Buscar

Dos delitos e das penas - Resumo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DOS DELITOS E DAS PENAS – Cesare Beccaria
I - Introdução
Tudo o que a sociedade tem de vantagem, deve ser repartido entre todos as pessoas que convivem nela. Porém, desde antigamente, nota-se o fato de sempre se acumular no menor número os privilégios, o poder e a felicidade, para deixar a maioria na miséria e na fraqueza, e isso só tem concerto com a criação de boas leis. 
Os homens só abrem seus olhos à essas leis quando já estão reduzidos, depois de terem andado ao meio de erros, depois de se exporem, exporem a sua própria liberdade e a própria existência, e quando estão aos seus extremos, correm para remediar o mal que os afligem.
II – Origem das Penas e Direito de Punir
A moral política não proporciona nenhuma vantagem duradoura à sociedade, se não for embasada em sentimentos permanentes do coração humano. Toda lei que não for criada sobre essa base, encontrará uma resistência à qual deverá ceder. Sendo assim, pode ser visto que, uma força, por menor que seja, se for aplicada continuamente, destrói um corpo que de primeira vista pareça sólido, porque lhe provocou um movimento violento. É no coração humano que acharemos os princípios fundamentais do direito de punir. 
Quando se houve a formação das primeiras sociedades, logo houve a criação de novas, originadas pela necessidade de resistir às primeiras, vivendo assim em um estado de guerra contínuo entre si. E qual condição criou o homem para isso? As leis, que acabaram reunindo os homens, que viviam isolados e independentes. Eles sacrificaram uma parte da liberdade que tinham para que pudessem aproveitar do restante dela com mais liberdade, sendo assim, formou-se a soberania da nação, e a pessoa que ficou encarregada das leis em que o restante depositou a sua liberdade e também responsável pelos cuidados da administração, foi proclamado ‘soberano do povo’.
Foi necessário proteger esse depósito de liberdade, pois o homem é usurpador, ele procura retirar da massa comum à sua porção de liberdade, mas também a dos outros. Então também fez-se necessário meios sensíveis e poderosos para comprimir esse espírito, que logo fez a sociedade retornar ao seu antigo caos. Esses meios foram as penas estabelecidas contra os infratores das leis.
Essas pequenas porções de liberdade reunidas é o fundamento do direito de punir. Todo exercício de poder que se afasta dessa base é abuso e não justiça, é um poder de fato e não de direito.
III - Consequência desses Princípios
Tem-se como 1ª consequência que só as leis podem fixar as penas de cada delito e que somente o legislador (que representa toda a sociedade por um contrato social) pode fazer as leis penais. A partir do momento que o juiz é mais severo do que a lei, ele é injusto, pois acrescenta um castigo novo à algo que já está determinado.
A 2ª consequência é que a pessoa que representa a própria sociedade, pode fazer somente leis que sejam submetidas à todas as pessoas, porém, não é de sua competência julgar se alguém violou as leis, tendo duas partes quando há um delito: o soberano que afirma que o contrato social foi violado e o acusado, que nega essa violação. E se faz necessário um terceiro sujeito, que decida a contestação de ambos, sendo o magistrado, cuja sentença deve somente pronunciar se há um delito ou não.
A 3ª consequência é, mesmo que os castigos cruéis não se opusessem diretamente ao bem público e ao fim que se lhes atribui, o de impedir os crimes, bastará provar que essa crueldade é inútil, para que se deva considerá-la como odiosa, revoltante, contrária a toda justiça e à própria natureza do contrato social.
IV – Da Interpretação das Leis
Os juízes não podem interpretar as leis penais, já que não são legisladores. Eles recebem as leis da sociedade viva, ou do soberano, que é quem representa essa sociedade, como depositário legítimo do resultado atual da vontade de todos. Não se pode executar as leis sem injustiça, já que humanos possuem vontades e direitos, então as leis emprestam a sua força da necessidade de orientar os interesses particulares para o bem geral.
O juiz deve fazer um argumento perfeito, sendo o maior a lei geral, e a menor, a ação conforme ou não à lei, e a consequência sendo a liberdade ou a pena. Se o juiz for raciocinar além, ou se fizer por conta própria, tudo será incerto. Se fosse assim, veríamos a sorte de um cidadão ao passar de um tribunal para outro, e algumas vidas estariam à mercê de um falso raciocínio ou talvez do mau humor do juiz. Veríamos diversas punições pelos mesmos delitos, em diferentes momentos, pelo mesmo tribunal, em vez de seguir a voz única da lei.
Com as leis penais sendo executadas à letra, cada pessoa pode calcular os inconvenientes de ação ilegal, o que é ótimo, já que se souber as consequências, pode deixar de fazer o crime, o que fará com que goze com segurança de sua liberdade e dos seus bens.
V – Das Obscuridades das Leis
As leis precisam ser escritas em uma linguagem não vulgar, para que possa ser interpretada por todos, já que, enquanto o texto das leis não forem um livro familiar, enquanto sua escrita for em uma linguagem de difícil acesso para o povo, e enquanto o cidadão não puder julgar por si mesmo as consequências, ficarão na dependência de um pequeno número de homens depositários e intérpretes das leis.
VI – Da Prisão
Permite-se aos juízes encarregados de fazer as leis, um direito que vai contra o fim da sociedade, que é a segurança pessoal. Sendo assim, a lei deve estabelecer, por que indícios de delito um acusado pode ser preso e submetido a interrogatório.
O clamor público, a fuga, as confissões particulares, o depoimento de um cúmplice do crime, as ameaças que o acusado pode fazer, seu ódio inveterado ao ofendido, um corpo de delito existente, e outras presunções semelhantes, bastam para permitir a prisão de um cidadão. Tais indícios devem, porém, ser especificados de maneira estável pela lei, e não pelo juiz, cujas sentenças se tornam um atentado à liberdade pública, quando não são simplesmente a aplicação particular de uma máxima geral emanada do código d.as leis. 
As leis e os costumes de um povo estão atrasados em relação aos atuais, conservando as ideias de nossos selvagens antepassados. Os nossos costumes e as nossas leis atrasadas estão longe das luzes dos povos.
VII – Dos Indícios do Delito e da Forma dos Julgamentos
Tem um teorema que ajuda muito a calcular a certeza de um fato e o valor dos indícios de um delito, que é quando as provas de um fato se apoiam todas entre si, quando os indícios acabam se sustentando nos outros, tendo eles como força uma verdade só, o número de provas não acrescenta nem subtrai nada, ou seja, não merecem quase nenhuma consideração, porque, destruindo a única prova que parece certa, derruba o restante delas. 
As provas podem ser separadas em perfeitas e imperfeitas. As primeiras são as que demonstram positivamente que é impossível que o acusado seja inocente. Já as imperfeitas são quando não excluem a possibilidade de inocência do acusado. Uma prova perfeita, mesmo que sendo única, é o suficiente para autorizar a condenação, porém, se quiser condenar sobre provas imperfeitas, é preciso que elas sejam em número muito grande para valerem uma prova perfeita, ou seja, para provarem todas juntas que é impossível que o acusado não seja culpado.
Quando as leis são claras e exatas, o dever do juiz limita-se à constatação do fato. Se se faz necessárias agilidade e habilidade na investigação das provas de um delito, basta o simples bom senso. Quando o culpado e a pessoa ofendida estão em condições desiguais, os juízes devem ser escolhidos, metade entre as pessoas que acompanham o acusado e metade entre os do ofendido, para contrabalançar os interesses pessoais, as aparências dos objetos e para só deixar falar a verdade e as leis.
VIII – Das Testemunhas
É imprescindível, em todo lugar que tenha uma boa legislação, determinar a maneira exata o grau de confiança que se deve dar às testemunhas e a natureza das provas necessárias para constatar o delito. Poderá ser recebido em testemunho todo homemque experimentar as mesmas sensações que os outros homens e puser ligação em suas ideias, porém, a confiança dada a ele deve ser medida pelo interesse que este tem em dizer ou não a verdade. Não basta uma só testemunha, pois negando o acusado o que a testemunha afirma, não há nada de certo e a justiça deve respeitar o direito que cada um tem de ser julgado inocente.
As ações que são violentas, que constituem os delitos, deixam traços na maior parte das circunstâncias que as acompanham e efeitos que delas derivam, porém, as palavras não deixam vestígio e só existem na memória, quase sempre infiel e na maioria das vezes influenciadas, das pessoas que as ouvem. Então torna-se bem mais fácil formar uma calúnia sobre discursos do que sobre ações, pois quanto mais circunstâncias aparecem para provar as ações, acaba fornecendo ao acusado mais recursos para que ele se justifique.
IX – Das Acusações Secretas
As acusações secretas são um abuso claro, mas necessário em vários governos pelo fato de sua constituição ser fraca. O uso das acusações tornam os homens falsos e desleais. O hábito de ocultar sentimentos faz com que sejamos dissimulados a nós mesmos. 
Montesquieu dizia, as acusações públicas são conformes ao espírito do governo republicano, no qual o zelo do bem geral deve ser a primeira paixão dos cidadãos. Em todo governo, republicano ou monárquico, deve infligir ao caluniador a pena que o acusado sofreu, se ele for considerado culpado.
X – Dos Interrogatórios Sugestivos
As nossas leis proíbem os interrogatórios sugestivos, porque, só se deve interrogar sobre a maneira pela qual o crime foi cometido e sobre as circunstâncias que o acompanham. Um juiz não pode permitir questões diretas em que sugestiona ao acusado uma resposta imediata, então ele diz ais criminalistas que só se deve ir ao fato indiretamente, não em linha reta. Esse método foi criado para evitar sugerir ao acusado uma resposta que o salve, ou que o condene imediatamente por uma resposta própria.
As confissões do acusado não são necessárias quando provas suficientes demonstraram que ele é evidentemente culpado do crime de que se trata. Este último caso é o mais ordinário, e a experiência mostra que, na maior parte dos processos criminais, os culpados negam tudo.
XI – Dos Juramentos
Uma outra contradição entre as leis e os sentimentos dos homens é exigir que um acusado diga a verdade, quando ao mesmo tempo a sua maior vontade é não a dizer. 
XII – Da Questão ou Tortura
É uma atrocidade o fato da maioria dos governos aplicar a tortura à um acusado enquanto é feito o processo, seja para arrancar-lhe a confissão do crime, seja para esclarecer as contradições em que caiu, seja também para descobrir os cúmplices ou outros crimes dos quais não foram acusados, mas que poderia ser culpado, e isso ainda acontece porque os sofistas diziam que a tortura livrava a desonra. 
Um homem não pode ser considerado culpado antes da sentença do juiz, e a sociedade só pode retirar a proteção a proteção pública depois que ele se convenceu de ter violado as condições com as quais estava de acordo. A força só pode ser infligida à um cidadão quando ainda se duvida se ele é inocente ou culpado.
O delito só tem a opção de ser certo ou incerto. Se ele é certo, deve ser punido com a pena fixada, escrita em lei, e a tortura é considerada inútil, já que não há a necessidade das confissões do acusado. Se o delito é incerto, perante as leis, é inocente aquele cujo o crime não se provou.
A tortura é muitas vezes um meio seguro de condenar um inocente que seja fraco e de absolver o criminoso. Toda ação violenta faz desaparecer as pequenas diferenças dos movimentos pelos quais se distingue, às vezes, a verdade da mentira. O culpado, ao contrário, tem por si um conjunto favorável: será absolvido se suportar a tortura com firmeza, e evitará os suplícios de que foi ameaçado, sofrendo uma pena muito mais leve. Assim, o inocente tem tudo que perder, o culpado só pode ganhar.
XII – Da Duração do Processo e da Prescrição
Quando um crime é constatado e as provas são certas, é justo dar ao acusado o tempo e os meios de justificar-se, mas é preciso que esse tempo seja bastante curto para não atrasar demais o castigo que deve seguir juntamente com o cometimento do crime. Cabe unicamente às leis fixar o espaço de tempo que se deve empregar para a investigação das provas do crime, e o que se deve conceder ao acusado para sua defesa. Se o juiz tivesse esse direito, estaria trabalhando nas funções do legislador.
O tempo que se coloca na investigação das provas e o que fixa a prescrição não devem ser prolongados em razão da gravidade do crime que o acompanha, já que enquanto um crime não está provado, quanto mais desumano, menos aceitável ele é. 
Os delitos podem ser separados em dois tipos: o primeiro é o dos crimes desumanos, que começa pelo homicídio e que compreende toda a progressão dos mais horríveis assassinatos. O segundo tipo entra os crimes menos hediondos que o homicídio. A segurança das pessoas é um direito natural, já a segurança dos bens é um direito da sociedade.
Cometem-se na sociedade alguns crimes que são ao mesmo tempo comuns e difíceis de constatar, e já que esses crimes são quase impossíveis de provar, a inocência é provável perante a lei. Os grandes crimes nem sempre são a prova da decadência de um povo.
XIV – Dos Crimes Começados; Dos Cúmplices; Da Impunidade
É muito importante se punir a intenção do agente de cometer um delito, mesmo que esse ainda não foi aplicado. Isso faz-se necessário já que é importante prevenir os crimes e não somente puni-los depois que foram cometidos. Isso deve acontecer com relação aos cúmplices, mesmo não sendo ativo-diretos, ao participarem do crime, devem receber penas proporcionais ao crime cometido por eles.
XV – Da Moderação das Penas
Para que as penas passem medo e sejam eficazes para o fim ao qual estão destinadas, é necessário que sejam equivalentes aos crimes e também que o rigor das penas deve ser compatível ao estado atual da sociedade na qual o culpado reside. A crueldade é conhecida como um desvio da finalidade principal das penas.
É necessário impressões fortes e sensíveis para impressionar o espírito de um povo que sai do estado primitivo. Conforme as almas se acalmam no estado de sociedade, o homem fica mais sensível, assim, as penas acabam por serem menos rigorosas.
XVI – Da Pena de Morte
A pena de morte não tem apoio em nenhum direito. É quando a nação julga a destruição de um cidadão sendo necessária ou útil. A pena de morte só seria aceita em uma sociedade que possui um governo bem organizado, afirmando que a pena seja útil e justa, porém, isso é uma exceção, já que nas sociedades atuais ela é prejudicial ao exercício da aplicação das leis. 
Privar a liberdade de um ser humano é bem mais eficiente do que simplesmente aplicar uma pena que cause grande impacto. A pena de morte é ainda funesta à sociedade, pelos exemplos de crueldade que dá aos homens. Ainda não chegaram os dias felizes em que a verdade eliminará o erro e se tornará característica de maioria, em que o gênero humano não será iluminado somente pelas verdades reveladas.
XVII – Do Banimento e das Confiscações
O sujeito que perturba a tranquilidade pública, que não obedece às leis, que viola todas as condições sob as quais os homens se sustentam e se defendem mutuamente, esse deve ser banido da sociedade, ou seja, são os que comprometem a ordem do Estado perfeito.
A confiscação de bens, por ser uma pena pior que somente o banimento, deve ocorrer em casos previstos em leis, nos quais o culpado deve ser desligado da sociedade da qual fazia parte anteriormente e assim, ocorrerá sua “morte natural e política."
XVIII – Da Infâmia
A infâmia é um sinal da condenação pública, que priva o culpado da consideração, da confiança que a sociedade tinha nele. Como seus efeitos não dependem absolutamente das leis, a vergonha que a lei inflige se baseia na moral, e/ou na opinião pública. 
XIX – Da Publicidade e da Presteza das Penas
A pena de um delito será útile justa quanto mais pronta for e mais de perto seguir o delito, e isto poupará o acusado da tortura e da incerteza. O cidadão quando detido, deve ficar detido somente o tempo que seja necessário para que ocorra o processo, uma vez que, a partir do momento que o sujeito decidiu se sujeitar a um Estado (entrando assim no Pacto Social), era pra que sofresse os menores males possíveis.
XX – Que o Castigo deve ser Inevitável - Das Graças
O que faz com que não ocorra mais delitos não é a pena ser severa e sim a sua aplicação obrigatória. Para afastar a ideia de que o agente não será punido, é necessário a perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável. É importante ressaltar o fato que o direito de punir pertence somente às leis – que estão ali pra representar a vontade do povo – e as leis penais existiram em função do bem público, ou seja, para a proteção do bem-estar do cidadão.
XXI – Dos Asilos
Os soberanos devem fazer troca de criminosos para que estes sejam julgados nos países em que cometeram seus respectivos delitos. E também é errado conceder asilo aos criminosos, pois isso acaba por gerar um sentimento de impunidade nos cidadãos e essa seria a permutação útil.
XXII – Do Uso de pôr a Cabeça a Prêmio
Se o criminoso ainda está presente no país em que violou as leis, o governo que toma por decisão por a sua cabeça a prêmio revela fraqueza. Além disso, anula-se todas as ideias de moral e virtude, que acabam por ficar tão fracas e abaladas no espírito humano. De um lado, as leis punem a traição, e de outro autorizam-na. Sempre em contradição consigo mesmo, o legislador procura espalhar a confiança e animar os que duvidam, mas também, tem momentos em que semeia a desconfiança em todas as pessoas. 
As nações só serão felizes quando a moral estiver estritamente ligada à política.
XXIII – Que as Penas devem ser Proporcionadas aos Delitos
Os meios usados pela legislação para a punição dos crimes devem ser mais fortes à medida que o delito é mais contrário ao bem público e pode tornar-se mais comum. Deve haver proporção entre os delitos e as penas.
O legislador deve ser um arquiteto hábil, que saiba ao mesmo tempo empregar todas as forças que podem contribuir para consolidar o edifício e enfraquecer todas as que possam arruiná-lo. É necessário que o legislador sábio estabeleça divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos delitos e que, sobretudo, não aplique os menores castigos aos maiores crimes.
XXIV – Da Medida dos Delitos
A verdadeira medida dos delitos é o dano causado à sociedade. 
XXV - Divisão dos Delitos
Há crimes que tendem diretamente à destruição da sociedade ou dos que a representam. Outros atingem o cidadão em sua vida, nos seus bens ou em sua honra. Outros, finalmente, são atos contrários ao que a lei prescreve ou proíbe, tendo em vista o bem público. Todo ato não compreendido numa dessas classes não pode ser considerado como crime, nem punido como tal, senão pelos que descobrem nisso o seu interesse particular.
Todo cidadão pode fazer tudo o que a lei não proíbe, sem temer consequências à não ser aquelas derivadas de seus atos. Isso deveria ser gravado no espírito dos povos, dito pelos magistrados supremos e protegidos pelas leis. Sem isso, nenhuma sociedade sobreviveria por muito tempo, já que isso é uma recompensa pelo fato do sacrifício feito pelos homens da sua independência e liberdade.
XXVI – Dos Crimes de Lesa-Majestade
Os crimes de lesa-majestade foram postos na classe dos grandes crimes porque são mortais à sociedade, porém a ignorância confunde as palavras e as ideias mais claras, deram esse nome à uma multidão de delitos de natureza totalmente diversa. Foram aplicados penas mais graves à faltas leves e nesse momento, o homem é muitas vezes vítima de uma palavra mal interpretada. 
Toda espécie de delito é nociva à sociedade; mas, nem todos os delitos tendem imediatamente a destruir.
XXVII – Dos Atentados contra a Segurança dos Particulares e, Principalmente, das Violências 
Após os crimes que atingem toda a sociedade, vêm os atentados contra a segurança dos particulares. Essa segurança é o fim de todas as sociedades humanas, não há como deixar de punir com as penas mais graves aquele que a atinge. Dentre esses crimes, uns são atentados contra a vida, outros contra a honra e outros contra os bens. Os crimes contra a vida, além de serem considerados como grandes delitos, devem ser punidos com penas corporais, ou seja, com a tortura.
XXVIII – Das Injúrias
As injúrias pessoais são contrárias à honra, ou seja, todo o homem tem o direito de esperar respeito dos seus companheiros, e os que contradizerem, devem ser punidos pela infâmia.
Pode-se constatar que seja no estado de liberdade extrema ou no de liberdade limitada (viver em sociedade), as ideias de honra se confundem ou mesmo desaparecem com outras ideias. A honra deve ser uma garantia protegida pelo Direito, de forma a preservar a imagem de cada cidadão perante outro, com determinação de reparação de dano quando é ferida.
XXIX – Dos Duelos
A origem dos duelos está estritamente ligada á defesa pessoal da honra e, ainda, está estritamente ligada a uma sociedade na qual prevalece a desordem de um ordenamento ruim. A única maneira para evitar o surgimento de duelos - baseados na defesa da honra - é a punição severa do agressor e inocentar aquele que defendeu a própria honra (pena expressa em lei, pois esta é a única maneira legítima de punição).
XXX – Do Roubo
Só deve ser punido com uma pena pecuniária o roubo realizado sem uso de qualquer violência. Por que as penas pecuniárias não podem ser utilizadas para os outros roubos? Pois elas somente serviriam para multiplicar o número de roubos. A pena mais “justa” para o roubo será a escravidão temporária para que fique bem claro para o culpado o dano que causou a sociedade e o transtorno que a violação do pacto social pode causar.
Já se tratando do roubo acompanhado de violência, é “justo” acrescentar a servidão as penas físicas, ou seja, além do dano patrimonial, deve-se acrescentar o dano a pessoa física.
XXI – Do Contrabando 
O contrabando é um verdadeiro crime, que ofende o soberano e a nação. É um delito que é gerado pelas próprias leis, já que quanto maior são os direitos, maior é a vantagem do contrabando, a tentação de contrabandear é também muito forte e mais fácil de cometer esse tipo de crime, ainda mais se os objetos proibidos são pequenos.
XXXII – Das Falências
O falido de má fé deve ser severamente punido assim como um moedeiro falso, já o falido de boa fé deve ser tratado com menor rigor, pois pode ser que a fortuna não estivesse do seu lado (penalidade a ser apurada de acordo com as provas apresentadas pelo acusado). É claro que o falido de boa fé não será imune a obrigação de cumprir com sua dívida, ressalta o autor. Ele simplesmente não sofrerá com o cárcere, porém, ainda assim, terá que arcar com outras consequências penais.
XXXIII – Dos Delitos que Perturbam a Tranquilidade Pública
Essa espécie de delitos que distinguimos compreende os que perturbam particularmente o repouso e a tranquilidade pública. O vandalismo e a desordem prejudicam a tranquilidade e harmonia social, portanto, devem sofrer punições os que praticarem tal delito.
O tirano quando é senhor das opiniões, se apressa a comprimir as almas corajosas, as que tem tudo a temer. Para que se previna tal desordem, é necessária uma vigilância ostensiva, isto é, uma vigilância rígida, contínua e feita" de perto ". É necessária também a criação de leis de silêncio, de ordem, entre outras.
XXXIV – Da Ociosidade
Os governos sábios não sofrem uma espécie de ociosidade que é contrária ao fim político do estado social. É imprescindível que se encontre um equilíbrio entre a finalidade pública e a liberdade individual. Cabe exclusivamente e somente às leis definirem quais tipos de delitos baseados na ociosidade devem ser punidos
XXXV – Do Suicídio
O suicídio é um delito que parece não poder ser submetido a nenhuma pena propriamente dita; pois essa pena só poderia recair sobre umcorpo insensível e sem vida, ou sobre inocentes. Ora, o castigo que se aplicasse contra os restos inanimados do culpado não poderia produzir outra impressão sobre os espectadores senão a que estes experimentariam ao verem fustigar uma estátua. Se a pena é aplicada à família inocente, ela é odiosa e tirânica, porque já não há liberdade quando as penas não são puramente pessoais.
Mesmo que o cidadão se mate, ele faz menos mal a sociedade que o cidadão que renuncia a sua pátria para viver em outra. A maneira mais eficaz de prender os cidadãos em seu país é simples: investir no bem estar de cada indivíduo, o que abrange segurança e boas condições de vida.
XXXVI – De Certos Delitos difíceis de Constatar
Na sociedade na sociedade certos delitos que são bastante frequentes, mas que é difícil provar. Tais são o adultério, a pederastia, o infanticídio. Começaremos pelo adultério: é um delito de instante que só ocorre com tanta frequência, pois as leis não são fixas e porque os dois sexos são "naturalmente" atraídos um pelo outro. É muito mais difícil ao legislador puni-lo que o prevenir. A pederastia é severamente punida pelas leis e inclusive, para este delito, são permitidas as torturas atrozes.
A única maneira encontrada de prevenção do infanticídio foram a criação de leis eficazes, posto que este é um delito difícil de se prevenir de outra maneira.
XXXVII – De uma Espécie Particular de Delito
Nesse livro só se fala dos crimes que dizem respeito ao homem natural e que violam o contrato social.
XXXVIII – De Algumas Fontes Gerais de Erros e de Injustiça na Legislação
Existem muitas fontes de injustiça na legislação, sendo o conceito de" utilidade "parte delas. São falsas ideias de utilidade as que separam o bem geral dos interesses particulares, sacrificando às coisas as palavras. Tais leis só servem para multiplicar os assassínios, entregam o cidadão sem defesa aos golpes do celerado, que fere com mais audácia um homem desarmado; favorecem o bandido que ataca, em detrimento do homem honesto que é atacado. Essas leis são simplesmente o ruído das impressões tumultuosas que produzem certos fatos particulares; não podem ser o resultado de combinações sábias que pesam numa mesma balança os males e os bens; não é para prevenir os delitos, mas pelo vil sentimento do medo, que se fazem tais leis.
A tirania e o ódio são sentimentos duráveis, que se sustentam e tomam novas forças à medida que se exercem; ao passo que, em nossos corações corruptos, o amor e os sentimentos ternos se enfraquecem e se extinguem na ociosidade.
XXXIX – Do Espírito da Família
O espírito da família é outra fonte geral de injustiças na legislação. Parece que a grandeza de um Estado deve estar na razão inversa do grau de atividade dos indivíduos que a compõem. Se essa atividade crescesse ao mesmo tempo que a população, as boas leis achariam um obstáculo, para prevenir os delitos, no próprio bem que tivessem podido fazer.
A moral familiar só inspira a submissão e o medo, ao passo que a moral pública inspira coragem a liberdade.
XL – Do Espírito do Fisco
O julgamento tornou-se um negócio civil tendo em vista que o magistrado analisava e julgava, o fisco recebia o dinheiro que o culpado deveria pagar pelo crime e o reendereçava para a Coroa.
XLI – Dos Meios de Prevenir um Crime
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão a arte de proporcionar aos homens o maior bem-estar possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males desta vida.
A solução para a prevenção dos crimes é simples: além de elaborar leis coercitivas, simples, igualitárias e claras e, preparar a nação para respeitar e fazerem valer tais leis, isto é, fazer uso do aparato jurídico quando estas forem violadas.
XLII - Conclusão
Conclui-se que a pena deve ser exclusivamente pública, necessária e pronta para que não seja considerado um ato de violência contra os cidadãos. A pena deve, ainda, ser proporcional ao delito cometido e estar expressamente determinada em lei anterior.
CRÍTICA
O autor foi fundamental para o estudo da história de todo o Direito e mostra principalmente que o Direito Penal não pode ser somente resumido em um conjunto de requisitos prescritos em lei, e a sua opinião muda conforme há modificações sociais, já que o Direito Penal em si, ele está em constante modificação, que pode ser, influenciado de todas as formas pelas ideologias jurídicas, manipuladas pelas pessoas que possuem influência e poder.

Continue navegando