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Revista Científica de Polícia Técnica na Bahia

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012
REVISTA CIENTÍFICA DO DEPARTAMENTO DE POLÍCIA TÉCNICA
DA SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA
SALVADOR - BAHIA
PROVA MATERIAL – Revista Científica do Departamento de Polícia Técnica vinculada à Secretaria da 
Segurança Pública do Estado da Bahia. Av. Centenário, s/nº, Vale do Barris, Salvador – Bahia, CEP.: 40.100-
180. Telefone: (71) 3116-8792 / Fax: (71)3116-8787.
Em observância a Portaria conjunta SAEB/SEFAZ/SEPLAN nº 001 de 16 Fevereiro de 2009, 
excepcionalmente este ano, a revista será semestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de 
inteira responsabilidade dos autores. Tiragem desta edição de 1000 exemplares, 32p.
Jaques Wagner
Governador do Estado da Bahia 
Antônio César Fernandes Nunes 
Secretário da Segurança Pública 
Raul Coelho Barreto Filho 
Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica 
Mª de Lourdes Sacramento Andrade 
Chefe de Gabinete
Jorge Braga Barretto 
Corregedor do Departamento de Polícia Técnica 
Aroldo Ribeiro Schindler
Diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues 
Iracilda Mª de O. Santos Conceição 
Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello
Evandina Cândida Lago
Diretora do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto 
Eliana Araújo Azevedo 
Diretora do Laboratório Central de Polícia Técnica 
Claudemiro Pires Soares Filho 
Diretor do Interior do Departamento de Polícia Técnica 
Editora 
Talita Souza Brito 
Jornalista – DRT-BA nº 2734
Editoração
JM Gráfica e Editora Ltda.
Conselho Editorial 
Paulo Araújo Moreira de Souza (IMLNR)
Valdomir Celestino de Oliveira Filho (IMLNR)
Socorro de Mª de Araújo Alves Ferreira (IIPM)
Josemi Carvalho da Ressurreição (IIPM)
Cláudio Fernando Silva Macêdo (ICAP)
Antonio César Morant Braid (ICAP)
Jorge Borges dos Santos (LCPT)
Josenira Matos Andrade (LCPT)
Eunice Moura Vitória (DI)
Lídia Ramos de Araújo – Coordenação de Ensino 
e Pesquisa 
Colaboradores
Jorge Carvalho da Ressurreição
Jorge Braga Barretto
Semestral
EDITORIAL 
GENOTIPAGEM DE DNA EM CONDIÇÕES ADVERSAS DE AMOSTRAS LOW COPY 
NUMBER - LCN (AMOSTRAS DE TECIDOS FORMOLIZADOS E EMBLOCADOS EM 
PARAFINA) - Artigo Original 
Eugênio Nascimento, Millena C. Pinheiro, Gisela N. P. de Souza
ANÁLISE DA ANTROPIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS NEGATIVOS NA BACIA DO RIO 
PIRANHAS, AFLUENTE DO PARAGUAÇU - Artigo Original 
Manoel da Silva Filho, Maria Helena de Almeida Mascarenhas e Yara Simone Rocha 
Santana da Silva.
VIOLÊNCIA SEXUAL E MORTALIDADE EM VITÓRIA DA CONQUISTA/BAHIA 
(Algumas reflexões sobre crianças e adolescentes periciados pelo Departamento de Polícia 
Técnica) - Artigo Original.
Elizeu Pinheiro da Cruz e Reginaldo de Souza Silva
(3-CLOROFENIL) PIPERAZINA (mCPP): UMA NOVA DROGA
 SINTÉTICA ILEGAL NO BRASIL - Artigo de Revisão
Márcia Maria Portela de Santana, Marisa Fontainha de Souza e Ricardo Leal Cunha
DETERMINAÇÃO DA TRAJETÓRIA DE UM SUPOSTO SUICIDA - Artigo Original
Fernando Luiz Pinheiro de Amorim
Normas para Publicação 
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O processo policial, criminal e judicial constitui-se Lima, “as criações das grandes inteligências é que 
atividade do Estado, todo ele baseado na perícia sobrevivem à própria morte. É uma sobrevivência 
médico-legal, criminalística, laboratorial ou de poderosa”!
identificação. A lei brasileira impunha a feitura de Nina não assistiu as promulgações e assinaturas 
pericias, e o Código de Processo do Estado da dos convênios, o primeiro dos quais efetuado em 
Bahia em obediência a Lei nº 1.121 de 21 de agosto 1907, um ano após seu desaparecimento. 
de 1915, ditava as orientações para os devidos fins. Foi assim, iniciada a arrancada para tornar a 
Foi criado, desse modo, o Serviço Médico-Legal Medicina Legal estatal, através de suas perícias, 
do Estado. base e informação para a Cátedra de Medicina 
A perícia, entretanto, teria melhor aceitação ante a Legal. 
presença dos Catedráticos de Medicina Legal e, Novo decreto de nº 977 de 21 de dezembro de 1911 
sobretudo, de Nina Rodrigues, Verdadeiro pai da firmou contrato de cooperação entre o Estado da 
Medicina Legal Brasileira que a exemplo dos Bahia e a Faculdade de Medicina, sequenciando 
mestres franceses e alemães pretendeu criar um aquele de 1907.
Instituto Médico Legal da Faculdade de Medicina. Vários outros convênios seguiram-se visto que o 
Em 1895 – Raimundo Nina Rodrigues, então tempo, por sua vez, transforma as idéias, e, até 
catedrático de medicina legal, mantinha, à época, o convicções. O importante é resguardar o princípio 
melhor relacionamento com as autoridades do ensino na perícia da mesma maneira que o 
policiais, efetuando as mais complicadas perícias ensino médico ou jurídico são efetuados com os 
que lhe eram solicitadas, contra-perícias, pacientes ou clientes das diversas áreas, tanto mais 
pareceres, investigações, tudo acompanhando a quanto os Institutos modernos de Medicina Legal 
doutrina médico-legal na legislação brasileira têm que orientar os estudantes de Medicina, de 
vigente. Direito, de Odontologia e aqueles das Academias 
Nina Rodrigues lutava para encontrar um meio Militares da Polícia na lides que envolvem a 
para que as perícias requeridas pelo Estado fossem sociedade quanto à criminalística, ao gravíssimo 
efetuadas nos laboratórios, necrotérios ou na problema dos tóxicos, aos assaltantes com 
clínica médico-legal, em perfeita harmonia entre deformações graves da personalidade, aos 
peritos da polícia e os assistentes da Cadeira de menores abandonados, portanto, não é somente a 
Medicina Legal. O resultado dessas perquirições realização da perícia que preocupa.
foi, realmente, o estabelecimento de convênios Em 1937, o Decreto de nº 10.521, criou o 
que aliavam as pretensões e dissuadiam as dúvidas Departamento de Polícia Técnica (DPT) 
por acaso existentes entre o Estado e a União. compondo o Serviço de Segurança Pública, pouco 
Nina, de tão arrojado valor intelectual, não o era, depois desativado, voltando à ativa em 27 de julho 
infelizmente em relação ao aspecto orgânico, de 1973 como órgão de administração 
tendo adoecido gravemente logo após o incêndio centralizada. Finalmente, “fruto da modernização 
que destruiu boa parte da Faculdade de Medicina, administrativa”, a Lei de nº 3497, de 8 de julho de 
bem assim, todo o material de Medicina Legal que 1976, reestruturou a Secretaria da Segurança 
Nina, com tanto zelo, guardava nos porões da Pública, criando inclusive, a Polícia Civil da Bahia 
Escola Médica referida para a edificação de seu (Pesquisa ASPO/SSP).
Museu, sonho que não pode concretizar. Faleceu o Não existia, todavia, um prédio próprio onde 
grande maranhense, tão prematuramente, em funcionasse um departamento com a estrutura que 
Paris, no dia 17 de julho de 1906, quando hoje o compõe. Para felicidade da Medicina Legal 
representava o Brasil em um Congresso da Bahia surge a figura exponencial e impar de 
Internacional. Como referia Mestre Estácio de Luiz Arthur de Carvalho, digníssimo Secretário de 
Departamento de Polícia Técnica: Três décadas de história
Segurança Pública no Governo do Professor mais de sete decênios, o velho “Nina” manteve a 
Roberto Santos; percebeu ele a necessidade de que dianteira nas perícias médico-legais brasileiras 
as perícias técnicas tivessem local apropriado para sem jamais alguém duvidar das conclusões de seus 
suas real izações , sent indo a absoluta peritos em laudos ou pareceres de ilustres e 
impossibilidade detodas as perícias continuarem denodados Médicos-Legistas, Criminais, 
sendo efetuadas no prédio da Faculdade de Laboratoristas. A nossa perene homenagem à 
Medicina do Terreiro de Jesus. Começou a digníssima Instituição, a primeira do Brasil por 
procurar sítio apropriado para a execução da tarefa todo o mundo científico reconhecida.
que não era fácil, porém, nada é impossível quando Tenho revelado ao Ex-Governador e ainda atuante 
se quer de verdade. professor Roberto Santos, sempre que há 
Encontrou-se um belo terreno no Vale dos Barris, oportunidade que a construção do complexo do 
bairro do Garcia, onde funcionava um terreiro de Departamento de Polícia Técnica, designação, 
Candomblé, porém um espaço ideal para a aliás que deveria ser substituída por Departamento 
construção dos três prédios que comporiam o de Perícias Técnicas constituiu-se, a maior obra de 
Departamento. Sugerimos então que as três seu grande e dinâmico governo pela necessária 
repartições ocupassem espaços físicos próximos proteção oferecida à sociedade.
para maior agilização das perícias. Dirigindo o DPT durante oito anos e graças aos 
Felizmente, justas as ponderações, fomos seus dignos diretores e auxiliares de então, fizemos 
atendidas, e sob a chefia do Mestre perito Dr. José profícua administração mantendo o Museu Estácio 
Arulce , com os aconselhamentos dos de Lima nas suas dependências, museu que outrora 
inesquecíveis professores de Medicina Legal, fazia parte do “Velho Nina” na Faculdade de 
Estácio de Lima e Aníbal Silvany fez-se a planta do Medicina no Terreiro de Jesus. Este museu se 
DPT, que se trornou o mais notável conjunto tornou o mais visitado da Bahia, conforme 
arquitetônico de perícias da América Latina. Nem estatística.
mesmo na Europa, onde busquei aperfeiçoar a Expandimos a assistência médico-legal a todo o 
ciência de Nina Rodrigues, vi a imprescindível interior do Estado, criando os postos médico-
disposição que reunisse no mesmo espaço físico o legais das maiores cidade que por sua vez, 
Departamento como um todo. A inauguração recebiam e recebem perícias das áreas 
ocorreu em 12 março de 1979. circunvizinhas.
Vale registrar a apresentação feita à Bahia, quando O plano de trabalho executado nas gestões que nos 
da instalação da obra referida pelo Cel. Luiz Arthur seguiram foram todos eles programados 
de Carvalho: “A integração Governo do Estado – minuciosamente pe la equipe que nos 
Universidade, oriunda do primeiro convênio entre acompanhou. A idéia de início das instalações para 
a Secretaria da Segurança Pública e a antiga o DNA advieram também de nossa gestão à frente 
Faculdade de Medicina, celebrando em 1907, do DPT com o auxílio, repito, de nossa equipe. 
renovado sucessivamente até a presente data, há de Hoje graças às gestões que nos sucederam, o DNA 
encontrar ambiência propícia para o seu criminalístico ali está instalado com os benefícios 
desenvolvimento e continuidade, possibilitando que a Bahia e o Brasil bem o conhecem.
uma maior interação entre as atividades Respondendo à demanda da sociedade, o DPT vem 
universitárias de ensino e pesquisa e a prática da se especificando nas mais diversas áreas, surgindo 
Medicina Legal, com resultados que se afiguram novos segmentos de investigação mantendo as 
de grande importância social, de interesse da ciências forenses da Bahia no lugar de destaque 
investigação criminal e da formação de que sempre ocupou no cenário internacional. 
profissionais na área do Direito, da Medicina, da 
Odontologia, da Psicopatologia”.
Profª. Dra. Maria Theresa de Medeiros PachecoHoje, já não é mais a Faculdade Federal de 
Medicina que ofereça ao Estado (Polícia, Justiça, e 
Saúde Pública, esta no âmbito da Verificação de 
Óbitos) o seu belo e antigo edifício, à rua Alfredo 
Britto que o tempo tornou obsoleto. Todavia, por 
 
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo descrever e avaliar 
um protocolo de extração de DNA (ácido 
desoxirribonucleico) em tecidos formolizados e 
incluídos em parafina para análise em genética 
forense. O método consta da remoção de parafina 
com um solvente orgânico em 0,3 a 0,5 mg da 
amostra do tecido em estudo, seguido pela remoção 
de formaldeído, rehidratação e logo após a extração 
do DNA genômico. A extração é conseguida através 
das etapas de lise celular, digestão enzimática de 
proteínas e precipitação do DNA em etanol. Com a 
pesquisa pode-se concluir que mesmo quando o 
DNA está presente em pequenas quantidades, em 
condições de extremas dificuldades para a sua 
extração, tanto com a extração orgânica quanto a 
extração com o chelex, é possível obter, nas 
condições testadas, um DNA de boa qualidade e 
concentração. As amostras foram amplificadas para 
loci de Mini-STRs utilizando-se produto 
comercializado em multiloci, com metodologia 
recomendada pelo fornecedor e validada para 
análise de DNA forense. Foi utilizado o Kit 
comercial MiniFiler, da Applied Biosystems. Os 
fragmentos de DNA amplificados por PCR 
demonstraram que o DNA extraído apresenta boa 
amplificação.
PALAVRAS-CHAVES: Genética Forense; 
Extração de DNA; Tecidos Formolizados.
ABSTRACT
This paper aims to describe and evaluate a protocol 
for extraction of DNA (deoxyribonucleic acid) in 
formalinized tissues and embedded in paraffin for 
forensics genetic analysis. The method is the 
removal of paraffin with an organic solvent in 0.3 to 
0.5 mg of the sample of the tissue under study, 
followed by removal of formaldehyde, rehydration 
and soon after the extraction of genomic DNA. The 
extraction is achieved through the stages of cellular 
lysis, enzymatic digestion of proteins and DNA 
precipitation in ethanol medium. With the research 
we can conclude that even when the DNA is present 
in small quantities in conditions of extreme 
difficulties in its extraction, both with the organic 
extraction and with the extraction with Chelex, it is 
possible to obtain, under the conditions tested, a 
DNA with good quality and concentration. The 
samples were amplified for the Mini-STRs loci using 
the product sold in multilocus, using a methodology 
recommended by the supplier and validated for 
analysis of forensic DNA. Commercial kit was used 
MiniFiler from Applied Biosystems. The DNA 
fragments amplified by PCR showed that the 
extracted DNA had good amplification.
KEYWORDS: Genetic Forensic; DNA Extraction; 
Formalinized tissues.
1. INTRODUÇÃO
A descoberta da estrutura da molécula de DNA por 
Watson e Crick em 1953, em dupla hélice baseada na 
análise da difração por raios-X e como consequência 
seu mecanismo de replicação, deu início à era 
moderna da biologia molecular. Quarenta e cinco 
anos depois, como resultado, a identificação humana 
por DNA passou a ser empregada em todo o mundo 
como prova de perícia judicial de investigação 
forense. Hoje, o DNA pode ser extraído de sangue, 
sêmen, ossos, cabelos, saliva, células da pele, 
esfregaço anal, vaginal e bucal, tecidos formalizados 
derivados de biópsias ou cirurgias, tecidos 
mumificados, congelados ou de líquido amniótico. A 
Genotipagem de DNA em Condições Adversas de Amostras Low Copy Number -
 LCN (Amostras de Tecidos Formolizados e emblocados em Parafina)
Artigo Original 
aEugênio Nascimento 
bMillena C. Pinheiro 
cGisela N. P. de Souza
a Laboratório Central de Policia Técnica.
b Faculdade de Tecnologia e Ciências, Bahia, Brasil.
c Universidade Católica do Salvador, Bahia, Brasil.
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Genética Forense, as investigações criminais, as 
técnicas de otimização de extrações de DNA 
para a utilização na amplificação do DNA pela 
reação em cadeia da polymerase (PCR) tem 
permitido a investigação de diferentes amostras 
biológicas, mesmo quando o DNA está presente 
em pequenas quantidades (amostras Low Copy 
Number – LCN). Extrações de DNA em 
amostras que tenham sido conservadas em 
formol e emblocadas em parafina não são 
recomendadas tecnicamente,provavelmente 
em função do enovelamento de proteínas 
nucleares, na formação de ligações entre as 
proteínas e o DNA ou na desfragmentação do 
DNA, condições que podem dificultar a análise 
em si. Análises de amostras formolizadas e 
emblocadas em parafina podem ser viáveis em 
situações em que os blocos de parafina são a 
última opção para a identificação do perfil 
genético, por isso a importância de estabelecer 
protocolos de extração otimizados e validados 
para a genética forense [1].
Nesse trabalho do Laboratório Central de 
Polícia Técnica (LCPT) – Coordenação de 
Genética Forense, com apoio financeiro da 
FAPESB – Fundação de Amparo à Pesquisa do 
Estado da Bahia, apresentamos opções de 
técnicas para a extração do DNA a partir de 
amostras biológicas de tecidos humanos 
diversos conservados em formaldeido não 
tamponado diluído a 10% e incluído em 
parafina.
Tivemos como principal objetivo testar, 
caracterizando variações de metodologias 
amplamente divulgadas nos meios científicos 
[2], [3] e [4], para a retirada da parafina, do 
formol, assim como testamos alguns métodos 
de extração, purificação e amplificação de DNA 
para amostras de tecidos formolizados incluídos 
em parafina como: Tecidos de Coração, 
Pulmão, Fígado e Rim a serem incluídos nos 
Procedimentos Operacionais Padrão do LCPT – 
Coordenação de Genética Forense. Inclui-se 
uma grande diversidade de tecidos para 
investigar a necessidade de protocolos 
individuais de extração, devido ao caráter 
estrutural ou funcional encontrado nos tecidos. 
As amostras analisadas foram gentilmente 
cedidas para pesquisa pelo Instituto Médico 
Legal Nina Rodrigues ( Salvador – Bahia ) – 
Laboratório de Anatomia Patológica.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os protocolos avaliados para a extração do DNA 
foram testados com tecidos moles formolizados 
e emblocados em parafina na seguinte 
composição de amostras: 02 blocos com tecido 
cardíaco, 02 blocos com tecido de fígado, 02 
blocos com tecido de pulmão e 02 blocos com 
tecido de rim. Para análise dos resultados 
utilizamos dois protocolos de extração final do 
DNA: O primeiro foi o método modificado para 
extração orgânica de Budowle [5], e o segundo a 
extração pelo método de Chelex [6]. Para todos 
os produtos resultantes dos processos de 
extração realizaram-se amplificações para loci 
de Mini-STRs (loci: D13S317, D7S820, 
AMELOGENINA, D2S1338, D21S11, 
D16S539, D18S51, CSF1PO e FGA) – Estudos 
recentes de Mini-STRs tem demonstrado que o 
menor tamanho do produto amplificado 
especialmente em amostras degradadas, possui 
compatibilidade estatística com banco de dados 
mantido quando comparados aos kits multiplex 
de STRs convencionais e estes podem ser 
considerados uma alternativa para casos 
forenses em que geralmente encontramos 
amostras degradadas.
Os perfis das sequências de DNA foram obtidos 
por Reação de Cadeia de Polimerase (PCR), 
utilizando-se sequências iniciadoras marcadas 
com substâncias emissoras de fluorescências 
detectadas mediante a leitura ótica a laser em 
sequenciador automático Avant 3100 da Applied 
Biosystems. A informação dos loci de Mini-
STRs de cromossomos autossomicos foi obtida 
através de sistemas ou produtos comercializados 
em multiloci, metodologias recomendadas pelos 
fornecedores e vàlidas para análise de DNA. 
Foram utilizados os sistemas multiloci Mini-
STRs da Applied Biosystems na amplificação 
das amostras; para a validação dos resultados 
utilizou-se o software GeneMapper também da 
Applied Biosystems.
Em todos os procedimentos, etapas de extração, 
amplificação e aplicação das amostras, foram 
tomadas precauções para evitar contaminação 
das amostras com DNA endógeno ou exógeno.
Desparafinização - Coloca-se de 0,3 a 0,5 
miligramas da amostra em um tubo de 2,0 
mililitros e adiciona-se 1000µL de ortoxileno 
opor 30 minutos a 65 C, centrifuga-se a 14000 
rpm por 5 minutos e descarta-se o sobrenadante. 
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Repete-se o processo por duas vezes. Logo após 
retira-se o ortoxileno com um banho de 1000µL 
de etanol a 100% e outro de 1000µL de etanol a 
95% à temperatura ambiente, por um minuto. A 
seguir, o material deve ser rehidratado com dois 
banhos de etanol a 70% e dois banhos de água 
milliQ. O material deverá ser centrifugado a 
14000rpm por 5 minutos, desprezando o 
sobrenadante. É importante a retirada de todo o 
ortoxileno; o mesmo inativa a proteinase K 
utilizada na etapa seguinte[7], [8].
Desformolização – Inicia-se a retirada do 
formol do tecido colocando 0,3 a 0,5 mg em um 
tubo de 2,0 mililitros e adiciona-se 700µL de 
tampão de lavagem – PBS, centrifuga-se por 5 
minutos a 5000rpm; descarta-se o sobrenadante, 
macera-se o tecido e adiciona-se 80µL de 5X 
Tampão de Proteinase K; adiciona-se a seguir 
20µL de solução de Proteinase K (20mg/mL) e 
40µL de SDS a 10%. Homogeneizar 
omanualmente e incubar por 5 horas a 60 C. 
Homogeniza-se manualmente e centrifuga por 5 
minutos a 13000 rpm. O sobrenadante é 
transferido para outro tubo e adiciona-se o 
mesmo volume de fenol/clorofórmio/álcool 
isoamilico (25:24:1); Homogeniza-se no vortex 
e centrifuga-se por 15 minutos a 13000 rpm. 
Transfere-se o sobrenadante para outro tubo e 
adiciona-se o mesmo volume de clorofórmio. 
Homogeniza-se no vortex e centrifuga por 15 
minutos a 13000 rpm. Transfere-se o 
sobrenadante para outro tubo e adiciona-se 1:10 
do volume de acetato de sódio 3M e dois 
volumes de etanol absoluto; homogeneizar 
manualmente, colocar no freezer por 1 hora e 
logo depois centrifugar por 15 minutos a 13000 
rpm; descarta-se o sobrenadante e adiciona-se 
300µL de etanol a 70%, centrifuga-se por 1 
minuto a 13000 rpm. Descarta-se o sobrenadante 
e deixa secar por mais ou menos 1 hora. Com a 
parte sólida resultante do processo de lavagem 
do tecido foi feita uma extração de DNA pelo 
método da extração orgânica, segundo 
Buldowlle, e uma extração pelo método Chelex.
Amplificação – Ressuspende-se o DNA em 
10µL de água MilliQ, colocando no banho maria 
por 3 minutos a 60º. Adicionamos 1µL de 
espermidina no mix da PCR para cada amostra – 
A espermidina é uma poliamina formada da 
putrescina. É encontrada em quase todos os 
tecidos em associação com os ácidos nucleicos. 
É encontrada na forma de cátions em todos os 
valores de pH e acredita-se que ajuda a 
estabilizar algumas membranas e estruturas de 
ácidos nucleicos. 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
EXTRAÇÃO ORGÂNICA
EXTRAÇÃO 
ORGÂNICA
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5. REFERÊNCIAS
[1.] Nascimento, E. M.; Spinelli, M. O.; 
Rodrigues, C. J.; Bozzini, N.; Jornal Brasileiro 
de Patologia e Medicina Laboratorial: Protocolo 
de extração de DNA de material parafinado para 
analise de microssatelite em leiomioma. (2003) 
vol.39 no.3 Rio de Janeiro July/Sept.
[2.] Wright, D. K. & Manos, M. M. Sample 
Preparation from Paraffin – Embedded tissues. 
In: Innis, M. A. (ed) PCR Protocols: a guide to 
methods and application. San Diego: Academic 
Press, 1990. p. 153-8.
[3.] Fernandes, J. V.; Meissner, R. V.; Fernandes, 
T. A. M.; Rocha, L. R. M.; Cabral, M. C.; Villa, L. 
L.; Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina 
Laboratorial: Comparação de três protocolos de 
extração de DNA a partir de tecido fixado em 
formol e incluídos em parafina. (2004) vol.40 
no.3 Rio de Janeiro June.
[4.] Legrand, B.; Mazancourt, P.; Durigon, M.; 
Khalifat, V.; Crainic, K.; Forensic Science 
International 125 (2002) 205–211. DNA 
genotyping of unbuffered formalin fixed 
paraffin embedded tissues.
[5.] Budowle e cols. 1996. Guideline FBI 
Laboratory.
[6.] Wash,P.S. Metzger, D. A.; Higuchi, R. 
Chelex 100 as a medium for simple extraction of 
DNA for PCR – based typing from forensic 
material, Biotechniques, 10 (1191) 506-513.
[7.] Tie, J.; Serizawa, Y.; Oshida, S.; Usami, R.; 
Yoshida, Y.; Individual identification by DNA 
polymorphism using formalinfixed placenta 
with whole genome amplification. Pathology 
International 2005; 55: 343–347
[8.] C. Mies, Molecular biological analysis of 
paraffin-embedded tissues, Hum. Pathol. 25 
(1994) 555–560.
[9.] R. Romero, A.C. Juston, J. Ballantyne, B.E. 
Henry, The applicability of formalin-fixed and 
formalin-fixed paraffin embedded tissues in 
forensic DNA analysis, J. Forensic Sci. 42 
(1997) 708–714.
.
Considerando os resultados obtidos do produto 
purificado através do protocolo da extração 
orgânica, tivemos uma media de 55,14% dos 
loci do Kit MiniFiler amplificados, sendo a 
amostra de tecido cardíaco a que obteve um 
maior índice (66,78%), seguido do tecido do 
pulmão (61%). O tecido do fígado obteve o 
menor índice de amplificações com 40,67% de 
loci amplificados (vide Gráfico 1 e 2). Quanto 
aos loci do Kit MiniFiler, o D13S317 e o 
D2S1338 obtiveram as maiores amplificações 
com 79,25%, enquanto o D21S11 alcançou o 
menor índice com apenas 8 ,5% de 
amplificações.
Comparando-se os resultados citados acima 
com o protocolo de extração Chelex, foram 
obtidos resultados bem melhores, com um 
índice de amplificações para o Kit MiniFiler na 
ordem de 98 a 100%; o que torna de forma 
comparativa, esta extração – dentro das 
metodologias utilizadas, melhor do que o 
método de extração orgânico (vide Gráfico 3). O 
Chelex é uma resina quelante com grande 
afinidade por íons metálicos de valências 
diversas. Ele previne a degradação do DNA na 
presença de íons metálicos a temperaturas de 
o100 C e em condições de baixa força iônica [9].
4. CONCLUSÕES
Com a pesquisa pode-se concluir que mesmo 
quando o DNA está presente em pequenas 
quantidades, em condições de extremas 
dificuldades para a sua extração, como tecidos 
formolizados e emblocados em parafina, as 
técnicas de otimização da extração de DNA 
utilizados, tanto a extração orgânica quanto o 
chelex, para a utilização na reação de 
polimerização em cadeia (PCR), é possível a 
investigação de diferentes amostras de tecidos 
humanos – amostras biológicas, ou seja, foi 
possível obter, nas condições testadas, um DNA 
de boa qualidade e concentração. Os fragmentos 
de DNA amplificados por PCR demonstraram 
que o DNA extraído apresenta boa 
amplificação.
 
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a FAPESB pelo apoio 
financeiro, assim como as Peritas Criminais 
Josemirtes Santos e Ceres Almeida, Peritas 
Criminal do Estado do Mato Grosso do Sul por 
nos fornecer os protocolos básicos que foram 
utilizados neste trabalho. 
RESUMO
A água é um bem imprescindível para a vida e um 
dos mais importantes elementos da natureza. A Terra 
possui uma quantidade de água muito superior à 
demanda gerada pelo homem e suas atividades. 
Apesar do Brasil contar com a maior disponibilidade 
hídrica do mundo, cerca de 12% da água doce 
superficial do planeta, grande parte desses recursos 
encontra-se na Região Amazônica, onde a demanda 
hídrica é muito baixa. No entanto, várias regiões 
apresentam algum tipo de problema hídrico e, por 
isso, necessitam urgentemente da implementação de 
um sistema eficaz de gestão dos corpos d'água. O 
Rio Piranhas, objeto deste estudo, é um afluente do 
Paraguaçu, localizado na seção média da bacia do 
Paraguaçu, região de Itaberaba, e como tantos outros 
afluentes, tem sofrido ações predatórias como 
desmatamento das matas ciliares, despejos de 
esgotos domésticos, hospitalar e industrial sem 
qualquer tipo de tratamento, necessitando com 
urgência de políticas públicas mais eficazes para a 
proteção desses mananciais. Neste sentido este 
trabalho pretende analisar o nível de antropização da 
bacia do rio Piranhas visando identificar possíveis 
impactos negativos ambientais e possíveis 
proposições de equacionamento dos mesmos. 
Palavras-chave: Rio Piranhas; Antropização; 
Impactos Negativos.
ABSTRACT
Water is indispensable for life and one of the most 
important elements of nature. The amount of water 
on Earth is much bigger than the demand generated 
by men and their activities. Even though Brazil has 
the world's biggest water supply, approximately 
12% of all surface fresh water on the planet, a large 
portion of these resources is found in the Amazon 
Region, where the hydric demand is very low. 
However, several regions have some kind of hydric 
problem and, for this reason, they urgently need the 
implementation of an effective management system 
for the bodies of water. The Piranhas River, object of 
this study, is a tributary of the Paraguaçu River, 
located in the middle section of Paraguaçu basin, in 
Itaberaba region and, as many other tributaries, it is 
affected by predatory actions such as the gallery 
deforestation and the emission of residues from 
houses, hospitals and industries without any kind of 
treatment, which requires more effective public 
policies for the protection of these water resources. 
From this point of view, this work aims to analyse the 
level of antropization of the Piranhas river basin 
seeking to identify the possible negative impacts on 
the environment, as well as possible measures to 
handle with them.
Keywords: Piranha river, Antropization, Negative 
Impacts
1. INTRODUÇÃO
A água é um bem imprescindível para a vida e um dos 
mais importantes elementos da natureza. Estima-se 
que a quantidade de água existente na Terra seja a 
mesma desde a Pré-História, contudo, o seu número 
de habitantes não pára de crescer. A população está 
crescendo de forma acelerada e o homem, sem pensar 
nas consequências de suas ações, polui as águas e 
provoca alterações no ciclo hidrológico, podendo 
gerar impactos, muitas vezes, prejudiciais à sua 
própria existência.
Segundo o Relatório da ONU (março/2006), a má 
condição da água é fator chave para problemas de 
Análise da Antropização e seus impactos negativos na 
Bacia do Rio Piranhas, afluente do Paraguaçu.
Artigo Original 
aManoel da Silva Filho 
bMaria Helena de Almeida Mascarenhas
cYara Simone Rocha Santana da Silva
10
Perito Criminal SSP-BA/DPT/DI/CRPT-Itaberaba
manoelitaporan@yahoo.com.br 
 
Especialista em Gestão de Recursos Hídricos(UFBA,2006), Subgerente EBDA - Itaberaba
mhelena@ebda.ba.gov.br
Especialista em Gestão de Recursos Hídricos(UFBA,2006), Especialista em Fiscalização da Superintendência
 de Recursos Hídricos – SRH/Ba, RPGAVII – Itaberaba
yrocha@srh.ba.gov.br
subsistência e saúde globais. Doenças 
relacionadas à diarréia e malária mataram cerca 
de 3,1 milhões de pessoas em 2002 no mundo. 
Noventa por cento dessas mortes foram de 
crianças com menos de cinco anos de idade. 
Aproximadamente 1,6 milhões de vidas 
poderiam ser salvas anualmente com o 
fornecimento de água potável, saneamento 
básico e higiene.
O Brasil é um país privilegiado em termos de 
disponibilidade hídrica global, dispondo de um 
3volume médio anual de 8.130 km , que 
representa um volume per capita de 50.810 
3m /hab.ano¹. Por outro lado, a concentração da 
população brasileira em conglomerados 
urbanos, alguns dos quais já se caracterizando 
como mega-cidades, vem ocasionando pressões 
crescentes sobre os recursos hídricos. 
Na Bahia o Rio Paraguaçu é o mais importante 
sistema fluvial de domínio inteiramente 
estadual que une três regiões: a Chapada 
Diamantina, a Caatinga e o Recôncavo. 
Abrange em seu percurso 84 municípios, 
beneficiando as populações localizadas em seu 
entorno, garantindo a sustentação das atividades 
agrícolas e abastecimento. 
O Rio Piranhas, objeto deste estudo, é um 
afluente do Paraguaçu, localizado na seção 
média da bacia do Paraguaçu, região de 
Itaberaba e como tantos outros afluentes, tem 
sofrido ações predatórias como desmatamento 
das matas ciliares, despejos de esgotos 
domésticos, hospitalar e industrial semqualquer 
tipo de tratamento, necessitando com urgência 
de políticas públicas mais eficazes para a 
proteção desses mananciais.
 Neste sentido este trabalho pretende analisar o 
nível de antropização da bacia do rio Piranhas 
visando identificar possíveis impactos 
negativos ambientais e possíveis proposições de 
equacionamento dos mesmos. 
2. OBJETIVOS
Objetivo Geral
Analisar os impactos ambientais negativos na 
qualidade das águas da bacia do Rio Piranhas, 
município de Itaberaba decorrentes da 
antropização da bacia. 
 Objetivos Específicos
-? Caracterizar a bacia do Rio Piranhas quanto 
aos aspectos ambiental e sócio econômicos;
-? Identificar possíveis impactos ambientais 
existentes de origem antrópica.
3. ABORDAGEM METODOLÓGICA
O método de pesquisa empregado para nortear a 
pesquisa na bacia de contribuição do Rio 
Piranhas consistiu de duas etapas. Na primeira 
etapa realizou-se a pesquisa bibliográfica de 
documen tos , mapas ca r tog rá f i cos e 
hidrogeológicos, dados meteorológicos da 
região e o Plano Diretor de Recursos Hídricos - 
Bacia do Médio e Baixo Paraguaçu (1996), e de 
dados secundários gerados por entidades com 
atuação na área de conhecimento estudada, tais 
como Empresa Baiana de Águas e Saneamento 
S.A. – EMBASA, Superintendência de Recursos 
Hídricos – SRH e Secretaria Municipal de 
Saúde. Outros dados foram extraídos da 
bibliografia. 
Em uma segunda etapa realizou-se um 
levantamento de campo, para a pesquisa 
empírica, por meio de consulta a usuários para 
obtenção dos seguintes dados: tipos de usos, 
histórico do rio principal, comparação das 
condições nos últimos dez anos.
4. REVISÃO DE LITERATURA
4.1. Considerações Gerais
No âmbito nacional, a lei nº 9.433/97, conhecida 
como Lei das Águas, coloca o Brasil entre os 
países de legislação mais avançada do mundo no 
setor de recursos hídricos. Entre os principais 
aspectos a serem observados nessa nova 
legislação destacam-se: a) a água é um bem de 
domínio público e possui valor econômico; b) a 
bacia hidrográfica é a unidade territorial para 
implantação da Política Nacional de Recursos 
Hídricos; c) a gestão sistemática dos recursos 
hídricos deve ser executada sem dissociação dos 
aspectos de quantidade e qualidade; d) busca-se 
a integração de recursos hídricos com a gestão 
ambiental; e) deve ser promovida a articulação 
do planejamento de recursos hídricos com 
usuários e com os planejamentos regional, 
estadual e nacional; f) as bacias hidrográficas, os 
sistemas estuários e as zonas costeiras devem ser 
geridos de forma integrada; e g) os comitês de 
bacia hidrográfica estão sendo criados tendo 
como área de atuação a totalidade de uma bacia 
hidrográfica ou de um grupo de bacias ou sub-
bacias contíguas. 
Segundo a lei nº 9.433/97, dois domínios foram 
estabelecidos para os corpos d'água brasileiros: 
(i) o domínio da União, para os rios ou lagos que 
¹ http://www.eco.unicamp.br/nea/agua/rechid.html
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banhem mais de uma unidade federada ou entre 
o território do Brasil e o de país vizinho; e (ii) o 
domínio dos estados, para águas subterrâneas e 
para as águas superficiais, fluentes, emergentes 
e em depósito no território de um único estado².
Constitui-se uma bacia hidrográfica o conjunto 
de terras drenadas por um rio principal, seus 
afluentes e subafluentes. A idéia de bacia 
hidrográfica está associada à noção da 
existência de nascentes, divisores de águas e 
características dos cursos de água, principais e 
secundários, denominados afluentes e 
subafluentes³.
4.2. Transporte de Sedimentos
A quantidade de sedimentos transportada pelos 
rios, além de informar sobre as características e 
ou estado da bacia hidrográfica, é de 
fundamental importância para o planejamento e 
aproveitamento dos recursos hídricos de uma 
região, seja para análise da viabilidade da 
utilização da água para abastecimento ou 
irrigação, ou para o cálculo da vida útil de 
reservatórios.
A quantidade de sedimentos, disponível em toda 
a bacia hidrográfica, que a curto, médio ou 
longo prazo, total ou parcial chegará aos cursos 
d'água naturais e aos reservatórios, não pode ser 
desprezada no gerenciamento dos recursos 
hídricos. Infelizmente, no Brasil, devido aos 
custos elevados, a rede sedimentométrica é 
precária ou inexistente em algumas regiões. 
Portanto, quando é necessário conhecer o 
impacto da presença dos sedimentos em corpos 
d'água, utiliza-se de poucas medidas, não 
representativas, ou se utiliza processos de 
estimativas, tais como: equações de estimativa 
da perda de solo na bacia; ou de equações de 
transporte de sedimentos nos cursos d'água 
(Coiado, 2001).
4.3. Meio Ambiente
Outro impacto significativo da ação antrópica, 
segundo o Plano diretor de Recursos Hídricos 
(1996) é a disposição indevida de resíduos 
sólidos sobre o solo, às margens de cursos 
d'água, ou seu descarte diretamente nos 
mananciais, podendo causar alterações 
significativas na qualidade das águas, além de 
contribuir para a erosão das margens e obstrução 
das seções de escoamento.
O lixo depois de decomposto produz um líquido 
de mau cheiro chamado chorume que é 
produzido naturalmente durante o processo de 
decomposição dos resíduos. O chorume pode 
alcançar os mananciais superficiais e 
subterrâneos resultando na sua contaminação.
É, então, de suma importância o controle de 
lançamento de efluentes para garantir água de 
qualidade para os diversos usos, como 
abastecimento humano, dessendentação animal, 
irrigação, pesca e lazer. 
Portanto, o uso racional dos recursos hídricos 
objetiva um desenvolvimento que se baseia em 
uma sustentabilidade perante o meio ambiente, 
sobretudo, na preservação dos mananciais de 
água.
5. CARACTERIZAÇÃO DA BACIA
5.1. Aspectos Sociais e Econômicos do 
Município de Itaberaba
O município de Itaberaba é distante 266.00km da 
capital, está localizado no centro-leste do estado 
da Bahia, na encosta da Chapada Diamantina, 
possui uma área de 2.357,19km², altitude média 
de 265m e coordenadas geográficas 12º31'39” de 
latitude e 40º18'25” de longitude (SEI, 1999). 
Segundo dados do IBGE, a população estimada 
em 2005 foi de 62.201 habitantes.
A região de Itaberaba, semi-árido baiano, é um 
importante centro regional, com destaque no 
comércio local, tendo a indústria moveleira a 
pecuária e a agricultura como principais fontes 
de emprego e renda com destaque para a cultura 
do abacaxi, a principal atividade agrícola 
municipal dos últimos anos. É uma região 
marcada por graves problemas sociais, sendo 
que a irregularidade pluviométrica é o principal 
fator desestruturante da economia. As atividades 
socioeconômicas da região dependem da chuva e 
com a falta desta, há uma redução nos 
investimentos, levando milhares de pessoas a 
viverem em condições subumanas.
Os indicadores sociais desta região indicam para 
a situação de exclusão social, as desigualdades 
interpessoais de renda se agravam fortemente. 
Muitas famílias vivem em situação crítica, com 
renda per capta mensal abaixo da linha de 
pobreza, embora o município apresente Índice 
de Desenvolvimento Humano (IDH) médio 
segundo a classificação do PNUD (2000). O 
² http://www2.uerj.br/ambiente/destaque/artigo_lagoa.htm
³ http://www.rededasaguas.org.br/bacia/bacia_01.asp
IDH que vem melhorando nos últimos anos em 
razão do desenvolvimento do cultivo do 
abacaxi. Entretanto, de acordo com informações 
do IBGE (2002), Itaberaba apresenta uma 
situação ruim em nível de Brasil, ocupando a 
3.964ª posição, em relação ao Índice de IDH, isto 
significa que 72% dos municípios brasileiros 
estão em situação melhor(tabela 1).
Tabela 1: Índice Desenvolvimento Humano Municipal Para Itaberaba.
5.2. Recursos Hídricos
A bacia de contribuição do Rio Piranhas é 
formada basicamente por rios intermitentes, isto 
é, só possuem vazão nos períodos chuvosos, 
destacando-se os rios Santo Antônio e Santa 
Isabel. O processo de ocupação, principalmente 
pela pecuária extensiva, causou profundas 
alterações ambientais, reduzindo a vazão nos 
leitos dos rios Santa Isabel, Espírito Santo e 
outros tributários da sub-bacia que só possuem 
água no período das chuvas a exemplo do riacho 
do Feijão que teve seu curso interrompido pelo 
processo de urbanização da cidade. 
O Rio Piranhas é um confluente do Rio Capivari 
e este, o segundo afluente em importância para o 
Rio Paraguaçu. É um rio genuinamente 
itaberabense, apresentando como confluentes 
os rios Santa Isabel e Espírito Santo. Literaturas 
divergem quanto à localização da sua nascente 
sendo considerado neste estudo o barramento do 
Açude Juracy Magalhães como origem da bacia 
hidrográfica.
A área de drenagem aproximada da bacia do Rio 
Piranhas é de 400 km², tendo o comprimento do 
leito principal 30km. A densidade de drenagem 
encontrada foi de 0,075km/km² que corresponde 
bem abaixo do mínimo que é da ordem de 0,5 
km/km² (Vilella & Matos, 1975), sendo 
considerada, portanto, com área de drenagem 
muito pobre. A declividade média de 0,002m/m. 
A referida bacia possui uma altitude máxima de 
274m, media de 230m e mínima de 220m. 
Portanto, segundo Strahler citado por Vilella & 
Matos, 1975. p.15, a classificação do Rio 
Piranhas é de quarta ordem em forma de leque.
5.3. Clima
Itaberaba possui clima semi-árido com estação 
seca no inverno e estação chuvosa distribuída 
entre os meses de novembro a março, 
representando em torno de 64% do total da 
precipitação anual, considerando que a 
pluviosidade média anual do município é de 
aproximadamente 760 mm. A temperatura média 
anual gira em torno de 24,6ºC (BAHIA, 1996).
Os dados meteorológicos apresentados na tabela 
2 são provenientes das estações presentes na área 
da bacia de contribuição do Rio Piranhas. 
Fonte: IBGE (2000).
Tabela 2 – Estações meteorológicas na bacia de contribuição do Rio Piranhas
Fonte: ANEEL, 2001.
Legenda:
P-estação com pluviômetro;
R-estação com registrador;
E-estação com tanque evaporimétrico;
C-estação climatológica, e
T-estação telemétrica.
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De acordo com dados meteorológicos obtidos 
na estação de Itaberaba, localizada na área de 
maior influência da bacia de contribuição do 
Rio Piranhas por apresentar fatores climáticos 
de maior representatividade por encontrar-se 
mais próximo da área em estudo. Na referida 
estação encontram-se os valores médios 
mensais de temperatura, evapo-transpiração 
potencial e real, precipitação, deficiência 
hídrica e excedente, informações de suma 
importância para o planejamento das atividades 
agrícolas, principalmente à agricultura irrigada.
O déficit hídrico e os altos índices de 
evapotranspiração potencial são alguns dos 
aspectos importantes que devem ser 
considerados no planejamento agrícola. 
5.4. Solos
Pode-se encontrar na sub-bacia do Rio Piranhas 
a predominância de uma classe de solo, 
denominada luvissolos (Brasil, 1981; Embrapa, 
1999 apud Águas da Bahia, 2005), que 
compreendem solos minerais não hidro-
mórficos, com horizonte B textural ou B nítico, 
apresentando em sua constituição elevados 
teores de minerais primários facilmente 
decomponíveis que se tornam fontes de 
nutrientes para as plantas (BAHIA, 1996).
5.5. Vegetação
A vegetação encontrada na área da bacia do Rio 
Piranhas é Floresta Estacional Semidecidual e 
Decidual, e as matas Ciliares. A área em estudo 
encontra-se bastante antropizada, o que tem 
contribuído para o desequilíbrio dos 
ecossistemas vegetais. 
O desmatamento predatório, seguido das 
queimadas para formação de pastagens 
(pecuária extensiva e capineiras irrigadas) e 
áreas destinadas ao cultivo de abacaxi, banana, e 
outras culturas de subsistência como o milho e o 
feijão e a utilização das terras de forma 
inadequada, desrespeitando a Lei Florestal nº. 
o4771/65, em seu artigo 2 , diz que a largura 
mínima das faixas marginais consideradas áreas 
de preservação permanente é de 50 metros para 
cursos d'água entre 10 e 50m de largura. 
 
6. QUALIDADE AMBIENTAL DA ÁREA
6.1. Saneamento Básico
O sistema integrado de captação de águas para 
abastecimento da região de Itaberaba é feito no 
rio Paraguaçu pela Embasa, abrange 96.424 
pessoas, atendendo os municípios de Itaberaba, 
Ruy Barbosa, Macajuba e Baixa Grande, o que 
corresponde a 23.947 ligações com vazão 140l/s.
Segundo as informações obtidas junto a Embasa 
(ago/2006), o município de Itaberaba possui 
15.772 ligações. Os serviços organizados de 
esgotamento sanitário são praticamente 
inexistentes no município, refletindo a situação 
de quase todos os municípios da Bacia do 
Paraguaçu, sendo que apenas 846 domicílios 
dispõem de sistema de tratamento de esgotos, 
que correspondem a 9.842 m³ do volume 
coletado e tratado, tendo como corpo receptor o 
rio Piranhas. Vale salientar que tanto o esgoto 
tratado como o bruto, que corresponde a 
aproximadamente 95% do volume total são 
despejados diretamente na calha principal do rio.
6.2. Disposição de Resíduos Sólidos
Em 1996 (PDRH), o município de Itaberaba 
possuía aproximadamente 54.000 habitantes e 
gerava 22 toneladas de lixo doméstico. 
Atualmente, com uma população em torno de 
65.000 pessoas a situação encontra-se mais 
crítica: a disposição do lixo é feita de forma 
descontrolada e sem obediência às técnicas 
necessárias, contribuindo com a degradação sob 
o ponto de vista do aspecto estético e da 
proliferação de roedores e insetos transmissores 
de doenças.
7. QUALIDADE DAS ÁGUAS
O Rio Piranhas possui águas salobras, 
propriedade que se acentuou com a construção 
do Açude Juracy Magalhães. Uma das maiores 
fontes de poluição da bacia do Rio Piranhas 
ocorre pelas aglomerações urbanas através do 
lançamento de despejos domésticos sem 
tratamento.
O clima semi-árido da área em estudo faz com 
que quase todos os cursos d'água dessa região 
apresentem um regime hidráulico intermitente 
impossibilitando a permanência de vazões 
constantes provocando, consequentemente, 
menor capacidade de diluição e maior 
susceptibilidade a alteração dos padrões de 
qualidade das águas.
Para efeito de classificação das águas da bacia do 
Rio Piranhas, baseada na determinação 
CONAMA 357/2004, que é feita através de uma 
escala gradativa de qualidade e possui cinco 
níveis: classe especial, I, II, III e IV sendo a 
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especial a de melhor qualidade e a IV a de pior 
qualidade. Cada classe define como a água pode 
ser utilizada. As águas de classe II, por exemplo, 
se destinam ao contato primário e a irrigação de 
hortaliças e plantas enquanto que nas águas 
classe IV não deve haver contato direto. 
O enquadramento realizado em 1996, no Rio 
Paraguaçu, a jusante da confluência com os rios 
Capivari e Piranhas, indicou que nesse trecho as 
águas se apresentavam dentro dos limites 
recomendados para a classe II à exceção do 
parâmetro fósforo total, que se apresentava com 
índice dez vezes superior ao fixado. Os 
indicadores de contaminação por matéria 
orgânica levavam a conclusão de que apesar da 
contribuição por esgotos os níveis de demanda 
bioquímica de oxigênio(0,7mg/IDBO) e 
nitrogênio amoniacal (0,12mg/l N.NH ) 3
demonstravam boa capacidade de diluição. 
Desconhece-se um levantamento mais 
atualizado sobre a qualidade dessas águas.
O que pode ser observado “in loco”, 
principalmente na área urbana a presença de 
lixo, esgotamento sanitário diretamente no curso 
do rio sem tratamento, água turva, mau cheiro 
acentuado e a presença de macrófitas.
O fenômeno do acúmulo de plantas aquáticas no 
curso do rio é um problema que tem se tornado 
frequente em decorrência de dois fatores 
preponderantes: lançamento de esgoto sanitário 
não tratado e baixa velocidade decorrente de 
restrição hídrica.
7.1. Usos da Água na Bacia
A dessendentação animal, a irrigação de 
capineiras e o abastecimento humano 
caracterizam-se como principais usos da água na 
zona rural (tabela 5).
Tabela 5: Principais atividades/usos da água na bacia.
7.2. Ações Antrópicas
As ações antrópicas de maior impacto 
observadas na bacia são lançamento de despejos 
domésticos sem tratamento, diretamente na 
calha principal do Rio Piranhas; Presença de 
lixo em seu leito na área urbana.
Na zona rural, a supressão da mata ciliar para 
implantação de pastagens provoca a degradação 
das margens, provocando o carreamento de solo 
nos períodos de chuvas torrenciais e, 
consequentemente, o seu assoreamento.
As atividades agrícolas, tais como o plantio de 
capineiras irrigadas, a abacaxicultura e outras 
culturas de subsistência sem utilização de 
técnicas adequadas próximo às margens do rio 
também vem causando danos significantes.
Outro problema observado é a retirada em larga 
escala de areia para uso na construção civil, 
ocasionando sua degradação.
8. RESULTADOS E SUGESTÕES
8.1. Melhoria da qualidade das águas
A construção de sistemas de tratamentos de 
esgotos urbanos é de fundamental importância 
para a conservação dos recursos hídricos em 
padrões de qualidade compatíveis com a sua 
utilização.
8.2. Controle do assoreamento
Medidas corretivas e preventivas devem ser 
adotadas através da criação de um programa de 
manejo e conservação dos solos urgente, a fim de 
reduzir o processo de degradação na bacia.
8.3. Recuperação de áreas degradadas
Recuperação da vegetação das APP's (Áreas de 
Preservação Permanente), devendo ser 
priorizadas àquelas que sofreram com o 
desmatamento para ampliação das pastagens, 
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principalmente, nas áreas de nascentes, ao redor 
de lagoas ou reservatórios d'água, topos de 
morros e matas ciliares.
A prevenção e controle das queimadas, aliada a 
um programa de reflorestamento utilizando 
espécies nativas cumprem importante função na 
recuperação ambiental da bacia em áreas de 
nascentes e ao longo de suas margens com 
impactos positivos na preservação dos 
pequenos riachos, na recomposição da flora e na 
atração da fauna silvestre.
8.4. Programa de educação ambiental
Criação de um programa de educação 
ambiental, envolvendo o poder público, 
usuários da água, instituições de ensino, jovens 
e crianças (futuros formadores de opinião). O 
programa deve abranger, ainda, a capacitação 
dos agricultores para um manejo racional de 
suas propriedades.
8.5. Fiscalização ambiental
É necessário que os órgãos de fiscalização 
ambiental atuem com mais rigor no 
cumprimento da legislação em benefício do 
meio ambiente. A fiscalização é essencial para o 
sucesso do plano de gestão sustentável da bacia.
9. CONCLUSÃO
O aumento na degradação da qualidade da água 
observado na bacia do Rio Piranhas está 
associado aos diversos impactos causados pelas 
ações antrópicas na bacia hidrográfica. As ações 
antrópicas sobre a natureza, obedecendo a um 
modelo de desenvolvimento econômico, têm 
sido freqüentemente realizadas de um modo 
incompatível com a capacidade de suporte 
ambiental. A retirada da mata ciliar, atividades 
agrícolas como fontes difusas de poluição, a 
retirada de areia para uso na construção civil, 
ocupação desordenada da população 
contribuindo para o despejo de esgotos 
domésticos sem qualquer forma de tratamento 
são algumas das atividades que contribuem para 
o assoreamento e a eutrofização do referido rio.
4Segundo dados levantados pelo PDRH , o Rio 
Piranhas em 1996 era caudaloso, com boa 
capacidade de diluição de efluentes sendo então 
enquadrado como rio de classe II.
Atualmente, com o crescimento desordenado da 
população, o rio em estudo só corre em períodos 
de chuvas fortes e em seu percurso na área 
urbana são lançados efluentes sem nenhum 
tratamento observando-se também grande 
quantidade de lixo jogado no leito contribuindo 
para que o mesmo não apresente as mesmas 
características da época do estudo do PDRH. 
Esse quadro confirma, de forma eminente, a 
necessidade de um tratamento de esgoto mais 
eficiente para a atual e futura demanda, com 
urgência na adoção de medidas efetivas não 
somente relacionadas ao efluente urbano, mas 
também ao controle das atividades de pecuária, 
agricultura, desmatamento (redução da 
capacidade de retenção de sedimentos e 
consequente assoreamento do rio), construção 
civil (controle da extração de areia), urbanização 
nas margens do rio.
Em Itaberaba não existem organismos de bacia 
ou de usuários de água, nem Conselho de Meio 
Ambiente. Tais entidades representariam um 
ponto de partida para uma boa negociação da 
alocação de água e de recursos entre setores 
interessados. A Fundação Paraguaçu, com sede 
em Itaberaba já realizou algumas reuniões a fim 
de discutir os problemas do rio Piranhas 
chegando inclusive a fazer um movimento 
envolvendo alunos de escolas municipais, 
estaduais e particulares dando um abraço 
simbólico no rio. No entanto, não conseguiu 
sensibilizar o poder público para as 
potencialidades que este representa para o 
município.
Seria essencial a gestão integrada e sustentável 
da Bacia do Rio Piranhas, a criação de uma 
Organização de Usuários de água que pudesse 
planejar e decidir as ações a serem executadas, 
buscando sua recuperação e melhor utilização do 
corpo d'água. Essa entidade teria importante 
papel nos processos de intervenção junto ao 
Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, 
já implantado na região.
10. REFERÊNCIAS
BERNARDO, Salassier; SOARES, Antônio 
Alves; & MANTOVANI, Everardo Chartuni. 
Manual de Irrigação. UFV. Viçosa, 2005.
COIADO, Evaldo Miranda. Produção, 
transporte, e Deposição de Sedimentos. In: 
PAIVA, João Batista Dias de & PAIVA, Eloiza 
Maria Cauduro Dias de. (Org.). Hidrologia 
Aplicada à Gestão de Pequenas Bacias. Porto 
Alegre: ABRH, 2001. p. 280.
PLANO ESTADUAL DE RECURSOS 
HÍDRICOS DO ESTADO DA BAHIA-PERH. 
SEMARH/SRH. Salvador. Fevereiro, 2004.
 Plano Diretor de Recursos Hídrico4
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PLANO DIRETOR DE RECURSOS 
HÍDRICOS. Bacia do Médio e Baixo 
Paraguaçu. GOVERNO DO ESTADO DA 
BAHIA/Secretaria de Recursos Hídricos 
Saneamento e Habitação/Superintendência de 
Recursos Hídricos. Salvador, 1996. Vol. VI -
Documento Síntese.
11. ANEXO
Anexo 1 – Bacia do Rio Piranhas
SILVA. Demetrius David da. & PRUSKI, 
Fernando Falco. Gestão de Recursos Hídricos: 
aspectos legais, econômicos, administrativos e 
sociais. UFV/ABRH. Viçosa/Porto Alegre, 
2005.
TUCCY, Carlos E. M. Hidrologia: ciência e 
aplicação. UFRGS/ABRH. Porto Alegre, 2004.
RESUMO
Este trabalho apresenta dados coletados no município de 
Vitória da Conquista, Bahia, referente a crianças e 
adolescentes periciados no Departamento de Polícia 
Técnica relacionados a: crimes de violência sexual e 
demais crimes de lesões corporais; e mortalidade, 
ocorridos nos anos 2006 e 2007 respectivamente. A partir 
das idéias de Freud, procuramos refletir, compreender e 
caracterizara sexualidade da criança e do adolescente. Os 
dados sugerem a relação gênero violência sexual, pois há 
uma maior incidência entre as meninas e prevalecendo a 
maioria das mortes por projétil de arma de fogo entre os 
meninos. A partir dessas discussões, é possível repensar a 
realidade dos fatos para darmos um passo adiante, pois a 
caracterização sócio-econômica da violência demonstra 
que há um segmento mais atingido. 
 
Palavras-chaves: Criança e Adolescente. Lesões 
Corporais. Perícia Médico-Forense. Violência Sexual. 
 
ABSTRACT 
This work presents data taken from Vitória da Conquista 
town in Bahia-Brazil, regarding to children and 
adolescents examined in forensics exams by 
Departamento de Policia Técnica related to: sexual 
crimes, and other crimes as body injuries; and mortality, 
taken place in the years 2007 and 2006 respectively. 
Beginning by Freud’s ideas we aimed to reflect , 
understand and to feature the child sexuality and 
adolescents. The data suggest sexual violence feature, 
because there is a higher occurrency among girls and 
outstanding the majority of the death by fire gun among 
boys. Thus regarding this discussion, we might to think 
hard about the reality of the facts to give a leap beyond, 
because the social-economic featuring displays that the 
there is a segment which is more affected. 
 
Key-Words: Children and Adolescents. Body 
Injuries.Medical Forensic Exams. Sexual Crimes. 
 
1 INTRODUÇÃO 
Durante o período de novembro de 2006 a novembro 
2008 foi desenvolvida pelo Núcleo de Estudos da 
Criança e do Adolescente-NECA da Universidade 
Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB uma 
pesquisa intitulada: Diagnóstico Social da Situação 
da Criança e do Adolescente no Município de Vitória 
da Conquista, coordenada pelo professor Dr. 
Reginaldo de Souza Silva, onde se buscou reunir 
dados e informações que refletissem a situação da 
infância e juventude no município. Sua realização 
aconteceu em três etapas caracterizadas pelo: (I) 
VER, (II) JULGAR e (III) AGIR. 
Na etapa do VER, procurou-se conhecer os 
indicadores nas áreas da: saúde, educação, situação 
de risco pessoal e social, crianças de e na rua, 
exploração sexual, trabalho infantil, segurança, 
jovens em conflito com a lei; lazer, esporte e cultura, 
entidades de atendimento, entre outros, realizados 
em etapas sucessivas que se caracterizaram pela 
aproximação com a realidade Conquistense. Os 
dados coletados nesta etapa são analisados à luz das 
leis brasileiras, em favor da cidadania (C.F./88, 
ECA/90, LDB 9394/96, LOAS, Lei Orgânica do 
Município, Diretrizes do Conanda e das convenções 
internacionais sobre os direitos das crianças e 
adolescentes), que são os princípios norteadores do 
reordenamento jurídico, institucional e cultural que 
se deu na sociedade brasileira, com ênfase nas 
décadas de 80 e 90.
A terceira etapa, o AGIR, caracteriza-se pelo 
momento da elaboração do Plano de Ação Municipal, 
a partir dos dados fornecidos pelos momentos 
anteriores, estabelecendo as prioridades de ação, 
tanto imediatas quanto mediatas. 
Com os dados obtidos nos órgãos da Segurança 
Pública, entre eles o Departamento de Polícia 
Técnica – DPT de Vitória da Conquista, buscou-se 
informações referentes às perícias médico-forenses 
realizadas em crianças e adolescentes, sendo possível 
construir um diagnóstico acerca da criminalidade 
relacionada à criança e ao adolescente: número de 
adolescentes que cometeram ato infracional e os que 
sofreram violência. 
Procuramos com este trabalho apresentar e discutir 
os dados sobre a violência sexual (2007) contra 
crianças e adolescentes e mortalidade (2006), 
caracterizando e refletindo a realidade apontada a 
partir dos dados dos periciandos. 
Violência Sexual e Mortalidade em Vitória da Conquista, Bahia 
Algumas reflexões sobre crianças e adolescentes periciados pelo Departamento de 
Polícia Técnica 
 
Artigo Original
 
Elizeu Pinheiro da Cruz¹
Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva²
¹ Especialista em Educação Ambiental, Graduado em Ciências Biológicas 
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Graduando em Farmácia 
pela Universidade Federal da Bahia e Perito Técnico de Polícia da 20ª CRPT 
Brumado, Bahia. elizeubio@yahoo.com.br 
² Doutor em Educação; professor do Departamento de Filosofia e Ciências 
Humanas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e coordenador do 
Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente – NECA. 
reginaldoprof@yahoo.com.br
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2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS 
2.1 Criança, Adolescente, Sexualidade e 
Violência Sexual 
Na Sociedade Contemporânea, uma das 
percepções que se tem de adolescência se refere 
a uma transição do mundo infantil para o mundo 
adulto e essa passagem vem carregada de 
significados que perpassam a lógica do tempo 
que se é dado como parâmetro para arremeterem 
jovens e crianças a uma categoria ou nova etapa 
ou fase da vida e do desenvolvimento. 
Ao se falar de criança e adolescência é preciso 
estar atento não apenas para o modo em que a 
criança e o adolescente se vêem, mas também 
como ele vivencia e dá sentido a sua vida, a 
família, aos amigos, as coisas que lhes cercam, a 
sua individualidade. Apesar de características 
pertinentes cada um tem o seu jeito próprio para 
saber lidar com as inúmeras mudanças que 
acontecem nas dimensões do: corpo, 
psicológico, ciclo de amigos, da sociedade e do 
mundo. 
Entre vários autores que discutem a temática, 
tomamos como base as idéias de Sigmund Freud 
(1856-1939). Em sua obra denominada “Três 
ensaios sobre a sexualidade”, Freud considera o 
ser humano dotado de uma energia sexual que 
ele chamou de libido. Esta energia é de cunho 
afetivo, voltada para o prazer, que se faz 
presente do nascimento até a morte do 
indivíduo. Baseado nisso ele definiu as quatro 
fases: oral, anal, fálica e genital. As três 
primeiras são referentes ao desenvolvimento 
infantil e a última restringe-se a adolescência 
(GUIMARÃES, 2005). 
A partir destas considerações sobre sexualidade 
e adolescência, podemos dar um passo adiante 
para compreender a relação sexualidade e 
violência. 
A violência sexual contra a criança e o 
adolescente é problema social que acontece nos 
diferentes espaços. No espaço doméstico “[...] 
as vitimizações ocorrem no território físico e 
simbólico da estrutura familiar onde o homem 
praticamente possui o domínio total” 
(RIBEIRO; FERRIANI; REIS, 2004, p. 457). 
Portanto, é um assunto que necessita ser 
discutido e compreendido pelos órgãos de 
Segurança Pública, pelas instituições de ensino, 
enfim, pela sociedade como um todo. 
Entendemos que nem todos os casos de 
violência sexual são documentados e periciados 
pelas autoridades competentes, dada à situação 
de violência psicológica que os agressores 
colocam as suas vítimas, muitos se calam e 
silenciam diante desse grave problema social. 
Porém é preciso refletir a partir dos dados 
concretos disponibilizados, neste caso, pelo 
Departamento de Polícia Técnica de Vitória da 
Conquista. E mesmo que estes dados não nos 
revelem o universo total da violência contra a 
criança e adolescente, poderão fornecer pistas 
para entendermos o todo da violência. Nas três 
categorias presentes: o estupro, o atentado 
violento ao pudor e as lesões corporais revelam 
uma realidade que precisa ser enfrentada por 
autoridades, educadores, sociedade em geral 
visando a sua diminuição e/ou erradicação. 
 
3. METODOLOGIA 
Os dados foram coletados em visitas ao 
Departamento de Polícia Técnica – DPT Bahia, 
referentes a perícias médico-forenses em 
crianças e adolescentes. A equipe de bolsistas do 
NECA/UESB realizou leituras dos laudos 
produzidos pelos Peritos Médico-Forenses. 
Adotou-se o critério idade para exclusão/seleção 
dos laudos a serem lidos. Assim, configuraram-
se dois grupos: os laudos de lesões corporais, 
dentre estes os crimes sexuais, e os laudos 
cadavéricos.Para o primeiro grupo, catalogou-
se a idade e o tipo de lesão corporal. Para o 
segundo, a idade e a causa da morte. 
 
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 
Considerando o período da pesquisa, 
trabalharemos com os dados de 2006 
(mortalidade) e 2007 (lesões corporais). Foram 
documentados e analisados 174 (cento e setenta 
e quatro) casos de violência contra a criança e 
adolescente no ano de 2006, sendo 70 (setenta) 
casos de crimes de violência sexual (Tabela 01). 
Ao constatarmos e relacionarmos as três 
categorias de violência: o estupro, o atentado 
violento ao pudor e as lesões corporais com a 
maior incidência entre as mulheres, os dados 
apontam para a existência de uma questão de 
gênero forte na configuração desse quadro o que 
já é comprovado em outras pesquisas de 
amplitude nacional. Uma questão que limitou o 
alcance da reflexão foi a falta de dados que 
definam o lócus da violência. Ou seja, onde 
acontece a violência sexual contra estas 
meninas? Para Ribeiro, Ferriani e Reis (2004, p. 
462): 
Na violência sexual intra familiar, a criança ou 
adolescente do sexo feminino se mostra como 
vítima preferencial dos agressores sexuais, 
encontrando-se inserida numa estrutura na qual 
sofre relações de poder expressas por um lado 
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pela capacidade física, mental e social do 
agressor, e por outro, pela sua imaturidade, 
submissão à autoridade paterna e dos mais 
velhos, e à desigualdade de gênero. 
A seguir apresentamos alguns dados referentes 
aos registros de ocorrências relacionados a 
estupro, atentado violento ao pudor e demais 
lesões corporais envolvendo crianças e 
adolescentes. 
Tabela 01 – Registro de ocorrências envolvendo crianças e adolescentes do DPT de Vitória da Conquista no ano de 2007. 
Alguns dados, além da preocupação e da 
perplexidade que nos trazem, merecem ações 
urgentes de enfrentamento: crianças na primeira 
infância já são vítimas de violência sexual. É 
sabido que traumas na primeira infância trazem 
i m p a c t o s p a r a d e m a i s e t a p a s d o 
desenvolvimento. Percebe-se, ainda, a 
incidência maior entre as meninas. 
Os casos de estupros têm maior incidência nas 
meninas entre 05 e 14 anos de idade (Tabela 01). 
A legislação entende que a tipificação de crime 
de estupro é legitima quando a vítima é do sexo 
feminino, sendo qualificada a violência sexual 
para o sexo masculino como atentado violento 
ao pudor. Esta nomenclatura jurídica afasta no 
senso comum da população o grau de gravidade, 
pois está claro o que vem a ser estupro, mas não 
atentado violento ao pudor, sendo assim, os 
números e a realidade da violência continuam 
mascarando e dificultando ações mais eficazes 
de enfrentamento. Afora os resquícios da 
cultura que ainda estigmatizam meninos que 
divulgam os casos de violência a que foram 
vítimas. 
Autores como Vieira et al (2006, 139) 
consideram que é necessário uma abordagem 
clara e livre de preconceitos, sobre a 
adolescência e sexualidade por parte da família, 
escola, comunidades religiosas, ambientes 
prestadores de assistência à saúde, afirma ser:
“[...] necessária a implementação de estratégias 
que permitam aos jovens desse grupo etário 
conscientizar-se sobre a importância que 
envolve a saúde sexual e reprodutiva e dialogar, 
sem juízo de valor, sobre suas dúvidas e 
vivências, o que poderia prevenir e garantir uma 
adolescência saudável. 
Para Villela e Doreto (2006), por conta da 
iniciação sexual precoce, os jovens deixam de 
lado questões como escolarização e trabalho, 
dentre outras coisas, além de se expor a doenças 
sexualmente transmissíveis – DSTs, como a 
AIDS, por ex.. Outras questões são as lesões 
físicas e/ou gravidez indesejada. Por conta do 
estupro, as vítimas se tornam mais vulneráveis a 
outros tipos de violência, aos distúrbios sexuais, 
ao uso de drogas, à prostituição, à depressão e ao 
suicídio (RIBEIRO; FERRIANI; REIS, 2004). 
Diante dessa questão, concordamos com Carniel 
et al (2006) e Reichenheim, Hasselmann, 
Moraes (1999) quando afirmam que o setor da 
saúde deve organizar seus serviços de forma 
d i f e r e n c i a d a p a r a o a c o l h i m e n t o e 
acompanhamento de saúde dos adolescentes, 
com equipe multidisciplinar para trabalhar com 
esta faixa etária. “[...] essas equipes 
interdisciplinares deveriam ser compostas por 
profissionais dedicados em tempo integral, 
permitindo concentração de esforços e 
e x p e r t i s e s ” ( R E I C H E N H E I M ; 
HASSELMANN; MORAES, 1999). 
É importante também haver parcerias com 
i n s t i t u i ç õ e s g o v e r n a m e n t a i s e n ã o -
governamentais de educação e promoção social, 
com famílias e a com comunidade para que, por 
meio de informação, de conhecimento, com 
proteção e apoio, os jovens se encaminhem para a 
vida adulta de forma saudável e responsável 
(CARNIEL, et al, 2006, p. 425). 
Precisamos, no entanto, ter o devido cuidado em 
não criminalizar a sexualidade dos jovens como 
se eles fossem os responsáveis pelas violências 
cometidas contra eles. Outro fator é o tratamento 
e acompanhamento dos agressores; de nada 
adianta registrarmos os casos de violência se os 
agressores não são identificados; não se tem um 
perfil e as condições de como e onde ocorrem 
tais violências. A Intersetorialidade nas ações é 
um fato, sozinho o setor da educação, da saúde, 
da segurança e da política da assistência social 
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não conseguirá soluções para enfrentarmos 
tamanha realidade e crueldade. 
Por outro lado, os registros também não são 
fidedignos quanto ao fato que ela representa. 
Um exemplo é o caso de uma menor de idade 
aceitar manter relações sexuais com um maior 
de idade, mas do ponto de vista legal há um 
registro como estupro ainda que muitas vezes 
tenha-se ciência dos familiares das relações 
estabelecidas pelas filhas e filhos. Isto não é 
para relativizar o estupro, pois sabemos que a 
maturidade intelectual e psicológica, as 
condições sociais e afetivas tem um papel 
preponderante. 
Os exames cadavéricos apontam às causas das 
mortes dos periciandos no ano de 2006 e são 
apresentados a seguir (Tabela 02). Foram 
documentados 27 (vinte e sete) óbitos, sendo a 
incidência maior por Projétil de Arma de Fogo 
entre os meninos entre 15-19 anos de idade 
(Tabela 02). 
Tabela 02 - Causas de mortalidade de crianças e adolescentes em 2006 
Causas: Afog = afogamento; PAF = projétil de arma de fogo; AV = acidente de veiculo; AD = acidente doméstico; 
AM = Asfixia mecânica; CH = choque elétrico; IPC = Instrumento pérfuro-cortante; Ind = Indeterminadas; F = Feminino; M = Masculino. 
Em relação ao sexo masculino é também grave o 
número de atentados violento ao pudor ainda 
socialmente não se reconhece a gravidade dos 
fatos, associam-se a ele os casos de mortes por 
arma de fogo. Há registros da intensificação das 
atividades relacionadas ao mundo das drogas, 
do tráfico, da exploração sexual infanto-juvenil 
no município o que pode estar contribuindo para 
o aumento da violência na região e no aumento 
de mortes de nossos jovens. Precisamos 
considerar e trabalhar com a cultura do consumo 
fartamente fortalecida em peças publicitárias 
que estimulam e levam os jovens a buscar 
produtos, a frequentar espaços, a moldar seus 
corpos, a se vestirem etc. O mundo das drogas se 
alimenta também do desemprego e dos falsos 
padrões de consumo e beleza. 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Dos crimes sexuais contra a criança e o 
adolescente em Vitória da Conquista, Bahia: o 
estupro e atentado violento ao pudor e dos casos 
documentados pelo DPT da cidade, pudemos 
observar uma incidência maior entre as 
meninas. Ou seja, os dados sugerem que há uma 
relação entre gênero e violência sexual. No 
entanto, não podemos relativizar os indicadores 
de atentados violentoao pudor que merecem 
assim como o estupro ações enérgicas do poder 
público e da sociedade em geral. 
Outros tipos de violência foram documentados 
pelo DPT: lesões corporais e a mortalidade. No 
que se refere à mortalidade, a maior incidência se 
dá entre os meninos na faixa etária que 
compreende dos 15 aos 19 anos e a causa da 
morte do tipo PAF, projétil de arma de fogo. 
Os dados apontam a necessidade de 
compreendermos o lócus da violência e a 
condição sócio-econômica dos periciandos e de 
seus agressores para conhecermos os fatores que 
a desencadeiam e se há segregação social da 
violência. A integração entre a academia, os 
órgãos da policia civil e militar e dos conselhos 
municipais dos direitos da criança e do 
adolescente, assistência social, tutelar, 
segurança, saúde, CREAS e CRAS poderá 
possibilitar a elaboração de políticas públicas 
mais eficazes no enfrentamento de tão grave e 
cruel questão. 
REFERÊNCIAS
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&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 Dez. 
2009.
RESUMO
A introdução de novas drogas sintéticas no mercado 
de drogas ilícitas em todo mundo, é uma realidade 
que vem ocorrendo com frequência. No início de 
2005, as autoridades policiais da União Européia 
foram notificadas a respeito da utilização de 
derivados da piperazina (p.e. mCPP, BZP) como 
drogas recreacionais, com efeitos semelhantes aos 
[1]do ecstasy . A primeira apreensão no Brasil foi 
realizada pela Polícia Federal em novembro de 
[2] 2007, em Goiás e no estado da Bahia, em dezembro 
de 2007 na cidade de Eunápolis. O material 
apreendido pela polícia da Bahia, foi enviado à 
Coordenação de Análise Instrumental do 
Laboratório Central de Polícia Técnica, onde foi 
analisado utilizando-se as técnicas CLAE-DAD e 
CG-EM. 
PALAVRAS-CHAVE: Piperazinas, drogas 
sintéticas, mCPP, CLAE-DAD, CG-EM.
ABSTRACT
The introduction of new synthetic drugs in illicit 
drugs trade in the world, is a reality that is happening 
frequently. Early in 2005, the police authorities of 
European Union have been reported regarding the 
use of derivatives of piperazine (e.g. mCPP, BZP) as 
[1] a recreational drug with effects similar to ecstasy . 
The first seizure in Brazil was performed by the 
[2]Federal Police in November 2007 in Goiás and the 
state of Bahia, in December 2007 in the city of 
Eunápolis. The material seized by police of Bahia, 
was sent to the Instrumental Analysis Section at 
Central Laboratory of Technical Police, which was 
analyzed using the techniques HPLC-DAD and GC-
MS.
KEYWORDS: Piperazines, synthetic drugs, 
mCPP, HPLC-DAD, GC-MS.
1. INTRODUÇÃO
As piperazinas são uma classe de substâncias 
sintéticas, que inicialmente foram utilizadas no ramo 
veterinário como antielmínticos. Pesquisas 
realizadas posteriormente, indicaram que essa classe 
de compostos possuía propriedades vasodilatadoras 
[3]e inibidoras de alguns tipos de tumores cancerosos . 
Entretanto, foram observados também efeitos 
colaterais semelhantes aos do ecstasy (MDMA – 
metilenodioximetanfetamina): estimulante (quando 
utilizado em pequenas doses) e alucinógeno (quando 
utilizado em altas doses). A 1-(3-clorofenil) 
piperazina (Figura 2), também conhecida como 
mCPP – meta-clorofenilpiperazina - é um derivado 
sintético da piperazina (Figura 1) que foi primeiro 
notificado ao Observatório Europeu da Droga e da 
Toxicodependência (EMCDDA) e à Europol em 
fevereiro e março de 2005 pela França e Suécia, 
[4]respectivamente . 
1-(3-Clorofenil) Piperazina (mCPP): Uma Nova Droga
 Sintética Ilegal no Brasil
Artigo de Revisão
Márcia Maria Portela de Santana¹
Marisa Fontainha de Souza²
Ricardo Leal Cunha³
, Perita Criminal – Coordenação de Análise Instrumental – LCPT¹ ²
Perito Técnico – Coordenação de Toxicologia Forense – LCPT³
 
NH NH
Figura 1. Piperazina
 
Cl
NNH
Figura 2. 1-(3-clorofenil)piperazina
Desde então, muitos países europeus têm incluído 
em suas listas de substâncias controladas, derivados 
[5]de piperazina e entre esses a mCPP . No Brasil, a 
primeira apreensão da droga ocorreu na cidade de 
Aparecida de Goiânia (GO) em 13 de novembro de 
2007. Cerca de mil comprimidos foram encontrados 
pela Polícia Federal nos Correios (ECT), de onde 
[6,7]seguiriam para o Rio de Janeiro . No estado da 
Bahia, a primeira apreensão ocorreu na cidade de 
Eunapólis em 14 de dezembro de 2007, sendo o 
material enviado ao Laboratório Central de Polícia 
 
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Técnica (LCPT), e periciado na Coordenação de 
Análise Instrumental. Posteriormente, 
ocorreram mais 02 apreensões. No Brasil, até 
outubro de 2008, os derivados da piperazina 
podiam ser comercializados sem que 
vendedores ou consumidores tivessem que 
responder legalmente por isso. No entanto, a 
partir de 4 de novembro de 2008, a mCPP 
passou a ser incluída na Lista F2 da ANVISA 
(Lista das Substâncias Psicotrópicas de Uso 
Proscrito no Brasil) da Portaria SVS/MS n. 344, 
de 1998, e em 26 de fevereiro de 2009 foram 
incluídas a 1-benzilpiperazina (BZP) e 
[6,7]trifluormetilfenilpiperazina (TFMPP) . 
Diante da ilegalidade da nova droga sintética, 
surge a necessidade da padronização de testes de 
triagem a fim de constatar a presença das 
substâncias derivadas da piperazina e 
diferenciá-las do ecstasy, nos comprimidos 
apreendidos. Desta forma, pode-se atender a 
solicitação da autoridade requisitante de uma 
maneira rápida e gerando Laudo de Constatação 
para compor o processo da lavratura do auto de 
prisão em flagrante. 
2. TOXICOLOGIA
A molécula da mCPP pode ligar-se a receptores 
de serotonina. O mecanismo de ação 
alucinógena, ocorre devido a mCPP ser agonista 
[8]do receptor de serotonina pós-sináptico . A 
mCPP é largamente utilizada em pesquisas 
neuroquímicas e psiquiátricas, podendo ser 
encontrada também, como metabólito de 
substâncias com diferentes propriedades 
p s i coa t i va s , como

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