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MEDCURSO: Pneumologia 16/09/2020 Aula 2: TEP e Câncer de Pulmão 1. Tromboembolismo Venoso a) Conceitos iniciais É a obstrução de vasos da circulação arterial pulmonar causada pela impactação de partículas – formadas por qualquer material insolúvel (sólido, líquido, gasoso) – cujo diâmetro seja maior que o do vaso acometido. O TEP faz parte do espectro de uma doença, chamada de tromboembolismo venoso. O tromboembolismo venoso possui 2 espectros, a TVP e o TEP, que é a fase mais grave da doença. Seu espectro de manifestações clínicas é extremamente variável, na dependência da magnitude da “carga embólica” e da função cardiorrespiratória basal do indivíduo. b) Fatores de risco · Tríade de Virchow: hipercoagulabilidade (hereditária e/ou adquirida), lesão endotelial (exposição do subendotélio) e estase sanguínea (hipóxia intravascular) · Hereditários: trombofilias – fator V de Leiden (mutante do gene da protrombina) · Adquiridos: pós-operatório (cirurgias ortopédicas), medicamentos (ACO), neoplasia maligna, imobilização e viagens prolongadas, idade, tabagismo Mais de 90% dos êmbolos pulmonares se originam de trombos em veias profundas dos membros inferiores. Nessa topografia, a TVP com maior risco de embolia significativa é a ileofemoral. A TVP de panturrilha é a principal causa de TVP ileofemoral. Devemos suspeita de trombofilia naqueles pacientes com TEV de repetição < 50 anos, TEV sem motivo algum e TEV em locais atípicos/inusitados. 1.1 Trombose Venosa Profunda a) Manifestações clínicas · Maioria dos pacientes: assintomáticos · Edema, dor à palpação, empastamento, sinal de Homans (dor com dorsiflexão do pé) Obs.: quanto mais proximal, maior o risco de TEP – TVP do território ileofemoral. b) Diagnóstico · USG com doppler: pressão elevada na região do trombo, sendo o achado a perda da compressibilidade (lúmen não colaba) 1.2 Tromboembolismo Pulmonar a) Fisiopatologia A principal consequência respiratória da embolia é a hipoxemia, devido a um importante desequilíbrio na relação ventilação-perfusão (distúrbio V/Q). Outra consequência extremamente comum é a taquidispneia, que é resultado da estimulação de receptores alveolares pelos mediadores inflamatórios liberados, levando a uma hiperventilação reflexa + falta de ar. Com relação às consequências cardiocirculatórias, a principal é o aumento da resistência vascular do pulmão = hipertensão pulmonar aguda. O VD se dilata perante aumento em sua pós-carga, na tentativa de manter seu débito. Porém, se o aumento for muito intenso, o débito do VD diminui, tanto por incapacidade de ejetar o sangue como por disfunção isquêmica de VD. Esse último acontece porque o VD faz uma dilatação extrema, aumentando a tensão em sua parede e dificultando o fluxo de sangue pela circulação coronariana. Por ser uma situação de alta demanda metabólica pelo miocárdio, é possível a ocorrência de infarto agudo de VD. Tanto é que níveis elevados de troponina indicam mau prognóstico no TEP, assim como BNP, que indica dilatação das cavidades cardíacas. b) Manifestações clínicas É a doença mais “coringa” dos pacientes críticos. É uma doença grave e que pode ter “mil faces”. De maneira simplificada, podemos dizer que o principal sintoma em pacientes com TVP é uma dor na perna que vai aumentando ao longo dos dias, ao passo que em portadores de TEP o principal sintoma é uma dispneia súbita inexplicada. · Evento cardiorrespiratório súbito · Mais comum: taquipneia = PRINCIPAL SINAL · Dispneia: principal SINTOMA · Dor torácica do tipo pleurítica: dor que piora com a respiração · Hemoptise · Sibilância · Se grave = TEP maciço: o sangue não passa do lado direito para o lado esquerdo, causando um choque obstrutivo (hipotensão) e cor pulmonale (insuficiência de VD por alteração pulmonar) A gravidade do quadro clínico depende do tamanho do trombo e do quão precoce ele vai se impactar na árvore vascular pulmonar. Obs.: há aumento de BNP e troponina se há aumento desses marcadores, significa que o paciente é grave. c) Exames complementares NENHUM desses exames confirma o diagnóstico. Eles podem “fortalecer” ou “enfraquecer” a suspeita clínica, na medida em que apontarem para outras etiologias. 1- Gasometria A gasometria pode ser normal. · Hipoxemia no sangue arterial · Hipocapnia: alcalose respiratória pela taquipneia 2- ECG · Avaliar IAM: útil para afastar a possibilidade · Taquicardia sinusal: alteração mais comum e altamente inespecífica · Padrão S1Q3T3: sobrecarga mais súbita de VD · S negativa em DI · Q em DIII · T invertida em DIII 3- Rx de tórax · Sinal de Westermark: “tudo escuro” pela falta de vascularização (westerdark) – oligoemia focal · Sinal de Hampton: hipotransparência triangular periférica · Cardiomegalia, atelectasia, derrame pleural, infiltrados no parênquima 4- Ecocardiograma: disfunção de VD – marcador de pior prognóstico · Dilatação da cavidade de VD · Hipocinesia · Regurgitação tricúspide 5- Marcadores · Aumento de BNP/troponina: pior prognóstico · ATENÇÃO: D-dímero – alto valor preditivo negativo (é um bom exame para EXCLUIR) 6- Arteriografia pulmonar · Método padrão-ouro para diagnóstico de TEP · Indicação: método confirmatório naqueles pacientes que receberão tratamento intervencionista endovascular (embolectomia por cateter) d) Algoritmo diagnóstico Atualmente, a conduta recomendada é: diante de um paciente cujo quadro clínico seja compatível com TEP/TVP, estime a probabilidade pré-teste deste diagnóstico. O grande objetivo das regras de previsão da probabilidade de TEV é fornecer uma justificativa baseada em evidências que nos diga com segurança que está ou não indicado um exame complementar. · 4 pontos: é o ponto de corte Escore de Wells Clínica de TVP 3 pontos Sem outro diagnóstico mais provável 3 pontos FC > 100 1,5 pontos Imobilização ou cirurgia recente 1,5 pontos Episódio prévio de TVP/TEP 1,5 pontos Hemoptise 1 ponto Malignidade 1 ponto 1- Suspeita · Provável: Wells > 4 Angio-TC · Improvável: Wells ≤ 4 D-dímero < 500 = sem TEP / > 500 = Angio-TC de tórax Na angioTC há falha do preenchimento do contraste. Existem pacientes que não podem faze-lo, seja por indisponibilidade ou por função renal comprometida. Nesses casos pode ser feito: cintilografia, doppler MMII, arteriografia (ÚLTIMO exame, pois é invasivo). Nos pacientes suspeitos, com escore de Wells > 4, caso o exame não esteja disponível, se ele não tiver NENHUMA CONTRAINDICAÇÃO absoluta, inicia-se terapia apenas com a suspeita (pela gravidade da TEP). e) Tratamento As modalidades de tratamento incluem o uso de anticoagulantes, trombolíticos, filtro de veia cava e procedimentos invasivos. 1- Anticoagulação por 3 meses NENHUM anticoagulante tem poder de dissolver um trombo. Lentamente, o próprio organismo vai dissolvendo o trombo e o AC estabiliza o trombo. · Heparinas inicialmente e posteriormente transição para warfarin · Pacientes mais estáveis e em condições menos graves · Ele impede o trombo de aumentar seu tamanho · Drogas de ação rápida: via parenteral · Opções principais · Heparina + warfarin 5mg/dia: começam juntos – já começamos o warfarin para dar tempo de ele agir (5 dias) · Novos anticoagulantes orais: rivaroxabana 15mg 2x/dia (atuação sobre fator Xa) Obs.: se usarmos HNF, podemos monitorar pelo PTTa, enquanto o warfarin é monitorado pelo INR. Obs2.: suspender heparina com 2 INRs entre 2-3 isso significa que o Warfarin já começou a agir. Obs.: HNF HIT: trombocitopenia induzida pela heparina – deve ser suspensa quando plaquetas < 100.000 ou < 50% valor basal. 2- TEP maciço A única indicação para o uso de trombolíticos na TEP é a presença de instabilidade hemodinâmica. · Instabilidade hemodinâmica e IVD · Administração de solução salina + aminas para suporte de pressão + dobutamina para estimular VD · Trombolisar até 14º dia do início do quadro:a circulação colateral pulmonar é mais ampla, permitindo o paciente a viver por mais tempo · Filtro de VCI: pacientes que não podem anticoagular (CI) ou continuam embolizando (falha) – aumentam o risco de TEP em longo prazo e por esse motivo é ideal que seja retirados posteriormente · Embolectomia: CI ou falha da trombólise 2. Nódulo Pulmonar Solitário a) Conceitos iniciais Definição: lesão ≤ 3cm, envolta por parênquima normal. É definido como uma densidade radiológica circunscrita cercada por parênquima pulmonar aerado normal, que apresenta formas diversas e tamanho entre 0,8-3 cm · Detecção precoce: melhor proposta curativa · Mais comum em homens · Causas: carcinoma broncogênico, granulomas infecciosos e não infecciosos, hamartomas, adenomas brônquicos, metástases e condições adversas. b) Benigno x maligno Toda avaliação mais minuciosa do nódulo é feita por tomografia computadorizada de alta resolução. · Idade: > 50 anos · História de tabagismo: principalmente quando CT ≥ 20 maços/ano · Tamanho do nódulo · Contorno: irregular, espiculado · Padrão de calcificação · Crescimento nos últimos 2 anos: CA cresce (velocidade de crescimento) Nódulo Pulmonar Solitário Sugestivos de benignidade Sugestivos de malignidade Idade < 35 anos Idade > 50 anos História negativa de tabagismo História de tabagismo Diâmetro < 2cm Diâmetro > 2cm Mesmo diâmetro há 2 anos Crescimento ou surgimento nos últimos 2 anos 1- Padrão de calcificação · Central: benigna · Difusa: benigna · Calcificação em “pipoca”: benigna (hamartoma) · Excêntrica: MALIGNA c) Conduta (Caderno) 3. CA de pulmão a) Conceitos iniciais Por CA de pulmão nos referimos às neoplasias malignas com origem no epitélio do trato respiratório inferior, que também é chamado de carcinoma broncogênico. · Carga tabágica (maços/ano): maços/dia x anos fumados – importante parâmetro diretamente relacionado ao risco e por isso SEMPRE deve ser quantificada · 1 maço = 20 cigarros · Pacientes alto risco: > 20 maços/ano · É uma das neoplasias malignas que mais mata no Brasil: principal causa oncológica de morte · Principal causa: TABAGISMO Uma história familiar de CA de pulmão positiva aumenta o risco em parentes de primeiro grau. b) Existe rastreio? Sim · TC helicoidal de baixa dosagem de radiação (TCBD) anual · Idade: 55-80* anos – somente até os 80 anos, depois disso, em termos de mortalidade, não “vale muito a pena” fazer nos pacientes muito idosos · Carga: ≥ 30 maços/ano – risco muito elevado · Fumante ou ex-fumante (há < 15 anos) · Boa saúde geral c) Tipos histológicos 1- Tumores não-pequenas células (80%) · Epidermoide (escamoso): 30% dos casos · Grandes células (anaplásico): < 10% · Adenocarcinoma: 40% não está tão relacionado ao cigarro como o epidermoide e como as pessoas vêm diminuindo o consumo de cigarro, o tipo de tumor também mudou · Nesse caso o perfil clássico é de mulheres, jovens (<45 anos), não fumantes · Periférico: derrame pleural – perde a restrição ao pulmão e piora o prognóstico do paciente 2- Tumores de pequenas células · Tumores Oat-Cell: pior prognóstico · 15-20% dos casos · Raro em não fumantes · Cresce MUITO rapidamente · Origem neuroendócrina: associado a liberação de substâncias que podem simular ação hormonal manifestações paraneoplásicas mediadas a distância d) Manifestações clínicas O tumor pode ter 3 mecanismos básicos de manifestações clínicas: crescimento tumoral, metástase ou síndrome paraneoplásica. As manifestações de crescimento tumoral e da síndrome paraneoplásica são as mais importantes. Na maior parte das vezes, o CA de pulmão não causa qualquer sintoma até a doença já estar avançada. 1- Crescimento tumoral · Tosse: sintoma mais comum · Hemoptise (necrose tumoral), dispneia, dor torácica (invasão da pleura parietal) · Síndrome de Pancoast: síndrome relacionada aos tumores apicais, do sulco superior do pulmão · Erosão do 1º e 2º arcos costais · Dor em ombro e/ou escápula ipsilateral e dor em face ulnar do braço: envolvimento das raízes de C8 e T1 · Síndrome de Claude-Bernard-Horner: miose, ptose, enoftalmia, anidrose facial ipsilateral · Síndrome da veia cava superior: relação com Oat-Cell · Cefaleia e turgência jugular · Edema de face e MMSS · Circulação colateral · Tosse, síncope, ortopneia 2- Metástase · Locais mais acometidos: fígado, ossos, cérebro e adrenais (“foca”) 3- Síndrome paraneoplásica Síndrome associada a substâncias e mediadores liberados pelo tumor e que terão algum tipo de efeito sistêmico, se assemelhando a um estímulo hormonal. O carcinoma de pequenas células é o subtipo mais frequentemente responsabilizado. 1) Carcinoma epidermoide: epthidermoide · Hipercalcemia: tumor em libera um peptídeo muito semelhante ao PTH (= PTH-rp) · Quadro laboratorial semelhante ao hiperpara primário + PTH sérico suprimido A hipercalcemia é uma das síndromes paraneoplásicas mais comuns no câncer de pulmão, comumente associada ao carcinoma epidermoide. 2) Adenorcarcinoma · Tumor associado a liberação de mediadores inflamatórios que estimulam a reação periosteal, levando à osteoartropatia pulmonar hipertrófica · Baqueteamento digital: aumento dos tecidos moles nas extremidades 3) Oat-cell (oacth-cell) · Síndrome de Cushing: produção de ACTH ectópico – prognóstico péssimo · SIADH: hiponatremia · Síndrome de Eaton-Lambert: o paciente produz anticorpos contra os canais de cálcio do neurônio pré-sináptico síndrome miastênica e) Estadiamento (não-pequenas células) Deve ser anatômico e fisiológico. O primeiro determina a extensão da doença e orienta a melhor terapêutica a ser empregada. Já o fisiológico, por sua vez, refere-se à capacidade que determinado paciente tem de suportar o tratamento proposto. 1- T = tamanho · T0 = sem evidências de tumor primário · T1 = é o nódulo ≤ 3 cm · T2 = > 3 cm e ≤ 5 cm OU invasão de brônquio fonte, atelectasia/pneumonite · T3 = > 5 cm e ≤ 7 cm OU parede torácica (PANCOAST) · T4 = > 7 cm ou qualquer tamanho OU invasão de carina, grandes vasos, esôfago, vértebra 2- N = linfonodo e M = metástase · N0 = ausência de acometimento linfonodal · N1 = acometimento de linfonodos peri-brônquicos e hilares ipsilaterais · N2 = acometimento de linofodos mediastinais ipsilaterais e/ou subcarinais · N3 = acometimento de linofodos contralaterais, supraclaviculares irressecáveis · M0 = ausência de metástase à distância · M1 = derrame neoplásico (células neoplásicas no líquido pleural), metástase à distância irressecáveis f) Tratamento · Curativo = cirurgia + QT adjuvante, exceto em pacientes N3 e M1 · Cirurgia: lobectomia/pneumectomia + ressecção linfonodal do mediastino g) Estadiamento (pequenas células – Oat-cells) 1- Doença limitada · Definição: confinado a um pulmão e seus respectivos linfonodos · Tratamento: QT + RT (cirurgia é rara) 2- Doença avançada · Definição: ultrapassa os limites acima · Tratamento: paliação (QT +/- RT)
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