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caderno de Direito Penal 2° etapa

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Continuação dos métodos de interpretação da Lei Penal
· Interpretação analógica: após uma sequencia casuística, surge uma formulação genérica que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriormente citados.
Ex: crime cometido mediante paga, promessa de recompensa ou qualquer outro motivo torpe.
A expressão `torpe´´ é interpretada analogicamente como qualquer motivo repugnante equivalente aos anteriormente mencionados. 
Obs: Interpretação analógica não é sinônimo de analogia. A analogia consiste em aplicar uma hipótese não regulada pela lei, disposição relativa a um aso semelhante.
Na analogia há uma lacuna legislativa, e por essa razão, aplica-se a previsão legal referente a caso análogo (semelhante).
Ex: o art. 128,II CP prevê a hipótese de aborto humanitário ou sentimental, que constitui hipótese de interrupção legal da gestação decorrente de ESTUPRO.
Ocorre, que existem outros crimes sexuais, diversos do estupro, que podem trazer como consequência a gravidez da vítima.
No presente caso, a doutrina reconhece a aplicação da analogia para permitir a interrupção da gestação de vitima de crime sexual diverso do estupro.
Obs: para fins penais, a analogia é muito mais que um método de interpretação, devendo ser 
assim considerada um mecanismo de integração do sistema penal.
Em Direito Penal, existem duas espécies de analogia:
a) Analogia in bonam partem (em benefício da parte): ex: permissão de aborto para crimes sexuais diversos do estupro (art. 128,II, CP)
b) Analogia in mallan partem (em prejuízo da parte): não é admitida pelo Direito Penal. Ex: a conduta da cola eletrônica não encontra previsão expressa no CP.
Desse modo, compreender ´´cola eletrônica´´ como sinônimo de estelionato constitui violação ao principio da taxatividade, bem como aplicação de ANALOGIA IN MALLAN PARTEM, que não é admitida pelo Direito Penal.
NOÇÕES ESSENCIAIS AO ESTUDO DO CODIGO PENAL
1- Doutrina são os textos elaborados pelos estudiosos do Direito; ex: Masson, Capez, Grego…
2- Jurisprudência são os entendimentos dos tribunais (TJ, STJ, STF...)
3- Sumula: A súmula traduz uma consolidação da jurisprudência. Um entendimento amplamente defendido e aplicável naquele tribunal. Ex: sumulas do TST, STJ, STF…
Obs: Além das súmulas tradicionais dos tribunais superiores, existem ainda as denominadas Súmulas Vinculantes, que NECESSARIAMENTE são produzidas pelo STF e que tem aplicação (vinculação necessária no poder judiciário).
 Código penal
ART.1- NÃO HÁ CRIME SEM LEI ANTERIOR QUE O DEFINA. NÃO HÁ PENA SEM PREVIA COMINAÇÃO LEGAL.
As garantias da legalidade e anterioridade também são encontradas na CF no art. 5, XXXIX.
Tratam- se de princípios indispensáveis á segurança jurídica e á garantia da liberdade das pessoas, que impedem que alguém seja punido por um comportamento que não era considerado delituoso á época de sua pratica.
A expressão "crime", compreende também as contravenções penais.
· A palavra "lei" deve compreender todas as modalidades de lei previstas na CF.
· A palavra pena inclui as mais diversas restrições de caráter pessoal.
Infração penal é o gênero, do qual existem as espécies crimes e contravenções penais.
Os crimes estão previstos no CP e na legislação extravagante (Lei de drogas, Lei de tortura, estatuto do idoso, lei maria da penha, lei do abuso de autoridade etc).
As contravenções penais são infrações penais previstas no Decreto Lei 3688/41. Para essas infrações a lei penal admite somente prisão simples, sendo vedada a reclusão e a detenção.
Acerca da expressão ´´Sanção Penal´´, o Direito Penal entende pela existência de duas modalidades, a saber: Pena e Medida de segurança.
· A pena é a sanção penal aplicável ao indivíduo imputável e possui as seguintes espécies: Privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa.
· A medida de segurança é aplicável ao indivíduo inimputável e possui as seguintes modalidades: Tratamento ambulatorial e Internação em hospital psiquiátrico.
Art.2°
A garantia da irretroatividade da Lei Penal mais gravosa, é também encontrada na CF no art.5 inciso 40, ``a lei penal não retroagira salvo para beneficiar o réu´´
· Regra: Lei Penal é irretroativa
· Exceção: Lei Penal retroage para beneficiar o réu.
Tratando- se de norma penal mais benéfica, a regra a ser aplicada é a da retroatividade. Isso pode ocorrer em duas hipóteses:
a) O fato não é mais considerado criminoso pela nova lei (abolitio criminis).
b) A lei nova de alguma forma beneficia o réu (Lex mitior ou novatio legis in mellius).
A entrada em vigor de lei nova posterior que deixa de considerar o fato como criminoso (abolitio criminis) é uma causa de extinção da punibilidade do agente.
O advogado nesse caso deve pedir á justiça a extinção da punibilidade do seu cliente com base no Art.2 c/c Art. 107, inciso 3 ambos do CP.
Obs: (exame da ordem): diferente é a situação da lei processual penal, que Não se submente ao principio da retroatividade da lei penal benéfica. Nos termos do Art.2 do código de Processo Penal (CPP), a norma de caráter processual terá incidência imediata em todos os processos, inclusive naqueles que já estão em andamento, pouco importando se o crime foi praticado antes ou após a sua entrada em vigor ou se a nova lei é benéfica ou não ao réu.
Ex: Lei nova que modifique o rito processual para incluir uma nova audiência para o caso.
Obs: A nova lei que deixa de considerar criminoso determinado fato, faz cessar os efeitos penais da sentença condenatória, mas não os seus efeitos civis.
Ex: A lei 11.106/05 revogou o crime de adultério, mas ainda assim os eventuais efeitos civis ou extra penais da sentença condenatória continuam validos.
Fabiano – condenado por adultério em 2004, na sentença o juiz determinou a pena privativa de liberdade de detenção de 2 anos (efeito penal), bem como o pagamento de indenização á sua ex esposa, em valor que deve ser fixado pelo juízo cível.
Nesse caso, com a lei que promoveu a abolitio criminis do delito de adultério, Fabiano devera ser colocado em liberdade (cessação do efeito penal). Com relação ao dever de indenizar (efeito extrapenal), este permanece, ainda que o crime tenha sido revogado.
Obs: No que diz respeito a competência para a aplicação da lei nova, há duas hipóteses a se considerar.
a) Se a condenação já transitou em julgado, a aplicação da lei posterior, compete ao juiz da execução penal;
b) Se o processo ainda estiver em andamento, dependendo da fase em que se encontrar, caberá ao Juiz ou Tribunal com quem o processo estiver, a aplicação da lei nova.
Art.3 – A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstancias que a determinaram, aplica - se ao fato praticado durante a sua vigência.
Conclusão: nesses casos, o principio da retroatividade da lei penal benéfica não é aplicável, ou seja, a lei posterior mais benéfica não é aplicável.
· Leis excepcionais são aquelas promulgadas para vigorar em situações ou condições sociais anormais, tendo sua vigência subordinada à duração da anormalidade que a motivou.
Ex: guerras, pandemias, calamidades.
· Leis temporárias são aquelas que possuem o tempo de vigência determinado dentro dos seus próprios dispositivos.
Ex: Lei criada para ser utilizada durante o período eleitoral, lei geral da copa.
Tendo em vista a natureza especial dessas normas, editadas para vigorar em situações anormais ou durante tempo determinado, o CP abre a exceção com relação a elas á retroatividade da lei penal posterior.
Ex: Lei x- Lei excepciona (pandemia). Torna crime a conduta de aplicar vacina fora dos parâmetros estabelecidos pelo MS.
Pena: detenção de 6 meses a 2 anos.
Obs: como é obvio as leis excepcionais e temporárias perderiam toda a sua força intimidativa, caso o agente já soubesse de antemão, que, apos cessada a anormalidade (lei excepcional) ou cessada a duração (lei temporária), acabaria impune pela aplicação do Principio da Retroatividade da lei penal benéfica.
Consideram -se leis penais em branco, as leis que não possuem uma definição integral, necessitando de complementodado através de leis, decretos ou portarias. Costumam ser dividas em:
a) Homogêneas: quando são complementadas por normas originarias da mesma fonte ou órgão. EX: ART. 327 CP- conceito de funcionário público.
b) Heterogêneas: quando seu complemento provem de fonte ou órgão diverso. EX: portaria do MS- ANIVISA que define o conceito de drogas no Brasil.
Art. 4 – considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
O art.4 do CP não é aplicável para fins de fixação de competência, devendo para esses casos a norma processual penal.
O art.4 do CP é importante para os seguintes fins:
a) Aferição (verificação) da imputabilidade do agente;
b) Aplicação da lei vigente no dia do crime.
Exemplo: Fabiano em 04/12/2020 praticou um crime x. 
Em 04/12/2020 surgiu uma lei y que aumentou a pena do crime x (praticado por Fabiano).
Conclusão: o juiz, em 04/05/21, proferiu sentença com base na lei vigente a época do fato.
 O art.4, portanto, é importante para fins de definição do tempo do crime. Acerca da matéria, na doutrina, existem três teorias:
a) TEORIA DA ATIVIDADE: considera-se praticado o crime no momento da conduta (ação ou omissão); (para tempo do crime)
b) TEORIA DO RESULTADO: considera-se praticado o crime o instante do resultado. (em relação a competência)
c) TEORIA MISTA OU UBIQUIDADE: considera-se o tempo do crime tanto o momento da conduta (ação ou omissão) quando o instante do resultado.
Obs: (OAB) no tocante ao tempo do crime (art.4° do CP), o código penal adotou a teoria da atividade. 
· Assim se o agente atira na vitima é esta vem a falecer no hospital um mês depois, o momento do crime, aquele em que fora praticado a ação de atirar (conduta) e não o dia em que surgiu o resultado (morte). 
· Do mesmo modo ocorre um delito de aborto, se houver intervalo entre a conduta e a expulsão do feto sem vida, nesse caso também será considera o tempo do crime, o instante da conduta não sendo relevante para fins de fixação de tempo do crime, o momento do resultado.
Em relação ao tempo do crime (art.4, CP) - teoria da atividade.
Em relação a competência para julgamento do crime (art.70, CPP) - teoria do resultado.
Artigo 6°- Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Das três teorias a respeito (atividade, ubiquidade e resultado), nosso CP adotou a ubiquidade. O art. 6, CP diz a respeito á aplicação da lei brasileira em face da lei de outros países, pertencendo ao denominado Direito Penal Internacional.
O dispositivo aborda os chamados ``crimes á distancia´´, que são as infrações em que a ação ou omissão se dá em um país e o resultado ocorre em outro país.
Assim, nos termos do art.6, CP, incide a lei brasileira, desde que:
· Aqui tenha sido praticado todos ou alguns atos executórios (lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte do país);
· Ou que se tenha produzido o resultado do comportamento criminoso (bem como onde se produziu o resultado).
Conclusão:
· Tempo do crime – teoria da atividade;
· Lugar do crime – teoria da ubiquidade;
· Competência para julgamento do crime – teoria do resultado.
Macete
Lugar- ubiquidade = LUTA
Tempo – atividade
Art.8 - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Exemplo:
Fabiano foi condenado na Espanha há 12 anos e obteve a possibilidade, de acordo com a lei daquele país, de obter a liberdade.
Fabiano voltou para o Brasil e se deparou com a condenação brasileira de 14 anos. Sendo que já cumpriu 10 anos na Espanha, será descontado da pena esse período, dessa forma, ele terá 4 anos a serem cumpridos.
Eficácia da sentença estrangeira
Art.9 - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - Sujeitá-lo a medida de segurança. (Incluído pela Lei nº 7.209)
Parágrafo único - A homologação depende: (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984);
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.
O art. 10 se refere á contagem de prazo penal. O prazo processual penal é contado de forma diferente:
· Prazo penal = Art. 10, CP
· Prazo processual penal = 798, 1, CPP.
O prazo penal é aquele relacionado diretamente á privação da liberdade. (ex: prazo de 5 dias de prisão temporária).
O prazo processual penal está relacionado com comprimento de alguma atividade relacionada ao impulso processual (desenvolvimento do processo), (ex: prazo de 10 dias para a apresentação de resposta á acusação).
Exemplo:
Cidadão foi preso temporariamente no dia 10 (em qualquer horário). O primeiro dia será o dia 10 (independentemente do horário em que foi preso) e o último dia de prisão temporária será dia 14.
Como se exclui o último dia, o cidadão deve ser colocado em liberdade logo nos primeiros minutos do dia 14.
Macete:
Prazo penal – inclui o dia do inicio e exclui o dia do final.
1° dia = 10
2° dia = 11
3° dia = 12
4° dia = 13
5° dia = 14
Contagem de prazo processual – 
EX: ART. 396-A, CPP determina o prazo para a defesa apresentar Resposta à acusa.
Macete do prazo processual – exclui o dia do inicio e inclui o dia do final.
Exemplo:
Fabiano (advogado) foi citado para apresentar resposta a acusação no dia 10/05 (quarta-feira)
Fabiano terá 10 dias para apresentar a defesa.
10
11 – Primeiro dia (quinta)
12 segundo dia sexta 
13- Terceiro dia sábado
14 quarto dia domingo
15 quinto dia segunda
16 sexto dia terça-feira
17 sétimo dia quarta-feira 
18 oitavo dia quinta-feira
19 nono dia sexta-feira
20 decimo dia- sábado
Quando o prazo final (ultimo dia) cair no final de semana, prorroga – se para o primeiro dia útil imediato (segunda-feira).
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
As frações não computáveis de dias (horas) não são computadas na fixação da pena, sendo simplesmente desprezadas. Quanto as frações da moeda, desprezam-se os centavos.
Embora o Art. 11, mencione no seu texto as frações de cruzeiro, moeda não existente, onde lê-se cruzeiros, leia- se a moeda vigente, que é o real.
Legislação especial (Incluída pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.
O art.12 em síntese, aponta que a parte geral do Código Penal deve ser aplicada de forma subsidiaria a todo e qualquer lei penal, se está não dispuser de forma diversa.

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