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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ESCOLA DE EDUCAÇÃO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA LAURA ESPERANÇA DE FREITAS BATISTA A EJA E O MERCADO DE TRABALHO: problematização de uma relação unilateral Volta Redonda 2020 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ESCOLA DE EDUCAÇÃO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA LAURA ESPERANÇA DE FREITAS BATISTA A EJA E O MERCADO DE TRABALHO: problematização de uma relação unilateral Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro de Ciências Humanas da UNIRIO, como requisito para obtenção do grau de Pedagogo. Orientadora: Profª Msc. Patrícia Carla Vieira Romão Botelho Volta Redonda 2020 LAURA ESPERANÇA DE FREITAS BATISTA A EJA E O MERCADO DE TRABALHO: problematização de uma relação unilateral Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro de Ciências Humanas da UNIRIO, como requisito para obtenção do grau de Pedagogo. Data da apresentação ___ / ____ / _____ Banca examinadora: ________________________________________ Profª Msc. Patrícia Carla Vieira Romão Botelho ________________________________________ Segundo(a) examinador(a) ________________________________________ Terceiro(a) examinador(a) Volta Redonda 2020 AGRADECIMENTOS À causa de todos os professores, no comprometimento de construir uma educação igualitária, inclusiva, crítica e de qualidade. A toda a equipe do Curso de Pedagogia; à parceria da UNIRIO com o CEDERJ me permitiu esta formação. Além disso, esta graduação me trouxe a persistência e resistência como atuante na educação brasileira. E por fim, e especialmente, a todas as crianças, adolescentes e adultos. Sinto-me preparada para servir, mediar e, juntos, alcançar a tão sonhada educação libertadora que Paulo Freire nos ensinou. A EJA E O MERCADO DE TRABALHO: problematização de uma relação unilateral LAURA ESPERANÇA DE FREITAS BATISTA Orientadora: Prof.ªMsc.Patrícia Carla Vieira Romão Botelho Resumo O presente trabalho foi inspirado em uma vivência, a partir do campo de estágio Módulo II no curso de Pedagogia, onde se observou a proposta educacional para a Educação de Jovens e Adultos direcionada predominantemente para o mercado de trabalho. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo analisar como ocorre a formação atual dos alunos na modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos, para propor uma reflexão aos professores que dela participam, à luz dos ensinamentos de Paulo Freire. O principal referencial teórico é Paulo Freire, que propõe metodologias alfabetizadoras comprometidas com a emancipação e a libertação de jovens e adultos. A metodologia aqui apresentada abrange a revisão bibliográfica, por possibilitar o acesso à contribuição de autores experientes no assunto para posterior análise e discussão. Os principais resultados aqui encontrados revelam a urgência de uma ressignificação acerca das metodologias adotadas no processo alfabetizador da EJA. Palavras-chave:EJA.Problematização.Mercado de Trabalho (trabalho). Unilateralidade. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 1 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 8 1.1 Paulo Freire, vida e obra............................................................................................... 8 1.2 Um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil ............................... 11 1.3 O ensino-aprendizagem de jovens e adultos no Brasil .............................................. 14 1.4 Exemplificando novas propostas para o trabalho com a Educação de Jovens e Adultos.................................................................................................................................... 18 2 METODOLOGIA .................................................................................................... 21 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 23 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 25 7 Introdução O presente artigo científico tem como motivação, o acompanhamento feito por meio do estágio durante o Módulo II do Curso de Pedagogia. Este módulo de estágio teve como objetivo acompanhar as aulas na modalidade de Educação para Jovens e Adultos (EJA), ministradas em uma escola municipal, localizada na cidade de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. No decorrer das atividades pedagógicas programadas pela equipe da escola, foi observado o pensamento e a preocupação dos alunos da EJA, em alcançar a autonomia da escrita e da leitura, como mecanismos sociais fundamentais para o mercado de trabalho, o que chamou a atenção para esta questão. Diante do objeto exposto, pôde-se levantar algumas problemáticas em torno da relação entre os alunos da modalidade EJA e o mercado de trabalho, dentre as quais destacamos:em que medida o conteúdo programático desenvolvido para os alunos da EJA relaciona-se ao mercado de trabalho? Existe um espaço no mercado de trabalho que empregue o aluno desta modalidade de ensino? As exigências do mercado de trabalho estão alcançando os planos pedagógicos desenvolvidos para os alunos? Uma vez concluído o ensino básico na modalidade EJA, de que maneira o mercado de trabalho recebe esse aluno? Objetivo Geral • Analisar como ocorre a formação atual dos alunos na modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos, em relação ao mercado de trabalho, para propor uma reflexão aos professores que dela participam, à luz dos ensinamentos de Paulo Freire. Objetivos Específicos • Problematizar a relação unilateral entre o cumprimento do ensino básico na modalidade EJA e as exigências do mercado de trabalho. • Apresentar novas maneiras de trabalhar a modalidade EJA, à luz dos ensinamentos de Paulo Freire. O presente artigo tem como justificativa, a importância de se levar acadêmicos e profissionais da educação a uma reflexão profunda sobre como são desenvolvidos atualmente 8 os conteúdos programáticos para os alunos da EJA e como poderia ser mais significativa esta proposta para a vida desses estudantes, de maneira que não fosse vista apenas como uma obrigatoriedade para o mundo do trabalho. 1 Referencial Teórico Neste capítulo será feita uma apresentação geral do educador Paulo Freire, de sua vida e algumas obras relevantes para a temática aqui abordada. Será apresentado um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil e como tem acontecido o processo de ensino-aprendizagem nesta modalidade atualmente no Brasil. 1.1. Paulo Freire, vida e obra Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, capital de Pernambuco em 1921. Filho de militar e de uma dona de casa, Paulo Freire iniciou os primeiros contatos com a educação em seio familiar. Para auxiliar financeiramente em casa, sua irmã dedicou-se à educação primária. O educador vivenciou uma profunda crise econômica brasileira, em 1929. Sua família passou por dificuldades, que o inspirou a preocupar-se com os mais pobres e revolucionar os métodos de alfabetização de forma contextualizada. Passada a crise, em 1943, dedicou-se à Faculdade de Direito. Redirecionouos conteúdos apreendidos em educação, e lecionou como professor de linguagens em turmas do segundo grau. A partir dessa primeira atuação, Paulo Freire dedicou-se inteiramente à educação e à filosofia brasileira. Passou a escrever, publicar, atuar e revolucionar os métodos pedagógicos brasileiros. No período de ditadura militar foi exilado, e permaneceu revolucionando e reformulando práticas pedagógicas em terras estrangeiras. Atualmente, Paulo Freire é reconhecido e recomendado por toda prática nacional de educação, sendo celebrado internacionalmente, pelos seus métodos e práticas para a Educação. Neste artigo são referenciadas algumas de suas obras fundamentais que auxiliam o processo de alfabetização dos alunos da EJA e sua autonomia para além do mercado de trabalho. Em sua obra “A importância do ato de ler” (FREIRE, 1989), organizada em palestras realizadas internacionalmente, Paulo Freire nos ensina que a leitura da palavra é para além de um movimento de codificação e decodificação. O ato de ler procede da leitura do mundo. O autor faz uma breve relação prática entre as palavras escritas e sua vivência infantil, 9 exemplificando ao leitor a possibilidade de utilizar a palavra escrita na descrição de sua infância. Existe uma relação íntima entre a palavra lida e escrita e o contexto vivido. Paulo Freire nos explica como ocorre essa relação quando diz: “É como se eu estivesse fazendo a “arqueologia” da minha compreensão do complexo ato de ler, ao longo de minha experiência existencial. Daí que tenha falado de momentos de minha infância, de minha adolescência, dos começos de minha mocidade e termine agora revendo, em traços gerais, alguns dos aspectos centrais da proposta que fiz no campo da alfabetização de adultos há alguns anos.” (FREIRE, 1989, p.12) Nessa mesma obra, Paulo Freire nos convida a pensar na educação como um ato político. O autor nos alerta para a impossibilidade de ocorrer neutralidades no processo educativo. “...Neste sentido é que todo partido político é sempre educador e, como tal, sua proposta política vai ganhando carne ou não na relação entre os atos de denunciar e de anunciar. Mas é neste sentido também que, tanto no caso do processo educativo quanto no do ato político, uma das questões fundamentais seja a clareza em torno de a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, fazemos a educação, e a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, desenvolvemos a atividade política. Quanto mais ganhamos esta clareza através da prática, tanto mais percebemos a impossibilidade de separar o inseparável: a educação da política. Entendemos então, facilmente, não ser possível pensar, sequer, a educação, sem que se esteja atento à questão do poder.” (FREIRE, 1989, p.15) Em sua obra “Educação e Mudança” (2002), Paulo Freire nos ensina a considerar a importância de sua perspectiva, em que pese a educação como instrumento de transformação social. Sob essa perspectiva, para Freire, a educação deve aspirar à libertação, à construção de uma nova realidade, para torná-la possível e alcançável, possibilitando assim que sujeitos sejam reconhecidos como protagonistas de sua história. Paulo Freire nos ensinou que a educação possibilita a leitura crítica do mundo. Para Paulo Freire (2002, p. 72) “a alfabetização é mais que o simples domínio mecânico de técnicas para escrever e ler”. O autor preocupa-se com a construção de uma aprendizagem significativa, principalmente em torno à escolarização de jovens e adultos. Freire propõe-se em relacionar o processo de alfabetização, à uma nova concepção de mundo, para, enfim, possibilitar às rédeas de seu próprio destino. Assim sendo, pode-se dizer que para o educador Paulo Freire, o mundo se apresenta ao mesmo tempo como inacabado e injusto. A educação é um movimento que age na denúncia da realidade. O papel do educador é o de desejar uma sociedade melhor. A mediação de um 10 novo projeto societário deve ser a utopia do profissional da educação. A utopia é o campo da busca e, ao ressignificar a realidade social, busca-se outra. “Nosso desafio é organizar o procedimento utópico sem sufocar a capacidade utópica” (FREIRE, 2002, p. 43). Sendo assim, o educador tem como o objetivo realizar o sonho de transformação de homens e mulheres protagonistas de suas histórias presentes e futuras. Diante disso, podemos perceber que a filosofia educacional de Freire se constitui em duas vertentes primordiais: a conscientização e o diálogo. Em “Pedagogia da autonomia” (2000) o educador deve conduzir o educando à leitura do seu contexto histórico e social, seu espaço, suas histórias e sua vida como um todo.Tudo isso deve ser ponto de partida e ponto de chegada para a aprendizagem. É preciso valorizar o saber de todos; o conhecimento que o aluno traz de seu meio não pode ser negado. Nesse sentido, no conceito de Freire, tanto o aluno quanto o professor são transformados em pesquisadores críticos. Seu convite ao alfabetizando adulto é, inicialmente, para que ele se veja enquanto homem ou mulher vivendo e produzindo em uma determinada sociedade. Ele convida o analfabeto a sair da apatia e do conformismo; desafia-o a compreender que ele próprio também é um fazedor de cultura. A educação teria o papel de libertar os sujeitos de uma consciência ingênua, herança de uma sociedade repressora, agrária e oligárquica, transformando-a em consciência crítica. Em relação ao papel da educação na sociedade dentro da perspectiva para Freire, deve-se valorizar o analfabeto, como alguém capaz de produzir conhecimentos; a educação deveria ter um caráter de diálogo e não ser resumida à uma relação “cliente – banco”. De acordo com Freire a educação possibilita um novo sentido ao ser humano, uma vez que, este se caracteriza como protagonista de suas mudanças históricas. “Somos ou nos tornamos educáveis porque, ao lado da constatação de experiências negadoras da liberdade, verificamos também ser possível a luta pela liberdade e pela autonomia contra a opressão e o arbítrio” (FREIRE, 2000, p. 121). Quando pensamos no tema da Educação no Brasil, especificamente da Educação de Jovens e Adultos, não é demasiado salientar, que a perspectiva da educação brasileira não seria a mesma sem a ótica social de Freire. Convém notar que o educador criou uma proposta para a alfabetização de adultos, que inspira até os dias de hoje diversos programas de alfabetização e educação popular. 11 Neste mesmo viés, cabe ressaltar que a educação é um instrumento de inclusão social, que comporta mudança na vida de todas as pessoas, independentemente da idade ou classe social. Estudar pode não deliberar todos os problemas sociais, nem revogar com a injustiça social, mas é o meio pelo qual a pessoa pode reescrever sua própria história. Ademais, aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever, e sobre o profundo significado da linguagem. A partir desses destaques podemos relacionar a educação alfabetizadora com as exigências do mercado de trabalho. Porém, essa relação limita-se em “obedecer” a esse mercado. Paulo Freire segue sua obra referenciando a educação burguesa como sistematização do ensino. Esse fator permitiu uma reprodução da cultura dominante. Ora, os responsáveis pelas contratações do mercado de trabalho, são os mesmos que ocupam os espaços da burguesia. Assim, a exigência de profissionais alfabetizados, atende somente a uma preocupação, o cumprimento de tarefas voltadas e preocupadas com o trabalho realizado pelo alfabetizado, pouco se importando com sua leitura de mundo, anseios, sonhos e desejos. O autor exige uma posição dos educadores e questiona se nós estamos realmente preocupados com uma educação libertadora, ou com uma educação neutra.O posicionamento do professor frente à educação dirá se sua preocupação é atender ao mercado de trabalho, ou alfabetizar seu aluno para a possibilidade de seu desenvolvimento pleno. 1.2Um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil A gênese da educação voltada para jovens e adultos, ocorreu no processo de colonização com a chegada dos portugueses no Brasil. Em uma ação católica, com o objetivo de inserir a religião a realidade encontrada na colônia, Jesuítas iniciaram o processo de catequização de crianças indígenas e até mesmo índios adultos, numa perspectiva de inserir a cultura do homem branco, tornando-os “civilizados”. O século XVIII foi marcado pela vinda da Família Real ao Brasil. Conseqüentemente esse fator levou a expulsão dos jesuítas. Dessa forma se finda o processo de educação de adultos, até então em formato de catequização eurocêntrica. (STRELHOW, 2010). Tal 12 educação oferecida pela coroa portuguesa preocupava-se somente em uma educação voltada para o processo de colonização. O início da Era Vargas anuncia uma nova proposta educacional de jovens e adultos. Inicia-se a responsabilidade do Estado com a educação. Dessa forma, foi criado o Plano Nacional de Educação comprometido em garantir o ensino primário, integral, gratuito e obrigatório. (FRIEDRICH et.al, 2010). Em 1947 a Campanha de Educação de Adultos possibilitou novas metodologias e discussões pedagógicas acerca do analfabetismo e a educação de adultos no Brasil. (COLAVITTO e ARRUDA, 2014). Em meados do século XX inicia-se uma movimentação governamental voltada para a amenização do analfabetismo da população brasileira. Neste período surgiu o Serviço Nacional da Educação de Adultos (SNEA), comprometido com o ensino Supletivo; Desta maneira, nasce a primeira Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), com o objetivo de combater o analfabetismo em países periféricos; com o primeiro Congresso Nacional de Educação de Adultos e, em 1949, com o Seminário Interamericano de Educação de Adultos. Em 1950 foi materializada a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), concretizada no Movimento da Educação de Base (MEB) (VIEIRA, 2004). Em seguida, no ano de 1967, com a ditadura militar instaurada no Brasil, surge o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que tinha como principal objetivo alfabetizar, de maneira funcional, a educação continuada (STRELHOW, 2010). O Ensino Supletivo ganha notoriedade no início da década de 1970, surgindo em 1971 com Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº. 5.692/71) (BRASIL, 1971). Logo após em 1980 foi instituída a Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos (Fundação Educar), atrelada ao Ministério da Educação, com o objetivo de promover o apoio técnico e financeiro aos projetos de alfabetização em curso (VIEIRA, 2004). Surge então, em 1996 a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (nº. 9.394/96), que concretiza o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao ensino básico, como uma responsabilidade pública e estatal gratuita. Estabelecendo a responsabilidade a organização governamental garantindo o acesso e permanência dos adultos educandos no processo de alfabetização (BRASIL, 1996). 13 A Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, fundada em 2003, criou o Programa Brasil Alfabetizado. Neste programa continha o Projeto Escola de Fábrica, o PROJOVEM, e o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e Adultos (PROEJA) (VIEIRA, 2004). Em 2007, o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), foi aprovado pelo Ministério da Educação (MEC). Sendo assim todas as modalidades de ensino foram incluídas no orçamento dos recursos financeiros educacionais (BRASIL, 2007). Atualmente o adulto analfabeto é estigmatizado como um problema social. O histórico da educação de jovens e adultos no contexto brasileiro é construído partindo de interesses políticos, o que não abrange uma educação comprometida com a emancipação letrada dos alunos atuantes. Resume-se em cumprir uma demanda pré-estabelecida pela Constituição Federal de 1988. As políticas públicas, quando não ineficientes, partem de uma parcela populacional a margem da sociedade. (BRASIL, 1996). Dessa forma, observamos que essas iniciativas não garantem a proposta de inserção social do aluno adulto. . Com o desenvolvimento industrial, é possível perceber uma lenta valorização da EJA. O processo de industrialização gerou a necessidade de se ter mão de obra especializada, para capacitar jovens e adultos, por conta da industrialização dos centros urbanos; a população rural migrou para as cidades, na expectativa de melhor qualidade de vida. Ao chegarem aos centros urbanos, surgia a necessidade de se alfabetizarem, e isso contribuiu para a criação de escolas para adultos e adolescentes. Outro fator preponderante, foi a necessidade de se aumentar a base eleitoral,para sustentação do governo central, pois o voto era apenas para homens alfabetizados. Neste contexto, Paulo Freire foi o responsável por organizar e desenvolver um programa nacional de alfabetização de adultos, que não resistiu ao regime militar, por ser considerado uma ameaça aos interesses do poder em vigor. As principais características das ações do governo em relação à Educação de Jovens e Adultos no século XX foram de políticas assistencialistas, populistas e compensatórias, que não refletiam as reais necessidades dos indivíduos em se integrar verdadeiramente à sociedade, por meio da inclusão educacional. Ao se analisar a trajetória da Educação de Jovens e Adultos (EJA), é possível identificar avanços importantes na direção de seu reconhecimento como direito, para um 14 conjunto expressivo de sujeitos que, por motivos diversos, não tiveram acesso – ou possibilidade de permanência – à um dos bens públicos mais valorizados em nossa sociedade, a Educação. Nas últimas duas décadas, a EJA foi incluída nas pautas e agendas governamentais, na legislação (como uma modalidade da Educação Básica, através da LDB 9.394/96) e no financiamento público, FUNDEB. Pode-se verificar uma expressiva ampliação da oferta nas redes locais de ensino, aproximando governos municipais, estaduais e federais, além das organizações não governamentais e dos movimentos sociais, que acumulam longa trajetória de práticas na área. Contudo, apesar de respeitáveis conquistas, é possível observar que a EJA continua transitando às margens da educação, ocupando, na tradicional hierarquia que conduz o sistema educacional brasileiro, um lugar de pouco valor que, sem dúvida, guarda estreita relação com o lugar social dos sujeitos aos quais se destina. 1.3 O ensino-aprendizagem de jovens e adultos no Brasil Partindo da premissa de contornar a problemática dos baixos níveis de escolarização e analfabetismo da realidade brasileira, a Educação para Jovens e Adultos (EJA), nasceu com o intuito de promover a escolarização de tal público. Esta proposta de ensino é voltada a estes sujeitos subalternos, que não tiveram acesso, por todo um contexto sócio-histórico, ao sistema educacional brasileiro. Impossibilitando-os de obter a superação de sua realidade social, política e econômica, numa perspectiva emancipadora. Por se tratar de jovens e adultos que, em sua maioria, precisam conciliar trabalho e estudo, a modalidade da EJA geralmente ocorre no período noturno e possui uma carga horária menor se comparada ao Ensino Regular. A Educação de Jovens e Adultos é distribuída em etapas ou fases, que facilitam a organização da modalidade. É comum ocorrer variações na definição das etapas do EJA. No entanto, de modo geral, a Educação de Jovens e Adultos possui duas etapas: Etapa I – Ensino Fundamental (Anos Iniciais e Anos Finais): destinada a jovens a partir de15 anos, essa etapa compreende do 1° ao 9° ano do ensino fundamental. São necessários ao menos dois anos para concluir essa fase. Esse momento leva o estudante a iniciar o processo de aprendizado, adquirindo novas formas de aprender e pensar. 15 Etapa II – Ensino Médio: a idade mínima para EJA do Ensino Médio é de 18 anos. Com duração média de 18 meses; a etapa representa a conclusão da educação básica. Nela, o estudante é preparado para o mercado de trabalho e o ingresso na universidade através do vestibular tradicional ou ENEM. Outra classificação comum na EJA é separar os anos do Ensino Fundamental, criando a seguinte categorização: Etapa I – Abrange do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental no ensino regular Etapa II – Corresponde do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental no ensino regular Ensino Médio Importante esclarecer a necessidade de se verificar, se a instituição de ensino possui autorização e reconhecimento da Secretaria de Educação, para emissão dos certificados de conclusão de ensino. (EDUCA MAIS BRASIL, 2008) É possível percebermos um avanço na Educação de Jovens e Adultos, observamos a popularização desta modalidade. A EJA proporciona uma nova forma de organização educacional, rompendo com a padronização sócio-educativa. Agora encontramos pessoas adultas com o propósito de estudar. Dessa forma, observamos os educadores e mediadores comprometendo-se no processo de educar esses jovens e adultos. Esses sujeitos passam a buscar na educação uma forma de contribuir com a transformação social no qual estão inseridos. Portanto, o aluno da EJA vê-se integrado e participante na construção de um novo modelo de sociedade. Segundo Portela (2009), a garantia de diretos não se resume a cumprir as exigências do mercado de trabalho. Agora necessitamos de uma educação que esteja comprometida com o usufruto dos direitos básicos do cidadão. Dentre esses direitos, a alfabetização é uma ferramenta primordial para a inserção social, política, econômica e histórica desses sujeitos. Nesse momento é importante salientar que a formação dos professores, não garantem o exercício dos direitos cidadãos expostos acima. As práticas pedagógicas e metodológicas do profissional de educação necessitam de um comprometimento de ação e reflexão no seu fazer docente. Há de se considerar que esses jovens e adultos analfabetos vivenciam situações cotidianas que envolvem a leitura e a escrita. Portanto, o professor deve apresentar métodos 16 adequados às especificidades do seu aluno jovem e adulto. Dessa forma, o mundo contemporâneo exige dos sujeitos o domínio da alfabetização e letramento, como ferramentas que permitem sua participação democrática. Paulo Freire (1991) nos ensinou a importância do processo de alfabetização contextualizado. Para ele não faz sentido memorizar letras e sons de forma descontextualizada. Vamos destacar o exemplo da frase “Eva viu a uva”. Para o educador, esse processo alfabetizador precisa explorar o contexto em que Eva está inserida, pois a informação contida na frase deve estar vinculada a um contexto real. Sendo assim, o processo de alfabetização defendido por Paulo Freire desconstrói o método tradicional, mecanicista e estático. Dessa forma, o papel do educador na EJA é possibilitar atividades que explorem a alfabetização e o letramento de acordo com o contexto sócio, político e econômico apresentado pelo seu aluno. Partindo do pressuposto que o professor considere seu aluno jovem e adulto analfabeto como protagonista de um saber cultural, o processo de educação alfabetizada se torna expressivo. (GALVÃO; SOARES, 2006). Para isso, o professor da EJA não deve reproduzir as mesmas práticas pedagógicas inseridas na alfabetização de crianças. É preciso buscar novas metodologias sócio-educativas que contemplem a realidade dos discentes jovens e adultos. Livros infantis utilizados no processo de alfabetização de crianças podem desmotivar os alunos da EJA, provocando o abandono escolar. Acerca da metodologia diferenciada a ser utilizada com alunos jovens e adultos, Pinto (1991, p. 86) defende que: “[...] O problema do método é capital na educação de adultos. Nesta fase é um problema muito mais difícil que na instrução infantil, porque se trata de instruir pessoas já dotadas de uma consciência formada, com hábitos de vida e situação de trabalho que não podem ser arbitrariamente modificados. As características fundamentais que devem satisfazer o método são as seguintes: deve ser tal que desperte no adulto a consciência da necessidade de instruir-se e de alfabetizar-se. Deve partir dos elementos que compõem a realidade autêntica do educando, seu mundo de trabalho, suas relações sociais, suas crenças, valores, gostos artísticos. O método não deve ser imposto ao aluno, e sim criado por ele no convívio do trabalho educativo com o educador.” (PINTO, 1991, p.86) 17 Como exposto pelo autor acima, as metodologias de alfabetização infantis, quando aplicadas aos discentes da EJA, não contribuem para o sentimento de pertencimento social, no qual já trazem bagagem. Esses alunos da EJA já ocupam um determinado papel na sociedade, uma vez que atuam no mercado de trabalho, constituem famílias, produzem cultura e apresentam opinião política. Sendo assim o professor da EJA deve explorar esses contextos sociais no processo de alfabetização. Freire (2003) nos ensinou que a finalidade da Educação de Jovens e Adultos é promover no sujeito uma consciência crítica e capaz de ler o mundo, colaborando para a efetiva emancipação humana. A proposta do professor Paulo Freire vem romper com as práticas pedagógicas resumidas em repetição mecânica. Sendo assim, Freire propõe uma abordagem crítica, onde prevê interação e diálogo. Segundo o autor: “A concepção crítica da alfabetização não será feita a partir da mera repetição mecânica de pa-pe-pi-po-pu, la-le-li-lo-lu, que permitem formar pula, pelo, lá, li, pulo etc., mas através de um processo de busca, de criação em que os alfabetizandos são desafiados a perceber a significação profunda da linguagem e da palavra.”(FREIRE, 1991, p.16) Para que a alfabetização ocorra em um movimento significativo o professor da EJA deve dialogar com o contexto no qual seu discente está inserido. O diálogo proposto pelo educador prevê uma interlocução entre o profissional da educação e o aluno da EJA, uma vez que ambos pertencem a uma mesma sociedade, levando-os a obtenção de uma consciência crítica, filosófica e reflexiva. Ao longo dos ensinamentos de Paulo Freire observamos uma denúncia às práticas denominadas “bancárias” na relação professor-aluno. Seu método pedagógico contraria a percepção do aluno como mero receptor do saber. Freire (2007, p. 27) nos mostra que “o papel do educador não é só ensinar os conteúdos básicos, mas dar oportunidades ao educando tornar-se crítico e através da leitura, compreender o que acontece no seu meio, não apenas ler sem um contexto, tornando-se uma leitura mecânica”. Nesse sentido, observamos que o domínio da alfabetização precisa caminhar ao lado do processo de letramento, de maneira que permitem o exercício das práticas sociais em seu 18 dia a dia. E o professor precisa ficar atento a sua metodologia de ensino, sendo um agente estimulador e mediador do processo de leitura e escrita. “O educador da EJA é alguém que precisa ser um leitor de si mesmo, refletindo, sistematicamente, sobre a sua prática, o seu fazer pedagógico; o que sabe e o muito que desconhece, as suas contradições enquanto educador, os seus receios e inseguranças; para que possa vislumbrar as suas faltas e buscar supri-las. É partindo desta leitura, leitura crítica de si, que poderá, em exercício concomitante, executar a leitura do mundo que o cerca.”(MACHADO & NUNES, 2016, p.55) Segundo Freire (2001): “A leitura domundo precede sempre a leitura da palavra [...]. A leitura do mundo e a leitura da palavra estão dominantemente juntas. O mundo da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e temas significativos.” A abordagem de Paulo Freire nos mostra que o homem apresenta uma leitura de mundo do qual pertence. Assim, o educador deve empregar práticas pedagógicas que viabilizem o processo educacional de seus alunos da EJA. Nesse sentido, o professor deve detectar as dificuldades encontradas na leitura e escrita demonstradas pelos discentes. Uma sugestão para esse movimento é selecionar gêneros textuais que englobem sua realidade, por exemplo, revistas, jornais, receitas e propagandas. O contexto cotidiano dos alunos da EJA, devem estar em consonância com as práticas pedagógicas adotadas pelo docente. O processo de alfabetização, quando caminha com o letramento, propiciam a atuação na prática social dos alunos da EJA. Portanto, é dever do professor possibilitar o domínio da alfabetização na formação de seus discentes. Esse fator contribui para o desvendamento da escrita, ou seja, permite com que os alunos da EJA questionem e critiquem aquilo que é posto pela sociedade a qual pertence, capacitando-os desta forma a exercer sua condição de cidadãos na plenitude. 1.4 Exemplificando novas propostas para o trabalho com a Educação de Jovens e Adultos Para melhor compreender e visualizar a exposição feita acima, trarei à tona duas obras realizadas em torno de práticas pedagógicas, e estudo de caso, envolvendo alunos e professores no processo educativo da EJA. Com a finalidade de refletirmos melhor as práticas pedagógicas voltadas para a educação de Jovens e Adultos destaco o artigo “EJA: uma educação para o trabalho ou para a classe trabalhadora?” da Doutora em Educação Adriana de Almeida (2016). Em sua obra 19 Adriana nos convida a refletir sobre as práticas pedagógicas que vem sido desenvolvida pelos professores da modalidade EJA. “Quando interrogamos a defesa de uma educação ou para os trabalhadores ou para a classe trabalhadora, questionamos uma educação voltada para os trabalhadores que afirma apenas a logística legitimada pela exploração da mão de obra, cujas atividades estão restritas à discussão rasa dos direitos trabalhistas, sem a reflexão adequada acerca de identidade, papel social e político de jovens e adultos na sociedade.” (ALMEIDA, 2016, p.130) A autora chama a atenção para as práticas pedagógicas desenvolvidas na EJA. Ela ressalta sobre a importância de relacionar as experiências sociais vividas pela classe trabalhadora, que também são alunos da EJA. A autora nos explica a distinção entre oferecer uma educação para trabalhadores e para uma classe trabalhadora. Ela esclarece que uma educação que serve trabalhadores, encontra-se voltada para atender exclusivamente a um mercado de trabalho, que persiste em manter os alunos EJA às margens da sociedade. Por outro lado, uma educação que serve a classe trabalhadora compreende a importância do trabalho para o aluno EJA, sem que suas práticas pedagógicas estejam somente voltadas para atender a uma exigência do mercado. O professor que proporciona uma educação para a classe trabalhadora entende que seu aluno EJA está inserido em um contexto social, político, econômico, cultural, no qual deve estar inteiramente comprometido com uma educação total, que abrange todos os aspectos individuais e sociais do seu aluno EJA. No estudo “Relatos significativos de professores e alunos na educação de jovens e adultos e sua autoimagem e autoestima” escrito pela Mestra em Educação Denise Dalpiaz Antunes (2006), temos um estudo de caso realizado no município de Porto Alegre, evidenciando o aluno da EJA como protagonista do processo educativo. O objetivo da dissertação de Denise é verificar as práticas pedagógicas dos alunos EJA, em um movimento que desenvolva sua autoimagem e autoestima. Dentre as investigações feitas pela autora, cabe destacar as entrevistas realizadas com os alunos da EJA. Os alunos apontam transformações pessoais e sociais alcançadas durante o processo de alfabetização. Os alunos, identificados como sujeitos, descrevem sentimentos de independência e autonomia alcançados durante a alfabetização, como no depoimento do Sujeito B: 20 “Porque eu acho que eu também não aprendia muito porque [...] a gente que se criou lá pra fora, sabe. A gente não teve estudo, se criou lá no meio do mato, [...] não tinha nem placa pra lê, não tinha... Daí não tinha pessoa pra gente convivê. Agora aqui é tudo deferente, né.Já Aprendi muita coisa aqui! Eu não sabia fazê o meu nome, agora já sei. Já sei lê um pouquinho. Poquinho, né, porque ora já faz uns 11 anos que eu tô aqui, mas... eu já acho bom, porque já melhorei bastante. Pra saí sozinha, agora eu saio. De primeiro eu não pudia saí, porque não sabia o nome dos ônibus, agora já sei. [...] já aprendi bastante.” (ANTUNES, 2006, p.89) Também é possível observar nos relatos a preocupação com a prioridade da educação, como no depoimento do Sujeito C: “Por isso eu não deixei meu filho faltar nunca à aula, às vezes ele não queria ir, “ai mãe eu não vou hoje” e eu dizia: vai meu filho porque um dia tu vai me agradecer, eu não tive oportunidade, meu filho vai. Senão tu vai rodá e vai terminar estudando de noite. E eu nunca deixei ele trabalhar também prá tirar o estudo primeiro, né. Por que eu sei como faz falta.- É importante para a gente aprender a ler, prá gente, assim... Me faz muita falta, a senhora sabe que fez mais falta prá mim do que pra minhas irmãs. Porque elas ficaram assim, por lá casaram né, agora eu que saí prá trabalhar, prá Osório, Porto Alegre eu vim, prá mim fez mais falta do que prá elas. E me faz falta, toda vida me fez falta, aprendê a lê. Qué assinar um documento, prá serviço, eu tinha que pedir pras pessoas preencher ficha prá mim. Ah! Foi sempre muito difícil.” (ANTUNES, 2006, p.90) A autora destaca a importância desses relatos como vivências de cada ser humano. Denise destaca uma relação entre o processo de alfabetização e a construção de um autoconceito real e contextualizado pelos alunos da EJA. E esse processo de construção de um autoconceito reflete diretamente em suas situações sociais. Para que esse processo de alfabetização esteja vinculado às relações sociais, pessoais e interpessoais dos alunos da EJA, é necessário que os professores percebam todo o contexto que seus alunos apresentam. Ou seja, o que os alunos necessitam ou desejam, para que o processo de ensino e aprendizagem seja renovado e devidamente adequado. A autora nos mostra a importância da sensibilidade que o professor deve ter, ao desenvolver suas práticas pedagógicas, sensibilidade essa voltada para que seus alunos adquiram autonomia, criticidade e independência. 21 Um dos pontos destacados na dissertação, é o olhar diário e minucioso que o professor deve ter nas falas levadas diariamente pelos alunos da EJA. Segundo a autora, as ações pedagógicas dos professores devem estar voltadas para os depoimentos, falas, ações e contextualizações apresentadas diariamente pelos alunos da EJA. “REFLEXÃO: Acredita-se que enquanto a educação não conseguir atender as tantas adversidades sociais que se instalaram em nossa sociedade, deverá a EJA, suprir as primeiras necessidades básicas do ser humano, quando ainda não tiverem sido supridas, e seus direitos à qualidade de vida dignamente humana.” (ANTUNES, 2006, p.125) 2 Metodologia de Pesquisa O presente estudo adotou como estratégia metodológica a revisão bibliográfica, mais especificamente a revisão narrativa, que é uma das modalidades de revisão de literatura, por possibilitar um acesso às experiências de autores que já pesquisaram sobre o assunto. A revisão bibliográfica, ou revisão da literatura, é a análise crítica, meticulosae ampla de publicações correntes de uma determinada área do conhecimento; procura explicar e discutir um tema com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos e outros (DEMO, 2000). Busca também, conhecer e analisar conteúdos científicos sobre determinado tema (MARTINS e PINTO, 2001). Podemos somar a este acervo, consultas a bases de dados, periódicos e artigos indexados, com o objetivo de enriquecer a pesquisa, para que o pesquisador tenha contato direto com tudo o que foi escrito sobre o assunto estudado (MARCONI e LAKATOS, 2007); segundo esses autores, a pesquisa bibliográfica não é apenas uma mera repetição do que já foi dito ou escrito, mas sim, proporciona o exame de um tema sob um novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. Na elaboração deste trabalho, realizou-se uma revisão narrativa da literatura nacional sobre o tema proposto; tal revisão não é imparcial, pois permite o relato de outros trabalhos, partindo da compreensão do pesquisador sobre como os outros fizeram. A seleção criteriosa de uma revisão de literatura pertinente ao assunto significa familiarizar-se com textos e, por eles, reconhecer os autores e o que eles estudaram anteriormente (GIL, 2004). Em sua obra “Fundamentos de Metodologia Científica” (2003), Lakatos e Marconiapontam que a escolha do tema é fundamental para o início de um árduo trabalho de 22 pesquisa em leitura. O redator do ensaio precisa certificar-se de que existem fontes variadas acerca do tema escolhido. No caso em questão, houve uma motivação pessoal para a escolha do tema, uma pesquisa vasta para fundamentar as hipóteses, assim como um embasamento teórico. Como nos propõem as autoras, há necessidade de se distinguir os sujeitos dos objetos apresentados no tema. Este ensaio apresenta os alunos da EJA como sujeitos de uma relação, cujo objeto é o mercado de trabalho. As especificidades dessa relação estão aqui discutidas, da forma como são apresentadas na metodologia e na pedagogia, trabalhadas nas salas de aula da EJA. Nesse sentido, a pesquisa bibliográfica tenderá ao amparo da reflexão em torno dos trabalhos realizados pelos educadores da EJA, e, se existe ou não uma preocupação em conscientizar o aluno, para que ele se reconheça como um ser atuante, crítico e reflexivo mediante o mercado de trabalho, e suas exigências obedientes à uma estrutura dominante, a fim de que a educação e o trabalho sejam espaços que contribuam para o desenvolvimento humano, e não para sua alienação. 3 Resultados e Discussão O presente ensaio tem como inspiração a vivência observada durante o cumprimento do programa de estágio Módulo II no Curso de Pedagogia. Durante essas atividades foi percebida a profunda preocupação na alfabetização do aluno da EJA como pré-requisito a ser alcançado em obediência as exigências do mercado de trabalho. Sendo assim, o objetivo deste artigo foi analisar e problematizar as práticas pedagógicas adotadas na Educação de Jovens e Adultos, e, por fim, sugerir novas metodologias de ensino, à luz de Paulo Freire. A metodologia abordada foi a revisão bibliográfica, a partir de autores e referenciais teóricos, que versam sobre a temática em torno da unilateralidade entre as práticas pedagógicas desenvolvidas na Educação de Jovens e Adultos e o mercado de trabalho. Durante a pesquisa foi possível observar que existe uma ampla discussão que propõe novas maneiras metodológicas e pedagógicas acerca da educação de Jovens e Adultos. Propostas, estas, que estão comprometidas com o desenvolvimento social, crítico, político, econômico, cultural e histórico do aluno jovem ou adulto. O educador Paulo Freire foi utilizado como referência em todas as novas propostas pedagógicas aqui refletidas. Este mestre da educação nos ensinou maneiras de alcançar a liberdade através da educação, e como é fundamental compreender, dialogar e interagir com o 23 discente da EJA. O professor deve estar preparado e ressignificando o que ensina a todo o momento, para que estudar nesta modalidade faça sentido ao estudante e atenda ao seu específico contexto. Considerações Finais Após os resultados obtidos através deste ensaio, pode-se concluir que a Educação de Jovens e Adultos necessita de uma problematização, reflexão e ressignificação. Paulo Freire nos ensinou por todo o corpo deste texto, o quão se torna essencial a prática da alfabetização e do letramento para jovens e adultos colocarem-se como sujeitos protagonistas de suas vivências. Nós, professores, temos o compromisso de atender os discentes da EJA de maneira que os possibilite sua autonomia, para além de apenas atender as exigências do mercado de trabalho. O corpo deste projeto propôs novas abordagens metodológicas para um atendimento mais eficaz ao aluno EJA. Tais propostas estão vinculadas aos ideais de Paulo Freire, ou seja, o de oferecer uma educação contextualizada, preocupada em atender às especificidades dos agentes envolvidos nesse processo de educação alfabetizadora, tanto os docentes quanto os discentes. Sendo assim, gêneros textuais que contemplam as vivências dos envolvidos é uma sugestão de um novo fazer pedagógico. Jornais, revistas, receitas, classificados, cartazes, panfletos, bulas de remédios, rótulos, bilhetes premiados, extratos bancários, currículo profissional, boletos e listas são bons exemplos que contemplam o dia a dia dos discentes da EJA. Além disso, Paulo Freire nos mostrou a importância do diálogo. Rodas de conversas, trocas de experiências, propostas de dinâmicas sociais contextualizadas são maneiras de propor o diálogo entre aluno e professor. Nesse sentido, é fundamental que o professor escute o que é apresentado pelos seus alunos, pois é nesse momento em que ele recortará quais são as metodologias adequadas, que possibilite a educação alfabetizadora e devidamente construída dialogicamente com seus alunos jovens e adultos. Desta maneira esse artigo encerra-se com a proposta de uma educação voltada para a emancipação humana, a conquista da autonomia pessoal e, por fim, comprometida com a libertação política, econômica, cultural, histórica e social dos nossos alunos da EJA – Educação de Jovens e Adultos, não apenas e exclusivamente o seu preparo para o mercado de 24 trabalho, que mesmo tendo sua parcela de importância, não é tudo de que o aluno precisa como ser integral em formação para a vida. 25 Referências ALMEIDA, Adriana. 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