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ENEM – FILOSOFIA FILOSOFIA POLÍTICA – Críton, de Platão A obra de Platão tem contrastes entre os seus livros. Um desses casos é entre a Apologia de Sócrates e seu livro de menos fama chamado Críton. Se o primeiro texto parece colocar Sócrates como um desafiante das leis e dos costumes de Atenas, o segundo faz o contrário e põe Sócrates a falar sobre a necessidade de obediência às leis da pólis. É possível entender esses títulos um em consonância com o outro? Pode-se iniciar pensando na diferença dos ambientes nos quais acontecem as narrativas. A Apologia é o julgamento de Sócrates em público e Críton é a conversa do personagem com este nome na cela da prisão com Sócrates já condenado a beber cicuta. Críton informa a Sócrates que, tendo sido ele condenado injustamente, seria fácil escapar da cadeia já que os guardas haviam sido subornados para deixá-lo escapar. Mas o filósofo se recusa a tal atitude. Mesmo sendo uma injustiça a sua condenação, as leis da pólis devem ser cumpridas. A desobediência da lei simboliza a quebra da autoridade da lei. O Estado, a pólis, não pode existir sem que os seus cidadãos respeitem e cumpram as leis. Lembre-se que para os gregos antigos a pólis está em harmonia com o cosmos e a desobediência de uma única lei é a quebra desta harmonia. A sociedade desde a existência de qualquer pessoa deve também a sua existência às leis, ao sistema político que dá pra ela a garantia de existir, bem como as tradições, os costumes e a cultura. Lembre-se também do mito de fundação da pólis a partir de um ato de coragem de Prometeu que rouba uma centelha do fogo dos deuses e a leva para os homens. Esta simbologia representa a busca pela liberdade e pelo conhecimento do homem. Um caminho sem volta. Para os gregos, o homem tornou-se independente dos deuses. A tensão entre as duas obras pode ser ilusória. Na Apologia é a demonstração da necessidade de reflexão de todo indivíduo e sobretudo do filósofo. Críton demonstra que ao mesmo tempo as leis são necessárias para a vida em sociedade. Com um olhar contemporâneo, questionar as leis faz parte do espírito democrático e isso não significa que elas devem ser desrespeitadas. Veja-se que a condenação socrática, sendo injusta, foi cumprida. Mas devido à sua injustiça, seus proponentes, Ânion, Meleto e Lícon, foram depois condenados pela mesma Atenas. Se pode entender ainda como uma opção de todo cidadão em obedecer as leis que existem ou de refletir sobre elas e sobre o meio cultural e assim desafiá-las por um aparente desequilíbrio.
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