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1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 2 UNIDADE 1 – NOÇÕES BÁSICAS DE GEOTECNIA ........................................... 6 1.1 Conceitos e definições ..................................................................................... 7 1.2 Âmbito de aplicação e atuação ........................................................................ 7 1.3 História e evolução da Geotecnia ..................................................................... 9 1.4 Geotecnia do subsolo ..................................................................................... 11 1.5 Mecânica dos solos ........................................................................................ 13 1.6 Hidráulica dos solos ....................................................................................... 15 UNIDADE 2 - FUNDAÇÕES ................................................................................ 19 2.1 Parâmetros para escolha da fundação ........................................................... 21 UNIDADE 3 – TIPOS DE FUNDAÇÕES .............................................................. 24 3.1 Baldrame ........................................................................................................ 24 3.2 Blocos e alicerces .......................................................................................... 25 3.3 Sapatas .......................................................................................................... 26 3.4 Radiers ........................................................................................................... 30 3.5 Distribuição de tensão no solo ....................................................................... 31 3.6 Tubulões ......................................................................................................... 35 3.7 Estacas........................................................................................................... 38 UNIDADE 4 – ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO ................................................ 49 4.1 Muros de arrimo por gravidade ...................................................................... 51 4.2 Paredes diafragmas moldadas “in loco” ......................................................... 53 4.3 Estacas prancha ............................................................................................. 54 4.4 Cortina atirantada ........................................................................................... 55 4.5 A importância da drenagem devido à influência das águas ........................... 55 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 59 2 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. INTRODUÇÃO O módulo se destina a estudar dois tipos específicos de estruturas: as fundações e as contenções. A primeira é a infraestrutura que dá suporte ao peso de uma construção, as quais devem ser assentadas em solo firme que, por sua vez, é determinado por serviços de sondagem. A escolha do tipo de fundação a ser utilizado em uma edificação será em função da intensidade da carga e da profundidade da camada resistente do solo. Com base nessas duas informações, escolhe-se a opção que for mais barata, que tenha um prazo de execução menor e que atenda todas as normas de segurança (PEREIRA, 2018). Para termos uma fundação “perfeita”, são imprescindíveis um bom projeto e os estudos do solo, portanto, nosso ponto de partida precisa ser a Engenharia Geotécnica, uma subdivisão da Engenharia Civil que envolve os materiais naturais encontrados próximos à superfície da Terra. Ela inclui a aplicações dos princípios da mecânica dos solos e da mecânica das rochas ao projeto de fundações, estruturas de contenção e estruturas de terra. Em sua dissertação de Mestrado Benvenutti (2001, p. 25) explica de maneira bem clara a importância do projeto para que uma fundação seja bem elaborada: A fundação executada de modo adequado, de acordo com um projeto de fundações bem elaborado, pode oferecer ganhos de dinheiro e tempo, além de evitar riscos envolvendo vidas humanas. Mal projetada ou mal executada, pode desperdiçar recursos financeiros e comprometer, já no seu começo, o andamento de uma construção. Por isso, a definição mais acertada de uma fundação é quando o projetista de fundação consegue aliar a economia com a técnica. Em média, uma fundação representa de 5% a 10% do custo total de uma obra, com a tendência de percentuais maiores, sobretudo nos grandes centros, onde os processos executivos se apresentam com maior complexidade, principalmente com a necessidade crescente de maiores quantidades de subsolo. A escolha incorreta de uma fundação pode elevar bastante esses percentuais no valor global de uma obra. Desse modo, fica visível a seriedade com que devem ser tratados as estruturas que sustentam obras as mais diversas e a importância dos conhecimentos dos profissionais da Geotecnia que trabalham em projetos de escavação, túneis, compactação de aterros, tratamento de fundações, Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 instrumentação de obras, percolação de fluxos em solos e rochas, contenções, entre outros. Alguns tipos de fundações Figura 1: Alguns tipos de fundações. Fonte: http://construcaomercado17.pini.com.br/negocios-incorporacao- construcao/142/artigo298938-1.aspx Pois bem, a Unidade 2 tratará de conceitos básicos sobre as fundações e sua importância. A Unidade 3 está dedicada para os tipos de fundações: sapatas, radiers, tubulões, estacas e outros. Quanto às estruturas de contenção, ou muro de retenção ou ainda muro de arrimo, estas estruturas são discutidas na última Unidade. Contenção é uma estrutura que retém qualquer material (geralmente terra) e impede que ele deslize ou eroda, podendo resultar em danos a uma construção logo abaixo ou logo à frente do muro. Ele é projetado de modo que pode resistir à pressão do material que está segurando. Veremos muros do tipo gravidade, em gabiões, em terra armada, de flexão ou contraforte (concreto armado) e outros. Aqui também é visível a interface com a Geotecnia, pois para a escolha da obra de contenção mais adequada de ser executada em uma determinada situação é fundamental avaliar as características do meio físico local e dos processos de instabilização percebidos na encosta, corte ou aterro (MARANGON, 2009). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 Muro de arrimo por flexão Figura 2: Muro de arrimo por flexão. Fonte: http://portalvirtuhab.paginas.ufsc.br/muros-de-arrimo-por-flexao/ Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retiradosda World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 1 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 5) Pedimos compreensão por usar a lógica ocidental tradicional que funciona como uma divisão binária: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x mulher, mas na medida do possível iremos nos adequando à identidade de gênero, cientes de que no mundo atual as pessoas tem liberdade de se expressarem de forma tão diversa e plural e que o respeito à singularidade e a tolerância de cada indivíduo torna-se fator de extrema importância. 6) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 7) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora Positivo, 2005. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 UNIDADE 1 – NOÇÕES BÁSICAS DE GEOTECNIA O grande campo da Geotecnia é composto basicamente pela Engenharia Geotécnica (EG) e pela Geologia de Engenharia (GE). Partem, portanto, dessas duas geotecnologias os conhecimentos necessários a levar a bom termo qualquer empreendimento humano que venha a interferir diretamente no meio físico geológico, ou que usa materiais geológicos naturais como elementos construtivos. Figura 3: Camadas do terreno (aterro e solo). Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-58-Observacao-directa-da-constituicao-das- camadas-do-terreno-aterro-e-solo_fig11_289980151 A EG é a Engenharia que tem como responsabilidade maior a resolução dos problemas associados às solicitações impostas pelos empreendimentos humanos ao meio físico geológico ou ao uso construtivo de materiais geológicos naturais. A GE é a geociência aplicada responsável pela compreensão, descrição e enquadramento tecnológico da interface entre a atividade humana e o meio físico geológico. Importante nesse contexto conceitual entender que ainda que em todas as fases de um empreendimento deva existir sempre um sadio e eficiente espírito de equipe, uma ação continuamente colaborativa e interdisciplinar entre as diversas modalidades profissionais atuantes, é fundamental que nunca se perca de vista a responsabilidade maior que uma modalidade deva exercer, e por ela responder, em cada atividade e em cada fase. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 Nas investigações geológico-geotécnicas que antecedem o Projeto e o Plano de Obra e se prolongam no período de obra e na própria operação do empreendimento, essa responsabilidade maior é da GE. É preciso que fique muito claro aos interessados, que a missão da GE não se reduz a entregar à Engenharia um arrazoado sobre a Geologia Local, a posição do nível de água, um punhado de perfis e seções geológicas e outro punhado de índices geotécnicos relativos aos diversos materiais presentes. O trabalho da GE transcende essa limitada e apequenada visão meramente descritiva e parametrizadora, ainda infelizmente bastante comum entre geólogos executantes e engenheiros geotécnicos demandantes (SANTOS, 2011). 1.1 Conceitos e definições Estudar o comportamento dos solos e das rochas em decorrência das ações do homem, essa é a missão da Geotecnia e, em decorrência das preocupações ambientais, essa área tem ganhado destaque, seja na prevenção de desabamentos; desmoronamentos; deslizamentos, seja na preservação dos lençóis freáticos; gerenciamento do problema do lixo e contenção de ocupações de encostas. A ideia é eliminar e minimizar as situações acima de forma sustentável e segura para a população, sem degradar o meio ambiente. É essencial o estudo geotécnico de uma área, para evitar esses e muitos outros problemas. 1.2 Âmbito de aplicação e atuação Para o mapeamento geotécnico e cartas de risco, busca-se o desenvolvimento de metodologias voltadas à orientação de uso e ocupação ordenada do meio físico. Na Geotecnia Ambiental estudam-se: � transporte de poluentes; � propriedades geotécnicas x alterações químicas do meio; � recuperação de áreas degradadas; � aterros sanitários. Na prospecção e caracterização de rochas e maciços rochosos, busca-se justamente a investigação e a caracterização de rochas. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 Em relação às propriedades geotécnicas de solos naturais e compactados, os estudos são voltados para as propriedades de resistência; a compressibilidade e a permeabilidadede solos naturais e compactados. Já na Engenharia de Fundações, estuda-se o comportamento e desempenho de fundações profundas e rasas. Na mecânica das rochas, o objetivo é estudar o comportamento mecânico do material intacto e de descontinuidades; e na melhoria dos solos, o comportamento de solos reforçados com geossintéticos e estabilização química dos mesmos3. Faria (2008) cita outras áreas em que se aplicam os conhecimentos da Geotecnia: a) no segmento imobiliário clássico, os serviços desse profissional são solicitados principalmente nas etapas iniciais da obra. É ele quem coordenará as atividades de investigação do solo, terraplanagem, escavações, contenções, projeto e execução de fundações, entre outros; b) nas sondagens dos terrenos, o engenheiro geotécnico é responsável por identificar as camadas de solo da região, determinar suas propriedades mecânicas e geotécnicas – como a resistência e a deformabilidade –, realizar a análise qualitativa dessas informações, estudar a hidrologia subterrânea e estabelecer as camadas seguras para apoio das fundações, entre outras atribuições. É sua responsabilidade, também, realizar estimativas de deformações ou rupturas devido a escavações de terra ou aterro em obras de terraplanagem; c) o cálculo das fundações e contenções de uma construção, área onde solo e estrutura estão em permanente interação, também deve ficar sob responsabilidade de um engenheiro geotécnico. Ele estará à frente do planejamento e execução das escavações e contenções do terreno, acompanhando com atenção as acomodações de solos decorrentes do serviço. Esse profissional escolherá, ainda, o melhor tipo de contenção para cada obra, além de cuidar da estabilização dos solos, no caso de terrenos acidentados; 3 Disponível em: http://www.fec.unicamp.br/~pjra/geotecnia.html Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 d) nas etapas de produção e execução dos projetos de um edifício, o calculista das fundações manterá, na maior parte do tempo, contato próximo com o arquiteto e, principalmente, com o calculista estrutural da construção. O primeiro traça o desenho geral do edifício, o segundo projeta a estrutura e determina as cargas atuantes nas bases dos pilares – informações necessárias para que o projetista de fundações dimensione a base de apoio do edifício e escolha a melhor tecnologia para sua execução: radier, sapatas, tubulões, estacas pré-moldadas e hélice contínua, entre outros. Eventuais ajustes são tratados com o calculista estrutural, que negocia alterações no desenho com o arquiteto responsável. 1.3 História e evolução da geotecnia Fazendo um recorte no tempo, vamos começar nossa história no início do século XX, no período compreendido entre 1910 e 1927 que caracterizou-se pela publicação dos resultados de várias pesquisas realizadas sobre o comportamento dos solos argilosos, nas quais foram estabelecidas as suas propriedades e parâmetros fundamentais. Segundo Das (2005), as principais contribuições foram: � Atterberg (1911) – estudos sobre a consistência das argilas; � Frontard (1914) – ensaios de cisalhamento4 em argilas sob condições de carregamento vertical; � Bell (1915) – pressões horizontais, capacidade de carga, ensaios de caixa de cisalhamento para determinação da resistência ao cisalhamento não drenada em amostras indeformadas de argilas; � Fellenius – estudos sobre estabilidade de taludes de argila saturados; � Karl Terzagni – estudos sobre consolidação das argilas. Já o período contemporâneo da história geotécnica começa necessariamente com Karl Terzagni, o pai da Mecânica dos Solos. Entre 1918 a 1925, Terzagni pesquisou sobre o comportamento dos solos, especialmente, sobre o 4 Fenômeno de deformação ao qual um corpo está sujeito quando as forças que sobre ele agem provocam um deslocamento em planos diferentes, mantendo o volume constante. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 adensamento e consolidação das argilas, e sobre a ruptura por “piping5” em areias sob barragens. A Engenharia Geotécnica é um dos primeiros domínios técnico-científicos a intervir em qualquer projeto de infraestruturas ou de desenvolvimento urbano, sendo, em muitos casos, o mais importante. A rápida expansão da Geotecnia é consequência da crescente complexidade das realizações humanas e dos importantes problemas postos por diversos ramos da Engenharia e da Tecnologia, especialmente a partir da segunda metade do século XX. Com o desenvolvimento das grandes concentrações urbanas, os edifícios tornaram-se cada vez mais altos e, simultaneamente, os locais mais apropriados cada vez mais escassos. Mas, nem por isso, as construções deixaram de ser feitas. É o caso da torre Latino-Americana, construída nos anos 50 na cidade do México, com 182 m de altura, assente em 361 estacas de 35 cm de diâmetro cada, fundadas a 33 m de profundidade (MINEIRO, 1981), que apesar das condições geotécnicas desfavoráveis resistiu aos grandes sismos de 1957 e 1985, sem danos. Outro interessante exemplo de construção antissísmica é o Banco de América, em Manágua, o edifício mais alto da Nicarágua que foi um dos raros resistentes ao terramoto de 23 de dezembro de 1972. No decurso dos tempos, muitas inovações metodológicas, analíticas, numéricas e tecnológicas foram sendo propostas e utilizadas nas investigações de campo e de laboratório e nas áreas da análise, do projeto e da construção de estruturas geotécnicas. Os campos em que a geotecnia tem forte intervenção e onde essas inovações foram sendo introduzidas são vastos: previsão do comportamento dos terrenos, problemas relacionados com os sismos, métodos de melhoramento e reforço de terrenos, aplicações geoambientais, utilização de subprodutos, estruturas subterrâneas, estruturas marítimas (offshore), métodos de projeto e de construção sob condições especiais, pouco conhecidas ou de elevado risco, entre outros (CARDOSO, 2015). 5 Piping pode ser entendido como o processo de erosão que remove partículas do interior do solo formando tubos vazios que, por sua vez, promovem colapsos e escorregamentos laterais do terreno, muito comum em solos vermelhos derivados de rochas básicas e metabásicas. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 Evidentemente que não estamos livres de acidentes como falhas tectônicas e aquelas decorrentes de estudos não completos, portanto, nada mais correto do que pensarmos sempre em segurança de vidas humanas e do meio ambiente na construção das megaestruturas que tem sido sonho do homem. Citamos como exemplo o muro de contenção que é uma alternativa para situações em que há instabilidade geotécnica de taludes, tanto em seu estado natural quanto em cortes artificiais. A instabilidade se deve à incapacidade de resistênciada massa de solo frente ao ângulo de inclinação do mesmo. A aplicação dessa solução é comum nas grandes obras de infraestrutura, a saber: construção de rodovias, pontes, ferrovias, entre outras. Considerando essas obras, que geralmente são de grande extensão e onerosas, é trivial assumir que, além da estabilidade geotécnica e estrutural, a minimização de custo tem peso elevado na escolha de projeto (HWANG, 2016). 1.4 Geotecnia do subsolo O estudo do solo é um requisito prévio para o projeto de qualquer obra, sobretudo as de grande porte (obras de arte, edifícios, cortes, aterros, entre outras). O conhecimento da formação geológica do local, o estudo das rochas, solos e minerais, bem como a verificação da presença e posicionamento do lençol freático, são fatores fundamentais. Como se sabe, em se tratando de solos e rochas, a heterogeneidade é a regra e a homogeneidade, a exceção. Os estudos são, pois indispensáveis para se alcançar uma boa engenharia, ou seja, aquela que garante a necessária condição de segurança e economia6. A escolha do tipo de fundação é responsabilidade do engenheiro projetista e é feita baseada nas informações geotécnicas, as quais devem fornecer dados sobre o terreno de fundação. O método mais comum para investigação geotécnica do subsolo de fundações de edifícios é o de sondagem à percussão com circulação de água, acompanhado pelo ensaio normalizado de penetração (SPT) ou sondagem de simples reconhecimento do solo (Normas ABNT). Esse método fornece um perfil com descrição das camadas do solo e a resistência oferecida por elas à penetração 6 Disponível em: http://www.geoesp.com.br/importancia-da-sondagem.html Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 de um amostrador normalizado. Pode fornecer, ainda, a profundidade do nível de água estático. Quando a fundação é rochosa, ou parcialmente rochosa, usa-se outro método de sondagem, a sondagem rotativa com broca de diamante e extração de testemunho de sondagem. A rocha amostrada é descrita e avaliada quanto à resistência. Em casas ou construções que aplicam baixa tensão sobre o solo (fundações diretas – por meio de sapatas), muitas vezes não são realizadas sondagens à percussão. Pode-se executar uma sondagem de reconhecimento com o auxílio de um trado, sendo válido, neste caso, a experiência do engenheiro responsável, ou mesmo construtor, para estabelecer até onde deve ir a escavação para ser colocada a fundação classificada como direta. A experiência é reforçada pelo conhecimento dos solos da região, com a devida atenção para as diversas condições geotécnicas desfavoráveis para fundações diretas, conforme ilustrado na figura a seguir (MARANGON, 2018). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 Abaixo temos ilustrações de condições geotécnicas desfavoráveis para fundações diretas. Condições geotécnicas desfavoráveis para fundações diretas Figura 4: Condições geotécnicas desfavoráveis para fundações diretas. Fonte: Marangon (2018, p. 16). 1.5 Mecânica dos solos Segundo Rocha (1981 apud COSTA, 2006), a Mecânica das Rochas debruça-se sobre o conhecimento dos maciços rochosos em termos de: � deformabilidade, isto é, das relações entre forças (ou tensões) e deformações; � resistência, isto é, das condições que determinam a rotura da rocha; � estado de tensão inicial a que se encontra submetido; � dos estados de tensão que se desenvolvem em virtude das tensões aplicadas, incluindo as devidas à percolação da água subterrânea. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 Figura 5: Mecânica das rochas. Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABnuUAK/apostila-mecanica-dos-solos-2005 Por sua vez, a Mecânica dos Solos trata dos problemas: � de equilíbrio dos maciços terrosos sob a ação de solicitações exteriores (como a capacidade de carga de fundações superficiais e profundas), � de resistência ao corte dos solos submetidos a esforços tangenciais; � de escoamento em meios porosos, da consolidação e da compressibilidade dos solos; � de impulsos de terras sobre suportes (rígidos ou flexíveis, como as cortinas ancoradas ou revestimentos de túneis); � do cálculo de estabilidade de taludes naturais e de aterro; � do comportamento dos solos sob solicitações dinâmicas (sísmicas); � do melhoramento de terrenos através de numerosas técnicas (injeção, pré- carga, compactação dinâmica, vibroflutuação, entre outros) (MINEIROS, 1981). Esses problemas nos mostram que o solo não possui comportamento tensão-deformação linear ou único; que o comportamento de um solo depende em solicitação, tempo de aplicação e meio ambiente; que ele é diferente para cada local; que o solo a ser pesquisado, geralmente, não está situado na superfície e sim em horizontes profundos, necessitando ser retirado em pequenas amostras para seu estudo em laboratório e que muitos solos são sensíveis a perturbações na amostragem e não reproduzem, em laboratório, suas características reais. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 Deve-se ainda considerar a possibilidade de todos esses fatores se juntarem, o que acontece frequentemente, tornando o problema de solos de difícil solução. 1.6 Hidráulica dos solos Muitas vezes, o engenheiro se defronta com situações em que é necessário controlar o movimento de água através do solo e, evidentemente, proporcionar uma proteção contra os efeitos nocivos deste movimento. Do ponto de vista prático, a água pode ser considerada incompressível e sem nenhuma resistência ao cisalhamento, o que lhe permite, sob a ação de altas pressões, penetrar em microfissuras e poros, e exercer pressões elevadas que levam enormes maciços ao colapso (MARANGON, 2009). Um aspecto importante em qualquer projeto em que se tenha a presença de água é a necessidade do reconhecimento do papel que os pequenos detalhes da natureza desempenham. Assim, não basta apenas realizar verificações matemáticas, mas também recorrer a julgamentos criteriosos dessas particularidades, pois que elas nem sempre podem ser suficientemente quantificadas. Também é fato que problemas relativos às águas subterrâneas são encontrados em um grande número de obras de Engenharia. A ação e a influência dessas águas têm causado numerosos imprevistos e acidentes, sendo os casos mais comuns verificados em cortes de estradas, escavações de valas e canais, fundações para barragens, pontes, edifícios, entre outros. As obras que necessitam de escavações abaixo do lençol freático, como por exemplo, a construção de edifícios,barragens, túneis, entre outras; pode ser executado um tipo de drenagem ou rebaixamento do lençol freático. A água existente no subsolo pode ser eliminada por vários métodos. Drenar o terreno é uma das possibilidades para evitar que o mesmo perca suas características geológicas e para não provocar uma umidade constante nas fundações ou a subida por capilaridade da água nas paredes. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 Dentre as várias opções que irão depender da situação, podemos citar a redução do lençol de água subterrânea por meio de bombas ou ainda usar o sistema de poços filtrantes. A drenagem também pode ocorrer por eletro-osmose, para solos com coeficientes de permeabilidade compreendidos entre 10-5 e 10-7 cm/seg, nos quais os métodos de drenagem citados anteriormente são inoperantes. Nesse método, são instalados num solo saturado, dois eletrodos, que após a passagem de corrente elétrica entre ambos, a água contida nos vazios percorrerá no sentido do ânodo para o cátodo, sendo daí coletada e esgotada por meio de bomba. Outros métodos são baseados em estabilização dos solos, dentre eles teremos: a) Escoramento das paredes das escavações para execução das fundações. Essas paredes devem ser mantidas escoradas até o final. Esse escoramento é dividido em escavações pouco profundas (até 5m) e escavações profundas. A importância e a disposição do escoramento variam com o tipo de terreno e as profundidades que têm de ser alcançadas, pois com a profundidade aumentam as pressões e, claro, as dimensões das peças de escoramento. Os sistemas de escoramento para escavações pouco profundas vão sendo construídos à medida que se avança com a escavação. O sistema de pranchas verticais, geralmente providas de encaixes macho e fêmea, recomenda-se para as areias e terrenos argilosos muito moles, dado garantir melhor vedação à passagem da água e de partículas finas do solo. Para escoramento de escavações profundas são utilizados sistemas que empregam pranchas horizontais, perfis de aço em I e estacas-pranchas. O tipo de escoramento com prévia cravação de perfis de aço em I, que servem de suporte às pranchas horizontais, é recomendado para as escavações em terrenos sem coesão ou terrenos argilosos muito moles, abaixo do nível de água. Nas obras em que as profundidades a alcançar são grandes, ou em obras de grande responsabilidade, é preferível o uso de estacas-pranchas, metálicas ou de concreto armado. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 Quando não se trata de escavações em trincheiras, o escoramento de um talude vertical pode ser feito com estacas inclinadas no terreno. Existem igualmente casos em que se torna necessário escavar a área central e construir parte da fundação que servirá então para apoio das escoras inclinadas, quando o volume remanescente de terra for retirado. b) Estabilização de maciços Essa estabilização pode ocorrer por injeção de cimento, argila ou materiais betuminosos. A estabilização consiste em qualquer processo ou tratamento capaz de melhorar a estabilidade de um maciço terroso ou rochoso, sendo um processo que visa melhorar as características de resistência e impermeabilização dos maciços terrosos e rochosos. i) Injeções de cimento: consiste em injetar uma calda no terreno, através de tubos galvanizados com a ponta aberta ou com paredes perfuradas, os quais são cravados até a cota em que se deseja a consolidação. Essas injeções são aplicadas com sucesso nos solos granulares (desde o pedregulho até a areia fina), limitando-se o seu emprego aos solos cujo diâmetro efetivo é superior a 1 mm. Nos solos arenosos de granulometria fina, antes de se injetar as caldas, deve-se forçar uma injeção de água em tubos alternados, criando canais no solo entre os vários tubos. Considerando que o material sobre o qual assentam as fundações de uma barragem, por exemplo, deve ser resistente e impermeável, é usual o emprego deste método para consolidar e impermeabilizar estratos rochosos fissurados que sirvam de apoio a estas obras. ii) Injeções de argila: baseiam-se na propriedade das argilas formarem soluções que se mantêm líquidas quando agitadas, recuperando a sua coesão quando em repouso. iii) Injeções à base de produtos betuminosos: injeta-se no solo uma emulsão betuminosa, fluida e estável, constituída por uma dispersão de asfalto na água, juntamente com um agente regulador do tempo de ruptura da emulsão. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 iv) Silicatização: é um processo químico de estabilização, que consiste em injetar no solo, separadamente, duas soluções, as quais entrando em contato uma com a outra petrificam o maciço. c) Reforço dos solos para as fundações Nesse método de reforço, as injeções de cimento ou de argila permitem consolidar certas camadas de terreno; poços de areia, colunas de materiais deslocados de outros locais, construídas nos terrenos transmitem as cargas recebidas às camadas do terreno; as drenagens podem ser constituídas por tubos ou por uma capa filtrante. d) Congelamento do solo Essa técnica só se emprega nos casos difíceis de fundações em terrenos maus (solos moles e saturados de água). É uma solução dispendiosa, pois exige a prévia instalação de uma central de refrigeração. O princípio em que se baseia consiste em fazer circular por tubos congeladores, instalados no terreno, um líquido refrigerante, que irá congelar o solo e, consequentemente, estabilizar o maciço enquanto durar o processo. Sobre a estabilização de taludes e drenagem superficial, deixaremos para tratar na unidade de contenções. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 UNIDADE 2 – FUNDAÇÕES As fundações e as obras de terra são consideradas subáreas da Geotecnia, e são uma das primeiras etapas de uma obra, seja ela a construção de uma casa, de uma barragem, ou até mesmo de um viaduto. Abaixo temos dois exemplos de fundações (rasa e profunda) Fundação rasa de uma casa – Fundação profunda de um prédio Figura 6: Fundação rasa de uma casa – Fundação profunda de um prédio. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_(constru%C3%A7%C3%A3o)#/media/File:Ima ge-Found-House-Apt.png Fundação é a obra normalmente enterrada, que serve para sustentar a ponte, o prédio, a casa, qualquer que seja a construção, podendo ser feita por diversos tipos de materiais, e a depender do tipo de solo, um tipo de fundação deve ser utilizado para tal. Existe uma divisão das fundações que são as chamadas fundações rasas ou diretas, e as fundações profundas. Além dessasdivisões, as fundações em si possuem uma subdivisão em que as fundações rasas estão compostas por blocos de fundação, sapatas, radier e baldrame. Enquanto que as fundações profundas foram subdividas em estacas, tubulões e caixões (ANDRADE et al., 2013). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 Esses tipos de fundações veremos na próxima unidade. No momento, ficaremos com o essencial das mesmas. A fundação, como é popularmente conhecida, é a subestrutura, ou seja, é a parte de uma estrutura composta por elementos estruturais, geralmente construídos abaixo do nível final do terreno, e que são os responsáveis por transmitir ao solo todas as ações (cargas verticais, forças do vento, entre outras) que atuam na edificação. Exemplo de elementos de fundação Figura 7: Exemplo de elementos de fundação. Fonte: Bastos (2016, p. 3). As fundações devem ter resistência adequada para suportar às tensões causadas pelos esforços solicitantes. Além disso, o solo necessita de resistência e rigidez apropriadas para não sofrer ruptura e não apresentar deformações exageradas ou diferenciais (MELHADO et al., 2002). A estrutura posicionada acima e que se apoia na subestrutura é chamada superestrutura. As ações que atuam na superestrutura das edificações são Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 transferidas na direção vertical, geralmente por pilares ou paredes de concreto. Como o solo geralmente tem resistência muito inferior à do concreto do pilar, é necessário projetar algum outro tipo de elemento estrutural com a função de transmitir as ações ao solo. Os elementos mais comuns para cumprir essa função são as sapatas e os blocos, sendo que os blocos atuam como elementos de transição das ações, dos pilares para as estacas ou tubulões (BASTOS, 2016). A NBR 6122:2010 (confirmada em 2014) é a norma que estabelece os requisitos a serem observados no projeto e execução de fundações de todas as estruturas da Engenharia Civil. 2.1 Parâmetros para escolha da fundação São diversas as variáveis a serem consideradas para a escolha do tipo de fundação. Barros (2011) explica que, numa primeira etapa, é preciso analisar os critérios técnicos que condicionam a escolha por um tipo ou outro de fundação. Os principais itens a serem considerados são: a) Topografia da área: � dados sobre taludes e encostas no terreno, ou que possam atingir o terreno; � necessidade de efetuar cortes e aterros; � dados sobre erosões, ocorrência de solos moles na superfície; � presença de obstáculos, como aterros com lixo ou matacões. b) Características do maciço de solo: � variabilidade das camadas e a profundidade de cada uma delas; � existência de camadas resistentes ou adensáveis; � compressibilidade e resistência do solo; � a posição do nível d’água. c) Dados da estrutura: � a arquitetura, o tipo e o uso da estrutura, como por exemplo, se consiste em um edifício, torre ou ponte, se há subsolo e ainda as cargas atuantes. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 Realizado esse estudo, descartamos as fundações que oferecem limitações de emprego para a obra em que se está realizando a análise. Teremos, ainda assim, uma gama de soluções que poderão ser adotadas. Alguns projetistas de fundação elaboram projetos com diversas soluções, para que o construtor escolha o tipo mais adequado de acordo com o custo, disponibilidade financeira e o prazo desejado. Dessa forma, numa segunda etapa, consideram-se os seguintes fatores: a) Dados sobre as construções vizinhas: � o tipo de estrutura e das fundações vizinhas; � existência de subsolo; � possíveis consequências de escavações e vibrações provocadas pela nova obra; � danos já existentes. b) Aspectos econômicos: Além do custo direto para a execução do serviço, deve-se considerar o prazo de execução. Há situações em que uma solução mais custosa oferece um prazo de execução menor, tornando-se mais atrativa. Podemos perceber que, para realizar a escolha adequada do tipo de fundação, é importante que a pessoa responsável pela contratação tenha o conhecimento dos tipos de fundação disponíveis no mercado e de suas características. Somente com esse conhecimento é que será possível escolher a solução que atenda às características técnicas e ao mesmo tempo se adeque à realidade da obra (BARROS, 2011; ABCP, 2014). Guarde... A escolha do tipo de fundação deve atender concomitantemente aos critérios técnicos e econômicos. Como diz Joppert (2007), o sucesso de uma obra de fundações e contenções depende de três fatores – Projeto, Materiais e Execução. Conhecer os itens, calcular as cargas, investigar o terreno, controlar os elementos usuais em cada etapa para não apresentar patologias e, por conseguinte, aumento nos custos, Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 além de consequências as mais variáveis são responsabilidade dos profissionais de Engenharia que lidam na área, principalmente na etapa de fundações. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 UNIDADE 3 – TIPOS DE FUNDAÇÕES As fundações diretas ou rasas são aquelas em que a carga da estrutura é transmitida diretamente ao solo pela fundação. São executadas em valas rasas, com profundidade máxima de 3,0 metros, e caracterizadas por blocos, alicerces, sapatas e radiers. As fundações indiretas ou profundas são aquelas que transferem a carga por efeito de atrito lateral do elemento com o solo e por meio de um fuste. Essas estruturas de transmissão podem ser estacas ou tubulões. São aquelas cujas bases estão implantadas a mais de duas vezes a sua menor dimensão, e a mais de 3 m de profundidade. São características de uma fundação rasa ou direta: a) a distribuição de carga do pilar para o solo ocorre pela base do elemento de fundação, sendo que, a carga aproximadamente pontual que ocorre no pilar, é transformada em carga distribuída, num valor tal, que o solo seja capaz de suportá- la; b) há necessidade da abertura da cava de fundação para a construção do elemento de fundação no fundo da cava. São características de uma fundação profunda: a) devido possuir grande comprimento em relação a sua base, apresenta pouca capacidade de suporte pela base, porém grande capacidade de carga devido ao atrito lateraldo corpo do elemento de fundação com o solo; b) geralmente dispensa abertura da cava de fundação, constituindo-se, por exemplo, em um elemento cravado por meio de um bate-estaca (BARRO, 2011). 3.1 Baldrame A viga baldrame pode ser considerada a própria fundação. No caso de terrenos firmes e cargas pequenas, pode-se utilizar este tipo de fundação rasa e bem econômica que, nada mais é do que uma viga, calculada como viga sobre base elástica e construída em uma cava com muito pouca profundidade, destinada a suportar a carga de todas as paredes de uma construção, transferindo-a ao solo. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 Vigas baldrame Figura 8: Vigas baldrame. Fonte: https://www.vrimpermeabilizacoes.com.br/galerias/viga-baldrame As Vigas Baldrame são vigas de formato retangular, moldadas no local (in loco), dependendo do caso pode ser pré-moldadas, com a função de receber cargas das paredes e transferi-las aos blocos de fundação ou às brocas ou ao solo. O uso das vigas baldrame também proporciona travamento entre os blocos de fundação, distribuindo os esforços laterais e restringindo parcialmente o giro em sua direção (BONETTO, 2016). 3.2 Blocos e alicerces Bloco é o elemento de fundação de concreto simples, dimensionado de maneira que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. O que caracteriza a fundação em blocos é o fato da distribuição de carga para o terreno ser aproximadamente pontual, ou seja, onde houver pilar existirá um bloco de fundação distribuindo a carga do pilar para o solo. Os blocos podem ser construídos de pedra, tijolos maciços, concreto simples ou de concreto armado. Quando um bloco é construído de concreto armado ele recebe o nome de sapata de fundação. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 São exemplos de blocos de fundação: Figura 9: Exemplos de blocos de fundação. Fonte: http://construcaociviltips.blogspot.com/2012/01/fundacoes-blocos-e-alicerces.html 3.3 Sapatas Elemento de fundação superficial de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração nele produzidas não podem ser resistidas pelo concreto, de que resulta o emprego de armadura. Pode ter espessura constante ou variável e sua base em planta é normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal (MARANGON, 2012). Em altura, uma sapata é menor que o bloco, a capacidade de carga varia de média a baixa e por trabalhar à flexão, devem ser dimensionadas estruturalmente, ou seja, em altura, inclinação e armaduras necessárias (BARROS, 2011). Sua utilização é indicada caso as sondagens de reconhecimento do subsolo indiquem a presença de argila rija, dentre outros. Elas podem ser: a) Sapatas isoladas – dimensionadas para suportar a carga de apenas um pilar ou coluna. Podem ser de formato quadrado, retangular, circular, entre outros. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 Sapatas isoladas Figura 10: Sapatas isoladas. Fonte: https://www.fazfacil.com.br/reforma-construcao/sapatas-da-construcao/ b) Sapatas corridas – são utilizadas para suportar cargas oriundas de elementos contínuos que possuem cargas distribuídas linearmente como muros, paredes e outros elementos alongados. Por ser uma fundação rasa, sua escavação geralmente é feita à mão, sem a necessidade do uso de máquinas ou equipamentos especiais. Normalmente, é executada com concreto ciclópico, mas existem também em alvenaria. Segundo Bastos (2016), as sapatas corridas são comuns em construções de pequeno porte, como casas e edificações de baixa altura, galpões, muros de divisa e de arrimo, em paredes de reservatórios e piscinas, entre outros. Constituem uma solução economicamente muito viável quando o solo apresenta a necessária capacidade de suporte em baixa profundidade. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 Figura 11: Sapatas corridas de alvenaria. Figura 12: Sapatas corridas de concreto. Fonte: Barros (2011, p. 8-9). Fonte: Barros (2011, p. 8-9). c) Sapatas associadas – ou radier parcial é uma sapata comum a vários pilares. São normalmente empregadas quando a posição de duas sapatas isoladas ficarem muito próximas por falta de espaço ou opção estrutura. d) Sapatas alavancadas – são utilizadas quando a base da sapata não coincide com o centro de gravidade do pilar por estar próximo a alguma divisa ou outro obstáculo. Desse modo, é criado uma viga entre duas sapatas de maneira a suportar o momento fletor gerado pela excentricidade. Segundo a NBR 6122, viga alavanca ou viga de equilíbrio é o elemento estrutural que recebe as cargas de um ou dois pilares (ou pontos de carga) e é dimensionado de modo a transmiti-las centradas às fundações. Da utilização de viga de equilíbrio resultam cargas nas fundações diferentes das cargas dos pilares nelas atuantes. Exemplo de sapatas alavancadas (em perspectiva) Figura 13: Exemplo de sapatas alavancadas (em perspectiva). Fonte: Melhado et al. (2002, p. 9). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 A classificação das sapatas relativamente à rigidez é muito importante, porque direciona a forma como a distribuição de tensões na interface base da sapata/solo deve ser considerada, bem como o procedimento ou método adotado no dimensionamento estrutural. A NBR 6118 classifica as sapatas como rígidas ou flexíveis, sendo rígida a que atende a equação: Sendo: h = altura da sapata; A = dimensão da sapata em uma determinada direção; ap = dimensão do pilar na mesma direção. A Equação acima deve também ser verificada relativamente às dimensões B e bp da outra direção da sapata, sendo que para ser classificada como rígida a equação deve ser atendida em ambas as direções. No caso da equação não se verificar para as duas direções, a sapata será considerada flexível (BASTOS, 2016). Dimensões da sapata Figura 14: Dimensões da sapata. Fonte: Bastos (2016, p. 11). As sapatas rígidas têm a preferência no projeto de fundações, por serem menos deformáveis, menos sujeitas à ruptura por punção e mais seguras. As sapatas flexíveis são caracterizadas pela altura “pequena”, e segundo a NBR 6118, embora de usomais raro, essas sapatas são utilizadas para fundação de cargas pequenas e solos relativamente fracos. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 3.4 Radiers Radier é um elemento de fundação superficial constituído de um único elemento que recebe parte ou todas as cargas dos pilares da estrutura, distribuindo- as ao solo (NBR 6122, ABNT, 2010), ou seja, é uma sapata comum a todos os pilares, cujos centros e plantas, não estejam situados em um mesmo alinhamento. Segundo Rodrigues (2011 apud CAMPOS, 2015), o radier é constituído por um único elemento de fundação que distribui toda a carga da edificação para o terreno, cuja distribuição de carga é tipicamente superficial. O ACI 360R7 (1997) define radier (slabs on grade) como uma laje contínua suportada pelo solo utilizando como carregamento total uma carga uniformemente distribuída correspondente a no máximo 50% da tensão admissível do referido solo. De acordo com Menegotto e Pilz (2010 apud SAGRILLO, 2017), quando todos os pilares de uma estrutura transmitem cargas ao solo por meio de uma única fundação como uma grande sapata, denomina-se esse elemento de radier. Fundação em laje maciça ou nervurada ou ainda um sistema constituído de lajes e vigas, essas são definições simples para um radier. Radier nervurada Figura 15: Radier nervurada. Fonte: Campos (2015). Para Dória (2011), o uso de radiers é bastante pertinente quando se deseja aliar tecnologia a projetos de interesse social, pela simplicidade, rapidez e economia na execução. 7 AMERICAN CONCRETE INSTITUTE – ACI. Design of slabs on grade (ACI 360R-92), 1997 – Instituto Americano do Concreto – Projeto de lajes em graus. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 Igualmente, Campos (2015) afirma que à medida que as sapatas isoladas e/ou associadas começam a ultrapassar 50% a 70% da área da projeção da construção (condição que as tornam econômicas), as estruturas em radier começam a ser interessantes. Embora se tenha um maior consumo de concreto, o consumo de fôrma pode ser reduzido drasticamente e a velocidade da obra passa a ser um dos fatores de competitividade. 3.5 Distribuição de tensão no solo Não poderíamos passar pelas sapatas sem falar no fator mais importante relativo à interface base-solo que é justamente a pressão de apoio que a área da base de uma sapata exerce no solo. Segundo Bastos (2016), diversos estudos analíticos e de campo indicaram que a pressão exercida no solo não é necessariamente distribuída uniformemente, e depende de vários fatores, como: � existência de excentricidade do carregamento aplicado; � intensidade de possíveis momentos fletores aplicados; � rigidez da fundação; � propriedades do solo; � rugosidade da base da fundação. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 As figuras abaixo mostram a distribuição de pressão no solo aplicada na base de uma sapata, carregada concentricamente, em função do tipo de solo e da rigidez, se rígida ou flexível. Distribuição de pressão no solo em sapata sob carga centrada a) Sapata flexível sobre argila. b) Sapata flexível sobre areia. c) Sapata rígida sobre argila. d) Sapata flexível sobre areia. e) Distribuição simplificada. Figura 15: Distribuição de pressão no solo em sapata sob carga centrada. Fonte: Bastos (2016, p. 13). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 Distribuição de pressão no solo em sapata sob carga centrada Figura 16: Distribuição de pressão no solo em sapata sob carga centrada. Fonte: Bastos (2016, p. 13). Sapatas perfeitamente flexíveis curvam-se e mantém a pressão uniforme no solo. Sapatas perfeitamente rígidas não se curvam, e o recalque, se ocorrer, é uniforme, porém, a pressão no solo não é uniforme. Devido à complexidade da análise ao se considerar a pressão como não uniforme, é comum assumir-se a uniformidade sob carregamentos concêntricos, como mostrado o desenho (e), e adicionalmente porque o erro cometido com a simplificação não é significativo. Sapatas apoiadas sobre solos granulares, como areia, a pressão é maior no centro e decresce em direção às bordas da sapata. No caso de solos argilosos, ao contrário, a pressão é maior nas proximidades das bordas e menor no centro. Essas características de não uniformidade da pressão no solo são comumente ignoradas porque sua consideração numérica é incerta e muito variável, dependendo do tipo de solo, e porque a influência sobre a intensidade dos momentos fletores e forças cortantes na sapata é relativamente pequena. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 No caso de radier que é comumente flexível quando comparado às sapatas, devem ter uma avaliação das tensões de flexão e da distribuição da pressão no solo de maneira mais cuidadosa. A NBR 6118 permite que, no caso de sapata rígida, se possa admitir plana a distribuição de tensões normais no contato sapata-terreno, caso não se disponha de informações mais detalhadas a respeito. Para sapatas flexíveis ou em casos extremos de fundação em rocha, mesmo com sapata rígida, essa hipótese deve ser revista. E relativo às sapatas flexíveis: a distribuição plana de tensões no contato sapata-solo deve ser verificada. A NBR 6122 recomenda que a área da fundação solicitada por cargas centradas deve ser tal que as tensões transmitidas ao terreno, admitidas uniformemente distribuídas, sejam menores ou iguais à tensão admissível ou tensão resistente de projeto do solo de apoio e que as sapatas devem ser calculadas considerando-se diagramas de tensão na base representativos e que são função das características do solo (ou rocha). Para irmos fechando os tópicos sobre as sapatas (longe de esgotar o assunto, uma vez que acreditamos que os cálculos afins foram devidamente assimilados na graduação) vejamos alguns detalhes construtivos vindos da NBR 6122: O item 7.7.3 estabelece que todas as partes da fundação superficial (rasa ou direta) em contato com o solo (sapatas, vigas de equilíbrio, entre outras) devem ser concretadas sobre um lastro de concreto não estrutural com no mínimo 5 cm de espessura, a ser lançado sobre toda a superfície de contato solo-fundação. No caso de rocha, esse lastro deve servir para regularizaçãoda superfície e, portanto, pode ter espessura variável, no entanto, observado um mínimo de 5 cm. O item 7.7.2 diz que nas divisas com terrenos vizinhos, salvo quando a fundação for assente sobre rocha, tal profundidade não deve ser inferior a 1,5m. Em casos de obras cujas sapatas ou blocos estejam majoritariamente previstas com dimensões inferiores a 1,0m, essa profundidade mínima pode ser reduzida. O Anexo A da NBR 6122 apresenta procedimentos executivos relativos às fundações superficiais. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 35 A superfície de topo da sapata deve ter um plano horizontal (mesa) maior que a seção transversal do pilar, com pelo menos 2,5 ou 3 cm, que facilita a montagem e o apoio da fôrma do pilar, vista abaixo. Para evitar a possível ruptura nos lados da sapata é importante executar as faces extremas em superfície vertical, com a sugestão para ho: Detalhes construtivos para a sapata O ângulo a, de inclinação da sapata, deve ser preferencialmente igual ou menor que 30°, que é ângulo do talude natural do concreto fresco, a fim de evitar a necessidade de fôrma na construção da sapata (BASTOS, 2016). 3.6 Tubulões Elemento de fundação profunda, escavado no terreno em que, pelo menos na sua etapa final, há descida de pessoas, que se faz necessária para executar o alargamento da base ou, pelo menos, a limpeza do fundo da escavação, uma vez que neste tipo de fundação as cargas são transmitidas preponderantemente pela ponta (ABNT NBR 6122:2010). Marangon (2012) explica que na verdade, a transmissão de carga de um tubulão não segue o conceito literal de Fundação Profunda, por ser desprezado o Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 36 atrito lateral do fuste. Mesmo assim, é referida como fundação profunda por se tratar de profundidades de apoio como estas. Os tubulões a céu aberto são escavados manualmente, não podem ser executados abaixo do nível d’água. Dispensa escoramento em terreno coesivo, mostrando-se uma alternativa econômica para altas cargas solicitadas, superior a 250 Tf. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 37 Tubulão a céu aberto Figura 17: Tubulão a céu aberto. Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/tubulao-a-ceu-aberto/ Quando há tendência de desmoronamento, reveste-se o furo com alvenaria de tijolo, tubo de concreto ou tubo de aço. O fuste é escavado até a cota desejada, a base é alargada e posteriormente enche-se de concreto (BRITO,1987). O fuste é normalmente de seção circular, adotando-se 70 cm como diâmetro mínimo (para permitir a saída e entrada de operários). Já a projeção da base pode ser circular ou em forma de falsa elipse. Nesse caso, a relação a/b deverá sem menor ou igual a 2,5 (de maneira análoga às sapatas centradas) (PEREIRA, 2010). No caso de existir apenas carga vertical, este tipo de tubulão não é armado, colocando-se apenas uma ferragem de topo para ligação com o bloco de coroamento ou capeamento (diferente dos blocos de fundação) (EBERLE, 2013). Os tubulões a ar comprimido são utilizados em terrenos que apresentam dificuldade de empregar escavação mecânica ou cravação de estacas, como em áreas com alta densidade de matacões8, lençóis d´água elevados ou cotas insuficiente entre o terreno e o apoio da fundação. 8 Os matacões são blocos de rocha que podem ser subterrâneos ou superficialmente expostos. Geralmente têm formato arredondado, moldados pela ação de intemperismos – variação de temperatura, ação de ventos e da água de chuva e das águas residuais presentes no solo do entorno (CORSINI, 2011). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 38 Nesse tipo de fundação, pode-se utilizar uma camisa metálica, de concreto ou de concreto moldado in loco, sendo empregada uma pressão máxima de 3,4 atm9, limitando, dessa forma, a profundidade do tubulão a 34 m abaixo do nível d´água. 3.7 Estacas As estacas são elementos alongados, cilíndricos ou prismáticos que se cravam, com um equipamento, chamado bate-estaca, ou se confeccionam no solo de modo a transmitir às cargas da edificação a camadas profundas do terreno. Essas cargas são transmitidas ao terreno através do atrito das paredes laterais da estaca contra o terreno e/ou pela ponta (MAIA, 2010). Existe hoje uma variedade muito grande de estacas para fundações. Com certa frequência, um novo tipo de estaca é introduzido no mercado e a técnica de execução de estacas está em permanente evolução. A execução de estacas é uma especialidade da Engenharia. Elemento de fundação profunda executado inteiramente por equipamentos ou ferramentas, sem que, em qualquer fase de sua execução, haja necessidade de pessoas. Os materiais empregados podem ser: madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado in loco ou pela combinação dos anteriores (definições da ABNT NBR 6122:2010). As estacas também são classificadas em estacas de deslocamento e estacas escavadas. As estacas de deslocamento são aquelas introduzidas no terreno através de algum processo que não promova a retirada do solo. Enquadram- se nessa categoria as estacas pré-moldadas de concreto armado, as estacas de madeira, as estacas metálicas, as estacas apiloadas de concreto e as estacas de concreto fundido no terreno dentro de um tubo de revestimento de aço cravado com a ponta fechada, sendo as estacas tipo Franki, o exemplo mais característico dessas últimas (MAIA, 2010). São vantagens do uso de estacas de madeira: 9 Unidade de medida de pressão atmosférica. Por exemplo: ao nível do mar estamos a uma atm, portanto, estando a 20 metros de profundidade estaremos a 3 atm. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 39 � em locais onde é fácil ter acesso à madeira de lei, o custo desse tipo de estaca torna-se inferior às demais. Em muitas regiões do Brasil, esse tipo de fundação ainda é uma opção barata; � além do preço, as estacas de madeira são leves e fáceis de transportar. Isso é uma grande vantagem para facilitar a execução da fundação; � outra vantagem é a facilidade em fazer emendas nesse tipo de estaca, proporcionando o alcance de uma boa profundidade sem comprometer o funcionamento estrutural da mesma; � esse tipode estaca também possui um grande período de vida útil quando trabalham submersas. Em fundações antigas, na condição especificada, as estacas se apresentam quase que intactas após muitos anos de utilização (DALDEGAN, 2017). Evidentemente temos desvantagens como não poderem ser usadas em ambiente com variação do lençol freático; ser frágil durante o processo de cravação e onde o custo da madeira é mais alto. As estacas metálicas são constituídas principalmente por peças de aço laminado ou soldado, tais como perfis de seção I e H, como também por trilhos, geralmente reaproveitados após sua remoção de linhas férreas, quando perdem sua utilização. A principal vantagem das estacas de aço está no fato de se prestarem à cravação em quase todos os tipos de terreno, permitindo fácil cravação e uma grande capacidade de carga. Sua cravação é facilitada, porque, ao contrário dos outros tipos de estacas, em lugar de fazer compressão lateral do terreno, limita-se a cortar as diversas camadas do terreno. Hoje em dia já não existe preocupação com o problema de corrosão das estacas metálicas quando permanecem inteiramente enterradas em solo natural, porque a quantidade de oxigênio que existe nos solos naturais é tão pequena que a reação química tão logo começa, já acaba completamente com esse componente responsável pela corrosão. Entretanto, de modo a garantir a segurança, a NBR 6122 exige que nas estacas metálicas enterradas seja descontada a espessura de 1,5 mm de toda sua superfície em contato com o solo, resultando uma área útil menor que a área real do perfil. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 40 A carga máxima atuante sobre a estaca é obtida multiplicando-se a área útil pela tensão admissível do aço fc = fyk/2; sendo: fyk, a tensão característica à ruptura do aço da estaca. Dentre suas vantagens, elas podem ser cravadas em quase todos tipos de terrenos; possuem facilidade de corte e emenda; podem atingir grande capacidade de carga e trabalham bem a flexão, além de que, se utilizadas em serviços provisórios podem ser reaproveitadas várias vezes. Como desvantagem teremos o custo maior em relação às estacas pré-moldadas de concreto, Strauss e Franki (BARROS, 2011). Broca são estacas consideradas profundas e executadas por perfuração com trado e posteriormente concretada. A estaca broca é opção de procedimento construtivo a ser eventualmente utilizado conjuntamente com sapatas. Pode ser executada abaixo da base de uma sapata, para contribuir com a capacidade de carga das fundações diretas (sapatas e blocos), em terrenos de baixa capacidade de carga (MARANGON, 2012). Ao contrário de outros tipos de estacas, as brocas só serão iniciadas depois de todas as valas abertas, pois o trabalho é exclusivamente manual, não utilizando nenhum equipamento mecânico. Inicia-se a abertura dos furos com uma cavadeira americana e o restante é executado com trado, que tem o seu comprimento acrescido através de barras de cano galvanizado (geralmente com 1,5m cada peça) até atingir a profundidade desejada (BARROS, 2011). As estacas escavadas caracterizam-se também por serem moldadas no local após a escavação do solo, que é efetuada mecanicamente com trado helicoidal. São executadas através de torres metálicas, apoiadas em chassis metálicos ou acoplados em caminhões (BARROS, 2011). Em ambos os casos são empregados guinchos, conjunto de tração e haste de perfuração, podendo esta ser helicoidal em toda a sua extensão ou trados acoplados em sua extremidade. Seu emprego é restrito à perfuração acima do nível d’água (FALCONI et al., 1998 apud BARROS, 2011), ou seja, podem ser do tipo Strauss, trado rotativo, hélice contínua e estacas raiz (PEREIRA, 2018). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 41 As estacas raiz são escavadas com equipamento de rotação com circulação de água, lama bentonítica ou ar comprimido. Tem forma circular e diâmetro de até 410 mm. A armadura neste tipo de fundação profunda é inserida após a conclusão da perfuração com revestimento total do furo. Posteriormente, o furo é preenchido com argamassa com o uso de um tubo de injeção geralmente de PVC, de baixo para cima. Método executivo de fundações em estaca raiz Figura 18: Método executivo de fundações em estaca raiz. Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/estaca-raiz/ São vantagens da estaca raiz: � podem perfurar e atravessar qualquer tipo de terreno, como matacões, rochas, concreto, entre outros; � ausência de vibração no terreno; � podem ser executadas em locais de difícil acesso, utilizando pequeno espaço para a realização do serviço. São desvantagens: � custo relativamente elevado quando comparado a outros tipos de fundações; � geram grande desperdício de água; � demandam alto consumo de cimento e ferragens (PEREIRA, 2018). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 42 As estacas pré-moldadas de concreto são largamente usadas em todo o mundo, possuindo como vantagens em relação às concretadas no local um maior controle de qualidade tanto na concretagem, que é de fácil fiscalização quanto na cravação, além de poderem atravessar correntes de águas subterrâneas, o que com as estacas moldadas no local exigiriam cuidados especiais. Essas estacas podem ser confeccionadas com concreto armado ou protendido adensado por centrifugação ou por vibração, este de uso mais comum. Tanto nas estacas vibradas quanto nas centrifugadas, a cura do concreto é feita a vapor, de modo a permitir a desforma e o transporte da mesma no menor tempo possível. Tendo em vista que a cura a vapor só acelera o ganho de resistência nas primeiras horas, mas não diminui o tempo total necessário para que o concreto atinja a resistência final, as estacas devem permanecer no estoque pelo menos até que o concreto atinja a resistência de projeto. A seção transversal dessas estacas é geralmente quadrada, hexagonal, octogonal ou circular, podendo ser vazadas ou não. Existe uma grande variedade de tipos de estacas concretadas no local, diferenciadas entre si, principalmente, pela forma que são escavadas e pela forma de colocação do concreto. De um modo geral, crava-se um tubo de aço até a profundidade prevista pela sondagem geotécnica, enchendo-se com concreto que vai sendo apiloado até que se retire o tubo. Entre os vários tipos existentes destacam-se as estacas tipo Strauss e tipo Franki (MAIA, 2010). A Estaca Strauss é o tipo de fundação mais antigo de escavação mecânica que se têm conhecimento. Com ela executam-se fundações em diversos tipos de solos, também em concreto simples ou armado moldada in loco, executada com revestimento metálico recuperável (molde), o qual define o diâmetro das estacas (FURTADO, 2014; PEREIRA, 2017). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida
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