleo geniculado medial do tálamo, realizando novo cruzamento (parte das fibras). e) Neurônios de 5a ordem: as fibras irradiam do tálamo para o córtex auditivo no giro superior do lobo temporal, terminando nas áreas 41 e 42 de Brodmann. Os neurotransmissores aferentes da via auditiva são: Excitatórios: glutamato e aspartato Inibitórios: GABA e glicina. Ocorre grande modulação do sinal nervoso ao longo da via aferente (em especial no núcleo coclear, complexo olivar e núcleo geniculado medial do tálamo). A acetilcolina é um dos principais moduladores aferentes e eferentes. O córtex auditivo está representado em duas áreas: a) Córtex Auditivo Primário – área 41 de Brodmann. b) Córtex de Associação Auditiva ou Córtex Auditivo Secundário – área 42 de Brodmann. O córtex auditivo primário é excitado pelos núcleos geniculado medial de cada lado do tálamo, chegando as informações ipslateral e contralateral. O córtex auditivo secundário (de associação) é excitado pelo primário, mas recebe informações de outras áreas corticais: córtex sensorial secundário (área 2 de Brodmann), área de Wernicke (área 22) relacionado a compreensão das palavras escritas e faladas, córtex visual (áreas 17 e 18), entre outras. No córtex auditivo primário existe 6 mapas tonotópicos, sendo na extremidade posterior sons de alta frequência e na extremidade anterior sons de baixa frequência. Quanto maior a intensidade sonora, mais fibras do nervo coclear disparam. Assim, o som (frequência e intensidade) são decodificados no córtex auditivo primário. O ”entendimento” do som (exemplo: o significado de uma palavra ou frase) ocorre no córtex auditivo secundário (associação) e área de Wernicke. Fibras colaterais do nervo auditivo ativam o sistema ativador do tronco cerebral e o cerebelo e sons intensos podem ativar o SNC, por exemplo, para passar da condição de sono para vigília (o tocar do despertador !!!). A identificação da direção de um som deve-se a dois mecanismos: a) O intervalo de tempo entre a entrada do som em cada um dos ouvidos (ou chegada da estimulação no córtex auditivo). b) A diferença entre as intensidades sonoras nos dois ouvidos. A destruição do córtex auditivo, mas mantendo-se a integridade do núcleo olivar (ponte), já permite em animais uma certa capacidade de identificar e localizar a origem de um som. AUDIOMETRIA Audiometria é uma avaliação da função auditiva por meio de um aparelho (audiômetro) que emite sons puros nas faixas de frequências entre 250 (grave) a 8.000 Hz (agudo) em 10 faixas pré-estabelecidas. O voluntário permanece numa cabine isolado acusticamente com fones de ouvido, é avaliado a audiometria tonal (tons sonoros) e também a vocal (compreensão da fala). Avalia-se isoladamente cada ouvido e faz-se um audiograma para verificar a existência ou não de diferentes graus de surdez. Em relação a um valor de normalidade, para uma determinada frequência sonora, se for necessário elevar a intensidade sonora em 30 dB para que aquela frequência seja audível, então a perda auditiva será de 30 dB (para a frequência avaliada). A surdez poderá ser: a) Surdez Nervosa: comprometimento da cóclea, nervo auditivo ou circuitos neuronais centrais relacionados ao ouvido. b) Surdez de Condução: comprometimento de estruturasfísicas (exemplo: imobilidade articular óssea). c) Surdez por Fármacos: certos antibióticos podem lesar os órgãos de Corti. d) Presbicusia: surdez de alta frequência pela exposição de sons altos por muito tempo ou pela idade.
Compartilhar