Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TERAPIA FARMACOLÓGICA ORAL A terapia oral da DM tipo 2 inclui os hipoglicemiantes ou antidiabéticos orais, sendo a base terapêutica medicamentosa, exercendo seu papel por meio de diversas classes medicamentosas e com diversos meios de ação. Os índices glicêmicos devem ser controlados precocemente para evitar a disfunção da célula beta e a refratariedade do tratamento oral, momento em que o indivíduo passa a necessitar de insulinoterapia. 1. Classificação • AD1 Agentes com benefícios em desfechos cardiovasculares e/ou mortalidade cardiovascular e/ou desfechos renais (independente do efeito na glicemia) em pessoas com diabetes em prevenção secundária. Inibidores de SGLT2, agonistas do receptor GLP-1. • AD Agentes com efeito hipoglicemiante com segurança cardiovascular demonstrada. Sulfonilureias, pioglitazona e inibidores da DPP-4. 2. Biguanidas Mecanismo de ação: não é considerado um agente antidiabético, mas sua utilização demonstrou aprovação clínica. O principal representante é a Metformina (Glifage, Glifage RX, Glucoformin), cuja ação ocorre pela inibição da gliconeogênese hepática, aumento da sensibilidade periférica à insulina e aumento da captação muscular de glicose pela ativação da AMPK, além disso aumenta a atividade da tirosinaquinase, o que estimula a translocação da GLUT-4. Posologia: 500 a 2.000mg/dia, com uso de 1 a 3 vezes ao dia. Efeitos: reduz a glicemia em 60-70mg/dl e a HbA1C em 1,5 a 2%. Vantagens: capaz de reduzir eventos CV, previne a progressão para DM tipo 2, melhora o perfil lipídico. Influência sobre o peso: redução. Efeitos colaterais: sintomas gastrointestinais (diarreia, náuseas, anorexia, gosto metálico), deficiência de vitamina B12 e acidose em casos raros. Os sintomas do TGI não menos frequentes na apresentação XR. Contraindicação: insuficiência respiratória, IC classe IV, doença hepática grave, infecção grave, abaixo de 30mL de TFG não deve ser usada, se entre 30 e 40 a posologia adequada é de até 1000mg, se maior que 45mL de TFG, pode-se usar a dose plena. Pode ser usada em monoterapia, mas apresenta mais vantagens se utilizada em associação com outro medicamento. Para redução dos efeitos no TGI, a recomendação é o início com doses baixas – 500mg – e aumento progressivo a cada 7 dias, devendo ser administrada junto com a alimentação para retardar sua absorção e efeitos indesejáveis. A droga deve ser suspensa dois dias antes de realização de exames com contraste radiológico, porque possui mais chances de causar acidose metabólica induzida. A metformina XR é uma alternativa de apresentação, já que funciona pela liberação prolongada. Também é indicada em situações de síndrome dos ovários policísticos (SOP), esteato-hepatite não alcoólica e pré-diabetes. 3. Sulfonilureias Mecanismo de ação: estimula a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas pela ligação no receptor SUR-1 Posologia: Glicazida MR (Diamicron MR) – 30 a 120mg/dia – 1,2x/dia Glimepirida (Amaryl, Betes) – 1 a 4mg/dia – 1x/dia Glibenclamida (Daonil) – 2,5 a 20mg/dia – 1,2x/dia Glipizida (MInidiab) – 5 a 20mg/dia – 1 a 3x/dia Efeitos: reduz a glicemia em 60-70mg/dl e a HbA1C em 1,5 a 2%. Vantagens: redução de riscos de complicações microvasculares e redução relativamente maior da HbA1C. Influência sobre o peso: aumenta. Efeitos colaterais: maior chance de hipoglicemia, proporcional à meia-vida do fármaco. Contraindicação: taxa de filtração glomerular < 30mL/min, insuficiência hepática, DM insulino-necessitado, infecções graves, gestação, pacientes com mais de 60 anos. As sulfonilureias, como estimulam o aumento da secreção da insulina pelo pâncreas, dependem da existência de células beta funcionantes para serem efetivos. A glibenclamida é a medicação que possui as maiores chances de causar hipoglicemia e, por isso, não está mais no guideline – dissociação dos receptores pancreáticos mais demorado. Se associados com sulfonamidas ou anti-inflamatórios pode aumentar a chance de hipoglicemia. a glipizida é metabolizada no fígado, logo é uma boa opção para idosos. Essa classe é mais indicada para pacientes não obesos, que predomina a disfunção das células em relação à resistência, com glicemia em jejum entre 160-270mg/dL. 4. Glitazonas Mecanismo de ação: aumentam a sensibilidade periférica, principalmente estimulando a captação de glicose pelas células musculares esqueléticas através do aumento da expressão dos receptores. Aumenta a sensibilidade também no adipócito e hepatócito. Posologia: Pioglitazona (Gliozac, Piotaz, Pioglit, Actos, Stanglit) – 15, 30 ou 45mg – 1x/dia Efeitos: reduz a glicemia em 35-65mg/dl e a HbA1C em 0,5 a 1,4%. Tratamento do diabetes mellitus Clínica Integrada de Endocrinologia – aula 3 Nicole Sarmento Queiroga Vantagens: prevenção do Dm2, reduz o espessamento médio- intimal carotídeo, melhora o perfil lipídico, redução de triglicerídeos e de gordura hepática, raramente provoca hipoglicemia. Influência sobre o peso: aumenta Efeitos colaterais: retenção hídrica, maior risco de IC em pacientes propensos, maior risco de fraturas em idosos. Contraindicação: IC grau III ou IV, insuficiência hepática, gestação. Como a pioglitazona atua na expressão gênica, ela demanda algumas semanas para iniciar o efeito, além disso, é um fármaco mais caro. Suspensão em caso de transaminases hepáticas estarem 3x maior que o normal. Em caso de uso de anticoncepcionais, ranitidina, digoxina e nifedipina pode haver interação medicamentosa, por isso as doses devem ser maiores. 5. Inibidores de alfa-glicosidade Mecanismo de ação: alfa-glicosidade é uma enzima presente na borda em escova do TGI que clivam polissacarídeos em monossacarídeos e, com isso, lentificam à absorção intestinal de glicose. Posologia: Acarbose (Glucobay) – 50 a 300mg – 3x/dia (refeições) Efeitos: reduz a glicemia em 20-30mg/dl e a HbA1C em 0,5 a 0,8%. Vantagens: reduz eventos CV, prevenção de DM 2, reduz espessamento médio-íntimo carotídeo, melhora perfil lipídico Influência sobre o peso: reduz Efeitos colaterais: flatulência, meteorismo, diarreia Contraindicação: doença inflamatória intestinal, doença intestinal associada à má absorção, DRC grave. Excelentes para pacientes om boa glicemia em jejum, mas hiperglicemia pós-prandial. Pode ser usada também em pacientes com síndrome de Dumping ou hipoglicemia reativa idiopática pós gastrectomia. 6. Glinidas Mecanismo de ação: liga-se ao receptor SUR na célula beta e promove despolarização, levando à liberação de insulina. Posologia: Rapaglinida (Prandin, Posprand) – 0,5 a 16mg/dia – 3x/dia Nateglinida (Starlix) – 120 a 360mg/dia – 3x/dia Efeitos: reduz a glicemia em 20-30mg/dl e a HbA1C em 1 a 1,5%. Vantagens: baixo risco de hipoglicemia, redução da variabilidade da glicose após as refeições, flexibilidade da dose, redução do espessamento médio-íntimo carotídeo Influência sobre o peso: aumenta Efeitos colaterais: ganho de peso Contraindicação: gestação Apresentam meia-vida curta, sendo utilizada antes das refeições para regular a glicemia pós-prandial, sendo uma boa opção para idosos com essa alteração. 7. Inibidores da DDP-4 Mecanismo de ação: aumento do nível de GLP-1, com aumento da síntese e da secreção de insulina, além da redução do glucagon Posologia: Sitagliptina (Januvia) – 50 a 100mg/dia – 1,2x/dia Vildagliptina (Galvus) – 50mg – 2x/dia Linagliptina (Trayenta) – 5mg – 1x/dia Alogliptina (Nesina) – 6,25, 12,5 ou 25mg – 1x/dia Sexagliptina (Onglyza) – 2,5 ou 5mg – 1x/dia Efeitos: reduz a glicemia de jejum em 20mg/dl e a HbA1C em 0,6 a 0,8%. Vantagens: aumento da massa de células beta em modelos animais, segurança e tolerabilidade, raramente causa hipoglicemia Influência sobre o peso: neutro Efeitoscolaterais: angioedema, urticária, probabilidade pancreatite aguda, aumento de internações por IC (saxa e alogliptina), nasofaringite, cefaleia, tontura e diarreia Contraindicação: hipersensibilidade aos componentes do medicamento Linagliptina possui metabolismo biliar, sendo uma melhor opção para situações de insuficiência renal. 8. Análogos de GLP-1 Mecanismo de ação: aumento dos níveis de GLP-1, com aumento da síntese e secreção de insulina e redução do glucagon, redução da produção hepática de glicose, retardo do esvaziamento gástrico, aumento da saciedade e redução do apetite Posologia: Exenatide (Byetta) – 5µg – 2x/dia, com aumento posterior para 10µg – 3x/dia Liraglutide (Victoza) – 1,2 a 1,8mg SC – 1x/dia Efeitos: reduz a glicemia de jejum em 30mg/dl e a HbA1C em 0,8 a 1,2%. Vantagens: redução da variabilidade pós-prandial, redução discreta da PA, raramente causa hipoglicemia, redução de eventos cardiovasculares em paciente com DCV aterosclerótica, proteção renal Influência sobre o peso: redução Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, diarreia, aumento da frequência cardíaca de forma discreta, possibilidade de pancreatite aguda Contraindicação: hipersensibilidade, carcinoma medular de tireoide, pancreatite, uso de inibidores de DPP-4, TGF <15mL/min 9. Pranlintida Mecanismo de ação: análogo sintético de amilina, um hormônio cossecretado com a insulina pelas células beta pancreáticas em resposta à alimentação. Promove redução da ingesta alimentar, retardo do esvaziamento gástrico e supressão da secreção pós-prandial. Posologia: Pranlitida (Symlin) – 60 a 120 mcg SC antes da principal refeição. Vantagens: alcançar o controle glicêmico Efeitos colaterais: náuseas Devem ser utilizadas no tratamento do DM tipo 1 associada à insulina ou DM tipo 2 que utilizam insulina nas refeições e não conseguem alcançar o controle glicêmico. As insulinas rápidas ou ultrarrápidas devem ser reduzidas em 50% para não causar hipoglicemia. 10. Inibidores do SGLT-2 Mecanismo de ação: impedem a absorção de glicose no túbulo proximal por meio da inibição do receptor SGLT2, levando à glicosúria Posologia: Dapaglifozina (Forxiga) – 5 a 10mg – 1x/dia Empaglifozina (Jardiance) – 10 a 25mg – 1x/dia Canaglifozina (Invokana) – 100 a 300mg – 1x/dia Efeitos: reduz a glicemia de jejum em 30mg/dl e a HbA1C em 0,5 a 1%. Vantagens: redução de eventos CV e de mortalidade em pessoas com DCV, redução de internação por IC (dapaglifozina), desfechos renais, raramente causa hipoglicemia, redução da PA Influência sobre o peso: redução Efeitos colaterais: propensão às infeções no trato geniturinário, risco baixo de cetoacidose euglicêmica Contraindicação: em uso de dapa ou canaglifozina a TFG deve estar acima de 45mL/min, em uso de empaglifozina, TGF acima de 30mL/min Como há propensão a infecções do trato geniturinário, a profilaxia com antibioticoterapia é indicada, podendo ser usada a ceftriaxona ou ciprofloxacino p125mg/dia por 7 dias. 11. Associações medicamentosas • Metformina + IDPP-4 ✓ Metformina 500, 850 ou 1.000mg + Sitagliptina 50mg – Janumet ✓ Metformina XR 500 ou 1.000mg + Sitagliptina 50mg Metformina XR 1.000mg + Sitagliptina 100mg – Janumet XR ✓ Metformina 500, 850 ou 1.000mg + Vildagliptina 50mg – Galvus Met ✓ Metformina XR 500 ou 1.000mg + Saxagliptina 2,5 ou 5mg – Kombiglyze ✓ Metformina 500, 850 ou 1.000mg + Linagliptina 25mg – Trayenta duo ✓ Metformina 500, 850 ou 1.000mg + Alogliptina 50mg – Nesina Met • Pioglitazona + IDPP-4 ✓ Pioglitazona 15 ou 30mg + Alogliptina 25mg – Nesina pio • Metformina + ISGLT-2 ✓ Metformina XR 500mg + Dapaglifozina 10 mg Metformina XR 1.000mg + Dapaglifozina 5 mg Metformina XR 500mg + Dapaglifozina 10 mg – Xigduo • ISGLT-2 + IDPP-4 ✓ Empaglifozina 10 ou 25mg + Linagliptina 5mg – Glyxambi ✓ Dapaglifozina 10mg + Saxagliptina 5mg – Qtern 12. Algoritmo para manuseio do controle e tratamento de idosos com DM tipo 2 13. Recomendações e conclusões da terapia oral INSULINOTERAPIA É a base do tratamento dos pacientes com DM tipo 1 e pode ser usado no tratamento da DM tipo 2 em casos de refratariedade ao tratamento oral. Tratamento iniciado quando o paciente já apresenta hemoglobina glicada superior a 9mg/dL e sinais e sintomas de estado de hiperglicemia. O maior desafio é evitar situações de hipoglicemia que pode ser causado por, principalmente, erro na dose, alterações nos horários de refeições, exercícios e falhas nos hormônios contrarreguladores. 1. Tipos de insulina • Ação ultrarrápida Tipo de insulina Início Pico Duração Lispro – Humalog 5-15min 0,5-1,5h 4-6h Aspart - Novorapid Glusilina – Apidra Causam menos hipoglicemia que a regular e são mais eficazes no controle da glicose pós-prandial. • Ação rápida Tipo de insulina Início Pico Duração Regular 30min-1h 2-3h 5-8h É disponibilizada pelo SUS, apresenta baixo custo, a absorção é variável, podendo apresentar pico de ação variável e o controle da glicose pós-prandial é inconsistente. Podem causar hipoglicemia retardada. • Ação intermediéria Tipo de insulina Início Pico Duração NPH 2-4h 4-12h 10-16h Lenta 2-4h 4-12h 12-20h Possuem o objetivo de controlar a glicemia interprandial, durante a noite e a madrugada e a glicemia de jejum. A NPH é disponibilizada pelo SUS, possui absorção variável e, em comparação aos análogos de ação prolongada, promove mais episódios de hipoglicemia e aumento do peso. • Ação prolongada Tipo de insulina Início Pico Duração Glargina – Lantus 2-4h Sem pico 20-24h Detemir – Levemir 4-6h Sem pico 18-23h Ultralenta 6-10h 10-16h 18-24h Degludeca - Tresiba 2h Sem pico 42h Glargina U300 Até 4 Sem pico 36h São insulinas indicadas para prover insulinemia basal, promovem menor aumento de peso e menor variabilidade inter e intrapacientes, além de reduzir as chances de hipoglicemia noturna. A glargina e a detemir são insulinas de ação lenta, aplicadas 1x e 2x/dia respectivamente. A detemir é mais indicada em pacientes obesos porque foi demonstrado o menor ganho de peso. A degludec e a glagina 300, nova disponibilidade, são consideradas ultralentas. • Combinada Tipo de insulina Início Pico Duração NPH/Regular 70/30 NPH/Regular 50/50 30min- 2h Dois picos 3-12h 10-16h NPL + Lispro 75/25 Humalog Mix 25 5-15min Dois picos 1-4h 10-16h NPL + Lispro 50/50 Humalog Mix 50 5-15min Dois picos 1-4h 10-16h NPA + Aspart 70/30 NovoMix 70/30 5-15min Dois picos 1-4h 10-16h São insulinas que predispõem a um quadro mais provável de hipoglicemia, um maior ganho de peso, além de promover um controle glicêmico ruim. Além da NPH/Regular 70/30 ou Humulin 30/70, está disponível a Humalog Mix (Lispro 25 ou 50% + Lispro protamina 25 ou 50%) e a NovoMix 70/30 (Aspart 30% + Aspart protamina 70%). • FIASP – Insulina Fast-aspart Tipo de insulina Início Pico Duração Fast Aspart -FIASP 2,5min 1-3h 5h É a insulina aspart com nicotinamida (vitamina B3), deve ser administrada no início das refeições ou até 20 minutos depois. Em relação à aspart, seu início é de 5 minutos de antecedência e pico de ação de 11 minutos de antecedência. Mais indicação em pacientes com DM tipo 1 para ajuste de glicemia pós- prandial. • Afrezza – inalatória Tipo de insulina Início Pico Duração Afrezza Imediato 10-20min 1-2h Pode ser utilizada nos dois tipos de DM, com início de ação rápida, em 12-15 minutos atinge o pico e dura entre 2 e 3 horas. 4U de regular corresponde a 1,5 de Afrezza. Disponível em 4,8 ou 12UI. • Combinados de insulina com GLP-1 RA injetáveis Denominação Comercial Dose inicial Glargina 100U/mL + Lixisenatida 50mcg/mL Soliqua 10-40 20U/10 mcg e 10U/5mcg Glargina 100U/mL+ Lixisenatida 33mcg/mL Soliqua 30-60 30U/10 mcg Degludeca 100U/mL + Liraglutida 3,6mg/mL Xultophy 16U/0,6mg Paciente DM tipo 2 que tem que ser insulinizado e não é desejado o aumento do peso porque já é obeso. Medicação de difícil acesso pelo alto custo. 2. Esquemas • Duas aplicações Devem ser feitas duas tomadas, em que a dose da primeira corresponde a 2/3 do total – manhã – e a segunda corresponde a 1/3 do total – noite. A proporção de NPH/Regular na dose da manhã deve ser de 70/30% e na da noite deve ser 50/50%. Exemplo: dose total de 30U – manhã 20U e noite 10U. As 20U da manhã são divididas em 14U de NPH e 6U de Regular. As unidades da noite são divididas em 5U de NPH e 5U de regular. O esquema deve ser ajustado pelas três glicemias capilares pré-prandiais e uma antes de dormir: ✓ Glicemia matinal – depende da NPH do jantar de véspera ✓ Glicemia pré-almoço: depende da regular de manhã ✓ Glicemia pré-jantar: depende da NPH da manhã ✓ Glicemia antes de dormir: depende da regular da noite O ideal é que a aplicação seja subcutânea da regular na barriga por a absorção ocorre mais rapidamente, já a NPH é preferível que se aplique na coxa ou nádega, porque tem uma absorção mais lenta. A insulina Regular deve ser aplicada de 30 a 45 minutos antes das refeições, caso seja substituída por uma ultrarrápida, deve ser com antecedência de 15 minutos. São vistas algumas desvantagens dessa modalidade, como a “desproteção” do período matinal antes da aplicação, podendo haver hiperglicemia matinal, ainda a NPH do café pode ser insuficiente para manter a glicemia pós-prandial, e com essa modalidade, o paciente não possui chance de flexibilização das refeições, devendo seguir uma rigorosa rotina de horários para alimentação e quantidade de alimentos ingeridos. A hiperglicemia matinal ou fenômeno do alvorecer tem como principal explicação o pico circadiano do GH, ou seja, no início do amanhecer o GH, hormônio hiperglicemiante, está em doses mais elevadas. Para controlar esse fenômeno, a tomada da insulina pode ser alterada, de modo que a regular continue sendo administrada antes do jantar, mas a NPH agora será aplicada antes de dormir. O aumento da NPH antes do jantar como tentativa de controle do fenômeno do alvorecer pode desencadear o efeito Somogyi, uma hiperglicemia matinal de rebote provocada pelo pico de Figura 1. Gráfico que representa o efeito glicêmico das insulinas em função do tempo. hormônios contrarreguladores em resposta à hipoglicemia na madrugada (em geral às 3h). Esse esquema de aplicação, como não se assemelha à liberação fisiológica, não é indicado para o tratamento da DM tipo 1. • Múltiplas doses ou basal-bolus É o esquema que se assemelha à liberação fisiológica de insulina: uma quantidade basal e uma quantidade maior após refeições para controlar o índice glicêmico pós-prandial. Assim, uma insulina de ação intermediária ou prolongada substituem a liberação basal do pâncreas, e insulina de ação rápida ou ultrarrápida simula o pico pós-prandial. Esse esquema pressupõe que um indivíduo libera diariamente 50 a 60% de forma gradual e lenta e o restante de maneira rápida em picos. Na prática, são possíveis algumas combinações: ✓ NPH ou detemir antes do café da manhã e antes do jantar ou ceia (insulina basal) + regular ou, de preferência lispro, aspart ou glusilina, antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus) ✓ NPH antes do café da manhã, almoço e jantar (insulina basal) + regular ou, de preferência lispro, aspart ou glusilina, antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus) ✓ Glargina/Degludec antes do café da manhã (basal) + regular ou, de preferência lispro, aspart ou glusilina, antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus) ✓ Glargina ou detemir antes do café da manhã e antes do jantar (basal) + regular ou, de preferência lispro, aspart ou glusilina, antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus) Alguns pacientes ainda podem precisar da administração de alguma ultrarrápida antes de refeições como lanche ou ceia. A escolha do esquema depende do estilo de vida do paciente, resposta ao tratamento e custo. A maior vantagem que o esquema de múltiplas doses apresenta é a menor chance de hipoglicemia. A dose da insulina bolus pode ser calculada também pela contagem de carboidratos. Passos para o cálculo da dose de insulina bolus pré- prandial conforme contagem de carboidratos Passo 1: calcular a razão insulina/carboidratos, traduzindo a quantidade de insulina capaz de metabolizar quantidade de glicose. É calculada pela fórmula 500/dose diária total Passo 2: calcular a dose do bolus de acordo com a quantidade de carboidratos a ser ingerida Passo 3: calcular a dose de bolus “corretiva”, ou seja, a suficiente para corrigir uma possível hiperglicemia. A dose corretiva = glicemia atual – meta glicêmica / fator de sensibilidade. O fator de sensibilidade é a quantidade de glicose que diminuirá após 2 a 4 horas de uma unidade de insulina. Fator de sensibilidade é 1500/dose diária total Passo 4: calcular dose total de bolus = dose de bolus alimentar + dose corretiva Como exemplo, podemos analisar o caso de um indivíduo que utiliza uma dose total de 20U e apresenta glicemia antes do café da manhã de 175mg/dL e com dose de carboidratos de 50g, com meta glicemia de 100mg/dL. Passo 1: 500/20 = 25, ou seja, uma unidade de insulina cobre 25g de carboidratos. Passo 2: 2U no café da manhã. Passo 3: 1500/20 = 75, 175-100/75 = 1, ou seja, a dose corretiva equivale a 1U. Passo 4: deverão ser aplicados 3U antes do café da manhã (2U de bolus e 1U de dose corretiva). Como na prática clínica nem sempre é possível realizar esse tipo de tratamento porque depende do bom entendimento do por parte dos pais e das crianças, são prescritas doses empíricas de regular ou ultrarrápida antes das refeições e com monitoração para reavaliar a necessidade de correção de doses. • Infusão contínua Uma bomba de infusão injeta de maneira constante através de um cateter que fica no tecido subcutâneo, substituído a cada 3 dias. Esse dispositivo funciona como uma insulina ultrarrápida, podendo ser programado para liberar uma dose basal e, com um toque antes das refeições, libera um bolus. Esse esquema elimina as necessidades de múltiplas aplicações, melhora os níveis de hemoglobina glicada, reduz chances de hipoglicemia, permite a realização de exercícios físicos sem a necessidade de uma grande ingestão prévia de carboidratos, mas como desvantagem apresenta um elevado custo do aparelho, risco de infecção no cateter, o que pode levar à cetoacidose diabética. 14. Desafios para adesão ao tratamento • Ausência de cura • Controle alimentar • Necessidade de atividade física regular • Automonitorização da glicemia • Autoaplicação e ajustes de medicamento injetável • Assintomatologia por muito tempo 15. Aplicação da insulina Deve ser realiza em regiões especificas, com alternância entre elas,a fim de evitar lipohipertrofia, e a seringa deve estar posicionada de forma perpendicular a pele, devendo ser feita a troca de agulhas periodicamente e descartada em recipiente próprio. Os locais que podem ser aplicados e suas taxas de absorção são: • Abdome, +++ • Face posterior do braço, ++ • Nádegas, ++ • Coxa não exercitada, + < 70mg/dL: -2U 71-140mg: manter dose 141-160mg/dL: +1U 161-200mg/dL: +2U 201-240mg/dL: +3U >240mg/dL: +4U Figura 2. Regiões de aplicação da insulina. Figura 3. Aplicação de insulina em região abdominal. A insulina deve ser estocada na geladeira em temperaturas entre 2 a 8ºC e, caso congele, deve ser desprezada. Após ser aberta, pode ser armazenada em temperatura ambiente (15 a 30ºC) oupode ser refrigerada em temperaturas entre 2 e 8ºC, devendo ser descartada após um mês do início do uso. Deve haver homogeinização da insulina antes da aplicar, a fim de misturar uma porção que pode ter sofrido decantação, rolando o frasco entre as palmas das mãos. Deve-se introduzir um volume de ar dentro do frasco. Apenas as insulinas NPH e regular podem ser misturadas na mesma seringa, caso a associação não seja entre as insulinas anteriores, a de ação rápida deve ser aspirada primeiro. Antes da aplicação deve ser feita a prega na pele, exceto se as canetas de insulina possuírem agulha de 4mm. Após injeção, a agulha deve ser permanecida no subcutânea de 5 a 10 segundos. TRATAMENTO DA DM TIPO 1 Tratamento de pacientes que estão em progressão de destruição ou destruição completa de células beta, sendo o esquema basal/bolus o preferido. O início do tratamento deve ser feito com 0,3 a 0,5U/kg/dia, por via subcutânea, porque, ao diagnóstico, o paciente ainda pode ter reserva de insulina endógena. Esse período é denominado “lua de mel”, mas em questão de pouco tempo, é necessário aumentar a dose porque as ilhotas pancreáticas terão sua destruição completa. A dose média adequada para um adulto está entre 0,5 e 1U/kg/dia de insulina basal. Depois disso, deve-se avaliar e calcular os valores para insulina bolus através do cálculo de valores como fator de sensibilidade, bolus corretiva, como o cálculo não é de fácil entendimento para todos, pode ser dividido em 50/60% da dose para a insulina basal e 50/40% da dose para insulina de ação rápida ou ultrarrápida, em bolus. TRATAMENTO DA DM TIPO 2 O tratamento priorizado é o uso de hipoglicemiantes orais, mas em refratariedade ao tratamento, o uso de insulina é uma alternativa para reduzir a glicotoxicidade e os sinais e sitomas de hiperglicemia. Os tratamentos com hipoglicemiantes orais, atualmente, priorizam o uso de drogas que possuem menos chances de causar hipoglicemia, como os IDPP-4, inibidores de SGLT-2 e análogos de GLP-1. A primeira opção a ser usada é a metformina, droga que promove a sensibilização de insulina, mas não apenas em pacientes diagnosticados, mas também em pré-diabéticos, a fim de prevenir o avanço. Essa droga é a primeira escolha porque o custo é baixo, os efeitos colaterais são conhecidos e estão mais associados ao TGI, podendo ser associada com as classes expostas anteriormente em casos de obesidade (IMC >28) e de doença mais avançada, mas também com a pioglitazona, que também é um sensibilizador de insulina, mas predominantemente muscular e também melhora o perfil lipídico. Em caso de o paciente não poder usar metformina, a pioglitazona serve como segunda opção. Para pacientes com insuficiência cardíaca, a droga de escolha é da classe dos inibidores de SGLT-2 ou análogos de GLP-1, já que eles fornecem redução de efeitos cardiovascular e renais e redução da hospitalização por DCV. A melhor opção é a metformina e empaglifozina e, em segundo plano, a metformina e a liraglutide. A glibenclamida não é uma boa opção porque causa hipoglicemia mais facilmente e a pioglitazona é contraindicada em casos de IC, porque promove a formação de edemas. Para pacientes com disfunção renal é importante analisar a TGF para avaliar qual a melhor terapia. A metformina é uma opção caso a TGF esteja acima de 30, podendo ser associada a outras drogas. Em pacientes com a TGF mais baixa, o ideal é usar inibidores de DPP-4, em especial a linagliptina, porque seu metabolismo é biliar, ou seja, não afeta a função renal e hepática, associada à insulina, porque as demais medicações possuem metabolismo renal ou afetam essa função. Conduta inicial conforme a condição clínica atual Manifestações leves Glicemia < 200mg/dL + sintomas leves ou ausentes + ausência de outras doenças agudas Metformina 500mg/dia, intensificando até 2.000mg/dia + MEV Manifestações moderadas Glicemia entre 200 e 300mg/dL + ausência de critérios para manifestação grave Metformina 500mg/dia, intensificando até 2.000mg/dia + MEV + hipoglicemiantes orais Manifestações graves Qualquer glicemia acima de 300mg/dL OU perda de peso significante OU sintomas graves (“pólis”) OU cetonúria Iniciar insulinoterapia imediatamente Hospitalização se glicemia >300mg/dL em condições de cetoacidose diabética ou doença grave intercorrente Indicações para insulinoterapia no DM tipo 2 Falência terapêutica aos hipoglicemiantes orais Hiperglicemia > 300mg/dL, HbA1c > 10% na primeira consulta, em fases iniciais, principalmente nos que apresentam perda ponderal Emagrecimento progressivo atribuído ao diabetes Durante a gestação Situações de estresse agudo (pós-IAM, AVC, cirurgias, UTI) Doença aguda com necessidade de hospitalização Terapia com alta dose de glicorticoides Intolerância ou contraindicação para drogas orais Descompensações agudas Para insulinização apenas com basal, deve haver manutenção do uso de hipoglicemiantes, se uso de bolus, suspensão dos secretagogos e I-DPP4. Figura 4. Exemplo de insulinização do paciente DM tipo 1. O início do tratamento com insulina deve ser com o uso de insulinas basais, como a NPH, sendo administrada às 22h para evitar hiperglicemia antes do café da manhã, ou alguma de ação prolongada, como glargina e determir, que podem ser aplicados em qualquer horário do dia. Essas opções são as inicias porque ofertam menor chance de hipoglicemia e menor ganho de peso quando comparado às formulações pré- misturadas. O início da insulinização com uma dose diária varia entre 10- 15UI ou 0,1 a 0,2U/kg e 0,2U/kg/dia para obesos, já que possui resistência maior à insulina pela presença de tecido adiposo, com o intuito de inibir a produção hepática de glicose na madrugada e início da manhã. A dose definitiva deve ser calculada objetivando uma glicemia de jejum menor que 100mg/dL, sendo adicionada 2U de basal a cada 3 dias que se passarem e a glicemia atingir os valores esperados. A insulinização não impede o uso dos hipoglicemiantes orais, exceto sulfonilureias e glinidas. Também deve ser monitorizada a glicemia pós-prandial, escolhendo inicialmente a de maior volume, de modo que os valores esperados são até 160mg/dL, mas dependendo do paciente e da sua condição, pode-se aceitar valores até 180mg/dL. Se o paciente estiver fora dos parâmetros, pode ser iniciada a insulina bolus (rápida ou ultrarrápida antes das refeições). Em caso de não haver resposta com o esquema anterior, já há indicação para insulinização plena, com duas doses de NPH ou de detemir e três doses de insulina rápida ou ultrarrápida. Uma opção para o paciente que não possui condições para adquirir a insulina bolus é a administração de NPH em três doses, com o objetivo de oferecer uma cobertura mais uniforme de insulina basal. A segunda opção é fazer o uso de uma insulina de ação prolongada, como a glargina em dose única ou detemir em 2 doses ou até com uso de degludeca, também fazendo uso das insulinas de curta duração para promover a cobertura prandial. Se a paciente não estiver perdendo peso, mas ganhando, opta pelo tratamento com as fórmulas pré-prontas de insulina com análogos de GLP-1 RA, porque reduz a dose de insulina com menor ganho de peso, menor aumento de GPP e menor chance de hipoglicemia, intensificando o tratamento e podendo controlar o DM tipo 2 mal controlado que usa menor de 50U/dia ou menos de 1,8mg/dia de liraglutida. Figura 5. Metas da insulinização do paciente DM tipo 2.
Compartilhar