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Os autores deste livro e a AC FARMACÊUTICA LTDA., uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional, empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelos autores até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas (p. ex. site da Anvisa, do Bularium ou dos laboratórios farmacêuticos), de modo a se certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Manual prático de teroide: diagnóstico e tratamento Copyright © 2014 by AC FARMACÊUTICA Uma editora integrante do GEN |Grupo Editorial Nacional Direitos exclusivos para a língua portuguesa Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da Editora. Travessa do Ouvidor, 11 Rio de Janeiro, RJ – CEP 20040-040 Dona Brígida, 701 – Vila Mariana São Paulo, SP – CEP 04111-081 Esta é uma publicação da Capa: Design Monnerat Figuras 1.2, 4.1, 4.3 e 5.1: Imagens originalmente publicadas na obra Endocrinologia clínica, publicada pela Editora Guanabara Koogan, uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional. Cortesia do Dr. Lucio Vilar. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Manual prático de tireoide: diagnóstico e tratamento / organizado por Laura Ward. - [3. ed.] - Rio de Janeiro : AC Farmacêutica, 2014. il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-811-4265-4 1. Glândula tireoide. I. Ward, Laura. 13-07406 CDD: 616.44 CDU: 616.441 Organizadora Laura Ward (CRM-SP 37194/0) Professora Livre-Docente pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Secretária do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Membro da Comissão de Educação Médica Continuada da SBEM. Membro da Comissão Científica da SBEM. Colaboradores Eduardo Kiyoshi Tomimori (CRM-SP 34237) Doutor em Radiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Secretário da Sociedade Latino-Americana de Tireoide. Representante no Brasil do International Council for the Control of Iodine Deficiency Disorders Global Network. Fernanda Mazza (CRM-RJ 52 716448) Médica Assistente e Pesquisadora do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA) do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE-RJ). Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Especialista em Endocrinologia pela Policlínica Sant’Orsola, Itália. Residência em Endocrinologia e Metabologia no IEDE-RJ. Hans Graf, MD, PhD (CRM-PR 5179) Chefe da Unidade de Tireoide do Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). Presidente da Sociedade Latino-Americana de Tireoide (LATS, Latin American Thyroid Society). Léa Maria Zanini Maciel (CRM-SP 26771) Professora Doutora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do Centro de Triagem Neonatal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Patrícia Künzle Ribeiro Magalhães (CRM-SP 71828) Médica Assistente do Programa de Triagem Neonatal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Rosalinda Yossie Asato de Camargo (CRM-SP 40458) Doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Médica Assistente do Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professora Colaboradora da Faculdade de Medicina da USP. Rosana Marques Pereira (CRM-PR 13357) Doutora em Pediatria, Professora Adjunta do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Médica da Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional (Serviço de Referência em Triagem Neonatal do Estado do Paraná). O Apresentação Manual Prático de Tireoide tem por finalidade oferecer uma base de consulta de acesso fácil e simples. Aborda os principais problemas práticos com que nos deparamos no manejo do paciente portador de doenças tireoidianas. À diferença de um compêndio ou de um livro de referência, ele se limita à abordagem diagnóstica e terapêutica, sem se alongar em mecanismos fisiopatogênicos. No entanto, todos os capítulos são amparados na mais recente literatura, fartamente ilustrada e resumida em esquemas e tabelas. As doenças da tireoide são bastante frequentes. Os nódulos tireoidianos ocorrem em cerca de metade da população examinada através de ultrassonografia cervical, enquanto doenças autoimunes afetam cerca de 2% da população, chegando a atingir mais de 10% de faixas etárias mais avançadas. Embora o câncer diferenciado da tireoide (CDT) seja relativamente raro, acomete até 13 indivíduos para cada mil habitantes. É o tumor cuja incidência mais cresceu, atingindo níveis de 6,3% ao ano entre 1997 e 2003 nos Estados Unidos, onde ocupa atualmente a oitava posição entre as neoplasias mais frequentes na mulher. Registros nacionais de câncer e publicações brasileiras confirmam o aumento na incidência do CDT, sobretudo entre as mulheres, embora a mortalidade pelo CDT esteja diminuindo. As doenças autoimunes da tireoide também vêm sendo detectadas com maior frequência, talvez devido ao aumento da ingestão de iodo no Brasil, que também tem sido culpado pela maior incidência de carcinomas de tipo papilífero. Por outro lado, a melhora na sensibilidade dos testes laboratoriais e o acesso cada vez mais amplo à ultrassonografia vêm modificando a apresentação clínica dos casos e obrigando a uma conduta diferente nos casos de CDT de baixo e de alto risco para má evolução, assim como nos pacientes com disfunção tireoidiana subclínica. Este manual tem o objetivo de apresentar, em formato de fácil consulta e visualização, os mais recentes protocolos de investigação e tratamento das doenças tireoidianas mais comuns na prática do clínico brasileiro. Dra. Laura Ward 1. 2. SUMÁRIO Doenças nodulares benignas Diagnóstico diferencial do nódulo da tireoide Indicação da ultrassonografia de tireoide Avaliação inicial do nódulo da tireoide Conduta no nódulo tireoidiano benigno Bócio nodular atóxico Definição Etiologia História natural da doença Diagnóstico Tratamento Doenças nodulares malignas Diagnóstico de malignidade Exames laboratoriais Fatores clínicos Fatores epidemiológicos Características ultrassonográficas Fatores ultrassonográficos de risco para câncer diferenciado da tireoide Características citológicas Imuno-histoquímica 3. Marcadores moleculares Estadiamento de risco do câncer diferenciado da tireoide Seguimento do pacientecom câncer diferenciado da tireoide Avaliação do 3o mês Avaliação do 6o ao 12o mês Avaliação anual Terapia supressiva com levotiroxina Conduta no paciente com tireoglobulina elevada Hipotireoidismo Clínico Epidemiologia e fatores de risco Diagnóstico Subclínico Hipotireoidismo subclínico Alterações cardiovasculares no hipotireoidismo primário Tratamento do hipotireoidismo e risco cardíaco Tratamento com levotiroxina na prática médica Checar diagnóstico Checar medicamento usado Checar adesão ao tratamento Checar adequação da prescrição Idade Peso corporal Condição fisiológica Checar horário da tomada da medicação Checar tomada da medicação em jejum Pesquisar doenças concomitantes Pesquisar uso concomitante de medicamentos Pesquisar contato com disruptores tireoidianos 4. 5. 6. Hipertireoidismo Doença de Graves Manifestações clínicas Avaliação laboratorial Tratamento Drogas antitireoidianas Iodo radioativo Cirurgia Oftalmopatia de Graves Tireoide e gravidez Disfunção tireoidiana na gravidez Hipotireoidismo na grávida Etiologia Tratamento Hipertireoidismo na grávida Doença de Graves Hipertireoidismo relacionado com a gonadotrofina coriônica humana Outras causas de hipertireoidismo Doença nodular tireoidiana na gravidez Hipotireoidismo congênito Introdução Etiologia do hipotireoidismo congênito Manifestações clínicas Diagnóstico e triagem neonatal A triagem neonatal no Brasil Tratamento Prognóstico 7. 8. 9. 10. 11. Disfunção tireoidiana no recém-nascido Hipertireoidismo neonatal Hipotireoidismo central neonatal Aleitamento Disfunção tireoidiana na criança e no adolescente Hipotireoidismo Hipertireoidismo Hipotireoidismo no idoso O problema do cut off para hipotireoidismo no idoso Manejo da levotiroxina no idoso Dose Controle inadequado no idoso Fatores ambientais e a tireoide Disruptores físicos Disruptores biológicos Disruptores químicos Prevenção da ação dos disruptores tireoidianos Avaliação ultrassonográfica dos nódulos da tireoide Características ultrassonográficas Tamanho e formato do nódulo Ecogenicidade Calcificações Halo hipoecogênico Ecoestrutura Classificação ultrassonográfica dos nódulos tireoidianos Diagnóstico ultrassonográfico dos nódulos tireoidianos Doppler em tireoide Avaliação ultrassonográfica pré-operatória dos pacientes com carcinoma da tireoide Indicações de punção aspirativa por agulha fina guiada por ultrassonografia, de acordo com as características ultrassonográficas Nódulos na tireoide são muito frequentes, particularmente emmulheres de faixas etárias mais avançadas. No entanto, o câncer na glândula tireoide é relativamente raro, obrigando a uma cuidadosa avaliação dos fatores de risco clínicos e epidemiológicos na avaliação de risco de cada portador de nódulo. A maior parte dos nódulos não está associada nem a hipotireoidismo nem a hipertireoidismo, mas a função tireoidiana deve ser cuidadosamente investigada em todo paciente com nódulo antes de se estabelecer uma conduta terapêutica, sem esquecer-se de avaliar os aspectos obstrutivo e estético. A citologia obtida pela punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é o método mais efetivo, barato e rápido para diagnosticar malignidade.1-9 Diagnóstico diferencial do nódulo da tireoide Outras estruturas cervicais podem ser confundidas com a glândula tireoide. • • Tabela 1.1 Lesões que podem ser confundidas com nódulos tireoidianos, embora não sejam primárias da glândula tireoide Cisto tiroglosso Broncocele Gânglios inflamatórios ou neoplásicos Laringocele Higroma cístico Cisto de paratireoide Aneurisma Adenoma de paratireoide A própria glândula tireoide pode ser sede de uma série de lesões nodulares benignas e malignas (Tabela 1.2). Tabela 1.2 Lesões benignas da glândula tireoide Adenoma Tireoidites (Hashimoto, linfocítica, granulomatosa, aguda) Cistos simples ou secundários a outras lesões da tireoide Hiperplasia compensatória após cirurgia ou terapia ablativa com 131I Carcinoma Hemiagenesia congênita Bócio multinodular (ou coloide ou hiperplasia) Doenças granulomatosas Linfomas Lesões metastáticas Lesões tumorais malignas podem ser secundárias, pois a tireoide é altamente vascularizada e pode receber células metastáticas de outros órgãos. Entre as lesões primárias malignas devem-se distinguir as: Originárias da própria célula folicular tireoidiana, que, em 98% a 99% dos casos, dá origem a tumores bem diferenciados, de tipo papilífero (carcinomas papilíferos [CPs]) ou folicular (carcinomas foliculares [CFs]), e muito raramente a carcinomas indiferenciados ou anaplásicos. Originárias da célula C, produtora de calcitonina, que dá origem a carcinomas medulares. Estes são, em cerca de 25% dos casos, parte de síndromes genéticas como a neoplasia endócrina múltipla (NEM) e o carcinoma medular familiar, o que obriga à pesquisa de mutações do gene RET. Indicação da ultrassonografia de tireoide É importante ressaltar que a ultrassonografia (US) cervical não é um bom método de rastreamento de câncer da tireoide, mas é altamente sensível para doenças nodulares, sendo pouco específica para câncer.1-9 É um exame de custo relativamente baixo, porém dependente do operador, devendo ser empregado e interpretado de forma criteriosa. Tabela 1.3 Indicações e não indicações da ultrassonografia da glândula tireoide Não é indicada É indicada Como teste de rastreamento de população A paciente com nódulo palpável A paciente com baixo risco de câncer da tireoide A paciente com história de irradiação cervical A paciente com tireoide normal à palpação A paciente com história familiar de câncer da tireoide A paciente com linfonodomegalia inexplicada Avaliação inicial do nódulo da tireoide Quando se detecta um nódulo tireoidiano, a história clínica completa e um exame clínico cuidadoso deverão ser realizados visando principalmente a definição das características do nódulo e a avaliação da presença de adenomegalia cervical. É importante lembrar que o risco de câncer é semelhante em nódulos encaminhados para avaliação por terem sido detectados por métodos de imagem e em pacientes com nódulos palpáveis. Todo nódulo > 1 cm de diâmetro deve ser avaliado.10- 17 Apesar de a história clínica, na maioria das vezes, não ser sensível ou específica, existem alguns sintomas e/ou sinais que sugerem maior risco de malignidade (Tabela 1.4). Tabela 1.4 Fatores de risco para malignidade no portador de nódulo da tireoide História de crescimento rápido do nódulo História de sintomas compressivos ou infiltrativos (dificuldade para engolir ou respirar, mudança de voz), sem outras causas óbvias História de irradiação de cabeça e/ou pescoço, ou irradiação total para transplante de medula óssea História familiar de câncer de tireoide ou de síndromes familiares (NEM) Nódulo muito endurecido à palpação Nódulo fixo a estruturas adjacentes à palpação Aumento dos gânglios cervicais na regional ipsilateral ao nódulo palpável Paralisia de corda vocal ipsilateral ao nódulo palpável Outros (idade < 20 anos ou > 60 anos, sexo masculino, nódulos > 4 cm) A Figura 1.1 mostra os itens necessários para a avaliação inicial do nódulo tireoidiano. Figura 1.1 Avaliação inicial do nódulo tireoidiano. Fonte: Rosário PW et al; 2013.18 Se a concentração de hormônio tireoestimulante (TSH) estiver abaixo do normal, devem-se solicitar tiroxina livre (T4L) e tri-iodotironina (T3) para caracterizar o hipertireoidismo. Cintigrafia com iodo radioativo (131I) auxilia a caracterizar autonomia e pode ser seguida de administração de dose terapêutica para nódulos autônomos (ver adiante aconduta no nódulo hiperfuncionante). Se a concentração de TSH estiver acima do normal, deve-se solicitar anticorpo antitireoperoxidase (anti-TPO) para confirmar tireoidite de Hashimoto. Lembrar que diversas situações ou drogas podem diminuir ou elevar os níveis de TSH (ver mais adiante diagnóstico diferencial do TSH baixo).1-9 Pode-se não realizar a US caso o nódulo seja facilmente palpável, mas ela é importante para ajudar a definir se o nódulo é único ou múltiplo, se está perto de cápsula ou invade estruturas e se há gânglios acometidos, o que pode mudar o planejamento cirúrgico. O risco de malignidade é similar entre nódulos únicos e nódulos na glândula multinodular.1-9 Tabela 1.5 Características ultrassonográficas de malignidade em nódulos tireoidianos Hipoecogenicidade Microcalcificações Margens irregulares Hipervascularização Ausência de halo hipoecoico em volta do nódulo Aumento do diâmetro anteroposterior Figura 1.2 Ultrassonografia tireoidiana. A. Aspecto normal. B. Nódulo hipoecoico de 0,8 cm, com limites bem precisos, detectado incidentalmente. Cortesia do Dr. Lucio Vilar. Gânglios suspeitos de malignidade devem ser submetidos à PAAF para citologia e dosagem de tireoglobulina (Tg). Citologia obtida por PAAF com diagnóstico de benignidade não precisa ser repetida. Citologia suspeita, de padrão folicular (que não sejam nódulos quentes na cintigrafia) e maligna indica cirurgia, como mostra a Figura 1.3. Citologia não conclusiva ou insatisfatória deve ser repetida. Dosagem de calcitonina deve ser realizada quando se suspeita de carcinoma medular e nos casos de citologia de padrão folicular.1-9 Figura 1.3 Fluxograma da avaliação do paciente com nódulo tireoidiano. Fonte: Rosário PW et al; 2013.18 Conduta no nódulo tireoidiano benigno Nódulos com citologia benigna, tanto em bócios uni como multinodulares, devem ser seguidos a cada 12 a 18 meses após a PAAF, com palpação e, eventualmente, US.1-9 O intervalo de seguimento pode ser ampliado se o nódulo permanecer do mesmo tamanho. Nódulos que aumentam mais de 20% de tamanho devem ser repuncionados. Não se aconselha o uso de levotiroxina (LT4) para supressão de TSH (terapia supressiva). Só se recomenda injeção percutânea de álcool em serviços que possuem familiaridade com o procedimento e em nódulos císticos. Recomenda-se a cirurgia para bócios multinodulares grandes e bócios mergulhantes. Recomenda-se iodo radioativo para pacientes com nódulos autônomos hipercaptantes e para bócios multinodulares grandes em indivíduos com contraindicações cirúrgicas. O uso de TSH recombinante humano (rhTSH) (Thyrogen®) pode aumentar a captação e otimizar a terapia desses casos.1-9 Tabela 1.6 Tratamento do bócio multinodular Tiroidectomia Tratamento de escolha – resolução rápida, especialmente dos sintomaslocais Terapia com iodo radioativo (RAI) Boa alternativa, especialmente para o paciente com hipercaptação. É segura e pode ser usada em bócio pequeno (volume < 100 mL) rhTSH na dose de 0,01 mg a 0,03 mg 24 horas antes da RAI aumenta a captação e otimiza a eficácia da dose ablativa de 131I Bócio nodular atóxico Hans Graf Definição O bócio nodular atóxico (BNA) é uma enfermidade que faz parte das doenças nodulares benignas da tireoide. Ele é o resultado de um aumento do volume tireoidiano, com crescimento excessivo e transformação estrutural e/ou funcional de uma ou mais áreas do parênquima tireoidiano normal. O BNA não está associado a doenças autoimunes, processos inflamatórios ou malignidade.19 É considerado endêmico quando a prevalência em crianças de 6 a 12 anos é superior a 5% e esporádico quando inferior a isso.20 Etiologia A etiologia da doença nodular de tireoide é multifatorial, compreendendo um espectro que vai do pequeno nódulo achado de forma incidental a um grande bócio multinodular (BMN) intratorácico, com sintomas compressivos.21 A incidência do BNA é relacionada com a ingesta de iodo da população em estudo, sendo aumentada em áreas deficientes desse elemento, em mulheres e idosos.10 A ingestão de iodo considerada adequada deve ser de 100 a 150 mg/dia em adultos e adolescentes. A dosagem da concentração de iodo na urina é útil para identificar sua deficiência, quando o nível de iodo em amostra de urina coletada durante 24 horas é < 100 a 150 mg/dia. Por outro lado, níveis urinários > 300 mg/dia são indicativos de ingestão de iodo além do recomendado.22,23 Verifica-se correlação direta entre o grau de deficiência de iodo, a prevalência de bócio de uma população e o tamanho do mesmo.24 Na presença de deficiência de iodo, ocorre uma redução na produção de T4, acarretando maior secreção hipofisária de TSH, o qual, por sua vez, leva à hiperplasia das células foliculares. A deficiência de iodo também se correlaciona com o desenvolvimento de autonomia glandular, a qual pode ser revertida com a suplementação de iodo,25 embora cause mais frequentemente o hipertireoidismo em pacientes previamente eutireoidianos com autonomia glandular devido ao efeito Jodd-Basedow. Entretanto, nem todo indivíduo com deficiência de iodo desenvolve bócio, o qual também pode surgir em pacientes com ingestão adequada, ou até mesmo excessiva, desse mineral. Agentes externos também podem predispor ao desenvolvimento de BNA, como o tiocianato presente no cigarro e a radiação.26 Algumas substâncias são descritas como sendo “bociogênicas”, devido à capacidade de inibirem a síntese de hormônios tireoidianos, levando à elevação do TSH. A lista dessas substâncias é extensa e seu real impacto sobre a epidemiologia do BMN é incerta.27 A maior incidência do BNA entre as mulheres provavelmente está relacionada não só com fatores genéticos, mas também com os hormônios sexuais femininos. O estrogênio tem a capacidade de estimular o crescimento de células tireoidianas normais de camundongo28 e também de células cancerígenas.29 A agregação de diversos casos de bócio em uma mesma família (principalmente entre gêmeos monozigóticos) é indicativa de que há também uma predisposição genética para o desenvolvimento de BNA.30 Devido ao seu papel na fisiologia tireoidiana, os genes da Tg, da tireoperoxidase, da proteína transportadora de iodo (NIS) (cotransportadora de sódio e iodo), da pendrina e do receptor do TSH são os candidatos mais fortes a causas genéticas para o BNA. Outros loci possivelmente associados ao BNA são MNG-1 (14q31), Xp22 e 3q26.31,32 Apesar de um padrão de herança autossômica dominante ter sido demonstrado em diversas famílias, múltiplos genes podem estar envolvidos em outras. Isso pode explicar por que muitas alterações genéticas predisponentes permanecem não identificadas na maioria dos pacientes com bócio atóxico. O BNA pode ser causado por mutações ativadoras somáticas ou raramente germinativas do gene do receptor do TSH. A mutação germinativa deve ser suspeitada em casos de história familiar de hipertireoidismo e bócio e na ausência de características de doença de Graves (DG). Casos de tireotoxicose persistente neonatal ou de tireotoxicose sem causa autoimune recidivante da infância sempre cursam com mutações ativadoras do gene do receptor do TSH.19 A Figura 1.4 mostra a inter-relação entre fatores ambientais e genéticos na etiopatogenia do BNA. História natural da doença A primeira teoria sobre o processo de desenvolvimento do bócio, proposta por Marine, sugere que umestímulo crônico (deficiência de iodo) acarreta a hiperplasia tireoidiana, desencadeada pelo TSH. Com uma diminuição relativa do déficit de iodo ocorre a restauração dos estoques sob a forma de coloide. Essa segunda fase seria caracterizada pelo repouso, com a formação de coloide e interrupção da hiperplasia. A repetição cíclica dessas duas fases (hiperplasia e repouso) levaria ao desenvolvimento do BNA.33 Figura 1.4 O desenvolvimento do bócio nodular atóxico parece envolver interações complexas entre fatores ambientais, endógenos e genéticos. Adaptado de Hegedus L et al; 2003.20 Mais recentemente, Krohn et al. propuseram que o desenvolvimento do BNA segue três etapas: hiperplasia (desencadeada pela deficiência de iodo, por substâncias “bociogênicas” ou por autoimunidade); aparecimento de mutações estimuladoras do crescimento e da função; e proliferação de clones celulares com mutações somáticas do receptor do TSH ou da proteína GS-α (levando ao aparecimento de nódulos funcionantes ou autônomos), ou com mutações que levam à desdiferenciação (determinando o surgimento de nódulos não funcionantes). A proliferação dos clones celulares seria ainda mais estimulada pelo aumento dos níveis do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), do fator β de crescimento transformador (TGF-β1) e do fator de crescimento epidérmico (EGF).19 O TSH é o fator de crescimento tireoidiano mais conhecido e importante na gênese do BNA. Como, entretanto, pode ocorrer crescimento tireoidiano mesmo em uso de LT4 para supressão do TSH, outros fatores de crescimento podem ser importantes. O IGF-1 pode exercer importante papel, bem demonstrado em pacientes com bócio associado a acromegalia.34 O TGF-β1 parece ter um papel inibitório no crescimento do bócio, e a diminuição de seus níveis pode estar relacionada com o desenvolvimento do mesmo.35 O IGF-2 pode ter uma ação sinérgica à do TSH. O EGF promove crescimento de tireócitos em cultura e tem expressão aumentada no BNA em estudos com imuno- histoquímica. Existem outros fatores ainda pouco estudados que podem interferir no crescimento da tireoide, como citoquinas, prostaglandinas, peptídio vasoativo intestinal, entre outros. A tireoide normal apresenta heterogeneidade genética, anatômica e funcional. Existem diferenças entre as células foliculares em relação aos seus processos metabólicos, como captação de iodo, produção de Tg, iodação, endocitose e desiodação. A consequência disso é a variabilidade anatômica e funcional entre os folículos tireoidianos e mesmo entre células de um mesmo folículo. Essa heterogeneidade também está presente no BNA, o qual apresenta áreas com clones constituídos por mutações ativadoras e por mutações que levam à desdiferenciação.19 Como consequência existe certa heterogeneidade de crescimento e função dentro de um folículo, tendo sido demonstrada por trabalhos de Studer et al. a existência de nódulos monoclonais e policlonais dentro de uma mesma glândula (Figura 1.5).36-38 Figura 1.5 Heterogeneidade de morfologia e função em um bócio nodular atóxico. Autorradiografias de duas áreas diferentes de um BMN típico atóxico após administração de contraste radioiodado ao paciente. Existem diferenças enormes de tamanho, forma e função entre folículos individuais do mesmo bócio. Não existe correlação entre tamanho ou qualquer outra característica morfológica de um único folículo e a captação de iodo. Fonte: Studer H et al; 1989.37 De acordo com a história natural da doença, provavelmente o desenvolvimento do BNA tem início na adolescência. Precocemente, ocorre aumento difuso da glândula, o que corresponde a hiperplasia glandular, já existindo bastante diferença entre o tamanho dos folículos. Subsequentemente, ocorre a formação de nódulos, a qual está intimamente relacionada com a ação dos fatores de crescimento sobre um tecido geneticamente heterogêneo. Tal heterogeneidade genética determina a policlonalidade celular, refletindo em diversidade morfológica e funcional em uma mesma glândula.20 Temporalmente, existe uma tendência de aumento de volume do bócio, o que pode ocorrer em até 56% dos pacientes segundo o estudo publicado por Papini et al., com um seguimento de pacientes com nódulo único por cinco anos.11 É sugerido que a taxa de crescimento anual seja de 0% a 20%.20 Independentemente do estado de suplência de iodo, a maioria dos nódulos cursa com crescimento, o qual se dá de maneira heterogênea. Ocasionalmente pode surgir dor ocasionada pelo rompimento de vasos sanguíneos, determinando o aparecimento de áreas de hemorragia e de degeneração cística. Calcificações também podem ocorrer como consequência desse sangramento. Após um longo período de eutireoidismo, é comum o desenvolvimento de hipertireoidismo graças ao surgimento de áreas de autonomia, ou seja, áreas com função e crescimento independentes do estímulo do TSH. Nessas áreas é verificada a ativação constitutiva da via de sinalização do monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) causada por mutações ativadoras do receptor do TSH ou por mutações na proteína Gs-α. Mesmo na presença de eutireoidismo, até 40% dos pacientes com BNA apresentam áreas de autonomia identificadas em cintigrafia.39 Há dúvidas quanto ao potencial maligno dos nódulos presentes no BNA, já que a incidência de malignidade parece ser semelhante à encontrada em nódulos únicos e na tireoidite de Hashimoto.40 O risco de carcinoma no BNA é variável, com estudos mostrando incidências de 5%41 a 13%42 em espécimes cirúrgicos, geralmente da variante papilífera, e tamanho pequeno (microcarcinomas) e pouco agressivos. Apesar de número de nódulos se correlacionar com o risco de desenvolvimento de hipertireoidismo, o mesmo não é verdadeiro quanto ao risco de malignidade (9,2% de risco para os nódulos únicos e 6,3% para o BNA).43 Independente disso, a chance de haver um carcinoma no BNA não é desprezível e deve ser analisada adequadamente por meio de biopsia de nódulos suspeitos e/ou dominantes. Diagnóstico A maioria dos pacientes com BNA é assintomática. As manifestações clínicas são decorrentes do efeito compressivo da glândula sobre as estruturas vizinhas. Apesar de o hipertireoidismo subclínico ser comum, sinais e sintomas decorrentes de hipertireoidismo franco são raros. O paciente com bócio pode relatar nodulação ou sensação de aumento de volume cervical, disfagia, disfonia, tosse e dispneia. Esses sintomas obstrutivos podem ser acentuados pela chamada manobra de Pemberton (elevação dos braços acima da cabeça, o que pode desencadear dispneia, distensão das veias do pescoço, pletora facial ou estridor) (Figura 1.6). Figura 1.6 Sinal de Pemberton em uma mulher de 58 anos com BNA mergulhante com desvio traqueal (tomografia). Fonte: Basaria S e Salvatori R; 2004.44 Dor pode estar presente em casos de hemorragia. A compressão do nervo laríngeo recorrente, com rouquidão, pode estar presente, mas é mais frequente em pacientes com carcinoma de tireoide. Na anamnese, devem ser investigados fatores que possam levar à suspeição de malignidade, como pacientes jovens (com menos de 20 anos) ou idosos (com mais de 60 anos); sexo masculino; história de irradiação externa sobre o pescoço durante a infância ou adolescência; crescimento rápido; alterações recentes da voz, respiração ou deglutição; e história familiar de câncer de tireoide ou de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.45 O diagnóstico clínicodo BNA geralmente é feito pela palpação da tireoide, que pode estar dificultada caso o bócio esteja em topografia retroesternal. Na palpação, devem ser estimados o volume, a extensão e a consistência da tireoide. Manifestações de malignidade devem ser investigadas, incluindo nódulo com consistência firme, forma irregular e com fixação a tecidos adjacentes; paralisia de cordas vocais; e linfadenopatia regional suspeita. Exames de imagem trazem informações mais precisas quanto a volume, extensão e características dos nódulos. A ultrassonografia (US) é o exame mais utilizado devido a sua praticidade e pela possibilidade de guiar a biopsia, mas a tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) também são úteis, principalmente quando o bócio tem extensão retroesternal e quando se deseja avaliar o efeito compressivo sobre as estruturas adjacentes. A introdução da US de tireoide teve enorme influência sobre a prática clínica.19 A US de tireoide modifica a conduta clínica em dois terços dos pacientes referidos a uma clínica de tireoide.46 A Figura 1.7 mostra as imagens radiográficas e tomográficas de um bócio retroesternal volumoso.45 Caso seja realizada TM, não se deve usar contraste iodado, para evitar interferência na cintigrafia e no eventual tratamento com radioiodo. Atualmente, sugere-se que todos os pacientes com bócio devam ser submetido a US. A glândula tireoidiana deve ser examinada extensa e cuidadosamente em planos transversais e longitudinais. O mapeamento também deve incluir a região da artéria carótida e da veia jugular, para identificar linfonodos cervicais aumentados. As características dos nódulos devem ser detalhadamente descritas. A presença de malignidade deve ser excluída pela PAAF e preferencialmente guiada por US. Devem ser puncionados o nódulo dominante e também aqueles suspeitos de malignidade (hipoecogênicos, mal delimitados, com fluxo vascular intranodular e com microcalcificações). Os laudos citológicos possíveis são: benigno, maligno, suspeito ou indeterminado/inconclusivo. Figura 1.7 Bócio nodular atóxico mergulhante. À esquerda, radiografia de tórax mostrando desvio traqueal para a direita (seta). À direita, tomografia computadorizada de tórax confirmando a presença de bócio retroesternal volumoso à esquerda, ao nível da carina. Fonte: Basaria S e Salvatori R; 2004.44 Tratamento Existem várias opções terapêuticas, cada uma com vantegens e desvantagens, como resume a Tabela 1.7. Observação clínica, com monitoramento da função hormonal e realização de US em intervalos regulares, é uma opção em casos de bócios pouco volumosos que não causam sintomas compressivos, associados à função tireoidiana normal. A PAAF deve ser repetida apenas se os nódulos aumentarem de volume ou passarem a apresentar características suspeitas de malignidade. Essa conduta terapêutica deve ser decidida depois do diagnóstico estabelecido de BNA por meio de avaliação clínica, laboratorial e de imagem da tireoide. Caso se opte por observação clínica, a possibilidade de malignidade deve ser antes excluída pela PAAF guiada por US. O TSH deve ser dosado anualmente, devido ao risco de desenvolvimento de hipertireoidismo na evolução natural da doença. Tabela 1.7 Tratamento do bócio nodular atóxico Opção terapêutica Indicações Vantagens Desvantagens Tireoidectomia Tratamento de escolha principalmente em bócios volumosos e suspeitos de malignidade Alívio rápido dos sintomas compressivos e diagnóstico histopatológico preciso Alto custo, risco de recidiva, risco de paralisia de cordas vocais, hipopatireoidismo e hipotireoidismo Radioiodo Contraindicação ou recusa acirurgia Redução do volume tireoidiano e melhora dos sintomas compressivos Risco de complicações agudas como tireoidite actínica e tireotoxicose transitória ou tardias como hipotireoidismo Como o TSH é um potente estimulador do crescimento tireoidiano e desempenha um papel na gênese do BNA, o uso da LT4 com o objetivo de reduzir a concentração do TSH foi considerado uma das opções terapêuticas, chamada de tratamento supressivo. A terapia supressiva é pouco eficaz, necessita de tratamento permanente e pode causar efeitos ósseos (desmineralização) e cardíacos (arritmias) indesejados. Em um estudo randomizado comparando o tratamento supressivo com o 131I, houve redução de 35% do volume em um ano e de 44% em dois anos no grupo tratado com 131I, enquanto o grupo submetido ao tratamento supressivo com LT4 atingiu redução de 7% no primeiro ano e de 1% no segundo.47 Uma metanálise recente falhou em demonstrar um benefício significante da terapia com tiroxina, a qual proporciona um risco relativo de redução do nódulo de apenas 1,9 (intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,95 a 3,81).48 A cirurgia é o tratamento de escolha, principalmente em casos de bócios volumosos e suspeitos de malignidade. Cerca de 10% a 15% dos pacientes com bócio requerem intervenção cirúrgica, e recorrência do BNA é responsável por 12% das cirurgias tireoidianas.12 A tireoidectomia tem como vantagens a promoção de alívio rápido dos sintomas compressivos e a possibilidade de fornecer um diagnóstico histopatológico preciso da tireoide. As desvantagens são a necessidade de internação, o alto custo, o risco de recidiva (dependendo da extensão da cirurgia) e os riscos inerentes ao procedimento (paralisia de cordas vocais, hipoparatireoidismo e hipotireoidismo). O risco de complicações cirúrgicas depende da experiência do cirurgião e da extensão da cirurgia, sendo que até 30% das cirurgias cursam com complicações,49 com taxa ainda maior em casos de bócios retroesternais. Paralisia de cordas vocais por lesão do nervo laríngeo recorrente ocorre em 2% dos casos, podendo ser transitória. Hipocalcemia por lesão de paratireoides acontece de forma temporária em 0,5% e definitiva em 0,6% dos casos.42 As taxas de recidiva do bócio após a cirurgia são diretamente proporcionais ao volume de tecido remanescente. Para evitar completamente o risco de recidiva, recomenda-se a realização de tireoidectomia total, que apresenta os mesmos riscos de complicações que a cirurgia parcial.50 O radioiodo 131I tem sido utilizado no manejo de doenças de tireoide nos últimos 60 anos. A radioiodoterapia é indicada quando há contraindicação ou recusa à cirurgia. A utilização deste método terapêutico tem crescido nos últimos 20 anos, levando a considerável redução do volume tireoidiano, da ordem de 30% a 40% ao final do primeiro ano, e de 50% a 60% após o terceiro ano. A maioria dos pacientes relata melhora dos sintomas compressivos. O efeito do iodo nas células foliculares é de necrose, incluindo dano ao DNA.51 O cálculo da dose utilizada no tratamento do BMN é em geral feito a partir da captação de iodo, sendo ao redor de 100 µCi a 150 µCi por grama de tecido tireoidiano corrigido para 100% de captação de 24 horas. Portanto, quanto maior o volume da glândula e mais baixa a captação de iodo, maior a atividade de radioiodo a ser utilizada. O efeito do 131I no tratamento de bócios volumosos (com mais de 100 mL) foi avaliado nos estudos de Bonnema et al. e Huysmans et al., com redução de 33,9% um ano após a administração de 26,7 µCi a 124,9 µCi e de 40% um ano depois da administração de 37 µCi a 150 µCi, respectivamente.52,53 Bócios cervicais e subesternais mostraram resposta semelhante.54 Os efeitos colaterais do radioiodo podem ser classificados em agudos e tardios. A tireoidite actínicaé uma complicação autolimitada, caracterizada por dor em topografia de tireoide, e pode ser acompanhada por febre e aumento da velocidade de hemossedimentação. Ela ocorre devido à ação do iodo na destruição celular, à reação inflamatória e à liberação dos hormônios na circulação. Geralmente é leve e transitória, tendo início uma semana após a dose de 131I, e o tratamento inclui, se necessário, anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) ou, raramente, corticosteroides. É uma complicação rara, ocorrendo em até 4% dos pacientes.47 Acompanhando o efeito actínico do radioiodo, há um aumento transitório dos níveis dos hormônios tireoidianos, o que pode ocasionar sinais e sintomas de tireotoxicose igualmente transitórios. A tireotoxicose é tratada sintomaticamente com β-bloqueadores. Outra preocupação é o aumento agudo do volume tireoidiano que pode ocorrer devido à reação inflamatória do iodo, com possíveis sintomas compressivos. Entretanto, isto não tem sido relatado. O principal efeito tardio do 131I no BNA é o desenvolvimento de hipotireoidismo, que é um evento esperado, já que ocorre destruição do tecido tireoidiano. Sua prevalência é variada e depende principalmente do período de seguimento, chegando até 48% após dois anos de seguimento.55 O risco de neoplasia de tecidos adjacentes à tireoide, relacionada com tratamento com 131I para BMN com volume superior a 100 g, foi calculado por Huysmans et al. em 1,6%, sendo de 0,5% para pacientes com mais de 65 anos.13 A eficácia do tratamento do BNA com 131I pode ser comprometida pela reduzida e irregular captação de radioiodo. Áreas de degeneração cística captam pouco ou nenhum 131I, não sofrendo a ação actínica desejada. Devido a esse padrão de captação observado no BMN, habitualmente são necessárias elevadas atividades de 131I para a obtenção de eficácia satisfatória. Como adjuvante ao tratamento actínico, estudos têm avaliado o papel do rhTSH, o qual pode ser uma opção graças ao poder de aumentar a captação de 131I e de torná-la mais homogênea (Figura 1.8).56 Diversos estudos têm mostrado que o rhTSH permite o uso de doses menores de 131I no tratamento do BNA,56 ou aumenta a eficácia do radioiodo, quando utilizado em doses habituais.14-17,57-62 O tratamento é bem tolerado e os possíveis efeitos colaterais são os mesmos observados com radioiodo isolado. Além disso, há elevação transitória dos níveis de hormônios tireoidianos e maior taxa de hipotireoidismo permanente em comparação com o tratamento apenas com radioiodo.62 A Figura 1.9 traz imagens tomográficas de um bócio volumoso antes e depois do tratamento com rhTSH e 131I. 1. Figura 1.8 Cintigrafias de 24 horas com 50 μCi de 131I de BNA antes e após 0,1 mg de rhTSH. O padrão típico heterogêneo e reduzido de captação se tornou homogêneo após a ação do rhTSH. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 1.9 Tomografia computadorizada com reconstituição multiplanar. A figura ilustra bócio mergulhante volumoso (acima) e 1 ano após tratamento com 0,1 mg de rhTSH e 30 µCi de 131I (abaixo). O tratamento levou à redução do volume tireoidiano em 40%, com melhora dos sintomas compressivos relatados pela paciente. Fonte: Arquivo pessoal. Vale ressaltar que o rhTSH não é liberado para o tratamento rotineiro do BMN. Dados de um estudo multicêntrico internacional devem ser apresentados em breve, validando o uso do rhTSH associado ao radioiodo na prática clínica. Referências bibliográficas Camargo R, Corigliano S, Friguglietti C, Gauna A, Harach R, Munizaga F, Niepomniszcze H, 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Pitoia F, Pretell E, Tomimori E, Vaisman M, Ward, LS, Wohllk N. Latin American Thyroid Society (LATS) recommendations for the management of thyroid nodules. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2009; 53(9):1167-75. 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A Diagnóstico de malignidade Exames laboratoriais proximadamente 10% dos pacientes com nódulos solitários apresentam hormônio tireoestimulante (TSH) suprimido e nódulo hiperfuncionante, obrigando à investigação adicional com cintigrafia para confirmar se o nódulo é hipercaptante (quente).1-9 O nódulo hiperfuncionante, com ou sem supressão extranodular, é quase sempre benigno, enquanto o nódulo não funcionante tem risco de 10% de ser maligno. Na ausência de disfunção tireoidiana e de tireoidite, o diagnóstico diferencial que se impõe é entre nódulos malignos e benignos. Ambos cursam, na maior parte das vezes, com níveis hormonais normais.1-9 Níveis elevados de TSH são fator de risco de malignidade. Mesmo dentro da faixa da normalidade, o valor do TSH é um marcador independente de malignidade, podendo, portanto, auxiliar na decisão terapêutica. A utilidade da determinação sérica da calcitonina na avaliação inicial do nódulo tireoidiano é controversa. Outras doenças, além do câncer medular da tireoide, causam hipercalcitonemia e falsos positivos da dosagem. No entanto, ela deve ser indicada quando há suspeita clínica de tumor medular (história pessoal e/ou familiar de tumores da tireoide).1- 9 Fatores clínicos Os fatores clínicos de risco para câncer da tireoide estão demonstrados na Tabela 2.1. Tabela 2.1 Fatores clínicos de risco para câncer da tireoide História clínica Sinais clínicos Sexo masculine Nódulo de crescimento rápido Idade < 20 anos ou > 60 anos Nódulo duro/pétreo História de câncer de tireoide na família Nódulo de superfície irregular História de neoplasia familiar (neoplasia endócrina múltipla [NEM] etc.) Fixação a tecido adjacente Mudança de voz Linfonodomegalia ipsilateral Disfagia/odinofagia Paralisia de corda vocal ipsilateral Fatores epidemiológicos Os fatores epidemiológicos de risco para câncer da tireoide encontram- se na Tabela 2.2. Características ultrassonográficas A ultrassonografia (US), com ou sem Doppler, com ou sem elastografia, auxilia na estratificação do risco de malignidade do nódulo tireoidiano. As principais características ultrassonográficas de malignidade estão 1. 2. 3. 4. listadas na Tabela 2.3. Tabela 2.2 Fatores clinicoepidemiológicos de risco para câncer diferenciado da tireoide Radiação ionizante terapêutica ou acidental Predisposição familiar Carcinoma papilífero familiar (raro, caracterização genética pobre) Polipose adenomatosa familiar (aumenta até 160 vezes o risco em mulheres < 35 anos) Doença de Cowden Neoplasia endócrina múltipla Ingestão de iodo Déficit de iodo: maior risco de carcinoma folicular, maior incidência de bócio multinodular (BMN) Suficiência de iodo: predomina o carcinoma papilífero Tireoidopatias preexistentes Adenoma folicular: predispõe ao carcinoma folicular Doença de Graves Tireoidite crônica de Hashimoto: linfoma tireoidiano Fatores ultrassonográficos de risco para câncer diferenciado da tireoide Tabela 2.3 Características ultrassonográficas sugestivas de malignidade Hipoecogenicidade Microcalcificações Margens irregulares Hipervascularização Ausência de halo hipoecoico em volta do nódulo Aumento do diâmetro anteroposterior A US também pode auxiliar a decidir quais nódulos devem ser puncionados para obtenção de citologia em um bócio multinodular. Embora se tenha recomendado não puncionar nódulos < 1 cm, alguns estudos sugerem que o risco de câncer não é menor em nódulos pequenos.9 Características citológicas A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é o exame mais acurado (90% a 100% de acurácia) de obtenção de citologia para se distinguir a natureza maligna ou benigna do nódulo de tireoide. As características citológicas de malignidade são expostas na Tabela 2.4. Tabela 2.4 Características citológicas de malignidade Presença de núcleos ovoides, claros ou em vidro fosco Pseudoinclusões intranucleares Dobras da membrana nuclear Presença de micronucléolos Corpos psamomatosos Arquitetura papilífera Entretanto, a citologia obtida por PAAF não é capaz de distinguir a variante folicular do carcinoma papilífero do adenoma folicular ou do carcinoma folicular e mesmo, às vezes, de uma simples hiperplasia. Todas essas condições podem se apresentar no chamado padrão folicular. Uma conferência realizada sob os auspícios do National Cancer Institute (NCI) determinou alguns critérios chamados de Sistema de Bethesda, que estão resumidos na Tabela 2.5. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Tabela 2.5 Sistema de classificação citopatológica de Bethesda Não diagnóstico ou insatisfatório Coloide apenas Espécime virtualmente acelular Outros (sangue, artefato técnico etc.) Benigno Nódulo folicular benigno (inclui nódulo adenomatoso, nódulo coloide etc.) Tireoidite linfocítica (Hashimoto) Tireoidite granulomatosa Outros Atipia de significado indeterminado ou lesão folicular de significado indeterminado Neoplasia folicular ou suspeita de neoplasia folicular Especificar se é tipo Hürtle (oncocítica) Suspeito de malignidade Suspeito para carcinoma papilífero Suspeito para carcinoma medular Suspeito para carcinoma metastático Suspeito para linfoma Outro Maligno Carcinoma papilífero da tireoide Carcinoma pobremente diferenciado Carcinoma medular da tireoide Carcinoma indiferenciado (anaplásico) Carcinoma de células escamosas Carcinoma misto (especificar) Carcinoma metastáticoLinfoma não Hodgkin Outro Imuno-histoquímica Muitos marcadores de malignidade têm sido investigados, mas todos apresentam alguma desvantagem ou limitação. Galectina-3, Hector Battitora mesothelial cell (HBME-1) e citoqueratina-19 (CK-19) são os mais frequentemente utilizados na prática e podem auxiliar na caracterização do nódulo.3,9 A imuno-histoquímica para calcitonina é importante no diagnóstico de carcinoma medular da tireoide, e a imuno- histoquímica para tireoglobulina (Tg) pode auxiliar a caracterizar a origem de lesões metastáticas.9 Marcadores moleculares A identificação dos principais fatores conhecidos como envolvidos no carcinoma papilífero – mutações BRAF e RAS e o rearranjo RET/PTC; e o rearranjo PAX8/receptor gama ativado pelo proliferador de peroxissomos (PPAR-γ) existente do carcinoma folicular – permite indicar cirurgia com segurança para lesões de citologia suspeita. No entanto, a ausência destes marcadores não permite descartar malignidade.3,9 A identificação da mutação BRAF permite identificar casos de maior agressividade e pode ser um importante auxiliar na opção por cirurgia e no seu planejamento, principalmente nos casos de tumores pequenos ou de malignidade incerta. A Tabela 2.6 resume os principais fatores de risco para malignidade do nódulo tireoidiano, de acordo com seu valor preditivo.7-9 Estadiamento de risco do câncer diferenciado da tireoide A tireoidectomia total ou quase total com dissecção de linfonodos do compartimento central em carcinoma papilífero (CP) ou na suspeita de carcinoma de Hurthle é o tratamento recomendado para todos os tumores tireoidianos no Brasil, independentemente de seu tamanho.7-9 Tabela 2.6 Variáveis preditivas de malignidade. Estão assinaladas em negrito aquelas que atingiram significância estatística de acordo com seu valor preditivo10 Variável preditiva Categoria variável Chance deocorrência Intervalo de confiança 95% P TSH sérico 2,23 mU/L vs. 1,19mU/L 3,53 1,35 a 9,24 0,0305 Forma na US Mais comprido do que largo vs. oval 3,20 0,24 a 13,5 0,1840 Variável vs. oval Ecotextura Mista vs. hipoecoico 1,28 0,27 a 6 0,7531 Isoecoico vs. hipoecoico 0,34 0,1 a 1,16 0,0848 Vascularização Hipervascular vs. avascular 0,06 0,004 a 0,75 0,0292 Hipovascular vs. avascular 0,04 0,003 a 0,49 0,0124 Mista vs. avascular 0,02 0,002 a 0,31 0,0042 Perinodular vs. avascular 0,06 0,004 a 0,91 0,0426 Dobras nucleares Presentes vs. ausentes 35,81 9,24 a 138,79 < 0,0001 Pseudoinclusões nucleares Presentes vs. ausentes 7,32 1,32 a 39,11 0,0198 Celularidade na PAAF Hipercelular vs. moderadamente celular 2,01 0,59 a 6,92 0,057 Hipocelular vs. moderadamente celular 0,22 0,05 a 1,05 0,057 Coloide Abundante vs. escasso 0,26 0,07 a 0,95 0,0421 O estadiamento deve ser realizado em todas as consultas do paciente, desde sua avaliação pré-cirúrgica, pois ajuda no planejamento cirúrgico e identifica indivíduos de maior risco para má evolução. Para a avaliação pré-cirúrgica, a US é essencial. Suspeita de acometimento linfonodal, clínica ou na US, indica exploração intraoperatória dos linfonodos.7-9 Tabela 2.7 Características de risco pré-cirúrgico baixo no paciente com câncer diferenciado da tireoide Sexo Feminino Idade 20 a 45 anos Tamanho à US < 2 cm Multicentricidade à US Ausente Posição à US Longe da cápsula glandular Linfonodos à US Não comprometidos Após a cirurgia, os achados intraoperatórios, a remoção total ou não do tumor e de eventuais metástases e o exame anatomopatológico auxiliam na identificação de indivíduos que poderão evoluir com piora. Usa-se a classificação TNM (T: tumor, N: linfonodo, M: metástase) (Tabela 2.8) para definir o risco pós-cirúrgico.7-9 O paciente deve ser mantido sem reposição de levotiroxina, no aguardo da pesquisa de corpo inteiro (PCI) com iodo radioativo (131I) e dosagem de Tg estimulada pela elevação de TSH realizadas cerca de 30 dias após a cirurgia. O uso de TSH recombinante humano (rhTSH) é vantajoso por não submeter o paciente a tal período de hipotireoidismo. Quando existe a possibilidade de utilizar o rhTSH, o paciente pode receber levotiroxina na dose de supressão calculada para seu peso (em torno de 2 microgramas por quilo) no pósoperatório.7-9 Deve-se prescrever dieta pobre em iodo durante este período (Tabela 2.9). Tabela 2.8 Características de risco pós-cirúrgico no paciente com câncer diferenciado da tireoide Muito baixo risco Microcarcinoma unifocal (T1a ≤ 1 cm ou T1b 1 a 2 cm) sem extensão além da cápsula tireoidiana, sem metástases (NOMO), totalmente ressecado Baixo risco Tumor uni ou multifocal (T1 ≤ 2 cm ou T2 2 a 4 cm), sem extensão além da cápsula tireoidiana e sem metástases (NOMO), sem invasão vascular, tipo histológico não agressivo, totalmente ressecado Alto risco Paciente > 45 anos, sexo masculino, tumor grande (T3 > 4 cm limitado à tireoide ou com invasão extratireoidiana mínima ou T4 > 4 cm com invasão extratireoidiana significativa), acometimento linfonodal (N1) ou a distância (M1), infiltração capsular, vascular, tipo histológico agressivo (tumor de células altas, insular ou colunar), ressecção incompleta Tabela 2.9 Indicação de dose de acordo com o estadiamento de risco realizado cerca de 30 dias após a cirurgia do câncer da tireoide Indivíduos de muito baixo risco Indivíduos com ressecção tumoral incompleta Não se indica 100 a 150 µCi Indivíduos de baixo risco Indivíduos com metástases 30 µCi a 70 µCi (de acordo com o tamanho dos remanescentes tiroidianos e o risco do paciente) 200 µCi Indivíduos de alto risco 100 a 150 µCi A PCI pré-dose não é recomendada para pacientes com dados anatomopatológicos e cirúrgicos conhecidos, mas pode ser realizada para se avaliar a necessidade de reintervir quando se suspeita de cirurgia não total. Nestes casos deve-se usar dose baixa, de 2 a 3 µCi.7-9 Reintervenção cirúrgica é recomendada quando os remanescentes são > 2 g estimadas pela US ou existem linfonodos suspeitos. A decisão da dose ablativa no primeiro mês depois da cirurgia depende da avaliação de risco do paciente e dos achados da PCI, que pode mostrar apenas remanescentes ou restos tireoidianos, ou já identificar a presença de metástases.7-9 A maioria das remissões ocorre com doses cumulativas de até 600 µCi. Acima desta dose os benefícios devem ser confrontados com os potenciais efeitos colaterais, sobretudo em pulmão e medula óssea. A administração de 200 µCi ou mais, quando não se dispõe da dosimetria, exige cautela, especialmente em idosos e pacientes com metástases pulmonares difusas, situações em que comumente se ultrapassa a atividade máxima tolerada. Seguimento do paciente com câncer diferenciado da tireoide Dosagens séricas de Tg e do anticorpo antitireoglobulina (TgAc) devem ser solicitadas imediatamente antes da administração do 131I.7-9 A Tg é o melhor marcador de recorrência e o melhor preditor de evolução de que dispomos atualmente. Níveis de Tg < 2 ng/dL imediatamente antes da dose ablativa pós-cirúrgica indicam boa evolução com 80% de certeza, enquanto valores > 10 ng/dL indicam 40% a 50% de chance de recorrência.7-9 Nos pacientes com presença de TgAc, apenas a US poderá ser utilizada para rastrear recorrência com fidedignidade, embora em alguns pacientes os níveis de Tg também possam se correlacionar com a massa tumoral produtiva. O próprio nível de TgAc pode indicar que esta massa está diminuindo e, então, servir como marcador indireto de evolução.7-9 Avaliação do 3o mês Cerca detrês meses após a cirurgia, pode-se solicitar US, a qual, antes desse período, não distingue o edema local de recorrências. A dosagem de Tg nesta ocasião também é excelente preditora, em particular, de ausência de tecido tumoral. Níveis de Tg sob supressão com levotiroxina < 1 ng/dL e US negativa para lesões cervicais indicam que o paciente está livre de doença com 98% de certeza. Avaliação do 6o ao 12o mês Retira-se a levotiroxina para nova dosagem de Tg e realização de PCI em pacientes de alto risco, como estratificado na Tabela 2.10. Pacientes de muito baixo risco e de baixo risco não necessitam de PCI, mas apenas da dosagem de Tg. Eles se beneficiam do uso de rhTSH, que permite a manutenção da levotiroxina. A dosagem de Tg deve ser feita no quinto dia após o uso de rhTSH, ou seja, três dias depois da segunda injeção.7-9 As Figuras 2.1 e 2.2 mostram o esquema de seguimento nos pacientes com baixo e alto riscos. Figura 2.1 Esquema de terapia com levotiroxina no paciente com câncer diferenciado da tireoide segundo sua avaliação de risco. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 2.2 Esquema terapêutico para câncer diferenciado da tireoide. Adaptado de AMB/CFM; 2011.5 Avaliação anual Nos pacientes de baixo risco, a avaliação anual deverá ser feita com Tg sob supressão e US. Nos indivíduos de alto risco e naqueles que apresentam TgAc pode-se fazer a dosagem de Tg estimulada e PCI anualmente. Os intervalos dos exames sob estímulo de TSH e que exigem, portanto, a retirada da levotiroxina ou o uso do rhTSH, ficarão cada vez maiores se não houver indicação de recidiva. Terapia supressiva com levotiroxina Pacientes tireoidectomizados necessitam de tratamento com hormônios tireoidianos por toda a vida para evitar hipotireoidismo e para minimizar o efeito do TSH em induzir crescimento tumoral.7-9 Em todos os casos, os pacientes devem receber dose de levotiroxina para produzir supressão do TSH logo após a cirurgia (cerca de 2 microgramas por quilo de peso). Nos pacientes de baixo risco e de muito baixo risco, a dose de levotiroxina é rapidamente reduzida, como mostra a Tabela 2.10 e a Figura 2.1. No paciente de alto risco, a redução da dose de levotiroxina só deve ser feita após nos certificarmos de que o paciente está livre de doença por, pelo menos, 2 anos. Tabela 2.10 Dose de levotiroxina recomendada TSH < 0,1 mU/L em todos os casos após cirurgia e até o terceiro mês Terceiro mês em diante: Indivíduos de muito baixo risco TSH entre 0,5 e 2 mU/L Indivíduos de baixo risco TSH entre 0,1 e 0,5 mU/L Indivíduos de alto risco TSH < 0,1 mU/L 1. 2. 3. Conduta no paciente com tireoglobulina elevada Níveis de Tg > 10 ng/dL ou que se mostram em elevação durante duas ou três consultas indicam recorrência ou recidiva.7-9 A investigação da lesão produtora de Tg deve ser moderadamente intensa, dependendo do nível da Tg e da classificação de risco do paciente. As metástases mais frequentes são em pescoço > pulmão > osso > pulmão e osso > sistema nervoso central (SNC) e tecidos moles. Níveis de Tg mais elevados são em osso (600 a 2.000 ng/dL) > pulmão (15 a 180 ng/dL) > mediastino (3 a 18 ng/dL) > pescoço (2 a 8 ng/dL).7-9 A primeira suspeita deve ser cervical, pois acometimento linfonodal é mais frequente. Assim, a indicação inicial é de procurar a lesão produtora de Tg com US cervical. Caso a US não mostre lesão, recomenda-se tomografia computadorizada (TC) de tórax e mediastino (sem contraste iodado, já que pode existir a indicação de tratamento com 131I a curto prazo). Se esta também for negativa, procede-se à PCI pós- dose de 100 µCi de 131I. Se esta também for negativa, afastando-se contaminação como causa de falso negativo, a melhor opção é usar a tomografia por emissão de pósitrons (PET) com o análogo de glicose flúor-18-fluordesoxiglicose (18F-FDG), pois é provável que a lesão se tenha desdiferenciado e já não capta iodo.7-9 A Figura 2.2 mostra o tratamento dessas lesões preconizado pelas diretrizes atuais de tratamento do câncer diferenciado da tireoide. Referências bibliográficas Camargo R, Corigliano S, Friguglietti C, Gauna A, Harach R, Munizaga F, Niepomniszcze H, Pitoia F, Pretell E, Vaisman M, Ward LS, Wohllk N, Tomimori E; Latin American thyroid society. Latin American Thyroid Society recommendations for the management of thyroid nodules. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2009; 53(9):1167-75. 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