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PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Professora Isabel Vieira 01 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm A Lei n° 8.429, de 02 de junho de 1992, também conhecida como Lei de Improbidade Administrativa, dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. No atual cenário político nacional, é considerado indispensável a todo e qualquer cidadão o conhecimento de leis que tenham como objetivo preservar a Constituição e resguardar os Princípios da Administração Pública. A citada lei é uma das principais ferramentas que protege os Princípios intrínsecos e extrínsecos da Administração Pública, definindo sanções a serem aplicadas ao agente público que viole tais bases. Analisa-se, portanto, que a Lei de Improbidade Administrativa é aplicada a todo agente público, servidor ou não, que pratique atos de improbidade, estes descritos no próprio texto da lei, contra a Administração Pública. Nos termos da Lei: Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior. Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. Quando se fala em atos de improbidade administrativa, está diante não só de atos que violem os princípios da Administração Pública, mas também de todo aquele que seja ilegal, imoral, desonesto ou que atente contra qualquer norma, regulamento ou outra disposição legal ou infralegal da Administração Pública. No contexto da Lei de Improbidade Administrativa, os atos são assim classificados: - Atos que importam em enriquecimento ilícito; - Atos que causam prejuízo ao Erário; - Atos que atentam contra os Princípios da Administração Pública. 02 Segundo o art. 9° da Lei, atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito são: Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importan- do enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, manda- to, função, emprego ou atividade nas entidades menciona- das no art. 1° desta lei, e notadamente: I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decor- rente das atribuições do agente público; II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado; III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço infe- rior ao valor de mercado; IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades; V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; VI - receber vantagem econômica de qualquer nature- za, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei; 03 VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público; VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou am- parado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade; IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer nature- za; X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providên- cia ou declaração a que esteja obrigado; XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patri- monial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei. Já os atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao Erário estão definidos no art. 10 da Lei: Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das en- tidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incor- poração ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídi- ca, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei; II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídi- ca privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regu- lamentares aplicáveis à espécie; 04 IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado; V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado; VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insufici- ente ou inidônea; VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dis- pensá-lo indevidamente VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de pro- cesso seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente; IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento; X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do pat- rimônio público; XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente; XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particu- lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou ter- ceiros contratados por essas entidades. XIV – celebrarcontrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei; XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem obser- var as formalidades previstas na lei. 05 XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos trans- feridos pela administração pública a entidades privadas me- diante celebração de parcerias, sem a observância das for- malidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públi- cos transferidos pela administração pública a entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observân- cia das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; XIX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas; XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela admin- istração pública com entidades privadas sem a estrita ob- servância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular. XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela ad- ministração pública com entidades privadas sem a estrita ob- servância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular. No art. 11 estão descritos os atos que atentam contra os Princípios da Administração Pública: Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honesti- dade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regula- mento ou diverso daquele previsto, na regra de competên- cia; II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo; 06 VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis- calização e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas. IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de aces- sibilidade previstos na legislação. Embora a Lei defina, nos artigos acima descritos, atos específicos para a configuração de improbidade administrativa, há de se falar que tal lista é exemplificativa, e não taxativa. Isto é, demais atos de agentes públicos que violem os princípios da Administração Pública, leis, normas, regras infralegais e até mesmo a moral e bons costumes, poderão ser considerados, pela autoridade competente, como ato de improbidade administrativa, mesmo que não expresso na Lei como tal. Isso ocorre justamente para resguardar o interesse público, pois o agente causador de dano à Administração Pública pode utilizar-se de subterfúgios para esconder o ato de improbidade, deixando transparecer uma atitude aparentemente legal, o que, se o rol fosse taxativo, poderia passar sem punição. Em regra, as sanções definidas na lei para o agente que praticar qualquer ato de improbidade administrativa são sanções administrativas, civis ou políticas, no entanto, determinado ato, pode ou não configurar também crime, definido pelo Código Penal e leis esparsas, e até pela própria Lei 8429 (arts. 19 a 22), sendo punível não só penalmente, mas também com as demais sanções a ele aplicável. Importante mencionar, ainda, que o ato de improbidade administrativa pode ser punido em diferentes esferas, ou seja, ele pode ser punido administrativa, civil ou politicamente pela Lei 8.429, bem como criminalmente pelo Código Penal, leis esparsas e também pela citada lei e, ainda, ser punido administrativamente pelo próprio órgão ou entidade da Administração Pública que sofrera o atentado. 07 Por exemplo, se um membro de um órgão do Poder Executivo praticar ato que caracterize improbidade administrativa, sofrerá sanções tanto pela própria aplicação da Lei de Improbidade Administrativa, quanto sanções “internas” do órgão, o qual será responsável por um processo administrativo e deverá aplicar as punições conforme o regimento ou normas internas da instituição. As sanções administrativas são: perda da função pública; proibição de contratar com o Poder Público e proibição de receber benefícios fiscais ou creditícios. Já a sanção civil configura na perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento ao Erário e multa civil. Já a punição política para atos de improbidade administrativa é a suspensão dos direitos políticos. Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; 08 III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou rece- ber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente. Os supostos atos de improbidade poderão ser apresentados, POR QUALQUER PESSOA, à autoridade administrativa competente, para que esta investigue e apure o cometimento ou não de tal infração. A representação deverá ser escrita ou reduzida a termo e assinada, con- tendo informações específicas sobre a qualificação do representante, as informações sobre o fato a ser investigado, bem como sua autoria, e a indicação, ao menos sutis, das provas existentes. Se houver acolhimento da representação pela autoridade adminis- trativa competente, esta apurará os fatos e dará conhecimento ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas. Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Públicoou à procura- doria do órgão para que requeira ao juízo competente a de- cretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimô- nio público. Em suma, após o término do procedimento administrativo, deverá ser proposta uma Ação Judicial de Improbidade Administrativa, a qual seguirá o rito ordinário, proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada. IMPORTANTE: Na ação judicial é expressamente vedada a tran- sação, acordo ou conciliação, ou seja, nas ações de processamento e julgamento de atos de improbidade administrativa é proibido qualquer tipo de acordo com o réu para finalizar o processo, sem analisar o mérito. 09 A inicial desta ação deverá ser instruída com todos os documentos e justificativas que comprovem indícios suficientes da existência do ato de improbidade, podendo, ainda, conter razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas (art. 17, §6°). Após a propositura da ação, estando a inicial na forma legalmente definida, o juiz autuará a ação e notificará o requerido, a fim de que este apresente sua manifestação, por escrito, podendo juntar docu- mentos e justificações. O prazo de manifestação do Requerido é de 15 (quinze) dias. Diferentemente do que ocorre em um processo judicial comum, após a análise dessa manifestação do Requerido (que deverá ocorrer em até 30 dias), o juiz decidirá se aceita ou rejeita a ação, para só então citar o, agora Réu, para, querendo, apresentar Contestação. Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. As ações que tenham por objetivo a aplicação de sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa prescrevem em cinco anos, a contar do término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança. Nos casos de cargo efetivo ou emprego, o prazo prescricional estará previsto em lei específica, que determina faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público. OBS: As ações civis que tenham por objetivo o ressarcimento ao Erário Público são IMPRESCRITÍVEIS, conforme dispõe art. 37, §5° da Constituição Federal). 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Di Pietro, M. S. Z. Direito Administrativo. 20ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007. Gajardoni, F. F. Cruz, L. P. F. et al. Comentários à lei de improbidade admin- istrativa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. Meirelles, H. L. Direito administrativo brasileiro. 35 ed. São Paulo: Mal- heiros, 2009. Pazzaglini Filho, M. Lei de improbidade administrativa comentada. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2005.
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