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Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Neoplasias de próstata e bexiga A próstata é o um órgão piramidal com a base em contato com a bexiga tendo relação com a uretra também, e o seu ápice voltado para baixo abrigando a parte distal da uretra, a parte mais central tem uma intima relação com a parte proximal da uretra prostática (acometimentos na parte central tem relação com alterações no fluxo urinário) e a junção dos ductos seminais, possui ainda uma zona de transição e uma periférica. Mostrou uma imunohistoquímica de uma próstata normal com as células basais (marcadas com um marcador nuclear na imagem), além de células mioepiteliais, na segunda imagem vemos uma marcação corando o citoplasma das células basais, e na terceira foto vemos um PSA deflagrando o aspecto secretor dessas células. Em se tratando de nódulo prostático, temos como grande entidade as proliferações benignas, que são as hiperplasias prostáticas benignas mioadenomatosas, apesar desse nome hiperplasia benigna de próstata ser bastante utilizado na prática, o nome correta é hiperplasia prostática mioadenomatosa, pois o que observamos na macro e na micro é uma hiperplasia e hipertrofia dos componentes estromais e acinares da próstata, vemos um aumento com formato multinodular com o aumento da região mais central (parte de transição bem acometida), evoluindo para sintomas urinários, como gotejamento, jato fraco, sensação de bexiga cheia, urinar várias vezes ao dia, pode levar a uma hipertrofia da bexiga, etc. Na macroscopia vemos a estrutura básica da próstata relativamente mantida, um estroma esponjoso, com aspecto microcístico com a uretra no meio, e no corte histológico vemos os ácinos proliferados e dilatados, e quando aproximados vemos que eles mantem a estrutura normal e não possuem atipias. Na outra imagem vemos um aspecto nodular da próstata, comprimindo a uretra. A hiperplasia prostática atinge homens após os 50 anos de idade, com proliferação estromal e epitelial com predomínio na regiao central e na zona de transição (região periuretral), que com o passar do tempo corre com obstrução parcial do fluxo urinário, aparecendo diferentes sinais e sintomas, como aumento da frequência urinária (número de vezes), noctúria, dificuldade de iniciar e parar a urina, jato fraco, disúria e retenção urinária (pode levar a uma hipertrofia e distensão da bexiga). A patogênese está relacionada com o receptor de andrógenos, tanto das células epiteliais quantos estromais, e, provocam o crescimento das células, na imagem Lucas Melo – Medicina Ufes 103 abaixo vemos que a próstata é tão hiperplásica que parece que possui um outro lóbulo, cresceu tanto que formou um abaulamento para dentro da bexiga, que também possui um cálculo. O tratamento da hiperplasia é a ressecção transuretral, pode ser feito transvesical também, mas é menos comum, na transuretral resseca a região central da próstata que está acometida pela doença, e os sintomas urinários vão ser aliviados, o que sai desse procedimento são cilindros de diversos tamanhos que vão ser avaliados do ponto de vista histológico para ser descartada outra enfermidade que não seja a hiperplasia. Na microscopia, vemos os ácinos prostáticos dilatados, muitas vezes tem uma projeção papilar hiperplásica para a luz e um material róseo lamelar, e sempre com uma dupla camada de células. Adenocarcinoma de próstata: O diagnóstico desse possui alguns critérios que o sustentam, como toque retal, PSA (total e livre), RNM (pode ser utilizada ou não) e biópsia de próstata (padrão ouro para definir), quando falamos de adenocarcinoma, estamos nos referindo ao adenocarcinoma acinar, e dentro desse existem algumas variantes e alguns graus de apresentação, mas, ainda existem outros tipos, como o adenocarcinoma intraductal, ductal, carcinomas uroteliais, adenoescamosos, que são formas mais raras. Alguns tumores neuroendócrinos são relatados na próstata, podendo ser de grandes e pequenas células e podem ser bem diferenciados. Screening: O câncer de próstata é o mais comum em homens (tirando os carcinomas de pele), fazendo o Screening pelo PSA, toque retal e ressonância, mas esse protocolo pode mudar um pouco, homens com história familiar, da raça negra, a idade do rastreamento pode ser antecipada. O PAS é produzido pelas células epiteliais da próstata, vão para o lúmen e parte sai com a ejaculação e parte está na corrente sanguínea ligado a proteínas plasmáticas e livre, na próstata normal, hiperplásica e prostatites, pode ter um aumento do PAS (não existe um valor que defina claramente se é benigno ou maligno, quanto maior o valor, maior a chance de ser um processo maligno), mas, algumas coisas são importantes de serem avaliadas em relação ao PSA, o seu valor absoluto, a porcentagem que está livre e, em exames seriados, qual foi a velocidade do crescimento desse PSA. No câncer, por algum motivo que não foi explicado, além da ruptura da membrana basal e a secreção maior do PSA para dentro do capilar (aumentando o PSA circulante), há uma Lucas Melo – Medicina Ufes 103 maior afinidade desse PSA pelas proteínas plasmáticas, então há uma proporção de PSA livre em menor quantidade, pois, uma maior proporção vai estar ligada em nas proteínas plasmáticas, já que a afinidade por elas está maior (quando a proporção está menor que 10%, a biopsia é realizada). O carcinoma prostático predomina na região periférica da próstata, em especial na região posterior, por isso que a realização da biopsia guiada pelo ultrassom é um excelente exame, pois identifica com bastante nitidez essa região da próstata, e vai fazer a coleta do material de cada parte da próstata do lado esquerdo e do lado direito. O patologista faz a marcação das áreas com tumor dos fragmentos retirados na biópsia, como mostra a imagem ao lado. A quantificação do tumor é importante para saber se o paciente vai permanecer numa vigilância ativa (clinicamente é um tumor insignificante pois é pequeno e de baixo grau) ou se ele é um tumor muito grande de alto grau. Quando há pelo menos 1 fragmento com mais de 50% de acometimento, não é mais um câncer insignificante. Se houver mais do que 3 fragmentos acometidos ou se a graduação de Gleason for acima de 7, também não são mais insignificantes. Um carcinoma de próstata insignificante tem um toque retal normal, um PAS abaixo de 10, acometimento de no máximo 2 fragmentos da biópsia com nenhum com mais de 50% de acometimento e grau de Gleason é 6. É na biópsia de próstata que se analisa o grau de Gleason, a graduação ISUP é uma forma de você dar um parâmetro melhor de prognóstico, a estimativa de tamanho deve ser dada em mm e % para cada fragmento, se há achados de piro prognóstico como associação com carcinoma periductal, invasão perineural, angiolinfática e se tem invasão extra prostática. O grau de Gleason vai de 1 a 5 e o final é dado, na biópsia, pela soma do mais frequente com o pior grau, e, na ressecção operatória, a soma é feita com o primeiro mais frequente e o segundo mais frequente. O que mais se vê é o grau 3, com as glândulas de aspecto normal, com o lúmen dilatado, mas nunca com aspecto cribriforme, que classifica grau 4, e nunca com necrose, que classifica grau 5. Se você tiver uma biópsia de ressecção operatória com 60% de grau 3 e 40% de grau quatro, a soma dos graus vai das 7, mas se você tiver ainda uma biópsia com 60% de grau 4 e 40% de grau 3, a soma ainda vai dar 7, porém a interpretação é diferente, ou seja, para os graus de Gleason, 3+4 é diferente de 4+3, lembrar que o primeiro número é o 1º mais frequente e o segundo é o 2º mais frequente. Nódulos esbranquiçados, mal delimitados, sólidos, foscos e mais brancos quando malignos e mais amarelados e brilhantes) quando benignos, além disso, pode haver um borramento na região da capsula, mostrando a má delimitação. Na segunda imagemvemos um nódulo dominante, maior que os outros. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Na primeira imagem conseguimos ver a interface entre o tumor (lado esquerdo), com a próstata normal (lado direito). Na parte do tumor vemos uma textura mais rígida, com glândulas dilatadas, uma aproximação das glândulas. Na segunda imagem, vemos algo mais aproximado com glândulas interanastomosantes, não sabemos onde começa uma e termina outra, caracterizando grau 4 e vemos células com núcleos grandes e nucléolos evidentes e a ausência de células basais. Nessa imagem é melhor para ver as células com núcleos grandes, nucléolos evidentes, a ausência de células basais, com apenas uma camada de células. Na segunda imagem vemos um grau 5, muito menos diferenciado, formando fileiras infiltrando o estroma e sem a evidencia de formação de túbulos. Nessas imagens, conseguimos ver um ácino normal com uma dupla camada de células, e logo abaixo dele uma parte com câncer, onde já não há células basais e a aparência da região é diferente, vemos uma estrutura mais rígida. A segunda imagem mostra no maior aumento, onde vemos uma camada só de células se comparado com a região de cima, que tem duas camadas, com células de núcleos grandes e ácinos um perto do outros. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Na imagem ao lado vemos uma invasão perineural, que é uma característica de malignidade. Nos tumores muito bem diferenciados, pode haver uma dificuldade em fazer o diagnóstico, e, por isso, a IHQ vai ser muito importante para realçar essa presença ou não de células basais (os marcadores são P63 e citoqueratina de alto peso molecular), e a ausência dessas células basais nos indica a malignidade do processo. Uma lesão que é dita como precursora do adenocarcinoma é a neoplasia intraepitelial da próstata, que pode ser de baixo ou alto grau, o mais relatado é o de alto grau, com presença de células basais com mais de duas camadas de células, com a presença de nucléolos, quando bem visto, é uma PIN de alto grau, e quando o nucléolo não é bem visto, é uma PIN de baixo grau. A presença de PIN sem adenocarcinoma, indica que esse paciente deve ser acompanhado pois tem uma tendência a evoluir com adenocarcinoma. Carcinoma intraductal de próstata é uma neoplasia que lembra muito o carcinoma intraductal de mama, possui um padrão sólido ou cribriforme, com alto pleomorfismo e região central de necrose, pode estar associado com o adenocarcinoma, conferindo um prognóstico ruim. O estadiamento é feito na peça cirúrgica e o principal indicativo é a ausência de invasão extraprostática, pode ter invasão da gordura do local, glândula seminal, etc. Tumores de baixo grau e pequenos se relacionam com a característica de serem restritos a próstata. De maneira geral o adenocarcinoma de próstata possui um prognóstico bom, quando ele é local ou regional, o que é diferente quando ele é avançado e possui metástases para outros órgãos, tendo uma sobrevida em 5 anos muito baixa. Neoplasias de bexiga Das neoplasias de bexiga, o que é realmente significativo são as uroteliais, que são divididas em não invasivas e invasivas, que ainda são divididas em planas, papilares e com crescimento invertido. Outras neoplasias uroteliais da bexiga ocorrem, mas são raras, como adenocarcinomas, etc. A divisão fundamental ocorre de acordo com a apresentação macroscópica da lesão, lesões planas (não forma vegetações) são ditas em displasias uroteliais, quando elas são de um grau maior são classificadas como um carcinoma urotelial in situ, as lesões papilares formam uma vegetação para dentro da luz da bexiga, temos desde as mais benignas, como os papilomas uroteliais, até as com um maior grau, que são os carcinomas uroteliais papilares de alto grau, ainda há as lesões com o crescimento invertido, que tem a mesma classificação das papilares, mas ao invés de ter o crescimento para a luz, elas crescem para dentro do estroma. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Nessa imagem vemos que tanto as lesões planas quanto as lesões papilíferas podem se tornar invasivas. A displasia urotelial é caracterizada por lesões benignas reativas hiperplásicas do urotélio, possuem um aumento do número da camada de células e uma despolarização dessas células em relação a camada basal (células bagunçadas), quando isso está muito mais bagunçado e as células aparecem com núcleos grandes e nucléolos associados, temos o carcinoma urotelial in situ, tanto que, de 5 a 20% das displasias uroteliais evoluem para carcinoma. Nesse caso, possui uma expressão aberrante de CK20 (no urotélio normal está só na borda e nos carcinomas in situ está em toda a espessura de células) e p53. Imagem abaixo mostra o carcinoma urotelial in situ, com células com núcleos grandes, não há uma organização das células da base para o ápice, núcleos hipercromáticos e pleomórficos, frequentes figuras de mitose, núcleos vesiculosos, etc. É uma lesão plana, apoiada sobre a membrana basal, sem invasão, acometendo mais homens de 50 a 70 anos, e, 50% dos carcinomas in situ evoluem para carcinomas invasivos em 5 anos. Carcinoma urotelial papilar de baixo grau possui alguma polaridade das células ao longo das camadas e um crescimento leve a moderado dos núcleos, atipias leves e moderadas, vemos um eixo fibrovascular preenchido pelas células, mais comuns no trígono vesical e hematúria é comum (as 3 causas de hematúria macroscópica mais importantes são tumor em bexiga, cálculo renal e tumor de rim). O grande ponto é que os de baixo grau possui uma pequena porcentagem de progressão, mas possui uma alta porcentagem de recorrência, ela pode recorrer da mesma forma, mas em 5% dos casos ela vai progredir, aumentando o grau. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 A primeira foto é de um de baixo grau e a segunda foto é de um de alto grau. O carcinoma urotelial papilar de alto grau não invasivos possui figuras de mitose, células grandes com núcleos bizarros dispostas de maneira irregular entre as camadas, na foto ainda respeita a membrana basal, mostrando que não há invasão (que ´um ponto importante a ser descartado), e mesmo que tenha áreas de baixo grau, se tiver uma área de alto grau, é classificado como o pior. Eles têm uma recorrência alta e pode progredir para uma forma invasiva de 15 a 40% dos tumores. Em relação ao papiloma invertido, a graduação de alto grau e baixo grau se relaciona com o grau de atipia celular e precisa ter um diagnóstico diferencial para neoplasias invasivas, vemos um crescimento de cordões anastomosantes para dentro da parede da bexiga, e se fizermos uma coloração para ver membrana basal, vamos ver que ela ainda está preservada, são raros e, normalmente, se apresentam como lesões pequenas. O carcinoma urotelial invasor é apresentado por lesões que o timing do diagnóstico pe importante, pois proliferam rápido e invadem muito, com um tratamento por cirurgia ampla muito agressiva. Tem duas vias moleculares, uma vem das lesões Lucas Melo – Medicina Ufes 103 hiperplásicas papilares, relacionada com os genes HRAS/EGFR, e a outra vem das lesões displásicas planas, principalmente relacionadas ao gene p53/RB. Mais comuns em homens a partir de 50 anos de idade e pode ser esporádico com fatores de risco relacionados com tabagismo, compostos químicos, tintura de cabelo, corantes, uso crônico de AINES, radiação etc. Macroscopicamente tem uma característica vegetante de aspecto papilar, friável, lesões de grande volume ocupando grande parte da cavidade, na imagem vemos uma lesão necrótica, infiltrativa, ulcerada, e vemos que, evidentemente, hematúria vai ser um evento comum. Microscopicamente vemos células infiltrando estroma e lâmina própria, e na imagem, vemos a camada muscular própria envolvida também, a identificação da invasão dessa é importante, pois marca o tratamentoque vai ser seguido, lesões superficiais invasoras vão ter um tratamento mais conservador, lesões que invadem a muscular, vão ser tratadas de forma mais radical. O carcinoma urotelial papilar é o mais frequente e possui uma diferenciação divergente, a mais comum é a diferenciação glandular e escamosa (essa confere uma resistência maior ao tratamento), se tiver grandes áreas de proliferação escamosa, tem que pensar se não é um tumor de colo de útero invadindo a bexiga. Outras diferenciações que conferem um prognóstico ruim, mas são mais raras, são as sarcomatoide e trofoblástica. O carcinoma urotelial pode ser localizado (sobrevida variando de 69-95% em 5 anos), regional (35% em 5 anos) ou com metástases a distância, esse é o pior tipo, com menor tempo de sobrevida, até 5% em 5 anos.
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