Buscar

LITERATURA SURDA NO LETRAMENTO DE ALUNOS SURDOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

LITERATURA SURDA NO LETRAMENTO DE ALUNOS SURDOS1 
Edevaldo André Gabrielli2 
Jaqueline Aparecida de Arruda Watzlawick3. 
 
 
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar uma metodologia para 
ensino de Língua Portuguesa para alunos Surdos como segunda Língua, esta 
proposta levou em consideração a produção histórica deste povo, através de, 
histórias, poesias, lendas, piadas, enfim, a Literatura Surda, encontrada nos 
materiais produzidos na e pela comunidade Surda Brasileira. Com este estudo 
queremos mostrar novos caminhos teóricos metodológicos, em relação ao 
processo de letramento dos alunos Surdos e que colabore nas práticas dos 
professores que atuam nas Salas de Recursos Área da Surdez, Salas 
Bilíngues para Surdos ou ainda nas Escolas de Surdos, ensinando língua 
portuguesa para alunos surdos como segunda língua. É possível adiantar que 
a experiência obtida nesta pesquisa nos mostra que este é um caminho 
importante, pois melhoramos o envolvimento do alunado Surdo com o processo 
de escrita da Língua 2. Esta melhora foi observada tanto no aumento do 
vocabulário quanto na aquisição de regras gramaticais desta segunda língua. 
Palavras Chave: Literatura Surda, Letramento, Língua de Sinais, Surdez 
 
 
 
 
 
1 Artigo Final elaborado como parte dos requisitos necessários à conclusão do PDE - Programa 
de Desenvolvimento da Educação. 
2 Graduado em Educação Física pela Faculdade FACIPAL de Palmas – PR, Especialista em 
Educação Escpecial, Gestão Escolar e Língua Brasileira de Sinais, professor da rede Estadual 
de Ensino do Paraná: Aluno do Programa de Desenvolvimento da Educação – PDE, turma 
2016. 
3 Tecnica em Assuntos Universitários da UNICENTRO, Mestre em Educação Especial pela 
Universidade Federal de Santa Maria/RS. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Ao escolher o tema Letramento de alunos surdos, a partir de textos 
significativos de sua cultura, buscamos conhecer e se aprofundar na história do 
povo surdo, assim como observar de que forma a Cultura Surda, 
especialmente no que a Literatura Surda influencia na forma de vida desse 
sujeito e o quanto está presente no seu dia a dia e, neste estudo mais 
especificamente usando materiais produzidos pelos Surdos, sua importância na 
forma como essas crianças aprendem. 
A educação de Surdos historicamente foi marcada por três filosofias 
educacionais, o Oralismo que entendia a surdez como uma deficiência, 
buscando através do ensino da fala tornar o sujeito Surdo o mais próximo do 
padrão que a sociedade determinava. A Comunicação Total, onde ainda o 
Surdo é entendido como deficiente e recentemente a Língua de Sinais começa 
a ser aceita como meio para alcançar o objetivo da fala e do domínio da Língua 
oral. O Bilinguismo é a filosofia de educação considerada pela Comunidade 
Surda e orientada pelo Decreto 5.626/2005 como sendo a mais adequada para 
a escolarização dos educandos Surdos, pois, é pautada na premissa de que o 
aluno aprende a partir de sua língua natural (língua de sinais – L1) e adquire a 
modalidade da leitura e da escrita da língua majoritária do seu país como 
segunda língua (L2), respeitando sua cultura, sua língua e sua história. 
Recomenda-se que a educação dos surdos seja efetivada em língua 
de sinais, independentemente dos espaços em que o processo se 
desenvolva. Assim, paralelamente às disciplinas curriculares, faz-se 
necessário o ensino de língua portuguesa como segunda língua, com 
a utilização de materiais e métodos específicos no atendimento às 
necessidades educacionais do surdo (SALLES, 2004, p. 43). 
 
Observamos que os alunos Surdos têm concluído a educação básica 
com nível de aquisição da Língua Portuguesa (L2) abaixo do que se espera 
para essa etapa da escolarização, com vocabulário pobre se comparado com 
alunos Surdos expostos a modelos de Escola Bilíngue, especialmente os que 
tem esse contato desde sua mais tenra idade. 
 
 
Em geral seus textos são curtos, com poucas informações ou essas 
informações repetidas, como também se repetem palavras que lhes são mais 
familiares. 
Esses alunos vem apresentando dificuldades para desenvolver textos 
com a estrutura da (L2), mantendo na escrita a estrutura gramatical da Língua 
de Sinais (L1)4. 
As diferenças culturais entre ouvinte e surdos mostram muito mais do 
que questões superficiais, elas influem na forma de vida, de se comunicar, se 
aprender, como salienta (QUADROS, 2006, p.9), “não basta ter um vocabulário 
enorme de uma língua, a pessoa precisa “entrar” na língua, “viver” a língua 
para poder ensinar por meio dela”. O professor que atuam com alunos com 
surdez deve valorizar a Cultura Surda através de suas produções literárias, das 
histórias, das poesias, das piadas e demais contribuições culturais das 
comunidades Surdas e das Línguas de Sinais. 
Strobel (2008, p. 88) defende que: 
[...] a história dos surdos em padrões tradicionais não produz a 
história legítima dos povos surdos, seriam localizadas nos discursos 
das associações de surdos, de professores surdos, de sujeitos surdos 
bem-sucedidos, de sujeitos surdos líderes, da pedagogia surda, de 
movimentos políticos dos povos surdos. 
 
 A história Surda como um conjunto de significados e costumes 
partilhados e construídos pelo povo Surdo, como uma consequência de suas 
experiências vividas, traduzindo algo que seja realmente significativo para as 
pessoas Surdas e não valorizando ouvintes que tiveram iniciativa com a 
educação de Surdos, avanços da medicina na busca da cura da Surdez. 
 Alguns aspectos importantes devem ser considerados para um efetivo 
processo educacional, tais como, a presença do professor Surdo no processo 
de escolarização, professor ouvinte com domínio de Língua de Sinais e que 
participa da Comunidade Surda e que o aluno Surdo tenha contato com a 
Cultura Surda, movimentos Surdos para favorecer a motivação do estudante. 
 
4 Línguas de Sinais e Línguas orais, apresentam estruturas gramaticais próprias, isso acontece 
porque as Línguas de Sinais são Línguas da modalidade Visual/Espacial e muitos elementos 
como flexão e tempos verbais, verbos de ligação por exemplo estão presentes nas expressões 
facial/corporal e não em sinais específicos para cada situação. 
 
 
 
 Conhecer a Língua de Sinais, a história dos Surdos, a sua cultura passa 
a ser fundamental para que o professor ouvinte de conta das especificidades 
que este sujeito apresenta, entender que existe entre Surdos e ouvintes 
diferenças que são fundamentais no momento da escolarização dos mesmos. 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
Educação e Surdez 
 A história dos surdos é marcada por várias tentativas de encontrar 
métodos de comunicação entre surdos e ouvintes e que pudessem dar conta 
da educação dos Surdos, destaca-se nesse processo a forte marginalização 
que o povo surdo sofreu, onde durante grande parte da história somente a 
língua falada era aceita. 
 Já na antiguidade essa visão era bem presente, Capovilla & Raphael 
(2008) destacam que no século IV a.C., Aristóteles supunha que todos os 
processos envolvidos na aprendizagem ocorressem por meio da audição e 
que, por isso, os Surdos tinham menos chances de aprenderem se 
comparados aos cegos. 
 A partir dos Séculos XVI algumas tentativas de ensinar surdo começam 
a levar em consideração os gestos, essas tentativas geralmente eram ligadas a 
religiosos que buscam conviver com os surdos para entender sua forma de 
vida e assim compreender com ensiná-los. 
 Nesse período se destacam Samuel Henich na Alemanha, considerado 
um dos principais incentivadores do Método Oralista e o Abade Michel L´Epée 
na França criador da primeira escola de Surdos de Paris e opositor do modelo 
Oralista, suas experiências são a base para a filosofia que temos hoje 
denominada Bilinguismo. 
 Historicamente, o Oralismo e o Bilinguismo são as duas vertentes 
filosóficasque disputaram espaços na educação dos surdos, sendo que o 
primeiro teve exclusividade a partir de 1880 no Congresso de Milão perdurando 
por quase um século, neste período as crianças Surdas eram proibidas de 
terem contato com surdos adultos, os professores Surdos perderam espaço e 
 
 
qualquer tentativa de uso de sinais era coibido. -se na “recuperação” das 
pessoas surdas, chamado de “deficiente Auditivo”. Enfatiza a língua oral em 
termos terapêuticos”. 
 Quadros (1997, p. 21) discorre que “[...] a proposta Oralista fundamenta 
 Mesmo com os esforços para acabar com as Línguas de Sinais em todo 
o mundo, isso não foi possível, pois quando dois surdos se encontravam a 
comunicação se dava através da sinalização e também porque, o Oralismo não 
deu conta de dar ao Surdos a condição que se pretendia, deixando lacunas 
importante no desenvolvimento dos educandos. 
O Oralismo apresentou alguns problemas, como a aquisição da 
linguagem oral, pois apesar do investimento o surdo oralizado é 
capaz de captar pequena parte da mensagem a ele dirigida, outra 
situação é que verificou que alunos concluintes do ensino médio 
apresentam leitura equivalente a alunos do quinto ano (QUADROS, 
1997, p. 22). 
 Neste processo, o Oralismo perde espaço e a discussão sobre a 
importância do uso da Língua de Sinais volta a ganhar força, devido à 
ineficácia do método como também da ampliação do uso das línguas de sinais. 
Na década de 1960, o linguista Willian Stokoe, estudou a estrutura da 
Língua de Sinais Americana, comprovando através de seus estudos que as 
Línguas de Sinais apresentavam elementos linguísticos semelhantes aos das 
línguas faladas. 
Após os estudos de Stokoe, comprovando que os elementos linguísticos 
das Línguas de Sinais são capazes de transmitir ideias abstratas, sentimentos 
e outros conceitos que até então se acreditava que as LS não dariam conta, 
Stokoe levou em consideração a análise no nível fonológico e morfológico, 
dando mais credibilidade aos seus estudos. Essas línguas passam a ter, a 
partir de então, o status de línguas, recebendo dedicação de pesquisadores e 
políticas públicas que valorizam a diversidade linguística dos sujeitos surdos. 
 A partir dos estudos de Stokoe, a Comunidade Surda passa a ser mais 
valorizada, como também as Línguas de Sinais e a Cultura Surda, neste 
momento ganha força uma educação pautada na língua natural dos surdos, 
pois a Língua de Sinal não apresenta qualquer impedimento para a pessoa 
 
 
aprender, embora muitas vezes ela não se concretiza como a língua materna 
dos surdos, mas uma língua de direito. 
 Com a expansão da Língua de Sinais, mas ainda muito enraizada a 
cultura do Oralismo, surge uma proposta que utiliza a Língua de Sinais dentro 
da estrutura da língua oral como mais uma ferramenta para o ensino desta 
língua. 
 “O Bimodalismo passa a ser defendido como uma alternativa viável de 
ensino para os Surdos. Tal proposta caracteriza-se pelo uso simultâneo de 
sinais e da fala” (QUADROS, 1997, p. 24). Nela são aceitos todos os recursos 
que possam auxiliar na comunicação entre professor ouvinte a alunos surdos. 
Possui como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e 
surdos e entre surdos e ouvintes, considerando que os aspectos cognitivos, 
emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em prol do aprendizado 
exclusivo da língua oral. Tal corrente utiliza basicamente recursos espaço-
visuais como facilitadores de aprendizagem. 
 Diante de novos fracassos na escolarização dos alunos surdos trazidos 
pelo Bimodalismo e visando valorizar os aspectos linguísticos oriundos da 
própria comunidade surda, ressurge a proposta de educação Bilíngue. 
Pesquisas na área consideram esta filosofia como ponto fundamental para o 
sucesso da escolaridade dos educandos surdos, pois ele passa a ser ensinado 
tendo como primeira língua, a Língua de Sinal e considera como alvo na língua 
falada apenas as modalidades de leitura e escrita. 
 A educação bilíngue, segundo a definição de UNESCO (1954, apud 
BOTELHO, 2005, p. 111), é “[...] o direito que têm as crianças que utilizam uma 
língua diferente da língua oficial de serem na sua língua”. A educação bilíngue 
para surdos propõe a instrução em Língua de Sinais, a fim de que esse aluno 
adquira os conhecimentos acadêmicos como forma de medição para 
aprendizagem da segunda língua. 
No Brasil, o Decreto 5.626/05 define no seu Artigo 22 que escolas e 
classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com 
professores bilíngues, na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino 
Fundamental (BRASIL, 2005) ainda neste artigo inciso primeiro define como 
 
 
escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a 
modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas 
no desenvolvimento de todo o processo educativo e, no Artigo 14: “[...] ofertar, 
obrigatoriamente, desde a Educação infantil, o ensino da Libras e também da 
Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos”. 
O Bilinguismo prega a aceitação e a convivência com a diferença, 
procurando aproximar e facilitar a comunicação entre a criança surda e a 
família ouvinte. O pressuposto básico desta filosofia é o aprendizado da língua 
materna e natural (de sinais) e como segunda língua oficial do país, 
respeitando a produção histórica desse povo. 
 
Literatura Surda 
A literatura surda possivelmente teve seu surgimento de maneira natural, 
inicialmente nas escolas, com as crianças e jovens surdos conforme a Língua 
de Sinais foi se desenvolvendo. 
[...] “utilizamos a expressão “literatura surda” para histórias que têm a 
língua de sinais, a questão da identidade e da cultura surda presente na 
narrativa [...] (STROBEL, p. 56, 2008) 
 Com a valorização das Línguas de Sinais, a cultura que cerca estas 
pessoas também passaram a ser mais valorizada, especialmente pelas 
pessoas ligadas às comunidades surdas e pesquisadores da área da surdez. A 
cultura de um povo é condição indispensável para sua história, no caso dos 
surdos como por muito tempo o uso de sua língua foi proibido, como também 
inibido os encontros entre surdos usuários da Língua de Sinais, com isso, a 
transmissão de histórias, lendas e costumes ficou muito fragmentada. 
Bernardinho (2000, p. 2) pontua que “[...] a cultura surda está 
diretamente relacionada ao uso da Língua de Sinais” que é um fator de 
identificação do sujeito, e não é diferente entre os surdos. Desta forma, é 
possível afirmar que a Língua de Sinais é um símbolo que identifica a luta dos 
surdos, ela também é um meio de transmitir sua história, seus costumes e suas 
crenças. 
 
 
A educação dos surdos no Brasil até a década de 1980 tinha como 
prioridade o ensino da fala da Língua Portuguesa, não havia espaço nem 
aceitação das produções em língua de sinais, a história aponta que essas 
produções circulavam entre os usuários da Língua de Sinais, mas de forma 
muito local, pois as produções gravadas em vídeo são muito recentes. 
 Karnop (2006, p. 100) “[...] a literatura do reconhecimento é de 
importância crucial às minorias linguísticas que desejam afirmar suas tradições 
culturais nativas e recuperar suas histórias reprimidas”. Portanto, a literatura 
surda assume um papel fundamental para manutenção de sua cultura na 
sociedade onde esta minoria linguística está inserida. 
 Hoje encontram-se muitas obras da literatura ouvinte adaptadas para a 
Língua de Sinais, estas obras não fazem parte da cultura surda, pois não 
surgiram em Língua de Sinais. 
Morgado (2011, p. 21) defende que: 
[...] aquelas que são contadas em língua de sinais, sejam fruto de 
tradução ou não, podendo ter um tema relacionado com surdos ou 
não. Ela não precisa ser contada exclusivamente em língua de sinais, 
ou seja, ela também pode ser escrita, porém, o tema deve ser 
relacionado aos surdos. 
 
 Nas cidades maiores, onde existemassociações de surdos ou escolas 
de surdos, muitas produções da cultura surda circulam com mais facilidade, 
pois há o encontro de surdos, as crianças surdas têm o modelo adulto para 
seguir e formar sua identidade, mas na maioria dos casos isso não acontece, 
pois nem todo surdo tem contato diário com outros surdos. 
Apesar de ser algo extremamente importante para a difusão da 
Cultura Surda e para a afirmação da Identidade Surda, a Literatura 
Surda é pouco investigada e é muito difícil encontrar livros, artigos ou 
estudo que tratam desse assunto (MORGADO, 2011, p. 29). 
 
Recentemente, alguns canais favorecem a sua difusão, através das 
redes sociais ou site da internet de compartilhamento de vídeos. Neles 
consegue-se levar aos usuários de Língua de Sinais às histórias, contos, 
lendas, fabulas, poesias, piadas, caricaturas que identificam as representações 
da Cultura Surda utilizando a Língua de Sinais, mantendo, desta forma, a 
mensagem original, diferentemente do que acontece quando há a tradução 
para a escrita. 
 
 
As pessoas ou comunidades surdas estão inseridas em uma sociedade 
de maioria ouvinte, os ambientes onde os surdos moram e trabalham 
geralmente são bilíngues, ou seja, existe a presença de duas línguas, mesmo 
que as pessoas não sejam bilíngues, assim os estudos têm apontado para uma 
cultura híbrida que não há no caso dos surdos uma cultura pura. 
A identidade e a cultura das pessoas surdas são complexas, já que 
seus membros frequentemente vivem num ambiente bilíngue e 
multicultural. Por um lado, as pessoas surdas fazem parte de um 
grupo visual, de uma comunidade surda que pode se estender além 
da esfera nacional, no nível mundial. É uma comunidade que 
atravessa fronteira. Por outro lado, eles fazem parte de uma 
sociedade nacional, com uma língua de sinais própria e com culturas 
partilhadas com pessoas ouvintes de seu país. (KARNOPP 2008, 
apud QUADROS; SUTTON-SPENCE, 2006, p.5). 
 
São informações que retratam as experiências deste povo, suas 
dificuldades, conquistas, angústias, enfim, a trajetória histórica do povo surdo, 
que merecem ser levada em consideração, visto que é parte importante de sua 
história e consequentemente se torna significativa para a aprendizagem e 
desenvolvimento das pessoas surdas. 
 
 Letramento 
 Nas últimas duas décadas, a filosofia educacional do Bilinguismo para 
Surdos passa a ser defendida pela Comunidade Surda. Com ela, o termo 
Letramento começa a ser utilizado quando se trata da formação dos conceitos 
para crianças surdas, ou seja, o aluno desenvolve a capacidade de codificar e 
decodificar os símbolos, ler e escrever e, ao mesmo tempo adquire a 
competência de fazer o uso social desta habilidade. 
Segundo Soares (2001), o termo letramento é a versão para o Português 
da palavra de língua inglesa literacy, que significa o estado ou condição que 
assume aquele que aprende a ler e a escrever. 
A língua só será eficaz, quando o aluno fizer uso da leitura e da escrita 
em sua atividade diária, em sua vida. Para Soares (2001), letramento é o 
exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita, ou seja, é o estado que 
assume aquele que sabe ler e escrever. 
 
 
Em se tratando do aluno surdo, a escrita e a leitura da língua oficial do 
país possibilitarão a ele a participação e a integração na sociedade, pois ela é 
formada, em sua maior parte, por ouvintes que não utilizam a Língua de Sinais. 
Mesmo assegurando o direito a intérprete de Libras na sala de aula, aprender a 
segunda língua na modalidade escrita é importantíssimo para que ele possa 
evoluir no conhecimento e participar socialmente. Henriques (1994, apud) ao 
citar Vygotsky (ano, p.), ressalta que: 
[...] os importantes processos como o desenvolvimento do 
pensamento, a formação dos conceitos mediados pela linguagem, à 
construção do conhecimento e a própria subjetividade. São processos 
que trazem, já desde o seu inicio, a marca do discurso social que os 
constitui e significa, mas que também dialeticamente os modifica e os 
faz avançar. 
 
 As dificuldades que os surdos vêm apresentando em seu 
desenvolvimento escolar, possivelmente estão muito mais atreladas às 
dificuldades que os professores encontram com seus métodos e estratégias, do 
que propriamente dificuldade que a perda auditiva efetivamente lhes implica. A 
Língua muitas vezes é ensinada de maneira fragmentada e mecânica, 
desvinculada da realidade do aluno. 
Assim a implementação desta proposta de superação da realidade 
apresentada conforme descrita no parágrafo anterior foi desenvolvida no 
Colégio Estadual Castro Alves, da cidade de Pato Branco – Paraná, vinculada 
ao Núcleo Regional de Pato Branco. Ofertada para alunos da Sala de Recursos 
Multifuncional Tipo II – Área da Surdez. Esta implementação objetivou 
metodologicamente pensar em novas metodologias para o Letramentro de 
alunos surdos. Contou com dezesseis (16) encontros sendo dois (2) por 
semana, de duas (2) horas cada, totalizando trinta e duas (32) horas. 
O tema Letramento na educação de surdos vem sendo amplamente 
discutido nas últimas três décadas e, traz como principal marca o respeito 
pelas Línguas de Sinais. Nossa abordagem na Sala de Recursos teve como 
ponto de partida as produções da Literatura Surda, contadas em Língua 
Brasileira de Sinais bem como, a exposição destas em LIBRAS pelo professor, 
assim foram apresentadas e desenvolvidas atividades de interação com as 
obras, produções de textos coletivos com base no que foi apresentado, 
atividades individuais relacionadas ao tema e produção de textos individuais, 
 
 
alguns desses textos foram selecionados pelo professor e realizado a 
reestruturação coletivamente. 
A literatura tem a função de suscitar nos alunos a imaginação, o sonho, 
a fantasia, assim, para a comunidade surda a literatura ouvinte não 
desempenha o mesmo efeito, pois, cada comunidade capta faceta diferentes 
da realidade que a cerca, deste modo, motivar a literatura própria do mundo 
surdo é, sem dúvida, incentivar sua cultura. Desta forma, “[...] todas as culturas 
estão envolvidas entre si e nenhuma delas é única e pura, todas são híbridas, 
heterogêneas” (BURKE, 2003, p. 53). 
 
METODOLOGIA 
O desenvolvimento do presente estudo teve ênfase na análise 
qualitativa, visto que esta possibilitou a escolha de um problema, estudo e 
análise de referências selecionadas e a reflexão sobre as informações e dados 
coletados da realidade, assim procurou-se assegurar a flexibilidade nas 
diferentes etapas propostas e, principalmente, confrontando a prática docente 
com os pressupostos teóricos que fundamentarão os estudos a serem 
realizados. 
Por ser uma pesquisa qualitativa, este estudo tem o caráter ou 
possibilidade de “[...] construir teorias, reformulá-las, focalizá-las, clarificá-las e 
pode permitir ainda a confirmação ou desconstrução de hipóteses” (MINAYO, 
2008, p. 181) e é aí que entra a possibilidade refletir estratégias didático-
pedagógicas da Literatura Surda no letramento de alunos Surdos. 
O desenvolvimento do presente trabalho pontuou-se na análise 
qualitativa, pela possibilidade da escolha de um problema, também o estudo e 
análise de referências selecionadas e a reflexão sobre as informações e dados 
coletados da realidade, procurando assegurar a flexibilidade nas diferentes 
etapas propostas e, principalmente, confrontando a prática docente com os 
pressupostos teóricos que fundamentarão os estudos a serem realizados. 
 
 
 
 
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
 A abordagem na Sala de Recursos tipo II – Área da Surdez apoiou-se 
nas produções da Literatura Surda, contadas em Línguas de Sinais, exposição 
destas em LIBRAS pelo professor, atividade de interação com a produção, 
atividades de produção de textos coletivos com base na obra apresentada, 
atividades individuais relacionadas ao tema e produção de textos individuais. 
Foram utilizadas apresentações de textos, piadas, poesiae histórias 
que sempre tem o sujeito surdo e a Língua de Sinais como fonte de inspiração 
do artista para criação dessa produção, em geral de autores surdos. 
Nossa pesquisa se deu com três alunas matriculas no 9º ano, outra de 
2º e a terceira do 4º profissionalizante que participaram da nossa pesquisa, 
foram dois encontros semanais com duas horas cada encontro, iniciamos o 
trabalho mostrando as diversas manifestações de Literatura que sejam 
apresentadas em Língua de Sinais e que também seja produções do povo 
Surdo ou que tenha o Surdo como personagem central. 
Ao final das trinta e duas aulas as alunas também tiveram a 
possibilidade de criar uma produção inédita, aproveitando as experiências 
vivenciadas ao longo desse projeto, cada uma pode escolher qual gênero faria 
a produção. 
Durante o período de aplicação do projeto, pudemos observar alguns 
indicativos que nos fazem refletir sobre a prática pedagógica com alunos 
surdos. A pesquisa e aplicação se deu em uma região onde não existem 
Escolas e nem Salas Bilíngues para Surdos, ou seja, as práticas pedagógicas 
estão muito enraizadas na cultura e atividades de ouvintes e pensadas para 
ouvintes. Na maioria das vezes sofrem adaptações para serem trabalhas com 
alunos Surdos, mas que de fato não foram pensadas inicialmente para esse 
público. 
Percebemos que quando o aluno surdo se vê como parte do assunto 
trabalhado, ele se sente mais motivado e consequentemente aprofunda-se das 
atividades, permitindo ao professor alcance seus objetivos de forma mais 
efetiva. 
 
 
 Utilizamos em nossa pesquisa os gêneros história, piadas, poesias e 
uma produção apresentada através de Classificadores5 em Língua de Sinais. 
As atividades seguiam geralmente uma sequência didática contendo a 
apresentação da produção pelo professor ou vídeo, interpretação do texto, 
atividades de vocabulário, atividades de Letramento, novas produções em 
Língua de Sinais pelas alunas e a produção escrita dessas produções, seguido 
por atividades de reestruturação dos textos obedecendo a norma culta e regras 
gramaticais da Língua Portuguesa. 
 Observou-se através dos registros realizado sempre no final de cada 
encontro, um crescente interesse em melhorar a relação das alunas Surdas 
com a escrita. Esse tem sido ainda é um desafio para os professores que 
trabalham nesta área, pois em geral os alunos Surdos preferem que todo o 
processo se dê em Língua de Sinais, o que faz muitas vezes com que as 
produções escritas sejam um pouco mais pobres em detalhes, como podemos 
observar no texto produzido pela aluna do 4º ano, a produção escrita dela 
embora aborde bem a história, a falta de detalhes que ela mesma usou muito 
bem quando apresentou em LS.6 
 
 Contudo, pudemos concluir que houve uma melhora nessa relação 
conforme o projeto foi sendo aplicado. Num relato dlas alunas, isso faz parte da 
nossa cultura, conseguimos compreender melhor o objetivo do texto, gostamos 
de conhecer história e Literatura Surda. 
Salles corrobora com nosso pensamento quando diz que: 
 
5Os Classificadores têm a função de deixar mais clara a mensagem que se quer passar. Em 
Libras os classificadores descritivos “desempenham uma função descritiva podendo detalhar 
som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de objetos inanimados e seres 
animados”. (PIMENTA e QUADROS, p.71, 2006). 
6 Fonte: Aluna A.L. Participante do projeto reproduzindo na L2 a história trabalhada. 
 
 
A língua de sinais, uma vez entendida como língua materna do surdo, 
será, dentro da escola, o meio de instrução por excelência. A 
instrução deve privilegiar a visão, por meio do ensino da língua 
portuguesa escrita, que, por se tratar de disciplina de segunda língua, 
[...]. (SALLES, 2005, p. 47) 
 
 Entendemos portanto para que haja um fortalecimento da cultura do 
nosso aluno, precisamos entender que ele é fruto de sua própria história, 
representada pelas produções passadas de geração a geração através da sua 
Línguas de Sinais e que todo cidadão tem direito a ser educado em sua 
Língua, o acesso a Língua de Sinais faz com que as relações sociais sejam 
mais efetivas e portanto todo processo cognitivo também aconteça de forma 
mais eficiente e no tempo esperado para cada etapa da escolarização. 
 
 
 Considerações Finais 
 Embora a discussão que nos propusemos a realizar neste período seja 
assunto que mereça ser investigado com muito mais tempo, para contar com 
um maior aprofundamento nas discussões e, especialmente nas pesquisas 
sobre o assunto, encerramos este estudo com a convicção que a proposta 
trabalhada, nos mostrou um caminho muito interessante para estudos futuros. 
 Assim ao aprofundar as questões específica do sujeito Surdo e conhecer 
sua Cultura e, nela mais especificamente a Literatura Surda, que é o objeto 
desse estudo, percebemos a riqueza dessas produções e o quanto podemos 
explorá-las em prol da escolarização do aluno Surdo. 
 A partir deste estudo defendo ainda com mais indicativos, que textos 
que fazem parte da vida desse sujeito e que se apresentem em Língua de 
Sinal, ou, ainda que tenham a Cultura Surda como norteadora dessa produção, 
devam ser mais utilizadas como recursos didáticos pelos professores 
responsáveis pelo ensino da segunda língua. 
 Concluo este trabalho observando novos horizontes no que tange as 
metodologias aplicas no Letramento de alunos Surdos, metodologias que 
podemos aplicar tanto em Salas de Recurso Tipo II – Área da Surdez, como 
também em Salas e Escolas Bilíngues para Surdos, onde a valorização desse 
sujeito aconteça de forma mais intensa e integralmente. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BERNARDINO, E.L, Absurdo ou Lógica? Os surdos e sua produção 
linguística. Belo Horizonte, Editora Profetizando Vida, 2000. 
 
BOTELHO, Paula. Linguagem e Letramento na Educação dos Surdos – 
Ideologias e práticas pedagógicas. Autentica, Belo Horizonte, 2005. 
 
BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. Trad.: Leila Mendes. São Leopoldo: 
UNISINOS, 2003. 
 
Capovilla, F. C., & Raphael, W. D. (2008). Dicionário enciclopédico ilustrado 
trilíngue da língua de sinais brasileira (3a ed., Vol. II: sinais de M a Z). São 
Paulo, SP: Edusp. 
 
 
GUARINELLO, Ana Cristina. O papel do outro na escrita de sujeito surdos. 
São Paulo: Plexus, 2007. 
 
HENRIQUES, Ada Maria. O debate Piaget/Vigotsky: Uma contribuição para 
a questão do conhecimento na Pré Escola. GARCIA, R. L. (org.) Revistando 
a pré-escola. 2. ed. São Paulo: Cortez. 1994. 
 
KARNOPP, Lodenir Becker. Literatura Surda. Literatura, Letramento e 
Práticas Educacionais - Grupo de Estudos Surdos e Educação. ETD - 
Educação Temática Digital. Campinas, v.7, n. 2, p. 98-109, jun. 2006. 
 
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa 
qualitativa em saúde. 11ª Ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2008. 
 
MORGADO, Marta. Literatura em língua gestual. In: KARNOPP, Lodenir; 
KLEIN, Madalena; LUNARDI-LAZZARIN, Márcia (Orgs). Cultura Surda na 
Contemporaneidade: negociações, intercorrências e provocações. 1. ed. 
Canoas: Editora da ULBRA, 2011b. 
 
 
PARANÁ. Secretaria de Educação do Paraná, SEED. Departamento de 
Educação Especial. Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a 
Construção de Currículos Inclusivos. Curitiba, 2006. 
 
_______. Secretaria de Educação do Paraná, SEED. Departamento de 
Educação Especial. Problemas de aprendizagem identificados no cotidiano 
escolar: Deficiência intelectual, Dificuldades de Aprendizagem e distúrbio de 
Aprendizagem. Curitiba, 2006. 
 
PINO, Angel. As marcas do humano: as origens da constituição cultural da 
criança na perspectiva de Lev S. Vigotski. São Paulo: Cortez, 2005. 
 
 
 
QUADROS, Ronice Muller de. Educação de surdos a aquisição da 
linguagem. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda, 1997. 
 
_________, Ronice Müller de. SCHMIEDT, Magali L. P. Ideias para ensinar 
português para alunos surdos.– Brasília: MEC, SEESP, 2006. 
 
SACKS, Oliver. Vendo vozes uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de 
Janeiro: Imago Editora, 1990. 
 
SALLES, Heloísa Maria Moreira Lima. Ensino de língua portuguesa para 
surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP, 2004. 
 
SOARES, Magda. Letramento um tema em três gêneros. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2001. 
 
____________ Ensino de língua portuguesa para surdo: caminho para 
prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP, 2005, p.47. 
 
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis, 
UFSC, 2008.

Continue navegando