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1
O CONCEITO DE PULSÃO NA TEORIA FREUDIANA 
 
 
 
Ciro Silva Pestana1 
RESUMO: 
 
O presente artigo propõe analisar as primeiras formulações freudianas sobre o conceito 
de pulsão. Busca, através dessa análise, demonstrar a dimensão biológica apontada por 
Michel Foucault, contida na construção desse conceito. 
 
 
Palavras-chave: 
Pulsão, Freud, Foucault, Psicanálise, Biologia. 
 
 Em seu artigo A Psicologia, de 1850 a 1950, Michel Foucault nos revela que a 
psicologia do século XIX tem uma grande preocupação de alinhar-se às ciências da 
natureza e encontrar no homem o prolongamento das leis que regem os fenômenos 
naturais. Dessa forma, a mesma se utiliza de relações quantitativas e elabora leis, em 
forma de função matemática, na tentativa de se tornar um conhecimento positivo. 
 A psicologia passa a considerar os fenômenos naturais influenciando e 
provocando os comportamentos humanos. Ao perseguir este rigor metodológico, ela 
cria uma contradição entre a psicologia científica, que procura seguir os postulados das 
ciências naturais, estabelecendo relações objetivas e quantitativas entre os fenômenos, e 
o homem tomado dentro da perspectiva das ciências humanas, ou seja, um homem filho 
da cultura, do meio social. 
Ao perseguir tal rigor científico, Foucault nos revela que a psicologia foi levada 
“a abandonar seus postulados, tornando-se vazio de sentido quando esses mesmos 
postulados desapareceram: a idéia de uma precisão objetiva e quase matemática no 
domínio das ciências humanas não é mais conveniente se o próprio homem não é mais 
da ordem da natureza”2. 
A partir da leitura foucaultiana, nos perguntamos como a psicologia é capaz de 
lidar com o humano, através dos métodos pertencentes a ciências naturais, se o próprio 
homem não é mais da ordem da natureza, pois está inserido em uma cultura específica. 
Assim, a psicologia, a partir de 1850, tenta redescobrir seus paradigmas, buscando uma 
inserção no bojo das ciências humanas. Essa renovação é exigida em sua prática 
 
1 Graduando do curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa. Monografia resultante de pesquisa em 
Iniciação Científica, ano 2005, sob a orientação do professor doutor José Menezes. 
2FOUCAULT, M. Ditos e Escritos: problematização do sujeito, Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. 2a 
edição, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2002, p. 134. 
 2
também. Semelhante à ciência da natureza, a psicologia tem uma forte ligação com a 
sua atividade prática. Cria teorias para resolver as questões que a dificuldade prática lhe 
impõe, como por exemplo, a Psicologia do Desenvolvimento que surgiu da reflexão 
sobre a interrupção do próprio desenvolvimento, a Psicologia da Adaptação, como 
análise dos fenômenos de inadaptação, Psicologia do Sentimento, surge das 
perturbações afetivas. Essas características de apenas responder aos problemas práticos 
estão diretamente ligadas às ciências naturais, que respondem às necessidades 
pragmáticas. Segundo Foucault, a construção teórica da psicologia enquanto ciência 
natural, só responde aos problemas colocados pela atividade prática, seus fracassos 
temporários e as limitações do seu exercício. 
Assim, passa a ter como problema: “saber em que medida ela consegue 
efetivamente dominar as contradições que fizeram nascer, através deste abandono da 
objetividade naturalista”3. A psicologia passa a ter que dominar as contradições 
geradas por seu movimento, que buscou enquadrar-se nas ciências humanas. Apesar de 
ter feito este movimento, ainda encontra em sua base teórica muitos resquícios do 
naturalismo, de uma ciência positivista. 
 
Fazendo uma análise histórica, o autor nos revela quais foram as condições 
históricas que fizeram a psicologia se firmar no seio das ciências naturais e quais foram 
os modelos que influenciaram na descoberta de um novo modo de investigação. No 
decorrer dessa análise, Foucault mostra que o modelo evolucionista teve grande 
importância no desenvolvimento da psicologia. Darwin apresentou alguns paradigmas 
que conduziram à produção científica do século XIX. Neste modelo, o psiquismo é 
estruturado evolutivamente. O evolucionismo mostra à psicologia que o comportamento 
humano está ligado ao passado e presente, ou seja, a patologia é composta por fatores 
do passado e do presente, mostrando que a vida psíquica tem orientação. Contudo, 
mesmo com grande influência desse modelo, para se desligar do preconceito de 
natureza é preciso “mostrar que essa orientação não era apenas força que se desenvolve, 
mas significação que nasce”4. 
 
3 Ibid., p. 135. 
4 Ibid., p. 138. 
 3
A descoberta do sentido faz a psicologia “deixar de lado as hipóteses amplas e 
gerais pelos quais se explica o homem como um setor determinado do mundo natural e 
retoma um exame mais rigoroso da realidade humana”5. 
Essa novidade faz com que a psicologia volte seu interrese para a vida do 
indivíduo, para sua história. Nessa perspectiva, os comportamentos não são gerados 
com fenômenos naturais, a partir de leis gerais, mas sim a partir da história de vida do 
sujeito e das suas condições sócio-históricas. 
O homem é considerado na conduta pela qual se exprime na consciência em que 
se reconhece, na história pessoal através da qual se constitui. A psicanálise é uma das 
formas que renova a investigação psicológica, dando ênfase ao estudo das significações 
na vida do indivíduo. Foucault faz referência a este aspecto de forma clara em seu texto 
 
“Mas nenhuma forma de psicologia deu mais importância a significações 
do que a psicanálise”. A psicanálise ainda permanece, no pensamento de 
Freud, ligada às suas origens naturalistas e aos preconceitos metafísicos 
ou morais, que não deixam de marcá-la. Sem dúvida, há na teoria dos 
instintos (instintos de vida ou expansão, instinto de morte ou de repetição) 
um eco biológico do ser humano6. 
 
 Como se percebe na citação, Foucault, apesar de reconhecer a importância 
freudiana no estudo das significações, acusa Freud de estar impregnado de preconceitos 
metafísicos e diretamente ligada a origens naturalistas. Podemos então destacar três 
aspectos: 1) a importância da psicanálise no estudo das significações; 2) as origens 
naturalistas da psicanálise e os preconceitos metafísicos; 3) o eco biológico contido na 
teoria dos instintos. 
A importância psicanalítica ao estudo das significações se deve à ênfase dada 
por Freud, a história de vida do sujeito. Desta forma, a análise se dava não só por 
elementos naturais, mas também através do ambiente cultural. O conteúdo dessas 
significações advém da história do sujeito, das suas experiências vividas. Na psicanálise 
ocorre, portanto, uma valoração do sentido, que segundo Foucault está impregnado por 
ecos biológicos. Apesar de reconhecer a importância da psicanálise no estudo das 
 
5 Ibid., p. 139. 
6 Ibid., p. 141. 
 4
significações, Foucault dirige duras críticas ao conhecimento naturalista que permeia a 
teoria psicanalítica. 
Para entender quais são as origens naturalistas e os preconceitos metafísicos a 
que Foucault se refere, é necessário compreender o conceito de ciência freudiano, e 
entender quais eram os pressupostos sobre os quais ele construía seus conceitos. É 
preciso aqui revelar que a formação de Freud ocorre, num tempo marcado em alguma 
medida, pelo positivismo e avesso às questões metafísicas. Freud, em sua tese 
cientificista, buscava retirar toda e qualquer influência da metafísica. Segundo 
Monzani7, a psicanálise freudiana tem a pretensão de ser um discurso científico, e como 
ciência, não se enquadraria segundo os requisitos que são exigidos de textos filosóficos. 
Na concepção de Freud, a psicanálise não necessita da filosofia, pois não é um saber 
totalizante, característica fundamental desse campo de conhecimento. Então, apsicanálise se fundara na sua prática, e no saber que ela revela, sendo classificada, 
segundo esses pressupostos, dentro das ciências naturais. 
Todavia, a partir dessa posição se estabelece um impasse. Se por um lado a 
psicanálise enquanto saber reivindica o seu estatuto de ciências naturais, ou seja, sujeita 
a metodologia rigorosa, e domínio de fenômenos físicos e/ou naturais, por outro se trata 
de um saber voltado única e exclusivamente para um tipo de fenômeno psíquico-
inconsciente. Não obstante, Freud rejeita a distinção entre ciências humanas e ciências 
naturais. Segundo Japiassu, ele se apóia na teoria naturalista de Enerst Haeckel, que 
considera “toda ciência humana como um único edifício do conhecimento, rejeitando a 
distinção habitual entre ciências da natureza e a ciência do espírito”8. Esta posição gera 
uma disputa metodológica entre o modelo explicativo (ciências naturais) e o modelo 
interpretativo (ciências humanas). Assim, a psicanálise se considera dentro das ciências 
naturais, mas que também possui um lugar na dimensão interpretativa. 
 
A partir da reflexão das problematizações propostas por Foucault, podemos fazer 
algumas indagações. Em que ponto na teoria dos instintos psicanalítica encontra-se seu 
aspecto naturalista? Existe um eco biológico na teoria dos instintos? Em quais pontos 
dessa teoria podemos encontrar a influência das ciências da natureza? Para demonstrar a 
 
7 MONZANI, L. R. Freud, o movimento de um pensamento. 2a edição; Editora da Unicamp, Campinas 
1989. p. 22. 
8JAPIASSU, H. Psicanálise: ciência ou contra-ciência? Editora Imago, 1989, p. 101. 
 5
crítica de Foucault à psicanálise, entender a construção do conceito de pulsão (teoria dos 
instintos) é fundamental. 
Antes de compreender a formulação do conceito, faz-se necessário entender o 
sentido do termo Trieb e suas possíveis traduções. Ao tratar da palavra Trieb, os 
tradutores ficam divididos em dois grupos. Segundo Hanns9, o primeiro traduz o termo 
por “instinto” (baseado na tradução inglesa) e o segundo grupo por “pulsão” (baseado 
na tradução francesa). Sendo assim, precisamos estar atentos quando falamos de Trieb, 
pois existe uma confusão feita entre os termos pulsão e instinto. Esta confusão teve 
início na tradução do texto psicanalítico para o inglês. James Strachey, ao elaborar a 
Standard Edition, usa o termo instinct para traduzir Trieb (pulsão). A diferença entre 
instinto e pulsão é que o primeiro se refere a um comportamento hereditariamente 
fixado e possui um objeto específico. Refere-se a uma força biológica motivadora que 
leva os membros da espécie a agir visando sempre a mesma finalidade, já o segundo 
termo não implica em um comportamento pré-formado, nem objeto específico. 
Hanns afirma que, ao formular o conceito de pulsão, Freud pretendia realizar três 
tarefas principais: 1)formular um modelo de funcionamento psíquico; 2)estabelecer bases 
fisiológicas do psiquismo; 3) situar os fatores biológicos de nosso comportamento. Dentro 
desse contexto, Freud procurava estabelecer uma correspondência entre o mundo psíquico 
e a fisiologia pulsional. Neste ponto, fica evidente a intenção do mesmo de estabelecer a 
psicanálise como ciência natural. Ele busca uma correlação dos processos psíquicos, com 
estados que possam ser determinados quantitativamente. Apesar das dificuldades 
metodológicas que Freud encontra na construção da sua teoria, ele mantém um modelo 
energético-econômico, no qual permanece esta relação estabelecida entre o sistema 
nervoso e a percepção psíquica. 
A teoria dos pulsional pode ser dividida em dois momentos distintos. Num 
primeiro momento, Freud estabelece o conflito entre as pulsões sexuais e pulsões de 
auto-conservação. Em um segundo momento, o conflito passa a ser entre pulsões de 
vida e pulsões de morte. 
Faz-se necessário compreender as primeiras formulações freudianas acerca do 
conceito de pulsão, especificamente nos Três Ensaios sobre a Sexualidade (1905) e 
alguns de seus textos contemporâneos. Dentro dessa análise, a demonstração da crítica 
foucaultiana dirigida à psicanálise se tornará mais clara. 
 
9 HANNS, L. A. A Teoria pulsional na clínica de Freud. Editora Imago; Rio de Janeiro, 1999. 
 6
Um conceito como o de pulsão não nasce pronto, com seus contornos bem 
definidos, livre de ambigüidade ou perfeitamente ligado a outros conceitos. Através de 
um trabalho epistemológico, desvendar seus avanços e recuos para poder entender a 
gênese da sua formulação é imprescindível. É fundamental estudar as bases da 
psicanálise para poder entender como ela se estrutura. 
Tal conceito é lançado nos Três Ensaios da Sexualidade (1905), e retomado por 
Freud nos escritos da chamada Metapsicologia. Nesses artigos da metapsicologia, Freud 
esclarece as bases teóricas da Psicanálise. A metapsicologia pretende, portanto, 
apresentar uma descrição minuciosa de qualquer processo psíquico quando enfocado 
sob os pontos de vista de sua localização das instâncias, da distribuição dos 
investimentos e dos conflitos pulsionais de forças. Esta é uma tentativa de Freud de 
sistematizar os conceitos apresentados por ele em outro momento da sua teoria. 
Alguns autores acreditam que a pulsão é um conceito não retirado das 
observações empíricas, ou seja, é um termo elaborado no campo teórico. Na perspectiva 
de Garcia-Roza, a pulsão não nos permite uma descrição do real, mas sim a sua 
produção. Esta pulsão nunca ocorre em si mesmo. Tomamos conhecimento dela apenas 
por seus representantes: idéia e afeto. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de 
energia pulsional e de suas variações, este não está necessariamente ligado a uma 
representação (idéia), que por sua vez significa a formação do conteúdo concreto de um 
ato de pensamento. A representação seria aquilo que se inscreve no “sistema mnésico”. 
O sintoma freudiano se forma a partir de uma descarga não adequada do afeto. 
Em A pulsão e suas vicissitudes (1915), Freud formula sobre a passagem do 
psíquico para o somático. Ele define a pulsão como um conceito “situado na fronteira 
entre o mental e o somático”10 ou ainda, como “o representante psíquico dos estímulos 
que se originam dentro do organismo e alcançam a mente”11. Neste momento, acontece 
um conflito acerca do conceito de pulsão. 
Em primeira instância, Freud identifica pulsão ao seu representante psíquico, por 
exemplo, no texto A pulsão e suas vicissitudes, no qual o autor nos diz: “uma pulsão nos 
aparecera como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, 
como representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e 
 
10 FREUD, S. A pulsão e suas vicissitudes (1915) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas 
Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. vol. XIV 1996 p. 
11 Ibid., p 
 7
alcançam a mente”.12 Desta maneira, Freud identifica pulsão ao representante psíquico 
dos estímulos corporais. 
Em uma segunda instância, Freud nos diz que a pulsão é composta por seus 
representantes: afeto e idéia. No seu artigo O inconsciente, o autor nos revela que “uma 
pulsão nunca pode tornar-se objeto da consciência – só a idéia que a representa”13. Ele 
chega a dizer que mesmo no inconsciente a pulsão só pode ser representada por uma 
idéia. Freud utilizava a palavra pulsão na acepção de uma espécie de organizador 
biológico, em torno do qual os estímulos endógenos circulam. Estes estímulos, ao 
chegarem à psique, se transformam em imagens-representações carregadas de afeto, as 
quais são os representantes pulsionais, e que se fixarão na memória. Junto a estímulos 
exógenos formarão os complexos de idéias que compõem o psiquismo. Podemos dizer 
que a natureza da pulsão é tanto psíquica, pois só podemos conhecê-la através de seus 
representantes,quanto física, já que sua fonte é o corpo. 
Segundo Garcia-Roza, em 1905 na elaboração da teoria pulsional, Freud 
descreve a estreita relação existente entre a pulsão sexual e certas funções corporais. 
Introduzindo um termo fundamental para a compreensão do conceito de pulsão, o termo 
que aqui nos referimos é o ‘apóio’. Quando nos fala da noção de apóio, Freud é muito 
direto. Ele está se referindo ao apóio da pulsão sobre o instinto. As pulsões sexuais, que 
só secundariamente se tornam independentes, apóiam-se nas funções vitais que lhes 
fornecem uma fonte orgânica, uma direção e um objeto. 
“O que caracteriza a noção de apoio é o fato das pulsões sexuais estarem 
ligadas, em sua origem, às pulsões de auto-conservação”14 . Por exemplo, ao mamar o 
bebê tem a satisfação de ingerir o alimento, porém a excitação dos lábios e da língua 
provoca um outro tipo de satisfação. Essa segunda satisfação é de natureza sexual. A 
função corporal fornece a sua fonte ou zona erógena; indica-lhe imediatamente um 
objeto, que é o seio, causando um prazer que não é redutível à pura e simples satisfação 
da fome. Desta forma, a necessidade de satisfação sexual irá se separar da necessidade 
de nutrir-se. Esta noção de apóio nos leva a pensar a fonte da pulsão como um fator 
biológico. A pulsão é um desvio do instinto, um desvio de uma função biológica do 
organismo. 
 
12 Ibid., p. 
13 FREUD, S. O inconsciente (1915). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de 
Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. vol. XIV 1996 p. 
14 GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia Freudiana, vol. 3, 5a edição, Jorge Zahar, Rio de 
Janeiro 2000 p. 120. 
 8
Ao montar o conceito de pulsão, Freud utiliza quatro termos: alvo, objeto, 
pressão e fonte. 
“Por pressão (Drang) entende-se seu fator motor, a soma de força ou medida de 
trabalho que ela representa”15, então esta pressão pode ser entendida como uma 
quantidade de descarga que tende à excitação. Este é um termo universal, porém, 
sozinho não define a pulsão. O próprio Freud faz distinção entre as excitações internas, 
a primeira seria a pressão de necessidade, como fome e sede, por exemplo, já a segunda 
seria a pressão da pulsão. Enquanto a primeira possuía uma força momentânea, a 
segunda é constante. Este fator nos revela um aspecto muito importante da pressão. Não 
se trata apenas de um fator motor (no sentido de provocar movimento), mas sim de um 
processo de transformação complexo. Sua função é de transformar a energia acumulada, 
transformação esta que implica uma codificação, ou seja, a uma exigência feita ao 
aparato anímico. Existe um fator motor, pois o objetivo da descarga é o alívio da tensão 
e esta tende a caminhos motores. Mas, o que esta sendo levado em conta não é o 
organismo e sua finalidade adaptativa, e sim o aparelho psíquico, cuja regulação ocorre 
através do princípio do prazer e pelo princípio da realidade, através de representação. 
Assim, pressão pulsional será definida no âmbito do aparato psíquico. 
“O alvo da pulsão é, em todos os casos, a satisfação que só pode ser alcançada 
cancelando-se o estado de estimulação da fonte da pulsão”16. Este alvo é invariável. 
Apenas o que pode mudar é o percurso até ele. Neste ponto, surge uma pergunta: se a 
força é constante, como cancelar a estimulação? Quando a satisfação é alcançada? Então, 
o alvo da pulsão nunca é alcançado pela própria natureza da pulsão, e a satisfação passa a 
ser sempre parcial. Visto isso, o recalque, a sublimação, o sintoma, o sonho e outros 
destinos da pulsão provocam também satisfação. Frente a esta impossibilidade da pulsão, 
estamos sempre procurando um objeto que possa satisfazer a pulsão. 
“O objeto de um instinto é a coisa em relação à qual ou através da qual o instinto 
pode atingir sua finalidade.” 17 A pulsão necessita de um objeto para que possa obter 
satisfação, mesmo que parcial. Este objeto não é específico e nem qualquer um, mas sim 
um objeto que possui a capacidade de satisfazer a pulsão. Esta aptidão está ligada à 
história do sujeito, às suas fantasias e seus desejos. O conceito de objeto, elaborado por 
Freud, não se trata de algo do mundo que nos é oferecido à percepção, mas sim 
 
15 FREUD, S. A pulsão e suas vicissitudes (1915). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas 
Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. vol. XIV 1996, p. 127. 
16 Ibid., p. 128. 
17 Ibid., p. 128. 
 9
representações-objeto que são formadas a partir da associação entre imagens sensoriais 
e palavras. Assim pode-se dizer que o objeto, concebido por Freud, é o efeito da 
incidência da palavra sobre as sensações provenientes dos estímulos externos. 
A fonte da pulsão é corporal e não psíquica. Então, podemos dizer que a pulsão 
tem sua origem no corpo. “É um processo somático que ocorre num órgão ou parte do 
corpo e cuja excitação é representada na vida mental pela pulsão”18. Neste mesmo 
artigo, Freud nos diz que devemos considerar a pulsão como um estímulo para o 
psíquico. Este ponto nos remete à discussão feita acerca da diferença entre a pulsão e o 
representante ideativo, por meio do qual tomamos conhecimento da pulsão. Podemos 
distinguir, então, claramente a pulsão e os seus representantes psíquicos. 
No artigo, A pulsão e suas vicissitudes, Freud declara que a origem da pulsão 
advém sempre de uma fonte somática. Neste mesmo artigo, ele chega a nos dizer que o 
estudo da fonte das pulsões está fora do campo da psicologia: 
“o estudo das fontes dos instintos está fora do âmbito da psicologia.”19 
Podemos, a partir desse ponto, retomar alguns dos questionamentos feitos no 
início do texto. Em que ponto na teoria dos instintos psicanalítica encontra-se seu 
aspecto naturalista? Existe um eco biológico na teoria dos instintos? Em quais pontos 
dessa teoria podemos encontrar a influência das ciências da natureza? 
Percebemos que na construção teórica do conceito de pulsão ocorreram várias 
modificações. Ao criar um conceito situado entre o corpo e o psiquismo, Freud busca 
estabelecer as bases fisiológicas do comportamento. Ao definir a fonte da pulsão no corpo, 
podemos entender claramente o eco biológico encontrado na formulação psicanalítica. 
Freud queria criar uma psicologia que fizesse parte do rol das ciências naturais. 
Portanto, ele queria representar os processos psíquicos como estados quantitativamente 
determinados. Para compreender tais questões, é necessário observar que formular um 
conceito abrangente como o de Trieb, era uma exigência para criar uma teoria que 
pudesse formular um modelo de funcionamento psíquico e estabelecer as bases 
fisiológicas do psiquismo. Esta tarefa a que Freud se propõe é uma das características 
esperadas de um saber científico da época. Desta forma, fica claro onde se localiza o 
eco biológico na teoria pulsional e quais foram os motivos que levaram este biologismo 
a se manifestar na psicanálise. 
 
18 Ibid., p. 143. 
19 Ibid., p. 129. 
 
 10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FREUD, S. Três ensaios sobre a sexualidade (l905). In: Edição Standard Brasileira das 
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. v. 
VII 1996. 
FREUD, S. A pulsão e suas vicissitudes (1915). In: Edição Standard Brasileira das 
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. 
vol. XIV 1996. 
FREUD, S. O projeto de 1895. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas 
Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. vol. I 1996. 
FREUD, S. O inconsciente (1915). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas 
Completas de Sigmund Freud [ESB]. Rio de Janeiro: Imago, s/d. vol. XIV 1996. 
FREUD, S. A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão (1910). In:Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud [ESB]. 
Rio de Janeiro: Imago, s/d. vol. XI 1996. 
FOUCAULT, M. Ditos e Escritos: problematização do sujeito, psicologia, psiquiatria e 
Psicanálise. 2a edição, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2002. 
GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia Freudiana, vol. 3, 5a edição, Jorge 
Zahar, Rio de Janeiro, 2000. 
GARCIA-ROZA, L. A. Acaso e repetição em Psicanálise: uma introdução à teoria das 
pulsões. 7a edição, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2003. 
GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o Inconsciente. 21a edição, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 
2005. 
JAPIASSU, H. Psicanálise: ciência ou contra-ciência? Editora Imago, 1989. 
LAPLANCHE, J. Novos fundamentos para a psicanálise. Edições 70, 1988. 
LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J. B. Vocabulário de psicanálise. Tradução Pedro 
Tamem. Editora Martins Fontes, 2a edição. São Paulo, 1992. 
HANNS, L. A. A Teoria pulsional na clínica de Freud. Editora Imago; Rio de Janeiro, 
1999. 
IMBASCIATI, A. Afeto e representação: para uma análise dos processos cognitivos. 
Tradução de Neide Luiza de Rezende, Editora 34, São Paulo, 1998. 
MONZANI, L. R. Freud o movimento de um pensamento. 2a edição; Editora da 
Unicamp, Campinas 1989. 
RAPAPORT, D. A estrutura psicanalítica. Editora Perspectiva, São Paulo, 1982.

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