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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA BACHARELADO EM METEOROLOGIA ILANA CARLA ALEXANDRINO DA SILVA AVALIAÇÃO DA POSSÍVEL INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NA VARIABILIDADE INTERANUAL DA PISCINA QUENTE DO ATLÂNTICO TROPICAL SUDOESTE Natal Novembro, 2017 AVALIAÇÃO DA POSSÍVEL INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NA VARIABILIDADE INTERANUAL DA PISCINA QUENTE DO ATLÂNTICO TROPICAL SUDOESTE por Ilana Carla Alexandrino da Silva Orientador: Prof. Doutor. Marcio Machado Cintra Natal Novembro, 2017 Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Meteorologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em Meteorologia. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA BACHARELADO EM METEOROLOGIA A Monografia AVALIAÇÃO DA POSSÍVEL INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NA VARIABILIDADE INTERANUAL DA PISCINA QUENTE DO ATLÂNTICO TROPICAL SUDOESTE elaborada por ILANA CARLA ALEXANDRINO DA SILVA e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora foi aceita pelo Colegiado do Curso de Meteorologia e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à obtenção do título de BACHAREL EM METEOROLOGIA Natal, 08 de dezembro de 2017 BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Marcio Machado Cintra (Depto. de Ciências Atmosféricas e Climáticas) _________________________________________________ Monica Cristina Damião Mendes (Membro externo) _________________________________________________ Weber Andrade Gonçalves (Prof. Doutor.) AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me fortalecido ao longo de toda essa jornada e, principalmente agora, nessa fase de conclusão de curso. Agradeço, especialmente, à minha mãe Maria, pelo seu apoio e amor incondicional e a minha irmã Yara. Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos aos meus colegas de curso, graduandos da turma 2014, às amigas Glícia, Rafaela, Juliana e Moniki, como também aos amigos Alanderson, Darllin e Francisco Agustinho, Ítalo e Felipe por terem compartilhado seus conhecimentos e me ajudado durante esses quatro anos de convivência. Agradeço a UFRN e também, a todos os professores do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas, por ter proporcionado os conhecimentos necessários à vida profissional. E, especialmente, ao meu orientador de Iniciação Científica e trabalho de conclusão de curso, pela paciência e apoio intensivo para a conclusão desse trabalho. RESUMO O aumento da temperatura da superfície do mar (TSM) na bacia do Atlântico tropical tem motivado a comunidade científica a discutir suas causas locais, bem como os forçantes remotos, principalmente quando relacionados ao fenômeno El Niño. Pouco se sabe sobre a influência desse fenômeno remoto sobre a região de águas quentes no Oceano Atlântico tropical. Essa região, onde as temperaturas superficiais excedem 28°C, é usualmente reportada como piscina quente do Atlântico tropical Sudoeste (PQATSO). Com intuito de avaliar e entender melhor como as anomalias do Oceano Pacífico equatorial podem estar afetando remotamente o Oceano Atlântico tropical sobre a região da piscina quente, este estudo promoveu uma série de correlações espaço-temporais para investigar uma possível conexão. Para isso, associações entre as anomalias de TSM da região 3.4 do Pacífico e as anomalias de TSM e Temperatura do ar a 2m (T2M) sobre a PQATSO foram testadas estatisticamente, ao nível de 5%. Foram realizadas correlações defasadas no tempo entre os trimestres (MAM), (DJF) e (SON), na região do Pacífico contra o trimestre (MAM) no Atlântico tropical, período de ocorrência da piscina quente. Para tanto foram utilizados dados de reanálise do projeto Era Interim e dados medidos de TSM NOAA-Reynolds, que considera temperaturas observadas e distribuídas no espaço por um processo de interpolação otimizada. Os resultados principais indicaram que há um sinal do fenômeno El Niño sendo verificado sobre a área da piscina, como também nas regiões fora de sua influência sazonal. Esse sinal se verificou mais forte quando foram utilizadas correlações defasadas no tempo (6 meses) da época de maior desenvolvimento da piscina quente (Março a Maio). Quando foram considerados apenas os eventos fortes e muito fortes de El Niño, observamos comportamentos parecidos para as duas variáveis analisadas (TSM e T2M), que indicaram correlações positivas na borda oeste do Atlântico tropical a partir da região central do Equador onde o sinal do evento El Niño já é bem conhecido. Não foram verificadas correlações significativas para as anomalias do Pacífico em relação às anomalias da área da piscina quente, entretanto diversos fatores que atuam conjuntamente sobre esse fenômeno podem ter ocultado o real efeito nessa variável. Palavras Chaves: Variabilidade, ENOS, correlações, sinal, piscina quente. ABSTRACT The increase in sea surface temperature (SST) in the tropical Atlantic basin has been motivated the scientific community to discuss their local causes, as well as the remote forcing, particularly when related to the El Niño phenomenon. Little is known about the influence of this phenomenon on the remote region of warm waters in the Tropical Atlantic Ocean. This region, where the surface temperatures exceed 28°C, is usually reported as southwestern tropical Atlantic warm pool (SWATWP). In order to evaluate and better understand how the anomalies of the equatorial Pacific Ocean may be affecting Atlantic Ocean Tropical remotely on the warm pool, this study promoted a series of spatio-temporal correlations to investigate a possible connection. For this, associations between the anomalies of SST 3.4 Pacific region and anomalies of SST and air temperature to 2 m (T2M) about the SWATWP were tested statistically, the 5% level. Correlations were made obsolete in the time between the quarters (MAM), (DJF) and (SON), in the Pacific region against the quarter (MAM) in the tropical Atlantic, period of occurrence of the warm pool. For both data were used to the reanalysis project Era Interim and measured data for TSM NOAA- Reynolds, which considers temperatures observed and distributed in space for an optimized interpolation process. The main results indicated that there is a sign of the phenomenon El nino being checked on the pool area, as well as in the regions outside of your seasonal influence. This sign was found stronger when time lagged correlations were used for 6 months from the time of further development of the warm pool (March to may). When only the events were considered strong and very strong El Niño, we observe similar behaviors for the two variables analyzed (TSM and T2M), which indicated positive correlations on the western edge of the tropical Atlantic from the central region of Ecuador, where the sign of El nino event is already well known. No significant correlations were observed for anomalies in the Pacific in relation to of warm pool area anomalies, however several factors that act together on this phenomenon may have hidden the real effect in this variable. Keywords: Variability, ENSO, correlations, signal, warm pool. LISTAS DE ABREVIATURAS ASAS – Alta subtropical do Atlântico Sul AT – Atlântico Tropical ATSM – Anomalia de Temperatura da Superfície do Mar ATSO – Atlântico Tropical Sudoeste DJF – dezembro-janeiro-fevereiro MAM –março-abril-maio NEB – Nordeste do Brasil ONI – Oceanic Nino Index PQATSO – Piscina Quente do Atlântico Tropical Sudoeste ROMS – Regional Oceanic Modeling System SON – setembro-outubro-novembro TSM – Temperatura da Superfície do Mar T2m – Temperatura do ar a 2 metros ZCIT – Zona de Convergência Intertropical LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Comparativo das condições do sistema oceano atmosfera (Normal x El Niño) ................ 15 Figura 2 – Rota preferencial – Ondas de Rossby. .............................................................................. 17 Figura 3 – Área de estudo e delimitação da PQATSO (°C) ................................................................ 20 Figura 4 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses MAM) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). ........................................................................................................ 26 Figura 5 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses MAM) e T2m sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). ........................................................................................................ 27 Figura 6 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). ....................................................................................................... 28 Figura 7 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e T2m sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). ....................................................................................................... 29 Figura 8 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). ....................................................................................................... 30 Figura 9 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e T2m sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). ........................................................................................................ 31 Figura 10 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses MAM) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. .......................................................................................... 32 Figura 11 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. .......................................................................................... 33 Figura 12 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. ..................................................................................... 34 Figura 13 – Índice Oceânico Nino - Eventos El Niño/La Niña (1982 - 2017)...................................... 35 Figura 14 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Episódios de El Niño forte (1987, 1991) e muito forte (1982, 1997, 2015) ....................................................................................................................................... 36 Figura 15 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. La Niña forte (1988, 1998, 1999, 2007, 2010) ................ 37 Figura 16 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Episódios de El Niño forte (1987, 1991) e muito forte, (1982, 1997, 2015) ......................................................................................................................................... 38 Figura 17 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. La Niña forte (1988, 1998, 1999, 2007, 2010) .................. 39 Figura 18 – Histograma da anomalia da área da PQATSO (média dos meses MAM) – Era Interim (1982 – 2017)....................................................................................................................................... 41 Figura 19 – Histograma da anomalia da área da PQATSO (média dos meses MAM) – NOAA (1982 – 2017).................................................................................................................................................... 42 SUMÁRIO ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 12 1.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................................. 14 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................................... 14 2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... 15 2.1 EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL ..................................................................................................... 15 2.2 PADRÕES DE TELECONEXÃO .............................................................................................. 16 2.3 FEEDBACKS DO SISTEMA ACOPLADO OCEANO-ATMOSFERA E ENOS .......................... 18 2.4 VARIABILIDADE INTERANUAL DO ATLÂNTICO TROPICAL ................................................ 18 3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................. 20 3.1 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................................. 20 3.2 DADOS ................................................................................................................................... 21 3.3 METODOLOGIA ...................................................................................................................... 21 4. RESULTADOS ............................................................................................................................. 25 4.1 ANÁLISES DAS CORRELAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS COM A REGIÃO 3.4 DO PACÍFICO (ERA INTERIM) ...........................................................................................................25 4.2 ANÁLISE DAS CORRELAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS COM A REGIÃO 3.4 DO PACÍFICO (NOAA) ......................................................................................................................31 4.3 ANÁLISE DAS CORRELAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS COM A REGIÃO 3.4 DO PACÍFICO EM EVENTOS EL NIÑO E LA NIÑA ............................................................................................. 34 4.4 AVALIAÇÃO DAS ANOMALIAS DE ÁREAS (ERA INTERIM X NOAA) ................................... 40 5. DISCUSSÃO................................................................................................................................. 44 6. CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 47 12 1. INTRODUÇÃO Questões envolvendo o aumento da temperatura da superfície do mar (TSM) na bacia do Atlântico tropical ainda motivam a comunidade acadêmica a discutir suas causas locais, bem como as remotas, principalmente as que tenham alguma associação com o aquecimento anômalo do Pacífico Equatorial, o El Niño-OscilaçãoSul (ENOS) e com os outros modos de variabilidades desencadeados pelo fenômeno. O fenômeno ENOS é apontado como a principal fonte de variabilidade climática interanual de larga escala do sistema-acoplado oceano-atmosfera que produz alterações em vários campos atmosféricos e na TSM, com repercussões na convecção tropical (CAVANCANTI et al., 2009, p. 353). A principal consequência do fenômeno é a modulação da circulação atmosférica de larga escala implicando em intensas anomalias no campo de precipitação do sudeste da América do Sul. De um modo geral, o fenômeno ENOS poder causar chuvas intensas no sul do Brasil, durante sua fase quente, ao mesmo tempo, períodos prolongados de escassez no nordeste do Brasil, e durante a fase fria tem-se uma situação oposta. (SOPPA; SOUZA; PEZZI, 2011). Similarmente às anomalias de chuvas observadas durante a atuação do ENOS, os padrões associados com o modo Pacific South American (PSA) mostram deficit de chuvas no verão sobre o nordeste do Brasil (NEB) e chuvas intensas sobre o sudeste da América do Sul. (MO;PAEGLE, 2001). Efeitos do fenômeno ENOS transportados remotamente para o oceano Atlântico vem sendo examinados em regiões específicas da bacia. Lentinni et al. (2001) investigaram as variabilidades espaciais e temporais da temperatura da superfície do mar na região oeste do oceano Atlântico sul entre (22°S e 42°S) e apontaram anomalias frias e anomalias quentes durante o início e logo após o ENOS. Severov, Mordecki e Peshinnikov (2004) estudaram a relação entre as anomalias da temperatura da superfície do mar (ATSM) e a presença de eventos El Niño e La Niña durante o período de 1868 a 2000 e encontraram diferenças significativas no período do inverno no Atlântico Tropical Sudoeste, em que eventos de El Niño estão interligados às anomalias de TSM negativas na corrente das 13 Malvinas e anomalias de TSM positivas na corrente do Brasil, ao passo que os eventos de La Niña estão interligados ao resfriamento anômalo na corrente do Brasil e aquecimento da corrente das Malvinas. Segundo Cintra et al. (2015), “A presença de águas quentes (TSM 28°C) formando uma região fechada sobre o AT recebe o nome de piscina quente do Atlântico tropical sudoeste (PQATSO)”. Essa região ocorre sazonalmente nos meses de março a maio e sua sazonalidade e processos físicos responsáveis pelo seu aparecimento e extinção já foram bem reportados por Cintra et al. (2015). Embora, diversos autores tenham relatado a presença da PQATSO, pouco se sabe a respeito das forçantes remotas na escala interanual, como as consequências do fenômeno ENOS sobre a piscina quente. (SILVA et al., 2009 ; HUANG; CARTON; SHUKLA, 1995 ; CINTRA et al., 2015 ; HOUNSOU-GBO et al., 2015). Em razão da forte sazonalidade do oceano Atlântico, outras variáveis são fortemente marcadas pela marcha anual da radiação solar, como a TSM e a temperatura do ar a 2m (T2m), a qual pode ser induzida a responder às pequenas variações no campo da TSM como uma condição controlada pelo oceano na camada de interação oceano-atmosfera, envolvendo complexos processos termodinâmicos. (CAVALCANTI et al., 2009, p. 385-388). Diante da relevância do tema e dos impactos que causa na variabilidade interanual, o presente trabalho se propõe a discutir os possíveis efeitos dessa oscilação sobre a variabilidade de regiões aquecidas do AT, onde as anomalias de temperatura da superfície do mar e da temperatura do ar a 2m (T2m) são analisadas na área da piscina quente. Desse modo, é esperado que as anomalias da região 3.4 do Pacífico (170°C – 120°C, 5°N – 5°S) confrontadas com as anomalias da região delimitada pela isoterma de 28°C possam trazer informações relevantes para o monitoramento da temperatura da superfície do mar, nessa importante porção do ATSO, como também possam ser úteis para a previsão de sistemas que contribuem com anomalias de chuvas durante o período sazonal da piscina quente, após eventos de El Niño e/ou La Niña. 14 1.1 OBJETIVO GERAL O estudo tem como objetivo principal analisar as relações do comportamento termodinâmico da piscina quente do Atlântico Tropical Sudoeste, com as forçantes remotas que têm origem na região 3.4 do Pacífico tropical e que podem estar influenciando as anomalias de TSM no domínio da PQATSO. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Verificar se ocorre sinal positivo ou negativo do fenômeno sobre a PQATSO nos tempos 0, -1 e -2, em relação ao trimestre de referência março-abril-maio (MAM), mediante correlações significativas, estatísticamente, ao nível de 5%; Analisar as variações espaço-temporais das correlações obtidas para as anomalias de TSM e T2m Era interim; Avaliar as variações espaço-temporais das correlações com a região 3.4 do Pacífico utilizando os dados NOAA, inclusive às relativas aos eventos forte e muito forte de El Niño e eventos forte de La Niña; Avaliar a área estimada da PAQTSO e sua evolução no tempo, a partir de uma comparação entre as bases de dados utilizadas; Avaliar como as anomalias da área estimada apresentam-se em correlações no tempo 0, -1 e -2, com a região 3.4 do Pacífico; 15 2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA 2.1 EL NIÑO-OSCILAÇÃO SUL O fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) consiste de uma forte conexão entre o aquecimento oceânico de larga escala do Pacífico tropical (El Niño) e a variação interanual do campo de pressão ao nível do mar na faixa tropical entre o oeste e leste do Pacífico (Oscilação Sul), marcada por altos e baixos, como também consiste do enfraquecimento ou fortalecimento dos ventos alísios de leste sobre o Pacífico tropical. (WANG, et al., 2016). Em episódios de El Niño (fase negativa) é observado aumento anormal da pressão do ar cobrindo a Indonésia e oeste do Pacífico e uma baixa pressão anômala do ar sobre o leste do Pacífico. O oposto ocorre na fase positiva em episódios de La Niña. Eventos El Niño e La Niña tipicamente persistem de 9 a 12 meses ou mais de 2 anos, podendo recorrer em um ciclo de 2 a 7 anos. A seguir, uma ilustração das condições do sistema oceano atmosfera na presença de evento El Niño, em comparação com as condições de neutralidade. Figura 1 – Comparativo das condições do sistema oceano atmosfera (Normal x El Niño) Fonte: https://www.pmel.noaa.gov/elnino/what-is-el-nino https://www.pmel.noaa.gov/elnino/what-is-el-nino 16 As principais mudanças referem-se ao relaxamento dos ventos alísios na parte central e oeste do Pacífico levando à inclinação (achatamento) da termoclima e, por conseguinte, ao aumento da temperatura superficial e subsuperficial do mar e ao desenvolvimento de uma piscina quente em direção ao leste do Pacífico Equatorial, resultando no deslocamento do núcleo convectivo sobre as águas aquecidas da bacia, relacionado à Circulação de Walker. 2.2 PADRÕES DE TELECONEXÃO Teleconexões consistem, basicamente, em associações positivas ou negativas entre campos separados por vastas áreas, as quais se propagam pela atmosfera, em seus altos níveis. Algumas teleconexões podem se configurar como padrões e podem atingir a escala planetária com cobertura ampla sobre oceanos e continentes. Os padrões de teleconexão se estabelecem como modos preferenciais de variabilidade de baixa frequência. Conquanto, esses padrões podem atingir outras escalas temporais, persistindo por semanas ou meses e também atuam em escalas maiores do que um ano, tornando-se dominantes por vários anos consecutivos e, por isso, se constitui uma importante parte da variabilidade interanual e interdecenal da circulação atmosférica. (CAVALCANTI et al., 2009, p. 318). Alguns mecanismos da variabilidade interanual associados ao evento quente do ENOS atuam como teleconexões da forma trópico-trópico, causadas por fontesanômalas de calor que perturbam a circulação de Walker e a de Hadley, provocando fortes anomalias negativas de precipitação com efeitos sobre o norte e o nordeste do Brasil (seca), a partir de ondas de Rossby excitadas pelas ATSM positivas no Pacífico Central e leste, produzindo o padrão Pacific South-American (PSA). (CAVALCANTI et al., 2009, p. 370); (MO ; PAEGLE, 2001). Uma ilustração das possíveis conexões entre as bacias, a partir da propagação preferencial de ondas de Rossby (setas cheias) através dos guias de onda, jato Norte Africano-Asiático, jato da região do Atlântico Norte-Norte Europeu, jato subtropical do Hemisfério Sul (Australiano), e jato polar, (setas com linhas diagonais), é demonstrado no sumário esquemático, a seguir: 17 Figura 2 – Rota preferencial – Ondas de Rossby Fonte: http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/esteleg.html O padrão PSA se estabelece em dois modos distintos com reflexos em vários campos, em escalas diversas. O PSA1 é relacionado às ATSM sobre o centro e o leste do Pacífico em escala decenal e trata-se de uma resposta do ENOS na escala interanual, enquanto que o padrão PSA2 é associado com a componente quase bienal do ENSO, com um período de 22 a 28 meses e conexões mais fortes ocorrem na primavera austral. (MO ; PAEGLE, 2001). Estudos recentes mostraram, mediante resultados de modelos e observacionais com eventos El Niño e La Niña como o modo PSA2 desencadeia o enfraquecimento (fortalecimento) da alta subtropical do Atlântico Sul (ASAS), conforme encontrado por (RODRIGUES; CAMPOS; HAARSMA, 2015). Resultados de modelos acoplados baseados em simulações do fenômeno ENOS mostraram o papel da dinâmica e da variabilidade dos oceanos Pacífico e Atlântico e suas influências na precipitação do NEB. Esses resultados corroboraram com o descrito na literatura que o trem de ondas PSA é mais visível sobre o Pacífico central, em direção ao polo, sentido sul da AS, onde são vistos ciclones e anticlones anômalos, quando o fenômeno encontra-se em plena atividade na primavera austral, conforme (RODRIGUES et al., 2010). http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/esteleg.html 18 2.3 FEEDBACKS DO SISTEMA ACOPLADO OCEANO-ATMOSFERA E ENOS Feedbacks positivos e negativos são os principais mecanismos de acoplamento oceano-atmosfera essenciais para o início e o encerramento do ciclo ENOS no Pacífico equatorial. Um importante feedback positivo, intrinsecamente relacionado com a circulação de Walker foi hipotetizado por Bjerkenes (1969) como a possível causa da fase quente do ENOS, ou seja, como o processo de aquecimento superficial no leste do Pacífico é iniciado. (WANG et al., 2016). Esse processo tem início no relaxamento dos ventos alísios fluindo na superfície de leste para oeste ao longo do oceano Pacífico tropical. Esse acúmulo de águas quentes mais a oeste condiciona a elevação do ar em níveis mais altos fazendo fluir o vento de oeste para leste, retornando à superfície no leste do Pacífico tropical através da Célula de Walker. (WANG et al., 2016). O fluxo de água movendo-se para leste, por sua vez, reduz o gradiente de temperatura zonal ao longo do Equador, favorecendo o achatamento da termoclina e aumento de temperatura superficial do oceano. Esse processo envolve um dos principais feedbacks positivos, frequentemente referido como feedback de Bjerknes, o qual está relacionado com a tríade vento-termoclina-SST. (FEDOROV, 2007). Por outro lado, é imprescindível que um feedback negativo relacionado com a dinâmica do oceano complete o ciclo do fenômeno. O atraso no ajustamento do oceano à forçante do vento é relacionado com a propagação, ao longo do equador, de ondas oceânicas de Kelvin e de Rossby de sinais opostos (downwelling and upwelling) que revertem anomalias de TSM. (FEDOROV, 2007). 2.4 VARIABILIDADE INTERANUAL DO ATLÂNTICO TROPICAL Dois modos de variabilidade do Atlântico Tropical podem estar envolvidos nos processos de regionalização de anomalias de Temperatura da superfície do mar: o primeiro modo refere-se ao Gradiente Meridional de Temperatura, o “Dipolo do Atlântico” e o segundo é um modo similar ao ENOS do Pacífico, o “Atlântico Niño.” 19 De acordo com Cintra (2015), “Esse modo essencialmente equatorial varia nas escala zonal e interanual e surge como eventos quentes ou frios, rapidamente, progredindo de semanas a meses”. “O Dipolo do Atlântico” apresenta-se como um gradiente inter-hemisférico norte-sul de TSM, cuja variação acontece, espacialmente, nas escalas temporais, zonal, interanual e até decenal, em fases quentes ou frias que repercutem no deslocamento meridional da ZCIT da sua posição climatológica. (SERVAIN, 1991). Apesar de diversos impactos à estação chuvosa do NEB serem atribuídos ao ENOS, sabe-se que a qualidade da quadra chuvosa depende bastante do gradiente de TSM do Atlântico, que por sua vez sofre influência indireta desse fenômeno. Um efeito direto produzido pelas anomalias atmosféricas associadas ao ENOS sobre a precipitação do NEB está em fase quando as anomalias de temperatura no norte AT e as anomalias do Pacífico leste tiverem o mesmo sinal, ou seja, o efeito do dipolo no Atlântico tropical está positivo com a presença de El Niño (evento quente) e negativo com a presença de La Niña (evento frio). (CAVALCANTI et al., 2009, p. 355-363). Flutuações da TSM no Atlântico tropical têm sido reportadas ao norte do AT como uma influência robusta do fenômeno ENOS. Uma combinação de resultados de modelos e observações mostra que essa influência torna-se frágil ao longo do Atlântico equatorial, por força da atuação do modo Atlântico Niño. A influência do ENOS nesse modo depende não somente da resposta da atmosfera em propagar o sinal do fenômeno, mas também da dinâmica da interação oceano-atmosfera que interfere contra a resposta atmosfera, produzindo um efeito destrutivo. (CHANG et al., 2006). Em face disso, a variabilidade interanual do AT pode resultar de um processo mascarado da atuação conjunta dos demais modos de variabilidade, de modo que, nenhum deles parece ser dominante, apesar da força do ciclo sazonal que surge como um mecanismo similar ao feedback de Bjerknes. (XIE e CARTON, 2004). 20 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 ÁREA DE ESTUDO A porção sudoeste do oceano Atlântico tropical que concentra ocorrências de temperaturas de superfície do mar (TSM) iguais ou maiores que à isoterma de 28°C em uma área fechada foi denominada piscina quente do Atlântico tropical sudoeste (PQATSO), (CINTRA, 2015). Para os fins desse estudo, a área da PQATSO compreende a região de abrangência da isoterma de 28°C pertinente ao domínio de 80°W a 20°W de longitude e 25°N a 25°S de latitude, onde as anomalias de temperatura da superfície do mar (ATSM) podem variar no intervalo de -3°C a 3°C, nesse domínio, conforme a figura a seguir: Figura 3 – Área de estudo e delimitação da PQATSO (°C). Fonte: Autoria própria De acordo a figura tem-se uma representação da área em que a PQATSO atingiu o seu maior desenvolvimento sazonal. A linha contínua cinza destaca a abrangência da isoterma de 28°C e a caixa pontilhada refere-se à região 3.4 (120°W – 170°W, 5°N – 5°S), a qual servirá como área de referência para os cálculos de anomalias de TSM do Pacífico Tropical. 21 3.2 DADOS Foram utilizadas variáveis provenientes da reanálise do projeto Era Interim desenvolvido pelo centro de previsão europeu, European Centre Medium-Range Weather Forecast (ECMWF), alusivas à temperatura de superfície do mar (TSM) e à temperatura de superfície a 2m (T2m), com amostra relativa ao período de 1979 a 2017, grade de lado de 0,7°, espaçamento (~ 79Km) e frequência trimestral, a saber: dezembro,janeiro, fevereiro (DJF), totalizando 114 meses e 38 trimestres; março- abril-maio (MAM), totalizando 117 meses e 39 trimestres; setembro-outubro- novembro (SON), totalizando 114 meses e 38 trimestres, em 241 pontos de latitude e 481 pontos de longitude, representados por ponto de grade. O conjunto de dados é composto por médias mensais de médias diárias produzidas por modelos atmosféricos e pelo sistema de assimilação de dados do Integrated Forecasting System (IFS) (DEE et al., 2011). 3.3 METODOLOGIA O método baseia-se em uma verificação espacial da existência de um sinal positivo ou negativo do fenômeno El Niño sobre o domínio da PQATSO em correlações no tempo 0, tempo -1 e tempo -2, trimestre a trimestre, ou seja, em correlações defasadas que apresentem evidência estatística ao nível de 5%, entre o Pacífico tropical, região 3.4 (170°W – 120°W, 5°N - 5°S) e a PQATSO. Para investigar o grau de relação ou associação linear entre as anomalias de temperaturas de superfície do mar (ATSM) das regiões 3.4 do Pacífico e da PQATSO foi utilizada a fórmula da correlação de Pearson, obtida de (WILKS, 2006, p. 51) para o cálculo das correlações em (1), considerando a covariância entre as variáveis x e y, em (1.1) e produto dos desvios-padrões em (1.2), como segue: (1) 22 Onde: (1.1) (1.2) Sendo: O numerador da equação consiste da covariância entre x e y, representando a parte essencial da correlação de Pearson e, o denominador é apenas efeito de uma constante de escala, a qual deve ser sempre positiva. Assim, a correlação de Pearson torna-se, essencialmente, uma covariância não dimensionalizada. (WILKS, 2006, p.51). Estima-se o grau e o sinal de associação linear de duas amostras baseado na covariância. O parâmetro rxy é uma grandeza adimensional e varia no intervalo de [-1,1], onde valores positivos indicam um comportamento semelhante das variáveis amostradas, enquanto que valores negativos indicam comportamentos opostos. Valores de correlação nula indicam que as variáveis em questão não estão relacionadas. As médias climatológicas trimestrais foram computadas em uma matriz linha, com base na média dos três meses, em que cada mês representa um valor de média de todo o período do estudo, para ambas as variáveis. As anomalias trimestrais foram calculadas com base na diferença efetuada entre um valor mensal e sua média climatológica, para cada ponto da PQATSO, resultando em uma matriz tridimensional, contemplando as anomalias mensais, para ambas as variáveis TSM e T2m, em cada um dos três trimestres (DJF, MAM, SON). As correlações foram obtidas utilizando-se a média das anomalias de temperatura de superfície do mar na região 3.4, ponto a ponto da PQATSO, confrontando-as com as médias de anomalias no trimestre de referência (MAM), no tempo 0 (MAM), no tempo -1 (DJF) e no tempo -2 (SON), resultando em matriz coluna, para cada uma das variáveis, em cada um dos trimestres (DJF, MAM, SON). Dessa forma, cada matriz resultante contem valores de correlação associados aos seus valores de probabilidade, ou p-valores associados às correlações, em 23 pontos de grade da PQATSO, de forma que os p-valores maiores que o nível de significância adotado se tornam iguais a zero, automaticamente. Por consequência, p-valores muito pequenos e menores que o nível de significância de 5%, situam-se em uma região crítica onde ocorre rejeição da hipótese nula, o que implica em correlação significantemente diferente de zero. Um teste de hipóteses bilateral com estatística t de Student foi aplicado para conjeturar a correlação entre as populações das variáveis amostradas, média de ATSM no domínio da PQATSO, descrita como a variável dependente (y) e, a média de ATSM na região 3.4 do Pacífico, descrita como variável independente (x), variando no tempo é tal que: H0: ρ 0 H1: ρ 0 O teste da força da hipótese alternativa contra uma hipótese de não correlação ou hipótese nula para sugere que há probabilidade de ocorrer um valor extremo de correlação, o qual pode ser visualizado sobre o domínio da PQATSO. Em seguida, as figuras pertinentes às correlações entre a região 3.4 e a PQATSO são analisadas uma a uma, sistematicamente. Apesar das diferenças temporais encontradas para ambas as variáveis TSM e T2m terem sido pequenas em relação às características e padrões observados, fez-se necessário abordá-las. Em seguida, as anomalias da área estimada em cada trimestre MAM foram confrontadas com a média das anomalias de TSM da região 3.4, resultando em outra matriz de correlações com p-valores associados, sendo necessária a verificação de um novo teste de hipótese dessa correlação ao nível de significância de 5%, em que (p-valores >0,05) tornam-se iguais a zero, automaticamente. Por consequência, valores de probabilidade muito pequenos e menores que o nível de significância adotado, referem-se à região, na qual a hipótese nula tende a ser rejeitada, implicando em correlação significantemente diferente de zero. Logo, um teste de hipóteses bilateral com estatística t de Student foi aplicado para conjeturar a correlação entre as populações das variáveis amostradas, anomalia da área estimada da PQATSO (MAM), descrita como a variável 24 dependente (y) e, a média de ATSM na região 3.4 do Pacífico, descrita como variável independente (x), variando no tempo é tal que: H0: ρ 0 H1: ρ 0 O teste da força da hipótese alternativa contra uma hipótese de não correlação ou hipótese nula para sugere que há probabilidade de ocorrer um valor extremo de correlação, o qual pode ser visualizado sobre o domínio da PQATSO. Quanto ao tamanho da área da PQATSO estimada no presente trabalho, utilizou-se uma função que permite integrar ponto a ponto as temperaturas de superfície do mar em regiões fechadas, descrito na Seção 2.1, a partir das latitudes e longitudes, considerando-se a curvatura da terra, sendo fornecido um valor em cada trimestre MAM da amostra de 1982 a 2017 e disponibilizado em um gráfico de frequências relativas das anomalias para as devidas análises. Os procedimentos utilizados para as reanálises (Era ínterim) foram repetidos para a base de dados (National Oceanic and Atmospheric Administration – NOAA) com respeito às correlações defasadas de ATSM com a região 3.4 do Pacífico e com base na variabilidade sazonal do comportamento da PQATSO, discutido por Cintra (2015), e nas correlações defasadas com eventos forte e muito forte de El Niño (5 anos) e eventos fortes de La Niña (5) para os trimestres (DJF) e (SON), como também foram analisados os histogramas de anomalias a área estimada da piscina, dando suporte à avaliação dos resultados gerados para a variável TSM (Era Interim). Para a obtenção dos resultados todos os cálculos e figuras foram viabilizados em algoritmos executados por software disponível gratuitamente na Internet, com o uso da ferramenta Octave. 25 4. RESULTADOS 4.1 ANÁLISES DAS CORRELAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS COM A REGIÃO 3.4 DO PACÍFICO (ERA INTERIM) Com o intuito de se verificar a existência de correlações entre as anomalias do Pacífico Equatorial que podem influenciar remotamente o Atlântico Tropical serão apresentadas correlações espaço-temporais entre essas regiões, sendo a PQATSO representada pela linha preta contínua como a média dos meses MAM. A Figura 4 mostra que há correlações significativas ao nível de 5% em modo dipolo, onde são observados núcleos de correlações positivas maiores que 0,5,ao norte da borda da piscina entre (~ 40°W – 25°W, ~ 5°N – 15°N) e núcleos de correlações negativas menores que -0,5 em (~ 10°W – 20°W, ~ 5°S e 0°) localizados sobre a área da PQATSO, referem-se a uma região onde as temperaturas são inferiores a 28°C. As correlações mais fortes encontram-se ao sul da borda africana da piscina, na região de ressurgência, fora da abrangência da isoterma de 28°C. No tempo 0 ocorre associação inversa à média das anomalias de TSM da região 3.4 e na maior parte da área da piscina, próxima a costa brasileira e africana, não há qualquer relação com o fenômeno. 26 Figura 4 - Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses MAM) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). Fonte: Autoria própria A Figura 5 mostra uma abrangência maior de correlações positivas significativas entre média de anomalias de T2m e a média de anomalias de TSM na região 3.4 do pacífico, dentro da área da piscina. Uma grande região de não correlação, próxima à costa africana e costa leste do nordeste são observados. Núcleos de correlações negativas mais fortes encontram-se ao sul da borda da piscina, na região de ressurgência, fora da abrangência da isoterma de 28°C. No tempo 0 a temperatura a 2m apresenta-se em associação linear direta com o fenômeno na costa brasileira. 27 Figura 5 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses MAM) e T2m sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). Fonte: Autoria própria A Figura 6 mostra que há correlação significativa ao nível de 5% em setores onde são observados núcleos de correlações positivas maiores que 0,5, ao norte da borda da piscina entre (~ 40°W – 30°W, ~0°N – 10°N) e fora da abrangência da isoterma de 28°C. Persistem as correlações mais fortes ao sul da borda africana da piscina, na região de ressurgência, fora da incidência da isoterma de 28°C. No tempo -1(defasagem temporal de 3 meses) ocorre associação inversa à média das anomalias de TSM da região 3.4, embora em modo mais fraco e na maior parte da área da piscina, próxima a costa brasileira e africana, não há qualquer relação com o fenômeno. 28 Figura 6 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). Fonte: Autoria própria A Figura 7 mostra aumento da abrangência de correlações positivas significativas entre média de anomalias de T2m e a média de anomalias de TSM na região 3.4 do pacífico, dentro da área da piscina e diminui a região de não correlação, próxima à costa africana. Núcleos de correlações negativas, ao sul da borda da piscina, apresentam-se enfraquecidas, na região de ressurgência, fora da incidência da isoterma de 28°C. No tempo -1(defasagem temporal de 3 meses), a temperatura a 2m apresenta-se em associação linear direta com o fenômeno, na costa brasileira e sugere que as camadas atmosféricas mais próximas à camada superficial oceânica começam a responder, demonstrando setores localizados de aquecimento. 29 Figura 7 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e T2m sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). Fonte: Autoria própria A Figura 8 mostra que há correlação significativa ao nível de 5% em setores onde são observados núcleos de correlações positivas maiores que 0,5, ao norte da borda da piscina entre (~ 50°W – 30°W, ~0°N – 10°N) e (~ 45°W – 20°W) ao sul de 22,5°S, fora da abrangência da isoterma de 28°C e núcleo de correlação negativo em (~ 0°W – 25°W, ~ 5°S e 0°). Persistem as correlações mais fracas ao sul da borda africana da piscina, na região de ressurgência, fora da incidência da isoterma de 28°C. No tempo -2 (defasagem de 6 meses) ocorre associação direta com a média das anomalias de TSM da região 3.4, embora em modo mais fraco, com orientação ao norte e ao sul das bordas da isoterma de 28°C e na maior parte da área da piscina, não há qualquer relação com o fenômeno. 30 Figura 8 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). Fonte: Autoria própria A Figura 9 mostra um padrão de correlações parecido com o observado entre as correlações de ATSM da região 3.4 do Pacífico e ATSM sobre a área da piscina (defasagem de 3 meses). Esse padrão se mantém com a região de não correlação, próxima à costa africana. Um Núcleo de correlações negativas, ao sul da borda da piscina, apresenta-se mais enfraquecidas em relação ao tempo -1, na região de ressurgência, fora da incidência da isoterma de 28°C. No tempo -2 (defasagem de 6 meses), a temperatura a 2m apresenta-se em associação linear direta com o fenômeno, na costa brasileira e sugere que as camadas atmosféricas mais próximas à camada superficial oceânica mantêm a resposta, demonstrando setores localizados de aquecimento idênticos aos setores observados no tempo -1(defasagem de 3 meses), conforme as correlações calculadas. 31 Figura 9 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e T2m sobre o Atlântico Tropical (meses MAM). Fonte: Autoria própria 4.2 ANÁLISE DAS CORRELAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS COM A REGIÃO 3.4 DO PACÍFICO (NOAA) Com intuito de testar um banco de dados de TSM observados em relação às correlações entre oceano Pacífico equatorial e Atlântico Tropical, serão utilizados a partir daqui os dados de TSM de interpolação ótima da NOAA. A Figura 10 mostra que as correlações significativas ao nível de 5% em modo dipolo se mantêm observadas com núcleos de correlações positivas maiores que 0,5, visivelmente mais fortes, ao norte da borda da piscina entre (~ 40°W – 20°W, ~ 5°N – 15°N), e núcleo de correlações negativas menores que -0,5 em (~ 10°W – 20°W, ~ 5°S e 0°). As correlações mais fortes encontram-se ao sul da borda africana da piscina, na região de ressurgência, fora da abrangência da isoterma de 28°C. No tempo 0 ocorre associação inversa com a média das anomalias de TSM da região 3.4 e associação direta com a média das anomalias de TSM da região 3.4, apenas na costa da Guiana Francesa e na maior parte da área da piscina, próxima a costa brasileira e africana, não há qualquer relação com o fenômeno. 32 Figura 10 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses MAM) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Fonte: Autoria própria A Figura 11 mostra que há correlação significativa ao nível de 5% em setores onde são observados núcleos de correlações positivas maiores que 0,5, ao norte da borda da piscina entre (~ 50°W – 30°W, ~0°N – 15°N) e fora da abrangência da isoterma de 28°C, bem como núcleo de correlações negativas entre (~ 5°W – 20°W, ~ 5°S e 0°) e correlações mais fortes ao sul da borda africana da piscina, (~ 0° – 20°E, ~ 10°S e 20°S) na região de ressurgência, fora da incidência da isoterma de 28°C. No tempo -1 (defasagem de 3 meses) ocorre associação inversa com a média das anomalias de TSM da região 3.4, embora em intensidade mais fraca dentro do círculo delineado, associação direta com a média das anomalias de TSM da região 3.4, próxima à costa da Libéria e mais intensamente na costa da Nigéria, próxima à costa da Guiana Francesa e em pontos da costa norte e leste do Brasil e na maior parte da área da piscina, não há qualquer relação com o fenômeno. 33 Figura 11 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Fonte: Autoria própria A Figura 12 mostra que há correlação significativa ao nível de 5% em setores onde são observados núcleos de correlações positivas maiores que 0,5, ao norte da borda da piscina entre (~ 50°W – 30°W, ~0°N – 10°N) e (~ 45°W – 20°W) ao sul de 22,5°S, fora da abrangência da isoterma de 28°C e núcleode correlação negativa, embora mais fraca e menor que 0,5. Persistem as correlações ao sul da borda africana da piscina, na região de ressurgência, fora da incidência da isoterma de 28°C entre (~ 5°W – 15°E, ~ 10°S e 20°S). No tempo - 2 (defasagem de 6 meses) as associações diretas com a média das anomalias de TSM da região 3.4 ocorrem, embora menos intensas, dentro da área da piscina, próximas ao limite da isoterma de 28°C, à costa brasileira, e na costa da Nigéria, com núcleo mais intenso, e na maior parte da área da piscina, não há qualquer relação com o fenômeno. 34 Figura 12 – Correlação de ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Fonte: Autoria própria 4.3 ANÁLISE DAS CORRELAÇÕES ESPAÇO-TEMPORAIS COM A REGIÃO 3.4 DO PACÍFICO EM EVENTOS EL NIÑO E LA NIÑA Para as análises das correlações defasadas foram selecionados os eventos mais intensos de El Niño e La Niña, com o intuito de obter as correlações espaço- temporais NOAA, de Reynolds (2002). A figura 13 foi adaptada, levando-se em conta o índice oceânico ONI (OCEANIC NINO INDEX) calculado com base na média das anomalias de TSM de três meses seguidos relativa à Região 3.4 do Pacífico (5oN-5oS, 120oW-170oW), utilizada como padrão para identificar eventos de El Niño e La Niña pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). O critério de seleção dos eventos foi baseado na classificação do índice ONI, em que são considerados eventos fortes de El Niño ou 1,5 < ONI < 2,0 (1987, 1991), muitos fortes ou ONI 2,0 (1982, 1997, 2015) e, os eventos de La Niña forte ou -1,5 < ONI < -2,0 (1988, 1998, 1999, 2007, 2010), conforme segue: http://ggweather.com/enso/enso_regions.jpg 35 Figura 13 – Índice Oceânico Nino - Eventos El Niño/La Niña (1982 – 2017) Fonte: Autoria própria A Figura 14 mostra que as correlações significativas ao nível de 5% com núcleos de correlações positivas maiores que 0,8, ao norte da borda da piscina entre (~ 50°W – 45°W, ~ 5° – 10°N), dentro da área da piscina apenas um setor se destaca entre (~ 50°W – 45°W, ~ 0° – 5°N) e núcleo de correlações negativas menores que 0,5 encontram-se ao sul da borda da piscina, fora da abrangência da isoterma de 28°C. No tempo 0 as associações diretas com eventos de El Niño forte e muito forte mostram-se visível, em um único setor dentro da abrangência da isoterma de 28°C, com a área de correlação nula, em praticamente toda a extensão da piscina. 36 Figura 14 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Episódios de El Niño forte (1987, 1991) e muito forte, (1982, 1997, 2015). Fonte: Autoria própria A Figura 15 mostra alguns pontos de correlações significativamente positivas maiores que 0,7, localizados próximos à borda norte da piscina e um ponto interno à piscina, próximo à costa de Ghana. Pontos de correlações negativas menores que 0,5 encontram-se dentro da abrangência da isoterma de 28°C. No tempo -1 (defasagem de 3 meses) as correlações baseadas em eventos fortes de La Niña não oferecem elementos para inferir algum efeito do fenômeno para a área de estudo, dado que a área de não correlação se amplifica, consideravelmente. 37 Figura 152 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses DJF) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. La Niña forte (1988, 1998, 1999, 2007, 2010). Fonte: Autoria própria A Figura 16 mostra que há correlação significativa ao nível de 5% em setores onde são observados núcleos de correlações positivas maiores que 0,8, acima da borda norte da piscina, entre (~ 50°W – 40°W, ~0°N – 10°N) e mais acima, entre (~ 60°W – 40°W, 10°N – 20°N); próximo à costa do Brasil e ao longo do contorno da borda sul, com correlações abaixo de 0,8 e dentro da abrangência da isoterma de 28°C, em pontos isolados, com destaque ao ponto próximo à costa da Nigéria e visível diminuição da área de não correlação. Apenas um núcleo de correlação negativa abaixo de 20°S entre (5°W – 20°W), menor que 0,5. No tempo – 2 (defasagem de 6 meses) as associações diretas com eventos de El Niño forte e muito forte mostram-se visivelmente mais fortes, mais ampliadas próximas às bordas quando comparadas às correlações baseadas apenas nas anomalias da região 3.4 do Pacífico. Um aspecto importante trata da retração da área de correlação nula, confirmando o que era esperado no estudo. 38 Figura 16 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. Episódios de El Niño forte (1987, 1991) e muito forte, (1982, 1997, 2015). Fonte: Autoria própria A Figura 17 mostra alguns pontos localizados de correlações significativas com núcleos de correlações positivas maiores que 0,6, próximos à borda norte e pontos de correlações negativas menores que 0,5 dentro da abrangência da isoterma de 28°C. No tempo -2 (defasagem de 6 meses) as correlações baseadas em eventos fortes de La Niña não oferecem elementos para inferir algum efeito do fenômeno para a área de estudo, dado que a área de não correlação se amplifica, consideravelmente, mostrando apenas um ponto de relação inversa dentro da área de abrangência da isoterma de 28°C. 39 Figura 17 – Correlação da ATSM região 3.4 no Pacífico equatorial (meses SON) e ATSM sobre o Atlântico Tropical (meses MAM) - NOAA. La Niña forte (1988, 1998, 1999, 2007, 2010). Fonte: Autoria própria A avaliação das correlações espaço-temporais obtidas com a base de dados NOAA sugere que um sinal positivo do fenômeno para o trimestre de referência MAM, pode ser captado com defasagem de 2 tempos, conforme apresentado na Figura 12. Isto indica que as anomalias de TSM sobre a PQATSO estão respondendo diretamente à ATSM da região 3.4 do Pacífico. Um padrão semelhante já havia sido indicado pela TSM do Era-Interim, contudo os dados de TSM OISST NOAA possuem uma maior confiabilidade. A qualidade dessa informação é atribuída a uma interpolação ótima da temperatura da superfície do mar, ajuste de dados coletados in situ e erros corrigidos por dados de satélite, com frequência mensal e grade de lado de 1°, baseados em uma versão atualizada, amplamente. (REYNOLDS et al., 2002). Um núcleo de correlações negativas dentro da área de abrangência da isoterma de 28°C aparece em todas as figuras obtidas com os dados NOAA e apontam para uma relação inversa com as anomalias da região 3.4. No entanto, isso se deve, provavelmente, a outro modo de variabilidade sobre a região da língua fria. 40 Nessa região um processo de difusão que distribui calor das águas superficiais, espalha ou adentra na camada de mistura e pode ser atribuído a outro modo de variabilidade. (CINTRA et al., 2015). As correlações explanadas na análise na Figura 12, sem a consideração de eventos de El Niño, já apontavam a existência de anomalias quentes sobre a área da piscina que se forma no outono austral e se extingue no inverno austral, com pleno desenvolvimento no mês de abril. Desse modo, uma indicação da contribuição do fenômeno foi observada, especificamente, no tempo -2 (SON), quando há mais indícios de sua atuação na configuração da PQATSO, formando-se ao longo da costa nordestina, dentro da região de abrangência da isoterma de 28°C, em relações diretas com as anomalias da região 3.4 do Pacífico. A partir da consideração de eventos fortes de El Niño (1987, 1991), muitos fortes (1982, 1997, 2015), as correlações defasadas maiores que 0,8 foram observadas ao norte da borda norte da piscina, embora o sinal do fenômeno tenha sido ainda mais forte sobre a PQATSO no tempo 2 do que a relação vista no tempo 0 e no tempo -1. Em contrapartida,quando são inseridos os eventos de La Niña forte (1988, 1998, 1999, 2007, 2010) não se verifica qualquer influência do fenômeno, em correlações defasadas no tempo 0, -1 e -2 sobre a área da piscina. Quanto ao sinal do fenômeno em camadas mais superficiais da atmosfera, supõe-se que algum fator com causas remotas, pode elevar a T2m, em grande parte da PQATSO, bem como sobre a linha de 0° que se estende dentro da região abrangida pela isoterma de 28°C, com correlações moderadas (> 0,7), indo além dessa região, ao norte de 0° entre (50°W – 30°W), no tempo 0 e -1, tornando-se mais forte no tempo -2 (SON). 4.4 AVALIAÇÕES DAS ANOMALIAS DE ÁREAS (ERA INTERIM X NOAA) Com o propósito de verificar a evolução temporal das anomalias de área da PQATSO, foram gerados dois histogramas usados na análise e verificação da qualidade dos dados (NOAA). Esse procedimento permitiu analisar as diferenças da 41 área estimada da PQATSO, para o trimestre de referência (MAM), conforme as figuras a seguir: Figura 18 – Histograma da anomalia da área da PQATSO (média dos meses MAM) – Era Interim (1982 – 2017). Fonte: Autoria própria O tamanho da amostra da variável SST Era Interim (MAM) foi reduzido de 39 anos para 36 anos, permitindo-se assim, uma comparação entre os histogramas de anomalias da área da piscina para ambas as reanálises. 42 Figura 19 – Histograma da anomalia da área da PQATSO (média dos meses MAM) – NOAA (1982 – 2017). Fonte: Autoria própria Nos primeiros anos, entre (1982 – 1993), anomalias negativas de área da PQATSO são representadas usualmente em estimativas NOAA (10 anos) e estimativas Era Interim (11 anos), indicando que a área delimitada pela isoterma de 28°C diminui em relação ao seu tamanho climatológico, em ambas as bases de dados, nesse período. A maior redução da área estimada da piscina, segundo as reanálises NOAA ocorreram nos anos de 1993, 1997 e 2012. Em contrapartida, as estimativas Era Interim subestimam as anomalias negativas, nos anos de 1993 e 2012, em 1997, há aumento de área, o que não é visto em estimativas NOAA. Quanto às anomalias positivas da área estimada em relação ao seu tamanho climatológico, as reanálises NOAA computam dois picos de aumento (1998, 2010), e as reanálises Era Interim computam quatro picos (1994, 2006, 2007 e 2013). Ainda em relação ao aumento da área estimada, observado em (CINTRA, 2015), a área da PQATSO teve o seu maior valor alcançado em abril de 2010, ao passo que em 2012 houve a maior retração de área da PQATSO, o que não foi observado, quando são usadas as reanálises Era Interim. 43 Logo, pelas diferenças apontadas quanto ao comportamento em relação à média, ao longo dos 36 anos, fica evidente que as estimativas não correspondem, em muitos aspectos, dado o descompasso entre as informações mais relevantes. A Tabela 1 refere-se às correlações de anomalias de área da PQATSO e anomalia de TSM na região 3.4 do Pacífico com seus respectivos valores de probabilidade. Tabela 1 – Correlações de anomalia da área PQATSO – Região 3.4 (ERA x NOAA) ANOMALIA TSM NIÑO 3.4 (170°W – 120°W, 5°N – 5°S) ANOMALIA ÁREA ERA INTERIM (MAM) ANOMALIA ÁREA NOAA REYNOLDS (MAM) CORRELAÇÃO P-VALOR CORRELAÇÃO P-VALOR MAM ERA -0,0023 0,98 - - MAM NOAA - - -0,0840 0,38 DJF 0,00090 0,99 0,1140 0,24 SON 0,0300 0,74 0,2210 0,023 Fonte: Autoria própria Observa-se que a relação entre as anomalias é inversa e, apesar de muito fraca no trimestre (MAM). À medida que se retrocede no tempo tem-se que as correlações aumentam, ao passo que seus p-valores vão diminuindo, embora se apresentem insignificantes, mostrando que não há correlação entre as variáveis quando as reanálises Era Interim são usadas. A exceção única fica restrita ao trimestre (SON), no qual se observa uma correlação fraca, porém significante estatisticamente, que as anomalias de área da PQATSO sofrem uma fraca influência do fenômeno estudado. 44 5. DISCUSSÃO Apesar das correlações significativas indicarem um sinal fraco do fenômeno sobre a PQATSO, os resultados principais são congruentes que a força do sinal aumenta na presença de eventos fortes e muito fortes de El Niño, além da abrangência da isoterma de 28°C. Essas considerações sugerem que, em episódios de El Niño fortes e muito fortes, o padrão Pacific South American (PSA), outro modo da variabilidade do oceano Pacífico, intrínseco à Região 3.4, esteja em plena atividade na primavera austral, indicando a possibilidade de que esse padrão venha a contribuir com o aumento de TSM, fora dos limites da PQATSO, no trimestre MAM. A despeito dos processos físicos responsáveis pelo aparecimento e extinção da PQATSO, sabe-se que fatores oceânicos e atmosféricos podem resultar em maior conteúdo de calor na camada de mistura e favorecer regiões de aquecimento do ATSO. Uma investigação baseada na reprodução das condições dinâmicas e termodinâmicas da camada mais superficial do oceano buscou identificar os mecanismos responsáveis pelo comportamento do conteúdo de calor na camada de mistura da ATSO, a partir de uma configuração da piscina quente sazonal, simulada numericamente com o uso do Regional Ocean Modeling System (ROMS). (CINTRA et al., 2015). Nesse estudo, os diagnósticos numéricos indicaram tendência das temperaturas da superfície do mar ao longo de uma ocorrência sazonal bem marcada (março-abril-maio) e como a forçante superficial predominou sobre os outros termos oceânicos (advecção e difusão vertical) tendo desempenhado um papel decisivo, para explicar o surgimento e a extinção da PQATSO. (CINTRA et al., 2015). Além disso, a variabilidade sazonal da temperatura média e o conteúdo de calor dentro da camada de mistura sugerem igualmente a supremacia da forçante superficial (balanço radiativo e os ventos) sobre os termos oceânicos, levando a acreditar que a atmosfera tenha desempenhado um importante papel em determinar a temperatura dentro da camada de mistura. (CINTRA et al., 2015). 45 6. CONCLUSÃO Esse estudo observou pontos importantes do comportamento interanual da PQATSO e seu caráter exploratório visou identificar um sinal da influência remota da região 3.4 do Pacífico equatorial no desenvolvimento das anomalias de TSM no AT e anomalias de área da PQATSO, delimitada pela isoterma de 28°C. Tratando-se de uma abordagem estatística simples, a relação encontrada baseou-se apenas em correlações de Pearson significativas ao nível de 5%, demonstrando evidências fracas do fenômeno, cuja influência não foi devidamente separada da atuação dos outros modos que se sobrepõem à variabilidade sazonal do Atlântico tropical. A despeito da simplicidade, a metodologia lançou mão das reanálises de modelos atmosféricos do projeto Era Interim, com período amostral superior a 35 anos, sendo que as variáveis amostradas, uma atmosférica e outra oceânica, deveriam gerar informações confiáveis com respeito à configuração e ao comportamento sazonal da PQATSO ano a ano para o período de referência (MAM), o que não foi considerado satisfatório com a variável oceânica. Os dados de TSM NOAA foram inseridos para fornecer um parâmetro de comparação das informações da TSM Era Interim. Dessa forma, as informações puderam ser checadas e avaliadas no sentido de apontar alguma evidência sugestiva da relação direta do fenômeno, isoladamente, o qual se intensifica em anos de eventos fortes e muito fortes de El Niño, com sinal mais nítido no trimestre (SON), mantendo-se ao longo da abordagem, com as correlações de anomalias de TSM. De fato, foi constatado que no tempo -2 (SON), as correlações defasadas com a região 3.4 do Pacífico equatorial atingiram valores expressivos ao longo da isoterma de 28°C com orientação nas direções norte e sul da PQATSO, próximo àcosta do NEB, sendo visto comportamento semelhante para a variável atmosférica, com as reanálises Era Interim. Contudo, essa influência remota pode ter alguma associação com outro modo da variabilidade interna do Pacífico Equatorial, o PAS2 (Pacific South American, padrão 2), e pode contribuir com mudanças na circulação atmosférica da América do 46 Sul em virtude de sua influência no fortalecimento/enfraquecimento da alta subtropical do Atlântico Sul (ASAS), permitindo que um modo dipolo de TSM se forme no Atlântico Sul, com anomalias orientadas em forma de gradiente. (RODRIGUES; CAMPOS; HAARSMA, 2015). Também pode desencadear ciclones e anticlones ao sul da AS e provocar anomalias negativas de precipitação no NEB, quando associados a eventos de El Niño mais longos, agindo como uma precondição de TSM do Atlântico. (RODRIGUES et al., 2011). O sistema climático tende a ajustar a circulação atmosférica, quando há um desequilíbrio de energia provocado por aquecimento oceânico. Nas camadas superficiais do sistema acoplado oceano-atmosfera, quando um inicia o aquecimento (resfriamento) do outro, tem-se um processo termodinâmico de retroalimentação positiva (negativa). O aumento de temperatura a 2m pode advir das interações oceano- atmosfera, quando a dinâmica do oceano permite sua retroalimentação, como também, o inverso pode acontecer. Contudo nada pode ser afirmado sobre as causas desse aquecimento observado sobre a PQATSO, baseado apenas nas correlações encontradas. Além disso, para que os resultados reflitam a realidade, há de se considerar que as interferências entre a região 3.4 do Pacífico e área da PQATSO devem estar em fase para que a primeira exerça influência sobre a outra. Com base em todas as observações, conclui-se que os resultados apresentados apontaram uma possível contribuição do fenômeno El Niño precisamente ao norte do AT, entretanto, o estudo precisa seguir respondendo às questões alusivas ao comportamento da PQATSO a partir de uma metodologia mais refinada que contemple todos os pontos e limitações abordados. 47 REFERÊNCIAS CAVANCANTI, I. F. A. et al. Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. CHANG, P. et al. The cause of the fragile relationship between the Pacific El Niño and the Atlantic Niño. International Journal of Science, 443, 21 September 2006. 324–328. Disponível em : < https://www.nature.com/articles/nature05053 >Acesso em 201/12/2017. CINTRA, M. M. Processos termodinâmicos e hidrodinâmicos no oceano Atlântico Tropical Sudoeste. Universidade Federal do Paraná. [S.l.]. 2015. Disponível em:< http://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/40611> Acesso em: 02/12/2017. CINTRA, M. M. et al. 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