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MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 1 H1N1 EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E PREVENÇÃO DO H1N1. Os vírus influenza fazem parte da família Orthomyxoviridae, na qual os vírus influenza A, B e C constituem três gêneros diferentes. A designação dos vírus influenza como tipo A, B ou C baseia-se nas características antigênicas dos antígenos proteicos da nucleoproteína (NP) e da matriz (M). Vírus influenza A: são subdivididos (subtipados) de acordo com os antígenos da hemaglutinina (H) e da neuraminidase (N) de superfície (ver adiante); as diferentes cepas são classificadas com base no local de origem, no número da cepa isolada, no ano do isolamento e no subtipo – por exemplo, influenza A/Califórnia/07/20059 (H1N1). O vírus influenza A tem 16 subtipos H e 9 subtipos N diferentes, dentre os quais apenas o H1, o H2, o H3, o N1 e o N2 foram associados às epidemias da doença nos seres humanos. OBS: A hemaglutinina (HA) é uma proteína que se situa na camada mais externa do vírus, o envelope. Ela reconhece um açúcar da nossa membrana celular, o ácido siálico, e é a responsável pelo reconhecimento e ligação do vírus a nossas células do sistema respiratório. Seu nome vem desta capacidade de reconhecer e se ligar à células e aglutinar hemácias (os glóbulos vermelhos do sangue), um dos primeiros testes desenvolvidos para diagnosticar o vírus. Sua numeração é dada com base na variação dos aminoácidos e são conhecidos mais de 15 tipos de HA, sendo H1, H2 e H3 as mais comuns em vírus que infectam humanos. http://www.rcsb.org/pdb/static.do?p=education_discussion/molecule_of_the_month/pdb76_1.html MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 2 OBS: A neuraminidase (NA) reconhece a mesma molécula que a hemaglutinina, o ácido siálico da membrana celular. Mas realiza sua função de maneira oposta, seu papel é ajudar o vírus a deixar a célula invadida, para que ela possa infectar uma outra célula. A neuraminidase é necessária para remover o ácido da célula e permitir que o vírus recém sintetizado consiga brotar para invadir a próxima célula. Por isso, ela também se localiza no envelope do vírus, e é a segunda proteína mais comum, depois da hemaglutinina. Também é classificada de acordo com sua variedade, e são conhecidas 9, sendo que N1 e N2 são as mais frequentes em humanos. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, em 2009, foram notificados 88.464 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), dos quais 50.482 foram confirmados como influenza A(H1N1), com 2.060 óbitos. No boletim epidemiológico de 2019 feito pelo Ministério da Saúde, foram coletadas 13.184 amostras. No qual 29,4% (3.086/10.513) tiveram resultados positivos para vírus respiratório, das quais 48,6% (1.501/3.086) foram positivos para influenza e 51,4% (1.585/3.086) para outros vírus respiratórios (vírus sincicial respiratório, parainfluenza e adenovírus). Dentre as amostras positivas para influenza, em 2019, 48,1% (722/1.501) foram decorrentes de influenza A (H1N1) Entre as notificações dos óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), 26,1% (917/3.514) foram confirmados para influenza, com predomínio do vírus influenza A (H1N1). As regiões Sudeste e Sul apresentam respectivamente as maiores quantidades de amostras positivas, com destaque para a maior circulação de VSR e influenza A (H1N1). FISIOPATOLOGIA A gripe H1N1 é provocada pelo vírus H1N1, um subtipo do influenzavírus (Os vírus influenza fazem parte da família Orthomyxoviridae, na qual os vírus influenza A, B e C constituem três gêneros diferentes). O H1N1 faz parte do tipo A. Ele é resultado da combinação de segmentos genéticos do vírus humano da gripe, do vírus da gripe aviária e do vírus da gripe suína (daí o nome pelo qual ficou conhecida inicialmente), que infectaram porcos simultaneamente. Os vírus Influenza são constituídos por um RNA de hélice única, pertencem à família dos Ortomixovírus e se subdividem em três tipos: A, B e C, de acordo com sua diversidade antigênica. Os vírus dos tipos A e B causam mais patogenicidade (doença) e mortalidade (morte) do que os do tipo C. Os tipos A e B causam epidemias a cada inverno, enquanto o tipo C tem pouca importância epidemiológica, uma vez que provoca doença leve ou assintomática. Tipo A: é o mais prevalente; tem como reservatórios naturais o ser humano e várias espécies animais, especialmente aves selvagens, suínos, patos, galinhas, perus, cavalos, baleias e as focas. Esse tipo infecta o ser humano durante todo o ano, com novos sorotipos, causando epidemias a cada três anos. http://www.rcsb.org/pdb/static.do?p=education_discussion/molecule_of_the_month/pdb113_1.html MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 3 O vírus tipo A apresenta vários subtipos, de acordo com as proteínas H e N de sua superfície. Os subtipos de importância humana são constituídos por H1, H2, H3 e N1, N2. O subtipo H1N1 representa a etiologia mais comum da gripe no ser humano. A etapa inicial da influenza é a infecção do epitélio respiratório pelo vírus adquirido por meio das secreções respiratórias dos pacientes com infecção aguda. Com quase toda certeza, o vírus é transmitido pelos aerossóis gerados pela tosse e pelos espirros, embora o contato com as mãos, os outros tipos de contato pessoal e os objetos contaminados também possam ser importantes. Inicialmente, a infecção viral acomete as células do epitélio colunar ciliado, mas também pode envolver outras células do trato respiratório, inclusive células alveolares, células das glândulas mucosas e macrófagos. Nas células infectadas, os vírus se replicam dentro de 4 a 6 h e, em seguida, são liberados para infectar células adjacentes ou próximas. Desse modo, a infecção propaga-se a partir de alguns poucos focos para envolver grandes quantidades de células respiratórias depois de várias horas. Na infecção induzida experimentalmente, o período de incubação da doença variou de 18 a 72 h, dependendo do tamanho do inóculo viral. Por fim, as células sofrem necrose e descamam; em algumas áreas, o epitélio originalmente colunar é substituído por células epiteliais metaplásicas e achatadas. A gravidade da doença correlaciona-se com a quantidade de vírus disseminado nas secreções; deste modo, o próprio nível de replicação viral pode ser um fator importante à patogenia. Lembrando que o vírus possui regiões chamadas de hemaglutininas que são proteínas que vão auxiliar na entrada desse vírus a membrana do hospedeiro. E neuraminidase que são proteínas também com afinidade as células da membrana do hospedeiro, mas ao invés de auxiliar na entrada do vírus até a célula, a neuraminidase vai auxiliar na saída desse vírus da célula, para que assim ele esteja pronto para infectar a célula seguinte. Algumas evidências sugerem que a patogenia dos sintomas sistêmicos da influenza possa estar relacionada com a liberação de algumas citocinas (principalmente o fator de necrose tumoral, o interferon-gama, a interleucina-6 e a interleucina 8) nas secreções respiratórias e na corrente sanguínea. Os anticorpos secretórios produzidos no trato respiratório são predominantemente da classe IgA e também desempenham um papel importante na proteção contra a infecção. Várias respostas imunes celulares específicas ou inespecíficas para determinados antígenos podem ser detectadas pouco depois da infecção e dependem do estado imune pregresso do hospedeiro. Essas respostas incluem proliferação das células T, atividade citotóxica dos linfócitos T e atividade das células natural killer. Nos seres humanos, os linfócitos T citotóxicos (CD8+) restritos à classe I dos antígenos leucocitários humanos (LTCs) estão dirigidos para regiões preservadas das proteínas internas (NP, M e polimerases), assim como para as proteínas de superfície (H e N). Os interferonspodem ser detectados nas secreções respiratórias pouco depois do início da disseminação viral e as elevações dos seus níveis coincidem com reduções da quantidade de vírus eliminados MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 4 Em geral, a disseminação do vírus termina dentro de 2 a 5 dias depois do aparecimento dos primeiros sintomas, ocasião em que as respostas dos anticorpos séricos e locais geralmente não são detectáveis pelas técnicas convencionais (embora as elevações dos anticorpos possam ser detectadas antes por meio de técnicas altamente sensíveis, principalmente nos indivíduos que já tinham imunidade contra o vírus). Alguns estudos sugeriram que o interferon, as respostas imunes celulares e/ou as respostas inflamatórias inespecíficas contribuam para a erradicação da doença. As respostas dos LTCs podem ser particularmente importantes nesse sentido. A resposta individual do hospedeiro à agressão de seus órgãos e tecidos, relacionada à intensidade da sua resposta inflamatória, e dos mecanismos de defesa citotóxicos é responsável pela forma como o hospedeiro reage à agressão viral; em consequência, determina as manifestações e variações clínicas. Em alguns subgrupos de pacientes com formas mais graves da doença, detecta-se coinfecção com outros vírus e infecção bacteriana secundária, o que resulta em altas taxas de morbimortalidade. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Na maioria dos casos, a influenza é descrita como uma doença que se caracteriza pelo início súbito de sinais e sintomas sistêmicos como cefaleia, estado febril, calafrios, mialgia e mal- MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 5 estar e manifestações simultâneas referidas ao trato respiratório, principalmente tosse e inflamação da garganta. Em muitos casos, o início é tão repentino que os pacientes conseguem se lembrar da hora exata em que ficaram doentes. Entretanto, o espectro das apresentações clínicas é amplo e varia de uma doença respiratória afebril branda semelhante ao resfriado comum (com início súbito ou gradativo) a uma doença com prostração grave e relativamente poucos sinais e sintomas respiratórios. Na maioria dos casos que procuram atendimento médico, o paciente tem febre com temperaturas entre 38° e 41°C. A elevação rápida da temperatura nas primeiras 24 horas da doença geralmente é seguida por redução gradativa da febre ao longo de 2 a 3 dias, embora alguns pacientes possam ter febre por até 1 semana. Os pacientes referem sensação febril e frio, mas os calafrios propriamente ditos são raros. Em muitos casos, a cefaleia frontal ou generalizada é particularmente incômoda. As mialgias podem afetar qualquer parte do corpo, mas são mais comuns nas pernas e na região lombossacra. Alguns pacientes também podem ter artralgias. Os sintomas respiratórios geralmente se tornam mais proeminentes à medida que as manifestações sistêmicas regridem. Muitos pacientes têm dor de garganta ou tosse persistente, que pode estender-se por ≥ 1 semana e que geralmente é acompanhada de desconforto subesternal. Entre os sinais e sintomas oculares estão dor ao movimentar os olhos, fotofobia e ardência ocular. Existem alguns sinais de Agravamento na Criança, tais como: • Persistência ou retorno da febre. • Taquipneia com aumento do esforço respiratório (batimento de asas do nariz, tiragem intercostal, supra/subesternal, supraclavicular, subcostal, contração da musculatura acessória da respiração e movimento paradoxal do abdome). • Bradipneia e ritmo respiratório irregular (colapso respiratório iminente). • Gemidos expiratórios (colapso alveolar e de pequenas vias aéreas ocasionado pelo fechamento da glote na expiração na tentativa de aumento da capacidade residual funcional pulmonar). • Estridor inspiratório (obstrução de vais aéreas superiores). • Sibilos e aumento do tempo expiratório (obstrução de vias aéreas inferiores). • Palidez cutânea e hipoxemia (SpO2 95%). • Alteração do nível de consciência (irritabilidade ou apatia). Além disso, o H1N1 pode trazer complicações aos pacientes, como: complicações pulmonares (como pneumonia primária causada pelo vírus da influenza, pneumonia secundária devido a alguma bactéria, pneumonia viral e bacteriana mista), além de outras complicações como extrapulmonares, como síndrome de Reye e síndrome de Guillain-Barré. DIAGNOSTICO A suspeita de gripe H1N1 ocorre em pessoas com sinais e sintomas compatíveis aos de gripe comum. A partir do quadro clínico, o médico solicita um exame laboratorial para confirmar a MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 6 presença do vírus no sangue. Dependendo do tempo dos sintomas, o exame pode ser positivo ou não. Um exame negativo não necessariamente exclui o diagnóstico. A resposta do hospedeiro às infecções pelos vírus influenza depende de uma interrelação complexa entre anticorpos séricos e locais, imunidade celular, interferon e outros mecanismos de defesa. As respostas dos anticorpos séricos, que podem ser detectadas na segunda semana depois da infecção primária, são avaliadas por várias técnicas: inibição da hemaglutinação (IH), fixação de complemento (FC), neutralização, ensaio imunossorvente ligado a enzima (ELISA) e ensaio para anticorpo antineuraminidase. Os anticorpos contra a hemaglutinina parecem ser os mediadores mais importantes da imunidade; em vários estudos, títulos de IH ≥ 40 estavam associados à proteção contra a infecção. Durante a influenza aguda, os vírus podem ser detectados nos raspados faríngeos, nos lavados nasofaríngeos ou no escarro. Os vírus podem ser isolados em cultura de tecidos. Na maioria dos casos, o diagnóstico laboratorial é baseado em testes rápidos que detectam a nucleoproteína ou a neuraminidase viral por meio de técnicas enzimáticas ou imunológicas. Alguns testes rápidos conseguem diferenciar os vírus influenza A e B, mas a identificação dos diferentes subtipos de hemaglutinina requer técnicas imunológicas específicas para cada subtipo. O teste in vitro mais sensível e específico para o vírus influenza é a reação em cadeia de polimerase; este teste mostrou-se particularmente importante durante a pandemia de 2009 e 2010 do vírus influenza A/H1N1, para o qual alguns testes de detecção rápida de antígenos eram pouco sensíveis. TRATAMENTO Além dos medicamentos sintomáticos e da hidratação, está indicado o uso de antivirais fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) e zanamivir (Relenza®) são medicamentos inibidores de neuraminidase, classe de drogas planejadas contra o vírus influenza. O tratamento com o antiviral, de maneira precoce, pode reduzir a duração dos sintomas e, principalmente, a redução da ocorrência de complicações da infecção pelo vírus influenza. O oseltamivir faz melhor efeito quando tomado no início do quadro. Esta indicação se fundamenta no benefício que a terapêutica precoce proporciona, tanto na redução da duração dos sintomas quanto na ocorrência de complicações da infecção pelos vírus da influenza em pacientes com condições e fatores de risco para complicações. PREVENÇÃO Para proteger-se contra a infecção ou evitar a transmissão do vírus, o Center Deseases Control (CDC) recomenda: • Lavar frequentemente as mãos com bastante água e sabão ou desinfetá-las com produtos à base de álcool; • Jogar fora os lenços descartáveis usados para cobrir a boca e o nariz, ao tossir ou espirrar; • Evitar aglomerações e o contato com pessoas doentes; • Não levar as mãos aos olhos, boca ou nariz depois de ter tocado em objetos de uso coletivo; MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 7 • Não compartilhar copos, talheres ou objetos de uso pessoal; • Suspender, na medida do possível, as viagens para os lugares onde haja casos da doença; • Procurar assistência médica, se o doente pertence a um grupo de risco e se surgiremsintomas que possam ser confundidos com os da infecção pelo vírus H1N1 da influenza tipo A. Nos outros casos, permanecer em repouso e tomar bastante líquido para garantir a boa hidratação. VACINA O controle da influenza requer vigilância qualificada, somada às ações de imunização anuais, direcionadas especificamente aos grupos de maior vulnerabilidade e com maior risco para desenvolver complicações. A vacinação anual contra influenza é a principal medida utilizada para se prevenir a doença, porque pode ser administrada antes da exposição ao vírus e é capaz de promover imunidade durante o período de circulação sazonal do vírus influenza reduzindo o agravamento da doença. É recomendada vacinação anual contra influenza para os grupos- alvos definidos pelo Ministério da Saúde, mesmo que já tenham recebido a vacina na temporada anterior, pois se observa queda progressiva na quantidade de anticorpos protetores. Esta recomendação é válida mesmo quando a vacina indicada contém as mesmas cepas utilizadas no ano anterior. Os profissionais de saúde são mais expostos à influenza e estão incluídos nos grupos prioritários para vacinação, não apenas para sua proteção individual, mas também para evitar a transmissão dos vírus aos pacientes de alto risco. MÓD. Febre, Inflamação e Infecção (H1N1) | Larissa Gomes de Oliveira. 8 REFERÊNCIAS SAKAI, Márcia., et al. Infecção pelo vírus Influenza pandêmico (H1N1) 2009. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(4): 578-593 Boletim Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde Volume 50. Set. 2019. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/setembro/05/BE-21- influenza-04set19.pdf>
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