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Fisiologia - Doenças da coluna lombar

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Beatriz Machado de Almeida 
Doenças da coluna lombar 
Doenças da coluna lombar 
• Entre as dores mais comuns entre 
homens e mulheres nas 
diferentes fases da vida 
(crianças, adultos, idosos). 
Em crianças é pouco frequente, sendo 
a principal causa o aumento e má 
distribuição do peso (ex.mochilas). 
As doenças da coluna lombar são mais frequentes com 
o avançar da idade (por volta dos 40-60 anos de idade). 
Todo mundo já sentiu uma vez na vida. 
❖ Aguda: É percebida/relatada por até 6 semanas; 
❖ Crônica: Depois de 12 semanas: Alto índice de 
absenteísmo, afastamento e/ou aposentadoria pela 
previdência social. 
 
• A dor na coluna lombar acontece principalmente 
por acometimento da região lombosacral, podendo 
ser radicular (relacionada a raiz nervosa e ao nervo 
ciático) e dor referida. Em geral, o paciente pode 
sentir dor por uma das vias ou associação entre elas. 
Causas mais comuns: 
➢ Levantamento impróprio, má postura (pode causar 
hérnia, alteração do disco intervertebral), falta de 
exercícios físicos regulares, fratura (ex. acidente 
automobilístico, queda), disco rompido ou artrite. 
A coluna vertebral é apoiada por músculos que estão ao 
seu redor. À medida que há uma falta de exercício 
físico regular há também uma diminuição de massa 
muscular, o que interfere negativamente na ajuda da 
musculatura para a sustentação. 
Outros: processos infeciosos, massa tumoral. Vários 
casos que, na totalidade, contribuem para a dor. 
Quanto mais a gente entende esses mecanismos da dor, 
mais a gente pode intervir de maneira precoce pra evitar 
o alto índice de absenteísmo, além de levar a uma 
melhoria da qualidade de vida. Prevenção e intervenção 
(farmacoterapia ou outras formas). 
Fatores, que contribuem para a 
disfunção: comorbidades (excesso 
de peso ou sobrecarga a coluna 
vertebral, que sustenta todo o peso 
do corpo), fatores sociais (condição 
socioeconômica desvantajosa – mais impacto por conta 
do trabalho mais pesado - braçal), fatores biofísicos 
(tempo que a gente fica sentado, falta de atividade 
física, de alongamento), fatores genéticos (pode 
predispor a presença de auto anticorpos, artrite 
reumatoide, degeneração osteoarticular), fatores 
psicológicos (ansiedade, depressão – fatores envolvidos 
com disfunção de neurotransmissores na produção e 
captação, relacionados com mediação de dor). 
Tais fatores contribuem para dor (inicialmente) e 
perda de função (possivelmente). 
Gráfico: Homens X 
Mulheres. As mulheres (em 
vermelho), independente 
da faixa etária (entre 10 e 
19 ou entre 80 a 89), tem 
maior prevalência de dor 
lombar do que os homens. 
Comparando somente mulheres, a prevalência da dor 
lombar é entre 60-69 anos, enquanto que nos homens 
é entre 40-49 anos. Tanto os homens como as mulheres 
apresentam dor lombar em todas as faixas etárias. No 
entanto, a prevalência nos homens é mais 
precocemente e nas mulheres mais tardiamente. 
 
Gráfico: 1990 (vermelho) e 2015 (azul). Pacientes de 5-
9 anos até >=80 anos. Quando compara os anos, percebe-
se que teve um aumento muito grande em 2015 em 
relação a 1990. Isso significa que esses mecanismos de 
dor lombar estão progressivamente aumentando ao 
longo dos anos. Isso retrata uma preocupação, porque a 
gente precisa entender melhores esses mecanismos, 
para que seja possível a prevenção e o tratamento. 
Coluna vertebral 
Quando se fala em dor lombar, você tem ali a dor 
referida ou reticular na região lombar. A maioria dos 
casos está relacionada ao desgaste da coluna 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Doenças da coluna lombar 
intervertebral. Esses discos são formados por 
cartilagem (anel fibroso com núcleo pulposo por 
dentro). Têm capacidade de deformidade elástica, que 
quando sofre pressão do peso ou é puxado, deforma. 
Essa capacidade de deformação faz com que os discos 
intervetebrais funcionem como: amortecedores das 
vértebras (evitando o desgaste ósseo durante a 
movimentação). Além disso, absorve impactos e choques 
mecânicos (acontece em pé – posição ortostática, 
correndo, andando, ou até parado, por conta do peso 
sobre as vértebras). 
À medida que você tem desgastes nesse discos, você 
diminui o espaço entre uma vértebra e outra e, ao 
longo do envelhecimento acontece um processo natural 
de desgaste, que contribui para diminuição da estatura 
do indivíduo. 
• Os discos intervertebrais oferecem fixações 
fortes entre os corpos vertebrais, unindo-os. 
➢ Representam 20 a 25% do comprimento (altura) da 
coluna vertebral. Então, se você diminui os discos, 
você diminui 5-10% da altura do indivíduo. O 
desgaste acontece naturalmente, fisiologicamente, 
à medida que a gente envelhece. 
➢ Possibilitam movimento entre as vértebras 
adjacentes. 
➢ Sua deformabilidade elástica permite que absorvam 
o choque. 
 
Imagem: Forames intervertebrais (espaço em que vai 
ter o nervo espinhal se projetando para fora da coluna 
vertebral, a partir da medula espinal, para inervar os 
diferentes tecidos). 
Movimentos da coluna vertebral 
Os discos vertebrais tem a capacidade de se 
movimentarem/deformarem, o que possibilita que as 
vértebras consigam se articular, deformar e promover 
a movimentação de extensão, flexão e lateralização. 
Problemas nesses movimentos indica que a gente tem 
alguma causa não determinada (pelo menos por hora) que 
esteja contribuindo para o não funcionamento 
adequado dos discos intervertebrais. Pode ser causado 
pelo próprio desgaste (ex. idade). 
Se pensar na relação entre criança e idoso, o idoso tem 
menor flexibilidade. Um dos fatores que contribuem 
para isso é a diminuição da massa do disco vertebral. 
 
Disco intervertebral 
Formado por um anel fibroso, uma parte fibrosa 
externa, composta de lamelas concêntricas de 
fibrocartilagem, e uma massa central gelatinosa, 
denominada núcleo pulposo. 
Funcionam como amortecedor/capacidade de 
deformação que permite os diferentes tipos de 
movimentação. Ajudam na sustentação do corpo. 
 
a) Vista anterossuperior, coluna vertebral seccionada 
transversalmente no disco intervertebral; 
b) Vista lateral do disco em decúbito; 
c) Vista lateral do disco em posição ortostática 
(sustentação do peso); 
d) Vista anterior durante flexão lateral. 
Azul (núcleo pulposo). À medida que você tem pressão 
aumentada, (lesão, acidente automobilístico), isso pode 
ocasionar uma protusão do núcleo pulposo para fora do 
disco cartilaginoso, incluindo a região para dentro do 
forame intervertebral, ocasionando a compressão dos 
nervos ali presentes. 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Doenças da coluna lombar 
Fontes de dor 
• Inflamação das meninges: revestimento de todo o 
SNC, incluindo a medula espinhal; 
• Alteração das estruturas osteofibrosas: 
periósteo, ligamentos e anéis fibrosos dos discos 
intervertebrais. Lembrar: lesão tá relacionada ao 
processo inflamatório, que implica em edema 
(compressão da raiz nervosa nessa região), 
liberação de mediadores químicos, maior 
sensibilidade a dor. 
• Articulações sinoviais: rompimento de cápsulas das 
articulações dos processos articulares. 
➢ Envelhecimento ou doença (ex. artrite 
reumatoide). 
• Origem muscular: músculos intrínsecos do dorso: 
Músculos muito exigidos podem levar a dor e causar 
lesão (pequenas lesões musculares). É mais comum 
quando o paciente tem dor crônica (ex. paciente do 
caso – dor na lombar, que quando carrega peso 
exacerba a compressão muscular para 
anteceder/impedir/diminuir a dor que ele já sabe 
que vai sentir). O espasmo pode levar a isquemia 
local, que também causa dor. 
➢ Espasmos – isquemia. 
• Tecido nervoso: nervos espinais ou raízes nervosas 
que saem dos forames intervertebrais. Local: 
compressão, mediadores químicos e dor; Referida: 
compressão do nervo. Pode ter dor na pele 
distante da fonte de dor de fato, por conta da 
inervação. 
As fontes estão interligadas entre si.Uma vez que você 
tem alteração desses anéis fibrosos ou doenças 
articulares, pode haver a compressão. 
 
Imagens: Meninges reforçando e protegendo a medula 
espinhal, Nervos espinhais (em amarelo) que partem dos 
cornos dorsais e ventrais. Dependendo da localização 
dessa lesão, pode ter alteração mais motora ou mais 
sensorial. Se for mais em raiz nervosa dorsal, você tem 
mais alteração sensorial, fibras aferentes. Se for 
mais região ventral, você tem mais alterações motora, 
fibras motoras. As alterações dependem do nível da 
lesão e da compressão. 
Dermátomos 
• Áreas da pele inervadas por fibras provenientes 
de uma só raiz nervosa. 
• 8 raízes nervosas – vértebras cervicais; 
• 12 raízes nervosas – vértebras torácicas; 
• 5 raízes lombares – vértebras lombares; 
• 5 raízes sacrais – vértebras sacrais. 
 
Em azul tem os dermátomos que são inervados pelas 
raízes nervosas que saem das vértebras lombares, 
tanto em região anterior quanto posterior. 
Dermátomos lombares e dos membros inferiores – 
Pernas e pés: contêm as regiões inervadas pelos nervos 
que saem das vértebras L1 a S1; 
A importância de conhecer esses dermátomos se dá 
porque, quando o paciente referir em qual região está 
sentindo alguma alteração, pode inferir em qual região 
da medula/coluna vertebral tem lesão. Conhecendo o 
local da lesão, pode fazer um tratamento mais 
adequado, além de poder associar exames de imagem. 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Doenças da coluna lombar 
Medula espinhal: dá pra ver que a região do forame é 
pequena. Qualquer situação que oblitere ou que 
diminua o espaço aí dentro, significa dizer que terá uma 
compressão dos nervos que passam por esse local. 
Se tem um processo lesional de etiologias diversas ou 
um processo inflamatório, causa edema, e esse 
preenchimento de líquido pode agravar essa 
compressão. 
Ciatalgia 
• Dor no nervo isquiático; ele é 
originado a partir dos nervos 
que saem pelos forames da 
coluna lombar. 
Principais causas da dor: 
• Compressão de raiz nervosa: 
➢ Hérnia de disco; 
➢ Estenose medular. 
Entre a 4º e a 5º vértebras 
lombares e entre a 5º vértebra lombar e a 1º 
vértebra do sacro, emergem os nervos L5 e S1 que, 
ao juntarem-se, formam o nervo ciático. Se houver 
compressão entre L4 e S1, por exemplo, pode ter dor 
e diminuição da função dessa região. O paciente pode 
relatar diminuição da capacidade de andar, como 
também irradiação de nádega ao joelho, corroborando 
com o trajeto do nervo ciático. Quando você tem a 
ciatalgia, a dor lombar pode acontecer e se irradiar 
pela face posterior da coxa até a perna. 
O nervo ciático pode ser lesionado em cima ou em 
qualquer um dos seus outros segmentos, levando a uma 
perda de função abaixo do nível da lesão, e não na 
coluna vertebral. 
Imagem: disco intervertebral (em 
azul). Na sua compressão, dentre 
as diversas etiologias, como 
excesso de peso, compressão 
mecânica, queda, o núcleo pulposo 
termina sendo empurrado para 
dentro da cavidade / fora do 
disco intervertebral e pode 
comprimir a medula espinal ou a região do forame, 
onde tem os nervos, podendo evoluir com dor e, 
possivelmente, perda de função. 
 
• Rosa (núcleo pulposo), azul (anel fibroso). Na 
imagem, tem uma hérnia de disco em direção a 
medula espinhal com compressão das raízes 
nervosas (causa de dor e disfunção). 
• Qual disfunção vai acontecer depende de qual 
região foi acometida. 
Osteófitos 
Imagem: representação da 
coluna vertebral e dos discos 
intervertebrais (em 
vermelho). 
Ao redor das articulações 
dos processos articulares ou das margens 
posterolaterais, durante o envelhecimento, podem 
estreitar ainda mais os forames. 
A herniação tende a ser um processo crônico. Má 
postura, envelhecimento que, ao passar do tempo, leva 
a um agravamento desse quadro ao ponto de formar a 
hérnia discal. 
Quando há o processo de herniação e a própria 
degeneração dos discos, de forma adaptativa, o osso 
promove um crescimento lateral que popularmente é 
conhecido como “bico de papagaio” que é o osteófito. É 
uma tentativa do osso de contribuir para manter a 
integridade da coluna vertebral, só que isso também 
pode ser causa de estenose, pois esse crescimento 
lateral oclui/comprime a passagem de nervos e 
contribui para o estreitamento do forame e 
compressão/lesão de nervo. É um processo fisiológico 
natural, mas é possível prevenir. Existem causas 
distintas que podem agravar essa situação. No caso do 
paciente, essas causas são a idade, aumento de peso, 
diminuição de força muscular... 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Doenças da coluna lombar 
Sintomas de compressão medular 
• Variam de acordo com o local anatômico da lesão. 
• Dor localizada; 
• Fraqueza ou paralisia; 
• Perda da sensibilidade; 
• Incontinência; 
• Impotência. 
É importante conhecer os dermátomos. 
 
 
A compressão da medula pode apresentar sintomas 
diferentes a depender da região. Por exemplo, de L2 a 
L5 tem padrões diferentes de fraqueza, mas é de 
MMII. No caso do paciente, há uma fraqueza de 
MMII, além dos outros sintomas, como, por exemplo 
provável impotência sexual (dificuldade para 
“namorar”). Isso pode estar associado aos dermátomos 
e miótomos referentes a região lombar ou sacral. 
Entorpecimento de MMII, insensibilidade da região 
abaixo da virilha ... De acordo com o que é relatado, dá 
pra ter uma noção de onde a compressão está 
acontecendo. 
Sobre impotência e incontinência: tem que lembrar que 
na região lombar há a saída de nervos do sistema 
nervoso autônomo parassimpático e, por sua vez, ele 
está associado com algumas funções, dentre elas, o ato 
sexual e contração de bexiga. Então, dependendo da 
região alterada, se for na lombar, por exemplo, pode 
ocorrer incontinência e impotência por causa disso. 
O grau de incontinência e impotência é relacionado ao 
grau dessa lesão, que pode ser completa, incompleta, 
compressão unilateral. Então o grau do sintoma está 
relacionado com a extensão e região dessa 
compressão e lesão. Possivelmente, como é uma doença 
crônica e por já vir arrastando na vida do paciente do 
caso há 5 anos, significa dizer que pequenas disfunções 
já aconteciam e foram se agravando ao longo do 
tempo. O que mais chamou atenção dele foi a fraqueza 
das pernas, provavelmente porque dificulta a 
capacidade laboral. 
 
Imagem: Neuroinflamação. As células tronco são a 
forma de minimizar a dor crônica, sendo o transplante 
feito através de um transplante autólogo, ou seja, 
células tronco do próprio paciente, que são coletadas 
e depositadas no local da lesão. 
Imagem: está utilizando em modelo animal, mas é 
realizado clinicamente. O objetivo dessas células 
tronco é que consiga o acesso dessas células na região 
de lesão e que elas produzam fatores de crescimento 
e citocinas anti-inflamatórias. Nesse mecanismo de 
lesão, dor, compressão, infecção, qualquer que seja a 
causa da dor, tem uma resposta inflamatória 
envolvida, o que inicialmente é benéfica, mas ao longo 
do tempo prejudica e agrava a condição. Essas células 
tronco terão um papel importante na analgesia, de 
forma que elas produzem moléculas estimulatórias para 
regeneração tecidual e produzem também mediadores 
químicos e citocinas anti-inflamatórias, como TGF 
beta. 
Ao longo 
do tempo 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
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Imagem: as bolinhas verdes, na medula, são o TGF beta, 
e nesse local tem receptores para o TGF beta. Então, 
quando se ligam, minimizam a resposta inflamatória 
local, causando diminuição da dor. E essas células 
tronco também levam a produção de mediadores 
químicos que promovem crescimento e regeneração 
neuronal. Há muito tempo se achava que neurônios não 
regeneravam e hoje já é ciente de que há recuperação, 
porém, quando comparada a outros tecidos, é muito 
baixa, e a depender da extensão dalesão, acaba não 
tendo capacidade de repovoar a região com os 
neurônios que foram lesados. 
Então, as células tronco permeiam a diminuição da 
inflamação nesses pacientes que tem dor crônica 
através desse mecanismo.

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