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GESTÃO FINANCEIRA por Matteus Moreno MODELO DINÂMICO • VOLUME DE CAPITAL CIRCULANTE (CCL) onde, AC: ativo circulante PC: passivo circulante • CICLO FINANCEIRO O ciclo financeiro é o curso de tempo compreendido entre o momento dodesembolso, pelo pagamento dos insumos e demais itens necessários ao exercício da atividade produtiva, até o recebimento das vendas a crédito da empresa. Representa, portanto, a parcela de investimentos no giro das operações (clientes, estoques etc) que não é financiada espontaneamente por recursos decorrentes do desenvolvimento do ciclo operacional (fornecedores, contas a pagar etc). Percebe-se, então, que um ciclo financeiro positivo indica a necessidade de recursos adicionais para o financiamento das atividades operacionais. Por outro lado, quando negativo, revela a disponibilidade de fundos para aplicações em outros itens de ativo e/ou passivo, conforme políticas da Administração da empresa. Isso conforme será demonstrado nas figuras abaixo: A figura 2 apresenta uma empresa com ciclo financeiro positivo, nessas condições, apresenta necessidade de recursos para o financiamento de suas atividades operacionais, uma vez que os créditos espontâneos são suficientes para financiar apenas parte de seu ciclo operacional. Já a figura 3 apresenta uma empresa com ciclo financeiro negativo, mostrando que a mesma dispõe de uma fonte de recursos. Ou seja, os recursos espontâneos ou automáticos são suficientes para bancar os investimentos referentes ao atual ciclo operacional, bem como ainda o início do ciclo seguinte, segundo a ótica da continuidade. Trata-se de uma situação rara, sendo verificada basicamente em supermercados, empresas de transporte, etc. Dentro desta perspectiva, pode-se dizer ainda que a necessidade de financiamento de capital de giro reside basicamente na falta de uniformidade entre a produção e as vendas (ciclo operacional) de uma empresa o que, por conseqüência, ocasiona uma não sincronização entre seus fluxos de entradas e saídas de recursos. • RECLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL Os ativos e passivos circulantes são divididos em dois subgrupos: Contas erráticas (ou financeiras): são aquelas de curto e curtíssimo prazo, não necessariamente renováveis e que não guardam relação direta com a atividade operacional da empresa, mas sim com decisões tipicamente financeiras (tesouraria). Contas cíclicas (ou operacionais): são aquelas que mantêm relação direta com o exercício da atividade operacional da empresa, na medida em que se renovam periodicamente, de acordo com o ritmo dos negócios. São as contas tipicamente operacionais, decorrentes do ciclo de exploração. Já os demais ativos e passivos no seguinte subgrupo: Contas permanentes (ou estratégicas ou não cíclicas): são aquelas que não variam em função do ritmo dos negócios da empresa, sendo o longo prazo o denominador comum de todas essas contas. São as contas de natureza estratégica. O quadro 1 apresenta a reclassificação de algumas contas (as mais utilizadas a fim de exemplificação), porém, você como analista encontrará outras contas para reclassificar, e deverá buscar informações sobre a natureza da conta sempre que necessário para reclassificá-la da forma correta. Diante desta reclassificação é possível mensurar as principais variáveis do modelo funcional e dinâmico do balanço patrimonial, que são: a necessidade de capital de giro (NCG), o capital de giro (CDG) e o saldo de tesouraria (T), as quais se constituem nas variáveis-chave para a gestão financeira das empresas. • DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE) DRE é uma demonstração contábil obrigatória, cuja finalidade é mostrar o resultado (lucro ou prejuízo) de uma empresa durante o período de exercício. A reclassificação da demonstração do resultado do exercício tem por objetivo definir os diferentes níveis de lucros gerados pela empresa, quais sejam o lucro operacional bruto, a capacidade de autofinanciamento e o autofinanciamento, com vistas à identificação e análise do potencial de geração de recursos próprios para o financiamento dos investimentos. Dentro desta perspectiva, o modelo básico de reclassificação da DRE é apresentado no quadro 2 a seguir. O primeiro nível de lucros refere-se à produtividade da atividade principal desenvolvida por uma empresa (atividade operacional). O lucro bruto operacional deve vir classificado antes das despesas financeiras, pois assim permite uma comparação válida para empresas similares, além disso, a empresa obterá informações a respeito do recurso obtido por meio de sua atividade base. Já os outros dois níveis referem-se às atividades de distribuição ou repartição do lucro operacional entre os principais parceiros da atividade empresarial, podendo ser o governo, os banqueiros e os acionistas. Uma vez liquidadas as operações de repartição (terceiros, governo e acionistas), o saldo remanescente, mantido pela empresa, constitui-se no seu autofinanciamento. “O autofinanciamento representa assim, o montante de recursos gerados pela empresa e que são conservados para seu financiamento interno” (FLEURIET, KEHDY e BLANC, 1978:31). Ou seja: Contas cíclicas são aquelas que mantêm relação direta com o exercício da atividade operacional da empresa, na medida em que se renovam periodicamente, de acordo com o ritmo dos negócios. Contas permanentes ou não-cíclicas, aquelas que não variam em função do ritmo dos negócios da empresa, sendo o longo prazo o denominador comum de todas essas contas, ou seja, são as contas de natureza estratégica. Já as contas erráticas são aquelas de curto e curtíssimo prazo, que não guardam relação direta com o processo produtivo, mas sim com decisões tipicamente financeiras (tesouraria). Diante desta reclassificação é possível mensurar as principais variáveis do modelo dinâmico do balanço patrimonial, que são: a necessidade de capital de giro (NCG), o capital de giro (CDG) e o saldo de tesouraria (T), as quais se constituem nas variáveis-chave para a gestão financeira das empresas O quadro 1, mostra como podem ser encontradas cada uma das variáveis mencionadas • AS VARIÁVEIS DO MODELO DINÂMICO 1. Necessidade de Capital de Giro (NCG) NCG = Ativo Cíclico – Passivo Cíclico Em que o ativo cíclico é a soma das contas cíclicas do ativo e o passivo cíclico a soma das contas cíclicas do passivo. NCG positiva: ocorre quando o ativo cíclico (ou aplicações de capital de giro) é maior do que o passivo cíclico (ou fontes de capital de giro). Neste caso, a empresa apresenta uma demanda de recursos para o giro dos negócios, o que poderá ser financiado com recursos próprios e/ou recursos de terceiros de curto e de longos prazos. NCG negativa: ocorre quando o ativo cíclico é menor do que o passivo cíclico. Neste caso a empresa não apresenta demanda de recursos para o giro dos negócios mas, pelo contrário, dispõe de fontes para financiar outras aplicações, em conformidade às políticas de sua Administração. NCG nula: ocorre quando o ativo cíclico é igual ao passivo cíclico. Neste caso a empresa não tem necessidade de financiamento para o giro dos negócios, financiando-o apenas com contas cíclicas. “A Necessidade de Capital de Giro, quando positiva, reflete uma aplicação permanente de fundos, que, normalmente deve ser financiada com os fundos permanentes utilizados pela empresa, esses fundos permanentes correspondem às contas não cíclicas do passivo” 2. CAPITAL DE GIRO (CDG) CDG = Passivo Permanente – Ativo Permaente Podemos definir Capital de Giro (CDG) a diferença entre as contas não cíclicas do passivo e as contas não cíclicas do ativo CDG positivo: neste caso as fontes permanentes superam as aplicações permanentes, indicando a utilização de recursos estáveis (de longo prazo) no financiamento da NCG, ou seja, o CDG representa uma fonte de fundos permanentes para financiar as operações da empresa. CDG negativo: ocorre quando as aplicações permanentes superam as fontes permanentes,evidenciando, assim, a utilização de recursos de curto prazo no financiamento de ativos de pouca liquidez (de longo prazo). Neste caso o CDG se transforma em aplicação de fundos, ou seja, ativos permanentes estão sendo financiados por recursos de curto prazo, o que pode acarretar problemas de insolvência. CDG nulo: ocorre quando as aplicações permanentes se igualam às fontes permanentes, indicando que os recursos de curto prazo estão financiando as flutuações da NCG. Percebemos, então, a relação entre as variáveis CDG e NCG, o que também ocorre com a variável Saldo de Tesouraria, como você verá a seguir. 3. SALDO DE TESOURARIA (T) T = Ativo Errático – Passivo Errático O saldo de tesouraria resulta da diferença entre as tesourarias ativa (ativo errático) e passiva (passivo errático), identificadas no balanço funcional. Lembrando que as contas erráticas são as contas circulantes que não estão diretamente ligadas à operação da empresa e que os valores se alteram de forma aleatória, ou seja, trata-se de uma variável decorrente de decisões financeiras. T = CDG - NCG Podemos dizer ainda, que o Saldo de Tesouraria representa um valor residual correspondente à diferença entre o Capital de Giro e a Necessidade de Capital de Giro Saldo de Tesouraria positivo: ocorre quando o ativo errático é superior ao passivo errático. Neste caso a empresa dispõe de fundos de curto prazo, que poderão, por exemplo, ser aplicados em títulos de liquidez imediata. Indica que recursos de longo prazo (próprios ou de terceiros) dão cobertura às necessidades de recursos para o giro dos negócios e ainda permitem aplicações no mercado financeiro ou simplesmente a sua manutenção em caixa. Pode evidenciar ainda uma situação financeira folgada, em função das aplicações em ativos financeiros. Cabe ressaltar, entretanto, que a existência de um saldo de tesouraria positivo e elevado nem sempre é bom para a empresa, pois pode significar também o fato da empresa não estar aproveitando adequadamente as oportunidades de investimento proporcionadas por sua estrutura financeira. Neste caso o saldo de tesouraria “engorda” por falta de uma estratégia dinâmica de investimentos. Saldo de Tesouraria negativo: ocorre quando o ativo errático é menor do que o passivo errático. Neste caso a empresa tem fontes de recursos de curto prazo financiando suas atividades, o que revela a insuficiência de recursos de longo prazo (próprios ou de terceiros) e a tomada de empréstimos de curto prazo para cobrir a NCG, evidenciando uma situação de risco de insolvência mais elevado. Dentro desta perspectiva, é importante que a gestão financeira da empresa acompanhe a evolução do saldo de tesouraria, a fim de evitar que permaneça constantemente negativo e crescente. Quando a necessidade de capital de giro cresce mais que proporcionalmente às fontes de capital de giro, tem-se a ocorrência do chamado efeito tesoura (desequilíbrio financeiro). • TIPOS DE ESTRUTURA DO BALANÇO CDG positivo, NCG positiva e T negativo: Neste caso a empresa apresenta insuficiência de fundos de longo prazo para o financiamento de suas necessidades de capital de giro, utilizando-se, assim, de créditos de curto prazo (T<0), o que se evidencia pela relação T/NCG (que veremos a seguir, no tópico sobre o termômetro de liquidez). Tal estrutura revela uma empresa em desequilíbrio financeiro, apesar de possuir capital de giro positivo. NCG positiva, CDG positivo e T positivo: Este tipo de estrutura revela uma situação financeira sólida, uma vez que a empresa dispõe de um saldo de tesouraria positivo que lhe permite enfrentar aumentos temporários da necessidade de capital de giro. Ou seja, o capital de giro é suficiente para bancar as necessidades de capital de giro e ainda proporcionar aplicações em ativos financeiros, facultando, assim, relativa liquidez à empresa. CDG negativo, NCG positiva e T negativo: Retrata a situação de uma empresa que luta por sua sobrevivência. Trata-se de uma situação financeiramente delicada, uma vez que os capitais estáveis são insuficientes para bancar os investimentos em ativos permanentes. É uma situação de elevado risco financeiro, já que a empresa se utiliza de recursos de curto prazo (T) para financiar aplicações de longo prazo de maturação. CDG positivo, NCG negativa e T positivo: Refere-se a uma situação de menor freqüência na prática, sendo específica de atividades como supermercados e empresas de transporte, que compram a prazo e vendem à vista, permitindo, assim, a ocorrência de ciclo financeiro negativo. A partir do confronto entre as variáveis CDG, NCG e T e sob a perspectiva de que as mesmas determinam a estrutura financeira da empresa em determinado período, e ainda a tendência assumida para um horizonte de tempo mais extenso, outros autores identificaram as seguintes situações possíveis • ANÁLISE DE TENDÊNCIA: O EFEITO TESOURA Quando ocorre uma piora significativa e persistente da NCG, em decorrência do crescimento relativo do saldo de tesouraria (T) como uma fonte de recursos (T<0), podemos identificar a deterioração da situação financeira da empresa, num processo chamado efeito tesoura. De um modo geral, o efeito tesoura ocorre quando estão presentes as seguintes condições: * As vendas da empresa crescem a taxas anuais elevadas; * A relação NCG/Vendas mantém-se mais elevada do que a relação Autofinanciamento/Vendas, durante o período de crescimento das vendas; * As fontes externas que aumentam o CDG são utilizadas somente para novos investimentos em ativos permanentes (diminuem CDG). Desta maneira, o efeito tesoura pode ocorrer das seguintes formas: * A empresa não consegue aumentar o capital de giro no mesmo ritmo de aumento da necessidade de capital de giro. * O capital de giro se reduz, mesmo quando a necessidade de capital de giro permanece relativamente constante ou quando o CDG se reduz mais que a NCG. Podemos apresentar como principais fontes de distúrbios o crescimento muito elevado das vendas; investimentos elevados com retorno a longo prazo; baixa geração de lucros; investimento com baixo retorno; além da dependência dos recursos financeiros de curto prazo para financiamento da demanda operacional de recursos permanentes e de longo prazo E como fazer para evitar esse efeito tesoura? Pois bem, para evitar os distúrbios as empresas devem planejar a evolução do saldo de tesouraria, além disso, o autofinanciamento das empresas deve ser suficiente para financiar, pelo menos, os aumentos de sua necessidade de capital de giro (NCG). • TERMÔMETRO DE LIQUIDEZ (TL) O Termômetro de Liquidez (TL) é conhecido, também, como o índice de liquidez do modelo dinâmico. E pode ser encontrado por meio da seguinte fórmula: O TL permite efetuar um diagnóstico das empresas no curto e no curtíssimo prazo e medir a situação econômica e financeira a partir das informações constantes nas contas do balanço dinâmico para qualquer período pertinente de análise. Quanto mais negativo for o valor apresentado pelo indicador, significando maior utilização de recursos de curto prazo originados das instituições financeiras, pior tenderá a ser a situação financeira da empresa. CAPITAL DE GIRO CAPITAL DE GIRO: são os ativos circulantes, que representam a parcela do investimento que circula de uma forma ou de outra, durante a condução normal dos negócios. Essa ideia compreende o ciclo operacional da empresa. CICLO OPERACIONAL: transição periódica de caixa para estoques, destes para duplicatas a receber e de volta para caixa, que ocorre dentro do capital circulante da empresa. A ilustração retrata o fluxo de capital de giro de acordo com o ciclo de produção e venda (operacional) de uma empresa industrial. CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO (CCL): 1ª Definição: É a interpretação mais usual. Representa, de maneira geral, o valor líquido das aplicações (deduzidas das dívidas a curto prazo) processadas no ativo (capital) circulante da empresa. Segundo essa conceituação,a forma mais direta de obter-se o valor do capital circulante líquido é mediante a diferença entre o Ativo Circulante e Passivo Circulante. Visto por este ângulo, o capital circulante líquido constitui uma medida estática de folga financeira que a empresa apresenta para liquidar seus compromisso de curto prazo. Algebricamente tem-se: CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante 2ª Definição: Dentro de um conceito mais rigoroso, o capital circulante líquido representa normalmente a parcela de Ativos Circulantes financiada por recursos a longo prazo. Na realidade, essa interpretação acurada do capital circulante líquido é processada de “baixo para cima” no balanço, isto é, identificando-se os valores passivos de longo prazo (próprios ou de terceiros) que estão financiando o ativo circulante da empresa. Em outras palavras, o CCL representa a parcela do financiamento total de longo prazo que excede as aplicações também de longo prazo. Algebricamente, o cálculo desse valor é obtido pela seguinte expressão: CCL = (Patrimônio Líquido + Passivo não Circulante) – (Ativo não Circulante) Observe na ilustração que, do total de $25 aplicados no ativo circulante, $15 são financiados por créditos de curto prazo (passivo circulante), e os $10 restantes, que representa capital circulante líquido da empresa, são oriundos de recursos de longo prazo (exigível a longo prazo e patrimônio líquido). Em outras palavras, dos $65 captados a longo prazo, $55 estão aplicados em ativos também de longo prazo (ativo permanente) e os $15 excedentes são direcionados para financiar o capital de giro da empresa, denotando certa folga financeira. Visto que os passivos circulantes representam fontes de recursos a curto prazo, quando os ativos circulantes superam os passivos circulantes, a diferença precisa ser financiada com fundo de longo prazo. Na Figura 2, o CCL é de ($40), indicando que $40 dos $230 aplicados em ativo permanente são financiados por dívidas de curto prazo. De outra maneira, observa- se que a empresa tem levantado $190 de recursos de longo prazo (exigível e patrimônio líquido). No entanto, este montante não é suficiente para cobrir suas aplicações permanentes de $230, sendo a diferença de $40 coberta por obrigações correntes (passivo circulante) É muitas vezes adotado na prática, ainda, o conceito de capital de giro próprio, que é apurado pela diferença entre o patrimônio líquido e o ativo permanente mais o realizável a longo prazo, ou seja: Capital de Giro Próprio = Patrimônio Líquido – (Ativo não Circulante). • RISCO E LUCRATIVIDADE LUCRATIVIDADE: A lucratividade, neste contexto, é a relação entre receitas e custos (receitas menos custos) geradas pelo usos dos ativos da empresa (circulantes e permanentes) nas suas atividades produtivas. O lucro de uma empresa pode ser aumentado de dois modos: (1) aumentando-se as receitas (através do investimento em ativos mais rentáveis) ou (2) reduzindo-se os custos, notadamente os provenientes de suas fontes de financiamento (pagando-se menos por um item ou serviço, ou usando-se os recursos existentes de modo mais eficiente). As empresas mais rentáveis são geralmente aquelas que detêm a maior parcela de mercado para seus produtos. RISCO: O risco tem dois significados. O risco operacional é o risco de a empresa ser incapaz de cobrir os custos operacionais. Já o risco financeiro refere-se a impossibilidade de efetuar os pagamentos fixos programados decorrentes de empréstimos, leasing e dividendos preferenciais. Para o objetivo deste capítulo, risco será definido como a probabilidade de que a empresa não esteja apta a pagar suas obrigações no vencimento. Uma empresa que não consegue saldar suas dívidas nos vencimentos é considerada tecnicamente insolvente. Geralmente, entende-se que quanto maior o CCL de uma empresa, menor o seu risco, exatamente porque sua liquidez reduz a probabilidade de que ela se torne tecnicamente insolvente (Box). Entretanto, tal suposição pode ser equivocada. Um CCL positivo significa que fundos a longo prazo estão financiando parte dos ativos circulantes. Como os custos desses recursos a longo prazo costumam ser mais caros do que aqueles a curto prazo, a empresa poderá enfrentar maiores restrições. Para qualquer nível de atividade, quanto maior o montante de recursos aplicados em ativos circulantes menor tende ser a rentabilidade oferecida pelo investimento e, em contrapartida, menos arriscada se apresenta a política de capital de giro adotada. Nesta situação, revela-se maior imobilização de capital de giro (maior folga financeira), que promove retornos relativos inferiores àqueles apurados ao optar-se por uma estrutura financeira de menor liquidez, com mais reduzido volume de capital de giro. De maneira inversa, um montante mais reduzido de CCL, ao mesmo tempo em que sacrifica a margem de segurança da empresa elevando seu risco de insolvência, contribui positivamente para a formação da rentabilidade do investimento ao restringir o volume de fundos imobilizados em ativos de menor rentabilidade. Essa relação risco-retorno comporta-se de forma que nenhuma alteração na liquidez ocorre sem que promova, em sentido contrário, modificações na rentabilidade. Assim, na definição do nível adequado de recursos a serem imobilizados em ativos circulantes, a empresa deve levar em consideração sua opção entre risco e retorno. BOX Uma empresa é tecnicamente insolvente, se for incapaz de pagar suas contas na data do vencimento. A insolvência técnica normalmente precede a falência. Uma empresa, em muitos casos, pode superar a insolvência técnica através de empréstimos. A) VARIAÇÕES NOS ATIVOS CIRCULANTES Os efeitos das variações no nível dos ativos circulantes sobre o tradeoff risco- lucratividade das empresas podem ser ilustrados mediante o uso da relação ativos circulantes/ativos totais, que indica a percentagem de ativos totais constituída por ativos circulantes. A parte superior do Quadro 2 resume os efeitos sobre o risco e a lucratividade a partir de variações desses índices, supondo-se que os ativos totais permaneçam inalterados (o nível de ativos totais é mantido constante nesta e nas discussões seguintes, como forma de isolar os efeitos de mudanças na composição de ativos e fontes de financiamento sobre o risco e a lucratividade da empresa). Quanto o índice ativos circulante-ativos totais aumenta, a lucratividade reduz- se, entretanto, o risco também se reduz à medida que esse índice aumenta. O oposto também é verdadeiro. 1. Efeitos de um aumento no índice AC/AT * a lucratividade diminui, visto que ativos circulantes são menos rentáveis que os ativos permanentes, * o risco de insolvência técnica diminui, visto que com o Passivo Circulante constante, um aumento no Ativo Circulante elevará o Capital Circulante Líquido. 2. Efeitos de uma diminuição no índice AC/AT * Lucratividade aumenta, * risco crescerá, pois o CCL diminuirá com a redução no CCL. B) VARIAÇÕES NOS PASSIVOS CIRCULANTES A decisão de financiar os ativos com empréstimos de curto ou de longo prazo é uma escolha entre minimizar risco e maximizar lucros. Sob condições normais, empréstimos a longo prazo são mais caros do que os de curto prazo. A razão é que os credores que esticam o crédito por um longo período defrontam com mais incertezas do que os credores que coletam seus empréstimos originais após um curto período de tempo. O risco de inadimplência e de inflação é, normalmente, mais significante para empréstimos de prazos longos, já que a perda do investimento principal é maior para empréstimos de maior prazo se a taxa de juro aumentar. Um aumento na taxa de juro produz um desconto maior no valor do título de longo prazo devido ao prazo de vencimento ser relativamente longo. Entretanto, os custos maiores dos empréstimos de longo prazo são, em parte, uma compensação pelo risco. Outra razão para os financiamentos a longo prazo serem mais caros é que aos devedores fica asseguradaa utilização dos fundos por um longo período sem precisar estar renovando o empréstimo ano a ano. Se o empréstimo de curto prazo não forem renovados em tempo, a empresa pode ficar sem dinheiro, e as suas atividades comerciais podem ser interrompidas. O financiamento de longo prazo, embora mais caro, é uma abordagem conservadora para assegurar a continuidade da liquidez da empresa. Nessa linha de raciocínio, os administradores financeiros conservadores satisfazem a maioria de suas necessidade de financiamento através de empréstimos de longo prazo, captando apenas uma quantia muito limitada através de empréstimos a curto prazo. Os efeitos das variações no nível do passivo circulante da empresa sobre a lucratividade e o risco também pode ser demonstrado, usando-se a relação dada por passivos circulantes e ativos totais. Esse índice revela a percentagem dos ativos totais da empresa que está sendo financiada por passivos circulantes. Quando o índice se eleva, a lucratividade aumenta (recursos menos onerosos). Entretanto, o risco de insolvência técnica também se eleva, pois o aumento do passivo circulante leva à redução do CCL. O inverso também é verdadeiro. 1. Efeitos de um aumento no índice PC/AT * Lucratividade cresce - menores custos relacionados com a utilização de mais financiamento a curto prazo e menos a longo prazo. * CCL diminui, consequentemente risco aumenta. 2. Efeitos de uma diminuição do índice PC/AT * Lucratividade cai * CCL aumenta e risco diminui. • ESTRATÉGIAS DE FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO Limitação: Qualquer empresa só pode dispor de um montante limitado de financiamento a curto prazo, ou seja, o montante dos passivos circulantes disponíveis é limitado pelo valor das compras a prazo, no caso de duplicatas a pagar, pelo valor das despesas, no caso das contas a pagar e pelo valor considerado aceitável pelos credores, no caso de empréstimos a pagar e commercial papers. Segundo Ross (2002), se a produção e as vendas ocorressem uniformemente ao longo de todo o ano, a gestão do capital de giro nas empresas industriais seria bastante facilitada porque haveria fluxos regulares de entradas e saídas de caixa. Nessa situação econômica ideal, os ativos de curto prazo sempre podem ser financiados com dívidas de curto prazo, e os ativos de longo prazo podem ser financiados com dívidas de longo prazo e capital próprio. Nesta situação, o capital de giro líquido é sempre igual a zero. Uma das decisões importantes que precisam ser tomadas em termos de lucratividade e risco, com respeito aos circulantes da empresa é como usar os passivos circulantes para financiar os ativos circulantes. Numa situação ideal, o capital de giro é sempre igual a zero, porque os ativos de curto prazo são financiados com dívidas de curto prazo. Não se pode esperar que os ativos circulantes caiam a zero na realidade porque um nível crescente de vendas a longo prazo tende a resultar em algum investimento permanente em ativo circulante. Pode-se conceber uma empresa em processo de crescimento como tendo tanto necessidades permanentes de ativo circulante quanto de ativos de longo prazo. Estas necessidades totais de ativos apresentarão níveis que, com o passar do tempo, refletirão: (1) uma tendência secular de crescimento, (2) uma variação sazonal em torno da tendência e (3) variações diárias e mensais imprevisíveis. • NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO É importante estender o conceito de capital de giro através de sua classificação em permanente (ou fixo) e sazonal (ou variável). A parte fixa do capital de giro é determinada pela atividade normal da empresa, e seu montante é definido pelo mínimo de necessidades de recursos em determinado período. O capital de giro sazonal, por sua vez, é determinado pelas variações temporárias que ocorrem normalmente nos negócios da empresa. Por exemplo, maiores vendas em determinados meses do ano ou grandes aquisições de estoques antes de períodos de entressafra produzem variações temporárias no ativo circulante, e são, por isso, denominadas sazonais ou variáveis. Se a empresa, ainda mantiver uma política fixa de pagamento a prazo a fornecedores e a outros dispêndios operacionais, esses valores devem ser subtraídos de suas necessidades sazonais. O comportamento do capital de giro permanente e sazonal é representado graficamente na Figura 5. As necessidades de financiamento podem ser subdivididas em permanentes e sazonais. NECESSIDADE PERMANENTE: Necessidade de financiamento para os ativos permanentes mais a parcela permanente dos ativos circulantes; essas necessidades permanecem inalteradas ao longo do ano. Necessidade permanente = ativo permanente + parcela permanente do ativo circulante NECESSIDADE SAZONAL: Necessidade de financiamento para os ativos circulantes temporários, as quais variam ao longo do ano. Necessidade Sazonal = ativos circulantes temporários, que variam ao longo do ano Os credores concedem empréstimos a curto prazo, para permitir que a empresa financie aumentos sazonais de estoques ou duplicatas a receber. Eles geralmente não emprestam dinheiro a curto prazo para aplicações a longo prazo. • ESTRATÉGIAS DE ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 1- Estratégia agressiva de financiamento: Estratégia pela qual a empresa financia suas necessidades sazonais e possivelmente, algumas de suas necessidades permanentes, com recursos a curto prazo, e o restante de suas necessidades permanentes com recursos a longo prazo. 2- Estratégia conservadora de financiamento: Estratégia pela qual a empresa financia todas as necessidades esperadas de fundos com recursos a longo prazo e recorre ao financiamento de curto prazo apenas nas emergências ou desembolsos inesperados. 3- Estratégia intermediária de financiamento - Misto das duas técnicas: Estratégia pela qual a empresa financia suas necessidades permanentes e mais uma parte das necessidades sazonais com recursos a longo prazo. A relação exata feita entre a lucratividade e o risco depende muito de quem toma decisões com respeito ao risco. QUAL É A MELHOR? Não há resposta definitiva para essa pergunta. Várias considerações devem ser feitas numa análise adequada: 1. Reservas de caixa. A estratégia financeira conservadora leva a superávits de caixa e pouco endividamento de curto prazo. Esta estratégia reduz a probabilidade de que uma empresa passe por dificuldades financeiras. As empresas não precisam se preocupar tanto com o pagamento freqüente de obrigações de curto prazo. Entretanto os investimentos em caixa e títulos negociáveis são, na melhor das hipóteses, aplicações com presente líquido nulo. 2. Casamento de Prazos. Muitas empresas financiam estoques com empréstimos bancários de curto prazo e ativos permanentes com financiamento de longo prazo. As empresas tendem a evitar financiamento em ativos permanentes com recurso de curto prazo. Este tipo de descasamento de prazos exigiria financiamento frequente e é intrinsecamente arriscado, pois as taxas de juros de curto prazo são mais voláteis do que as taxas de juros de longo prazo. 3. Estruturas de Taxas. As taxas de juros a curto prazo são normalmente inferiores às taxas de longo prazo. Isto quer dizer que, em média, é mais caro depender de financiamento a longo prazo do que de recursos de curto prazo.
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