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1 INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE CAMPUS JORGE AMADO PORTFÓLIO: SEMIOLOGIA/ PROPEDÊUTICA DOS PROBLEMAS DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA Cristiane Aparecida Muller Romana Dagma Rocha de Araujo Porto Jadson Silva Hombre Karoline Silva Zampronho Luciano Silva Patricia Ferreira Renata Assis Nunes Benevides Thaís Nader Reis Porto Seguro 2020. 2 INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE CAMPUS JORGE AMADO PORTFÓLIO SEMIOLOGIA/ PROPEDÊUTICA DOS PROBLEMAS DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA Trabalho apresentado ao componente curricular Semiologia/ Propedêutica dos Problemas de Saúde da Pessoa Idosa, da Universidade Federal do Sul da Bahia, como requisito para obtenção da nota no componente, com orientação da Prof. Drº. Ênio Rodrigues da Silva elaborado pelos discentes: Cristiane Aparecida Muller Romana, Dagma Rocha de Araujo Porto, Luciano Silva, Patrícia Ferreira, Thaís Nader Reis, Jadson Silva Hombre, Karoline Silva Zampronho e Renata Assis Nunes Benevides. Porto Seguro 2020. 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………...5 1.1 METODOLOGIA DO COMPONENTE CURRICULAR DE PROPEDÊUTICA DO IDOSO……………………………………………………………………..………….....5 1.2 MÉTODO CLÍNICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO CENTRADOS NA PESSOA IDOSA ………………………………………………………………………………..…6 1.3 VIDA EM ENVELHECIMENTO NO BRASIL…………………………………....7 1.4 SENESCÊNCIA E SENILIDADE……………………………………………….….8 2. TEMAS CORRELATOS EM DEBATES…………………………….……......................................................……….9 2.1 A SÍNDROME GERIÁTRICA DO 5 I’s …………………………………………...9 2.2. CONCEITOS: SENESCÊNCIA E SOLENIDADES; AUTONOMIA; INCAPACIDADE; FUNCIONALIDADE; ENVELHECIMENTO ATIVO; QUALIDADE DE VIDA; SENTIDO INTERNO DE COERÊNCIA (SIC)…………..10 3.0 APARELHO CÉREBRO-MENTAL ………………………………………...................................................................….….11 3.1 Delirium e Demências…………………………………………………………...…12 3.2 Depressão………………………………………………………………………..…12 3.3 FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO CÉREBRO MENTAL………………...13 3.4 UM OLHAR SOBRE A FUNCIONALIDADE DOS IDOSOS DA ESF NOVA AMÉRICA-TEIXEIRA DE FREITAS……………………………………………….................................................15 3.5 A SÍNDROME GERIÁTRICA DO 7 I’s.………………………………………….17 3.6 A DEMÊNCIA ALZHEIMER……………………………………………………..18 3.7 REDE DE ATENÇÃO À PESSOA COM ALZHEIMER…………………………19 3.7.1 Caso 01 : Uma progressão silenciosa………………………………………….…19 3.7.2 Caso 02: A doença de Alzheimer- Aspectos nutricionais………………………..19 3.8 A DOENÇA DE ALZHEIMER - ASPECTOS NUTRICIONAIS……………………………………………………………………….20 4 4.0 APARELHO CÁRDIO- RESPIRATÓRIO……………………………..............................................…………21 4.1 Insuficiência Cardiorrespiratória…………………………………………...………21 4.2 Alterações no Aparelho Respiratório………………………………………………22 4.3. Infarto Agudo do Miocárdio………………………………………………….…...22 4. 4. Hipertensão Arterial Sistêmica…………………………………...……………….23 4. 5. Hipotensão Ortostática……………………………………………………………24 4.6. Pneumonia…………………………………………………………………………25 4.7. Doença Pulmonar obstrutiva crônica……………………………………………...26 5.0 APARELHO GÊNITO-URINÁRIO…………………………………………….27 5.1 Infecção do trato urinário -ITU………………………………………………….…27 5.2 Doença Renal Crônica - DRC…………………………………...…………………28 5.3 Incontinência Urinária- IU ………………………………………………………...29 6.0 APARELHO LOCOMOTOR …………………………..……………………….30 7.0 APARELHO GASTRO-INTESTINAL………………………………………….31 8.0 O PAPEL DO CUIDADOR: AS RELAÇÕES DE CUIDAR E SER CUIDADO NO DOMICÍLIO ………………………………………………………………..……33 9.0 NORMA E NORMATIVIDADE HUMANA EM CANGUILHEM – Saúde, Cura e Doença ………………………………………………………………………...37 10 ESBOÇO DE UMA ANAMNESE DO IDOSO…………………………….….…40 11 PROPOSTA DE UM PTS GENÉRICO PARA O IDOSO………....…………............................................................................................44 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………………………………………….....44 REFERÊNCIAS……………………………………………………………………....46 APÊNDICES……………………………………………………………………….….53 ANEXOS…………………………………………………………………………...….61 5 1. INTRODUÇÃO 1.1 METODOLOGIA DO COMPONENTE CURRICULAR DE PROPEDÊUTICA DO IDOSO O componente curricular “Propedêutica dos Problemas de Saúde da Pessoa Idosa” – trata-se de um dos Componentes do Bloco Temático “Integração de Competências Clínicas” do BI-Saúde. No curso é abordado o processo saúde/doença em termos da filosofia da vida de Canguilhem (1995), considerando as especificidades deste ciclo em interface com outros ciclos de vida. O curso tem como objetivo Geral desenvolver a compreensão das especificidades deste grupamento etário e aprofundar as competências e habilidades básicas para a produção de dados significativos, subjetivos e objetivos, para o desenvolvimento do raciocínio clínico, hipóteses diagnósticas biopsicossociais e prognósticas, visando à identificação dos problemas individuais e coletivos mais relevantes e pertinentes, aplicáveis à pessoa idosa com ética, humanismo, além de precisão, validade e confiabilidade. Além disso o componente tem como objetivos específicos: Conhecer os processos de transição demográfica e epidemiológica na vida da pessoa idosa; Compreender os processos que ocorrem em razão das mudanças no universo sociocultural e do trabalho; Conhecer as particularidades do exame semiológico do idoso e habilitar-se nos processos de produção de dados de importância clínica, incluindo dados subjetivos (entrevista, anamnese e construção da história do paciente) e objetivos (exame físico: métodos, técnicas e instrumentos); Conhecer os aspectos semiológicos de importância nos principais problemas de saúde da pessoa idosa, considerando os aspectos psicológicos, psiquiátricos e sociais envolvidos no processo de saúde/doença; Conhecer as estratégias de manejo diagnóstico e terapêutico, considerando: a prevenção de agravos e promoção de saúde; a relação profissional de saúde/paciente/família e ambiente social e os princípios éticos que regem o exercício profissional; Integrar os conhecimentos das ciências morfofuncionais e clínicas e a compreensão do processo saúde/doença relacionados à pessoa idosa; e Aprofundar os conhecimentos, competências e habilidades relativos à prática clínica baseada em evidências (PEA). 6 1.2 MÉTODO CLÍNICO E RACIOCÍNIO CLÍNICO CENTRADOS NA PESSOA IDOSA O cuidado centrado na pessoa é essencial para o bom atendimento de qualquer enfermo, já que é um método que desloca o olhar dos profissionais da saúde, voltado para a doença, trazendo-o para a pessoa acometida por qualquer condição ou agravo. O método constitui-se de etapas importantes que devem ser priorizadas: ● Explorando a enfermidade e a experiência da pessoa em estar doente. ● Entendendo a pessoa como um todo (pessoa, contexto e ambiente). ● Elaborando projeto terapêutico comum e manejo dos problemas. ● Incorporando promoção e prevenção à saúde. ● Intensificando relação profissional de saúde e adoecido. ● Sendo realista. Segundo Carvalho (2017), cada profissional pode ter um olhar diferente de uma mesma situação, pois a forma de interpretar pode ser influenciada por experiências, vivências, necessidades e objetivos. Komatsu, traz essa reflexão ao descrever que uma lente não é igual à outra, existe uma singularidade em cada olhar, resultante de sua vivência, experiência e ponto de vista. A atenção centrada na pessoa respeita a dignidade de qualquer pessoa, independentemente de idade, grau de dependência, situação econômica, dentre outras. Os direitos de quem está procurando a equipe de saúde devem ser respeitados, principalmente sua autonomia, não importando o grau de dependência ou déficit cognitivo. Deve-se centrar nas capacidades das pessoas e não nas doenças, já que cada pessoa tem suaidentidade, suas experiências de vida e está imersa em um ambiente cultural e social que a modela. Assim, considera-se cada indivíduo e as doenças deixam de ser universalidades para serem problemas de saúde singulares.Trata-se de construir entornos acessíveis e estimuladores, para que as pessoas possam participar ativamente. A atenção à saúde é deslocada do hospital para o domicílio ou outros ambientes amigáveis e acolhedores. As pessoas, mesmo dependentes, devem ser estimuladas a organizar sua vida, seu dia-a-dia, ter afazeres, manter hábitos e rotinas, todos esses cuidados fazem parte da centralidade da atenção voltada à pessoa idosa. 1.3 VIDA EM ENVELHECIMENTO NO BRASIL 7 A experiência do envelhecer é distinta para cada indivíduo. Não é apenas a aparência que é afetada no percurso natural do ciclo da vida, e para além das alterações na fisiologia e consequentemente no funcionamento dos aparelhos , mas o modo como cada um encara e conduz essa jornada. Essa jornada, tranqüila para alguns e cheia de percalços para outros, não tem um conceito pétreo, pois pode ter definições diversas com base em várias dimensões (sócio econômicas, culturais, psicológicas, biológicas). A idade cronológica, ressaltado por Teixeira e Neri (2006) apud Freitas, Queiroz e Sousa (2010), carreia consigo modificações orgânicas (anátomo-fisiológicas) e nas relações interpessoais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2019), estima que no Brasil cerca de 13% da população (28 milhões de pessoas) é idosa, estando na faixa etária de 60 anos ou mais conforme definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) para países em desenvolvimento. Conforme pontuado pelo grupo um e abordado anteriormente, a inversão na pirâmide etária com estreitamento da base e alargamento do ápice reflete melhoria da expectativa de vida, mas também requer planejamento para estruturação dos serviços, incluindo o de saúde, de modo a garantir a qualidade de vida da população. As alterações na vida social, geralmente, são decorrência de processos da senilidade. Torna-se oportuno diferenciar os termos senilidade e senescência. Senilidade é um processo patológico que pode ser decorrente do envelhecimento comprometendo a funcionalidade e qualidade de vida enquanto senescência é o processo fisiológico natural, progressivo que acarreta em declínio físico e mental. Com base no artigo de Closak et al. (2011), o envelhecer requer ultrapassar a barreira conceitual, de reconhecimento do processo, mas principalmente garantir os direitos constitucionais para enfrentamento das demandas de saúde da população. Os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) com destaque a para integralidade e por sinônimo conceitual a equidade vincula o enfrentamento das necessidades de saúde a reorganização da rede de atenção além da identificação e apropriação dos profissionais e das equipes de saúde as demandas. 1.4 SENESCÊNCIA E SENILIDADE O envelhecimento é algo que ocorre paulatinamente, uma vez que o indivíduo começa a envelhecer ao nascer. Entretanto, considerando os aspectos funcionais, começa na segunda década de vida, embora de forma imperceptível. No final da terceira década surgem as primeiras alterações funcionais e estruturais e, a partir da quarta, há uma perda 8 de aproximadamente 1% da função/ano, nos diferentes sistemas orgânicos (CLOSAK, 2011). A assistência ao idoso deve prezar pela manutenção da qualidade de vida, considerando os processos de perdas próprias do envelhecimento e as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação do seu estado de saúde. Como prática social, o cuidado organiza-se para atender necessidades de saúde; entretanto, pode ou não corresponder às necessidades concretas dos grupos sociais, visto que as relações entre as necessidades de saúde e as práticas de cuidado podem estar dissociadas, apreendidas a partir dos significados econômicos, políticos e ideológicos, captados em sua historicidade e em sociedades concretas. Podem ainda ser apreendidas pelos resultados que produzem, ou seja, pela capacidade de produzir modificações nos perfis de saúde-doença de uma dada população. Essa segunda perspectiva remete à compreensão e avaliação das características e dos resultados das práticas em saúde em função de sua utilidade, viabilidade, exatidão e ética. Desse modo, o reconhecimento e o enfrentamento das necessidades de saúde estão estreitamente vinculados a princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial aos conceitos de integralidade e equidade, na medida em que exigem por parte das equipes de saúde o esforço de tradução e atendimento dessas necessidades, exigindo ações articuladas e complementares, no cuidado de cada profissional, de cada equipe e da rede de serviços de saúde, que, por sua vez, dependem de informações atualizadas, dos esforços em conjunto concretas e dos diversos segmentos da comunidade. 2.TEMAS CORRELATOS EM DEBATES 2.1 A SÍNDROME GERIÁTRICA DO 5 I’s Segundo literatura estudada De Moraes (2010), às síndromes estão diretamente relacionadas à perda funcional e da qualidade de vida dos indivíduos idosos. Podem ocorrer concomitantemente e compartilham fatores de riscos entre si. São elas: ● Iatrogenia: Caracterizada como qualquer alteração patogênica provocada pela prática médica ou de outro profissional da saúde devido á falta de conhecimento das alterações fisiológicas do envelhecimento e das peculiaridades da abordagem ao idoso, um exemplo da prática é a prescrição de medicamentos inapropriados ou de um programa de exercícios inadequado. 9 ● Incontinência Urinária: A incontinência urinária é quando ocorre qualquer perda involuntária de urina e pode ser classificada como de esforço, de urgência, mista ou por transbordamento. A prevalência aumenta com a idade e é mais prevalente entre as mulheres. ● Instabilidade Postural: Afeta a independência e é grande responsável pelas quedas, que por sua vez geram a maior parte das internações de idosos. Muitas vezes as quedas provocam lesões, fraturas e até a morte. ● Imobilidade: Qualquer limitação do movimento com gravidade variável e habitualmente progressiva. Em seu grau máximo constitui a chamada síndrome da imobilidade e pode comprometer os sistemas cardiovascular, respiratório, digestório, genito urinário e pele. A síndrome de imobilidade estabelecida é caracterizada por contraturas, úlceras por pressão, comprometimento cognitivo e dor crônica. ● Insuficiência das Funções Cognitivas: Caracterizada pelo comprometimento das funções cerebrais, afetando a capacidade cognitiva do indivíduo. Compromete as Atividades de Vida Diárias. Tem como principais etiologias a demência, depressão,síndrome de fragilidade e imobilidade graves, delirium e doenças psiquiátricas (esquizofrenia, oligofrenia…). Por fim, os “5 Is” da geriatria são condições complexas e podem ser consequências de várias doenças. O reconhecimento delas e da sua importância na vida dos idosos é papel do geriatra e gerontólogos. 2.2 CONCEITOS: Senescência e Senilidade; Autonomia; incapacidade; funcionalidade; envelhecimento ativo; qualidade de vida; Sentido Interno de Coerência (SIC) De acordo com Porto (2016) O processo de envelhecer é contínuo, gradual e variável, porque depende de fatores ambientais, socioeconômico (alimentação, estilo de vida), culturais, psicológicos, patológicos dentre outros. Para o autor, uma das preocupações dos gerontólogos é reconhecer essas estruturas funcionais produzidas pelo processo natural de envelhecimento (senescência) e do envelhecimento provocado por doenças (senilidade). Para De Moraes (2008), o envelhecimento fisiológico e natural pode ser subdividido em dois: bem-sucedido e usual. Afirma que no envelhecimento bem- sucedido, o organismo preserva as funções fisiológicas de forma robusta, já no 10 envelhecimentousual, ocorre uma perda funcional progressivamente, que não ocasiona incapacidade, porém traz limitações. Esses processos de senilidade e senescência com decorrer do tempo podem gerar uma dependência gradual, fazendo necessário assistência médica, familiar de qualidade, Porto (2017) pontua que além de um excelente exame clínico, faz necessário uma avaliação voltada a saúde integral do idoso. Segundo Juchem et al (2016, p. 2) a senescência refere-se: "Uma fase normal da vida de um indivíduo, que se inicia na entrada da terceira idade (entre os 60 e os 65 anos, de acordo com a OMS). [...] dificuldade em alternar e dividir a atenção entre dois ou mais estímulos, lentificação motora da velocidade do processamento mental, comprometimento discreto de memória para fatos recentes, não se recordar de ações que planejou efetuar no futuro, dificuldade de novos aprendizados”. (JUCHEM et al., 2016, p.2) Na senescência, o envelhecimento cérebro mental, não afeta o vocabulário e a organização dos pensamentos, mas é normal a alteração de lembranças de palavras e pode ocorrer dificuldades na manutenção de narrativas, com falta de clareza, como omissão da história, sumarização de fatos ou interpretação moral das mesmas (LEVIN, 2019). A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, conforme Brasil (2006) tem o objetivo de recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos cidadãos idosos. Para De Morais (2010) a autonomia é a capacidade do idoso de gerir, comandar as suas ações, e seguir as próprias regras. E a independência corresponde à capacidade de realizar funções com os próprios meios, sem ajuda de terceiros. Segundo a Organização Mundial de Saúde -OMS (2005), o envelhecimento ativo refere-se ao “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança” com a finalidade de beneficiar a qualidade de vida das pessoas que irão envelhecer. Aborda o envelhecimento ativo, considerando os direitos dos idosos e os princípios de independência, participação, dignidade, assistência e auto-realização. Sendo assim, o idoso que apresenta sua funcionalidade preservada e um envelhecimento ativo resultam no bem estar e qualidade de vida. A OMS (2005) define a qualidade de vida como: “a percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.” As pessoas da terceira idade são atingidas mediante um acontecimento de formas diferentes, dependendo de sua subjetividade. De acordo com Guimarães (2008, p. 50, apud Antonovsky, 1987) o Sentido Interno de Coerência (SIC): 11 “O SIC é uma orientação global que define a capacidade com a qual um indivíduo com um persistente e dinâmico sentimento de confiança encara os estímulos vindos dos meios interno ou externo dando-lhe significado, estruturando-os, tornado-os preditiveis e explicáveis (Significabilidade); fornecendo aos indivíduos os recursos para satisfazer as exigências colocadas por esses estímulos - (Manejabilidade); e permitindo com que essas exigências sejam entendidas como desafios, capazes de catalisar o investimento e empenho do indivíduo - (Compreensibilidade)”. (GUIMARÃES, 2008, p.50, apud ANTONOVSKY, 1987) 3.0 APARELHO CÉREBRO-MENTAL Entre os gigantes da geriatria, o entendimento da incapacidade cognitiva, com comprometimento das funções do Sistema Nervoso Central (SNC) é um fator importante na avaliação da autonomia da pessoa idosa pois influencia diretamente na funcionalidade das atividades da vida diária (AVDs). INT PSYCHOGERIATR (2010) APUD COUTINHO E LANKS (2012). Estudo de Int Psychogeriatr (2010) apud Coutinho e Lanks (2012), verificou que em países em desenvolvimento, como o Brasil, devido à baixa renda existe uma tendência maior de crescimento das demências na população idosa, e que a proporção de 26% de idosos possuem sintomas clínicos de depressão O escopo dos estudos epidemiológicos, de incidência e prevalência das síndromes cognitivas, ainda é incipiente mas, enfatizam as alterações do processo de envelhecimento. Diferenciar a depressão dos sintomas depressivos adaptativos, a demência das alterações da cognição vinculadas, o delirium de outras doenças mentais é relevante por inserir na agenda de saúde projetos de assistência individualizada que objetivem o envelhecimento ativo e saudável. Conforme descrito anteriormente, as causas mais comuns associadas a perda da memória são, o comprometimento relacionado a idade, o comprometimento cognitivo leve, demência e depressão. Segundo Levin (2019), o comprometimento devido ao fator idade se relaciona a perda da memória agravada pelo envelhecimento, onde novas memórias , tarefas e informações (senhas novas, programas de computador) demoram para se consolidar e requerem maior esforço por parte do indivíduo. Entretanto, o autor destaca que a cognição não é afetada ao ser fornecido tempo adequado para pensar e responder as indagações. O comprometimento cognitivo leve afeta a memória episódica ou de curto prazo, evidenciando a dificuldade da pessoa em lembrar fatos recentes (pessoas, conversas, compromissos, etc.) mas não acarreta em prejuízos das funções diárias. Levin (2019), destaca que 50% dos pacientes com comprometimento cognitivo leve desenvolvem demência em 3 anos. 12 3.1 Delirium e Demências Segundo Abreu, Forlenza e Barros (2005), a demência se caracteriza pela perda da memória associada ao comprometimento cognitivo e comportamental. Na assistência se observa a dificuldade de nomeação de objetos (afasia), apraxia (desenvolver atividades motoras, planejar atividades), comprometimento da função executiva (pagar contas por exemplo), com mudanças ou não da personalidade (ansiedade, irritabilidade, agitação, inflexibilidade, dentre outros). Levin (2019), pontua que as causas que geram perda de memória reversível são: Hidrocefalia de pressão normal; Hematomas subdurais; Hipotireoidismo e; Deficiência de vitamina B12. Os distúrbios parcialmente reversíveis de perda de memória são: Parada cardíaca; certos tipos de acidente vascular encefálico; convulsões incomumente longas; trauma cranioencefálico; infecções encefálicas; infecções pelo HIV; tumores cerebrais e, o uso excessivo de certas substâncias (incluindo álcool). As causas mais comuns de internamento, morbi-mortalidade em idosos é a Demência. Goldman (2018), descreve que a demência ocorre em aproximadamente 1% entre 60 a 64 anos de idade, 30 a 50% a > 85 anos de idade e de 60 a 80% entre idosos em clínicas de repouso. Segundo o autor Lobo (2010), o delirium é conhecido como estado confusional agudo é também uma alteração cognitiva definida por início agudo, curso flutuante, distúrbios da consciência, atenção, orientação, pensamento, percepção, memória e comportamento. É uma das condições mais comuns entre pacientes hospitalizados e acomete, preferencialmente, pacientes idosos e debilitados. Nesse sentido, trata-se de uma emergência médica, já sendo comprovadas maiores taxas de mortalidade, maior tempo de internação e maiores índices de institucionalização quando do episódio de delirium (LOBO, 2010). O mecanismo fisiopatológico ainda não está bem definido, sendo a alteração na neurotransmissão o mecanismo mais provável. Segundo o mesmo autor Lobo (2010), diz que a abordagem do paciente deve incluir a identificação de fatores predisponentes e precipitantes, com intervenções individuais e adequadas a cada um visando à resolução do quadro. O quadro clínico é marcado por alteração do nível de consciência, déficit de atenção e outros distúrbios da cognição, podendo se apresentar na forma hiperativa, hipoativa ou mista. Apesar de já estar bem definido, por diversas vezes passa despercebido aos profissionais de saúde. A principal medida na abordagem de delirium é https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/delirium-e-dem%C3%AAncia/hidrocefalia-de-press%C3%A3o-normalhttps://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/dist%C3%BArbios-da-medula-espinal/hematoma-espinhal-subdural-ou-epidural https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-da-tireoide/hipotireoidismo https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/defici%C3%AAncia-depend%C3%AAncia-e-toxicidade-das-vitaminas/defici%C3%AAncia-de-vitamina-b12 https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/defici%C3%AAncia-depend%C3%AAncia-e-toxicidade-das-vitaminas/defici%C3%AAncia-de-vitamina-b12 https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/drogas-recreativas-e-intoxicantes/toxicidade-e-abstin%C3%AAncia-de-%C3%A1lcool 13 a prevenção, e são necessárias medidas institucionais e treinamento dos profissionais de saúde para que o idoso seja assistido de forma ampla e tenha uma abordagem centrada na saúde biopsicossocial (LOBO, 2010). 3.2 Depressão A depressão é uma enfermidade mental frequente em idosos, e de acordo com o artigo de Stella et al (2005) pode causar efeitos negativos na qualidade de vida e ser um fator de risco para processos demenciais. Doenças crônico-degenerativas estão associadas em grande número na população idosa, como já mencionado anteriormente e, com comprometimento do sistema nervoso central, a destacar a depressão. Segundo estudos de Galluci, Tamelini e Fortaleza (2005), a depressão pode gerar um quadro de pseudodemência, devido a perda de memória, podendo ser associada a pacientes com demência. O envelhecimento tido como normal pode apresentar redução dos processos mentais sem perda das funções cognitivas, como mencionado por Stella et al (2005 apud Neri 2002) destacando que o “envelhecer não é sinônimo de adoecer quando associado a hábitos de vida saudáveis”. Segundo a autora Stella 2005, o ritmo está intrínseco às características individuais dos idosos, à genética e condições ambientais. Nessa perspectiva, a depressão no idoso tem sido caracterizada como uma síndrome complexa que envolve uma complexidade de respostas aos fatores clínicos, enteropatogênicos e de tratamento. Pode-se dividir em período a depressão conforme sua manifestação: se tardia, relaciona-se a possíveis doenças clínicas e a anormalidades estruturais e funcionais do sistema nervoso central, aumentando o risco de morbi- mortalidade se não tratada (MARTINS, 2008). Martins (2008), reforça que a depressão, dentro da perda dos processos mentais, depende de fatores multicausais, geralmente relacionados a perda da qualidade de vida e isolamento social. Questões genéticas, etiológicas, individuais, doenças incapacitantes, luto e abandono como citado, são pontos a serem discutidos e entendidos melhor para compreensão do processo depressivo nos idosos. A equipe de saúde envolvida no processo de assistência à pessoa idosa precisa empreender uma visão holística, de forma a identificar previamente a depressão. A negativa do idoso de que passar por um momento depressivo e consequentemente a não verbalização requer um olhar atento. Reforçando o exposto, a identificação precoce, com base nos estudos de Stella et al (2005) reduz a cronificação desta condição mental , das 14 doenças orgânicas que podem estar associadas além de reduzir o sofrimento psíquico do paciente e o risco de morbi-mortalidade. Aponta ainda a importância da psicoterapia associada ao tratamento (quando prescrito) e a atividade física como fator importante na melhoria da qualidade de vida. 3.3 FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO CÉREBRO MENTAL Damasceno (1999) pontua o envelhecimento enquanto curso normal de vida diferenciando o envelhecer normal do patológico do aparelho cérebro mental. Ressalta que no curso normal do envelhecimento ocorre maior decrescimento da memória operacional e memória secundária e menor das memórias primária e terciária, de modo similar ao encontrado nas fases iniciais da doença de Alzheimer (DA). Testes para verificação da normalidade e da demência incipiente podem ser aplicados, durante a consulta/assistência à pessoa idosa sendo estes: testes de evocação retardada de lista de palavras, memória lógica, pensamento categórico, destreza visual-motora-espacial e o Teste de Nomeação de Boston. Freitas e Sousa (2010), avaliaram a interpretação de estórias contidas em diversos estudos longitudinais e demonstraram a ocorrência de variáveis que predispõem individualmente o esquecimento ("amnésia") de um dia para o outro, desde a “alteração do humor, complexidade da estória, relação familiar, doenças passageiras, efeito colateral de medicamentos, entusiasmo, familiaridade ou interesse com a estória e efeito da prática e aprendizado”. Segundo Goldman (2018) o funcionamento cerebral mental sofre modificações funcionais conforme a evolução nas fases da vida, ou seja, da infância à velhice. Na primeira fase, ou infância, a absorção cerebral e conservação da memória é maior permitindo aumento constante na capacidade de pensar e raciocinar, apropriando a criança de conexões de aprendizado cada vez mais complexas. Esse funcionamento na idade adulta de mantém estável, se não ocorrerem interferências externas, traumas ou patologias por exemplo. Progressivamente as funções vão diminuindo e irão variar de forma distinta de pessoa a pessoa, em cada etapa da vida. O autor ainda destaca que as funções mais atingidas são a memória de curto prazo, a capacidade de aprender coisas novas, habilidades verbais após os 70 anos, desempenho intelectual com a capacidade de processar informações após os 80 anos sem patologias sub (neurológicas e/ou vasculares) subjacentes. De acordo com Aversi-Ferreira, Rodrigues e Paiva (2008), mudanças fisiológicas, morfofuncionais e de neurotransmissão, como pontuado, desencadeiam mudanças 15 bioquímicas no sistema, haja vista que aos 25 anos ocorre a redução do encéfalo e esse decrescimento se intensifica na proporção de 1,4 a 1,7% por década. Aos 90 anos o volume reduz 200 cm³ e cérebro pesa menos 10% que aos 30 anos é visível as alterações no córtex, sulcos e giros. Os autores citados, descrevem ainda outro ponto, da perda normal e gradual das células nervosas e acúmulo de alterações bioquímicas, em decorrência do aumento dos radicais neurotóxicos que levam a hipotrofia neural. Os radicais livres causam efeito negativo sobre o cérebro podendo disparar a má formação das proteínas. O cérebro reduz o tamanho, consequentemente o número de neurônios é menor e as existentes funcionam com déficit apesar dos dispositivos de compensação cerebral: Redundância quantidade de células superior às necessidades de funcionamento; Formações de novas conexões com as células nervosas remanescentes; Produção de novas células nervosas nos gânglios basais (coordenam e suavizam os movimentos) e no hipocampo (formação e manutenção da memória), em especial em casos de traumas, acidentes vasculares e outras lesões (AVERSI-FERREIRA, RODRIGUES e PAIVA, 2008). A integralidade da assistência à pessoa idosa ou com lesão cerebral envolve equipe multifuncional, para aquisição de novas habilidades. Os hábitos de vida, conforme Fernandes et al (2009), podem acelerar ou reduzir a velocidade de perda funcional do cérebro. Uso de bebida alcoólica, tabagismo (reduz em 20% a irrigação sanguínea) e sedentarismo afetam diretamente os neurônios. Hábitos de vida saudáveis como exercícios físicos reduzem a perda celular envolvidas na memória. Destaca-se que a aterosclerose das artérias cerebrais, reduzem o fluxo sanguíneo para o cérebro e pode estar associada a diabetes, colesterol alto, tabagismo, hipertensão arterial, etc., elevando o risco de demência em idade jovem (ARAÚJO et al., 2004). Na fase idosa, Fernandes et al. (2009) destaca que os impulsos cerebrais são mais lentos devido a uma degeneração da bainhade mielina que envolve os nervos e reduzem a condução nervosa (velocidade do impulso). No processo de envelhecimento, o autor reforça que ocorre redução do fluxo sanguíneo, crescimento dos ossos e pressão sob os nervos, ocasionando a degeneração citada. Comorbidades como a Diabetes podem ser outro motivo da degeneração, tornando-a mais perceptível. Diferenciar os efeitos do envelhecimento normal sobre o funcionamento do cérebro em contraponto com o efeito de patologias comuns da idade (depressão, acidente vascular cerebral, glândula tireóide hipoativa (hipotireoidismo) e doenças cerebrais degenerativas 16 como a doença de Alzheimer é primordial para a assistência à saúde (ARAÚJO ET AL, 2004; FERNANDES ET AL, 2009). 3.4 UM OLHAR SOBRE A FUNCIONALIDADE DOS IDOSOS DA ESF NOVA AMÉRICA-TEIXEIRA DE FREITAS Foi realizado um estudo transversal, seccional, de natureza quantitativa que faz parte de um projeto de maior amplitude tendo como público-alvo idosos entre 60 a 110 anos cadastrados na ESF Nova América, na zona Leste de Teixeira de Freitas-BA, perfazendo um total de 50 participantes. Os instrumentos utilizados de coleta de dados: Questionário de caracterização do perfil sociodemográfico e de saúde; Escala de Katz - (ABVDs) e Escala de Lawton – (AIVDs). O projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UFSB) mediante CAAE nº18426119.5.0000.8467 e número do parecer 3.599.115. Os resultados do perfil sociodemográfico demonstram que 65% da população estudada é constituída por idosas negras com idade superior a 70 anos, de ensino fundamental incompleto e com diagnóstico associado de Hipertensão Arterial e Diabetes, de acordo com o gráfico 1. Gráfico 1: Faixa etária dos idosos cadastrados na ESF Nova América. Teixeira de Freitas, 2020. Fonte: Perfil da faixa etária dos idosos cadastrados na ESF Nova América em Teixeira de Freitas, 2020. Observou-se ocorrência que a maior dependência nos idosos foi banhar-se (24%), seguida de alimentar-se 12%, o uso do sanitário 12% e vestir-se 12%. Entre as idosas, a 17 ABVD de maior dependência é a de continência. No geral, entre os idosos, a ABVD de maior dependência é a de banhar-se, observado na Figura 1. Figura 1: Atividades Básicas da Vida Diária. Fonte: Teixeira de Freitas, 2020. Referente a relação de dependência nas atividades instrumentais conforme o quadro 2 foi encontrado que: 78% não conseguem lidar com suas financias sozinhos, 74% dos idosos são dependentes quanto às atividades rotineiras de fazer compras, 74% para administrar seus medicamentos, 68% para fazer atividades domésticas, 66% são dependentes para usar o telefone, 66% para preparar sua própria comida, 62% dependem de alguém para utilizar transporte e 62% para lavar roupa. 3.5 A SÍNDROME GERIÁTRICA DO 7 I’s As síndromes geriátricas são responsáveis pelas alterações na qualidade de vida da pessoa idosa. O idoso saudável é aquele que possui autonomia e independência, mesmo com a presença de algumas patologias. Sendo avaliada por meio de observações nas atividades de vida diária (AVDs) do idoso. Analisando autonomia, independência, cognição, humor, mobilidade e comunicação. De acordo com Moraes et al., (2009) quando as condições de saúde comprometem as funções do idoso de realizar suas tarefas diárias, resultam nas 7 “Is” da Geriatria: 18 Incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incapacidade comunicativa, incontinência urinária, incontinência esfincteriana e insuficiência familiar (Figura 02). Figura 2: Tarefas diárias do idoso. Fonte: Morais et al., (2009). 3.6 A DEMÊNCIA ALZHEIMER A doença cerebral progressiva e irreversível. Onde ocorre a deterioração da capacidade intelectual com a perda progressiva das habilidades cognitivas e emocionais; Interferência na vida diária e na qualidade de vida; Não sendo parte do envelhecimento normal; Geralmente após os 60 anos com risco aumentado com a idade (cada 5 anos). Conforme Porto (2017) O diagnóstico da síndrome demencial não é obtido somente por meio exame clínico, mas também com base nos critérios do DSM IV.(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), afirma que dois domínios diferentes de cognição precisam estar alterados, a exemplo (memória e linguagem, memória e funções executivas) que levam o idoso a perda funcional e, também exames de imagem apresenta atrofias encefálicas (Figura 3). Figura 3: RM do crânio, sequências coronal T1/IR (A) e FLAIR (8) evidenciam atrofia hipocampal bilateral (setas). 19 Fonte: Porto, 2017. De acordo com Guyton (2017) a doença de Alzheimer “ é definida como envelhecimento precoce do cérebro, começando em geral na vida adulta média e progredindo, rapidamente, até a perda extrema da capacidade mental ” e afirma quem tem sido a patologia mais comum entre os idosos. Silverthorn (2017) afirma que a doença de Alzheimer é responsável por 50% por cento dos casos de demência associada à velhice, o autor expõe que idoso paulatinamente não identifica os membros da família, personalidade muda e, nos estágios finais, outras funções cognitivas falham, a ponto de nem conseguir comunicar com os seus cuidadores. 3.7 REDE DE ATENÇÃO À PESSOA COM ALZHEIMER Há necessidade de reorganização da rede de atenção básica à saúde, pois há fragilidades, observamos nos casos a baixos. 3.7.1 CASO 1: UMA PROGRESSÃO SILENCIOSA J.A.B, 71 anos, sexo feminino, solteira, 5 filhos, sem comorbidades relatadas, sem história de internamentos ou quedas, ativa, secretária aposentada, morava sozinha em um apartamento no 10º andar, gostava de viajar, cozinhar e receber visitas. Participa de grupos de dança. Em 2016, ao receber visita dos sobrinhos estes perceberam que foram recebidos sem o almoço e recepção de costume. Saíram para curtir o Carnaval e a tia que sempre os acompanhava relatou estar enjoada dos festejos. Notaram que o comportamento da mesma estava diferente mas relacionaram a idade. No outro dia, o café não foi posto e a mesma indagou se gostaram da feijoada que havia preparado para a chegada dos mesmos. Na mesma tarde, J.A.B tentou se jogar pela janela sendo impedida pelo sobrinho. Após uma crise de choro, se acalmou e os familiares a puseram para dormir 20 sob vigilância. Vasculharam a casa e notaram que a feijoada, feita com amor, estava na panela de pressão dentro do armário. A toalha estava no freezer e as chaves da despensa perdida no microondas. Contactaram os filhos que a levaram para a casa da filha mais velha mas pontuaram que não era nada. Era apenas a Idade. 3.7.2 CASO 2: NEGAÇÃO FAMILIAR J.A.B nos 5 anos que se seguiram parou de morar sozinha. Apresentou amnésia, deambulava com auxílio, necessidades em fralda, se lembrava do passado, parou de viajar e cozinhar. Foi cuidada inicialmente pelos filhos que a trocaram de residência por ser um fardo árduo; até que a sobrinha mais velha se responsabilizou pelo cuidado. Ela trabalha oito horas por dia e não possui recursos para contratar cuidador, ficando a cargo dos sobrinhos, netos de 19 e 24 anos quando estavam em casa que apoiarem o cuidado. A demanda de cuidados é progressivo na D.A, tanto para o paciente como para o cuidador. Profissionais habilitados e grupos de auto-ajuda, podem disponibilizar auxílio aos cuidadores durante os estágios da DA, pois estes estão submetidos a estresse físico e emocional por lidar com mudanças cognitivas, físicas e emocionais (personalidade) do ente querido e por prestar atenção constante durante anos. 3.8 A DOENÇA DE ALZHEIMER - ASPECTOS NUTRICIONAIS A Desnutrição é uma complicação séria na DA, sendo preditor da mortalidade, pois ocorre a perda ponderal e a caquexia devido o problema nutricional fazendo com que aumentecom a progressão da doença. Para Mendes et al., (2016) a conduta nutricional inicial do idoso com DA é necessário uma avaliação do estado nutricional, após sugerir uma dieta balanceada, rica em vitaminas e oligoelementos, fracionada com seis refeições por dia. É importante avaliar outras comorbidades, que requerem restrição alimentar, o registro diário alimentar e se ocorrer a ingestão inferior a 70% das necessidades calóricas , é preciso introduzir suplemento alimentar. No estágio intermediário há ocorrência com problemas ligados à alimentação, de acordo com os nutricionistas Mendes et al., (2016) a perda de apetite, peso é acentuada, com alterações no paladar e olfato devido as dificuldade de mastigação e deglutição e o esquecimento de ter se alimentado. A conduta nutricional neste estágio segue em orientar o cuidador a assistir as refeições, estimulando a mastigação dos alimentos. É importante variabilidades de alimentos cozidos e com molhos, sendo ofertados em pequenas porções, 21 fracionados ao longo do dia. E no estágio avançado as barreiras relacionadas à nutrição decorrem da incapacidade de se alimentar sozinho, de não saber o que fazer com os alimentos que são colocados em sua boca e esquece como se usa os talheres. Há dificuldades também com disfagia, evoluindo para sonda enteral, gastrostomia ou jejunostomia. A conduta nutricional deve ser uma dieta via oral, pastosa ou líquida com espessantes. Sempre avaliar a necessidade de suplementação nutricional oral hipercalórica e/ou hiper proteica. 4.0 APARELHO CÁRDIO-RESPIRATÓRIO 4. 1. INSUFICIÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA Com o envelhecimento progressivo da população mundial, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, aumenta a incidência de doenças cardiovasculares, dentre as quais se destaca a insuficiência cardíaca (IC) que traz repercussões para a qualidade de vida dos idosos. Em geral, as pessoas com IC sofrem modificações em seu padrão de vida devido à incapacidade crescente para executar suas atividades cotidianas, decorrentes dos sinais e sintomas da doença, tais como dor, desconforto precordial, dispnéia, ortopnéia, taquicardia, síncope, fadiga e edema (SANTOS et al, 2011). Em virtude das alterações fisiológicas do processo de envelhecimento no sistema respiratório, a aptidão cardiorrespiratória é tida como um sinal vital e, em modelos patológicos, a ineficiência ventilatória está relacionada a baixos valores de aptidão cardiorrespiratória (consumo de oxigênio). Com o avanço da idade, é esperada uma redução fisiológica do consumo máximo de oxigênio, porém situações patológicas relativamente comuns em idosos (doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência cardíaca), promovem um incremento na redução do consumo de oxigênio (FRAZÃO et al., 2019). As doenças cardíacas, e, entre estas, a IC, despontam como coadjuvantes em termos de importância na atenção à saúde do idoso, pois sua incidência tende a aumentar com o avançar da idade. Uma vez instalada, a IC, devido às limitações decorrentes dos sintomas físicos e psicológicos associados, apresenta forte impacto na vida da pessoa. Entre os sintomas psicológicos da IC destacam-se o medo, a insegurança e a tristeza que pioram com o agravamento progressivo da doença (SANTOS et al., 2011). 22 Ao vivenciar a IC, o idoso passa a estabelecer estratégias de enfrentamento dos sinais e sintomas desencadeados pela doença. Além disso, o próprio tratamento, que deve ser contínuo, também implica em mudanças de hábitos e adaptação às limitações decorrentes dos sintomas físicos, visando preservar a independência e autonomia do idoso para realizar suas atividades de vida diária (SANTOS et al., 2011). A ineficiência ventilatória está relacionada à baixa aptidão cardiorrespiratória em idosos, apenas quando medida pelas variáveis ponto ótimo cardiorrespiratório (POC) e variação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES) (FRAZÃO et al., 2019). 4.2 ALTERAÇÕES NO APARELHO RESPIRATÓRIO Segundo Guyton (2017), o sistema respiratório humano é composto pelos seguintes órgãos: cavidades nasais, boca, faringe, laringe, brônquios, bronquíolo, traqueia e alvéolos. As cavidades nasais são constituídas por duas cavidades, separadas por um septo, que se iniciam nas narinas e estendem-se até a faringe. Nessas estruturas estão localizadas células sensoriais que são responsáveis pela percepção de cheiro. Além disso, existem células epiteliais que revestem essas cavidades e são responsáveis por produzir muco, substância que umedece as vias respiratórias e garante que algumas partículas fiquem retidas e não entrem no sistema respiratório. Os pelos do nariz, juntamente ao muco, funcionam como verdadeiros filtros. Após as cavidades nasais, encontramos a faringe, uma estrutura muscular comum ao sistema digestório e respiratório. Logo após essa porção, observamos a laringe, uma região dilatada formada principalmente por cartilagem que liga a laringe à traquéia. Essa região apresenta uma proeminência, mais acentuada em homens, que forma o chamado pomo de Adão. Na porção inicial da laringe, encontramos a epiglote, uma estrutura cartilaginosa que funciona como uma válvula, no momento da alimentação, que impede que o alimento penetre nas vias respiratórias. As alterações relacionadas à idade não costumam provocar sintomas em pessoas saudáveis. Essas alterações contribuem em parte para a redução da capacidade de idosos em realizar exercícios intensos, em especial exercícios aeróbicos intensos, como corrida, ciclismo ou alpinismo. Contudo, as diminuições na função respiratória relacionadas à idade podem ser uma causa mais importante para tais limitações (RUIVO, 2009). 23 O sistema pulmonar também é afetado pela imobilidade. Estudos comprovam que idosos que realizam exercício físico apresentam melhor capacidade funcional do que idosos sedentários. Achados relacionados a parâmetros espirométricos revelam que a prática de atividade física regular pode retardar o declínio da função pulmonar relacionada com o envelhecimento (RUIVO, 2009) 4.3. INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Dentre as doenças do aparelho circulatório, os distúrbios isquêmicos do coração destacam-se como as principais causas de óbito, em especial o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), considerando como a principal causa de morte entre as doenças cardiovasculares em idosos. E as patologias associadas a maior risco de IAM são a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM). A história familiar de doenças cardiovasculares em parentes de primeiro grau aumenta a chance de sofrer IAM em até duas vezes (OLIVEIRA et al., 2013). O Infarto Agudo do Miocárdio pode ser considerado um distúrbio de idosos, pois a maioria das mortes ocorre acima dos 65 anos. Porém, há que considerar que os riscos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares aumentam consoante a idade avança, não porque a pessoa envelhece, mas porque quanto maior o tempo de exposição aos fatores de risco, maior a probabilidade de acontecer um evento cardiovascular adverso (OLIVEIRA et al., 2013). 4.4. HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA A HAS é uma doença multifatorial, caracterizada por níveis tensionais elevados, associados a alterações metabólicas e hormonais e a fenômenos tróficos (hipertrofias cardíaca e vascular). Em idosos, é considerada uma das causas mais importantes de morbimortalidade prematura, pela alta prevalência e por constituir fator de risco relevante para complicações cardiovasculares. O alto custo social dessa enfermidade é responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria precoce e de absenteísmo no trabalho (AMADO; ARRUMA, 2004). O aumento da população idosa é um fenômeno mundial.A população brasileira atual possui mais de 201 milhões de pessoas, sendo que 12,6% têm 60 anos ou mais. Dessas, 55,7% são mulheres e 44,3% são homens.Há tendência à inversão no modelo de 24 crescimento populacional, com aumento progressivo dos idosos e redução relativa dos jovens (MENDES; MORAES; GOMES, 2014). O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo que causa diversas alterações no organismo, sejam elas de ordem morfológica, psicológica, funcional ou biológica, levando à diminuição da capacidade funcional e ao desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis. Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento das doenças crônicas não-transmissíveis, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o mais prevalente (MENDES; MORAES; GOMES, 2014). Verifica-se a importância de ações de prevenção a longo prazo junto dos idosos com HAS, como orientações sobre hábitos de vida (diminuição da ingestão de sal, prática de atividade física, uso correto dos medicamentos), além de um registro e acompanhamento minucioso dos casos por meio de prontuário eletrônico que permitiria relacionar a HAS com comorbidades cardiovasculares, visto que esse é o maior fator de risco para tais doenças (MENDES; MORAES; GOMES, 2014). O envelhecimento acarreta importantes alterações cardiovasculares, o que explica a frequente associação da hipertensão às mudanças fisiológicas desse processo. Fatores de risco tais como: sedentarismo, ingestão excessiva de sal, alcoolismo, tabagismo e obesidade entre outros, que estão associados à hipertensão, têm contribuído para o aumento da prevalência dessa doença na população de idosos (>60 anos), levando a implicações médicas e sociais (AMADO; ARRUMA, 2004). 4.5. HIPOTENSÃO ORTOSTÁTICA A definição de hipotensão ortostática (HO) é uma queda na pressão arterial sistólica (PAS) maior ou igual a 20 mmHg e/ou uma queda na pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 10 mmHg, no momento em que um indivíduo se move da posição supina (deitado) para a posição ortostática (em pé) ou dentro de 3 min após a ortostase. Esta queda na pressão arterial (PA) pode ser assintomática ou levar o indivíduo a apresentar sintomas como tontura, borramento visual, tremores, astenia, palpitação, síncope, dor de cabeça, confusão mental e quedas, promovidos pela hipoperfusão cerebral causada pela HO (LOPES et al., 2007). 25 A hipotensão ortostática tem relação com a disfunção autonômica primária (como a insuficiência autonômica pura e a insuficiência autonômica na doença de Parkinson) ou secundária (como a causada por polineuropatias associadas a diabetes, fármacos, doenças autoimunes), além de outros fatores não neurogênicos, como a hipovolemia, função cardíaca deprimida, uso de medicamentos e idade avançada. Em estudos de populações representativas da população geral, a hipotensão ortostática tem sido associada a comorbidades cardiovasculares, como doença coronariana, fibrilação atrial, hipertensão, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC), aumento da rigidez arterial; doença renal crônica, além de debilidade no estado geral de saúde (VELTEN, 2019). Por causa das mudanças fisiológicas relativas à idade no sistema cardiovascular e por uma brusca resposta do sistema simpático, os idosos tendem a ser mais vulneráveis ao estresse ortostático do que os jovens. Os pacientes com HO têm pior prognóstico se diabéticos e hipertensos. A hipertensão e suas seqüelas podem ser um fator determinante da HO em idosos, pois tanto a idade quanto a hipertensão diminuem a sensibilidade do reflexo baroceptor independentemente, e ainda, estes efeitos sobrepostos podem desregular a homeostase deixando os idosos hipertensos particularmente vulneráveis à HO (LOPES et al., 2007). A associação da hipotensão ortostática com o envelhecimento, com agravos cardiovasculares (principalmente como fator de risco) e com a baixa escolaridade nos indivíduos com mais de 60 anos (robusto fator de risco socioeconômico para doenças cardiovasculares) evidencia que a hipotensão ortostática pode ser de grande utilidade como alerta de potencial comprometimento cardiovascular, com possível agravamento futuro.(VELTEN,2019). 4.6 PNEUMONIA Durante o envelhecimento do corpo humano, geralmente acontece um aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax, bem como uma calcificação das cartilagens esternocostal e o enfraquecimento da musculatura respiratória. Isto faz com que a caixa torácica do idoso torne-se mais fixa, com menor capacidade de expandir-se e de diminuir de volume. Quando o envelhecimento não acontece de forma saudável, existe um aumento do risco de pneumonias e outras doenças respiratórias, pois com o avançar da idade o sistema imunológico também envelhece e enfraquece o combate. Até 40% dos 26 casos de pneumonia em idosos acontecem pela infecção do vírus da gripe (DA SILVA et al., 2017). As alterações fisiológicas nos idosos acabam tornando-os os mais susceptíveis ao desenvolvimento da pneumonia devido às alterações provocadas pela própria senescência, por exemplo: o sistema imunológico diminui sua eficiência, existe também uma diminuição do transporte mucociliar, o que associado à diminuição do reflexo e eficácia da tosse, promove uma acumulação constante de secreções, tornando esse grupo de pessoas mais passíveis ao desenvolvimento de infecções respiratórias (DE OLIVEIRA ROSA et al., 2020). Estudos realizados sobre pneumonia em idosos mostram que o índice da taxa de mortalidade está elevado e estes dados têm relação direta com a frágil imunidade de idosos. A gripe é um agente que pode causar pneumonia e precisa ser tratada como doença. A melhor prevenção é vacinar o idoso contra as pneumonias causadas por vírus e alguns tipos de bactérias a partir dos 60 anos. Esse público deve evitar o contato com quem estiver gripado e ter uma alimentação e hidratação adequadas (DA SILVA et al., 2017). O processo de envelhecimento ocasiona modificações biopsicossociais no indivíduo, que estão associadas à fragilidade, a qual pode levar a maior vulnerabilidade. Dentre os sistemas que sofrem alterações fisiológicas com o envelhecimento, o imunológico tende a fraquejar a medida em que a faixa etária aumenta (DA SILVA et al., 2017). Em concordância com o aumento do número de idosos nos serviços de saúde e seu maior risco para desenvolver doenças infectocontagiosas, os cuidados com a prevenção da pneumonia mostram-se extremamente necessários, especialmente dentro do ambiente hospitalar (DE OLIVEIRA ROSA et al., 2020). 4.7. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma causa frequente de morbidade e mortalidade mundialmente conhecida. O quadro clínico nas fases iniciais se assemelha aos sintomas atribuídos ao tabagismo, no qual a tosse e a presença de catarro são frequentes, sendo necessário para o diagnóstico, a correlação com a presença de obstrução ao fluxo aéreo na espirometria. Chiado e aperto no peito são sintomas inespecíficos e de apresentação variável ao longo do dia, mais frequentes nos idosos e nos períodos de exacerbações infecciosas (BARBOSA et al., 2017). 27 De acordo com Rancisco et al. (2006), a infecção respiratória também vem sendo apontada como uma das principais causas de morbi-mortalidade entre os idosos, podendo estar associada à exacerbação clínica da doença pulmonar obstrutiva crônica. Nas últimas décadas, a incidência de infecções agudas do trato respiratório e de suas complicações aumentou globalmente, bem como a taxa de incidência anual de pneumonia em indivíduos maiores de 65 anos em diversos países. Além disso, as infecções respiratórias agudas são a principal causa de hospitalização de pacientes com condições médicas crônicas. Entre as causas de doença e óbito em idosos, a doença pulmonar obstrutiva crônica se destaca devido à sua alta prevalência e caráter progressivo. Compreendeduas entidades: a bronquite crônica e o enfisema pulmonar, sendo o tabagismo sua principal causa. A doença pulmonar obstrutiva crônica é ainda pouco diagnosticada no Brasil e os dados epidemiológicos acerca da doença são escassos (RANCISCO et al., 2006). Na população idosa, a presença de alterações cardiovasculares, osteoarticulares e neurológicas podem tornar os sintomas da DPOC subclínicos, como consequência das limitações nas atividades físicas, ou por sobreposição dos sintomas semelhantes presentes também em outras doenças crônicas. Frente ao subdiagnóstico da DPOC no idoso, destaca-se a necessidade de novos estudos para este grupo (BARBOSA et al., 2017). O subdiagnóstico da DPOC tem como consequência direta o não tratamento, aumentando morbidade e riscos de complicações, uma vez que a redução da capacidade ao exercício implicada na diminuição da capacidade para atividades da vida diária, piora da qualidade de vida, podendo ser fator causal e agravante das comorbidades na DPOC como disfunções músculo esqueléticas, doenças cardiovasculares, obesidade e síndrome metabólica (BARBOSA et al., 2017). Variáveis sociodemográficas, econômicas, comportamentais, particularmente o tabagismo, e comorbidades podem predispor o idoso a doenças pulmonares, em adição às alterações no status imune associado à idade. Portanto, torna-se relevante identificar tais fatores, já que a redução da morbidade é essencial para a manutenção da capacidade funcional e autonomia do idoso (FRANCISCO et al., 2006). 28 5.0 APARELHO GÊNITO-URINÁRIO 5. 1 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO - ITU A infecção de trato urinário (ITU) em idosos constitui um sério problema de saúde, é a segunda infecção mais prevalente na população. A ITU pode fazer com que o idoso tenha complicações mais graves e que necessitem de internação hospitalar, além disso, estes indivíduos podem predispor de maior susceptibilidade à infecção devido às condições fisiológicas da idade. As bactérias são os principais agentes causadores da ITU na maioria dos casos por Escherichia coli, entretanto outras espécies podem estar envolvidas na colonização do trato urinário (MORAIS et al., 2017). A penicilina é o antibiótico mais utilizado no tratamento das ITUs, no entanto desde sua introdução no arsenal terapêutico de uso humano, tem-se observado o aumento na prevalência de bactérias resistentes ao tratamento. Desse modo, o aumento da prevalência da resistência bacteriana constitui um desafio para o tratamento destas infecções, requer, portanto, de estudos e análises constantes do perfil de susceptibilidade das bactérias associadas com tais infecções, é necessário também detectar a existência de possíveis novos patógenos causadores de ITU (PÓVOA et al., 2019). A urocultura juntamente ao quadro clínico, são os principais meios de diagnosticar a ITU, visto que a urina é considerada um meio estéril e a urocultura é uma ferramenta fidedigna para o analise. O exame de urocultura estava recomendado especialmente em casos de infecções mais graves, pielonefrites e/ou tratamento antimicrobiano recente. No entanto, com o aumento de infecções resistentes aos antimicrobianos comumente usados, também acaba por ser indicada em infecções simples. Por conta da demora em se obter o resultado da urocultura, é comum na prática clínica, utilizar antibióticos de modo empírico. Na tomada de decisão, são levados em consideração fatores como perfil de sensibilidade local, efeitos colaterais, ação sistêmica e eficácia. O tratamento imediato com antibióticos ameniza a mortalidade ocasionada pelas ITU. Porém,o uso indiscriminado e inapropriado acarreta outro problema para a medicina atual: a resistência antimicrobiana. Desse modo, a resistência ao tratamento medicamentoso, configura a principal causa de falha no tratamento antimicrobiano, gerando aumento nos custos e maior mortalidade (MICHELIN et al., 2016). 29 5.2 DOENÇA RENAL CRÔNICA - DRC É sabido que a prevalência das doenças renais crônicas - DRC, se modifica com o fator idade, atingindo valores mais elevados entre os idosos. A redução na taxa de filtração glomerular (TFG) para valores inferiores a 60 ml/min/1,73 m² ocorre com o envelhecimento, devido às mudanças estruturais e funcionais progressivas dos rins, ou por comorbidades associadas, como o diabetes mellitus por exemplo, e da exposição a fatores de risco ao longo da vida . Em meio aos idosos a presença de DRC representa um risco aumentado para outras complicações à saúde, que podem ocasionar morte, sendo importante o diagnóstico precoce da redução na TFG e da albuminúria para auxiliar direcionar a terapêutica e consequente redução de complicações (AMARAL et al.,2019) . “Os dados do envelhecimento preocupam também pela associação com as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) que afetam milhares de pessoas e mantém índices elevados de incidência em todo o mundo. Dentre as DCNT, destaca-se a Doença Renal Crônica (DRC), que atinge pessoas em todas as faixas etárias e sua prevalência vem aumentando nos últimos anos, caracterizando-a como um problema de saúde pública”. (MENDONÇA el at.,2018, p. 20). Ainda de acordo com Mendonça et al (2018), dados Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) registraram em 2014, aproximadamente, dois milhões de pacientes com DRC e 112.004 em diálise, dos quais aproximadamente 35% eram idosos. A DRC ocorre de forma lenta e progressiva levando, tardiamente, a um quadro de falência renal irreversível. Entretanto, a patologia pode ser retardada se diagnosticada e tratada adequadamente em seus estágios iniciais. As principais causas de DRC que acometem os idosos no Brasil são hipertensão, diabetes, pielonefrite, ureterolitíase, obstrução do trato urinário, distúrbios vasculares, infecções, medicamentos ou agentes nefrotóxicos. A conduta terapêutica na DRC consiste em tratamento conservador/pré-dialítico que inclui terapia medicamentosa, recomendações nutricionais seguidas muitas vezes de restrição de restrição de líquidos e condutas dietéticas mais severas na tentativa de desacelerar a progressão da DRC, a fim de adiar o início de uma Terapia Renal Substitutiva (TRS). Com o passar dos anos a filtração glomerular declina, isso ocorre de forma fisiológica, em conseguinte à idade, tornando os idosos mais suscetíveis a desenvolver a DRC. Estima-se que 50% da população com 75 anos ou mais tem a DRC em diferentes estágios (PEREIRA, et al., 2017). 30 5.3 INCONTINÊNCIA URINÁRIA - IU Segundo Melo et al. (2017), o processo de envelhecimento é inerente ao corpo e é responsável por uma série de mudanças, como morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas. Tais modificações, diminuem a capacidade de manutenção da homeostasia, o que dificulta a adaptação do indivíduo a sua ambiência. Nesse viés, síncrono ao envelhecimento, ocorrem as síndromes geriátricas, dentre elas a incontinência urinária (IU). A incidência da IU cresce exponencialmente com o passar da idade devido às modificações funcionais e estruturais do trato urinário. A Sociedade Internacional de Continência (ICS), define a IU como toda eliminação urinária de forma involuntária. Em idosos a IU é prevalente, pelas dificuldades enfrentadas pelos familiares, essa disfunção pode representar um ponto de decisão importante para institucionalização. Ademais, a IU representa também um fator de risco para a depressão e isolamento social. Essa doença está relacionada a um risco elevado de deficiência funcional global em indivíduos que se tornam incontinentes após os 65 anos de idade, indicando o início precoce da fragilidade, que configura outro aspecto importante sobre o processo de senilidade (ROSA et al., 2014). Em uma pesquisa realizada por QUADROS et al. (2015), a qual os autores pretendiam investigar a prevalência da IU em idosos institucionalizados e a suarelação com o estado mental, independência funcional e comorbidades associadas, constaram-se que o sexo femenino apresentou maior ocorrência da patologia em relação ao sexo masculino. No grupo incontinente a maior porcentagem de IU foi entre as mulheres (77,77%) e uma taxa menor para os homens (22,22%). Ainda sobre a IU associada ao asilamento dos idosos os autores vêm afirmando: “O grupo incontinente apresenta pior déficit cognitivo e maior dependência para a realização das atividades básicas de vida diárias. A cognição influência diretamente e indiretamente os sintomas depressivos, prevalentes em idosos institucionalizados. O idoso institucionalizado passa a diminuir seu nível de atividade física, seja pela idade avançada ou pela incapacidade funcional. Todo este quadro pode levar às demências. A incontinência urinária oferece um percentual significativo na associação com quadros demenciais, tornando uma das causas mais frequentes de asilamento e elevando os índices de idosos asilados. Quanto maior o tempo de institucionalização, maior a debilidade do idoso,26,27 como demonstrado nessa amostra em que o grupo incontinente apresenta maior tempo de admissão em relação ao grupo continente e possui maior debilidade”. (QUADROS el al.,2015, p. 27) 31 Segundo ROSA et al., (2014) muitos autores em seus estudos evidenciam a relação da IU com o envelhecimento no sexo feminino. Dessa maneira, os fatores que predispõem as mulheres a IU fazem parte do processo natural do envelhecimento, como o hipoestrogenismo e a diminuição das fibras do assoalho pélvico. Nos individuos do sexo masculino entre as principais causas de IU se destacam a hiperplasia prostática benigna e a retirada da próstata em decorrencia do câncer no órgão. Livre de gênero, a IU é um fator que acompanha o avanço da idade em ambos os sexos. 6.0 APARELHO LOCOMOTOR Do ponto de vista do envelhecimento, existe idade para as articulações , nesse aspecto é importante conhecer as características do envelhecimento e como ele interfere no sistema locomotor. Alterações tecidos moles: Abrange tendões, ligamentos, músculos e principalmente a sarcopenia , cartilagens , osteoartrose. Alterações ósseas: Osteoporose Alterações traumáticas (PORTO, 2014). A Sarcopenia corresponde às mudanças que ocorrem no envelhecimento muscular, geralmente relacionadas com menor densidade óssea; menor sensibilidade a insulina e menor capacidade aeróbia. É uma das variáveis utilizadas para definição da síndrome de fragilidade, que é altamente prevalente em idosos. Está relacionada ao : Aumentando o risco para quedas; Fraturas; Incapacidade; Dependência; Hospitalização, e recorrente mortalidade. A prática de exercício físico retarda a perda do próprio envelhecimento; diminui o número de quedas; melhora a mobilidade e independência do idoso e melhora o desempenho motor (PORTO, 2014). Com o passar dos tempos, há uma perda da Qualidade do músculo : mudança composição do tipo de fibra; Infecção; Contratilidade, (movimentos de contração do músculo); Características de fadiga; Vascularização; Metabolismo da glicose. Apenas 25% dos idosos praticam alguma atividade física para contribuir com a desaceleração da atrofia muscular. Apenas 1 a 3% praticam atividade em um nível significativo que consiga aumentar a capacidade da força muscular. Repouso no leito perde 1% a 1,5% da força muscular por dia (PORTO, 2014). 32 7.0 APARELHO GASTRO-INTESTINAL O envelhecimento também corrobora para o aparecimento de alterações gastrointestinais, uma delas, a cavidade oral, responde pela existência de glândulas salivares e pelos dentes, estes, responsáveis por todo o processo de produção de muco, saliva, deglutição, mastigação e trituração dos alimentos. A cavidade gastro intestinal de onde há o canal que conecta a extremidade da boca ao estômago, compreende a faringe, esfíncter esofágico superior e inferior, esôfago, diafragma e estômago. O esôfago pode sofrer alterações importantes: Alterações da motilidade esofágica ; contrações esofágicas ; Tensão no esfíncter superior do esôfago Redução da depuração de materiais deglutidos e fluidos do estômago (CAMPOS, 2000). O estômago é um órgão que se caracteriza por ser uma porção dilatada do trato digestivo e está localizado inferiormente ao diagrama. Esse órgão pode ser dividido em: cárdia, fundo, corpo e porção pilórica. A cárdia está localizada na transição entre esôfago e estômago; o fundo é a porção superior em forma de cúpula; o corpo é a porção central que ocupa maior parte do estômago; e a porção pilórica é uma área estreitada na região terminal. No estômago observa-se a liberação de uma substância denominada suco gástrico. O suco gástrico apresenta dois componentes principais: o ácido clorídrico e a pepsina. O ácido clorídrico ajuda a desdobrar as proteínas do alimento, facilitando a ação das enzimas. A pepsina, por sua vez, atua quebrando as proteínas em polipeptídeos menores. O intestino delgado é um compartimento longo que pode apresentar mais de seis metros de comprimento. É nele que a maior parte do processo de digestão acontece (CAMPOS, 2000). O intestino delgado é dividido em três porções: duodeno, jejuno e íleo. O duodeno, primeira porção do intestino delgado, apresenta cerca de 25 cm e é onde ocorre a junção do quimo às secreções provenientes do pâncreas, fígado e do próprio intestino delgado. Essas secreções são: -Suco pancreático: O pâncreas é uma glândula anexa e é responsável pela produção de uma solução alcalina rica em bicarbonato e também em enzimas, tais como a tripsina e a quimiotripsina, que atuam nas proteínas; as nucleases pancreáticas, que atuam nos ácidos nucleicos; e a lipase pancreática, que atua nos lipídios. Bile: a bile é uma secreção produzida pelo fígado e, diferentemente das outras secreções que são liberadas no sistema digestório, caracteriza-se por não apresentar enzimas. Essa secreção apresenta sais que atuam como emulsificantes, ou seja, funcionam como detergentes. A 33 bile, apesar de produzida no fígado, é armazenada na vesícula biliar. -Suco intestinal ou entérico: O revestimento do intestino delgado também é responsável por secretar substâncias. Dentre as enzimas encontradas no suco intestinal ou entérico, destacam-se a maltase, que atua na maltose, a sacarose, que atua na sacarose, e a lactase, que atua na lactose (CAMPOS, 2000). Cada órgão possui sua função no organismo, podendo gerar algumas doenças quando não tratadas, sendo a mais comum. (Dispepsia; doença péptica ulcerosa). Associado às alterações decorrentes do envelhecimento, é frequente o uso de múltiplos medicamentos que influenciam na ingestão de alimentos, na digestão, na absorção e na utilização de diversos nutrientes, o que pode comprometer o estado de saúde e a necessidade nutricional do indivíduo idoso (CAMPOS, 2000). Idosos possuem maiores riscos, os aspectos clínicos das alterações vesicais são: o Maior risco de infecções urinárias; Risco de incontinência urinária (existem várias etiologias associadas); Incontinência urinária de urgência, de esforço, por transbordamento, funcional e mista; Diminuição concentração urinária - Poliúria compensatória (nictúria); No homem: aumento de próstata eleva os riscos de infecção e incontinência (CAMPOS, 2000). 8.0 O PAPEL DO CUIDADOR: AS RELAÇÕES DE CUIDAR E SER CUIDADO NO DOMICÍLIO O caderno do Curso de Especialização em Atenção Domiciliar: Abordagem familiar na Atenção Domiciliar (2015) relata que o surgimento do SUS advém do embate acerca da constituição de 1988, que foi acompanhada pela Comissão Nacional da Reforma Sanitária deliberada na 8° Conferência nacional de Saúde de 1986, que por sua vez, foi a primeira que ocorreu a participação popular. Nessa constituição apareceu o §196 que trouxe o lema “saúde é direito de todos,dever do Estado” que foi usado pela conferência supracitada e que por sua vez foi inspirada em Virchow e Neumann, pessoas importantes para a transição do conceito de saúde contemporâneo, principalmente no Brasil. No caderno do Curso de Especialização em Atenção Domiciliar: Abordagem familiar na Atenção Domiciliar (2015) é citada uma passagem que ilustra muito como seriam os cuidados de fato com a pessoa, respeitando o todo e não somente um ponto. Virchow, sem conhecer a bactéria nem antibióticos, 34 conseguiu com algumas medidas terminar com a epidemia de febre tifóide na região da Silésia (Polônia). Para isso ele modificou a carga horária de trabalho em 6 horas a menos, passando de 16 horas para 10 horas diárias, melhorou as condições de saneamento nas fábricas no simples ato de abrir janelas. Também proibiu o trabalho para menores que na época a idade variava de 4 a 12 anos, reivindicou maior salário para os trabalhadores, pois mais dinheiro seria necessário para comprar comida para os filhos e para uma alimentação adequada para todos e introduziu a ideia de se fazer construção de casas populares próximas às fábricas. Dentre os muitos avanços alcançados por esta, um dos mais importantes foi fixar o chamado Conceito Ampliado de Saúde. Ainda no caderno do Curso de Especialização em Atenção Domiciliar: Abordagem familiar na Atenção Domiciliar (2015) está escrito que para que efetivamente entrassem em vigor os artigos da Constituição seriam necessárias aprovar a Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90 e a Lei Orgânica da Saúde nº 8.142/90. Estas foram então aprovadas em 1990 na era Collor, mas tiveram importantes artigos vetados por aquele presidente, e em 1992 realizou-se a 9ª Conferência Nacional de Saúde, onde se debateu que para que essas leis orgânicas funcionassem de fato, precisavam ser definidas Normas Operacionais Básicas (NOBs) para que o SUS começasse a funcionar. Porém, mediante tantos avanços no pós Virchow, onde a saúde passou a ser unicausal, deixando o cuidado com a pessoa engavetado, nada disso que vem na nossa Constituição Cidadã se tornará uma verdadeira conquista se não houver calor humano envolvido nas relações interpessoais entre o cuidador e a pessoa idosa sob seus cuidados. Palavras como acolhimento, tão usual no conceito de saúde hoje em dia, já traduz a ideia de que os idosos deverão ser considerados, antes de tudo, um ser humano que precisa de cuidados especiais e de ações e serviços que garantam a promoção, proteção e recuperação da sua saúde, mas que precisa, antes de tudo, serem ouvidos e deixados participarem desses processos, para que se tente atingir de fato um bem-estar para ambos, o cuidador e ele. Dessa forma, podemos entender segundo Brito (2017, apud SABROZA, 2001), que “o processo saúde-doença ocorre na interseção da lógica da reprodução da vida e da lógica da produção econômica, se expressando tanto individualmente, quanto nos grupos populacionais, como nas sociedades (nesse nível, como problemas de saúde pública)”. Segundo Hoffman (2015) nos diz que os entes federativos, de forma direta ou indireta, mediante a participação complementar da iniciativa privada, devem lhes garantir esses serviços e ações que precisam ser organizadas de forma regionalizada e 35 hierarquizada. Assim, pensou-se em uma estratégia para a organização e atenção que ficassem interligados como o preceito de se estabelecerem um arranjo de ações e serviços que ficassem organizados em rede de forma que as diferentes densidades tecnológicas fiquem integradas no apoio técnico, logístico e de gestão. Essa rede é conhecida como RAS (Rede de Atenção em Saúde). Dessa forma, existem algumas características que estão presentes na RAS; 1. Horizontalidade formada entre os pontos de atenção formada através de relações intermediadas pela ABS que serve como centro de comunicação; 2. Centralidade nas necessidades de saúde pública; 3. Responsabilização por atenção contínua e integral; 4. Cuidado multiprofissional. Ainda na questão dos cuidados, existe um modelo de atenção integral para a pessoa idosa que torna tudo organizado para potencializar e articular ações já desenvolvidas através de estratégias que visam fortalecer essa articulação, qualificar os resultados e ampliar o acesso da pessoa idosa aos pontos de atenção da RAS. Sendo assim, o cuidado se trata dessa organização devem ser: 1. Integrado às Redes de Atenção à Saúde (RAS); 2. Ordenado pela Atenção Básica em saúde (ABS); 3. Articulado com áreas e programas estratégicos do SUS; 4. Intersetorial. 9.0 NORMA E NORMATIVIDADE HUMANA EM CANGUILHEM – Saúde, Cura e Doença O modelo em forma de bloco é unicausal, feito a “La pasteuriana”, de visão flexneriano e retirou de circulação a teoria da Determinação social de Virchow e Neumann e o conseqüente Movimento de Medicina Social que foi hegemônico na Europa entre 1830 e 1870, retornando timidamente apenas para as áreas sociais em 1942 com Sigerist e Canguilhem, época em que Sigerist falava das quatro grandes tarefas do médico como aquelas que fazem promover a saúde: prevenir doenças, restabelecer e reabilitar o doente. Assim, em sua concepção, para a Medicina Social promover saúde é dar condições de vida que se estendia desde o trabalho, educação, cultura física, distração e descanso e que para essa tarefa acontecer de fato seria necessário a intromissão de políticas públicas, sindicatos, indústrias, educadores e médicos. 36 Nestes termos é perceptível que muito antes da medicina ter adotado um modelo unicausal, o cuidar apareceu na denominada Medicina Social de Canguilhem, e após vasto período ter sido trocada pelo modelo biomédico, ficando assim desaparecida, retorna hoje à discussão dada ao seu perfil potencializador e humanizador da saúde que foi à época. Dalgalarrondo (2008, apud ALMEIDA FILHO, 2001), escreveu que na medicina existe um embate sobre saúde e cuidado, onde a controvérsia é notada como uma grande questão nessa discussão, e Almeida Filho (2000) nos dizem que formalmente se pode antecipar que Saúde no nível individual, possui formalmente duas proposições: (a) “Nem todos os sujeitos sadios acham-se isentos de doença.” (b) “Nem todos os isentos de doença são sadios.”. Observando o que foi supracitado, nos deparamos com um questionamento que nos leva a se perguntar quem colocou uma fronteira entre o que é normal e o que é patológico e desse modo notamos a subjetividade aflorar, nos induzir a julgar precocemente sobre a questão do que é ser saudável, porque todos nós carregamos um pouco desta. Assim olhamos em nosso entorno e dizemos o que vimos de acordo com nossa percepção, julgamos ter razão em tudo partindo muitas vezes da medicina biomédica para se justificar e logo tratamos de normalizar as coisas que nos parecem excêntricas, sem abstrairmos que o que é normal para algumas pessoas pode não sê-lo para nós, mesmo se baseando na concepção da medicina tradicional. A Universidade Federal de Ouro Preto (2020? apud CANGUILHEM, 1978) escreveu que os organismos vivos sempre tendem a oscilações para mais ou para menos do equilíbrio fisiológico e que assim é que se traduz os fenômenos patológicos, vistos assim como variações quantitativas que designam, a partir do normal, como mudanças hiper ou hipo, ou seja, ele nos diz que não existe constância e sim oscilações, e isso é o normal de todos os seres vivos , e que doenças são os resultados dos efeitos que ocorrem no organismo mediante mudança de intensidade na ação dos fatores que estimulam e são indispensáveis para a conservação da saúde. Dessa forma entendemos com ele que estar doente não é sinônimo de perceber oscilações fisiológicas, pois todo organismo vivo tem naturalmente essa tendência. Portanto, considerando a idade avançada de uma pessoa idosa,
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