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Bruna Argolo COVID-19 CARACTERÍSTICAS VIROLÓGICAS: • Originários de morcegos – conhecidos há 800 anos. • Família Coronaviridae com aproximadamente 24 espécies. • Existem gêneros alfa, beta, gama e delta – apenas os gêneros alfa e beta são patogênicos para várias espécies de mamíferos, incluindo os humanos. • SARS-CoV-2 é um beta-coronavirus (covid-19). • Corona vem do latim coroa, devido ao aspecto na microscopia eletrônica, pois é um vírus que parece estar repleto de coroas ao seu redor, devido a conformação de uma proteína (proteína S). • Os coronavirus patogênicos para o homem conseguem infectar bem células ciliadas do trato respiratório humano. ✓ Inclui desde células da mucosa nasal, até a mucosa traqueal/brônquica, e no alvéolo esses vírus vão ser capazes de infectar os pneumócitos, principalmente os pneumócitos do tipo II. • Até o momento existem apenas 7 espécies de coronavirus que são capazes de causar infecções em humanos: HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63, HCoV-HKU1, SARS-CoV, MERS-CoV e SARS-CoV-2. • Os primeiros 4 coronavirus (HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63, HCoV-HKU1) causam doença respiratória leve, que usualmente nem são detectadas. ✓ O quadro é de um resfriado comum, com mal estar, nariz escorrendo, tosse, dor de garganta – um quadro de virose respiratória. ✓ Vários desses vírus já estavam circulando no estado da Bahia antes do início do SARS-CoV-2. ✓ Em neonatos o quadro pode ser um pouco mais acentuado, ocorrendo um processo de traqueobronquite. • Os outros 2 coronavirus (SARS-CoV, MERS-CoV) que existiam antes do SARS- CoV-2 já eram considerados altamente patogênicos. ✓ O SARS-CoV é o coronavirus responsável pela síndrome respiratória aguda grave – responsável por uma epidemia na China em 2002, com aproximadamente 8000 casos da doença e uma letalidade de aproximadamente 10%. Esse vírus também foi isolado de morcegos e revelou uma transmissão zoonótica e para humanos. ✓ Em 2012 houve um surto de um outro coronavirus, que começou na Arábia Saudita. Esse é um vírus causador da síndrome respiratória grave no oriente médio, o MERS- CoV, e sua taxa de letalidade era de aproximadamente 40%, mas os dados da OMS revelam apenas aproximadamente 2800 casos. Ele foi isolado de camelos. • Em dezembro de 2019 o SARS-CoV-2 aparece. É um vírus patogênico, que tem uma letalidade de aproximadamente 4%, mas que tem um potencial de transmissão gigante. ✓ Mais de 20 milhões de casos já foram notificados no mundo. SARS-COV-2: • 3° coronavirus com elevado potencial patogênico a cruzar a barreira entre espécies. ✓ Na verdade, o SARS-CoV-2 chega a 99% de semelhança genética com alguns outros coronavirus que causam doença em morcegos, mas ele especificamente ainda não foi identificado em nenhuma espécie. Ou seja, o SARS-CoV-2 não foi encontrado exatamente igual é encontrado em humanos em nenhuma outra espécie, mas o que se encontrou nos morcegos se aproxima 99%. • Vírus RNA fita simples, positivamente orientado. • Envelopado. Bruna Argolo • Diversas proteínas da superfície. ✓ “Spike” proteína (proteína S) é a responsável pela ligação ao receptor celular. • Entrada na célula humana através do receptor da enzima conversora de angiotensina tipo 2 (ECA2 ou ACE2). ESTRUTURA DO SARS-COV-2: • Coronavirus são peplômeros em forma de coroa, RNA fita única, de sentido positivo, na forma pleomórfica com tamanho de 80-160 nm. • Peplômeros são estruturas proeminentes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídeos, as quais são encontradas expostas na superfície do envelope viral de certos vírus como o coronavirus. • Coronavirus apresentam RNA fita única, proteína de nucleocapsídeo, uma proteína de envelope, proteína de membrana e uma glicoproteína saliente denominada “spike”. PROTEÍNA S (spike): • 2 subunidades: S1 e S2. ✓ S1 subunidade em 3 domínios: A, B, C. ✓ MERS-CoV usa tanto os domínios A quanto B para entrar na célula através da ligação com o receptor DPP4 (Dipeptidil peptidase 4). ✓ SARS-CoV-2 e SARS-CoV entram na célula através da interação direta com o domínio B, que se liga ao receptor da ACE2. • A estrutura da proteína S em ambos SARS-CoV e SARS-CoV-2 são muito semelhantes. ✓ No entanto há 5 aminoácidos diferentes no sítio de ligação da proteína S1 no SARS-CoV-2 em relação ao SARS-CoV – essa diferença possivelmente explica a maior afinidade da ligação da proteína S1 do SARS-CoV-2 ao receptor ACE2 na célula respiratória. • Um sítio de clivagem polibásico (RRAR) está presente no local de união da subunidade S1 e subunidade S2 da proteína spike no SARS-CoV-2. ✓ Isso somente ocorre no SARS-CoV-2, nenhum outro beta-coronavirus possui essa propriedade. ✓ Isso se relaciona a patogenicidade desse vírus. • Além disso, o resíduo de prolina também é introduzido antes deste local de clivagem, e a sequência do SARS- CoV-2 torna-se PRRA (sequenciação única de proteínas em SARS-CoV-2). ✓ Nesse local de clivagem ocorrem ligações glicanas com o oxigênio. • Esse recurso leva à adição de glicans ligados através de pontes com oxigênio para S673, T678 e S686, que flanqueiam o local de clivagem. • O receptor ACE2 da enzima de conversão do angiotensinogênio está presente na superfície de células respiratórias – ciliadas e pneumocitos tipo 2 – e se liga a porção do domínio de ligação do receptor da proteína S. • A ligação ocorre próximo ao local de clivagem. Quando ocorre a ligação o local de clivagem é modificado e a ligação se torna covalente. ADESÃO: • Os coronavirus entram na célula, particularmente os pneumócitos tipo 2, através da ligação com receptores ACE2 para o SARS-CoV-2 e CD90L para o SARS-CoV. • No SARS-CoV-2 o domínio de ligação do receptor da subunidade S1 se liga ao receptor ACE2, enquanto a subunidade S2 facilita a fusão entre o hospedeiro e a membrana viral. ✓ No sítio de clivagem polibásico há uma modificação da subunidade S2 e isso facilita a ligação entre a célula do hospedeiro e a membrana celular viral. • Os locais de clivagem da furina facilitam uma ligação muito forte da S-glicoproteína com o receptor hACE2 (ACE2 humano) de SARS-CoV-2. A clivagem de ‘S’ ocorre no limite entre as subunidades S1 e S2 que é de natureza não covalente. ENTRADA: • Normalmente a protease lisa a proteína presente entre as subunidades S1 e S2 após sua ligação com o receptor hACE. Esta lise faz mudanças na conformação, tornando-a covalente (irreversível), o que aumenta a afinidade de ligação da proteína e transforma a proteína para a fusão. • Os locais de clivagem da furina e locais de ligação ao receptor modificados da subunidade S1 podem ser as razões prováveis por trás da transmissão rápida, replicação e infectividade desse vírus. Bruna Argolo LIBERAÇÃO DO NUCLEOCAPSÍDEO NO CITOPLASMA: • Por via de endocitose ou por entrada direta a partícula viral penetra na célula e o nucleocapsídeo é liberado no citoplasma. O vírus vai se despir do seu envelope lipídico, que o ajudou a penetrar na célula, e libera o seu nucleocapsídeo no citoplasma. • RNA-sense+ inicia de imediato a tradução/translação para 2 grandes polipeptídios: pp1a e pp1ab. ✓ Esse processo ocorre de imediato pois ele já é o RNA mensageiro pronto. • Essas poliproteínas (pp1a e pp1ab) são clivadas por proteases: Papaina-simile protease (PLpro) e 3C-smile protease (3CLpro), dando origem a proteínas não-estruturais: NSP1-11 e NSP1-16. ✓ Proteínas não-estruturais são fundamentais para todo o processo de produção do vírus – para levar parte do vírus para dentro do RER e orientar produção de proteínas virais. ✓ Essas proteínas (NSP1-11 e NSP1-16) serão responsáveis pela replicação do RNA viral e pela transcrição de proteínas -> replicase (responsáveis pela replicação do RNA viral) e transcriptase (responsáveis pela transcrição do material genético). PROCESSO DE PRODUÇÃO VIRAL: • Replicaseatua na porção (1/3) do RNA viral ponta negativa (não-transcrita) passando para m-RNA-sense+ que irá sofrer transcrição em novos RNa-mensageiros para a produção de proteínas estruturais, como as do envelope, da membrana, as Spike, hemaglutinina, etc. ✓ A ponta positiva do RNA entra na célula e já vai direto fazendo a transcrição das poliproteínas pp1a e pp1ab, que posteriormente são clivadas por proteases nas proteínas não-estruturais NSP1-11 e NSP1- 16. ✓ A ponta 3’ não consegue transcrever direto, então a replicase atua cria uma outra fita de RNA mensageiro positivo, que pode ser transcrito. • A replicase é responsável também pela replicação completa do RNA – reproduz o RNA para os novos vírus. • Juntamente com as proteínas estruturais, o nucleocapsídeo se une e se dirige para a membrana celular, para junto com as proteínas que estão na superfície, se unirem e o novo vírion ser liberado. ✓ Proteínas estruturais são aquelas que ficam na estrutura do vírus – do envelope, da membrana. RESUMINDO: • O SARS-CoV-2, vírus envelopado com spike proteínas, realiza a ligação da sua coroa com os receptores de ECA2. • O vírus vai penetrar (por endocitose ou via direta) e se despir, liberando o nucleocapsídeo. • O RNA vai ser exposto. Esse RNA tem a ponta 3’, que não transcreve de imediato, e a ponta 5’. Como ele é orientado no sentido 5’, ele já consegue transcrever. • Ocorre a translação para a produção dos polipeptideos (pp1a e pp1ab), que ao sofrerem a ação das proteases, se transformam nas proteínas não-estruturais. As proteínas não- estruturais são fundamentais para montar o vírus. • Uma dessas proteínas é a replicase, que age na ponta 3’ para fazer a transcrição de um novo RNA mensageiro, que vai produzir uma serie de RNAs mensageiros, que irão produzir várias proteínas estruturais no RER. • A replicase também atua na replicação do vírus, ao produzir novos RNAs. • As transcriptases junto com as replicases, atuam na produção das proteínas estruturais, que começam a se juntar ao redor do RNA recentemente produzido. Ao se fechar, temos o nucleocapsídeo, que vai ser expelido pela célula para contaminar novas células. TRANSMISSÃO: • Como muitos vírus respiratórios, SARS-CoV-2 pode se espalhar através de pequenas gotículas liberadas do nariz e boca de um individuo infectado ao tossir ou espirrar. Como estimativa, um único movimento de tosse pode produzir até 3.000 gotas. Bruna Argolo • Essas gotas não caem apenas nos indivíduos ao redor do paciente infectado, mas também pousam em vários tipos de superfícies, e dependendo do tipo de superfície, o vírus é capaz de permanecer por um certo número de horas. • O vírus pode ser transmitido se um individuo tocar em um objeto ou superfície contaminada e, em seguida, tocar em suas membranas mucosas, como nariz, olhos ou boca. ✓ A principal forma de transmissão é respiratória, sendo a transmissão através de superfícies sendo considerada rara. • O SARS-CoV-2 pode ficar em gotículas no ar por até 3 horas, em superfícies porosas (papel, papelão, tecidos...) por até 24 horas e em superfícies duras (vidro, plástico, aço...) por até 72 horas. • TRANSMISSÃO RESPIRATÓRIA: ✓ A transmissão é basicamente por gotículas respiratórias que tem entre 2 e 5 micra e são transportadas através da fala, da tosse e de espirros. ✓ A transmissão se relaciona a quantidade de partículas virais presentes nas secreções e o período de transmissibilidade situa-se entre 1 dia antes do início dos sintomas até no máximo 12 dias após iniciados os sintomas. Estabeleceu-se uma quarentena de 14 dias a partir do início dos sintomas para que se tenha uma margem de segurança. ✓ Medida de infectividade pelo número de reprodutibilidade basal – Rho – representa quanto em média 1 individuo transmite eficazmente a doença. ✓ Ex: Se um indivíduo infectado transmite para 3 pessoas o Rho dele é 3; um outro individuo infectado transmite para 1 pessoa, então o Rho dele é 1; quando vamos olhar o Rho pra essa doença, levando em consideração esses dois indivíduos, tiramos uma média, 3 + 1 = 4, 4/2 = 2, então o Rho da doença é em média 2. ✓ Se existe um Rho acima de 1, a epidemia vai crescer de forma acentuada. Se existe um Rho igual a 1, a epidemia está sendo mantida, não está caindo e nem subindo. Se existe um Rho menor que 1, esse é o cenário ideal, pois a cada vez um número menor de pessoas será contaminada. ✓ A epidemia só se mantém se as pessoas infectadas transmitirem pelo menos para o mesmo número de pessoas que não estavam infectadas, ou seja, o Rho precisa ser de pelo menos 1. ✓ Se o Rho for igual a 2, isso significa que aquela quantidade de pessoas infectada está transmitindo para o dobro de pessoas, e isso é altíssimo. ✓ O Rho varia conforme o momento da epidemia. Quando uma epidemia começa todo mundo é susceptível àquela doença, ou seja, todo mundo pode ser infectado. É muito importante descobrir o Rho nesse momento para ter uma ideia de quantas pessoas vão se contaminar e adotar as medidas necessárias. ✓ Quando se estabeleceu a quarentena, a intenção foi intervir no Rho, diminuindo-o. ✓ Essa situação pode ser monitorada através da incidência. Ao ver quantos casos estão sendo notificados diariamente, e com isso é possível saber o Rho. Se isso está subindo diariamente, o Rho está acima de 1. Se diariamente os números começam a cair, o Rho é menor que 1. ✓ Na última estimativa feita na Bahia, o Rho era igual a 1,02 - o objetivo é que isso caia para menos que 1. ✓ Para cada realidade de cala local, podem ser estimados Rhos diferentes. Olhando as estimativas dos países, existe Rho de 1,90 e existe Rho de 6,47. ✓ A maior parte dos países apontou um Rho entre 3 e 4. TEMPO DE INCUBAÇÃO: • As estimativas para o período de incubação médio ou mediano variam de 4 a 6 dias (mas isso pode ir de 1 a 12 dias), comparáveis para SARS-CoV (4,4 dias) e MERS-CoV (5,5 dias em torno do mundo). • Cinco das nove estimativas indicam um período médio de incubação de 5 dias. PATOGÊNESE: • O SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA: ✓ Enzima conversora de angiotensina (ACE) e ACE2 são homólogos com diferentes funções-chave para o sistema renina-angiotesina. ✓ ACE cliva a angiotensina I para gerar engiotensina II, enquanto ACE2 inativa a angiotensina II e é um regulador negativo do sistema. ✓ ACE2 também recentemente foi identificado como um potencial receptor do vírus SARS e é expresso nos pulmões. ✓ OBS: ECA = ACE = enzima conversora de angiotensina. • PATOGÊNESE COVID-19: ✓ O receptor de ligação da subunidade S1 nas proteínas spike se liga ao receptor hACE2 que está presente principalmente nos pulmões, particularmente em pneumócitos tipo II. Bruna Argolo ✓ Isso leva à subsequente regulação negativa dos receptores hACE2. ✓ Essa regulação negativa de receptores ACE2 pode levar ao aumento da produção de angiotensina-2 (AT2) pela enzima relacionada ACE1. ✓ Aumento da produção de AT2aumenta potencialmente a permeabilidade vascular pulmonar e pode causar lesão pulmonar. FISIOPATOGENIA: • SARS-CoV-2 permite que células apresentadoras de antígeno que se ligam à célula dendrítica de um hospedeiro ativarem macrófagos, levando à reação imunológica grave resultando na liberação excessiva de citocinas pró- inflamatórias (IFN-α, IFN-γ, IL-1β, IL-6, IL-12, IL-18, IL-33, TNF-α, TGFβ, etc.) e quimiocinas (CCL2, CCL3, CCL5, CXCL8, CXCL9, CXCL10, etc.), chamada de ‘tempestade de citocinas’. • Esses mediadores inflamatórios danificam o revestimento das células epiteliais e atingem a circulação sanguínea onde causam danos a outros órgãos. • Então, o SARS-CoV-2 infecta os pulmões a partir dos receptores de ECA2, o que facilita o dano da AT2 no tecido pulmonar. Os macrófagos são ativados e há a produção de quimiocinas e citocinas inflamatórias, que levam à edema pulmonar, dispneia, síndrome respiratória agudae injuria aguda pulmonar. Essas citocinas inflamatórias também podem causar dano no fígado, aumentando transaminases, dano nos rins, elevando creatinina, podendo levar a uma insuficiência renal. As quimiocinas podem alterar também uma serie de fatores de coagulação, levando a tromboses e fenômenos tromboembólicos, como um embolismo pulmonar ou um AVC agudo, além de levar a alterações como leucopenia, pancitopenia, linfocitopenia... • Tem sido utilizados inibidores de IL-6 para tentar ajudar na resolução da tempestade de citocinas, pois as interleucinas têm muitos efeitos danosos quando há a sua produção exacerbada. • Drogas que são utilizadas para artrite reumatoide e outras doenças auto imunes tem sido utilizadas no tratamento da covid grave junto com corticoesteroides, objetivando essa inibição da interleucina nesse processo patogênico. DADOS MUNDIAIS EM 24.08.2020: Bruna Argolo APRESENTAÇÃO CLÍNICA: • Estima-se que pelo menos 30% de todos os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 não tenham sintomas clínicos (assintomáticos) – muitos estudos estimam uma porcentagem bem maior que essa, como veremos. • E que em torno de 55-60% apresentem sintomas leves gripais tais como febre, tosse, perda do paladar (ageusia) e olfato (anosmia), mialgias, astenia, dor de cabeça, e menos frequentemente diarréia e mal-estar abdominal. • Pacientes mais graves: estima-se que entre 10-15% do total de pacientes sejam hospitalizados por sintomas persistentes, e entre 20-40% desses pacientes hospitalizados evoluam para formas graves da doença, principalmente uma pneumonia viral severa. • No estágio 1 (infecção precoce) tem-se uma fase de reposta viral, onde a apresentação clínica é de sintomas constitucionais, como astenia, mialgia, dor de cabeça, tosse seca. Inicialmente os estudos reportavam com muita frequência a febre, mas depois se viu a febre é muito variável, e não é necessária para o quadro ser de Covid- 19. • No estágio 2 (fase pulmonar) você começa a ter uma resposta uma resposta inflamatória do hospedeiro. Os sintomas são tosse persistente e irritativa, falta de ar, desconforto torácico. Se houver uma piora nesse quadro o paciente passa para o estágio 3. • O estágio 3 seria uma fase de aumento da resposta inflamatória, com uma hiperativação de citosinas inflamatórias, o que leva a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), choque e manifestações tromboembólicas. • Para cada situação clínica dessa existem alterações laboratoriais. Existe a linfopenia, que é mais frequente na segunda fase, existe o aumento do tempo de protrombina, e o aumento da proteína C reativa (PCR). • Na fase 1 é possível ter uma TC completamente normal, já na fase pulmonar passa-se a observar os chamados infiltrados de vidro fosco (mais frequentes na fase inicial da doença – quando as alterações pulmonares são iniciais). Essas alterações pulmonares iniciais caminham para consolidações. Há um aumento progressivo da proteína C reativa e da linfopenia. Na fase 3, tem a PCR muito elevada, IL-6 também está bastante elevada e marcadores cardíacos podem estar elevados. OBSERVANDO ALGUNS ESTUDOS SOBRE COVID-19: ❖ Observando estudos da China: • É possível ver que a maioria dos pacientes que chegavam a se internar são do sexo masculino, assim como tem sido observado no Brasil. • É possível observar também que dos pacientes que foram internados, existem letalidades tão baixas quanto 1% e tão altas quanto 15% - alta variedade entre as letalidades de diferentes locais. • Observava-se a predominância da febre nos pacientes internados, até por conta da gravidade da doença. Existia um grande predomínio de febre, tosse, cefaleia, mialgia e astenia. • Alterações que chamam atenção são a linfopenia absoluta desses pacientes hospitalizados e a PCR aumentada. ❖ Observando uma revisão de mais de 10 estudos com estimativas de países variados: Bruna Argolo • Observam-se prevalências variadas e um elevado número de pessoas assintomáticas. - Em um presidio observou-se 96% de assintomáticos. - Em um abrigo observou-se 87,8% de assintomáticos. • Assim, pode-se concluir que provavelmente sejam muito mais de 30% (estimativa do início do resumo) dos infectados que fiquem assintomáticos. ❖ Observando pacientes não hospitalizados do Reino Unido e dos EUA: • 65% dos que testaram positivo perderam o paladar e o olfato. Esses sintomas são uma marca muito forte da Covid-19, de forma que os pacientes que apresentam esse sintoma, já podem considerar isso um marco. Esses sintomas se relacionam a subida do vírus pelo nervo olfatório. • A maioria dos pacientes retorna ao paladar e ao olfato normais de 2 a 4 semanas, mas existem pacientes que ficaram com essas alterações por mais de 2 meses. Como essa é uma lesão decorrente de um processo no nervo, e que chega ao bulbo olfatório, alguns pacientes (um número pequeno) podem nem recuperar essa sensibilidade. • Aproximadamente 50% dos pacientes referem tosse persistente. • A febre referida aqui por esses pacientes ambulatórias já difere do dado obtido nos estudos Chineses com pacientes hospitalizados. A febre nesse estudo corresponde a aproximadamente 30% dos pacientes. • A sensação de desconforto torácico também foi bastante relatada. • Nesse trabalho o Odds ratio, que é uma estimativa do risco relativo, foi de 6,74 para a perda do olfato/paladar. Isso mostra que esse é um preditor muito forte da Covid-19, mesmo que nem sempre apareça no início. Pode começar com febre, tosse, mal estar e pelo 2° ou 3° dia surge a perda do paladar/olfato. • Fadiga, perda do apetite, febre e tosses persistentes foram sintomas que fizeram uma diferenciação daqueles que testaram positivo para os que não testaram positivo. ❖ Observando um outro estudo sobre pacientes hospitalizados: • É um estudo sobre mais de 20 mil pacientes que se internaram por Covid-19 em 208 hospitais no Reino Unido. • A maioria dos pacientes apresentava tosse (70%), e mais ou menos a mesma quantidade apresentava febre. • A febre é um marcador para o paciente que vai internar. Se você tem um paciente com Covid-19 que começa a manter febre, ou que parou de ter febre, mas depois voltou, esse é um paciente que merece atenção, porque provavelmente vai precisar ser internado. • Então a febre persistente pode ser vista como um marcador do paciente que vai internar, assim como a tosse persistente também. A falta de ar também chama atenção para aquele paciente que vai internar (65% dos pacientes que se internam apresentam esse marcador). • No gráfico: roxo teve o sintoma, amarelo não teve o sintoma e rosa não tem informação sobre o sintoma. • Nesse estudo do Reino Unido, observou-se que idade, obesidade, doença cardíaca crônica, doença pulmonar crônica e doença renal crônica foram associados com o maior risco de óbito. - 15% dos pacientes internados foram UTI; - 37% pacientes em ventilação mecânica foram a óbito; - Principal causa de morte em pacientes graves = pneumonia viral, que leva a SRAG. SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG): • Quadro clínico: - Dispnéia - Paciente com desconforto respiratório - Saturação de oxigênio abaixo de 95% em ar ambiente - Exacerbação de doença pré-existente • A síndrome respiratória aguda grave decorre de edema pulmonar secundário ao aumento da permeabilidade de células endoteliais capilares pulmonares e células epiteliais alveolares, levando a hipoxemia. • Está associada com a infecção por inúmeros agentes virais tais como Influenza, VSR, coronavirus. Bruna Argolo MECANISMO DE LESÃO: • Replicação viral alveolar: - Ação local do virus se multiplicando nos alvéolos - o SARS-CoV-2 consegue se ligar e penetrar nas paredes alvéolares, levando à infecção dos pneumócitos do tipo 1 e 2, formando sincícios. • Resposta imune: - Produçãode citocinas - Genômica OBSERVANDO MAIS ESTUDOS SOBRE COVID-19: ❖ Resultado da autópsia de um homem de 50 anos com SARS-CoV-2: • Dano alveolar difuso com exsudato celular fibromixoide, descamação de pneumócitos e formação de membrana hialina: clássica apresentação patológica da SRAG. ❖ Associação com quadros mais graves: • Ao comparar pacientes com SRAG, com insuficiência respiratória severa, com os pacientes controle, chamou atenção o fato de que pacientes com tipo A sanguíneo e pacientes com a alteração cromossômica 3p21.31 tinham os quadros mais graves. • Além do dano alveolar pela penetração do virus, existe a resposta imune, e algumas pessoas acabam tendo uma resposta exacerbada na produção de citocinas, o que gera dano alveolar grave, SRAG com hipoxemia – outras pessoas não tem isso, provavelmnete porque a parte genomica não leva a essa resposta exacerbada. ❖ Sobre a hipoxemia: • A pressão arterial de CO2 altera a resposta do cerebro à hipoxia. • A tendencia quando a pessoa começa a fazer hipoxemia é ela hiperventilar, e assim ela gera a hipocapenia, por diminuir as concentraçoes de CO2 no sangue. • Mas porque isso contece? Porque o cerebro tem uma sensibilidade alta ao CO2, então se ele está alto a tendencia é hiperventilar para diminui-lo, e se o CO2 estiver baixo o cerebro interpreta que está tudo bem, mesmo que o O2 também esteja baixo, e por isso a hipoxemia não é vista como uma situação de angustia respiratoria (‘’hipoxia feliz’’). • E porque o CO2 abaixa com essa hiperventilação o O2 não aumenta? Porque o CO2 tem um potencial de difusão 20x maior que o O2. • OBS: PCO2 normal: de 35 a 45 mmHg. • O paciente hiperventila, mas chega uma hora que ele cansa, e quando a PCO2 aumenta, chegando a 39 mmHg, mesmo que ainda esteja detro da normalidade, isso muda a percepção do cerebro e ocorre um maior sofrimento respiratorio – aumenta a percepção da hipoxemia. • Diabeticos e pessoas com idade acima de 65 anos têm maior dificuldade em perceber a hipoxemia. • Quando existem concentrações normais de PO2 no sangue, uma faixa de 7L são inspirados por minuto, o que resulta de umas 15 ipm. • Quando a PO2 chega a 60, já é uma saturação baixa, e o paciente começa a aumentar a ventilação e chega a 10/12L inspirados por minuto. • Quando ele chega a uma PO2 de 45, ele chega a 15L inspirados, o que dá uma frequência respiratória de 30. • A depender do grau das PCO2, o paciente pode chegar a uma saturação de PO2 de 80 e continuar conversando com você. Por isso é muito importante avaliar a FR desses Bruna Argolo pacientes, porque uma FR acima de 20/25 é mandatória para já admitir o paciente no internamento. ❖ Estudos sobre radiologia: • Mostram que radiologistas da China e dos EUA conseguiam mostrar alta sensibilidade e de especificidade quando eram mostradas para ele TC de pacientes com Covid-19 e com outros quadros, como H1N1, por exemplo. • Quais os achados mais importantes nessa diferenciação? Distribuição periférica das lesões na Covid-19, assim como a aparência das lesões em vidro fosco, e o espessamento dos septos interlobulares. As lesões em vidro fosco evoluem para consolidações. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS QUE OCORREM PELA RESPOSTA INFLAMATÓRIA: • Tromboembolismo pulmonar • Acidentes vasculares cerebrais agudos • Injúria miocárdica • O SARS-CoV-2 não foi o primeiro a estar associados a trombose venosa profunda (TVP), o SARS, o MERS e o vírus da influenza também foram associados. No entanto, desde o início da pandemia muitos óbitos pelo SARS-CoV- 2 se relacionavam a distúrbios de coagulação intravascular disseminada. - Estudo sobre SARS-CoV- 2: 21 óbitos de 183 casos de Covid-19 (11,5%) - 15/21 (71,4%) dos óbitos relacionam-se à coagulação intravascular disseminada (CID) X 1/162 dos sobreviventes (0,6%) apresentam CID. Bruna Argolo • Estudos mostram associação entre anormalidades de coagulação ou marcadores de trombose e desfechos clínicos em pacientes com Covid-19: essas anormalidades são mais presentes em pacientes com quadro severo, que vão pra UTI e que vão a óbito. • AVCs agudos também estão associados à Covid-19, o que se associa ao aumento da PCR e anticorpos antifosfolípedes e outros marcadores inflamatórios. • Esses marcadores inflamatórios estão relacionados também com as questões de anormalidades de coagulação, o que favorece trombogenese e microtrombogenese, o que se relaciona não só com lesões pulmonares, mas também lesões miocárdicas (gera aumento da troponina I). ESTUDOS SOBRE TROPONINA I E COVID-19: • Mediana de idade= 66,4 anos, com 59,6% homens. 985 (36%) pacientes tinham concentrações elevadas de troponina na admissão. Doença cardiovascular (DCV) foi mais prevalente em pacientes com concentrações mais altas de troponina, tanto quanto foram os pacientes com hipertensão e diabetes. Um total de 506 (18,5%) pacientes morreram durante a internação. • Após o ajuste para a gravidade da doença e fatores clínicos relevantes, mesmo pequenas quantidades de lesão miocárdica (por exemplo, troponina I > 0,03 a 0,09 ng/ml; n=455; 16,6%) foram significativamente associadas ao risco de morte, enquanto maiores quantidades (por exemplo, troponina I > 0,09 ng/dl; n=530; 19,4%) foram significativamente associados com maior risco. • No gráfico: Em 4 dias de internação, mais de 20% dos pacientes que entraram com troponina acima de 0.09 tinham falecido; o que difere bastante da situação daqueles que entraram com troponina normal, que apresentaram uma sobrevivência de 95%. Ou seja, troponina alta apresentou 75% de sobrevivência X 95% de sobrevivência com troponina normal. DIAGNÓSTICO DE COVID-19: • Faz-se a busca de fragmentos virais pelo RT-PCR na parte respiratória; esse é o teste de escolha para o diagnostico etiológico em pacientes com sintomas na fase aguda – 1 a 12 dias dos sintomas. – Acima de 10 dias geralmente há uma diminuição da carga viral. • Busca de anticorpos no sangue (sorologia). Tem alta sensibilidade e especificidade, no entanto, depende muito do tempo. Só se pensa a partir do 10° dia, e fica mais seguro ainda após o 12°/14° dia. - Quando o teste é realizado de forma precoce existem muitos falsos negativos. - Em caso de uma testagem em massa, ocorrem também muitos falsos positivos, pois são testados muitos pacientes sem sintomas. - A sensibilidade e especificidade funcionam bem para indivíduos com sintomas e a partir do 12° dia (ideal para a realização desse teste). Bruna Argolo • OBS: Em Covid-19, existem estudos que mostram que o individuo pode produzir o IgG e depois negativar, ou seja, perder esses anticorpos de memória. Além disso, de 5% a 10% das pessoas não produzem anticorpos. E existem ainda pacientes que só passam a apresentar anticorpos tardiamente, na terceira ou quarta semana após a infecção. • Geralmente o tempo de incubação é de 4 a 5 dias, quando então o indivíduo começa a ter sintomas. • A partir do 7° dia começa a produção de anticorpos. • No 10° dia a carga viral já teve uma diminuição significativa.
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