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CARACTERISTICAS GERAIS DA CLASSE PTEROBRANCHIA Maria Juciliara Francelino Brito 1 ¹ Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciência Biológicas e da Saúde, Departamento de Biologia, 58429-500, Campina Grande–PB, Brasil. Resumo: Os pterobrânquios são invertebrados marinhos coloniais pertencentes à classe Pterobranchia do filo Hemichodata. Por alguns anos os hemicordados foram considerados animais pertencentes ao filo Chordata, por acreditarem na presença da notocorda. Mas, conforme estudos foram sendo feitos, identificou-se que não se tratava de uma notocorda, mas sim de um tubo chamado estomocorda. O habitat mais comum dos pterobrânquios são águas profundas, mas eventualmente podem ser vistos em águas rasas. São amplamente distribuídos nos mares ao redor da Antártida, mares temperados e tropicais rasos, costa da Flórida e das Bermudas. Seus zooides de são pequenos, medindo cerca de 5mm de comprimento de corpo, a maioria das espécies mede menos de 1mm. Por outro lado, formam colônias grandes em que cada um está ligado ao outro por hastes, sendo animais sésseis. As colônias habitam uma rede de tubos cuticulares chamada de cenécio, que é secretada por glândulas orais do próprio zooide. Atualmente são conhecidas 22 espécies de Pterobranchia, que se encontram distribuídas em três gêneros: Cephalodiscus, Atubaria e Rhabdopleura. Com exceção do gênero Atubaria, a maioria habita tubos fixados ao substrato. Mesmo não possuindo tubo, os zooides de Atubaria assemelham-se aos zooides de Cephalodiscus, que fazem e habitam seus tubos com frequência, sendo conhecidos como zooides tubícolas. São comumente confundidos com hidróides e briozoários, devido à semelhança, e também com seus parentes maiores, os enteropneustos. Entretanto, os pterobrânquios possuem estruturas próprias que os distinguem de hidróides, briozoários e enteropneustos, dentre outros. O presente trabalho aborda amplamente aspectos de Pterobranquichia, com enfoque em características e estruturas que os diferenciam de outros invertebrados marinhos. Palavras-chave: Hemichodata, estomocorda, invertebrados marinhos, animais coloniais, zooides tubícolas. ESTRUTURA E FUNÇÃO DO ZOÓIDE Cada zooide é dividido em três partes, escudo oral anterior (protossomo), colarinho curto (mesossomo) e tronco saculiforme (metassomo) (Figura 1). O escudo oral largo é uma sola rastejante glandular discoide com a qual o zooide desliza sobre a superfície interna de seu tubo. A curta região do colarinho possui dois ou mais braços dorsalmente, cada um deles arranjado de forma pinada (RUPPERT, et al, 2005). Um par de dobras ciliadas do colarinho, as lamelas orais, está na base dos braços e uma lamela de cada lado da boca (Figura 2). Um par de poros ciliados grandes e providos de valvas, os poros mesócelicos, que um de cada lado dos celomas pareados do colarinho, abre-se lateralmente na divisão entre o colarinho e o tronco (Figura 2). Os poros branquiais superficiais correspondem a um par de fendas branquiais circulares na parede da faringe, mas pterobrânquios não tem átrio entre a fenda e os poros (Figura 2). Ventralmente, o tronco possui um pedúnculo muscular carnoso conspícuo que rapidamente retrai os zooides para dentro de seus tubos e une os zooides formando uma colônia (Figura 2) (RUPPERT, et al, 2005). Figura 1: Divisão do zooide em protossomo, mesossomo, metassomo. Fonte: RUPPERT, et al, 2005, p. 1005. Figura 2: Ilustração das estruturas como o pedúnculo, lamela oral, e os poros mesocélico e branquial. Fonte: RUPPERT, et al, 2005, p. 1011. ESTRUTURA DA COLÔNIA E LOCOMOÇÃO As células glandulares dos escudos orais presentes nos zooides secretam uma rede de tubos cuticulares, chamados de cenécio, sendo o local onde as colônias habitam. Na ordem Rhabdopleura, o cenécio se organiza em uma rede de tubos deitados sobre o substrato, dando origem a tubos verticais não ramificados, no qual cada um possui uma abertura circular simples, sendo ocupado por um único zooide (Fig. 3, A e B). Os zooides são separados uns dos outros por anteparos ceneciais chamados de septos de tubo, transpostos unicamente por um estolão filiforme de tecido vivo que percorre os tubos deitados e liga os zooides entre si (Fig, 3, B). Novos zooides brotam do estolão. (RUPPERT, et al, 2005). Os cenécios variam de acordo com a ordem. Em espécies de Cephalodiscus o cenécio é ocupado por muitas colônias de zooides desconectados, assim, um cenécio corresponde a uma agregação de colônias. Em Rhabdopleura o cenécio é uma massa volumosa e discoide que pode alcançar 30cm de diâmetro e 10cm de altura, os bordos da abertura dos tubos podem ser circulares ou lisos (Fig. 3, D). Algumas espécies de Rhabdopleura possuem um ou mais espinhos longos no bordo que auxiliam na alimentação. Os zooides de todas as ordens são conectados pelo pedúnculo a um disco adesivo que os ancora ao interior do tubo (Fig. 3, C). Individualmente os zooides movem-se para suas aberturas de alimentação e dentro do cenécio, através de deslizamento sobre a superfície ventral ciliada do escudo oral. Ao se deslocarem, podem permanecer atados ao estolão (Rhabdopleura), ou ao disco adesivo (Cephalodiscus) por seus pedúnculos contrácteis. Em Cephalodiscus o disco adesivo de cada colônia é móvel, como um escudo oral de zooide e desliza na superfície carregando seus zooides a reboque. Em algumas situações o disco adesivo e os zooides abandonam o cenécio, movem-se lentamente sobre o substrato e secretam outro cenécio. Figura 3: (A) Rhabdopleura, o cenécio se organiza em uma rede de tubos deitados sobre o substrato. (B) Septos de tubo que separam os zooides, e estolão por onde brotam os zooides. (C) Estrutura do pedúnculo. (D) Cenécio em Rhabdopleura. Fonte: RUPPERT, et al, 2005, p. 1010. PAREDE DO CORPO E ESTRUTURA INTERNA A parede do corpo em pterobrânquios é semelhante à de enteropneustos, mas em pterobrânquios as células são monociliadas. A musculatura consiste unicamente em fibras longitudinais e radiais; não há músculos circulares da parede do corpo. Os músculos radiais são comuns no escudo oral, colarinho e braços. Os músculos longitudinais principais são um par retratores lisos do pedúnculo, que puxam o zooide para dentro do cenécio, músculos tentaculares transversalmente estriados, que flexionam rapidamente os tentáculos em direção ao sulco alimentar do branco e músculos dilatadores transversalmente estriados dos dutos mesocélicos, que abrem as valvas do duto (RUPPERT, et al, 2005). As células que revestem o celoma, inclusive as epiteliomusculares, são mociliadas e auxiliam a circulação do líquido celômico. Algumas células podem armazenar nutrientes, como as mesoteliais da parede do trato digestivo armazenam nutrientes. Coração-rim encontra-se na protocele impar e se abre para o exterior por meio de dois poros protocélicos, um de cada lado da linha dorsal, e é sustentado por uma estomocorda. A anatomia do sistema hemal é um pouco desconhecida, porém os vasos principais incluem o coração, vaso sanguíneo dorsal, dilatação do vaso dorsal no tronco originando um seio sanguíneo genital ao redor da gônada e vaso ventral (Figura 4). Provavelmente, a troca gasosa ocorre através dos braços, tentáculos e superfície geral do corpo. O sistema nervoso é intra-epidérmico, e há um gânglio do colarinho dorsalmente no mesossomo (Fig. 4) . Há um nervo dorsal que se estende anterior e posteriormente a partir do gânglio do colarinho. Os nervos tentaculares possivelmente são motores e sensoriais, sendo inervados pelo nervo anterior, assim como o braço. Além disso, há células sensoriais espalhadas pela superfície dos tentáculos. A inervação dos músculos ocorre por meio da difusão de neurotransmissores. A partir do gânglio do colarinho surge um anel ou anéis nervosos que seestendem até o pedúnculo. SISTEMA DIGESTIVO E NUTRIÇÃO Para sua alimentação os pterobrânquios utilizam os braços e tentáculos como sistema de coleta, captando partículas em suspensão. Ao serem coletadas, as partículas são transportadas para baixo com auxílio dos cílios frontais, percorrendo os braços em direção à boca. Antes de chegarem a boca passam pelas lamelas orais, que removem o excesso de água e direcionam o alimento para a boca. Durante a alimentação cada zooide desloca-se ao redor do bordo do tubo, expondo seu aparelho filtrador. Os pterobrânquios têm um trato digestivo em forma de U (Fig. 4). A boca e está localizada ventralmente sob a margem posterior do escudo oral e o ânus é mediano- dorsal no tronco, imediatamente atrás do colarinho. Cílios transportam o alimento pelo trato digestivo. O alimento passa da faringe para um estomago sacular, situado porterio e ventralmente no tronco. Partindo da extremidade posterior do estômago, o intestino delgado curva-se para o dorso e se estende para frente, em direção ao intestino posterior curto, que se liga ao ânus. A digestão provavelmente ocorra no estomago e pelotas fecais são formadas no intestino. Absorção pode se dar no estomago e em partes do intestino (RUPPERT, et al, 2005). Figura 4: Estruturas do trato hemal (pericárdio e vaso sanguíneo dorsal), nervoso (gânglio do colarinho) e digestivo (em forma de U). Fonte: RUPPERT, et al, 2005, p. 1005. REPRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO Os zooides de pterobrânquios originam-se assexuadamente por brotamento do estolão (Rhabdopleura) ou do disco adesivo (Cephalodiscus) durante o crescimento da colônia. Além disso, um disco adesivo de Cephalodiscus é capaz de fragmentação ou fissão para formar colônias novas (RUPPERT, et al, 2005). Colônias de pterobrânquios são hermafroditas, mas os zooides que as compõem geralmente são masculinos, femininos ou neutros. Os zooides férteis, que têm uma (Rhabdopleura) ou duas (Cephalodiscus) gônadas, com frequência são sexualmente dimorficos. O conhecimento a respeito da fecundação é raso, mas talvez os machos maduros liberem esperma ou espermatóforo na água e as fêmeas depositam os ovos no cenécio. Os estágios de desenvolvimento são incubados em uma parte modificada do cenécio. Os embriões desenvolvem em larvas lecitotróficas que são liberadas do cenécio para o mar, e após um a dois dias cada larva assenta-se se encapsula em um casulo fixado ao substrato, através de uma metamorfose gradual à formação de zooides. REFERÊNCIAS RUPPERT, E.E.; FOX, R.S., BARNES R.D. 2005. Zoologia dos Invertebrados. 7 ª. Ed. Editora Roca, São Paulo. BRUSCA, R.C. & G.J. BRUSCA, 2007. Invertebrados. 4ª. Ed. Editora Guanabara- Koogan, Rio de Janeiro.
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