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INVESTIGAÇÃO - CRIMES AMBIENTAIS

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AULA 1 - RESPONSABILIZAÇÃO PENAL
DIREITO AMBIENTAL
O Direito Ambiental é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano. Tem como finalidade a proteção do meio ambiente, com status constitucional. A doutrina congrega quatro componentes para classificar meio ambiente em sentido amplo:
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental de terceira geração, tendo o Supremo Tribunal Federal já se manifestado nesse sentido, conforme se verifica na decisão no Recurso Extraordinário nº 134.297.
Os Direitos Fundamentais de terceira geração têm por peculiaridade a titularidade difusa ou coletiva, vez que são concebidos para a proteção não do homem isoladamente, mas de coletividade, de grupos. É o direito à qualidade do meio ambiente.
MEIO AMBIENTE
O meio ambiente é um bem ambiental de uso comum do povo e não está circunscrito ao Direito Civil e ao Direito Administrativo. Nesse sentido, o meio ambiente é um bem jurídico autônomo, difuso, indisponível e insuscetível de apropriação.
Conceitua-se meio ambiente como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
1. MACROBEM
É incorpóreo e imaterial e se configura como bem de uso comum do povo.
2. MICROBEM
Constitui a parte corpórea do meio ambiente¹ e a titularidade desse bem pode ser pública ou privada.
(¹ Florestas, rios, fauna, sítio arqueológico.)
BEM JURÍDICO TUTELADO NOS CRIMES AMBIENTAIS
Direito Penal
O Direito Penal é dividido em:
Direito Penal Objetivo:
 
É conceituado como o conjunto de leis penais em vigência no País.
Direito Penal Subjetivo:
Tem relação com o direito de punir do Estado.
E também...
• É orientado pelo princípio da intervenção mínima — a criminalização de uma conduta somente é legítima se constituir meio necessário para a proteção de determinados bens jurídicos;
• Tem como uma de suas finalidades tutelar determinados bens jurídicos, ou seja, proteger determinados bens — o objeto jurídico do crime é o bem que a norma penal tutela.
INFRAÇÃO PENAL
O conceito de Infração Penal (crime ou contravenção penal) pode variar conforme o enfoque:
Ótica formal:
Sob a ótica formal, infração penal é aquilo que está rotulado em uma norma penal incriminadora.
Ótica material:
Sob a ótica material, infração penal é comportamento humano causador de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Uma infração penal pode ser constituída por fato típico, ilícito e/ou culpável.
Entenda:
TIPICIDADE:
Para que haja uma infração penal deve ocorrer fato típico, que tem como elementos a conduta, o resultado, nexo de causalidade entre a conduta e o resultado e a tipicidade.
LÍCITO OU ILÍCITO:
Ocorrendo fato típico, observa se o fato típico é lícito ou ilícito. O fato típico pode ser lícito quando praticado acobertado por alguma causa que exclui a ilicitude — quando praticado em estado de necessidade, legítima defesa, em estrito cumprimento de um dever legal ou em exercício regular de um direito.
CULPÁVEL:
Havendo fato típico e ilícito observa-se se é culpável ou não. Haverá culpabilidade quando preenchidos os elementos da culpabilidade — ocorrendo imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.
A RESPONSABILIZAÇÃO PENAL AMBIENTAL
A Constituição Federal dispõe:
Art 225 — Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§3º — As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Dez anos após a promulgação da Constituição Federal, surgiu a Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), criminalizando determinadas condutas.
Importante registrar que nos crimes ambientais, os animais podem ser classificados como “objeto material” do delito, mas não como “sujeito passivo” da infração penal. Em determinados crimes na lei ambiental penal, o sujeito passivo é a coletividade, como por exemplo no crime previsto no art. 29 da Lei 9.605/98:
Art. 29 — Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida.
APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES AMBIENTAIS
De acordo com o princípio da insignificância, o Direito Penal não deve se preocupar com bagatelas. A tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem jurídico protegido. A aplicação do princípio da insignificância exclui a tipicidade, porém a tipicidade em seu sentido material. A aplicação do princípio da insignificância para o Supremo Tribunal Federal exige quatro requisitos, ou seja:
[...] A mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. [...]
Em que pese o meio ambiente ser um bem transindividual² e indivisível, a jurisprudência tem admitido a aplicação do princípio da insignificância em determinados crimes ambientais.
(² Interesse de um grupo, coletividade.)
SUJEITO DO CRIME AMBIENTAL
Classificamos em dois tipos:
SUJEITO ATIVO:
Dispõe o art. 2º da Lei 9.605/98:
Lei 9605/98 — art. 2º
Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
Ou seja, o sujeito ativo do crime é quem pratica o fato descrito na lei penal. Quando o agente pratica o verbo descrito no tipo penal de forma consciente e voluntária, em tese, pratica fato criminoso. O art. 2º da Lei 9.605/98 prevê o concurso de pessoas, previsto no art. 29 do Código Penal. A forma para o concurso de pessoas é a coautoria3 e a participação4.
A Lei 9.605/98 prevê a possibilidade de punição pelo crime ambiental tanto daquele que comete o fato descrito na norma penal, como daquele que sabendo da conduta criminosa de outrem deixa de impedir sua prática, quando podia agir para evitar, ou seja, haverá responsabilidade pela conduta omissiva. Ocorre, assim, a participação no crime ambiental pela omissão.
(³ Ocorre quando duas ou mais pessoas praticam o núcleo (verbo) descrito no tipo penal.
Exemplo: duas pessoas desferindo golpes na cabeça de uma vítima que vem a morrer. Neste caso, ambas são coautoras do crime de homicídio.)
(4 O agente não pratica o núcleo (verbo) descrito no tipo penal, mas concorre de algum modo para o fato criminoso. Pode ocorrer de forma moral (induzimento ou instigação) ou material (emprestar a arma do crime).
Exemplo: o agente que empresta a arma de fogo para o amigo matar o seu desafeto. Neste caso, temos o agente que emprestou a arma de fogo como partícipe do crime de homicídio e quem efetivamente matou a vítima como autor do crime de homicídio.)
SUJEITO PASSIVO:
Sujeito passivo da infração penal é a pessoa ou ente que sofre as consequências penais. São sujeitos passivos do crime a pessoa física ou jurídica ou até um ente despersonalizado, como família e a coletividade.
Nos crimes ambientais, a regra é que o sujeito passivo seja a coletividade. Lembra que já discutimos que os animais não são vítimas do crime, embora sejam objeto material da infração penal?
RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
A responsabilidade penal sempre recaiu no indivíduo, ou seja, somente o ser humano possui capacidade para praticar condutas criminosas. O art. 3º da Lei 9.605/98 deu cumprimentoao mandamento constitucional e possibilitou a responsabilização penal da pessoa jurídica:
Lei 9.605/98 — art. 3º: As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Em que pese discussão doutrinária a respeito da constitucionalidade ou não da responsabilização criminal da pessoa jurídica, majoritariamente admite-se tal responsabilização e na jurisprudência o tema está praticamente pacificado. Portanto, é perfeitamente possível a responsabilização criminal da pessoa jurídica.
O próprio art. 3º da Lei 9.605/98 dispõe sobre os requisitos dessa responsabilização criminal da pessoa jurídica, ou seja, quando a infração penal tiver sido cometida 1 - por decisão de seu representante legal ou contratual e 2 - no interesse ou em benefício da pessoa jurídica.
A jurisprudência do STJ era no sentido da teoria da dupla imputação, isto é, responsabilização simultânea da pessoa jurídica com a pessoa física, tendo em vista o Parágrafo Único do art. 3º da Lei 9.605/98. Entretanto, O sistema da dupla imputação foi afastado pelo STF com o Recurso Extraordinário nº 548.181 e, após tal decisão, entendeu o STJ que:
[...] É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
JURISPRUDÊNCIA COMENTADA
O art. 225, § 3º, da CF não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação.
As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. Condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental.
A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual.
AULA 2 - SISTEMA PUNITIVO
VOCÊ SABE O QUE É PENA?
[...] é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos.
O sistema de aplicação de pena nos crimes ambientais está previsto no Capítulo II da lei 9.605/98, nos art. 6º ao 24. A pena nos crimes ambientais será escolhida livre e fundamentadamente pelo julgador, porém deverá observar o comando do art. 6º da Lei 9.605/98, juntamente com o art. 59 do Código Penal, tendo em vista o que determina o art. 79 da lei dos crimes ambientais:
Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
ARTIGO 6º:
Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:
I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.
ARTIGO 7º:
Como o art.7º da Lei 9.605/98 dispõe que "as penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando [...]", tal dispositivo legal somente é aplicado à pessoa física, tendo em vista a impossibilidade de pena privativa de liberdade para a pessoa jurídica.
ARTIGO 8º:
Sendo assim, o art. 8º da Lei 9.605/98 estabelece que as penas restritivas de direitos para a pessoa física que comete crime ambiental são as seguintes:
Lei 9.605/98 — art. 8º
As penas restritivas de direito são:
I - prestação de serviços à comunidade;
II - interdição temporária de direitos;
III - suspensão parcial ou total de atividades;
IV - prestação pecuniária;
V - recolhimento domiciliar.
A lei 9.605/98 prevê ainda atenuantes (art. 14) e agravantes (art. 15):
ARTIGO 14:
Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.
ARTIGO 15:
Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.
PESSOA JURÍDICA
Como o art. 225, §3º, da Constituição Federal de 1988 prevê a responsabilização criminal da pessoa jurídica, a lei 9.605/98 estabeleceu as formas de aplicação da pena para a pessoa jurídica, que são os artigos 21, 22, 23 e 24.
As penas impostas às pessoas jurídicas não acompanham cada tipo penal. Como já estudamos, as penas estão nos artigos 21 a 24 da Lei 9.605/98. O art. 21 da Lei dos Crimes Ambientais dispõe que:
[...] as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º são:
I- multa;
II- restritivas de direitos;
III- prestação de serviços à comunidade.
O art. 21, II, da Lei dos Crimes Ambientais traz as penas restritivas de direito que, ao contrário do que ocorre com as pessoas físicas (art. 7º da mesmalei) são penas originárias e não substitutivas.
AULA 3 - AÇÃO PENAL E MEDIDAS DESPENALIZADORAS
PUNIÇÃO DE CRIME
Quando alguém, pessoa física ou jurídica, comete uma infração penal, o Estado tem o direito de punir (pretensão punitiva).
O processo penal é o corpo de normas jurídicas, cuja finalidade é regular o modo, os meios e os órgãos encarregados de punir que o Estado possui. O processo penal é realizado por meio do Poder Judiciário, constitucionalmente incumbido de aplicar a lei ao caso concreto.
Vejamos alguns componentes do processo penal.
SISTEMA ACUSATÓRIO
Atualmente vige no ordenamento jurídico brasileiro, pois há separação entre as funções de acusar, julgar e defender, com três personagens distintos:
 Autor
 Juiz
 Réu
O sistema acusatório segue, ainda, algumas definições:
1.O processo é regido pelo princípio da publicidade dos atos processuais, admitindo-se excepcionalmente o sigilo (art. 93, IX da CRFB/1988 c/c art. 792, §1º do CPP);
2.Os princípios do contraditório e da ampla defesa são observados — o réu é sujeito de direitos;
3. O sistema de provas adotado é o livre convencimento motivado, nos termos do que dispõe o art. 155 do CPP.
SUJEITOS DO PROCESSO
Já vimos que os sujeitos do processo, chamados de sujeitos principais, são:
	Autor
	Réu
	Juiz
	As partes no processo penal são somente autor e réu.
	O juiz é sujeito processual imparcial.
No processo penal, é possível observar:
SENTENÇA CONDENATÓRIA
A mais comum.
SENTENÇA DECLARATÓRIA
Aquela em que o Juiz reconhece, por exemplo, a prescrição.
SENTENÇA CONSTITUTIVA
Por exemplo, a sentença que julga procedente o pedido na revisão criminal.
A classificação subjetiva da ação está ligada diretamente a quem tem legitimidade para propor ação.
PROMOVIDAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
A ação penal pública pode ser:
De iniciativa pública incondicionada:
A regra é que a ação seja pública incondicionada. Portanto, no silêncio da lei, será sempre ação pública incondicionada.
De iniciativa pública condicionada a representação:
Ou ação penal pública de iniciativa pública condicionada a requisição do Ministro da Justiça. Ocorre quando a lei disser “somente se procede mediante representação”, ou “somente se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”, é ação pública condicionada.
PROMOVIDAS PELO OFENDIDO OU REPRESENTANTE LEGAL
A ação penal pública de iniciativa privada. Dispondo a lei:
“Somente se procede mediante queixa”
⇩
É ação pública de iniciativa privada.
PRINCÍPIOS REGENTES DA AÇÃO PENAL PÚBLICA DE INICIATIVA PÚBLICA
Princípio da Obrigatoriedade (art. 24 do CPP):
Havendo indícios de autoria e prova da materialidade quanto à prática de fato típico, ilícito e culpável não pode o Ministério Público deixar de ajuizar a ação penal.
Princípio da Indivisibilidade:
É uma consequência do princípio da obrigatoriedade, ou seja, havendo dois ou mais acusados, deverá o Ministério Público ajuizar ação contra todos.
Princípio da Indisponibilidade:
Uma vez ajuizada a ação penal pública, o Ministério Público não pode desistir da ação, conforme previsão expressa do art. 42 do CPP.
Princípio da Oficialidade:
A ação penal de iniciativa pública será deflagrada por iniciativa de órgão oficial que no caso é o Ministério Público.
Princípio da Intranscendência:
A ação penal será ajuizada unicamente contra o responsável pela autoria e participação no fato típico.
A ação penal pública é iniciada por meio de denúncia (art. 24 do CPP) e tem como titular o Ministério Público (art. 129, inciso I da CRFB/1988).
Qual o prazo para oferecimento da denúncia, de acordo com art. 46 do CPP:
· Cinco dias quando o réu estiver preso.
· Quinze dias quando o réu estiver solto.
O art. 24 do CPP dispõe sobre ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça, ou condicionada à representação.
A requisição ou representação tem natureza jurídica de condição de procedibilidade, ou seja, sem tal pedido/autorização, não pode o Ministério Público promover a ação penal. Trata-se de condição para o regular exercício da ação penal de iniciativa pública.
A representação tem prazo definido na lei, ou seja, de acordo com o art. 38 do CPP, se a vítima não representar no período de seis meses haverá decadência, que é causa extintiva da punibilidade, conforme art. 107, inciso IV do CP.
Todos os crimes da Lei de Crimes Ambientais são perseguidos mediante ação penal pública incondicionada, isto é, inexiste, nos crimes ambientais, ação penal pública condicionada à representação.
AÇÃO PENAL PÚBLICA DE INICIATIVA PRIVADA
Dispondo a lei que:
“Somente se procede mediante queixa”
⇩
A ação penal é pública de iniciativa privada.
PRINCÍPIOS QUE REGEM AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA
Princípio da oportunidade ou conveniência:
A vítima do crime ou o seu representante legal decidirá sobre a conveniência do ajuizamento ou não da queixa-crime, pois em muitos casos o processo criminal pode ser mais prejudicial que a impunidade.
Princípio da disponibilidade:
Uma vez ajuizada a ação penal, o particular poderá desistir do seu prosseguimento mediante o perdão ou pela perempção nos termos do art. 60 do CPP.
A forma de dispor da ação penal de iniciativa privada é por meio do perdão, que é bilateral, ou pela da perempção, sendo certo que neste último caso independe de aceitação.
Princípio da indivisibilidade (art. 48 CPP):
Significa que, embora o ofendido não esteja obrigado a intentar a ação penal, caso promova, deverá ajuizar contra todas as pessoas que concorreram para a prática do crime. O Ministério Público intervirá em todos os termos da ação penal de iniciativa privada na qualidade de órgão interveniente e velará pelo princípio da indivisibilidade.
LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS
Na lei 9.605/98 não existe crime a ser perseguido pela ação penal de iniciativa privada, pois todos os crimes são de ação pública incondicionada.
O capítulo IV da Lei 9.605/98 dispõe sobre a ação penal e o processo penal nos crimes ambientais.
Art. 26 da Lei 9.605/98: "Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada."
Tendo por base a relevância do bem jurídico protegido na Lei dos Crimes Ambientais, ou seja, o meio ambiente, bem de interesse de toda coletividade, entendeu o legislador que a ação penal nos crimes ambientais deve ser de iniciativa pública.
Na essência, o art. 26 da Lei 9.605/98 é despiciendo, uma vez que o art. 100 do Código Penal prevê que a ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
CF art. 129, I: “Promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”
Como a ação é de iniciativa pública, o órgão que a propõe é o Ministério Público, com base no comando do art. 129, I, da Constituição Federal.
CF art. 5º, LIX: "Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal."
A ação penal é promovida pelo Ministério Público e, por força de determinação constitucional, caso não promova no prazo legal (art. 46 do Código de Processo Penal).
Tendo em vista o princípio da obrigatoriedade da ação penal de iniciativa pública, havendo indícios de autoria e materialidade suficientes de crime ambiental, o Ministério Público é obrigado a promover a ação penal.
Lei 9.099/95 art. 61: "Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa."
Alguns crimes ambientais são infrações de menor potencial ofensivo. O conceito de infração de menor potencial ofensivo é descrito nesse artigo.
Mas vejamos um exemplo:
Imagine que alguém cometa o crime de praticar maus-tratos em animal doméstico.
De acordo com o art. 32 da Lei 9.605/98 essa infração penal tem como pena detenção de três meses a um ano e multa. Como a pena do crime de maus-tratos de animais não ultrapassa dois anos temos, assim, um crime de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
Lei 9.605/98art. 27: "Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade."
Isso ocorre devido a alguns crimes previstos da Lei de Crimes Ambientais serem de menor potencial ofensivo.
INSTITUTOS DESPENALIZADORES
A Lei 9.099, que entrou em vigor em 1995, tem por base a Constituição Federal de 1988, uma vez que o art. 98, I, da CF, dispõe o seguinte:
A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
A Lei 9.099/95 trouxe alguns institutos que impedem a propositura da ação penal e, consequentemente, uma eventual condenação — os institutos despenalizadores.
Ocorre a prática do crime ambiental, mas o agente que cometeu a infração penal não será punido como determina o preceito secundário do tipo penal.
São quatro institutos despenalizadores:
1.Composição civil dos danos (art. 74);
2.Transação penal (art. 76);
3.Suspensão condicional do processo¹;
4.Representação nos crimes de lesão leve e lesão culposa (art. 88).
(¹ Também chamado SURSI processual, art. 89.)
Vejamos o que as leis 9.605/98 e 9.099/95 tratam sobre esse tema:
Art. 27 da Lei 9.605/98:
Prevê a possibilidade de aplicação do art. 76 da Lei 9.099/95, desde que tenha ocorrido o que determina o art. 74 do mesmo diploma legal.
Art. 72 da Lei 9.099/95:
Determina a realização de audiência preliminar, momento em que haverá a possibilidade de composição civil dos danos. Com base no art. 74 da mesma lei, o acordo civil reduzido a termo e homologado pelo Juiz tem eficácia de título executivo.
No acordo civil, temos:
Crime de ação pública condicionada:
A representação gera renúncia ao direito de representação.
Crime de ação pública de iniciativa privada:
Gera renúncia ao direito de queixa.
Nos crimes ambientais, geralmente, o sujeito passivo é a coletividade, então a composição civil dos danos se refere exclusivamente ao dano ambiental.
Se o acordo civil não for possível, o art. 76, da Lei 9.099/1995 dispõe a possibilidade de transação penal. De acordo com a lei, a transação penal somente cabe na ação pública condicionada a representação e na ação pública incondicionada.
O art. 76 da Lei 9.099/95 estabelece a transação penal, ou seja, o Ministério Público propõe ao acusado uma pena antecipada de multa ou restritiva de direitos.
Existe controvérsia a respeito da natureza jurídica da transação penal:
Uma primeira corrente entende que a transação penal é um direito subjetivo do autor do fato. Caso o Ministério Público não ofereça, o Juiz de ofício pode propor a transação penal ao acusado.
Uma segunda corrente entende que a transação penal é uma discricionariedade regrada do Ministério Público. Se o Ministério Público não oferecer, e o Juiz entender que é caso de transação penal, deve aplicar por analogia o art. 28 do CPP. Essa corrente foi adotada pelo STJ, conforme decisão no HC nº 30.970/SP.
De acordo com o art. 78 da lei 9.099/1995, na audiência preliminar se a composição civil dos danos não for possível — nos crimes ambientais somente ocorre se a composição for dos danos ambientais; e a transação penal (oferecida à denúncia ou queixa oralmente) for reduzida a termo, será entregue cópia da denúncia ao acusado, que ficará citado e intimado para audiência de instrução e julgamento.
Uma vez estabelecida a transação penal e devidamente homologada pelo juiz, caso o autor do fato não cumpra o que ficou estabelecido, determina a súmula vinculante nº 35 do STF que:
A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.
A transação penal nos crimes ambientais (art. 27 da Lei 9.605/98) somente é cabível com a prévia composição do dano ambiental, nos termos do art. 74 da Lei 9.099/95.
O art. 27 da Lei 9.605/98 faz uma ressalva final — somente caberá transação penal se o agente que praticou o crime ambiental tiver reparado o dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (SURSIS PROCESSUAL)
O Ministério Público, ao oferecer a denúncia por crime ambiental, pode propor a suspensão condicional do processo, pelo período de dois a quatro anos. Entretanto, em se tratando de crime ambiental, a Lei 9.605/98 impôs algumas modificações para obter tal benefício — devem ser observados os incisos do art. 28.
Art. 89 da Lei 9.099/95: Prevê a suspensão condicional do processo no crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 (um) ano.
Neste caso, verifica-se um erro de redação do legislador no art. 28, pois a suspensão condicional do processo se aplica a qualquer crime em que a pena mínima for igual ou inferior a um ano, e não somente para os crimes de menor potencial ofensivo.
O crime de soltar balão tem pena máxima de três anos, logo, de acordo com o art. 61 da Lei 9.099/95, não é crime de menor potencial ofensivo, mas como tem pena mínima de um ano, cabe suspensão condicional do processo.
O que é necessário para a aplicação do art. 89 da Lei 9.099/95?
⇩
Que o Ministério Público ofereça a denúncia, ou seja, proponha a ação penal.
Se o acusado preencher todos os requisitos legais, como proceder?
⇩
O órgão acusador (MP) propõe a suspensão condicional do processo.
Se o acusado cumprir sem revogação o período de prova, o que acontece?
⇩
Ao final estará extinta a sua punibilidade.
Na suspensão condicional do processo, uma vez descumpridas as condições impostas, o transcurso do prazo legal não constitui óbice à revogação do benefício, a teor do disposto no parágrafo 4º do artigo 89 da Lei n. 9.099/95.
O art. 89 da Lei n. 9.099/95 estabelece a suspensão condicional do processo nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano. Esse benefício pode ser aplicado a delitos em geral, ainda que não considerados de menor potencial ofensivo, desde que a pena mínima cominada seja igual ou inferior a um ano.
A suspensão condicional do processo (sursis processual) insere-se no âmbito das medidas despenalizadoras. O Ministério Público deve fundamentar adequadamente a razão de não propor ao acusado a suspensão condicional do processo. Se a motivação do Ministério Público é genérica e abstrata, há de ser reconhecida a invalidade da recusa com a consequente adoção do procedimento previsto no art. 28 do Código de Processo Penal — o juiz remete o procedimento para o Procurador Geral de Justiça decidir se é caso ou não de oferecimento da suspensão condicional do processo.
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que:
Em ação penal privada, não há suspensão condicional do processo, uma vez previstos meios de encerramento da persecução criminal pela renúncia, decadência, reconciliação, perempção, perdão e retratação.
Importante não confundir suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) com a suspensão condicional da pena (arts. 77/82 do Código Penal), pois se há suspensão condicional da pena, a ação penal foi deflagrada e o processo chegou a seu fim. Na suspensão condicional do processo o processo penal fica suspenso. Em caso de motivo de revogação da suspensão condicional do processo o processo penal retoma seu curso normal.
AULA 4 - COMPETÊNCIA
JUSTIÇAS BRASILEIRAS
De acordo com os ensinamentos do professor Badaró (2016), competência édefinida como o "âmbito legítimo de exercício da jurisdição conferido a cada órgão jurisdicional."
A Justiça brasileira se divide em:
JUSTIÇA ESPECIAL
É formada por:
• Justiça Militar,
• Justiça Eleitoral e
• Justiça Trabalhista.
JUSTIÇA COMUM
É composta da Justiça Federal e Justiça Estadual — julga determinadas causas, entre elas as ambientais.
	
	Competência
	Federal
	
Para que a competência da Justiça Federal seja fixada, é necessário que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal sejam interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes — exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho, conforme determina o art. 109, I, da Constituição Federal.
	Estadual
	
A competência da Justiça Estadual será residual, ou seja, será fixada quando a competência para o julgamento de uma determinada causa não for das Justiças Especializadas, assim como também não existir interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal.
	Eleitoral
	
A Justiça Eleitoral julga casos ligados a questões das eleições, como registro de candidaturas, inelegibilidades, domicílio eleitoral, abuso do poder econômico ou político etc.
	Trabalhista
	
A Justiça Trabalhista julga casos relativos a contratos de trabalho, relação de emprego, vínculo empregatício ou não etc. Porém, a única Justiça que não tem competência em matéria criminal é a Justiça Trabalhista, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal.
	Constituição Federal
	
De acordo com a Constituição Federal de 1988 a fauna e a flora estão protegidas como poder-dever comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme se verifica do art. 23, VII, do Texto Magno.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, dispõe que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
O Poder Público tem a obrigação de “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”, de acordo com o art. 225, § 1º, VII, da Constituição Federal.
JURISDIÇÃO
· É a função do Estado de aplicar a lei ao caso concreto, solucionando o caso penal.
· É a jurisdição que possibilita tanto a ação quanto o processo (nessa nossa disciplina, ação penal e processo penal).
· A jurisdição é função monopolizada pelo Estado que expressa a soberania nacional, consistindo no encargo dos órgãos jurisdicionais estatais de promover a realização do direito no caso concreto, por meio do processo.
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
Indeclinabilidade:
O Juiz não pode declinar o seu mister jurisdicional (art. 5º, inciso XXXV da CRFB/1988).
Indelegabilidade:
Não há possibilidade de se delegar a outro, que não o Judiciário, o poder de julgar, salvo nas hipóteses previstas na própria Constituição, conforme art. 52, inciso I da CRFB/1988.
Improrrogabilidade:
A jurisdição não se prorroga à autoridade que não tem competência delineada em lei. Ocorrido um fato criminoso em uma determinada comarca, nesta deve ser realizado o julgamento. Entretanto, este princípio comporta exceção através da conexão (art. 76 do CPP) e continência (art. 77 do CPP) e dasforamento (art. 427 do CPP), sendo certo que este último caso não se aplica aos crimes ambientais.
Um aspecto da jurisdição é que o juiz não pode agir de ofício, ou seja, somente pode agir se for provocado. Como não há pena sem processo penal é impossível aplicar qualquer tipo de sanção penal sem instauração do processo penal.
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
• Inércia — o Estado-Juiz somente atua se for provocado;
• Substutividade — como a autotutela é proibida, o Estado passou a prestar jurisdição. Sendo assim, a decisão jurisdicional substitui a atividade das partes, realizando em concreto a vontade do direito objetivo.
• Definitividade – que consiste em que a coisa julgada, que decorre da atividade jurisdicional, traduzindo-se pela impossibilidade de uma decisão judicial ser revista ou modificada por órgão integrante de outro poder.
COMPETÊNCIA
• A doutrina entende que a competência é o limite da jurisdição.
• A jurisdição é una e indivisível.
A competência é que pode ser repartida ou dividida e se classifica em razão:
DA MATÉRIA:
Observa a natureza do fato criminoso, como: em crime eleitoral, a competência para o processo penal será da Justiça Eleitoral. Se ocorrer um crime militar, a competência para o processo e julgamento será da Justiça Militar.
DA PESSOA:
Observa a condição funcional do acusado. Se quem pratica a infração penal for presidente da República, a competência para o processo penal será do Supremo Tribunal Federal.
DO LUGAR:
Observa o local onde ocorreu a infração penal. Neste caso, se o crime ocorrer no município do Rio de Janeiro, a competência para o processo e julgamento será deste lugar.
Se um juiz de direito do Estado do Rio de Janeiro praticar um crime ambiental, como por exemplo provocar incêndio em mata ou floresta (art. 41, da Lei 9.605/98), por força da sua função e observando o comando do art. 96, III, da Constituição Federal de 1988, a competência para o processo penal será do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ainda que esse crime ambiental não tenha sido praticado no Estado do Rio de Janeiro.
Imagine uma pessoa pescando mediante explosivo na cidade de São Miguel do Araguaia (GO). Tal conduta se enquadra no crime previsto no art. 35, I, da Lei 9.605/98. Como essa pessoa não tem foro por prerrogativa de função, a competência para processo e julgamento dessa infração penal será o lugar da prática do crime ambiental, ou seja, na comarca de São Miguel do Araguaia.
Para a doutrina majoritária e a jurisprudência, a competência:
Em razão da matéria e em razão da pessoa é
⇩
COMPETÊNCIA ABSOLUTA
Em razão do lugar é
⇩
COMPETÊNCIA RELATIVA
Nesse sentido, a incompetência absoluta é causa de nulidade absoluta, já a incompetência relativa é causa de nulidade relativa.
DIFERENÇA ENTRE COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA
COMPETÊNCIA ABSOLUTA:
• A regra de competência absoluta é criada com base no interesse público e não pode ser modificada.
• A incompetência absoluta é causa de nulidade absoluta.
COMPETÊNCIA RELATIVA:
• A competência relativa tem por base o interesse preponderante das partes e pode ser modificada.
• A incompetência relativa é causa de nulidade relativa.
CONCRETIZAÇÃO DE COMPETÊNCIA
O critério de concretização da competência passa por cinco etapas.
	 1 
	
Saber se o caso penal terá como competência para o julgamento os órgãos de sobreposição do Poder Judiciário, ou seja, Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. Sendo a resposta afirmativa, encerra a busca da competência.
	Se for negativa,
	2
	
passa-se para a segunda etapa para descobrir qual a Justiça competente, que pode ser Justiça Especializada (Militar ou Eleitoral) ou a Justiça Comum (Federal ou Estadual).
	Descoberta a Justiça competente,
	3
	
na terceira etapa é necessário verificar se a competência originária é do Tribunal ou dos Juízos de 1º (primeiro) grau.
	Mas, se a competência originária for dos Juízos de 1º (primeiro) grau,
	4
	
é necessária a quarta etapa para saber qual o foro competente (Comarca na Justiça Estadual e Seção Judiciária na Justiça Federal). Descoberto o foro competente, se for Comarca ou Seção de Juízo Único, encerra-se a busca da competência. Se a competência for do Tribunal, encerra a busca do órgão competente. Mas, se a competência originária for dos Juízos de 1º (primeiro) grau.
	Se não for juízo único,
	5
	
a quinta etapa servirá para descobrir qual a vara competente, atribuída por meio de distribuição.
PROCESSO UNIFICADO
Se houver conexão entre um crime da competência da Justiça Federal com um crime da competência da Justiça Estadual a súmula122 do Superior Tribunal de Justiça afirma o seguinte:
“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal."
Se ocorrer um crime ambiental é necessário verificar se tal crime atingiu ou não interesse da União.
Atingindo interesse da União, a competência para o processo e julgamento é da Justiça Federal.
Se não atingir o interesse da União ou de Autarquia Federal, a competência para o processo e julgamento será da Justiça Estadual.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que para fixação do foro por prerrogativa de função será necessário existir pertinência temática entre a conduta do agente política e a sua função pública: Inexistindo essa relação entre a conduta e a função pública não há foro por prerrogativa de função. O STF fixou a seguinte tese:
“(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo”.
É possível um crime ambiental ser julgado pelo Tribunal do Júri? O Tribunal do Júri é uma garantia constitucional, prevista no art. 5º, inciso XXXVIII da CRFB/1988 e tem competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Porém, ocorrendo um crime doloso contra a vida conexo (que tem um ponto de contato) com um crime ambiental, pela regra do art. 78, I, do Código de Processo Penal na determinação da competência por conexão e no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri. Sendo assim, é perfeitamente possível que o Tribunal do Júri julgue um crime ambiental, desde que haja conexão com um crime doloso com a vida. Nos termos da Constituição Federal de 1988, é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e além da competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
AULA 5 - CRIMES CONTRA A FAUNA
ELEMENTO DO TIPO, SUJEITO DO DELITO E MOMENTO CONSUMATIVO DO CRIME
De início, vamos relembrar o que significa elementos do tipo, sujeitos do delito e o momento consumativo do crime.
ELEMENTO OBJETIVO:
Refere-se ao aspecto material do fato. Existem concretamente no mundo dos fatos e só precisam ser descritos pela norma, como o objeto do crime, o lugar, o tempo, os meios empregados o núcleo do tipo (verbo).
ELEMENTO NORMATIVO:
Ao contrário dos descritivos, seu significado não se extrai da mera observação, sendo imprescindível um juízo de valoração jurídica, social, cultural histórica religiosa, bem como qualquer outro campo do conhecimento humano. Aparece em expressões como sem justa causa, indevidamente, documento, funcionário público, dignidade, decoro etc.
ELEMENTO SUBJETIVO:
Há elemento subjetivo geral, ou seja, o dolo (vontade livre e consciente de matar alguém), que pode ser direto (o agente quer o resultado) ou eventual (o agente assume o risco de produzir o resultado).
Sujeito ativo é aquele que pratica o crime e nos crimes ambientais pode ser sujeito ativo a pessoa física e a pessoa jurídica; sujeito passivo é quem sofre com a ação criminosa, valendo destacar que os animais são objeto material de determinados crimes ambientais e não sujeito passivo, sendo a coletividade o sujeito passivo desses crimes.
CRIMES CONTRA A FAUNA
Para evitar a extinção de espécies animais a proteção da fauna se faz necessário. A fauna se classifica, de acordo com a doutrina, em terrestre e aquática e justamente essas espécies são protegidas pela Lei 9.605/98, porque a Constituição Federal de 1988 determina a proteção a fauna e a flora, vedando, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
Os crimes contra a fauna estão previstos nos arts. 29 a 37 da Lei 9.605/98.
FIGURAS TÍPICAS NOS CRIMES CONTRA A FAUNA
Bem jurídico tutelado — A lei protege o meio ambiente.
ART. 29
Dispõe o art. 29, § 3º, da Lei 9.605/98:
São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
✔ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum. O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito é a fauna silvestre.
✔ O tipo penal prevê a conduta de exportar, que significa fazer sair do território brasileiro.
No caput do art. 29 existe elemento normativo do tipo na expressão "sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida."
O momento consumativo dependerá do núcleo do tipo praticado. Na hipótese do verbo matar, se consuma com a morte do animal, trata-se, portanto, de crime material, já na modalidade perseguir basta a conduta praticada, independentemente de resultado naturalístico.
Na hipótese do § 1º do art. 29 temos as formas derivadas do crime do art. 29, caput.
O art. 29, § 2º, configura hipótese de perdão judicial, que é causa extintiva da punibilidade, conforme art. 107, IX, do Código Penal. O perdão judicial é um instituto em que o juiz deixa de aplicar a pena, desde que presentes as circunstâncias previstas em lei. Sendo assim, trata-se de um direito subjetivo público do réu. Cabe acrescentar que nos termos da súmula 18 do Superior Tribunal de Justiça, a sentença que concede o perdão judicial é declaratória de extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
ART. 30
✔ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✔ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito são as peles e couros de anfíbios e répteis em bruto.
O momento consumativo ocorre com o envio da pele ou couro para o exterior. Saindo da alfândega, consuma-se com a liberação da pele ou couro; não saindo pela alfândega, a consumação ocorre com a saída do objeto deixa o território nacional. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
ART. 31
✔ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✔ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito é espécime animal.
O momento consumativo ocorre com a introdução do animal no território brasileiro, porém sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente, que é elemento normativo do tipo penal. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 32
✔ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✔ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito inclui todos os animais.
O momento consumativo ocorre com a introdução do animal no território brasileiro, porém sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente, que é elemento normativo do tipo penal. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 33
✔ O crime pode ser praticadopor qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✔ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito são os espécimes da fauna aquática.
O momento consumativo ocorre com a efetiva provocação do perecimento do espécime da fauna aquática, mas no Parágrafo Único existe elemento normativo do tipo, nas expressões "sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente" e "devidamente demarcados em carta náutica". A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
ART. 34
✔ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✔ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito é o equilíbrio ecológico referente a fauna aquática.
O momento consumativo ocorre com a efetiva pesca. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
ART. 35
✔ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✔ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✔ O objeto material do delito é o equilíbrio ecológico referente a fauna aquática.
O momento consumativo ocorre com a efetiva pesca com substâncias proibidas. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
ART. 36
As normas penais podem ser incriminadoras e não incriminadoras. O art. 36 é uma norma penal não incriminadora, ou seja, trata-se de norma penal explicativa para os crimes referentes à pesca (arts. 34 e 35 da Lei 9.605/98).
As normas penais podem ser também permissivas que são aquelas que têm por finalidade afastar a ilicitude da conduta do agente. Temos exemplo de norma penal permissiva na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) no art. 37.
ART. 37
Causas excludentes de ilicitude são causas que afastam a ilicitude da conduta do agente, ou seja, o conceito analítico de crime é constituído dos seguintes elementos: fato típico, ilícito e culpável.
Existindo fato típico, que é composto de conduta, resultado (nos crimes materiais), nexo de causalidade e tipicidade, é necessário analisar se esse fato é ou não ilícito. É justamente neste ponto que se observa as causas excludentes de ilicitude. Se o fato praticado pelo agente foi lícito, ou seja, de acordo com o Direito, não há crime.
Nesse sentido, o art. 37 da Lei 9.605/98 prevê causas excludentes de ilicitude. Portanto, nos termos do art. 29 da Lei de crimes Ambientais é crime matar espécimes da fauna silvestre, porém se o agente matar o animal para saciar sua fome estará acobertado pela excludente de ilicitude prevista no art. 37, I, da Lei 9.605/98: não é crime o abate de animal, quando realizado “em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família”.
O mesmo ocorre se o abate de animal tiver como motivação a “proteção de lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente” (art. 37, II) e, “por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente” (art. 37, IV).
No inciso I do art. 37 da Lei 9.605/98 ocorre a causa de justificação do estado de necessidade, já nos incisos II e IV do mesmo dispositivo legal existe a causa de justificação exercício regular de direito.
AULA 6 - CRIMES CONTRA A FLORA
Os crimes contra a flora¹ estão previstos nos artigos 38 a 52 da Lei 9.605/98.
(¹ Para o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, flora é o conjunto das espécies vegetais de uma determinada localidade, que se diferencia de floresta que consiste na formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou menos extensa.)
1988
Nos termos da Constituição Federal de 1988 a competência em matéria florestal está prevista no art. 23, VII, que trata de competência material comum, e art. 24, VI, que trata da competência legislativa concorrente. Como o legislador constituinte não utilizou a expressão legislativa, a competência prevista no art. 23 é de ordem administrativa.
O art. 24, VI, da Constituição Federal de 1988, dispõe somente sobre o vocábulo floresta, gerando questionamento sobre a competência para flora. Uma interpretação açodada levaria o intérprete a entender que o coletivo flora não teria competência legislativa. Porém, entende a doutrina, que o coletivo flora é objeto dessa competência legislativa.
A Constituição Federal de 1988 dedicou proteção à flora, uma vez que dispõe o art. 225, § 1º, VII, que incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica.
De acordo com o item 9, “g” da Agenda 21, documento elaborado na Conferência ECO 92 “as florestas são essenciais para o desenvolvimento econômico e para a manutenção de todas as formas de vida”.
O Código Florestal (Lei 12.651/12) é um instrumento normativo de proteção da flora, porém essa legislação não tipifica nenhuma conduta criminal.
FIGURAS TÍPICAS NOS CRIMES CONTRA A FLORA
Bem jurídico tutelado — A lei protege o meio ambiente.
Antes de Iniciarmos, é importante destacar que a Lei 12.651/2012 informa, no seu art. 3º, II, o conceito de Área de Preservação Permanente.
Lei 12.651/2012 art. 3º II:
Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998
ART. 38
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é a floresta de preservação permanente, mesmo que em formação.
✓ O momento consumativo do delito ocorre com a destruição, a danificação ou a utilização ilegal da floresta. Entende a doutrina majoritária admissível a tentativa, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
O Parágrafo Único do art. 38 estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena é reduzida da metade em caso de crime culposo, a pena máxima não ultrapassará dois anos e, neste caso, a competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 38 - A
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é a proteção do meio ambiente natural, ou seja, o Bioma Mata Atlântica.
✓ O momento consumativo ocorre com a destruição, a danificação ou com a utilização indevida. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
O Parágrafo Único do art. 38-A estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena é reduzida da metade em caso de crime culposo, a pena máxima não ultrapassará dois anos e, neste caso, a competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 39
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é a preservação do meio ambiente natural.
✓ O momento consumativo ocorre com o efetivo corte da árvore, portanto, trata-se crime material quanto ao resultado naturalístico. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
ART. 40
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito são as Áreas de Unidades de Conservação (arts. 7º a 13 da Lei 9.985/2000).
✓ O momento consumativo ocorre com o efetivo dano às Unidades de Conservação. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
O artigo 40, § 3º, estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena é reduzida da metade em caso de crime culposo, a pena máxima ultrapassará dois anos e, neste caso, a competência para o processo e julgamento não será do Juizado Especial Criminal, porém permanece a possibilidade de suspensão condicional do processo.
ART. 41
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o meio ambiente como um todo, uma vez que o incêndio afeta a flora, como também a fauna.
✓ O momento consumativo ocorre quando o fogo ocorre o efetivo incêndio. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 2 (anos) anos, não cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
O Parágrafo Único do art. 41 estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena é reduzida da metade em caso de crime culposo, a pena máxima não ultrapassará dois anos e, neste caso, a competência para o processo e julgamento será do Juizado Especial Criminal.
O art. 38 da Lei 12.651/2012 exclui em determinadas hipóteses o crime de incêndio, uma vez que trata-se de exercício regular de direito, ou seja, nessas hipóteses ocorre causa de exclusão da ilicitude.
Confronto com o art. 250 § 1º, II, "h", do Código Penal
Se o fogo que gera o incêndio for em lavoura ou pastagem, o crime será de incêndio previsto no Código Penal, pois o crime do art. 41 da lei dos Crimes Ambientais versa somente sobre mata ou floresta.
ART. 42
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o meio ambiente e a incolumidade pública.
✓ O momento consumativo ocorre com o ato de fabricar, vender, transportar ou soltar balão. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
Se da conduta de soltar balão ocorrer incêndio, responde o agente por crime de incêndio, com dolo eventual, previsto no art. 250 do Código Penal, desde que haja perigo comum, tendo em vista as campanhas de conscientização da mídia.
ART. 44
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o patrimônio florestal.
✓ O momento consumativo ocorre com a extração dos minerais, porém se houve prévia autorização para a extração não há crime. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 45
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o meio ambiente natural.
✓ O momento consumativo ocorre com o corte ou transformação em carvão madeira de lei, em desacordo com as determinações legais. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 46
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o patrimônio florestal.
✓ O momento consumativo ocorre no momento em que o agente adquire ou recebe a mercadoria, porém somente haverá crime se as condutas forem praticadas sem exigir a exibição de licença do vendedor. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
O Parágrafo Único do art. 46 da Lei dos Crimes Ambientais prevê uma figura equiparada ao crime do caput.
ART. 48
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é a proteção do meio ambiente natural.
✓ O momento consumativo ocorre com a efetivação das condutas de impedir ou dificultar a regeneração de florestas. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 49
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é a espécie vegetal de ornamentação situada em logradouros públicos e propriedade privada alheia.
✓ O momento consumativo ocorre no momento da destruição, do dano, da lesão ou maus-tratos. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
O Parágrafo Único estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. A competência para processo e julgamento será também do Juizado Especial Criminal.
ART. 50
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o patrimônio florestal.
✓ O momento consumativo ocorre com a destruição ou dano do objeto material do crime. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 50 - A
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o patrimônio florestal.
✓ O momento consumativo ocorre com o desmatamento ou exploração, porém somente haverá o crime se a conduta for praticada sem autorização do órgão competente. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena imposta no preceito secundário não cabe suspensão condicional do processo, a competência para o processo e julgamento é da Justiça Comum.
O § 1º estabelece que "não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família". Trata-se de causa de exclusão da ilicitude.
ART. 51
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é o patrimônio florestal.
✓ O momento consumativo ocorre com o efetivo comércio ou utilização de motosserra, porém somente haverá crime se a conduta for praticada sem licença ou registro da autoridade competente. A tentativaé perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 52
✓ O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
✓ O sujeito passivo de tal delito é a coletividade.
✓ O objeto material do delito é a preservação do meio ambiente.
✓ O momento consumativo ocorre com a simples penetração na Unidade de Conservação portando instrumento ou substâncias voltadas à caça ou exploração de produtos florestais, porém somente haverá o crime se a conduta for praticada sem licença da autoridade competente. A tentativa é inadmissível, uma vez que o crime é unissubsistente.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
AULA 7 - POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS
O art. 225, caput, da Constituição Federal dispõe que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Nesse sentido, alguns conceitos precisam ser clarificados:
MEIO AMBIENTE:
O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
POLUIÇÃO:
A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) Afetem desfavoravelmente a biota;
d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
POLUIDOR:
A pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.
Os crimes que envolvem a poluição e outros crimes ambientais estão previstos nos arts. 54 a 61 da Lei 9.605/98.
FIGURAS TÍPICAS NOS CRIMES QUE ENVOLVEM A POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS
Bem jurídico tutelado — A lei protege o meio ambiente.
Vejamos agora como os artigos da Lei 9.605/98 tratam a questão dos crimes ambientais.
ART. 54
De acordo com esse artigo:
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo é a coletividade.
· O objeto material é o meio ambiente e a saúde pública.
· O momento consumativo ocorre quando causa poluição em níveis tais que resultem ou possam resultar danos à saúde humana ou possa provocar morte de animais ou destruição da flora. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
É importante destacarmos mais alguns aspectos do art. 54:
§ 1º
Estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena máxima é de 1 (um) ano, a competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
§ 2º
Dispõe sobre modalidades qualificadas, porém mantém a pena mínima em um 1 (um) ano, cabendo, portanto, suspensão condicional do processo.
§ 3º
Dispõe sobre modalidade equiparada. O tipo do § 3º do art. 54 da Lei n.º 9.605/98 cuida de delito omissivo próprio, que não cabe tentativa, consumando o delito com a simples omissão.
ART. 55
De acordo com esse artigo:
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo é a coletividade.
· O objeto material é a proteção do meio ambiente natural, ou seja, o Bioma Mata Atlântica.
· O momento consumativo ocorre com a destruição, a danificação ou com a utilização indevida. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o Iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
O Parágrafo Único do art. 38-A estabelece a modalidade culposa. O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena é reduzida da metade em caso de crime culposo, a pena máxima não ultrapassará dois anos e, neste caso, a competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 56
De acordo com esse artigo:
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo é a coletividade.
· O objeto material é o meio ambiente e a saúde humana.
· O momento consumativo ocorre com a prática das condutas previstas no tipo penal. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
Alguns destaques desse artigo:
§ 1º
Temos figura equiparada ao crime do caput.
§ 2º
Prevê causa de aumento de pena.
§ 3º
Estabelece a modalidade culposa.
O tipo culposo não admite tentativa. Como a pena máxima é de 1 (um) ano a competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ART. 58
O art. 58 prevê causas especiais de aumento de pena, causas específicas para os crimes dos arts. 54, 55 e 56.
As hipóteses do art. 50 da Lei dos Crimes Ambientais somente se aplicam aos crimes dolosos, ou seja, são hipóteses de crime preterdoloso, respondendo o agente pelo resultado a título de culpa.
ART. 60
De acordo com esse artigo:
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo é a coletividade.
· O objeto material é a proteção do ambiente.
· O momento consumativo ocorre com a prática das condutas previstas no tipo penal. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, trata-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
É mandamento constitucional que para obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente haja estudo prévio de impacto ambiental¹.
(¹ É qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas. Daí a necessidade do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, para minimizar o impacto negativo ao meio ambiente.)
ART. 61
De acordo com esse artigo:
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo é a coletividade.
· O objeto material é o ambiente, ou seja, proteção da biodiversidade e da natureza.
· O momento consumativo ocorre com a disseminação da doença, praga ou espécies capazes de causar dano à agricultura, pecuária, fauna, flora e ao ecossistema. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
AULA 8 - CRIMES CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E O PATRIMÔNIO CULTURAL
CULTURA
A Constituição Federal de 1988 dispõe sobre o patrimônio cultural nos artigos 215, 216 e 216-A, na seção sobre a cultura. Nesses artigos estão inseridos o patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico.
O Estado deve garantir a toda população o pleno exercício dos direitos culturais, apoiando e incentivando a valorização e a difusão das manifestações culturais — sejam elas indígenas, afro-brasileiras ou de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional — e o acesso às fontes de cultura existentes no país.
O Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário n. 153.531 decidiu que:
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observânciada norma do inciso VII do art. 225 da CF, no que veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma constitucional denominado "farra do boi".
ART. 215
O art. 215, caput, da Constituição Federal dispõe:
“O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à:
I. defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II. produção, promoção e difusão de bens culturais;
III. formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;
IV. democratização do acesso aos bens de cultura;
V. valorização da diversidade étnica e regional.
ART. 216
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
O § 1º do art. 216 da Constituição Federal escreve o seguinte:
O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
Decidiu o STF no RExt. nº 182.782 o seguinte:
No tocante ao § 1º do art. 216 da CF, não ofende esse dispositivo constitucional a afirmação constante do acórdão recorrido no sentido de que há um conceito amplo e um conceito restrito de patrimônio histórico e artístico, cabendo à legislação infraconstitucional adotar um desses dois conceitos para determinar que sua proteção se fará por tombamento ou por desapropriação, sendo que, tendo à legislação vigente sobre tombamento adotado a conceituação mais restrita, ficou, pois, a proteção dos bens, que integram o conceito mais amplo, no âmbito da desapropriação.
No que tange ao dano e a responsabilidade do patrimônio cultural, estabelece o art. 216, § 4º da Constituição Federal que:
Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
Perante a Responsabilidade penal ambiental, a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) estabelece, do artigo 62 ao artigo 65, os crimes que envolvem o ordenamento público e o patrimônio cultural. A intervenção penal no campo do patrimônio cultural encontra amparo pela natureza histórica e social que possui o patrimônio cultural de uma nação, bem de interesse difuso.
FIGURAS TÍPICAS NOS CRIMES QUE ENVOLVEM O ORDENAMENTO PÚBLICO E O PATRIMÔNIO CULTURAL
Bem jurídico tutelado — A lei protege o meio ambiente.
DESTRUIÇÃO DE BEM - ART. 62
Destruir, inutilizar ou deteriorar:
I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo de tal delito é a coletividade e mediatamente é o proprietário do bem.
· O objeto material do crime é o meio ambiente cultural.
· O momento consumativo do delito ocorre com a efetiva destruição, inutilização ou deterioração do bem. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
O Parágrafo Único do art. 62 da Lei dos Crimes Ambientais prevê a modalidade culposa do delito. Neste caso, em se tratando de crime culposo, não cabe tentativa. Como a pena máxima é de 1 (um) ano, a competência do processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
ALTERAÇÃO DE EDIFICAÇÃO PROTEGIDA ART. 63
Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo de tal delito é a coletividade e mediatamente é o Estado.
· O objeto material do delito é o solo não edificável ou seu entorno.
· O momento consumativo ocorre com a efetiva alteração do aspecto ou estrutura de edificação ou local. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena mínima é de 1 (um) ano, cabe suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95).
CONSTRUÇÃO IRREGULAR ART. 64
Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Aqui tem-se um delito contra a ordenação do território. Merece destaque a Política Urbana que está consagrada na Constituição Federal em seus artigos 182 e 183. Esses artigos foram posteriormente regulamentados pelo Estatuto da Cidade, Lei n 10.257, de 10 de junho de 2011, que estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
· O crime pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo de tal delito é a coletividade e mediatamente é o Estado.
· O objeto material do delito é o solo não edificável ou seu entorno.
· O momento consumativo ocorre com o início da construção. A tentativa é perfeitamente possível, uma vez que o iter criminis pode ser fracionado.
Tendo em vista que a pena máxima é de 1 (um) ano, a competência para o processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal.
PICHAÇÃO ART. 65
Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1o Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.
§ 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.
Este crime foi alterado pela Lei n. 12. 408 de 25 de maio de 2011.
· Pode ser praticado por qualquer pessoa, logo trata-se de crime comum.
· O sujeito passivo de tal delito é a

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