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Campanhas de preservação de acervos bibliográficos em bibliotecas universitárias RESUMO As bibliotecas universitárias representam alguns dos mais importantes centros de difusão do conhecimento, que visam dar suporte ao ensino superior, buscando desenvolver a pesquisa, o ensino e a extensão. Seu acervo é composto, em grande maioria, por materiais orgânicos que estão sujeitos a diversos tipos de deterioração. Nesse sentido, cabe ao profissional bibliotecário incentivar, através de ações de conscientização, o uso adequado do acervo visando prolongar por mais tempo o seu uso. Em face disso, este trabalho buscou responder a seguinte questão: de que maneira uma campanha de preservação de acervos bibliográficos, realizada em bibliotecas universitárias, pode auxiliar na conservação dos materiais bibliográficos? Para isso, identificou- se na literatura como as campanhas de conscientização para a preservação de acervos deveriam ser realizadas, verificando sua importância para a preservação do acervo, e posteriormente foi realizada uma análise comparativa entre as campanhas promovidas por duas bibliotecas universitárias. Como resultado, viu- se que as campanhas educativas promovidas pelas bibliotecas universitárias foram essenciais para orientar e conscientizar usuários e funcionários a favor da preservação do acervo das bibliotecas. Assim, espera-se com esse trabalho incitar a criação e contribuir para o aperfeiçoamento da elaboração de campanhas de preservação de acervos bibliográficos correntes, realizadas em bibliotecas universitárias. Palavras-chave: Campanhas de preservação de acervos. Conservação preventiva. Bibliotecas universitárias. 1 INTRODUÇÃO As bibliotecas universitárias são espaços reconhecidos de difusão do conhecimento que buscam dar suporte a instituições de ensino superior com vistas a desenvolver a pesquisa, ensino e extensão. Isso representa uma mudança de paradigma: a de uma instituição, que nos seus primórdios restringia o acesso, para outra que nos dias atuais visa a disseminação e democratização da informação e do aprendizado. O seu acervo é composto, na sua grande maioria, por materiais orgânicos que estão sujeitos a diversos tipos de deterioração, como aquelas provenientes da ação humana que contribuem diretamente para a redução da vida útil do material bibliográfico. Apesar disso, a literatura sobre educação de usuários voltada para a preservação de acervos é pobre e escassa “[...], indicando talvez uma indiferença ou conformismo ante o que é, muitas vezes, considerado inevitável”.(ALMEIDA JÚNIOR, 1996 apud SILVA et al, 2014, p. 6). Isso explica o porquê que ainda no século XXI é possível perceber, a partir da análise física dos materiais bibliográficos e dos aspectos comportamentais dos usuários, que a sociedade como um todo não aprendeu a conservar o conhecimento para outrem, uma vez que é normal encontrar no acervo das bibliotecas universitárias materiais danificados por causa de mau uso. Ora por falta de conscientização dos usuários e dos próprios funcionários, ora por estes possuírem anseios criminosos. Neste contexto, cabe ao profissional bibliotecário incentivar, através de ações de conscientização, o uso adequado do acervo visando prolongar por mais tempo o seu uso. Entre essas ações, pode-se citar as campanhas de preservação, já que partimos da hipótese de que elas exaltam a importância da preservação do acervo para a comunidade acadêmica. Em face disso, este trabalho pretende responder a seguinte questão: de que maneira uma campanha de preservação de acervos bibliográficos, realizada em bibliotecas universitárias, pode auxiliar na conservação dos materiais bibliográficos? Neste aspecto, este estudo pretende identificar na literatura como as campanhas de conscientização para a preservação de acervos devem ser realizadas e verificar a sua importância para a preservação do acervo, para posteriormente realizar uma análise comparativa entre campanhas realizadas em duas bibliotecas universitárias, a saber: a Biblioteca Central Cesar Lattes - UNICAMP, e o Sistema de Bibliotecas da PUC-RIO. BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS Instituições milenares, as bibliotecas foram evoluindo e se adaptando à sociedade a qual faziam parte, o que significou estabelecer novas características e papéis sociais. Ainda assim, sempre estiveram ligadas historicamente ao desenvolvimento humano e social. [...] Elas foram definindo seu papel ao longo do tempo, estabelecendo seu espaço e oferecendo serviços ao público de maneira a encontrar-se como pólo aglutinador de saberes, mas também como centro de profundas mudanças responsáveis por mantê-la viva e em atividade mesmo com todos os seus desafios. (NUNES; CARVALHO, 2016, p.175). Dentre os diferentes tipos de bibliotecas que surgiram, este artigo trabalhará especificamente com as universitárias que, ao longo da história, também sofreram mudanças e precisaram adaptar-se. A partir de uma perspectiva histórica do surgimento dessas bibliotecas, Nunes e Carvalho (2016) ressaltam que as universidades eram estreitamente ligadas às Igrejas, instituição monopolizadora da educação na Idade Média. No entanto, o número crescente de alunos e mestres, bem como da demanda de atendimento às carreiras profissionais e o fortalecimento dos estados monárquicos, alteraram a dinâmica tanto de criação quanto de desenvolvimento de universidades a partir do século XIV, o que impactou diretamente as bibliotecas que surgiram atreladas a essas instituições. Isso porque, mesmo resultando de uma tradição de bibliotecas vinculadas a mosteiros e congregações religiosas, as bibliotecas universitárias vão atender às necessidades de bibliograficas dos cursos superiores. Segundo Martins (1996) somente no século XV, as universidades e consequentemente suas bibliotecas, começam sua laicização de fato. É também nesse século que as riquezas materiais das universidades aumentam e as bibliotecas começam a se desenvolver rapidamente. Ainda assim, “as bibliotecas universitárias, desde a sua criação até meados do século XIX, apresentavam como função a preservação do seu acervo. O acesso aos livros era extremamente restrito. Somente a partir do século XIX, os acervos de algumas instituições passaram a ser abertos à comunidade acadêmica.” (HUBNER, KUHN, 2017, p. 58). Se no passado sua função pregava a restrição, atualmente elas são importantes centros de difusão do conhecimento com acesso aberto e têm como objetivo básico “servir aos estudantes, professores, especialistas, pesquisadores e toda as pessoas que compõem a comunidade universitária” (TARAPANOFF, 1982, p.81). Isso porque, Atualmente, a maioria das bibliotecas universitárias têm como regra permitir o livre acesso dos usuários ao acervo para que possam manipular as obras e ter liberdade na escolha da informação de seu interesse. A partir do momento em que o usuário passou a ter livre acesso à biblioteca e, além disso, autonomia para permanecer nos seus espaços, um novo papel começa a ser atribuído a estas instituições. Elas passam a ser consideradas espaços de aprendizagem, com função relevante na construção de conhecimentos no ambiente acadêmico (HUBNER, KUHN, 2017, p. 58-59). Dentro desse contexto, Souto (2016, p.2), afirma que a biblioteca universitária “precisa contribuir decisivamente para o ensino, a pesquisa e a extensão, assumindo, assim, seu papel social que é o de promover a infraestrutura documental e a disseminação da informação em prol do desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura”. E Tarapanoff (1982, p.76, grifo nosso), vai além ao afirmar que “a biblioteca pode apoiar [também] as atividades de renovação de valores da universidade, desenvolvendo serviços mais personalizados de assistência aos membros da comunidade universitária quando no desempenho de suas atividades de pesquisa e extensão”. CONSERVAÇÃOPREVENTIVA DE ACERVO BIBLIOGRÁFICO Os acervos de bibliotecas universitárias, de forma geral, são formados por uma série de materiais, como livros, fotografias, mapas e periódicos que são compostos de papel e tintas das mais variadas composições. O papel possui uma alta composição de fibras de celulose, o que em contato com agentes nocivos, se degrada e causa a acidez e oxidação, processos que deterioram o material, comprometendo e diminuindo sua vida útil (CASSARES, 2010). Cassares (2010) apresenta quatro formas de deterioração do acervo, entre elas estão os fatores ambientais, como a temperatura e umidade relativa do ar que em desequilíbrio provocam reações químicas capazes de provocar danos nos materiais, como o craqueamento de tintas e ondulações nos papéis. Ademais, a radiação de luz também é uma fonte de degradação do acervo, tanto a iluminação natural quanto a artificial, visto que a radiação é nociva e provoca um dano cumulativo nas fibras do papel, o tornando frágil e quebradiço, além de modificar sua coloração. Além disso, é necessário destacar os agentes biológicos de deterioração de acervos, como os insetos (baratas, brocas e cupins) que causam perdas de suporte dos materiais, alguns mais intensos que outros, como aqueles causados pelas brocas. Por sua vez, as baratas deixam manchas de excrementos nos materiais e os cupins são um risco para o acervo e para o prédio como um todo, pois se espalham rapidamente e atacam não só o papel, mas também janelas, portas, alvenaria, entre outros materiais. Há também os fungos e roedores, que surgem a partir das condições ambientais (temperatura e umidade relativa altas, falta de higiene, pouca circulação de ar e etc.) do ambiente de guarda dos materiais. Outro problema de deterioração do acervo são as intervenções inadequadas, isto é, os procedimentos de conservação realizados com o intuito de proteger o acervo, mas que o prejudicam ainda mais. Exemplos desse tipo de prática são os carimbos de posse colocados em cima de informações, seja da folha de rosto, seja do texto. É um exemplo também as fitas adesivas inadequadas colocadas para colar folhas soltas e/ou fixar a etiqueta do número de chamada dos livros. Com isso, surge o quarto fator de risco, o homem, que se torna um agente nocivo ao acervo, seja este o profissional que lida diariamente com o material ou o usuário que o consulta. O profissional pode danificar o item em uma higienização inadequada, manuseio incorreto, assim com o usuário que ao manusear e utilizar a obra pode danificá-la, mesmo que não intencionalmente. Contudo, há de se destacar as ações intencionais, feitas com a intenção de danificar ou pegar para si algo que não é seu, como o vandalismo e o furto, que danificam intensamente as obras e muitas vezes a impossibilitam de serem consultadas. Para sanar estes problemas ou reduzi-los ao máximo, surge a conservação preventiva que é um método que busca melhorar as condições de guarda, uso e manuseio do acervo para prolongar sua vida útil sem o máximo possível de interferências bruscas externas, tal como a restauração. Neste sentido, ela [...] pode ser definida como qualquer medida que previne estragos ou reduz seu potencial. Dá-se preferência aos acervos e não à objetos individuais, e ao não-tratamento do que ao tratamento. Em termos práticos, o manuseio, o arquivamento e a utilização dos acervos, incluindo planos de emergência, são elementos críticos na metodologia de conservação preventiva. (PESSI, 1997, p. 17-18) Guimarães e Beck (2007) complementam essa questão quando afirmam que o que deve ser considerado, a priori, na conservação preventiva é a proteção física do acervo. Já Pessi (1997) enfatiza que a mesma é o método mais eficiente de conservação, além de afirmar que muita coisa pode ser feita a partir do bom senso, haja vista que “com a conscientização da importância da conservação preventiva, a necessidade de tratamentos individuais, com o tempo, será reduzida para níveis mais maleáveis, destinando recursos financeiros e pessoais para outros fins” (PESSI, 1997, p. 17). Desta forma, a conservação preventiva é uma grande aliada dos acervos que sofrem constantemente com os riscos advindos de diversos fatores, conforme já mencionado. Nas bibliotecas universitárias, o uso das medidas de conservação preventiva são essenciais, mas para isto, é necessário que o responsável pela mesma tenha conhecimento do estado do seu acervo e do nível de conhecimento de seus profissionais, pois com essas informações se torna mais fácil o planejamento de políticas de conservação visando preservar o material pelo maior tempo possível. Cassares (2010, p. 23) ressalta que os danos [aos acervos] são intensos e muitos são irreversíveis. Apesar de toda a problemática dos custos de uma política de conservação, existem medidas que podemos tomar sem despender grandes somas de dinheiro, minimizando drasticamente os efeitos desses agentes. É o caso, por exemplo, das campanhas de preservação, que é uma medida de conservação preventiva, que, por sua vez, é fundamental para a preservação dos acervos bibliográficos como forma de prolongar a vida útil dos materiais e prover acesso às informações pelo maior de tempo possível. CAMPANHAS DE PRESERVAÇÃO PARA ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS Segundo o Portal de Marketing (2018), uma campanha deve ser entendida como um “conjunto de ações e esforços para se atingir um fim determinado, [e como a] totalidade das peças publicitárias criadas segundo um planejamento anterior e que serão veiculadas para um público-alvo definido.” Pode-se considerar, a partir disso, que as campanhas voltadas para a preservação dos acervos bibliográficos em bibliotecas universitárias podem ser definidas como um conjunto de ações planejadas que visam conscientizar os usuários e os funcionários da importância do adequado manuseio, uso e guarda do acervo. Lima enfatiza isso (1998, p. 9) ao ressaltar que “campanhas educacionais de conscientização podem revelar-se como adequado controle preventivo, o qual poderá surtir resultados ao longo do tempo”. Para a criação de campanhas, é indicado na literatura especializada de Marketing a realização de um briefing que nada mais é do que “um relatório em forma de questionário no qual são registradas todas as informações pertinentes à empresa, ao produto ou ao serviço que se pretende divulgar” (SILVA FILHO, 2008, p. 22). Ele funciona como um guia para a avaliação e realização de trabalhos em conformidade com os objetivos almejados. Para tanto, Silva Filho (2008) enfatiza que ele deve incluir informações sobre a organização e seus produtos e serviços, força de venda e distribuição (no caso de bibliotecas, levantamento dos recursos humanos e os meios utilizados para a disponibilização de serviços e produtos), o público-alvo a ser atingido, a situação de mercado em que a instituição está inserida (pode-se considerar a análise do acervo no tocante à preservação e desgastes), objetivos e metas do marketing, dos produtos e da comunicação, pesquisa sobre as campanhas já realizadas - não só na organização onde a campanha será instituída, mas também em outras instituições que podem servir de inspiração -, definição do que se pretende comunicar e verba disponível. Após o levantamento preliminar dessas informações, sobretudo sobre os objetivos de comunicação, é necessário estabelecer uma estratégia de ação. Para isso, é preciso pensar em diversos aspectos, tais como que tipo de abordagem a ser utilizada, qual a melhor programação visual a ser usada, enfim, que tipo de táticas devem ser adotadas para atingir o máximo de pessoas possíveis. A partir disso, tem-se subsídios para pôr em prática as ações planejadas, cujos resultados devem ser acompanhados durante a campanha e os meses que a sucede. (SILVA FILHO, 2008; WOOD, 1982) Merril-Oldhame Scott (2001), ao trazerem os diversos benefícios trazidos pela educação de usuários e de pessoal voltada para a preservação de acervos bibliográficos, frisam que a educação - que pode ser realizada através de campanhas - melhora as condições do acervo das bibliotecas. Isso porque, segundo eles um usuário que tenha refletido sobre o valor coletivos dos materiais de uma biblioteca pode ser menos inclinado a rasgar um capítulo de um livro ao invés de preferir fotocopiá-lo. O vandalismo não pode ser eliminado, mas pode ser controlado pela elevação da conscientização geral. O apelo pelas bibliotecas pode ser melhorado ao se chamar atenção para o fato de que a maioria dos materiais é adquirida para retenção permanente; e que um alto percentual do acervo de bibliotecas é impossível ou difícil de ser substituído. (MERRIL- OLDHAM; SCOTT, 20011, p. 112). Já Silva et al (2014) observaram a necessidade de criar campanhas criativas e atraentes que, de fato, atuem como um convite para o conhecimento das boas práticas de preservação. Para tanto, alguns autores como Flores e Peres (2013) defendem a interação da linguagem verbal com a linguagem visual, dando ênfase para o uso de imagem, já que ela “[...] pode ser mais forte que o poder da letra, porque na imagem o olhar encontra a mensagem muitas vezes sem a intenção do leitor; já na palavra escrita, principalmente, a pessoa deve ter a intenção de lê-la e entendê-la.” (FLORES; PERES, 2013, p. 14). Contudo, isso não renega a importância da adoção de um slogan na campanha que seja“[...] conciso e marcante, geralmente incisivo, atraente, de fácil percepção e memorização, que apregoa as qualidades e a superioridade [...] [da] ideia”, assim como de textos que visam informar e também persuadir o leitor (RABAÇA; BARBOSA, 1987 apud GONZALES, 2013, p. 24). Faz-se necessário também, abusar de cores que, quando bem usadas, facilitam a memorização da mensagem e permite que se alcance mais facilmente os objetivos. As campanhas de preservação podem englobar diversos recursos e ações sociais. Segundo Silva et al (2014), cabe ao bibliotecário, através do diagnóstico do seu acervo, levantar as necessidades de preservação do mesmo e estabelecer uma política de preservação adequada a sua realidade, com a inclusão de recomendações sobre a educação em preservação, que podem ser refletidas em campanhas. Destacam-se, neste caso, o uso de mídias sociais e vídeos, exposições de cartazes, banners e folders, realização de visitas guiadas, cursos, oficinas, debates, exposições ou palestras, e distribuição de produtos, como marca páginas e camisetas. Com base na literatura sobre preservação (com enfoque em conservação preventiva) e na análise de campanhas de preservação realizadas em bibliotecas universitárias brasileiras, observou-se que dentre as recomendações de uso do acervo abordadas nas campanhas, destacam-se com maior frequência: a retirada do livro na estante pelo meio da lombada, não escrever nos livros e não dobrar as páginas, não usar marcadores de texto, não inserir objetos inapropriados entre as páginas (como exemplo, flores), não realizar ações corretivas inadequadas em livros caso ele apresente alguma deterioração, não expô-lo à umidade, calor ou excesso de luz, não se apoiar ou colocar objetos sobre o livro, não comer, beber ou fumar próximo a ele, não abrí-lo além do seu limite para não danificar a sua estrutura física, não utilizar clipes ou grampos, não utilizar a saliva para passar as páginas e não mutilar os materiais através de recortes ou rasgos de páginas, folhas, figuras ou capítulos de livros. METODOLOGIA A presente pesquisa se configura como exploratória, pois “têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses” (GIL, 2002, p. 41), além de se configurar como comparativa, visto que será apresentada uma análise comparativa entre as campanhas de preservação realizadas na Biblioteca Central Cesar Lattes - UNICAMP e no Sistema de Bibliotecas da PUC-RIO. O referencial teórico foi obtido a partir de uma pesquisa bibliográfica realizada em bases de dados, como o Google Acadêmico, através dos seguintes termos pesquisáveis: “biblioteca universitária”, conservação preventiva” AND “acervos bibliográficos”, “campanhas de preservação em acervos bibliográficos” e educação de usuários em bibliotecas”. Além disso, foi recuperado trabalhos acadêmicos expostos no programa da disciplina “Política de Preservação de Acervos Bibliográficos”, ministrada no curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Para a escolha das campanhas de preservação, utilizou-se o seguinte critério: campanhas que foram expostas como relato de experiência na literatura especializada e que foram recuperadas no momento do levantamento bibliográfico. Isso permitiria recuperar dados mais precisos sobre as estratégias usadas para a sua realização, assim como para os objetivos, a motivação, as orientações de preservação e os resultados obtidos com a sua implantação. DELIMITAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA Nesta seção serão descritas as características das campanhas que serão analisadas. Campanha de preservação da Biblioteca Central Cesar Lattes - UNICAMP A biblioteca Central Cesar Latte da UNICAMP criou, no ano de 2012, o Programa de Conscientização Sobre Preservação de Acervos, com o slogan “Preservação, compartilhe essa ideia!”. O objetivo se pautou na orientação e conscientização do manuseio e preservação do material bibliográfico. Dentre as estratégias criadas para atingir esse propósito estão: uma exposição de obras deterioradas pelo mau uso, oficinas de conservação direcionadas especialmente aos funcionários da biblioteca com exposição teórica e visita técnica ao laboratório de conservação da instituição, e a confecção de um mural (ver imagem 1) e folder (ver imagem 2) com dicas de preservação, este último entregue aos usuários em visitas guiadas. Entre essas dicas, destacam-se: o cuidado com os livros em dias de chuva, cuidado com a estrutura de livros grandes e com aqueles que passarão pelo processo de digitalização, não fazer anotações e “consertos” em livros danificados, não comer próximo as obras, não umedecer os dedos para manusear os livros e não apoiar cotovelos sobre eles. Vale ponderar que, além dessas recomendações, há dicas de preservação direcionadas aos funcionários, como amarração do livro com fita de algodão quando este estiver com as capa solta. Concernente ao resultado da campanha, os funcionários que fizeram a oficina se conscientizaram de que simples práticas de preservação na rotina de trabalho podem fazer toda diferença na conservação dos materiais. Contudo, não foi exposto no trabalho consultado informações sobre o comportamento dos usuários no tocante aos cuidados com a preservação. Campanha de preservação do Sistema de Bibliotecas da PUC-RIO O Sistema de Bibliotecas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), elaborou, no ano de 2013, a campanha de preservação denominada “Cordel da Preservação nas Bibliotecas da PUC-Rio”, que teve como objetivo conscientizar os usuários de alguns cuidados necessários para com os materiais bibliográficos, tendo como finalidade o aumento da vida útil dos acervos. Com o objetivo de registrar, assim como contribuir com ideias para campanhas de preservação, foi criado uma página (imagem 1) no site da biblioteca para a visualização das fotos, vídeos e imagens dos produtos da campanha. Dentre esses produtos estão os folhetos, marcadores, blocos, camisetas, adesivos para as mesas de estudo (imagem 2), adesivos de recados ao usuário e ecobags com mensagens escritas no estilo da Literatura de Cordel, além de exposições de livros danificados Os produtos da campanha de conscientizaçãode preservação, de maneira geral, apresentaram orientações concernentes a utilização do livro, tais como: não realizar anotações; não utilizar a saliva para passar páginas; uso de marcadores de papel; não retirada de páginas; não expô-los ao sol; não restaura- los; não utilizá-los como apoio e não retirá-los da estante por cima. Quanto ao resultado da campanha, foi notado que o comprometimento dos funcionários para com o controle das obras danificadas foi de fundamental importância, entretanto em relação aos usuários, somente no futuro poderá ser realizada uma análise comparativa dos dados levantados ao longo dos anos quanto aos livros danificados a partir do ano de aplicação da campanha, para comprovação de sua efetividade. ANÁLISE COMPARATIVA É possível perceber que as duas campanhas visam estimular a conscientização do adequado manuseio e uso das obras com vistas para a sua preservação. Contudo, enquanto a Campanha realizada pelo Sistema de Biblioteca da PUC-Rio foca, como principal público alvo, os usuários, a Biblioteca da Unicamp expande esse público, na medida em que ela cria ações educativas voltadas, não só para os usuários, mas também para os seus funcionários. Isso é um aspecto favorável, pois é preciso considerar que a consciência em preservação deve está presente em todas as atividades biblioteconômicas. Da mesma forma, percebe-se que a campanha do Sistema de Biblioteca da PUC procura expandir as recomendações para todas as suas bibliotecas, enquanto a campanha empregada na Biblioteca Central da Unicamp foi pensada para atender às suas necessidades locais, não expandido, assim, sua ação educativa para outras bibliotecas da universidade. Isso demonstra que não houve um planejamento unificado do sistema de biblioteca, o que, provavelmente, limita o números de pessoas conscientizadas acerca da importância da preservação do material bibliográfico para a comunidade acadêmica. Conforme orienta à literatura especializada, as campanhas, que foram desenvolvidas de forma criativa, apostaram na integração da mensagem visual com a textual para repassar as orientações de preservação. Contudo, no tocante a eficácia transmitida pela mensagem visual, o sistema de biblioteca da PUC teve um efeito limitado, pois adotou apenas um tipo de imagem que não transmite, necessariamente, a ideia que se pretende passar, ao contrário da campanha realizada pela biblioteca central da Unicamp, que procurou fixar imagens coloridas que refletissem as mensagens expostas nos textos. Isso é um aspecto fundamental, visto que a mensagem, muitas das vezes, é capturada pelos usuários apenas pela comunicação visual. Apesar disso, considera-se que a campanha desenvolvida pelo sistema de biblioteca da PUC, além de ter maior alcance, pode ser considerada mais atrativa aos olhos dos usuários, na medida em que ofereceu mais produtos, como blocos de notas e ecobags, que ajudam a aumentar a notoriedade e aceitação da ideia. No tocante às orientações de preservação, notou-se um um certo padrão entre as camapanha analisadas, não havendo grandes oscilações entre elas, que estão em conformidade com a literatura. Já os resultados apresentados são parciais, visto que não foi possível mensurar a efetividade da campanha junto aos usuários, apenas aos funcionários. CONCLUSÃO Considerando tudo o que foi exposto, acredita-se que orientar e conscientizar os usuários e os funcionários de uma biblioteca universitária através de campanhas educativas é uma medida essencial para a se trabalhar a favor da preservação do acervo, assim como para o estímulo à conscientização sobre a importância em salvaguardar o patrimônio bibliográfico para a comunidade acadêmica. Espera-se com esse trabalho dar luz a uma questão tão pouco discutida que é a preservação de acervos correntes de bibliotecas universitárias, espaços sabidos pela difusão do conhecimento, com vistas ao desenvolvimento do trinômio pesquisa-ensino-extensão nas universidades, mas que por possuírem caráter aberto, de incentivo ao livre acesso aos materiais bibliográficos, acabam por não preconizar o desgaste e as avarias sofridas por seus acervos. Sendo assim, acredita-se que as análises das recomendações de uso desses materiais pelas bibliotecas universitárias, indicarão que poucos espaços têm essa como uma de suas preocupações e que ainda será necessária muita conscientização por parte, tanto das equipes de gestores e funcionários, quanto de seus usuários. Espera-se ainda incitar a criação e contribuir para o aperfeiçoamento da elaboração de campanhas de preservação de acervos bibliográficos correntes, realizadas em uma biblioteca universitárias, prevendo uma conservação preventiva de acervos bibliográficos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Oswaldo Francisco de. Roubo, depredação e campanhas educativas em bibliotecas: proposta de um modelo de avaliação. São Paulo: APB, 1996. (Ensaios APB; 37). Disponível em: <http://ofaj.com.br/espacoofajs_conteudo.php?cod=10>. Acesso em: 21 out. 2018. ANDRADE, Inaya Gomes de et al. Estímulo à conservação e preservação do material bibliográfico: relato de experiência. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 10, n. 2, p. 145- 154, jun. 2012. ISSN 1678-765X. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/1901>. Acesso em:21 out. 2018. CASSARES, Norma Cianflone. Como fazer conservação preventiva em arquivos e bibliotecas. 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