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NILVIA DA HORA DE JESUS MEIOS DIAGNÓSTICOS DA LEPTOSPIROSE CANINA: REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, Pró-Reitoria de Ensino e de Pós- Graduação, para obtenção do certificado de Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais. Orientador: Profª Ms Maria Amélia Fernandes Figueiredo MOSSORÓ - RN 2009 2 NILVIA DA HORA DE JESUS MEIOS DIAGNÓSTICOS DA LEPTOSPIROSE CANINA: REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada à Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA), como exigência final para obtenção do título de Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais. APROVADA EM: 21/11/2009 BANCA EXAMINADORA: ______________________________________ Profª. M. Sc. Laura Cristina Pinho de Oliveira Equalis ____________________________________ Profº. M. Sc. Marcus Vinicius Fróes Barbosa UNIME _________________________________ Profª. Dra. Gláucia Bueno Pereira Neto UNIME 3 Dedico este trabalho aos meus queridos pais, responsáveis por cada vitória em minha vida. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida. Aos meus pais, Silvio e Tanilza, pelo amor e apoio. As minhas irmãs Silza e Silvilane, pelo carinho e amizade constantes. A Marcco Antonio, que com seu lindo sorriso me renova forças. A minha orientadora, Prof.ª Maria Amélia, que apesar da distancia, se fez presente durante a execução desse trabalho. Aos meus queridos colegas de pós-graduaçao, Cleusa, Hermes, Gustavo, Carlinhos, Ilka, Sharlene, Thiago, Carlos, entre tantos outros, que me proporcionaram momentos inesquecíveis de companheirismo e amizade. 5 RESUMO JESUS, N. H. Meios diagnósticos da Leptospirose Canina: revisão de literatura. Monografia (Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais) – Pró – Reitoria de Ensino e de Pós-Graduaçao – Universidade Federal Rural do Semi-Árido – 2009. O diagnóstico precoce da Leptospirose Canina é de extrema importância para instituir o melhor tratamento. Contudo, muitas vezes seus sinais clínicos são confundidos com outras enfermidades, devido as suas variadas manifestações clínicas. Assim, é extremamente necessário ter conhecimento sobre essas variedades, inclusive para a escolha do método de diagnóstico mais adequado para a situação que o animal se encontra. A sintomatologia da infecção associada ao histórico, sinais clínicos e achados laboratoriais, como hemograma, bioquímica sérica e urinálise, possibilita o diagnóstico presuntivo de Leptospirose. Porém, para confirmar a presença da enfermidade se faz necessário à realização de exames confirmatórios, como microscopia de campo escuro, testes sorológicos, PCR, entre outros. O objetivo do presente trabalho foi descrever os métodos diagnósticos mais utilizados, visando o tratamento precoce dos animais enfermos. Palavras-chaves: cães, leptospirose canina, meios diagnósticos, testes confirmatórios. 6 ABSTRACT JESUS, N. H. Diagnostic means of Canine Leptospirosis: a literature review. Monografia (Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais) – Pró – Reitoria de Ensino e de Pós-Graduaçao – Universidade Federal Rural do Semi-Arido – 2009. The early diagnosis of Canine Leptospirosis is extremely important to establish the best treatment. However, often their clinical signs are mistaken for other diseases, due to its varied clinical manifestations. Thus, it is extremely necessary to have knowledge about these varieties, including the choice of diagnostic method most appropriate for the situation that the animal is. Symptoms of infection associated with the history, clinical signs and laboratory findings, such as blood count, blood chemistry and urinalysis, allows the presumptive diagnosis of leptospirosis. However, to confirm the presence of the disease is necessary to carry out confirmatory tests, such as dark field microscopy, serology, PCR, among others. The objective of this study was to describe the most used diagnostic methods, aiming at an early animals sick. Key words: dogs, canine leptospirosis, diagnostic techniques, confirmatory tests. 7 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 8 2. REVISÃO DE LITERATURA 10 2.1 Aspectos gerais da Leptospirose Canina 10 2.2 Histórico e sinais clínicos 11 2.3 Achados laboratoriais não específicos 12 2.4 Microscopia de campo escuro 13 2.5 Isolamento e cultivo do agente 14 2.6 Diagnóstico anatomo-patológico 15 2.7 Soroaglutinação microscópica (SAM) 15 2.8 Teste de Elisa 17 2.9 Reação em cadeia polimerase (PCR) 17 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20 8 1. INTRODUÇÃO A Leptospirose é uma doença infecto-contagiosa que acomete homens e animais, de ocorrência mundial, sendo mais comum em países tropicais e subtropicais. Os animais silvestres agem como portadores ou reservatórios de leptospiras para o homem e espécies domésticas (PAULA, 2005). A água tem papel primordial na difusão e manutenção das leptospiras na natureza e assume particular importância na transmissão da doença, que ocorre por meio de contato com a água contaminada de rios, lagoas e canais ou oriunda de chuvas (SILVA et al., 2006). Assim, o contágio humano e canino acontece principalmente em situações de enchentes e inundações, onde a urina dos roedores (principal reservatório) está presente em esgotos e bueiros que se misturam as enxurradas e à lama de enchentes (BLAZIUS et al., 2005). Para a prevenção da leptospirose, tanto humana quanto canina, é preciso à implantação de uma série de medidas de controle, como o controle da população de roedores, a manutenção de ambiente desfavorável à sobrevivência das leptospiras, e isolamento e tratamento dos animais infectados, além de se evitar o contato com água da enchente para que não ocorra a disseminação das leptospiras (OLIVEIRA et al., 2005). De acordo com Ettinger; Feldman (2004), a vacinação dos cães é de extrema importância como medida de controle da leptospirose canina e consequentemente da humana. Os sinais clínicos da Leptospirose Canina muitas vezes são confundidos com a sintomatologia de outra enfermidade, o que dificulta o diagnóstico precoce da doença (ANZAI, 2006). O diagnóstico da leptospirose é baseado na combinação do histórico, sinais clínicos, achados laboratoriais não específicos e testes confirmatórios. Os exames laboratoriais como o hemograma, dosagem dos valores séricos de uréia e creatinina e urinálise, podem ser utilizados como exames complementares, pois contribuem para a avaliação clínica do animal (OLIVEIRA et al., 2005). Já os testes confirmatórios incluem microscopia de campo escuro, teste de soroaglutinação microscópica (SAM), isolamento em cultura de urina ou sangue, reação em cadeia de polimerase (PCR), entre outros (BIAZOTTI, 2006). O objetivo deste trabalho foi descrever os meios de diagnósticos mais utilizados para identificação da Leptospirose Canina, demonstrando inclusive as vantagens e desvantagens de cada técnica, para assim, auxiliar o clínico veterinário na escolha do melhor método de acordo com cada situação exposta. Portanto, quanto mais precoce o diagnóstico, melhorpara instituir 9 o tratamento mais adequado, obtendo assim resultados positivos quanto à recuperação dos pacientes. 10 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Aspectos gerais da Leptospirose Canina A leptospirose é causada pela bactéria do gênero Leptospira, família Treponemataceae, ordem Spirochaetiales. Segundo Biazotti (2006), as leptospiras são bactérias flexíveis, delgadas e filamentosas em espiral, e extremidades em forma de anzol. O gênero Leptospira foi dividido anteriormente em duas espécies: Leptospira interrogans que compreende todas as estirpes patogênicas, e Leptospira biflexa, compreendendo leptospiras saprófitas isoladas do ambiente (RODRIGUES, 2008). Assim, as mesmas eram diferenciadas por reações sorológicas, e agora as leptospiras são classificadas por homologia do DNA, e dentro de cada espécie, várias sorovariedades são reconhecidas com base nas reações sorológicas (QUINN et al., 2005). Segundo Biazotti (2006), os cães são infectados por L. australis, L. autumnalis, L. ballum, L. bratislava, L. bataviae, L. canicola, L. grippotyphosa, L. hardjo, L. icterohaemorrhagiae e L. pamona e L. tarassovi, pertencentes ao gênero Leptospira interrogans. A transmissão das leptospiras, que atingem os animais pode ser por contato direto entre os mesmos ou pelo contato indireto, sendo esta a forma mais freqüente de transmissão (ETTINGER; FELDMAN, 2004). As leptospiras multiplicam-se rapidamente ao ingressarem no espaço vascular sanguíneo e produzem lesões em muitos órgãos nos hospedeiros suscetíveis (RODRIGUES, 2008). A leptospiremia ocorre entre quatro a doze dias pós- infecção, e os alvos primários são os rins e fígado. A leptospira replica-se no epitélio tubular renal e pode causar lesão aguda e insuficiência renal, no fígado pode lesar hepatócitos resultando ocasionalmente em necrose hepática aguda, fibrose hepática e hepatite ativa crônica (BIAZZOTI, 2006). Rodrigues et al. (2008) ressaltam que a doença nos cães pode ocorrer na forma subclínica ou clínica, com evoluções aguda ou crônica. As infecções menos graves causam febre, anorexia, vômito, desidratação, aumento de sede e relutância em mover-se. A deterioração progressiva da função renal resulta em oligúria ou anúria, e alguns cães também podem apresentar icterícia (ETTINGER; FELDMAN, 2004). Nos casos severos, o início é súbito e a doença se caracteriza por uma ligeira fraqueza, anorexia, vômito, febre em torno de 11 40º C, e frequentemente há conjuntivite suave. Após alguns dias, a temperatura tende a cair, a depressão fica mais pronunciada, a respiração fica cada vez mais dificultada e a sede acentuada (HAGIWARA, 2003). Ettinger; Feldman (2004) preconizam para o tratamento da Leptospirose Canina, a terapia de suporte. Entretanto, a mesma depende da gravidade da infecção, da presença da disfunção renal ou hepática e de outros fatores complicantes. Deve-se promover a hidratação com fluidoterapia intravenosa (IV), a qual pode reverter quadros de oligúria e anúria, devendo ser usados diuréticos em casos mais dramáticos, podendo ser necessário, até mesmo, diálise peritoneal (RODRIGUES, 2008). A antibioticoterapia deve ser iniciada o quanto antes, pois inibe rapidamente as complicações fatais da infecção como insuficiência renal e hepática. A penicilina e seus derivados é o antibiótico de escolha para interromper a leptospiremia, porém não elimina o estado de portador. Após a recuperação, a doxiciclina pode ser usada para a eliminação desse estado (RODRIGUES, 2008). No entanto, Aiello (2001), sugere o uso da diidroestreptomicina em doses elevadas por uma semana para a redução do estado de portador/eliminador. De acordo com Ettinger; Feldman (2004), o controle da liberação de leptospiras pelos reservatórios naturais (principalmente roedores) é impossível. Por essa razão, a vacinação de cães é essencial para a prevenção e controle da enfermidade As bacterinas inativadas bivalentes que contêm dois sorotipos principais, L. canicola e a L. icterohaemorrhagia, e ainda a L. grippotyphosa e L. pamona estão disponíveis para os cães. A imunização é eficaz em reduzir a prevalência e a gravidade da leptospirose canina, mas não evita o estado de carreador, nem protege contra a infecção por outros sorotipos. 2.2 Histórico e sinais clínicos O diagnóstico inicial da leptospirose é feito com base nos sinais clínicos, avaliação do histórico e contexto epidemiológico. As manifestações clínicas da leptospirose em cães dependem da idade e imunidade do animal e da virulência do sorovar infectante. Os animais que apresentam infecção subaguda manifestam febre, anorexia, vômito, desidratação e polidipsia acentuada, além de apresentar mucosas congestas, petéquias e equimoses em todo o corpo (BIAZOTTI, 2006). 12 Segundo Oliveira et al. (2005), a maioria dos sorovares pode causar leptospiremia e vasculite em cães, contudo, o envolvimento dos órgãos está relacionado ao sorovar infectante. A infecção clássica pelo sorovar icterohaemorrhagiae é caracterizada por doença hemorrágica aguda, insuficiência hepática e renal, apresentando febre, mialgia, prostração e com a evolução do processo, o cão pode apresentar anúria, oligúria ou poliúria, indicando diferentes graus de comprometimento renal (HAGIWARA, 2003). De acordo ainda com Hagiwara (2003), a doença causada pelo sorovar canicola se relaciona com o comprometimento renal, sem haver sintomas hepáticos. Os sintomas predominantes são aqueles relacionados com insuficiência renal progressiva e uremia: perda de peso, poliúria, desidratação, emese, diarréia (nem sempre), ulcerações na cavidade oral e necrose da língua, em casos mais avançados. A forma urêmica geralmente acomete animais mais velhos, apresentando febre, apatia, sono, inapetência, vômito e diarréia, sensibilidade renal, mucosas congestas, úlceras orais e de língua, que tendem a necrose e o exame de urina mostra-se com alterações, como densidade baixa, glicosúria, proteinúria, bilirrubinúria, entre outras (SILVA et al., 2006). . Essa forma provoca nefrite intersticial aguda e leve insuficiência hepática. Devido à alta ocorrência de sinais inespecíficos e manifestações variadas da doença, é difícil realizar o diagnóstico da leptospirose canina com base em apenas sinais clínicos ou patológicos de rotina (ANZAI, 2006). 2.3 Achados laboratoriais não específicos Comumente, as alterações hematológicas envolvem trombocitopenias, leucocitose com desvio à esquerda e aumento de fibrinogênio plasmático. Nas trombocitopenias das doenças infecciosas como a Leptospirose, há lesão vascular e consumo aumentado de plaquetas nas hemorragias. O processo é regenerativo com aumento do número de megacariócitos na medula óssea e liberação de plaquetas mais jovens na circulação. Essas plaquetas apresentam tamanho avantajado e são chamadas plaquetas gigantes ou megatrombócitos (GARCIA-NAVARO; PACHALY, 1994). De acordo com Biazotti (2006), a contagem de leucócitos depende da fase e severidade da infecção, sendo que a leucopenia é comum na fase superaguda da leptospiremia, evoluindo para leucocitose com desvio a esquerda. A bioquímica sérica revela 13 aumento da uréia e creatinina (com os níveis dependentes da gravidade da lesão renal), hiponatremia, hipocalcemia, hiperfosfatemia, hipoalbuminemia, hipocalcemia, hiperbilirrubinemia, níveis elevados de alanina amitransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA) resultantes da doença hepática, doença renal, perdas grastrointestinais e acidose. Na urinálise de cães com leptospirose observa-se geralmente densidade baixa, glicosúria, proteinúria, bilirrubinúria, que normalmente precede hiperbilirrubinúria, acompanhadas de elevação de cilindros granulosos, leucócitos e eritrócitos no sedimento urinário(BIAZOTTI, 2006) A natureza não especÍfica dessas alterações pode apenas sugerir diagnóstico de leptospirose, o qual deve ser confirmado por testes microbiológicos, sorológicos e moleculares (OLIVERIA et al., 2005). 2.4 Microscopia de campo escuro A microscopia de campo escuro aplica-se a observação de microorganismos vivos, sem preparação prévia. Os raios luminosos são projetados obliquamente sobre o preparado pela ação do condensador cordióide e, quando encontram obstáculos com capacidade de desviá-los, como, por exemplo, bactérias, são refratados e atingem a objetiva, formando uma imagem com contorno brilhante no campo microscópico (LEPTOSPIROSE CANINA, 2008). Para o diagnóstico da Leptospirose Canina, a microscopia de campo escuro de rotina deve ser limitada à urina. Outros líquidos corporais contêm artefatos similares a leptospiras. Assim, centrifugação breve em baixa velocidade limpa a amostra de partículas que interferem, mas não irá sedimentar leptospiras (HIRSH; CHUNG, 2003). A visualização direta de leptospiras em microscópio de campo escuro tem sido utilizada principalmente em amostras de urina durante a fase de leptospiúria. Entretanto, essa técnica apresenta como limitações: baixa sensibilidade, necessidade de experiência por parte do observador e principalmente a eliminação de leptospiras de forma intermitente pela urina e lise pelo pH ácido da urina, que contribuem para resultado falso. Contudo, resultados negativos de exames diretos não excluem leptospiras. (ANZAI, 2006). 14 2.5 Isolamento e cultivo do agente O exame bacteriológico é considerado definitivo para o diagnóstico da Leptospirose Canina. No entanto, para o isolamento das leptospiras são necessários tempo e técnica apropriados, devido às exigências para o crescimento do agente e a susceptibilidade do mesmo a mudanças ambientais (BIAZOTTI, 2006). Segundo Oliveira et al. (2005), o isolamento do agente pode ser feito a partir de amostras clínicas de animais suspeitos e doentes como sangue e/ou urina, e até mesmo de material coletado post-mortem (tecidos e órgãos). As leptospiras podem ser isoladas a partir do sangue durante os primeiros sete a dez dias da infecção e a partir da urina durante aproximadamente duas semanas após infecção inicial (QUINN et al., 2005). De acordo com Oliveira et al. (2005), a partir de dois dias de infecção leptospiras já podem ser vistas no túbulo proximal, o que coincide com o início da eliminação de leptospiras na urina e, então deve ser cultivada desde o mais cedo possível. A urina é o material ideal para o cultivo, porém devem ser colhidas mais de uma amostra, pois a liberação pela urina é intermitente. Os meios de cultivo das leptospiras são líquido, semi-sólido ou sólido. Os meios mais utilizados são o Ellinghausen, McCullueg, Johnson, Harris (EMJH) e o meio de Fletcher. As culturas são incubadas a uma temperatura entre 28º e 30º C e examinadas semanalmente por microscopia de campo escuro durante pelo menos dois meses para se confirmar o diagnóstico (QUINN et al., 2005). Segundo Carter (1988), amostras com possível contaminação podem ser inoculadas em meios de cultura seletivos contendo antibióticos. Assim, a filtração ou a adição de 5-fluoracil pode ser usada para se reduzir os contaminantes. Segundo Biazotti (2006), no laboratório também pode ser feito cultivo, através de inoculação em cobaia. As cobaias inoculadas com 0,5 -2 mL de urina geralmente morrem em 7-12 dias pelo sorotipo icterohaemorrhagiae, mas não morrem pelo sorotipo canicola que é menos patogênico; neste caso será possível isolar o agente quando a cobaia se apresentar febril, com pêlos arrepiados, o que pode ocorrer entre 5 a 10 dias pós-inoculação. Para o isolamento das leptospiras são necessários tempo e técnica apropriados. Assim, os resultados podem apresentar falso-negativos, sendo necessário realizar um exame paralelo, como Soroaglutinação Microscópica (SAM), para confirmar o diagnóstico. 15 2.6 Diagnóstico anatomo-patológico O exame pos-morten é extremamente valioso no diagnóstico da Leptospirose em cães, porém os achados anatomo-patológicos variam de acordo com a sintomatologia clínica desenvolvida (BIAZOTI, 2006). Geralmente observa-se à necropsia, hepatomegalia, associado à degeneração e necrose hepática; congestão pulmonar, petéquias e sufusões pleurais; úlceras na língua; edema, congestão e necrose renal; hemorragias e aderência de cápsula renal; congestão, edema e hemorragias grastointestinais (BIAZOTTI, 2006). Após a necropsia dos animais, os rins e fígado são os órgãos de escolha para identificação do agente. Assim, nesses animais o diagnóstico histopatológico é realizado principalmente a partir de fragmentos desses órgãos, corados por técnicas de impregnação pela prata. 2.7 Soroaglutinação microscópica (SAM) A reação de soroaglutinação microscópica é o teste sorológico recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e amplamente utilizado como prova-padrão no diagnóstico da leptospirase humana e animal. Esta reação utiliza como antígenos cultivos vivos e recentes de leptospiras. Os anticorpos podem ser revelados pela aglutinação com soro coletado entre o oitavo e décimo dia após o início do estado de leptospiremia (LEPTOSPIROSE CANINA, 2008). A técnica consiste principalmente na reação entre anticorpos presentes no soro contra os antígenos encontrados na superfície da leptospira. Reações cruzadas entre sorovares, títulos vacinais e o início da fase aguda da enfermidade são fatores importantes na interpretação dos resultados laboratoriais, sendo assim, os testes sorológicos devem ser realizados levando em consideração dados epidemiológicos, bem como as informações obtidas na anamnese e no exame físico (ANZAI, 2006). Além das reações cruzadas, podem ocorrer reações paradoxais (um animal infectado por um sorovar apresenta títulos de anticorpos para outros que não o sorovar infectante), só 16 sendo possível afirmar o sorovar infectante a partir do isolamento e identificação da amostra isolada (OLIVEIRA et al., 2005). De acordo com Brod et al. (2005), na soroaglutinação microscópica, o soro suspeito deve ser enfrentado com um número expressivo de antígenos, entre os quais estejam representantes dos principais sorogrupos patogênicos e de todos os sorovares comuns da localidade de ocorrência dos casos. Os títulos de anticorpos geralmente são maiores com antígenos provenientes da região onde estão ocorrendo os surtos com as cepas de antígenos estocados no laboratório, ainda que do mesmo sorogrupo. Portanto, um número expressivo de sorovares deve ser utilizado no teste de diagnóstico para que sejam detectados sorovares pouco comuns ou não detectados até então. As reações de SAM podem não corresponder exatamente ao sorogrupo que causou a infecção, sendo a capacidade de predizer o sorogrupo infectante menos que 40%. O aumento de quatro vezes o título muitas vezes é necessária para a confirmação sorológica da doença. Como os títulos frequentemente são negativos na primeira semana da doença, uma segunda e, algumas vezes, uma terceira amostra deve ser obtida em intervalos de 2 a 4 semanas (Ettinger; Feldman, 2004). Em geral, um título alto isolado (maior ou igual a 1:800) é suficiente para o diagnóstico de leptospirose se o histórico do paciente e constatações clínicas e laboratoriais forem compatíveis. Silva et al. (2006) afirmam que vacinação ou prévia infecção estão associadas a títulos menores de 1:300. No entanto, títulos próximos a 1:800 de sorovares canicola e icterohaemorrhagiae, podem ser encontrados, mas não persistem mais que três meses após a vacinação. Alguns cães desenvolvem elevados títulos (aproximadamente 3.200), após vacinação com esses mesmos sorovares, e depois de um tempo, ocorre o declínio do título que pode persistirpor até seis meses após a vacinação. As vacinas contra leptospirose, aplicadas rotineiramente nos cães domésticos, são capazes de protegê-los contra a doença, mas não contra o estado de portador renal. Segundo as normas do Ministério da Saúde utiliza-se normalmente na soroaglutinação microscópica sorovares de Leptospira spp: Australis, Bratislava, Autumnalis, Butembo, Castellonis, Bataviae, Brasiliensis, Canicola, Whitcombi, Cynopteri, Djasiman, Sentot, Gripptyphosa, Hebdomadis, Copenhageni, Icterohaemorrhagiae, Javanica, Panama, Pomonona, Pyrogenes, Hardjo, Wolffi, Shermani e Tarassovi (SILVA et al., 2006). 17 2.8 Teste de Elisa A pesquisa de anticorpos específicos no soro de animais suspeitos pode ser feita também através do teste de Elisa. O princípio básico da técnica consiste na imobilização de um dos reagentes (anticorpo ou antígeno) em uma fase sólida. Após a adição da amostra, o outro reagente ligado a enzima reagirá com o complexo antígeno-anticorpo. Os imunocomplexos são revelados ao adicionar-se o substrato da enzima e um cromógeno formando um produto colorido. Os resultados de Elisa são expressos objetivamente pelas absorbâncias obtidas de espectrofotômetros, não dependendo de leituras subjetivas (CAVALCANTI et al, 2008). O teste de Elisa pode distinguir entre anticorpos IgM e IgG anti-Leptospira. Estes testes podem ser de grande ajuda quando os testes de aglutinação microscópica produzem resultados confusos. Os cães desenvolvem título elevado de IgM maior que 1:320 na fase aguda da Leptospirose. A proporção de anticorpos IgM e IgG na fase convalescente após a imunoestimulação varia dependendo do sorovar (LEPTOSPIROSE NO BRASIL, 2009). 2.9 Reação em cadeia da polimerase (PCR) De acordo com Anzai (2006), o PCR vem sendo utilizado de forma crescente para o diagnóstico precoce da leptospirose no homem e em diversas espécies animais, por ser um meio eficaz de diagnóstico antes do desenvolvimento do título do anticorpo ou quando os títulos estão baixos e o curso clínico confuso. Ainda segundo Anzai (2006), a técnica apresenta alta sensibilidade e especificidade, permitindo amplificar quantidades mínimas do DNA do microorganismo em diversos tipos de amostras biológicas tais como humor aquoso, soro sanguíneo, líquor, urina e tecidos. Rodrigues (2008), afirma que leptospirúria pode ocorrer já nos primeiros dias da infecção, antes mesmo dos anticorpos serem detectáveis no soro, assim sendo a leptospira é passível de detecção pela PCR na urina logo no início da doença, logo é possível ter um diagnóstico precoce da Leptospirose com esta técnica. O método consiste na amplificação exponencial „in vitro‟ de regiões específicas de DNA em curto espaço de tempo. Cada ciclo consiste de três fases: 1. desnaturação das fitas de 18 DNA; 2. anelamento dos oligonucleotídeos iniciadores específicos ao DNA molde; 3. síntese do DNA específico utilizando a enzima Taq DNA polimerase. As moléculas amplificadas pela técnica são facilmente detectadas e identificadas pela eletroforese (ANZAI, 2006). 19 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente dispomos de várias técnicas para diagnosticar a Leptospirose Canina, entretanto, como pôde ser constatado entre os testes confirmatórios, nenhum associa as exigências de sensibilidade, especificidade e praticidade. A técnica de PCR se mostrou a mais adequada, por ser a mais rápida, específica e sensível, o que proporciona um diagnóstico precoce da leptospirose, visando o sucesso da terapia a ser instituída. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIELLO, S. E. Manual Merck de Veterinária. 8ª ed. São Paulo: Roca, 2001. 1861 p. ANZAI, E. K. Utilização da PCR para o Diagnóstico da Leptospirose em Cães naturalmente infectados por Leptospira spp. Londrina: UEL, 2006. 48 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2006. BIAZOTTI, R. Leptospirose Canina. Rio de Janeiro: UCB, 2006. 27 p. 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