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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA SALA DE AULA: PLANEJAMENTO, METODOLOGIA E AVALIAÇÃO Autora: Mariane Werner Zen CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Evandro André de Sousa Revisão Gramatical: Profª Camila Thaísa Alves Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora Grupo UNIASSELVI 2011 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 371.2 Z54o Zen, Mariane Werner Organização do Trabalho Pedagógico na Sala de Aula: Planejamento, Metodologia e Avaliação / Mariane Werner Zen. Indaial : Uniasselvi, 2011. 186 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-508-6 1. Administração escolar – Sala de aula. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Graduada em Pedagogia pela Fundação Educacional de Brusque (1998), Especialista em Fundamentos da Educação – Temas Transversais – pela Fundação Educacional de Brusque (2002) e Mestre em Educação e Cultura pela UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina (2007). Tem experiência no Ensino Fundamental como professora regente e no Ensino Superior como monitora de Professor-Orientador. Atua como Professora Tutora Externa da Graduação em Pedagogia da UNIASSELVI, pólo ASSEVIM/Brusque. Participou de muitos congressos e seminários sobre educação, apresentando pesquisas e trabalhos, publicando vários artigos científicos nos Anais dos eventos. Mariane Werner Zen Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 Prática Docente no Ensino Superior Brasileiro: a Instituição, os Professores, os Estudantes ....................... 9 CAPÍTULO 2 Bases Teóricas da Construção do Conhecimento: como Acontece a Aprendizagem .............................................. 39 CAPÍTULO 3 Princípios Práticos na Atuação Docente: O Planejar, o Fazer, e o Avaliar no contexto do Ensino Superior ......... 63 CAPÍTULO 4 Planejamento: O Projeto da Prática Docente ...................... 85 CAPÍTULO 5 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem ...................................................113 CAPÍTULO 6 Avaliação: O Avaliar na Prática Docente .............................. 157 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): O Caderno de Estudos que aqui se apresenta visa colaborar com sua formação para atuar como professor ou professora no Ensino Superior, trazendo apontamentos sobre a organização do trabalho pedagógico em sala de aula. Afinal, diferente do que muitos nós podemos imaginar, atuar como professor ou professora demanda muito mais do que saber apenas os conteúdos a serem ensinados – implica em conhecer desde a história da educação e concepções de aprendizagem até indicações práticas de como e por que realizar determinadas atividades pedagógicas em sala de aula. Longe de querer ser um “manual” ou um “caderno de receitas”, este material deseja mostrar a você como a profissão professor requer cuidados e preparação, tanto na sua formação profissional quanto na elaboração de uma aula propriamente dita. Este livro está divido em seis capítulos. Você perceberá que há “amarrações” entre eles, que os capítulos se complementam a medida que você for realizando sua leitura. Por uma opção didática, optou-se em escrever os três primeiros com fundamentos mais teóricos, sendo os demais, mais práticos e objetivos – permitindo que você possa fazer consultas posteriores com mais facilidade. O capítulo que abre esse Caderno de Estudos, leva você a conhecer um pouco mais sobre a profissão que está escolhendo seguir. São alguns apontamentos sobre a história da formação de professores no Brasil e de como se deseja dar feições mais profissionais a essa profissão que nos é tão comum! Afinal, vamos à escola desde muito jovens e professores fazem parte de nossas vidas desde muito cedo! Neste primeiro capítulo, você também será levado a pensar sobre o perfil do professor e do aluno no Ensino Superior de nosso país. Em seguida, oferecemos a você uma visão rápida sobre as principais concepções de aprendizagem que norteiam os saberes docentes. Assim, você poderá conhecer e entender como as teorias que explicam como as pessoas aprendem influenciam em como os professores ensinam. No terceiro capítulo você encontrará os três princípios práticos que norteiam o fazer docente: o planejamento, a metodologia e a avaliação. Esta parte de nosso Caderno de Estudos visa explicar o que são esses três princípios, suas características e peculiaridades. Deixando reservado para cada um dos próximos três capítulos um aprofundamento mais detalhado sobre cada um desses eixos, dando indicações práticas de como planejar, atuar e avaliar enquanto professor no Ensino Superior. Atualmente, exige-se que um professor, independente do nível em que atue, seja dedicado e tenha preparação e postura profissional – aliando a tudo isso afetividade, criatividade e intuição. Esse material foi escrito no intuito de ajudar você, caro estudante, a preparar-se para atuar como um profissional competente. Contamos com sua dedicação na leitura deste Caderno de Estudos e que você invista sua criatividade e intuição para desenvolver ainda mais as sugestões aqui oferecidas! Bons estudos e bom trabalho! CAPÍTULO 1 Prática Docente no Ensino Superior Brasileiro: A Instituição, os Professores, os Estudantes A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer um breve histórico da formação de professores no Brasil; 9 Analisar o perfil dos professores e dos estudantes do ensino superior brasileiro; 9 Reunir um conjunto de características que permitam avaliar a postura do profissional de ensino superior, tomando decisões de ensino pertinentes ao perfil dos estudantes. 10 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação 11 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 Contextualização • Você já parou para pensar em tudo que um professor faz? • Você sabe quais são as atribuições conferidas ao professor? • Você pode explicar por que muitos professores atuam em outras áreas profissionais ao mesmo tempo em que são professores? É uma questão salarial? Ou pode ser uma questão de formação? • Quem é o profissional professor que se apresenta nas salas de aula com uma titulação que lhe confere o direito de ensinar aos outros? • Quem é o professor de Ensino Superior? • Quem são os alunos do Ensino Superior? • O que querem esses dois atores que movimentam as engrenagens das universidades ou instituições de Ensino Superior no Brasil? É na tentativa de responder essas questões que o primeiro capítulo desse módulo se apresenta. Deseja traçar um perfil da prática docente no Ensino Superior e seus principais atores: professores e alunos. Mas não é possível tratar desse assunto isoladamente - é preciso contextualizar a prática docente nos vários segmentos de ensino e estabelecer suas diferenças e semelhanças para poder pensar na formação do professor como uma profissão a ser fundamentada. É preciso percorrer alguns caminhos da história da formação de professores no nossopaís para compreender com um pouco mais de clareza como se chegou a ser professor no Brasil – e a partir daí buscar referenciais para análises, reflexões e possíveis mudanças. Prezado estudante: neste primeiro momento, vamos observar a profissão de professor. Suas características. Sua formação. Seu objeto de trabalho: os alunos. Convidamos você a rememorar os professores que passaram pela sua formação – e perceber o quanto deles há em você. Bom estudo! 12 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação Profissão: Professor Pense na seguinte questão: ser professor no Ensino Superior é diferente de ser professor nos outros níveis de ensino formal, caracterizados como Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio? Poderíamos dizer que sim se pensarmos no perfil do estudante que frequenta esse espaço e no objetivo ao qual se propõe o Ensino Superior: os alunos são em sua maioria jovens e adultos procurando por uma formação profissional específica. Mas clientela e objetivo não são os únicos determinantes do saber-fazer da profissão professor. Sendo assim, ser professor compreende conhecer uma série saberes que promovem o aprendizado daqueles que estão sob sua regência. E isso permanece igual – em todos os níveis de ensino. Mas quais são esses saberes que o professor precisa ter/saber? Maurice Tardif, pesquisador canadense sobre a formação docente, no intuito de buscar os saberes que servem de base para o ofício do professor, levanta as seguintes questões: Quais são os conhecimentos, os saber-fazer, as competências e as habilidades que os professores mobilizam diariamente, nas salas de aula e nas escolas, a fim de realizar concretamente as suas diversas tarefas? Qual é a natureza desses saberes? Trata-se de conhecimentos científicos? [...] Trata-se de conhecimentos técnicos, de saberes de ação, de habilidades de natureza artesanal adquiridas através de uma longa experiência de trabalho? [...] Como esses saberes são adquiridos? Através da experiência pessoal, da formação recebida num instituto, numa escola normal, numa universidade, através de contato com os professores mais experientes ou através de outras fontes? Qual é o papel e o peso dos saberes dos professores em relação aos outros conhecimentos que marcam a atividade educativa e o mundo escolar? [...] Como a formação dos professores, seja na universidade ou noutras instituições, pode levar em consideração e até integrar os saberes dos professores de profissão na formação de seus futuros pares? (TARDIF, 2002, p. 09-10) A formação de professores é uma questão atual e amplamente discutida. É bem provável que você, caro estudante, nem imaginasse que tantas perguntas pudessem envolver uma profissão que lhe parecia ser tão conhecida, mas que em apenas um parágrafo mostrou-se tão profunda e cheia de segredos. Considerando, grosso modo, um ou dois anos de Educação Infantil, oito anos de Ensino Fundamental, três anos de Ensino Médio, três a quatro de Ensino Superior, “os professores são trabalhadores que foram mergulhados em Ser professor compreende conhecer uma série saberes que promovem o aprendizado daqueles que estão sob sua regência. 13 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 seu espaço de trabalho durante aproximadamente 16 anos (em torno de 15.000 horas), antes mesmo de começarem a trabalhar” (LORTIE, 1975 apud TARDIF, 2002, p. 261). A profissão de professor nos é extremamente “íntima” porque todos frequentamos escolas. No entanto, todas aquelas questões levantadas por Tardif nos apontam para um profissional professor que merece ser descoberto. Ou seja, um profissional que merece ter “des-coberta” a cortina que lhe esconde a imagem. É preciso entender o ser professor como uma profissão que exige preparo e formação como a de qualquer outro profissional. É preciso desmitificar a ideia de que qualquer um pode estar à frente de uma sala de aula, retirando o véu romântico que dá apenas ares de vocação à profissão de professor – característica esta atribuída à função docente porque a afetividade, a intuição e criatividade acabam sendo atributos do ato educativo e consequentemente acompanham a docência (BARRETO, 2010). Atuar na área de educação não deve ser algo compreendido apenas como função de sujeitos vocacionados, mas de pessoas com entendimento sobre as singularidades, tanto teóricas quanto metodológicas, que envolvem o espaço da sala de aula e os sujeitos nela inseridos. Pesquisadores educacionais ao redor do mundo estão mergulhados em uma corrente em busca da profissionalização dos agentes da educação em geral e dos professores em particular. A profissionalização do ensino e da formação para o ensino constitui, portanto, um movimento quase internacional e, ao mesmo tempo, um horizonte comum para o qual convergem os dirigentes políticos da área da educação, as reformas das instituições educativas e as novas ideologias da formação e do ensino. (TARDIF, 2002, p. 247) Mas o que caracteriza um profissional? Quais são as peculiaridades que identificam o sujeito como alguém que tem conhecimento profissional? Pesquisas realizadas nos últimos 20 anos, as literaturas sobre profissões, apontam as principais características do conhecimento profissional independente de sua área de atuação. Veja a seguir um resumo delas (BOURDONDE, 1994; TARDIF & GAUTHIER, 1999 apud TARDIF, 2002, p. 247-249): • Um profissional apoia sua prática em conhecimentos especializados e formalizados, adquiridos com formação de alto nível, sancionada por um diploma que lhe confere um título. Lembrando que essa formação é entendida como de natureza universitária. A profissão de professor nos é extremamente “íntima” porque todos frequentamos escolas. É preciso entender o ser professor como uma profissão que exige preparo e formação como a de qualquer outro profissional. 14 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação • Entende-se que esses conhecimentos profissionais são modelados e voltados para a solução de situações problemáticas concretas. • Em oposição aos leigos, os profissionais possuem a competência e o direito de usar seus conhecimentos, o que leva a considerar que somente outro profissional da mesma área e de posse de conhecimentos similares pode avaliar a competência ou incompetência desse profissional, porque profissionais podem sim ser responsáveis pelo mau uso de seus conhecimentos, o que pode causar danos a seus clientes (entendidos aqui como qualquer sujeito que esteja sendo atendido por um profissional – seja ele da área da saúde, da legislação, do ensino). • Profissional é também aquele que é capaz não só de compreender o problema, mas também de organizar e esclarecer os objetivos almejados, pois se entende que o conhecimento profissional dota o sujeito de autonomia e discernimento tanto para se adaptar às situações novas como àquelas que exigem improvisação. • Os conhecimentos profissionais são evolutivos e progressivos, necessitando de formação contínua, tanto na teoria quanto na prática, culminando na máxima de que a formação profissional ocupa boa parte da carreira. O que se deseja é “desenvolver e implantar essas características no ensino e na formação de professores” (TARDIF, 2002, p. 250). Observando o artigo 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, é possível perceber que se busca uma formação em nível superior do sujeito que se dispõe a ingressar no mercado de trabalho, o que envolve a educação – fato que vem ao encontro de algumas das características apresentadas acima. Veja o que diz na letra da lei sobre como se define um profissional da educação básica no Brasil (Lei 12.014/09): Art.61 Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. 15 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. Prezado estudante, você deve ter percebido como a lei prioriza a formação do professor da Educação Básica em nível superior, como dá ênfase à titulação e à formação científica que o possibilite aliar teoria e prática, levando em conta inclusive suas experiências anteriores na docência. Já o Decreto no 3.276, de 6 de dezembro de 1999, no seu artigo 5o, tendo em vista o disposto no artigo citado anteriormente, vem incluir as competências a serem desenvolvidas pelos professores que atuarão na educação básica: Art. 5º O Conselho Nacional de Educação, mediante proposta do Ministro de Estado da Educação, definirá as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica. §1o As diretrizes curriculares nacionais observarão [...] as seguintes competências a serem desenvolvidas pelos professores que atuarão na educação básica: I - comprometimento com os valores estéticos, políticos e éticos inspiradores da sociedade democrática; II - compreensão do papel social da escola; III - domínio dos conteúdos a serem socializados, de seus significados em diferentes contextos e de sua articulação interdisciplinar; IV - domínio do conhecimento pedagógico, incluindo as novas linguagens e tecnologias, considerando os âmbitos do ensino e da gestão, de forma a promover a efetiva aprendizagem dos alunos; V - conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica; VI - gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional. 16 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação Comparando esses dois artigos com as características profissionais apontadas na obra de Tardif, o que se pode concluir é que, em termos de lei, o Brasil almeja por um profissional da educação dotado de conhecimentos científicos adquiridos com formação superior, responsável pela socialização desses conhecimentos através de meios organizados por ele e que efetivamente permitam a aprendizagem dos alunos, além de estar ciente da necessidade de continuar se aperfeiçoando profissionalmente. Na teoria, o que se deseja é amplamente aceitável, visto que vem ao encontro de uma busca por uma formação que profissionalize efetivamente o professor. Mas, na prática, sabemos que o cenário que encontramos nem sempre apresenta profissionais da educação com a qualificação exigida ou com as competências elencadas na letra da Lei. Isso pode nos levar mais uma vez à seguinte questão: a profissão professor ainda é vista apenas como vocação, sendo que qualquer um pode exercê-la – em qualquer nível de ensino, seja ele básico ou superior? Embora estejamos vivendo em um momento de crise no tocante à profissionalização, pois de modo geral as pessoas estão um tanto desacreditadas no que diz respeito à formação profissional em qualquer área, ainda vale a pena investir em processos, pesquisas, estudos que dinamizem e promovam um aprendizado significativo àqueles que procuram o Ensino Superior a fim de se tornarem profissionais em alguma área. A crise a respeito do valor dos saberes profissionais, das formações profissionais, da ética profissional e da confiança do público nas profissões e nos profissionais constitui o pano de fundo do movimento de profissionalização do ensino e da formação para o magistério. (TARDIF, 2002, p. 253) Isso indica que há uma necessidade premente em focar na formação de professores, inclusive nos que vão atuar além dos muros escolares do Ensino Fundamental e Médio. Pois, em última instância, são eles que estão na linha de frente no desenvolvimento de qualquer indivíduo que busca sua profissionalização na universidade, ou em qualquer outra instituição de Ensino Superior. Atividade de Estudos: 1) Caro estudante, iniciamos nosso primeiro capítulo discorrendo sobre a necessidade da formação do professor entendido como O Brasil almeja por um profissional da educação dotado de conhecimentos científicos adquiridos com formação superior, responsável pela socialização desses conhecimentos através de meios organizados por ele e que efetivamente permitam a aprendizagem dos alunos, além de estar ciente da necessidade de continuar se aperfeiçoando profissionalmente. 17 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 um profissional do ensino e não apenas um sujeito com vocação. Foram apontadas algumas características que configuram o perfil de um profissional – independente de sua área de atuação. Você concorda com o exposto? Que outras características você incluiria àquelas do que se remete ao profissional? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) E considerando as características de um profissional, como você definiria um professor profissional? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 18 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação A Formação de Professores no Brasil Você, estudante, que está cursando um programa de Pós- Graduação, deve ter clara a ideia de que está sendo preparado igualmente para atuar comoprofessor ou professora. Enquanto é de responsabilidade dos cursos de nível superior em Licenciatura preparar seus alunos para que possam atuar como profissionais de ensino da educação básica, cabe aos cursos de Pós-Graduação oferecer também aos seus inscritos os instrumentos necessários para que possam atuar igualmente como educadores no Ensino Superior. Pois, como afirma o Artigo 66, Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, “a preparação para o exercício do magistério superior far- se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. O que difere o professor da Educação Infantil do professor dos primeiros anos do Ensino Fundamental é o seguinte aspecto: o professor dos últimos anos do Ensino Fundamental e Médio e o professor do Ensino Superior é a sua formação, ou seja, as especificidades que se encontram nos currículos dos cursos superiores são destinadas também à formação docente. Mas de modo algum suas diferenças podem residir nas suas responsabilidades diante da função de educar, sejam os seus alunos crianças, adolescentes, jovens ou adultos. Como afirma Tardif (2005, p. 13), o professor “trabalha com sujeitos e em função de um projeto: transformar os alunos, educá-los e instruí-los”. Vamos observar agora, em linhas gerais, como se deu e como tem sido o processo de formação de professores no Brasil. Quando falamos em ser professor ou em estudar para ser professor, uma das primeiras ideias que provavelmente nos vêm à mente é a imagem daquela pessoa, geralmente uma mulher, em frente a uma lousa, perante uma turma de crianças da Educação Infantil ou dos primeiros anos do Ensino Fundamental. E que a formação dessa profissional se deu no curso de Pedagogia. Muitas vezes nos foge da lembrança que há muitos outros perfis de professores e professoras, habilitados em diversas áreas do conhecimento e que exercem a docência em grupos de adolescentes, jovens e adultos. Esses profissionais, que atuam tanto nas últimas séries do Ensino Fundamental (5ª à 8ª série ou 6º ao 9º ano, segundo a nova legislação) quanto no Ensino Médio e no Ensino Superior, cuja formação profissional muitas vezes não é lembrada ou entendida com o discernimento que lhe compete. O que difere o professor da Educação Infantil do professor dos primeiros anos do Ensino Fundamental é o seguinte aspecto: o professor dos últimos anos do Ensino Fundamental e Médio e o professor do Ensino Superior é a sua formação O professor “trabalha com sujeitos e em função de um projeto: transformar os alunos, educá-los e instruí-los”. 19 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 Dado esse cenário, não é raro vir à razão a seguinte pergunta: “mas os ‘professores’ não fazem curso de Pedagogia? Não seria essa a formação de professor?”. Sim, mas o curso de Pedagogia é direcionado apenas à formação de professores da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano, segundo a nova legislação). Vale lembrar que, no Brasil, segundo Charlot e Silva (2010, p. 47) “historicamente, a formação dos professores do ensino primário não foi ligada à universidade: deu-se no chão da sala de aula ou em cursos secundários profissionais” – as Escolas Normais ou a opção de Magistério no antigo 2º Grau, hoje Ensino Médio. A obrigatoriedade da formação no Ensino Superior do professor da Educação Infantil ou daquele que atua nos primeiros anos do Ensino Fundamental, ou seja, a graduação em curso universitário, é recente: A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 define a licenciatura, em Universidade ou Instituto Superior de Educação, como nível de formação dos professores do ensino básico, mas admite a modalidade Normal oferecida pelo ensino médio ‘como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental’(Art.62). O decreto de 6 de dezembro de 1999 indica que a formação desses professores “far-se-á, preferencialmente, em cursos normais superiores” (par. 2º). Em 2001, o Plano Nacional de Educação enuncia o objetivo de que “no prazo de dez anos [2011], 70% dos professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental possuam formação específica em nível superior” (CHARLOT e SILVA, 2010, p. 47-48, sem grifos no original). De certa forma, a exigência na formação em nível superior dos professores de Educação Infantil ou dos primeiros anos do Ensino Fundamental é tão ou quase tão recente quanto a consolidação do curso de formação superior voltado a esses profissionais de ensino, a Pedagogia, cujo início no Brasil data por volta da primeira metade do século XX. Um curso com características que permanecem praticamente as mesmas até os dias de hoje: menos voltado às disciplinas que serão ensinadas às crianças e mais voltado às discussões metodológicas, sociológicas e filosóficas de como a criança aprende e de como se ensina. Já os professores que atuam nos últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio já tiveram sua formação reconhecida em cursos de Ensino Superior antes dos professores das séries iniciais. “Historicamente, a formação dos professores do ensino primário não foi ligada à universidade: deu-se no chão da sala de aula ou em cursos secundários profissionais” – as Escolas Normais ou a opção de Magistério no antigo 2º Grau, hoje Ensino Médio. Os professores que atuam nos últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio já tiveram sua formação reconhecida em cursos de Ensino Superior antes dos professores das séries iniciais. 20 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação A formação dos professores do ensino médio inicia-se no Brasil com a criação das universidades nos anos 30 do século passado. O ensino médio não existia em períodos anteriores como etapa regular da escolaridade. (...) Com o primeiro ciclo de industrialização do país, observa-se pequena expansão da escolaridade além do ensino primário, o que cria a necessidade de formar professores para atender às novas demandas. Após a formação de bacharéis, é acrescido mais um ano para a licenciatura, visando à formação de professores de nível médio. (BARRETO, 2010, p. 432) Os cursos de Licenciatura titulavam os professores de Matemática, Geografia, História, Ciências, entre outras áreas do saber, muito antes do curso de Pedagogia ser institucionalizado como obrigatório na formação de professores das séries iniciais. Há que se ficar atento para o fato de que a formação do professor dos últimos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio estava (e ainda está) muito mais focada na disciplina que será ensinada e em todas as suas particularidades do que na formação didático-pedagógica desse professor. Ou seja, geralmente o que se percebe nas universidades é que os alunos que frequentam os cursos de Licenciatura recebem uma maior formação em relação aos conteúdos, se comparada à formação no que diz respeito ao ensino. Você sabe a diferença entre Bacharelado e Licenciatura? Os cursos de graduação oferecidos no Ensino Superior brasileiro podem ser categorizados como Bacharelado e Licenciatura. O que os distingue é o currículo, o qual é definido perante o objetivo de formação de cada curso: enquanto o primeiro contempla uma grade curricular com disciplinas voltadas para o preparo do exercício de uma profissão específica, como dentista, médico, contabilista, advogado, o segundo, além das matérias referentes à área escolhida (Letras, Matemática, Biologia, entre outras), ainda inclui disciplinas pedagógicas específicas, como Didática, Psicologia e Filosofia da Educação, entre outras, habilitando o graduando a atuar na Educação Básica, ouseja, a dar aula nos últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. E a formação docente para o Ensino Superior? Como tem sido a formação desse profissional que exerce a docência nesse ambiente A formação do professor dos últimos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio estava (e ainda está) muito mais focada na disciplina que será ensinada e em todas as suas particularidades do que na formação didático-pedagógica desse professor. Decretos-lei enfatizam a formação docente apenas daqueles que atuam na educação básica, deixando de evidenciar o profissional que exercita a docência no Ensino Superior. 21 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 que se consolida no tripé ensino-pesquisa-extensão? Como tem acontecido a formação desse profissional que muitas vezes atua também em outra área? Os próprios decretos-lei apresentados anteriormente enfatizam a formação docente apenas daqueles que atuam na educação básica, deixando de evidenciar o profissional que exercita a docência no Ensino Superior. Geralmente, aqueles que atuam em universidades fizeram algum curso de Pós-Graduação, e possuem titulação de Especialista em determinada área ou têm título de Mestre e/ou Doutor. O que acontece, muitas vezes, é que esses cursos não oferecem um programa sistemático de formação pedagógica, desconsiderando que seus alunos inscritos podem ser oriundos também de cursos de Bacharelado os quais, como se sabe, não apresentam em sua matriz curricular disciplinas pedagógicas. Assim, os professores de Ensino Superior são geralmente lançados a própria sorte, fazendo uso de métodos e tomando atitudes espelhadas nas ações pedagógicas que indubitavelmente trazem de suas experiências como alunos, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Superior. Até porque é válido crer que “o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola” (TARDIF, 2002, p. 11). A justificativa de até então não incluir disciplinas pedagógicas na formação do professor de Ensino Superior residia no fato de que como ele vai lidar com adultos “não necessita tanto da formação didática quanto os professores do ensino médio e fundamental, que lidam principalmente com crianças e adolescentes” (GIL, 2011a, p. 15). O mesmo autor aponta que, de modo geral, vê-se que “o mais importante para o desempenho do professor universitário é o domínio dos conhecimentos referentes à matéria que leciona, aliado, sempre que possível, à prática profissional.” O crescimento vertiginoso que se pode observar no Ensino Superior nos últimos anos, tanto no aumento da oferta de cursos quanto, consequentemente, no número de alunos, é fato que aponta para a busca de qualidade e de capacitação dos professores universitários. Ou seja, dotando-os de mais conhecimentos e habilidades pedagógicas, além daquelas que já trazem quando experientes na área, e também contribuindo com a formação daquele que chega com a experiência docente limitada aos seus anos de estudante. Sendo assim, há o reconhecimento da necessidade da formação do professor de Ensino Os professores de Ensino Superior são geralmente lançados a própria sorte, fazendo uso de métodos e tomando atitudes espelhadas nas ações pedagógicas que indubitavelmente trazem de suas experiências como alunos, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Superior. Os cursos de especialização, conhecidos também como lato sensu, incluem obrigatoriamente disciplinas de formação pedagógica. 22 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação Superior, “tanto é que os cursos de especialização, conhecidos também como lato sensu, incluem obrigatoriamente disciplinas de formação pedagógica” (GIL, 2011a, p. 16). Até aqui, observamos em linhas gerais como vem ocorrendo a profissionalização do magistério no país. Percebemos que a formação dos professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental tem sido motivo de preocupação recente. Afinal, é atual é exigência de graduação em nível superior para professores das séries iniciais, enquanto que a formação dos professores dos últimos anos do Ensino Fundamental e Médio já foi regulamentada há mais tempo com os cursos de Licenciatura. O foco incide agora, também, sobre quem é e como atua o docente de Ensino Superior, “o professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser humano, de ciências e de educação compatível com as características de sua função” (GIL, 2011b, p. 1). É preciso formar e capacitar profissionais para atuarem no magistério, sejam eles da educação básica ou superior, buscando uma formação científica adequada, centrada tanto em conteúdos quanto em pesquisa, dotando também esses profissionais de habilidades didático-pedagógicas que envolvam o binômio ensinar-aprender. A história da formação de professores acompanha a história da educação no Brasil. Quer saber mais sobre esse assunto? As seguintes obras podem lhe ajudar a conhecer melhor a trajetória da educação em nosso país: BASTOS, Maria Helena Camara; STEPHANOU, Maria. (orgs.) Histórias e memórias da educação no Brasil – Séculos XVI – XVIII. Vol. I. 5ª ed. Petrópolis, RJ: 2011. BASTOS, Maria Helena Camara; STEPHANOU, Maria. (orgs.) Histórias e memórias da educação no Brasil – Século XIX. Vol. II. 3ª ed. Petrópolis, RJ: 2010. A série organizada por Maria Helena Camara Bastos e Maria Stephanou insere-se no combate intelectual contra a amnésia sobre a história da educação no país, quer seja a amnésia do excesso (a nostalgia), quer seja a amnésia da ausência (o esquecimento). Ao reunirem um conjunto notável de meia centena de autores, apresentam ao público estudos produzidos a partir de novas O professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser humano, de ciências e de educação compatível com as características de sua função. 23 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 perspectivas da historiografia da educação. (Sinopse oferecida pela Editora Vozes, disponível no site www.universovozes.com.br. Acesso em 27 de novembro de 2011) O site da Editora Abril (www.educarparacrescer.abril.com.br/ historia-educacao) oferece uma apresentação bem dinâmica sobre a história da educação no Brasil intitulada “Beabá do Brasil – de Cabral ao Enem: um rápido panorama da história da educação brasileira”. Com consultoria de Carmem Sylvia Vidigal Moraes, professora e pesquisadora de História da Educação na Faculdade de Educação da USP; de Diana Gonçalves Vidal, também professora da mesma faculdade e ex-presidente da Sociedade Brasileira de História da Educação (2003-2007); e de Maria Lúcia Spedo Hilsdorf, professora e pesquisadora do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da USP, a apresentação muito bem ilustrada e com comentários claros e sucintos oferece informações interessantes sobre a educação no Brasil, incluindo a formação e ação de professores. A pequena obra conta ainda com o apoio de Sérgio Haddad, coordenador-geral da Ação Educativa. É uma realização da Editora Abril com o apoio de pesquisadores com grande embasamento teórico e que permite mais uma visão da história da educação no nosso país. Atividade de Estudos: Agora que você conhece um pouco mais sobre a formação de professores no nosso país, investigue e trace um comparativo de como se deu a formação de professores há dez anos na cidade, bairro, ou região onde você mora e como acontece nos dias atuais. Descubra se a localidade oferecia Curso Normal, Magistério, e Ensino Superior. Comoeram os professores que davam aulas nesses cursos de formação. Como era o perfil dos alunos que estudavam nesses cursos. Se os alunos que terminavam esses cursos realmente se tornavam professores. Lance o mesmo olhar aos dias atuais. 24 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação Se o local onde você mora não oferecia curso de formação de professores, descubra onde iam estudar aqueles que queriam se tornar professores. Ou então, onde se formavam os professores que trabalhavam nas escolas da sua localidade. Mais uma vez, compare com os dias de hoje. Investigue também se as pessoas que atuavam como professores tinham mesmo formação para tal e veja se nos dias de hoje a mesma situação se repete. Você pode buscar informações em várias fontes: nos cursos de Ensino Superior, nas escolas locais, nos documentos arquivados em instituições públicas, como Secretarias de Ensino, com entrevistas com professores aposentados e em exercício. Faça anotações relevantes na tabela abaixo e troque ideias com seu tutor. Você pode se surpreender com o que vai descobrir! Formação de professores há 10 anos na região onde moro Formação de professores atualmente na região onde moro O Professor do Ensino Superior Até aqui, observamos em linhas gerais como se tem buscado a profissionalização do professor e como isso tem acontecido historicamente em nosso país. Percebe-se que muito se discute e se estuda sobre a formação de professores que atuam na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e Médio, omitindo-se um olhar mais apurado sobre o professor que atua no Ensino Superior. Dessa forma, vamos ver neste tópico quem é o professor universitário e seus papéis frente à finalidade do Ensino Superior, delineando alguns requisitos básicos para o exercício dessa profissão e características que já lhe são inerentes, sugerindo 25 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 posturas e competências para enfrentar os desafios atuais. A literatura nos oferece alguns subsídios que nos permitem tratar do assunto, mas fica claro que ainda há muito a ser pesquisado e estudado sobre quem é o professor do Ensino Superior. A LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece no Artigo 43 que a Educação Superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. Se a Educação Superior, conforme a Lei, tem por finalidade atingir todos os objetivos citados, é notório que eles não serão alcançados pelo simples fato de se estar presente dentro da instituição, não são atingidos por osmose! Sendo assim, faz-se necessário inserir nesse ambiente sujeitos de ação, que ajam e intervenham com a intenção de fazer cumprir essas finalidades. Esses sujeitos são os professores na interação com seus alunos – ambos agentes principais dentro da universidade. Observando as finalidades da educação superior, há uma série de verbos que indicam a construção de saberes – estimular, formar, desenvolver, promover, 26 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação comunicar, suscitar, possibilitar, prestar serviços, estabelecer – que visam conduzir aqueles que se encontram no Ensino Superior a um desenvolvimento completo, beneficiando a si mesmos e a comunidade em que estão inserido. Caro estudante, você deve estar percebendo que, para atingir as finalidades da educação superior, o professor deve apresentar uma série de características que o tornem apto a exercer uma função profissional que colabore com os objetivos traçados pela universidade. Como diz um velho ditado inglês, “se você pensou que ser aluno era difícil, experimente ser professor”! Os professores de Ensino Superior no Brasil podem ser divididos, grosso modo, em dois grupos distintos: aqueles que fazem do exercício da docência sua única profissão, ou seja, são os professores de “dedicação exclusiva” e que muitas vezes são também professores- pesquisadores, contando igualmente com benefícios de bolsas de estudos; e os professores que trabalham em outra profissão de uma determinada área além da atuação no Ensino Superior. De qualquer forma, independente da carga horária que disponibilizam para o exercício da docência, os sujeitos que se envolvem com o ensino precisam apresentar alguns requisitos básicos que os tornem aptos a realizar a função a que se propõem, como em qualquer outra profissão. Conforme Antonio Carlos Gil (2011a, p. 17-20), os requisitos básicos do professor universitário podem ser divididos em três grandes grupos: Requisitos Legais, Pessoais e Técnicos. Os Requisitos Legais são aqueles voltados à legislação, ou seja, para poder atuar no Ensino Superior, há que se ter uma titulação mínima em nível de pós-graduação, o que assegura, perante a lei, que o candidato a professor domine uma série de conteúdos e conhecimentos científicos, qualificando-o como um profissional que “apoia sua prática em conhecimentos especializados e formalizados”, como definido por Tardif em citação no primeiro tópico. Os Requisitos Pessoais geralmente são determinados mediante análise e descrição do cargo ocupado profissionalmente, mas algumas funções são complexas e a identificação de requisitos pessoais pode não ser satisfatória – e uma dessas funções é justamente a de professor. As atividades desempenhadas pelo professor, além de complexas, dão muita margem a considerações valorativas. As explanações acerca das qualidades que deve ter o professor não raro envolvem discussão de natureza ideológica. Logo, qualquer tentativa de arrolar as características requeridas do professor universitário será incompleta. E quanto mais detalhado se mostrar um empreendimento desta natureza, maior será provavelmente a sua vulnerabilidade. (GIL, 2011a, p. 18). Para atingir as finalidades da educação superior, o professor deve apresentar uma série de características que o tornem apto a exercer uma função profissional que colabore com os objetivos traçados pela universidade. Requisitos Legais, Pessoais e Técnicos. Os sujeitos que se envolvem com o ensino precisam apresentar alguns requisitos básicos que os tornem aptos a realizar a função a que se propõem, como em qualquer outra profissão. 27 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 Entretanto, o mesmoautor aponta que existem algumas características pessoais reconhecidas como desejáveis para os professores universitários, mas que devem ser analisadas de forma crítica, “pois não podem ser tratadas como requisitos absolutamente indispensáveis” (GIL, 2011a, p. 18). São Requisitos Pessoais, que abrangem condições físicas e fisiológicas, psicotemperamentais e intelectuais, que levam em conta uma série de características que podem ser consideradas relevantes no perfil de um professor, seja ele universitário ou não. A título de curiosidade, veja no quadro a seguir os Requisitos Pessoais elencados pelo autor: Quadro I: Características requeridas do professor universitário: Características requeridas do professor universitário Físicas e fisiológicas • Resistência à fadiga • Capacidade funcional do sistema respiratório • Clareza vocal • Acuidade visual • Acuidade auditiva Psicotemperamentais • Estabilidade emocional • Versatilidade • Iniciativa • Autoconfiança • Disciplina • Paciência • Cooperação • Estabilidade de ritmo • Atenção difusa Intelectuais • Inteligência abstrata • Inteligência verbal • Memória • Observação • Raciocínio lógico • Rapidez de raciocínio • Precisão de raciocínio • Imaginação • Discriminação • Associação • Orientação • Coordenação • Crítica Fonte: GIL, 2011a, p. 19. 28 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação Além dos Requisitos Legais e Pessoais, há ainda os Requisitos Técnicos, que podem ser divididos em três áreas: 1) preparo especializado na disciplina que o professor vai lecionar, ou seja, o professor precisa conhecer em profundidade o que vai ensinar; 2) conhecimento em cultura geral, para que possa fazer associações e promover a interdisciplinaridade; e 3) apresentar conhecimentos e habilidades pedagógicas que envolvem a Estrutura e Funcionamento do Ensino Superior, o Planejamento de Ensino, a Psicologia da Aprendizagem, os Métodos de Ensino e Técnicas de Avaliação – habilidades que serão tratadas com mais acuidade nos próximos capítulos deste Caderno de Estudos. Seguindo a mesma linha de pensamento, Davis et al (2007, p. 234-239), em pesquisa para avaliar posturas docentes e formação universitária de professores do Ensino Fundamental, enunciam três posturas que resumidamente podem também descrever o saber-fazer necessário aos professores, sejam eles da Educação Básica ou do Ensino Superior: 1) Dominar e planejar situações didáticas que envolvam os conteúdos das áreas de conhecimento; 2) Reconhecer e empregar adequadamente os recursos e tecnologias disponíveis no processo de ensino-aprendizagem; 3) Valer-se da teoria para orientar a prática docente e a avaliação. Entendendo postura como “tendências ou disposições adquiridas e relativamente duradouras, que levam as pessoas a avaliar, de um determinado modo, um objeto, indivíduo, acontecimento ou situação e atuar de acordo com tal avaliação”, (COLL et al, 1992, apud DAVIS et al 2007, p. 231), pode-se considerar que até então os professores universitários vêm construindo suas posturas profissionais baseando- se num saber-fazer cotidiano construído ao longo de sua experiência tanto como docentes quanto como discentes. “Posturas emergem da atividade dos sujeitos e a ela se dirigem, configurando-se como uma forma relativamente duradoura de compreender algo (...) e de atuar de acordo com tal compreensão, para manter a coerência entre os modos de fazer, sentir e pensar” (DAVIS et al 2007, p. 233). É muito provável que a maioria dos professores que atuam no Ensino Superior tenha sim o conhecimento científico sobre o que ensina, mas é muito provável também que falte toda uma gama de conhecimentos didáticos que permitam apresentar posturas diferenciadas e até mais significativas em sala de aula. Essa carência de conhecimentos didáticos ou a maneira estável e contínua – relativamente duradoura – que se vem praticando o exercício da docência nas salas de aula de Ensino Superior vem de encontro a uma realidade que apresenta novos desafios. “A docência Até então os professores universitários vêm construindo suas posturas profissionais baseando-se num saber-fazer cotidiano construído ao longo de sua experiência tanto como docentes quanto como discentes. A docência no Ensino Superior não pode ser exercida apenas por especialistas em determinada área. (...) Requer-se hoje um profissional universitário competente 29 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 no Ensino Superior não pode ser exercida apenas por especialistas em determinada área. (...) Requer-se hoje um profissional universitário competente” (GIL, 2011b, p. 36-37), percebendo competência como a “faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais” (PERRENOUD, 2000, apud GIL, 2011b, p. 37). Amparado em vários autores, Antonio Carlos Gil (2011b, p. 37-38) elenca uma série de competências que os professores de Ensino Superior precisam desenvolver. Em linhas gerais, são elas: requere-se um professor que disponha de conhecimentos técnicos; que atue como mediador do processo de aprendizagem e seja capaz de organizar e dirigir situações de aprendizagem; que seja transformador, multicultural, intercultural, reflexivo, capaz de trabalhar em equipe e de enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão, e ainda que seja capaz de gerar sua própria formação contínua. Tardif (2005, p. 260-269), define que os saberes docentes, ou seja, aquilo que, grosso modo, o professor sabe fazer, “refletem as categorias conceituais e práticas dos próprios professores, constituídas no e por meio do seu trabalho cotidiano.” E assim, Tardif aponta quatro características dos saberes profissionais dos professores: 1) Eles são temporais, ou seja, são saberes adquiridos através do tempo. Primeiro porque boa parte dos conhecimentos que os professores têm sobre ensino e suas especificidades provêm de sua própria história de vida, depois porque os saberes são utilizados e se desenvolvem no processo de uma vida profissional de longa duração; 2) Os saberes são plurais e heterogêneos, ou seja, eles provêm de diversas fontes e um professor raramente tem uma teoria ou uma concepção unitária de sua prática, porque geralmente ele tem diferentes objetivos a atingir e esse trabalho em sala de aula exige uma variedade de habilidades e competências; 3) Os saberes docentes também são personalizados e situados: personalizados porque um professor tem uma história de vida e conta com a própria experiência e com a de sua categoria para controlar seu ambiente de trabalho. E situados porque são saberes construídos e utilizados em função de uma situação de trabalho particular. 4) E, por fim, os saberes dos professores carregam marcas do ser humano, porque o objeto de trabalho docente são seres humanos. Isso aponta para duas características: a primeira diz respeito ao fenômeno da individualidade, que corresponde a uma disposição que o professor tem para conhecer e 30 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação compreender seus alunos; a outra é uma que leva o professor a questionar suas intenções, seus valores e suas maneiras de fazer, questionamentos que “exigem do professor uma grande disponibilidade afetiva e uma capacidade de discernir suas reações interiores portadoras de certezas sobre os fundamentos de sua ação.” (TARDIF, 2005, p. 268) Miguel Arroyo, em sua obra “Ofício de Mestre”, discorre sobre o ofício de professor, buscando desconstruir um imaginário social que secundariza essa profissão. Uma coletânea de textos sobre o magistério dialoga sobre as inquietaçõesque constituem as imagens sociais da profissão professor e as autoimagens que a mesma categoria se autoaplica. Questionamentos em torno da categoria profissional que os professores vêm construindo, que traços vêm permanecendo e quais deles os profissionais da educação vêm reinventando dão o tom a essa obra que chega a ser poética. ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 7ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. Caro estudante, diante da finalidade que a educação superior apresenta, vê-se o quanto é urgente e necessário que o professor universitário esteja ciente do seu papel dentro desta instituição. É importante que você, como aluno de Pós-Graduação, discuta sobre os requisitos básicos, posturas e competências que fundamentam a profissão professor do Ensino Superior, e ainda assim reflita sobre quais são os saberes docentes que inconscientemente você já traz consigo. Atividade de Estudos: 1) No item recém apresentado, você ficou diante de alguns requisitos básicos, posturas e competências que uma nova realidade educacional pode exigir de professores universitários. Faça uma autoanálise e veja como você se reconhece no que foi exposto. ____________________________________________________ ____________________________________________________ É urgente e necessário que o professor universitário esteja ciente do seu papel dentro desta instituição. 31 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O Aluno do Ensino Superior Já observamos aspectos sobre a profissão professor, formação desse profissional e algumas características que estão imbricadas na ação enquanto docente do Ensino Superior. Agora, caro estudante, é preciso traçar um panorama daquele para quem e com quem o professor se dispõe a trabalhar: o aluno. O objetivo, neste momento, é traçar um perfil médio de aluno do Ensino Superior brasileiro, buscando observar como esse conhecer sobre o aluno pode promover uma relação mais significativa em sala de aula tanto entre o ensinar e aprender quanto entre o aluno e o professor. Quando somos alunos, temos em mente um ideal de professor – mas nem sempre ele é como desejaríamos que fosse, pois, como ser humano, ele tem suas características pessoais que reverberam na ação profissional. Da mesma forma, quando somos professores também temos em mente um ideal de aluno! Determinamos conteúdos, planejamos cronogramas e atividades, definimos avaliações – tudo isso direcionado a um ideal hegemônico de alunos que desejamos encontrar em sala de aula: interessados, aplicados, comprometidos com sua formação. Mas, como no caso dos professores que desejamos ter, nem sempre os alunos são como desejaríamos que fossem, pois, como seres humanos, eles têm suas características pessoais e diversidades de interesses que reverberam na sua ação como estudantes! Há uma série de diferenças individuais e características pessoais que podem ser levadas em consideração quando pensamos sobre alunos de Ensino Superior, como idade, sexo, estado civil, religião, situação financeira, entre outras variáveis. Diferentes dos alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, os acadêmicos de educação superior não precisam ter uma idade específica para frequentar um determinado período. São, geralmente, maiores de 16 ou 17 anos – dada a obrigatoriedade de ter completado a Há uma série de diferenças individuais e características pessoais que podem ser levadas em consideração quando pensamos sobre alunos de Ensino Superior, como idade, sexo, estado civil, religião, situação financeira, entre outras variáveis. Uma “diversidade de idades” dentro de uma mesma sala de aula precisa ser vista com cuidado para que não se caia em um reducionismo infantil, tampouco em aulas demasiadamente expositivas e intelectualizadas. 32 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação educação básica – mas não há uma idade limite para participar do Ensino Superior e isso vem crescendo em nosso país. Sendo assim, numa mesma sala de aula é possível encontrar alunos entre 17 e 40 anos ou mais, fugindo do padrão que se tinha até então da média de idade entre 18 e 22 anos (GIL, 2011B, p. 69). Isso nos leva a uma característica óbvia: a maioria desses alunos encontra-se na idade adulta. Uma “diversidade de idades” dentro de uma mesma sala de aula precisa ser vista com cuidado para que não se caia em um reducionismo infantil, tampouco em aulas demasiadamente expositivas e intelectualizadas. Essa variedade etária encontrada em sala de aula revela que muitos alunos já podem ser casados ou manterem uma relação estável, terem filhos ou até netos. Já podem ter uma profissão, que pode ou não relacionar-se com o curso que eles estejam fazendo. Ou ser aposentados, buscando um aperfeiçoamento pessoal ou uma nova formação profissional. Ou experimentando o primeiro emprego – que também pode ou não relacionar-se com o curso que eles estejam fazendo. Ou não exercer atividade profissional alguma, se dedicando exclusivamente aos estudos. Ou podem até já ter alguma formação em Ensino Superior, retomando os estudos para buscar uma qualificação ou até uma redefinição profissional. Podem ainda morar com seus pais, ou estar morando sozinhos ou em repúblicas, aprendendo a lidar com as responsabilidades que a vida adulta exige. Enfim, há uma série de implicações que se levantam simplesmente quando levamos em consideração a idade dos alunos com o qual o professor irá trabalhar. Todas essas variáveis podem não ser completamente relevantes para definir a ação didática do professor de Ensino Superior, mas elas acabam definindo o perfil dos alunos com os quais ele vai trabalhar em sala de aula. E esse perfil pode determinar posicionamentos e conhecimentos que os alunos apresentam sobre vários aspectos, produzindo uma diversidade de interesses que precisam ser levados em consideração pelo professor. “Saber o que os estudantes pensam acerca do curso que estão fazendo, ou quais as suas aspirações profissionais, pode auxiliar os professores tanto na redefinição dos conteúdos programáticos e das técnicas de ensino quanto no estabelecimento de estratégias e táticas para lidar com os estudantes” (GIL, 2011b, p. 41). Ou seja, buscar entender o que os alunos sabem sobre o curso que escolheram frequentar, o que eles desejam aprender para atingir suas aspirações profissionais, conhecer sua formação anterior, e se buscam por qualificação ou formação profissional, são informações com “propósitos didáticos” (GIL, 2011b, p. 41), que podem balizar e orientar a ação do professor. Essas informações podem revelar também possíveis dificuldades de aprendizagem ou limitações em termos de Saber o que os estudantes pensam acerca do curso que estão fazendo, ou quais as suas aspirações profissionais, pode auxiliar os professores tanto na redefinição dos conteúdos programáticos e das técnicas de ensino quanto no estabelecimento de estratégias e táticas para lidar com os estudantes. 33 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 conhecimento intelectual prévio para ter um aproveitamento adequado das matérias previamente selecionadas e que são indispensáveis no currículo do curso escolhido. Caro aluno, você já deve estar traçando mentalmente seu próprio perfil como estudante à medida que vem lendo esse texto. É provável que você esteja se perguntandocomo o professor de Ensino Superior pode fazer para coletar todas essas informações sobre os alunos com quais irá trabalhar, levando em conta que muitas vezes um professor não lida apenas com uma turma, mas várias – e isso implica ter que lidar com muitos alunos! Primeiro, vamos considerar que o professor de Ensino Superior geralmente se especializa no domínio de certos conteúdos de uma disciplina específica – isso nos leva a crer que, embora ele trabalhe com diferentes turmas, é muito provável que o conhecimento/conteúdo por ele abordado em todas elas girará em torno de um mesmo currículo. Ou seja, ele pode atuar em diferentes turmas com o mesmo objeto de conhecimento. Essa constatação implica saber que o professor já tem em mãos um repertório de conhecimentos e conteúdos que deseja trabalhar com seus alunos, e isso o dota da capacidade de criar expectativas reais em torno dos objetivos de aprendizagem a serem alcançados pela turma. Sabendo o objetivo ao qual se quer chegar, fica mais fácil traçar o caminho – mas é preciso conhecer quem está nesse caminho para orientar-se melhor sobre como levá-lo a alcançar seu fim. Assim, como o professor já sabe em linhas gerais o que vai ensinar, é de grande valia diagnosticar o domínio prévio dos objetivos do curso/ disciplina que os alunos trazem consigo e verificar as expectativas que os mesmos têm em relação ao curso (GIL, 2011b). Essas duas constatações – o que os alunos já sabem e o que querem – podem influenciar, e muito, o trabalho do professor em cada turma. Dessa maneira, ele pode suprimir ou diminuir a carga horária destinada a um conhecimento específico que os alunos praticamente dominam, e investir mais tempo em conteúdos que os estudantes têm pouco conhecimento ou que desejam aprofundar. Isso não significa que o professor deixará para organizar a ementa de disciplina, os conteúdos, objetivos, cronograma, referências bibliográficas, métodos de avaliação, entre outros princípios que organizam a atividade pedagógica, apenas depois de conhecer os alunos. Esse diagnóstico dos alunos que compõem a turma vem fornecer dados para melhorar e corrigir o que já havia sido previamente organizado. Esse conhecimento a respeito dos alunos pode se dar de duas maneiras distintas: 1) previamente, observando os dados fornecidos nas fichas de inscrição no curso – embora essas informações Essas duas constatações – o que os alunos já sabem e o que querem – podem influenciar, e muito, o trabalho do professor em cada turma. Esse diagnóstico dos alunos que compõem a turma vem fornecer dados para melhorar e corrigir o que já havia sido previamente organizado. 34 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação geralmente não sejam voltadas a propósitos didáticos, podem fornecer alguns dados referentes à faixa etária, formação anterior, e outros aspectos pessoais dos estudantes; 2) na primeira aula com a turma através da aplicação de questionários ou com uma conversa de apresentação com questões pré- definidas, dependendo do tamanho do grupo. Modelos de questionários e ações práticas para esse diagnóstico serão trabalhadas mais detalhadamente no Capítulo 5 deste Caderno de Estudos, destinado exclusivamente à Metodologia. Há professores que consideram essa estratégia de buscar saber o que os alunos conhecem sobre o assunto a ser estudado ou quais suas expectativas frente ao curso escolhido como “perda de tempo”. No entanto, esse tempo investido em conhecer quem são os sujeitos que estão naquela sala de aula pode ser de fundamental importância para garantir uma relação de ensino e aprendizagem mais fecunda e válida. Aliás, esse conhecimento apenas inicia na primeira aula. É preciso que o professor esteja em contínuo processo de busca por conhecer seus alunos, favorecendo o aprendizado dos mesmos. A disposição do professor para conhecer seus alunos como indivíduos deve estar impregnada de sensibilidade e de discernimento, a fim de evitar generalizações excessivas e de afogar a percepção que ele tem dos indivíduos num agregado indistinto e pouco fértil para a adaptação de suas ações. [...] A aquisição da sensibilidade relativa às diferenças entre os alunos constitui uma das principais características do trabalho docente. Essa sensibilidade exige do professor um investimento contínuo e a longuíssimo prazo, assim como a disposição de estar constantemente revisando o repertório de saberes adquiridos por meio da experiência. (TARDIF, 2005, p. 268). É importante também que professor e alunos tenham bem claro o que se espera um do outro em sala de aula. Delimitar já nos primeiros contatos as regras de convivência e o que o professor também espera dos alunos faz parte do processo de construção de um perfil que se quer definir na turma. Como afirma Perrenoud (2000, p. 73), em cada classe há um contrato pedagógico e didático pelo menos implícito, que fixa certas regras do jogo em torno do saber, impedindo o professor, por exemplo, de colocar questões sobre assuntos ainda não abordados, ou o aluno de perguntar constantemente por que se estuda isto ou aquilo. É preciso que o professor esteja em contínuo processo de busca por conhecer seus alunos, favorecendo o aprendizado dos mesmos. É importante também que professor e alunos tenham bem claro o que se espera um do outro em sala de aula. 35 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 Esse contrato pedagógico e didático procura deixar claro também a exigência do cumprimento de horários e datas, comportamentos considerados adequados em sala de aula, e uma série de pequenas questões que permeiam o dia-a-dia acadêmico – contrato este que pode ser construído e melhorado à medida que se conhece o perfil dos alunos, buscando aliar interesses pessoais e coletivos. No decorrer das aulas, o professor passará a conhecer melhor seus alunos e a categorizá-los inconscientemente segundo uma série de características comportamentais. McKeachi (2002, apud GIL, 2011b, p. 50-51) elenca em seus estudos uma série de comportamentos de alunos que muito professores podem considerar problemáticos. Eles podem ser irritados, agressivos e desafiadores; que procuram chamar a atenção e dominar as discussões; desatentos; que não se preparam para as aulas; desanimados; lisonjeadores e trapaceiros; que lutam com muitas dificuldades; com desculpas; estudantes que querem a verdade e estudantes que admitem que tudo é relativo; estudantes com problemas psicológicos. Reconhecer que os estudantes são diferentes entre si e que estas diferenças podem de certa forma ser previstas representa um ponto muito importante em favor do professor. Mas o que mais lhe interessa é conhecer cada estudante, suas características sociais, traços de personalidade, interesses, expectativas, aspirações, temores, conhecimentos, habilidades e competências. (GIL, 2011b, p. 51-52) Por isso, é importante que o professor não se deixe levar por definições preconceituosas e sinta-se apto a enfrentar qualquer situação, mesmo as que lhe pareçam mais adversas e difíceis. Lidar com seres humanos é função que exige habilidades muitas vezes adquiridas apenas com o tempo e com a experiência. Entender que os alunos, independente do nível educacional que estejam frequentando, são pessoas dotadas de características que merecem ser entendidas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem já é um grande avanço na busca por uma escolaridade mais justa e séria. Antonio Carlos Gil, em seu livro “Didática do Ensino Superior”, dedica um único capítulo sobre o relacionamento entre alunos e professores. O autor dá dicas de como relacionar-se com alunos cujo comportamento pode ser entendido como difícil ou problemático. GIL, Antonio Carlos. Como se relacionam professores e estudantes. In:Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2011b. p. 56-78. Lidar com seres humanos é função que exige habilidades muitas vezes adquiridas apenas com o tempo e com a experiência. 36 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação Atividade de Estudos: 1) Diante da sua própria história de estudante, lembre-se de como você se posicionava como aluno. Que características você costumava apresentar em sala de aula? Como você se vê como aluno nos dias de hoje? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Os professores que fizeram parte de sua vida escolar e acadêmica preocupavam-se em saber quem eram os alunos com os quais eles estavam trabalhando? Você acredita que isso pode ser considerado um diferencial na formação de uma pessoa? O fato de um professor ter uma atitude empática, ou seja, de colocar- se no lugar do aluno, pode fazer alguma diferença na formação escolar ou acadêmica de um estudante? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 37 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 1 Algumas Considerações Caro estudante, este primeiro capítulo do seu Caderno de Estudos pode lhe parecer um tanto denso. Realmente, ele busca se fundamentar em teorias e em estudos mais aprofundados, “saberes” sobre professores e alunos: quem eles são, como pensam, como agem... Parar para pensar na profissão professor e no seu objeto de trabalho, o aluno, é importante para podermos trazer à razão pontos que ficam esquecidos ou são negligenciados. É possível perceber, no decorrer do texto, como é difícil separar o professor do aluno ou vice-versa. São dois sujeitos diferentes, mas que se completam para o efetivo exercício do binômio ensino-aprendizagem. Como diz o poeta Vinicius de Moraes, “não há você sem mim e eu não existo sem você”. O próximo capítulo do seu Caderno de Estudo ainda vem com uma carga teórica, visando levá-lo a compreender como a aprendizagem pode ser entendida sob diferentes óticas. Os demais capítulos são mais práticos e visam orientá-lo com ações que podem contribuir com uma formação docente que, como foi vista, já começou há muito tempo! Obrigada e bons estudos! Referências BARRETTO, Elba Siqueira de Sá. Trabalho docente e modelos de formação: velhos e novos embates e representações. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, v. 40, n. 140, Ago. 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742010000200007&lng=en&n rm=iso>. Acesso em 17 de maio de 2011 http://dx.doi.org/10.1590/S0100- 15742010000200007. BRASIL, Lei no 12.014, de 06 de agosto de 2009. Altera o art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que se devem considerar profissionais da educação. Diário Oficial. Brasília, DF, 09 de ago. 2009. BRASIL, Lei no 3.276, de 06 de dezembro de 1999. Dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação básica, e dá outras providências. Diário Oficial. Brasília, DF, 09 de dez. 1999. 38 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação BRASIL, Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial. Brasília, DF, 23 de dez. 1996. CHARLOT, Bernard; SILVA, Veleida Anahí da. De Abelardo até a classificação de Xangai: as universidades e a formação dos docentes. Revista Educar. Curitiba, n. 37, Maio 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-40602010000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 17 de maio de 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602010000200004. DAVIS, Claudia et al. Posturas docentes e formação universitária de professores do ensino fundamental. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, v. 37, n. 130, jan./ abr. 2007. p.227-245. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0100-15742007000100011&lng=en&nrm=iso. Acesso em 16 de maio de 2011. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742007000100011. GIL, Antonio Carlos. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2011b. GIL, Antonio Carlos. Metodologia do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2011a. PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar: convite à viagem. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. TARDIFF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. CAPÍTULO 2 Bases Teóricas da Construção do Conhecimento: como Acontece a Aprendizagem A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer concepções de ensino/aprendizagem; 9 Desenvolver ações de ensino/aprendizagem pautadas nas teorias. 40 Organização do trabalho pedagógico na sala de aula: planejamento, metodologia e avaliação 41 Metodologia: O Fazer na Prática Docente, Estratégias e Recursos Didáticos para a Dinâmica entre Ensino e Aprendizagem Capítulo 2 Contextualização • Você já parou para pensar sobre como se dá a aprendizagem? • Já se perguntou como aprendemos sobre o mundo, como adquirimos conhecimentos? • Será que a habilidade de aprender na idade adulta é semelhante à da infância? • O que nos torna capazes de aprender? • Por que alguns assuntos são tão difíceis de serem entendidos e outros tão mais fáceis? Questões como essas precisam estar tão presentes no cotidiano de professores quanto seus questionamentos sobre o conteúdo a ensinar. Um profissional de ensino que se preocupa em saber como as pessoas aprendem é um professor que busca nas suas práticas ações que visam atender a essa preocupação. Pois quando se sabe como se dá a aprendizagem, organiza-se de maneira a promover efetivamente o aprendizado. O Capítulo que se inicia apresentará a você algumas teorias que explicam como o aprendizado acontece. Não é o objetivo deste material tratar com profundidade cada teoria, pois a proposta desse Capítulo é apenas situá-lo no terreno das teorias sobre o aprendizado para que você possa ter algum posicionamento sobre as questões apontadas acima. Desejo a você bons estudos! A Aprendizagem O que é aprender? Como é possível saber se aprendemos? Há muitas definições sobre aprendizagem, mas, de modo geral, pode-se resumir dizendo que aprender é quando passamos a saber algo ou a saber fazer alguma coisa, quando temos posse ou dominamos um assunto ou uma ação em questão, quando determinada postura ou tipo de atuação passa a fazer parte tanto do nosso entendimento como do nosso comportamento. “A aprendizagem é concebida
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